domingo, 29 de janeiro de 2012

Os Ciclos

       Os sucessivos ciclos pelos quais a humanidade tem passado no decorrer dos séculos têm marcado seu desenvolvimento espiritual e material em toda a História. Através de seu estudo podemos constatar que o trabalho hoje realizado nada mais é do que o ápice de uma preparação que há muito tempo vem sendo feita. Todos esses pontos nos levaram à origem de nossa caminhada rumo à concretização do Ashram de Mercúrio, rumo ao estabelecimento do Alto, do Superior na Terra.
       Um dos ciclos ocorre a cada 700 anos. Este ciclo tem uma analogia com o Plano Divino, regido por Netuno. Isto ocorre por que Netuno tem por número espiritual o 7, o que dá o ritmo de 700 anos para o ciclo. Neste ciclo é que se encontram os chamados movimentos teológicos, que tentam levar a humanidade diretamente ao Plano Divino. Estes movimentos caracterizam-se pelo desligamento do chamado Caminho do Meio, que também leva à Unidade, mas através do Equilíbrio das Coisas.
       O Caminho do Meio tem a sua representação na simbologia mercurina. Mercúrio rege o quarto plano da manifestação zoodiacal. Tem, portanto, três planos acima e três abaixo de si. Este plano é conhecido como o Plano da Harmonia e Beleza, pois corresponde à energia equilibradora do Universo. Todos os outros movimentos e forças manifestadas no zodíaco são, em maior ou menor grau, fugas do equilíbrio, extremos que só se tocam através de Mercúrio. Por esta razão Mercúrio tem o número espiritual 5. Na sequência dos dias da semana, Mercúrio rege o quarto dia – Wednesday (dia de Odin ou o Mercúrio dos Nórdicos), ou Miércoles no espanhol e Mercredi no francês. Na contagem das unidades, 5 é aquele que tem quatro unidades abaixo e quatro acima de si, funcionando como equilibrador. Daí surgir a segunda sequência da manifestação dos movimentos rumo à Unidade: o ciclo de 500 anos. Este ciclo corresponde aos chamados movimentos Mercurinos ou do Caminho do Meio rumo à Unidade.
       Do mesmo modo que o ciclo de 700 anos, os movimentos do ciclo de 500 anos compreendem manifestações espirituais e concretizações materiais, que impulsionam a humanidade para um novo degrau do desenvolvimento; a diferença reside no modo como se realiza o trabalho. No ciclo de 700 anos, a busca do Divino desconhece a idéia de hierarquia existente em toda a manifestação divina. Não respeita, assim, o escalonamento natural que existe na manifestação zoodiacal, o qual pressupõe uma Ordem Superior que tudo regula.
       Já o ciclo de 500 anos compreende o Equilíbrio das Coisas, o ponto de contato entre o Alto e o Baixo. Fica perfeitamente definida, aqui, a Hierarquia, em termos de graus de conhecimento e sabedoria dos indivíduos; ou em maior ou menor grau de luz que a substância psíquica hauriu no decorrer das vivências...
       Esta idéia da Hierarquia traz consigo a associação de uma ordem numérica que define estas grandezas. Com efeito, sabemos que as grandezas celestes são representadas por símbolos. Dos símbolos, os mais sintéticos são os números. Este é exatamente o ponto em que entra o Senhor de Mercúrio. Ocorre que o plano por ele regido – o quarto – é justamente aquele correspondente à ciência dos números, a Aritmética. Ele, portanto, é que dará a medida do Metro de Deus, o Arqueômetro, como quis revelar em sua obra Saint Yves d’Alveydre. Para medir Deus, devemos associar esta ciência com aquela correspondente ao Plano onde vive o Senhor de Todas as Coisas: O Plano Divino, regido por Netuno. Esta ciência do Plano Divino é a Astronômia, a ciência que mede as grandezas celestes.
       Eis-nos aqui, no ponto exato em que os movimentos do ciclo de 700 anos diferem frontalmente daqueles do ciclo de 500 anos. Enquanto aquele procura diretamente ao Divino, desconhecendo a Hierarquia das Grandezas, o segundo o faz respeitando e procurando contatar com os Maiores que estão imediatamente acima de si.
       Esta associação é feita quando unimos a ciência mercurina, a Aritmética, com a Ciência do Plano Divino, a Astronomia. Os antigos viam na Aritmética muito mais que uma simples técnica de fazer-se contas matemáticas. Para eles, a Aritmética englobava todo o Conhecimento trazido pelas Hierarquias que atuam no Cosmos. Sua associação com a Astronomia conduz o Iniciado à mais alta ciência que lhe é dada conhecer no Zoodíaco: a Astrologia, ou, a lógica dos Astros. É mais do que um simples estudo físico ou astronômico dos corpos celestes. Esta ciência nos conduz ao entendimento do grau de interrelação existente entre as diversas Grandezas que comandam os movimentos zoodicais e os desígnios do Absoluto. Isto nos leva ao entendimento das leis de causa e efeito que regem o Cosmos, bem como do modo como podemos nos conduzir para galgar degraus maios elevados de consciência e conhecimento, rumo à Sabedoria.
       Neste caminho, podemos melhor entender o porquê da Astrologia com único caminho seguro para chegarmos à Sabedoria, sem corrermos sérios riscos envolvidos nesta busca da Espiritualidade. Mesmo buscando o Alto, o Superior e o elevado, relativamente a todos os outros conceitos humanos, nosso caminho é facilmente desviado pelas astuciosas artimanhas das forças que desviam e desvirtuam o Sagrado, revestindo a treva com roupagem da fé, do amor e da devoção. Quando pensamos estar celeremente caminhando rumo à Unidade, podemos, facilmente, estar sendo impulsionados ao poço da ignorância, dos preconceitos e dos erros. Por isso nosso caminho deverá estar sempre iluminado pela luz do equilíbrio e pelo princípio do respeito à Hierarquia Divina. Como vimos, a associação destas duas ciências – a Aritmética e a Astronomia – nada mais é que a base da própria Astrologia.
       Esta é a razão pela qual denominamos a Astrologia como a Ciência das Grandezas. Sem estes dois parâmetros que ela traz em seu bojo - a Harmonia e a Hierarquia – a nos nortearem na busca do Superior e na nossa Superação de nós mesmos, estaremos sujeitos às armadilhas do vício e do fanatismo, da fuga de nosso interior e da luz que ele representa. De outra forma, nossa saída deste desterro poderá ser facilmente desviada pelas forças contrárias à nossa evolução. Foi o que ocorreu aos movimentos pertencentes ao ciclo de 700 anos. Estes movimentos geraram muita desarmonia no passado, com um consequente desvio de seu objetivo inicial de estabelecer um foco da Unidade na Terra.
       Isto ocorreu por que sua visão restringiu o caminho à Unidade a uma negação de toda e qualquer negatividade. Guiavam-se pelos aspectos da moralidade e da devoção. Tal fato gerou um distanciamento do chamado Equilíbrio do Caminho rumo à Unidade. Como sua bandeira é a Unidade, encontram-se aí todos os chamados grandes movimentos devocionais monoteístas da humanidade: o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo. Sua crença num Deus Uno nada mais é que um reflexo de sua movimentação Netuniana, no ciclo de 700 anos. Afinal, se por um lado, o ritmo setenário dos 700 anos nos é dado pelo Número Espiritual de Netuno = 7, por outro lado o monoteísmo nada mais é que um reflexo do Número Material de Netuno = 1. Como não poderia deixar de ser, materialista como foi a implantação destes movimentos através do Poder (uma virtude material de Netuno), estes movimentos tinham de ter em sua bandeira o dístico da Unidade – 1 – material de Netuno.
       Além destes monoteísmos, outro movimento monoteísta trouxe grande desarmonia quando implantado fanaticamente no Antigo Egito: o monoteísmo de Aton, lá imposto como deus único através do faraó Akhenaton. Foi a única vez que se viu em cinco mil anos de história conhecida do Egito, a destruição de templos e cultos em nome de um deus...
       Estes quatro grandes movimentos teológicos tiveram o declarado desígnio de acabar como o paganismo existente na humanidade e trazer uma nova Lei que harmonizasse os gentios, dando a todos o conforto de uma Unidade superior a todos os conceitos humanos de então. Na verdade, seu alastramento não passou de uma luta pelo poder temporal em toda a humanidade, através do uso da devoção naquela que é sua mais terrível forma de manifestação: a ignorância e o fanatismo.
       De fato, o advento desses movimentos chamados “libertadores” trouxe ao conturbado palco mundial de conquistas e guerras, um novo e terrível ingrediente: a luta religiosa pelo poder. Nunca antes da história conhecida o homem tinha se empenhado na violência e na guerra de conquista com o intuito de impor sua crença religiosa e seu deus sob o jugo da força. Nunca se guerreou antes, nesta humanidade, sob a bandeira da fé. Nunca se usou o pretexto do sagrado nome de Deus para a imposição de uma crença a outros povos.
       Na realidade, mesmo internamente, os povos da mesma religião viram-se matando e praticando atrocidades em nome da fé inclusive contra irmãos seus. Foi o caso do cristianismo e suas lutas internas, com verdadeiros massacres perpetrados em nome da fé através da “Santa Inquisição”. Não nos é possível, hoje, estimar com precisão o número de mortes causado pelo massacre da Inquisição desde sua instituição pelo papa Gregório, e, 1231. Sabemos, todavia, que a “Santa” Inquisição teve uma grande parte de responsabilidade no despovoamento terrível da Europa. O Islamismo não ficou atrás em seu cego fanatismo de poder. (...)
       Procurando recuperar o Elo Perdido nesta corrente que percorre a noite dos tempos, tentaremos arrojar alguma luz neste longo histórico no qual estamos inexoravelmente inseridos e do qual somos células vivas. É preciso que coloquemos na justa dimensão e alcance a História que precedeu nosso momento atual, para que percebamos a importância de nosso correto posicionamento nos tempos que são chegados.
       Estamos em final de século, final de milênio, final de signo e final de ciclos sucessivos de 500 e 700 anos pelos quais passa nossa humanidade e o planeta Terra. Uma nova Era se avizinha. Os tempos são chegados e os justos terão de ser dados a todas as coisas...
                                   [Ciência das Grandezas – I / Al Ahmed / FEEU]
Rayom Ra

