Foi uma noite estranha aquela noite quêda; estranhas vibrações afins penetravam meu Ser Mental e me faziam ansioso por algo, que pouco a pouco se fazia definir...
Era um quê desconhecido, mas sentia-o como se estivesse em comunicação com minha alma e externava a sensação de um silencioso pranto...
Quem do mundo astral emocionava assim um pobre “eu”? Não o soube, até adormecer... e “sonhar”.
Assim vi meu “duplo” transportar-se, atraído por cânticos que falavam de Aruanda, Estrela Guia e Zambi; eram as vozes da Senhora da Luz Velada, dessa Umbanda de Todos Nós que chamavam seus filhos de fé...
E fui visitando Cabanas e Tendas, onde multidões desfilavam, mas, surpreso ficava, com aquela “visão” que em cada um eu via, invariavelmente, num canto, pitando, um triste Pai-Preto chorava...
De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei por que as contei...foram sete. Na incontida vontade de saber, aproximei-me e interroguei-o: fala Pai-Preto, diz a teu filho, por que externas assim tão visível dor?
E ele, suave, respondeu: estás vendo essa multidão que entra e sai? As lágrimas contadas distribuídas estão a cada uma delas.
A primeira eu a dei para esses indiferentes que aqui vêm em busca de distração, na curiosidade de ver, bisbilhotar, para saírem ironizando daquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...
Outra, a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um “milagre” que os façam “alcançar” aquilo que seus próprios merecimentos negam.
E mais outra foi para esses que crêem, porém numa crença cega, escrava de seus interesses estreitos. São os que vivem eternamente tratando de “casos” nascentes uns após outros...
E outra mais que distribui aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda em busca de vingança, desejam sempre prejudicar a um seu semelhante – eles pensam que nós, os Guias, somos veículos de suas mazelas, paixões, e temos obrigação de fazer o que pedem...pobres almas, que das brumas ainda não saíram.
Assim, vai lembrando bem, a quinta lágrima foi diretamente aos frios e calculistas – não crêem, nem descrêem: sabem que existe uma força e procuram se beneficiar dela de qualquer forma. Cuida-se deles, não conhecem a palavra gratidão, negarão amanhã até que conheceram uma casa da Umbanda...
Chegam suaves, têm o riso e o elogio à flor dos lábios, são fáceis, muito fáceis; mas se olhares bem seus semblantes verás escrito em letras claras: creio na tua Umbanda, nos teus Caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu “caso”, ou me curarem “disso ou daquilo”...
A sexta lágrima eu a dei aos fúteis que andam de Tenda em Tenda, não acreditam em nada, buscam apenas aconchegos e conchavos; seus olhos revelam um interesse diferente, sei bem o que eles buscam...
E a sétima, filho, notaste como foi grande e como deslizou pesada. Foi a Última Lágrima, aquela que “vive” nos “olhos” de todos os pretos-velhos; fiz doação dessa, aos vaidosos, cheios de empáfia, para que lavem suas máscaras e todos possam vê-los como realmente são...
“Cegos, guias de cegos” andam se exibindo com a Banda, tal e qual a mariposas em torno da luz; essa mesma Luz que eles não conseguem ver, porque só visam a exteriorização de seus próprios egos...
Olhai-os bem, vede como suas fisionomias são turvas, e desconfiadas; observai-os quando falam “doutrinando”, suas vozes são ocas, dizem tudo de “cor e salteado”, numa linguagem sem calor, cantando loas aos nossos Guias e Protetores, em conselhos e conceitos de caridade, essa mesma caridade que não fazem, aferrados ao conforto da matéria e gula do vil metal. Eles não têm convicção.
Assim, filho meu, foi para esses todos que viste cair, uma a uma, As Sete Lágrimas do Pai-Preto! Então, com minha alma em pranto, tornei a perguntar: não tens mais nada a dizer Pai-Preto? E daquela “forma-velha”, vi um véu caindo e num clarão intenso que ofuscava tanto, ouvi mais uma vez...
“Mando a luz da minha transfiguração para aqueles que esquecidos pensam que estão... Eles Formam a Maior Dessas Multidões”...
São os humildes, os simples; estão na Umbanda pela Umbanda, na confiança pela razão...São os Seus Filhos de Fé.
São também os “aparelhos”, trabalhadores silenciosos, cujas ferramentas chamam-se Dom e Fé, e cujos “salários” de cada noite...são pagos quase sempre com uma só moeda, que traduz o seu valor numa única palavra – a INGRATIDÃO!
[Do livro Umbanda de Todos Nós, de W.W.da Matta e Silva]
Rayom Ra
[ Leia Rayom Ra (Rayom_Ra) on Scribd | Scribd em páginas on line ou em downloads completos ]
Boa Noite, Rayom Ra
ResponderExcluirSou leitora recente do teu blog, conheci o Arca de Ouro através do blog do MDD.
Estou deixando um comentário aqui só pra dizer que estou gostando bastante de ler teus posts. Obrigada por compartilhar teus conhecimentos.
Obrigado Juliana, apareça sempre, é um prazer.
ResponderExcluir