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O Difícil Caminho da Provação


       A mesma verdade e idêntica meta surgem dos postulados cristãos, com a diferença de que Cristo nos dá um quadro definido de todo o processo na própria história de sua vida, construída sobre as Iniciações Maiores que constituem nossa herança universal e glória, e, para muitos, a oportunidade imediata. Essas iniciações são:

       1. O Nascimento em Belém, do qual Cristo disse a Nicodemos: "E quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus" (João 3.3).
       2. O Batismo no Jordão. Este é o batismo a que se referia João, o Batista, agregando que o Batismo do Espírito Santo e do fogo devia nos ser administrado por Cristo (Mt 3.2).
       3. A Transfiguração. Ali, pela primeira vez se manifesta a perfeição e se comunica aos discípulos a divina possibilidade de tal perfeição. Surge o mandato: "Sede vos perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está nos céus" (Mt. 5.48).
       4. A Crucificação. No Oriente se a designa como a Grande Renúncia, com sua lição de sacrifício e sua denominação à morte da natureza inferior. "Cada dia morro" (Cor I 15:31), dizia o apóstolo por que só na prática de sobrelevar a morte de cada dia, pode enfrentar-se e resistir-se à Morte Final.
       5. A Ressurreição e Ascensão. O triunfo final que capacita ao iniciado quando enuncia e sabe o significado das palavras: "Onde estás, oh morte, teu aguilhão? Onde, Oh sepulcro, tua vitória?" (Cor I 15:55).

       Tais são os cinco grandes e dramáticos acontecimentos dos mistérios. Tais são as iniciações pelas quais todos os homens deverão passar um dia. A humanidade se encontra hoje no Sendero de Provação. O caminho da purificação é trilhado pelas massas e estamos no processo de purificar-nos "do mal do materialismo". Quando este processo se tenha completado, muitos estarão preparados para receber a Primeira das Iniciações e passar por um novo nascimento. (1)

       (1) Este processo, decisivamente intensificado com Jesus-Cristo na Era de Peixes, encaminhou, consciente ou inconscientemente, cerca de dois bilhões de almas das massas para os Portais da Iniciação, e continuará pelos séculos vindouros com crescente ênfase ao desenvolvimento científico-espiritual. (Rayom Ra)


       Os discípulos do mundo estão se preparando para a Segunda Iniciação, o Batismo. E para isto devem purificar a natureza emocional dos desejos e dedicá-la à vida da alma. Os iniciados do mundo enfrentam a Iniciação da Transfiguração. O controle da mente e a correta orientação para a alma, com a completa transmutação da personalidade integrada, é o que os espera.

       Hoje dizem muitas bobagens a respeito da iniciação e no mundo há muitas pessoas que pretendem ser iniciados. Esquecem-se de que nenhum iniciado faz tal proclamação ou fala de si mesmo. Os que proclamam ser iniciados negam aquilo que proclamam. Aos discípulos e iniciados se lhes ensinam ser includentes em seus pensamentos e não separatistas em suas atitudes. Nunca se apartam do resto da humanidade, afirmando sua condição, colocando-se automaticamente sobre um pedestal. Tão pouco os requisitos, como estabelecidos em muitos livros esotéricos, são tão óbvios como os apresentam. Por suas leituras poderia se crer que, ao passo que o aspirante logre certa tolerância, bondade, devoção, simpatia, idealismo, paciência, perseverança, tenha alcançado os requisitos principais (2). Estas coisas, em realidade, são as essencialidades primordiais, porém estas qualidades devem associar-se com uma clara compreensão e um despertar mental que leve a uma sensata e inteligente colaboração com os planos destinados à humanidade.

       O que se requer é o equilíbrio da cabeça e coração; o intelecto deve ter seu complemento e expressão no amor, e por seu intermédio. Isto requer uma proclamação sumamente cuidadosa. Amor, sentimento e devoção são comumente confundidos. O amor puro é um atributo da alma, e includente, e precisamente neste amor puro reside nossa relação com Deus e com nossos semelhantes. "Por que o amor de Deus é mais amplo que a mente do homem, e o coração do Eterno é maravilhosamente bondoso" - diz antigo hino - e assim se expressa este amor que é atributo da Deidade, e também atributo oculto de todo filho de Deus.

       (2) A ênfase colocada no texto acerca destes atributos, serve-nos de alerta para aquilo com que notadamente religiosos e certa gama de esotéricos se confundem. Na verdade, conhecemos, através da literatura ocultista, parte da história de alguns notáveis iniciados, que, todavia, nunca exaltaram suas conquistas, senão, ao contrário, silenciaram, deixando que a posteridade os investigasse. Não obstante, pelas análises das obras deixadas não foi possível perceber suas exatas posições na Hierarquia, e há uma longa lista de grandes homens e mulheres que nos legaram belíssimos e importantes ensinamentos. E inúmeros que, no anonimato e com sacrifícios, fizeram de suas vidas verdadeiros hinos de amor e abnegação à humanidade.
       Por outro lado, dentre famosos autores de excelentes obras de filosofia e ocultismo, nem todos foram iniciados maiores, mas simplesmente discípulos de Mestres que, através de mútuo acordo, trabalharam juntos para iluminar o mundo. Em dimensão maior, aconteceu o mesmo com Cristo e Jesus, quando Cristo, em diversas instâncias, dirigiu a mente do Nazareno para aquilo que precisava ser feito e ensinado.
       O falso iniciado que se arrouba de seu conhecimento e o usa para sobrelevar-se aos demais homens, como menciona AAB, está mais afastado da Fraternidade dos Ascensos, e dos iluminados, do que julga. Pelo seu orgulho e vaidade, encontra-se, o iludido, muito mais próximo de enveredar pela via da mão esquerda do que palmilhar a senda da libertação. Apesar dos percalços, a visão mundial sobre as questões de Deus, religião e ciência avança para patamares nunca antes permitidos. (Rayom Ra)

       O sentimento é emocional e instável, a devoção pode ser fanática e cruel, porém o amor se funde e se mescla, compreende, interpreta e sintetiza toda forma e expressão, todas as causas e as raças, num ardente coração amoroso que não sabe de separações, divisões nem desarmonias. A realização desta divina expressão em nossa vida cotidiana exige o máximo de nós. Ser um iniciado exige todo o poder de cada um dos aspectos de nossa natureza. Não é uma tarefa fácil. Enfrentar as provas inevitáveis que enfrentamos e caminhar no Sendero que Cristo palmilhou, requer um excepcional valor. Para colaborar sábia e sensatamente com o Plano de Deus e diluir nossa vontade com a Vontade Divina, precisamos colocar em atividade não somente o mais profundo amor de nosso coração, como também as mais agudas decisões da mente.

       A iniciação deve contemplar-se como um grande experimento. Houve uma época, talvez quando se instituiu este processo de desenvolvimento, que foi possível restabelecer na Terra certos processos internos, conhecidos então somente por uns poucos. Logo, o interno poderia apresentar-se em forma simbólica para ensinar a "os pequenos"; mais adiante, o mesmo pôde ser realizado abertamente e expressado na Terra pelo Filho de Deus, o Cristo. A iniciação é um processo vivente, e mediante ele todos os que se disciplinam devidamente e cumprem voluntariamente, podem ser aceitos, analisados e ajudados por grupos de iniciados e conhecedores que são os guias da raça, conhecidos por muitos e diversos nomes em diferentes partes do mundo, em distintas épocas. No Ocidente Os chamam Cristo e Sua Igreja, os Irmãos Maiores da Humanidade.

       A iniciação é, portanto, uma realidade e não uma formosa visão facilmente lograda, como pareceram estabelecer tantos livros esotéricos e ocultistas. A iniciação não é um processo que um indivíduo alcança quando ingressa em certas organizações e que só pode compreender-se ingressando em tais grupos. A iniciação não tem nada a ver com sociedades, escolas esotéricas ou organizações. Tudo o que podem fazer é ensinar ao aspirante certas bem conhecidas e fundamentais "regras do caminho", e deixá-lo que compreenda ou não, segundo permitam sua ânsia e desenvolvimento, e que atravesse o portal se seu equipamento e seu destino o permitam.

        Os Instrutores da raça e Cristo, "O Mestre dos Mestres e Instrutor de anjos e homens", não se interessam (particularmente) por estas organizações nem por nenhum outro movimento no mundo, que leve atualmente iluminação e verdade aos homens. Os iniciados do mundo se encontram em todas as nações, igrejas e grupos, onde haja homens de boa vontade, ativos, e onde se preste um serviço mundial. Os grupos esotéricos modernos não são os custódios dos ensinamentos das iniciações, nem são suas prerrogativas preparar os indivíduos para tal desabrochar. O maior ensinamento somente pode preparar os homens para a etapa do processo evolutivo, denominado discipulado.


       A razão pela qual, lamentavelmente é assim, é por que a iniciação parece estar alijada dos membros da maioria dos grupos que afirma possuir uma visão interna dos processos iniciáticos, (3) e se deve a que estes grupos não têm posto a ênfase necessária na iluminação mental, que forçosamente ilumina o caminho até o Portal que conduz ao "Lugar Secreto do Altíssimo"

       (3) Os termos discipulado e iniciações, por vezes confundem nas suas significações. De 1954 para cá houve grandes impulsos nas aberturas da Nova Era, com incentivos de Shamballa para que se fundassem muitos grupos de estudos e práticas, de apelos, rituais, mantras e outras atividades, aliadas a surpreendentes revelações e ensinamentos esotéricos diversos por Mestres e iluminados mensageiros. Uma torrente de mensagens conscientizadoras sobre a situação crítica em que a Terra se encontra e as ameaças de sua segurança e soberania, formaram em primeiro plano as molas que alavancaram maciçamente tais movimentos para uma nova realidade. (Rayom Ra)
                                                     [De Belém ao Calvário – AAB]
Rayom Ra

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Discursos de El Morya - III

        O COMEÇO DO CAMINHO 

       Seres majestosos que governam e suprem o nosso sistema solar inclinam-se, com amor, ante à Terra, este belo planeta, para elevar seus queridos filhos à Sua elevada evolução e dar os necessários impulsos para que, de qualquer maneira, esses filhos sejam providos de mais Luz.

       O chamado soou e passou por todos que servem a Luz, que zelam pela evolução humana, multiplicando, desdobrando o som que frutifica toda vida. Este som amplia, gradativamente, as irradiações que transpassam a matéria e, também, o sentimento dos homens, para, primeiramente, atingir a prontidão dos sábios e, depois, avivar as demais Emanações de vida, aquelas que se ajustam a essas vibrações. Quem, na realidade, quer crescer espiritualmente, tal como um crente autêntico; aquele que se sobressaiu entre a multidão dos homens; quem se encontra peregrinando na trilha da Luz, por via de regra, já palmilhou um longo caminho no qual, inconscientemente, colocou seus pés na direção certa. Isto significa a disposição de investir sua vida em uma boa causa, pleno de amor e humildade, e, de modo impessoal em seus próprios desejos, ajudar alguém, talvez aceitar os deveres de uma organização que se dedique ao trabalho de instituições de caridade, nos orfanatos e asilos, em presídios e também nos hospitais, prestando um serviço espontâneo e inesgoístico. Existem muitas "peças de ligação" que, somadas, são de importância vital para a finalidade desejada.

       Apos um longo período, nesta ou em outras vidas, desperta o interesse no indivíduo por maior sabedoria e, aos poucos, a sua luz torna-se visível em outra dimensão. Literatura aproveitável é posta em suas mãos e, muitas pessoas, então desconhecidas, irão entrar em contato com ele (o buscador da Luz) para que seu próprio ânimo e interesse não esmoreçam. Contudo, o neófito sente-se ainda preso ao estilo de sua vida e não pensa em modificá-lo em favor de seu aprendizado. Muitas vezes, tal estado perdura um bom tempo e, com isto, outras pessoas poderão ser solicitadas a prestar bons serviços. Assim ele perde a sua grande e talvez única oportunidade de progredir em favor do espírito. Outrossim, isto depende de quais experiências de vida estão em seu caminho. Por meio de um destino difícil, o homem acelera o seu desenvolvimento. Na maioria das vezes, as doenças são os motivos para uma análise mais profunda acerca de seu viver.

       Queira o leitor analisar o motivo que o leva a dirigir seu interesse aos assuntos espirituais. Neste caminho, existem inúmeras estações, e o homem reconhece que é imprescindível adquirir maior conhecimento sobre o Caminho Espiritual (1), se ele quer dar solução aos seus problemas. Com a aquisição de maior conhecimento, surgem, também, em seu mundo, os efeitos cármicos retroativos, pois, agora ele está em condições de solucioná-los. Estes servem para reforçar sua Vontade; aceitar as tarefas que lhe foram impostas e não capitular. Estas são as estações que provam se, realmente, tudo está claro; se aqui existem possibilidades para maior desenvolvimento espiritual, ou se ele prefere desistir, colocando as mãos no colo, por que na sua opinião, "tudo isto não tem qualquer sentido".

       (1) A análise de El Morya é sábia e oportuna. Num Grupo de que participei, no seu início, tivemos um irmão com muitos problemas íntimos e dramáticos que o levavam, seguidamente, a profundas depressões. Detinha, no entanto, inteligência admirável, e nas reuniões começou a demonstrar supreendente vidência, que nos descrevia pormenorizadamente  - algumas confirmadas por outros participantes - e que a ele, do mesmo modo, surpreendia. Detinha, também, esse irmão, grande atração pela física e matemática, além de possuir notável memória para fatos diversos, que nos absorviam pela naturalidade com que os expunha e analisava.
       Qual não foi nossa surpresa, quando,  em pouco tempo, anunciou não desejar mais seguir aquele caminho, pois sentia grande vazio por estar deixando a companhia, nos finais de semana, dos amigos no bar, onde passava muitas horas em conversas despreocupadas a beber cerveja, cantar e fumar.
       Tentei argumentar que não deixasse os amigos, nem seus prazeres, mas que procurasse ver se realmente aquilo era o mais importante para sua vida, do modo e intensidade como encarava, e, se possível, pudesse, aos poucos, ir diminuindo esta necessidade, na medida de seu bem estar espiritual e aclaramento de seus dramas pessoais. Inútil tentativa. Os apelos dos momentos nos quais se atrelava, e seu julgamento da impossibilidade em conciliar ambas as situações, foram decisivos e determinaram-no a imediatamente abandonar o caminho espiritual.
             À máxima de Jesus "buscai o reino dos céus e tudo mais lhe será dado por acréscimo", convenhamos, é de fácil citação, mas de extrema dificuldade na sua prática; e é aqui que muitos de nós escorregamos diariamente e, com certa frequência, damos de caras no chão. (Rayom Ra)

       Queridos amigos, se em vossa vida chegastes a um destes pontos, então aceitai o desafio. Ide em frente com ânimo e força de vontade, solucionai esses problemas; vede que as ferramentas foram colocadas em vossas mãos; que o mundo da Luz está ao lado de todo sincero lutador e traz à sua porta aquilo que necessita para executar sua tarefa. Um homem que se encontra na esquina do caminho de sua vida vai encontrar novamente a fé, se caso, durante as encarnações, a perdeu. Se ele persiste e domina seu destino, então já conquistou, por assim dizer, o "preço de entrada" para seguir o caminho do seu aprendizado, e auxílios mais intensos poderão ser dados.

       Tudo que ficou resumido dentro deste pequeno discurso, poderá ser aplicado e estendido em toda a vida terrena; contudo, aqui, o conceito "tempo" não é aplicado. Tal processo de evolução não pode ser medido de acordo com o tempo terráqueo, por que a vida terrena é apenas um segundo em comparação ao incontável número de existências que a Emanação de Vida necessita vivenciar. Entretanto, não vos deveis influenciar por qualquer distração. Aproveitai o tempo de vossa vida na Terra, para o bem de vosso progresso espiritual. Cada momento, cada encontro com vossos semelhantes, cada polêmica com vossos problemas diários podem servir para a vossa evolução, ou, de acordo com vosso modo de agir, poderão significar um retrocesso.

       À noite, antes de dormir, repassai, em pensamento, tudo que fizestes durante o dia; analisai as possibilidades que vos foram oferecidas para fazerdes algo útil em vossa vida...e refleti: aproveitastes as raras oportunidades de fazer o bem ou as deixastes passar? Auxiliastes o próximo ou os evadistes por comodidade, para não perderdes o vosso considerado "precioso" tempo de lazer? Recapitulai e, com toda a sinceridade, prestai contas e tomai a decisão de amanhã fazer algo útil em prol do bem de todos.

       OS CORPOS INFERIORES

       O vosso corpo físico é um instrumento muito importante no Caminho do Discipulado. Ele é o invólucro através do qual vivenciais as experiências da vida terráquea, durante o tempo em que permaneceis neste "tempo físico". Portanto, é vossa responsabilidade zelar cuidadosamente por ele, isto é, dar-lhe a nutrição adequada e necessária para o manterdes em uma constante renovação. Não deveis exigir demasiado de suas possibilidades, pois ele necessita de um sono reparador para poder executar seu "Serviço Prestado". Igualmente é preciso haver ordem em sua vida, bem como manter a higiene corporal, para que os poros (as janelinhas) possam respirar o ar puro e servi-lo fielmente.

       Entretanto, convencei-vos do seguinte: este corpo físico ou invólucro é apenas o vosso servo e não o vosso senhor. Acostumai-vos a ignorar as sensações de vosso corpo. Estas surgem de velhos costumes, aos quais dais muita atenção. Portanto, em vosso caminho de aprendizagem, sois o homem real - o Senhor de vosso corpo - e sois vós quem determina aquilo que deve ser feito. Entre tantas confusões e falta de observação, procurai encontrar o verdadeiro caminho. Aqui se requer um profundo e extenso discernimento. Sem esta faculdade, será difícil escolher qual o caminho certo; contudo, a todo sincero buscador da Luz surge à sua frente o Caminho Real.

      Chamo a atenção de mais um ponto importante: são os vossos corpos mental e emocional, que deveis vigiar constantemente. Estes são, consideravelmente, mais importantes que o corpo físico, por que, justamente, são as suas atitudes que geram a causa - o carma - seja bom ou mal. Cada pensamento negativo e cada sentimento maldoso ou raivoso geram uma corrente de energia com substância trevosa de cores escuras, mescla de cinza, marrom até o negro, as quais expressam a frequência vibratória lenta ou baixa, que enche e se expande em vossa aura, principalmente quando esta vibração ou irradiação é dirigida a determinada pessoa. Penetrando na aura dela, desequilibra e prejudica sua vida. Porém, o retrocesso desta atitude age incontinente, de forma negativa, sobre o vosso corpo físico. O impacto desta energia prejudicial permanece em vossa cercania, perturba a vossa própria energia vital, vosso corpo fica abalado e as dores físicas se manifestam. Os sentimentos extravasam-se, rapidamente. As palavras são ditas e, dificilmente, poderão ser anuladas.

       Disciplinai vossos pensamentos - esta é uma tarefa difícil para um discípulo deste imenso universo. Tais pensamentos somente podem ser controlados se, regularmente, fizerdes a vossa meditação em silêncio, tranquilizando e acalmando os vossos pensamentos. Deste modo, vossos corpos mental e emocional, irão harmonizar-se e, antes de mais nada, deveis ter paciência convosco, pois um caminho longo requer harmonia e tranquilidade em vossa vida turbulenta de cada dia. Repito; esta é uma lição indispensável que necessitais aprender.

       Quando, desta maneira, o sincero discípulo se esforçar em mudar sua vida desorganizada, passando a ser harmônico e positivo; quando ele aprender a conservar seu ser externo sereno e pacífico; quando souber purificar seu pensamento e seu sentimento, então ele poderá ter grande esperança de ser notado no Mundo da Luz, para ser aceito plenamente. Neste ponto, começa imperceptivelmente a verdadeira orientação. Ele será atraído à tarefa que reforça a sua capacidade de persistência, mesmo que este trabalho nem sempre encontre a sua aprovação. Com seu progresso, os ensinamentos tornam-se mais exigentes e as provas que surgem em sua vida exigem as Forças Internas. Ele terá de provar aquilo que aprendeu e preparar-se para as próximas horas.

       INICIAÇÃO

       Se analisastes tudo isto, talvez desejeis retornar ao vosso caminho cotidiano, por que, aparentemente, ele vos parece mais ameno. Porém, isto é um raciocínio errôneo. Se chegastes a esta estação de vossa vida, então não há mais qualquer retrocesso. Outrossim, o Caminho do Discipulado não consta apenas de disciplina e responsabilidade; ele também encerra muita beleza para aqueles que desejam aproximar-se de sua perfeição. 

       No círculo de amizade dos discípulos, muitas vezes falais sobre "Iniciação", que eles supõem ter alcançado. A palavra "Iniciação" é de sentido múltiplo e pode ser considerada desde os degraus das camadas mais baixas da evolução humana. Porém, quando o discípulo, repentinamente, se conscientiza de que está sendo levado a passar por algum perigo, mas reconhece que o Poder da Luz o protege, então este conhecimento pode parecer-lhe semelhante a uma iniciação.

       Cabe a nós esperarmos que ele, por meio de sua atitude e reação sobre seu destino, confirme tal juízo, tentando provar sua humildade, sua confiança no futuro e equilíbrio de vida, antes de podermos investí-lo com Forças mais poderosas. Precisamos ter certeza de que ele não esbanjará estas Forças com coisas banais, ou quiçá, com trabalhos ilícitos que possam causar prejuízos.

       O discípulo é conduzido conforme sua evolução e, às vezes, precisamos largar as suas mãos, por que ele deseja andar por outros caminhos que o conduzem a rumos errados. Não podemos defendê-lo ou poupá-lo destas experiências, por que ele necessita aguçar sua faculdade de discernimento e saber reconhecer o seu próprio e verdadeiro caminho. Ocasionalmente, isto somente é possível através de processos dolorosos, que precisamos deixar que aconteçam. Tudo faz parte do Caminho do Discipulado - alternando-se com altos e baixos. Poucos são os que já passaram por estas experiências, ou seja o processo de Iniciação. (2)

       (2) De fato, já noutros escritos temos comentado sobre isto mediante nossas observações e vivências com iniciados e pseudo iniciados. Repousa certa confusão com relação ao significado do termo Iniciação e sua real amplitude. O Movimento da Nova Era, começado de uma forma objetiva desde a entrada da Era de Aquário, na realidade, veio sendo trabalhado subjetivamente pelos passados milênios, para finalmente abrir-se amplamente ao mundo como uma grande e inimaginável flor. A Era de Peixes, com Cristo, priorizou de modo bastante eloquente o Grupo, para os seguidores mais qualificados e especiais, a quem ele os reconfirmou pessoalmente em iniciações. Para a humanidade, trouxe a cruz, a espada e o fogo, que nada mais foram do que os ingredientes de que o planeta necessitava para purificar seu carma milenar trazido de Eras anteriores e avançar em direção ao espírito.
       Podemos afirmar, sem medo de errar, que ao cabo de dois milênios, pelo menos dois bilhões de almas foram iniciadas através dos processos dolorosos das experienciações religiosas, guerras, devoção e fé, na Era de Peixes, onde as visões de uma Nova Era já começavam habitar seus íntimos e alavancar energias de esperança e liberdade num futuro muito próximo.
       Se fora o planejamento para a Nova Era utilizar-se dos mesmos moldes ou estereótipos do passado, não haveria como condicionar tantos milhões de ardorosas almas necessitadas de novas visões e experienciações, nas escolas tradicionais. Estas escolas cumprem seus necessários e inteligentes papéis no mundo, mas o que Shamballa projetou para a grande massa planetária, pelas características da nova consciência mundial que rapidamente se plasma, e pelo futuro liberto de ortodoxias e restrições que a humanidade precisaria vivenciar, foi algo mais imediato. Hoje, as iniciações menores são mais rápidas, mais simples, mais ao alcance de milhões em menos tempo,  pois os grandes iniciadores do passado - Mestres da Sabedoria - se aproximam das massas preparadas para seguir adiante no trabalho consumado em Peixes, dando continuidade ao que eles mesmos implantaram, formando e incentivando Grupos de práticas dispostos a um enfrentamento dos problemas sociais e inserções neles sob nova orientação espiritual.

       As Grandes Iniciações, no entanto, continuam a não serem dadas nas Escolas, mas sim, em Shamballa, quando de fato candidatos estejam preparados quer no Ocidente ou no Oriente, realizando o que devam realizar na vida social, ou estejam reclusos a lugares especiais, sob práticas mentais impossíveis ao homem comum aquilatar. (Rayom Ra)

       É particularmente perigoso, quando uma pessoa, por meio de determinados exercícios, nesta ou noutras vidas passadas, desenvolveu capacidades mediúnicas. Ocorre, muitas vezes, que ela se transforma em bola de brinquedo das forças do plano astral. Influenciada, esta pessoa (homem ou mulher) julga-se o instrumento de um poderoso ser das forças astrais, mas, ao usá-las, reconhece, dolorosamente, que tudo foi uma farsa, ou seja, que se deixou levar pela mistificação, caindo no erro da sua vaidade e do poder astucioso das trevas. Existem inúmeras ilusões de tais influências mediúnicas que podem exercer pressão sobre o discípulo, antes de ele reconhecer, claramente, que a única rota que o conduz a auto realização está na disciplina de seu pensamento e sentimento. Ver através do plano astral, somente pode ser exercitado com êxito quando o discípulo está sob a orientação de um Mestre responsável.

       Na evolução lenta e cuidadosa entre os Mestre e o discípulo, o tempo exato somente se apresentará, quando o discípulo que aprendeu esta faculdade não der mais ouvidos aos cochichos ou influências do eu-personalidade que o envaidecem, querendo este aparecer em público. Muitos desses atuantes surgem como profetas e auxiliares da humanidade. Infelizmente, tais acontecimentos já se manifestaram nos discípulos de alto grau, pondo a perder o que já haviam alcançado, pois as forças astrais são astuciosas, tenazes, espertas, e sabem fascinar os homens incautos, de modo que, no começo, eles nada percebem ao serem usados para servir aos representantes destas forças.

       Este capítulo, meus amigos, deveis inscrevê-lo em vossa memória e acautelar-vos! Com estas experiências malfadadas, frustraram-se as esperanças de inúmeros discípulos. Geralmente, após um longo tempo, esperam o momento oportuno para extrair dos ensinamentos o necessário para encontrar, novamente, o Caminho da Luz!

       Por via de regra, esses conhecimentos e o domínio sobre os mesmos  são ensinados ao discípulo somente após a sua primeira Grande Iniciação, isto é, quando a união com seu Mestre se tronou inabalável, constante, e quando o Mestre lhe conferiu determinadas forças ou poderes. Sob a sua orientação e proteção, os perigos são mostrados ao discípulo, bem como o domínio das forças astrais e as diferentes esferas isoladas, nas quais ele mostrou desejo de penetrar. Isto requer um longo período de estudo, e somente após este, o discípulo poderá, independentemente e sem perigo, movimentar-se nessas regiões. Reconhecestes como é importante fechar a vossa 'porta" quando as forças astrais querem penetrar-vos?
          [O Caminho do Discipulado e os Degraus de Aperfeiçoamento - Ponte Para a Liberdade]      

 
Rayom Ra

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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Os Cátaros - Extratos da Sua História

       O fenômeno cátaro apareceu no Ocidente por volta do século X. Nesta época, os heréticos eram denunciados um pouco por toda a Europa. São muitas vezes qualificados de maniqueístas. O termo cátaro, que significa puro, apareceu mais tarde. Referindo-se aos cátaros da Renânia, o beneditino Eckbert, reitor da catedral de Colônia, informa-nos que eles celebravam uma festa em honra a Manés; e o bispo de Chalon, Roger, escrevia ao bispo de Liége para lhe indicar que os cátaros de sua diocese pretendiam receber pela imposição de mãos, o Espírito Santo, que não era outro senão o próprio Manés.

       Em 1017, encontram-se cátaros em Orleans. Foram queimados vivos após o julgamento em concílio de bispos. Em 1022, repetia-se a mesma coisa em Toulouse. Em 1030, na Itália, na região de Asti, descobre-se uma colônia de hereges que se designam já pelo nome de cátaros. São massacrados todos os membros da seita. Apesar das fogueiras, o movimento continua a alastrar; no século XII, encontramo-lo já mais ao norte, em Soissons, Liége, Reims, e até nas margens do Reno, em Colônia e em Bona, onde numerosos hereges são também vitimados pelas chamas. A Itália do Norte, atravessada frequentemente por viajantes búlgaros, foi um dos países mais atingidos e Milão foi durante muito tempo considerada como centro bastante ativo da heresia. O papa Inocêncio III, agindo com particular brutalidade, consegue, todavia, com grande esforço, conter a torrente.

       Mas é no sul occitano, nos territórios languedocianos e provençais do conde de Toulouse, que o catarismo deveria registrar os maiores sucessos. Em poucos anos, no fim do século XII, ao princípio do século XIII, o neomaniqueísmo desenvolve-se como um rastilho e conquista direito de cidadania nas terras visigóticas de Garona ao Mediterrâneo, e com tal força que a doutrina dos albigenses (nome dado aos cátaros de Languedoc) parecia em breve vir a triunfar sobre o catolicismo. Que doutrina era esta que tanto seduzia as multidões como aos senhores da mais alta estirpe?

       No sul languedociano, o catarismo é o ponto de convergência de duas forças: a primeira faz proceder o catarismo do maniqueísmo, religião que opõe duas forças iguais neste mundo: a luz e as trevas, o bem e o mal, o espírito e a matéria. O maniqueísmo, por seu lado, dimana largamente do culto esseniano (Essênios dos tempos de Cristo na Palestina), de onde Cristo é oriundo, por parte de sua mãe. Consideram-se o essenianos como formando o laço e o ponto de reencontro entre os platônicos ou pitagóricos, de um lado, e o budismo, de outro, o que nos leva a falar da segunda força de atração do catarismo.

       (...) Os essenianos, tal como os budistas, professavam o dualismo do mundo. Tinham três ordens de aderentes, com três graus de iniciação. Praticavam os banhos sagrados, como os brâhmanes e os budistas. Condenavam os sacrifícios sangrentos, abstinham-se da carne e do vinho e praticavam uma moral exemplar, segundo nos diz o historiador Flavius Josephe. Foi por intermédio dos essenianos que as idéias indo-persas passaram ao cristianismo. Mesmo Jesus, recebendo o batismo das mãos de São João, filiava-se na seita dos essenianos, para quem o batismo era um rito essencial.

       Não se pode esquecer, por outro lado, que a região de Garona é uma velha terra druída. Ora, os druídas, homens muito sábios, e isto apesar do que deles se disse, tinham uma filosofia bastante elevada. Acreditavam nomeadamente na migração das almas e na sua reencarnação após a morte. É nesse velho princípio pagão que veio enxertar-se a heresia arianista do século VII, à qual se converteram os reis visigodos. Assim, os condes de Toulouse, oriundos da nobreza germânica, eram os descendentes diretos destas famílias, não sendo, portanto, motivo de admiração, o fato de o catarismo ter encontrado na terra languedociana um lugar privilegiado para se desenvolver. Ao que sabemos, é certo e seguro que a doutrina cátara é mais do que uma simples heresia. Em muito separa-se do cristianismo tradicional e rejeita todos os dogmas da Igreja Católica.

       (...) Esta crença tem por corolário que a alma, para atingir a perfeição, deve ser purificada da sujidade material e do contato com a carne. O ideal é, portanto, a castidade que conduz à salvação. Todavia, como tal doutrina implicava numa disciplina muito rigorosa, a massa dos crentes não era obrigada a praticá-la estritamente. O ascetismo restringia-se aos perfeitos, pequena elite de sábios capazes de receber a iluminação do conhecimento. Abstendo-se de matar qualquer animal, respeitando a natureza em todas as suas manifestações, os perfeitos, sempre vestidos de negro, "uma tiara persa na cabeça, pareciam-se com os brâhmanes ou com os acólitos de Zoroastro. Logo que terminavam as suas cerimônias, de um rolo de couro que traziam sempre consigo sobre o peito, tiravam o Evangelho de São João e liam-no em voz alta" (Otto Rahn - La Croisade Contre le Graal).

       Os cátaros não possuiam um lugar predileto para praticar o seu culto: a natureza oferecia-lhes os bosques e os campos; os senhores os seus castelos; os burgueses as suas casas. Disse-se que eles queriam destruir a família, o que é falso, pois aprovavam o casamento "civil" para os simples crentes. (...) Não temendo a morte, acontecia, por vezes, que os perfeitos se deixassem morrer por endura. A sua doutrina - afirma Otto Rahn - permitia, como a dos druídas, o suicídio; exigindo, todavia, que se pusesse fim à vida não por lassitude de viver, por medo ou por dor, mas por um estado de perfeito desinteresse na matéria. Sempre, segundo este autor, os cátaros efetuavam o endura a dois: "o irmão, ao lado do qual o cátaro tinha passado, na mais ideal amizade, anos de esforços contínuos e de espiritualização intensiva, queria, ainda, concertado com ele na outra vida, a verdadeira vida, gozar as belezas apenas pressentidas no Além e as revelações das leis divinas que movem os mundos".

       Para por fim aos seus dias, escolhiam entre cinco gêneros de morte: envenenamento, fome, cortando as veias; atirando-se a um precipício, ou mergulhando em água gelada após um banho quente, o que provocava uma congestão pulmonar. Certos indícios permitem supor que os albigenses escolhiam, por vezes, o suicídio em grupo. Numa cripta da montanha do Are, não longe de Carcassona, encontraram-se esqueletos datando da época que nos interessa, deitados circularmente, as cabeças no centro e os pés na circunferência, como os raios de uma roda perfeita. "Aqueles que se estenderam para morrer numa secreta solidão, e desenharam com seus corpos uma figura geométrica de roda, procuraram esse meio estranho e inusitado porque era um rito excepcionalmente importante e de que esperavam um resultado sublime". Maurice Magre pensa que esta forma de morte era já conhecida na Bretanha, na Ilha Tiviec, há mais de cinco mil anos e seria um costume dos povos descendentes dos antigos atlantes. Todavia, a prática do endura não conduzia fatalmente à morte. O mais frequente era tratar-se de um jejum prolongado de purificação, durante dois meses, cortado por pequenas pausas, em que os ascetas comiam pão e bebiam água.

muro do castelo de Montsegur
       (...) Entretanto, acumulava-se no céu occitano, em 1207, o legado pontifício Pierre de Castelnau, que em vão procurava congregar os senhores meridionais contra os albigenses, excomungando o conde de Toulouse, Raimundo VI. Sentindo aproximar-se o perigo, os cátaros procuraram um lugar onde pudessem refugiar-se em caso de ataque. Já podiam contar com os castelos de Quéribus, Puylaurens e Peyrepertuse. Mas foi Montségur, no meio dos Pirineus ariegenses, que os heréticos escolheram como lugar espiritual por excelência. Para este efeito, pediram, com êxito imediato, a Esclaramonde de Foix e ao senhor da região, Ramon de Perelha, ambos fervorosos albigenses, que reerguessem o castelo de Montségur, que estava em ruínas.

       "É assim que Montségur, a cidadela que protegia a montanha sagrada do Thabor, Parnaso da România, foi fortificado e organizado. Semelhante a um barco, conseguiu durante meio século afrontar o caudal de sangue e de crimes que em breve caiu sobre a România, e que finalmente iria afogar a sua cultura e civilização!". Uma verdadeira guerra de secessão vai desenrolar-se; o Sul da França ergue-se como um só bloco contra os exércitos do Norte (vinte mil cavaleiros, duzentos mil peões) que reunidos em Lion, atingem o vale do Rhône a 24 de junho de 1209, provenientes de todas as regiões situadas ao Norte do rio Loire.

       Otto Rahn faz uma colorida descrição desses bárbaros vindos do Norte que queriam terminar completamente a conquista das províncias meridionais, começada setecentos anos antes por Clovis: "Na frente cavalga o sombrio e irreconciliável abade de Citeaux, - o chefe das forças cristãs contra os heréticos albigenses. Semelhante a um cavaleiro do Apocalipse, galopa, o burel ao vento, através do país que não adora o seu Deus. Atrás, marcha o exército dos arcebispos, bispos, abades e monges. Ao lado dos príncipes da Igreja cavalgam os príncipes leigos, nas suas armaduras refulgentes de aço, prata e ouro. Depois vêm os brilhantes cavaleiros com seus mercenários; Roberto-Sem-Ter, Que-Não-Bebe-Água - Deus sabe os seus nomes! Seguidamente, os citadinos e os camponeses, e atrás, finalmente, aos milhares e milhares, o refugo da Europa; os debochados, salteadores, e no Templo de Vênus, montados sobre quatro rodas, as meretrizes de todos os países possíveis".

       E é a conquista e o saque de Béziers, em 21 de Julho de que toda a população foi massacrada (vinte mil pessoas), heréticos e ortodoxos misturados na Igreja da Madalena. "Matai-os a todos, Deus reconhecerá os seus!", teria gritado o legado do papa. Depois é a vez de Carcassona, que vê Arnaud-Amaury, apoderar-se, por traição, do Visconde Trencavel, sob o pretexto de negociações.

       Em 1220, na pequena vila de Lavaur, os cruzados repetem as suas exacções: todos os habitantes, sem distinção de credo, de idade ou de sexo, são passados a fio da espada, e a castelã do lugar, Geralda, é atirada ainda viva para um poço, seguidamente atulhado com pedras. Os cátaros dão assim prova da sua coragem, da sua fé. Em Goslar, preferem ser enforcados a matarem uma galinha; em Minerve, no Hérauld, onde se rendem a Simon de Montfort, após uma resistência encarniçada, cento e cinquenta heréticos atiram-se voluntariamente às chamas entoando cânticos.

       No lugar em que parecia ter se concentrado o gênio humano, jaziam mais de um milhão de mortos, número que a supressão de todas as outras heresias não atingiu.

       A verdadeira causa do grande massacre dos albigenses, a sua causa oculta, mas verdadeira, era que o segredo dos santuários, o antigo ensinamento dos mistérios tão ciosamente guardado em todos os templos do mundo por todas as confrarias, tinha sido revelado. Compreendera-se, por conseguinte, que os acontecimentos desse tempo não tinham jamais sido vistos na história do Universo.

       Montségur, templo do catarismo, no entanto, erguia, ainda, como que num desafio à ortodoxia, as suas muralhas invioladas. Já em 1209, Guy de Montfort recuara perante as dificuldades de cercar a montanha. A morte dos inquisidores dominicanos de Avignonet foi o que deveria decidir o cerco e a queda da fortaleza. A investida contra o Pog começou na Primavera de 1243, mas seis meses depois o cerco pouco tinha progredido. Os cátaros, beneficiando de numerosas cumplicidade em todo o país e sem dúvida também no exército real, comunicavam com o exterior. Mensagem de estímulo chegavam da Itália, do Santo Império Germânico e mesmo de Constantinopla. O bispo cátaro Bertrand d'En-Marti encorajava os sitiados.

       Finalmente, o senescal de Carcassona, Hughes des Arcis, que dirigia a cruzada, conseguiu terminar com a resistência utilizando a traição. Um guia, conhecedor de certo caminho secreto, conduziu um grupo armado à plataforma cimeira. Uma crônica  do tempo conta-nos que, quando se fez dia, os voluntários da escalada noturna sobressaltaram-se de terror à vista do inverossímel caminho percorrido durante a noite. Daqui em diante, a rendição da fortaleza é apenas uma questão de tempo. No dia 1 de março de 1244, foi assinada uma trégua pelas duas partes e a 16 do mesmo mês a cidadela se rendia. Duzentos cátaros, entre os quais cinquenta perfeitos, recusando-se renunciar à sua crença, preferiram morrer na pira erigida num campo, que recorda, com o seu nome, o sacrifício dos "heréticos": O Campo dos Cremados (ou Campo dos Queimados).

       Quanto ao tesouro dos heréticos, Pierre-Roger de Mirepoix recebeu autorização para o levar. Compunha-se de objetos preciosos, moedas de ouro e de prata. Mas o verdadeiro tesouro dos cátaros, espiritual, o Graal, onde se encontraria? Os documentos da Inquisição confirmam que, na noite anterior à capitulação, quatro albigenses foram descidos por cordas ao longo da parede rochosa (Amiel Alcart, Poitevin, Hughes e Alfaro) e conseguiram fugir para as montanhas levando com eles o objeto sagrado. A tradição conta que, quando o Graal foi colocado em lugar seguro, uma chama brilhou na montanha vizinha anunciando aos cátaros que podiam morrer em paz. O Graal-pedra, ou Livro Sagrado, foi sem dúvida escondido numa das numerosas grutas de Sabarthez, o que esclarece a lenda que Otto Rahn recolheu da boca de um velho pastor.
                                            ["Hitler et La Tradition Cathare"/Jean-Michel Angebert]

Rayom Ra

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domingo, 22 de janeiro de 2012

Provença - Vestígios do Cristianismo Antigo e Medieval - II

                                                   O Cristianismo Não-Oficial é Propagado

       O Império Romano já estava estabelecido na Provença há quase dois séculos, quando, na Judéia, surge a mensagem cristã. Traz desde o início, a característica de dividir-se em várias ramificações, apesar da potência da Igreja maior, que dela originou-se. Ao sair da Judéia, os ensinamentos do Cristo já estariam não só nas mãos daqueles apóstolos que, através do Catolicismo, conhecemos como seus difusores, mas também em mãos de grupos que seguiriam outras linhas doutrinárias.

       Ao pregarem na Samária, os apóstolos encontrariam ali uma seita, a dos Simonianos, seguidores do "Mago Simão", conhecido na região não só pelos poderes psíquicos que posssuia, mas também por sua habilidade em conciliar filosofias e levantar o sentido mais profundo que encerravam. Emiscuiu-se com a doutrina cristã, percebendo nela, com sua sensibilidade, um conteúdo espiritual muito mais rico do que lhe estavam atribuindo. Levou-a, então, como componente, entre outros, para dentro do Simonismo e depois para o Gnosticismo, que muitos afirma ter sido ele próprio o fundador.

       Lado a lado com um neoplatonismo, com conceitos do ocultismo judaico e das religiões orientais, o Cristianismo apareceria também como um dos elementos do ecletismo filosófico-religioso das grandes escolas gnósticas alexandrinas.

       A literatura gnóstica do século II seria rica em cartas, correspondências e evangelhos, principalmente dos gnósticos de tradição copta, tratando de temas de formação cristã e seus ritos eucarísticos, que terão versões gregas e latinas, conhecidas por nós como "escritos apócrifos". É possível que o Cristianismo, por meio dessa literatura, tenha empolgado algum grupo na Provença dos dois primeiros séculos, nada porém que ali tivesse um florescimento muito evidente na época. Na Provença, a Gnose, com toda a potência do seu ecletismo, aparecerá muito tempo após, paralelamente às Cruzadas como veremos adiante.

       Para a necessidade dos homens provençais, rudes, impedidos pelo Império, em qualquer tentativa de alçar maiores voos de raciocínio, não iria corresponder uma doutrina que lhes exigia esforços do entendimento, como a gnóstica, mas sim aquela que lhes oferecesse consolos emocionais, promessas de proteção mítica e uma personalidade carismática ideal, investida de uma doçura com que não estavam acostumados a lidar, para adorarem. Foi tudo isto, justamente, que alguns discípulos que haviam privado diretamente com o Cristo-Jesus e também alguns cristãos gregos da Ásia, lhe foram levar.

       No século I, o Cristianismo faria sua entrada não-oficial na Provença e estaria ele assim até o ano 313, quando a prática deste novo credo seria autorizada pelo Imperador Constantino. O homem romano era geralmente condescendente com novas idéias entre eles, mas seguidamente surgiam atritos com os da Gália, uma vez que os primeiros adeptos do Cristianismo, recusavam-se a prestar honras de divindade aos Césares. Mas, até o ano 64, quando Nero decretou-lhes a primeira grande perseguição, os cristãos tiveram também ali, relativa paz para organizarem-se e espalharem a doutrina pela região provençal. Este foi, sem dúvida, o período mais belo para a história da Cristandade na Provença, se o avaliarmos não em números de adeptos, mas em seu conteúdo de pureza.

       Nada há de melhor para a mensagem de um lider, do que contar com seguidores que ponham nela uma dedicação isenta de qualquer interesse. Os discípulos do Nazareno que chegaram, viviam ainda um entusiasmo idealista, nada parecido ao clima de intrigas e hipocrisias, que marcaria a doutrina cristã, quando se estabeleceu oficialmente ali, uns séculos depois. O auxílio mútuo entre grupos cristãos, em casos de doenças e precisões, investiu o Cristianismo primitivo de um clima de afeto solícito, que lhe deu muita repercurssão, principalmente entre os deserdados. Os Evangelhos aparecidos depois dos anos 70, profeciais e exortações lidas em reuniões acompanhadas de cânticos, motivaram os pontos de reuniões das comunidades cristãs que nasciam.

       Deste cristianismo singelo, sem as sutilezas ainda das discussões teológicas trinitárias e tantas outras, a Provença guarda lembranças muito caras à alma do povo. Bem ao sul entre os dois braços do rio Rhone, "Saint Marie de la Mer" é banhada pelo mar Mediterrâneo. A cidade deve o seu nome à lenda das "Marias", que ali aportaram por volta de 40 d.C. Elas eram Maria de James, irmã da Virgem Maria; Maria Madalena; Maria Salomé, mãe do apóstolo João; Maria, a diligente discípula do Mestre e Sarah, a negra servente, convertida ao novo credo pelas Marias e, acompanhando-as, Lázaro, o ressucitado, e Máximus.

       Diz a lenda, que ali vieram ter casualmente, fugidas que estavam das perseguições feitas aos judeus da Palestina. De lá haviam tomado um bote de condições precárias e ( o que o povo provençal, acredita ter sido um milagre) nele venceram dias e dias no mar, até baterem àquelas costas. Ali chegadas, iniciaram um trabalho de pregação e foram tão convincentes, que conseguiram formar um dos mais consistentes núcleos cristãos do sul gaulês.

       A Igreja, fortificada de Saintes Maries, que hoje o visitante admira, como sendo uma das mais belas da Provença, provém da pequena capela que abrigou depois os corpos de Maria de James, Maria Salomé e Sarah. Na expansão do trabalho, Madalena foi pregar em Ste. Baume, Lázaro em Marseille e Maria em Tarascon. Tarascon, à margem do Rio Rhone, foi originalmente um porto fluvial de comércio e havia recebido dos romanos um Forte a protegê-la. Pelo século XII, iria ser aproveitado para a construção do austero castelo que hoje atrai uma quantidade enorme de visitantes. Certamente nenhum sai dali sem ouvir esta lenda sobre "Santa Maria e o Tarascon" e perceber nela a força da sedução mítica que ainda exerce.

       O Rio Rhone, conta-se, guardava escondido entre moitas e arbustos o Tarasque, um monstro, metade fera (dragão) metade peixe, que frequentemente surpreendia desprevenido algum transeunte das margens, ou algum barqueiro de suas águas e o engolia. Todas as buscas a ele haviam sido infrutíferas. O pânico se espalhava. Foi quando, vinda de Saintes Maries de La Mer, chegou Marta, a pregadora do novo credo.

       Comovida pela narrativa sobre oito meninos que, juntos, haviam saído recentemente tragados pelo monstro, Marta muniu-se de uma cruz e água santa de um altar e dirigiu-se ao rio. Lá acercou-se sem qualquer temor do dragão, espargiu-lhe a água santa e mostrou-lhe a cruz de madeira. Após ver o animal aquietado por estes recursos mágicos, tirou de sua própria cintura uma cinta e, sem dificuldades, passou-lhe a volta do pescoço, puxando-o à margem. Ali, matou-o a pedradas. A cidade passou então a dever a Marta a sua paz, aceitou-lhe o credo, pois ela era o próprio símbolo da fé que tudo vence.

       No século V, "o bom rei René" reavivou o sentimento de gratidão do povo, organizando as primeiras festividades, estupendas na época, e que se conservam, porém mais modestas, hoje, em lembrança ao milagre.

       Em cada 29 de junho, quem estiver em Provença, verá nas ruas de Tarascon, uma representação, em papel grosso, do dragão, com sua cauda e cabeça movida por oito jovens que lhe estão dentro, simbolizando os meninos engolidos nos distantes anos do Cristianismo não-oficial. De Marta, a discípula de Jesus, que perdia dele os seus melhores momentos de Sua presença, tão preocupada era com seus afazeres domésticos, poderá ser vista uma imagem carregada ainda em triunfo. Pelos cantos das ruas, em portas de igrejas, esculpidas em madeira, pintadas, em mosaicos ou vitrais, o tempo manteve a lembrança daquele episódio, por toda a parte.

       Também Maria Madalena não foi esquecida pela população de Ste Baume, onde viveu os últimos trinta e três anos de sua vida na solidão de sua grande caverna. Este é hoje um local de peregrinação onde os jovens casais estéreis apelam por filhos, deixando ao longo do caminho uma pequenina pedra por cada filho desejado. A uma hora dali, no passo de St. Pilon, em meio ao panorama que descortina ao visitante uma magnífica cadeia de montanhas, estaremos justamente onde a lenda provençal afirma que anjos levariam Maria Madalena, sete vezes por dia, para que ela ouvisse "a música do paraíso".

       Se alguém desejar sentir o Cristianismo singelo das lendas, saber dos discípulos que por amor à mensagem do seu Mestre a tudo enfrentavam, certamente em provença acharão  o que buscam. (*)

       (*)Impossível uma doutrina se espalhar e vencer sem os seus arautos. Impossível um Avatar, ou Grande Ser, com a missão de fundar uma nova religião, não contar com seus abnegados seguidores dispostos a seguidos sacrifícios e conscientes perigos, como acontecido no agreste passado de homens confusos por tantas doutrinas e politeísmos deturpados. Os primeiros cristãos sempre estiveram face a face com os perigos durante todo o tempo em que, entusiasmados, espalhavam pelo mundo a vinda do Salvador, trazendo novos e revolucionários ensinamentos.
       Cristo jamais enviou seus discípulos ou seguidores para anunciarem uma nova religião, mas sim para divulgar uma nova visão e conceito novo de vida, sob um conjunto de idéias e ideais que obrigariam seus servidores realizar onde os servidores estivessem. E após a partida do Mestre, os arautos e seguidores continuariam suas jornadas pela universalidade do pensamento cristão.
       A religião cristã, suas segmentações e o credo, como sabemos, se organizariam mais tarde, nos séculos vindouros, por homens especialmente esclarecidos, mas também enfrentariam tempestades e reveses, características da resistência humana, e a infiltração do mal enleado e oficializado pelos títulos e vestes sacerdotais, que provocariam muitas e absurdas dissenções e crimes. Mesmo assim, Cristo seguiu em frente e a essência de sua mensagem transmutativa convergiu definitivamente; foi e ainda é acolhida por muitos corações sinceros, despidos da dúvida e pecados agrilhoantes.
       Um Avatar da estirpe de Jesus, jamais vem ao mundo para tamanha, grandiosa e assumida missão ao longo de uma Era como a de Peixes que presidiu, sem ter um planejamento calculado, sem se cercar de seguidores devidamente instruídos para a expansão de sua mensagem e implantação de uma nova ordem de idéias. Os discípulos de Jesus, eram, todos, iniciados de longa data e foram reconfirmados como especiais, tanto na comunidade Essênia quanto na pirâmide do Egito. Outros personagens, homens e mulheres, que cercaram a história humana do Nazareno, foram também especiais, possuindo auras e mentes preparadas, para desempenhar, cada um, a parte que lhes caberia no mundo das personalidades.
       Não é de hoje que fatos, antes depositados na história manipulada, ou transplantados para um patamar de abstrações e numerologias  por esotéricos pouco esclarecidos - quanto mais negados por ateus e céticos -  ganharam a fama de irrealidades.  Lendas como da existência de dragões, aproveitadas por homens representativos de teorias científicas consagradas, serviram para desdenhar e humilhar a fé religiosa e ganhar a anuência de materialistas sofisticados, travestidos de homens da razão, cientificismo e racionalidade.
       Lendas de animais de portes pré históricos existem por todo o mundo, mas muitas destas lendas, a contragosto dos céticos, são provadas reais, atestadas as suas origens pelos recursos de vídeos e  fotos, e pelos depoimentos de testemunhas idôneas. Gigantescas jibóias, sucurís, jacarés e outros animais mortais, pululam pelas florestas do planeta, a destruir famílias de habitantes ribeirinhos ou aprofundados nas matas. São inteligentes caçadores de humanos e muitos, indestrutíveis, que continuam a aterrorizar sem que deles consigam livrar-se. O Monstro do Lago Ness, nas Terras Altas da Escócia, já foi seguidamente detectado, fotografado e filmado e ainda lançam dúvidas de sua existência. Tipos de Pterossauros, são vistos, filmados e conhecidos em regiões afastadas da África, entre montanhas de difíceis acessos, a atacar e levar em suas garras aldeões, devorando-os em seus redutos.
       Recentemente, após a passagem de um tsunami na Ásia, as autoridades registraram estupefactas, numa praia, o esqueleto perfeito de um dragão trazido das profundezas oceanicas, cuja altura regulava com a de um prédio de cinco andares. Documento gnóstico sobre Tomé registra seu diálogo com um dragão que habitava escura caverna e atacava a quem desejasse, sem que pudessem matá-lo. E Tomé o matou granjeando a admiração de seguidores (clique no título) Arca de Ouro: O Terceiro Ato de Tomé - Extratos da Gnosis .
       A história de Marta, pode ser perfeitamente factível, como a de São Jorge que matou o dragão. Ambos foram iniciados nos mistérios, como o era Tomé, possuindo coragem e forças suficientes para subjugar monstros daqueles portes e assim teriam feito. Nada a estranhar, pois homens dotados de magnetismo, em nossos tempos, subjugam por hipnose a grandes animais, deixando-os mansos e dominados. Na Umbanda, entidades como caboclos, quando incorporados em médiuns em trabalhos nas matas, embrenham-se e voltam trazendo cobras grandes e pequenas - muitas venenosas - enrodilhadas ao pescoço, amansadas e obedientes. Dão-lhes ordens e elas obedecem, as soltam e as mandam embora, ou mandam-nas ficarem vigilantes nas cercanias a tomar conta dos que ali estão. Lendas? Nada disto, realidade comprovada....
       Muitas narrativas sobre homens e mulheres especiais do Cristianismo hão de ser respeitadas para além dos patamares lendários, pois os simbolismos foram apostos bem depois, na tentativa de explicar o que o tempo se encarregou de dissimular.
       Sobre Maria Madalena sete vezes por dia ouvir "a música do paraíso", por que não teria sido levada em corpo astral ou mental, ou ela se ter transfigurado para a não-matéria?  Uma vez que viveu seus últimos trinta e três anos de vida a orar e meditar, se purificando, e tendo sido iniciada nos mistérios, como foram os verdadeiros discípulos, não teria obtido de seu mentor principal - Jesus - as fórmulas da transfiguração? 
       Portanto, certas lendas não teriam sido lendas aos olhares atentos de iniciados, mas revelam um Cristianismo esotérico, gnóstico, profundamente ocultista, que sobreviveu encoberto para o povo seguidor, marcando seus segredos e revelações nos ícones, portais e murais, nas histórias, evangelhos e ritos da igreja, somente observados num grau superior por quem realmente vê. (Rayom Ra)

                                                       [Helyette Malta Rossi - FEEU]
Rayom Ra

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sábado, 21 de janeiro de 2012

Provença - Vestígios do Cristianismo Antigo e Medieval - I

                                                       A Chegada dos Romanos - Os Druidas

       Para acompanharmos, por alguns séculos, o Cristianismo na Provença, nos é forçoso recuar a um momento anterior à sua entrada oficial na região. Outros elementos, que não apenas aqueles trazidos pelo Império Romano, quando fez dele, também na Gália, o culto oficial do Estado, conjugaram-se para formá-lo tal como nos é mostrado ali hoje, deixaram raízes que sobrevivem nas crenças religiosas provençais.

       A Provença situa-se no lado oriental da antiga "Província Narboneza" criada pelos romanos, quando estes necessitaram, ao final do ano 200 a.C., conquistar para Roma o território gaulês, próximo á costa mediterrânea, localizado entre os Pirineus e os Alpes, a bem de terem uma livre entrada para a Espanha, que já lhe era submissa.

       A Itália, por seus invasores, marcaria a região, para sempre, com a sua cultura. Imprimiria nos provençais a facilidade de comunicação exuberante de seu povo, que hoje ainda os distingue, tanto do francês do norte. As raizes romanas ali implantadas, somente iriam aumentar as diferenças causadas por uma geografia que por si só, tornaria diversa a Provença. Quem chega, ou das rotas do Delfinato, ou do Massiço Central, ou das margens do Garonne, sempre se surpreenderá. Notará, ofuscado, seu céu cheio de luz, seus grandiosos rochedos calcáreos, o solo pedregoso, passará por camponeses rosados pela quentura causticante do sol, falando o seu incompreensível "patois" provençal.

       Entrados num universo geográfico absolutamente diverso do restante da Gália, os romanos encontram nele os celtas, com seu viver seminômade, com sua religião totêmica muito rudimentar, que englobava faunas sagradas, tabus e ritos. E a única autoridade à qual tiveram de fazer face foi justamente uma autoridade sacerdotal, que exercia sobre a população uma influência, não só religiosa como administrativa: A Ordem dos Druídas.(1)

(1) "Druídas [Do celta derw, carvalho.] - Eram os Druídas uma casta sacerdotal que floresceu na Bretanha e Gália. Eram iniciados que admitiam mulheres em sua ordem sagrada e as iniciavam nos mistérios de sua religião. Nunca colocaram por escrito os seus versos e escrituras sagradas, senão que, à semelhança dos brahmanes da antiguidade, os confiaram à memória; fato que, segundo afirmação de Cesar, necessitou de vinte anos para se cumprir. Como os parsis, não tinham imagens nem estátuas de seus deuses. A religião celta considerava como uma ímpia irreverência representar um deus qualquer, ainda que de menor importância, numa figura humana. Bom teria sido que os cristãos gregos e romanos houvessem aprendido esta lição dos "'pagãos" druídas. Os três principais mandamentos de sua religião eram: "'Obediência às leis divinas; Interesse pelo bem da humanidade; Sofrer com fortaleza todos os males da vida" (HPB)" - (Rayom Ra)

       O certo é, que a religião recebeu, para a sua composição étnica, também elementos da remota Hélade, através da Itália antiga e das Ilhas do Mediterrâneo, e os costumes druídicos, como seus cerimonias nos fazem crer, provém da Grécia Órfica. A confraria contava, para seu uso próprio e relacionamento com o povo, de uma organização hierárquica composta por sacerdotes e sacerdotisas que tinham a seu encargo: administrar a justiça criminal e cível; prever acontecimentos futuros; realizar sacrifícios; transmitir ciência e educação e ainda exortar o povo a atitudes virtuosas.

       Dos sacerdotes, os mais amados eram os dois últimos, devido ao costume dos gauleses de criarem os seus filhos ou pelos Druídas, ou por famílias estrangeiras (o que estabelecia um relacionameento afetivo entre mestres e discípulos) e os últimos chamados "Bardos", por suas exortações através da música, e de uma oratória poética, cheia de sabedoria, o que lhes valeu o título de "Os Sapientíssimos".  

       A adoração às Deusas-Mães, algo similar ao amor grego à mãe-natureza e à mãe-terra, sobressaía-se como forte característica dos Druídas. Em seus colégios, a maioria das oferendas e ritos lhes era dirigida e a arqui-sacerdotisa, sua repreentação terrena, contava com a mais absoluta veneração, vendo-se nela um canal onde a energia da Deusa era transmitida ao apelante. Apesar dos historiadores romanos se referirem aos Druídas com grande admiração, colocando-os sempre separadamente do que consideravaam o barbarismo celta e ter Cesar, nos anos de sua expansão no restante da Gália, identificado até certos deuses gauleses aos deuses romanos, o certo é que os Druidas passaram a constituir uma ameaça aos representantes de Roma, pela grande importância de seus colégios.

       Afirma-se que foram exterminados pelo governo romano no século I de nossa era. No entanto, o mais provável é que tenham ido esconder os seus ritos mais para o norte, longe da Provença e da proximidade da Itália, pois encontraremos citações a eles nas lendas arturianas, como ainda existentes no século VI.

       Surpreendentemente também, pelo tempo de Carlos Magno, a principal de suas devoções, aquela dirigida à árvore do carvalho, da qual o visgo mágico curador era retirado, apenas pelos sacerdotes druidas, com o seu podão de ouro, foi objeto de acirrada devastação.

       Um século após a invasão da Gália por Cesar, o culto cristão, o primeiro monoteísta no Ocidente, entraria ali para agir também clandestinamente, esquivando-se aos olhos do império. E os Druidas teriam deixado uma grande contribuição à mente cristã, a lição que nos será de valia através das eras: o seu amor à natureza e à liberdade. Os seus sacerdotes possuíam o autêntico sentido da Onipresença, da força espiritual difundida. Deus em tudo, que é um dos conceitos teológicos do Cristianismo, mas que poucos cristãos conseguiram ainda ter dele qualquer percepção.

       Para seus cultos, não haviam paredes necessárias. Seus templos eram todo e qualquer ponto da natureza. Aonde existisse um lago, um bosque, uma pedra, ali encontravam o sagrado, entravam com ele em comunhão mística. Haviam transcendido já a adoração temerosa dos primitivos, tão frágeis ante as forças naturais, tratavam-na com a intimidade de quem a usa quando dela necessita para reabastecer-se espiritualmente ou repousar. Ela fazia parte de seus pensamentos e emiscuia-se em todos os seus atos. Amor igual à natureza só iria aparecer muitos séculos depois, com Francisco de Assis, em sua identidade ao irmão sol, ao irmão vento, à irmã lua...

       Muitos cristãos procuram ainda hoje, a oeste do rio Rhone e da Provença, junto aos bosques do Moulins, na Cordilheira de Cevennes, os locais das suas cerimônias, levados pelo desejo de achar o sentido da Onipresença, que inspirava o homem celta druida. A sua crença muito forte, numa natureza toda povoada por seres parecidos aos homens, invisíveis à maioria de nós; seres benfazejos, fadas principamentes, o animismo druidico, enfim, é também uma duradoura herança deixada por eles na alma provençal. Um exemplo disto se encontrará na pequena cidade de Moustiers. Seus habitantes afirmam que entre as suas duas rochas principais, próximo à subida para a Igreja Notre Dame de Beauvoir, existe o "Caminho das Fadas". Ali, aqueles que amam a quietude dos bosques, poderão encontrá-las.

       Ao chegar à Gália, o império de Roma trouxe toda uma cultura religiosa também pagã, cujos deuses, com nomes romanos, eram os mesmos do Olimpo grego. Adotaram então alguns deuses celtas, segundo o uso romano de assimilar a cultura dos vencidos.

       A cidade provençal de Nimes, chamada posteriormente "A Roma francesa", devido as suas inúmeras relíquias daquele império, fora antes da chegada dos romanos um santuário da deusa Neumasus (primitivo nome da cidade) e lá, à beira de um riacho, a população celta venerava esta deusa. Juntamente com os habitantes locais, os romanos passaram também a adorá-la e assim comportavam-se sempre em outras localidades.

       Hoje, a cidade possui um dos mais importantes museus arqueológicos da França e, ali, os estudiosos poderão encontrar a bela cabeça de Júpiter-Serapis e também, recolhida ao Museu da Antiguidade, a magnífica estátua de Apolo, entre outros atestados do Paganismo romano. Lembremos, ao visitar as grandes cidades da região sedes das antigas administrações imperiais, como Aries, Orange, Riez, Vaisonia-Romaine, etc., que no primeiro século antes de Cristo, um século após chegarem à Gália, os romanos atravessavam a sua "Idade de Ouro", o "Século de Augusto", deixando por onde se estabeleciam, as marcas de sua grandeza artística.

       A nós, americanos, que não convivemos com vestígios de um passado tão longínquo, é dificil imaginar que o privar cotidiano com os deuses, vê-los sempre representados por obras de arte, fazem dos conceitos que estas obras representam, conceitos eternamente vivos, integrados sempre àqueles novos que chegam. É de se concluir que, mesmo após a vinda de um credo de tanto vigor emocional como o Cristianismo, nas cidades de herança artística, em tão grande número na Provença, o Paganismo o tenha constantemente permeado.

       As representações de divindades pagãs, infelizmente, à entrada oficial do culto cristão, pelas mãos dos próprios romanos, foram objeto de terríveis estragos. Contudo, a linha esotérica do Cristianismo nunca concordou com as perseguições do Monoteísmo ao Paganismo, pois coloca entre seus postulados religiosos aquele: "Diversidade na Unidade". Segundo ele, a adoração feita por um tribal a uma tora de madeira, poderá perfeitamente dirigir-se ao Divino, incluso como Ele é, no Todo.

       Aqueles vestígios provençais são atestados de que, também ali, o evoluir dos ciclos históricos, onde o entendimento do Absoluto tende sempre a representá-lo de forma cada vez mais abstrata e simbólica, onde a diversidade do Politeísmo foi sucedida pelo Monoteísmo, ao invés de ter sido feita espontaneamente, através do conhecimento cultural, o foi por imposições violentas que agrediram, como fizeram, o livre crescimento da consciência religiosa do homem provençal.

                                                  [Helyette Malta Rossi - FEEU]
Rayom Ra

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