quinta-feira, 19 de julho de 2018

O Mistério de Jesus


  O adepto que vive na solidão está sempre seguro, mas o que cai no domínio público está sempre em perigo. Corre o perigo de ser mal compreendido. Um errante adepto galileu foi tão mal compreendido que aqueles que ele procurara salvar, O mataram. Tentemos obter melhor compreensão de Jesus Cristo.

  Decorreram quase dois mil anos desde que Ele partiu, e são numerosos os relatos e interpretações que temos de Sua vida. Atualmente nossa compreensão sobre Ele mais diminuiu do que aumentou. Se ledes os escritos correntes acerca Dele e de Sua linguagem deparai com distorções e ambiguidades e, acima de tudo, más compreensões.

  Ao ler um livro como o Novo Testamento, tendes de compreender que todos os seus trechos não são iguais em inspiração e valor. É que durante o tempo decorrido desde que foram compilados, notamos ali interpretações, adições, traduções truncadas e até deturpações.

  Tendo em vista estes fatos, compreendereis que cada palavra incorporada a uma escritura, não é necessariamente sagrada; deveis, portanto, usar vossa intuição e faculdade crítica para extrair o efetivamente válido daquilo que não vale.

  Quando considerais que foi alguns séculos depois da morte de Jesus que certos livros foram coligidos por um concílio auto eleito e compilados como sendo o Novo Testamento, e que outros livros foram arbitrariamente rejeitados por esse concílio, não é de admirar que hoje existam tantas más compreensões.

  Havia grande controvérsia quanto à autenticidade dos livros e suas asserções. Naquele concílio houve alguns que defenderam até o fim a inclusão da reencarnação na doutrina do cristianismo. Não teriam feito isso se não se sentissem justificados por alguns dos pensamentos e ditos de Jesus. Contudo eles estavam em minoria, e a doutrina da reencarnação foi rejeitada. Hoje ela desapareceu por completo da religião cristã. Suponhamos que essa minoria tivesse triunfado! Então a reencarnação estaria incluída na doutrina cristã de hoje.

  Examinai os livros do Novo Testamento. Ali encontrareis muito pouco acerca da personalidade de Jesus. Quando considerais a importância assinalada a Ele e a Seu lugar na história da religião daquele tempo é de se estranhar quão pouco se escreveu sobre a Sua personalidade. Isto vos indicaria quão pouco se conheceu realmente a Seu respeito; que Sua fama foi completamente local e limitada a uma pequena esfera; que se espalhou só depois de Sua morte.

  Há os que duvidam que Jesus tenha existido. Eles apontam a escassez de provas históricas como testemunho convincente da natureza fictícia do relato de Sua vida. Só posso responder-lhes que a escassez indica quão obscuro Ele foi, porém que nenhum movimento sacode o mundo, como o fez o cristianismo, sem que tenha a inspiração e o ímpeto de uma grande pessoa atrás dele. Nada vem do nada. O algo provém de algo. A religião cristã veio originariamente de Jesus “O Cristo”. Sustento vigorosamente que Jesus existiu, que foi um homem vivo e um ser divino; que proferiu altas verdades, misericordiosamente, e que pagou o preço de sua coragem com o sangue da cruz.

  Existem no Ocidente as mais grosseiras incompreensões acerca dos seres, quer históricos ou conhecidos, aos quais chamamos diversamente: Mestres, Adeptos, Instrutores, Sábios, e mesmo Messias. No Oriente se diz que somente um Adepto pode compreender outro Adepto, o que é uma verdade. A razão disso é que não temos um padrão pela qual possamos julgá-lo. Os únicos Adeptos que conhecemos são os que pereceram, mas pertencem à pré-história. Não sabemos de nenhum deles no nosso meio, e por isso nos falta um critério objetivo. Alguns imaginam que Adepto é aquele que se recolheu a uma caverna, floresta, ou mosteiro, onde vive em êxtase perpétuo. Outros conjeturam que seja alguém capaz de fazer os mais espantosos milagres, e por um simples toque possa converter água em vinho, chumbo em ouro, ou curar doentes. Outros ainda creem, como no Oriente, que é uma espécie de adivinho do futuro. Tudo isso são meras opiniões, não o real conhecimento.

  O mesmo se dá com aqueles que alegam provar que Jesus nunca viveu. Falam em vão porque toda a matéria se acha fora do alcance de suas limitadas experiências. Podem oferecer teorias, mas nenhuma certeza.

  Os historiadores modernos, que nada aceitam em confiança, têm focalizado com a luz de seus holofotes esse período remoto de mito e escuridão, mas tudo em vão. Diz-se-nos que as ideias governam o mundo. Mas as ideias hão de ter um foco, devem estar vividamente representadas na vida e pessoa de um homem que se torna seu progenitor entre os seus seguidores. O símile cediço dos raios do sol que perdem sua força, mas tornam-se eficazes quando concentrados numa lente ustórica, está bem aplicado aqui.

  As correntes espirituais do Super Eu circulam ao nosso redor, mas só nos apercebemos de sua existência quando subitamente as encontramos na vida de um homem ou na página de um livro, tão exatamente como não podemos perceber os raios de luz que atravessam o espaço invisivelmente enquanto não encontram um objeto.

  A imagem usual de Jesus Cristo é puramente fantástica, pois se baseia no que as pessoas gostariam que Jesus fosse e não no que Ele realmente foi. O mesmo ocorre com qualquer outro grande sábio. Tive a boa fortuna de entrar em contato com alguns desses sábios e observei o quão mal compreendidos eles eram por diversos adeptos seus. Se durante a sua vida eles tecem lindos contos de fábulas a seu respeito, o que não acontece após a sua partida? Se os que privam com sábios formam tantas ideias errôneas, quanto mais não é isto verdadeiro depois deles haverem desaparecido há trezentos ou quatrocentos anos?

  Reconheçamos primeiramente que Jesus veio de uma ascendência humilde. Isto basta para justificar o pouco que se conhece de Sua meninice e juventude. O quadro corrente e convencional que Dele se pinta é o de um homem a quem Deus ordenou cumprir uma missão especial, e que, com efeito, manteve com Deus relações tais como ninguém antes ou depois tivera, nem outro mais poderá ter. É por isso que Ele é chamado o Filho de Deus.

  Crê-se que sua mãe, Maria, O concebeu enquanto ainda virgem. Tal crença não é desconhecida em outras partes. Ocorreu em outros países, em antigos tempos. Os egípcios acreditavam que mais de uma de suas antigas divindades, como Osires, haviam nascido em circunstâncias similares. Na Índia também se recordam nascimentos desse gênero. Em outras partes do mundo encontrareis igualmente o mesmo relato de um homem divino nascido de uma virgem e tendo por pai, ou Deus, o sol.

  Tudo isto vos deve tornar muito cautelosos para aceitar esta lenda. Apareceu em outras partes do mundo, antes e depois da época de Jesus. Reconheci que nesta lenda há algo de significado mais universal do que meramente local. E quando compreendeis que as tradições mitológicas e religiosas estão repletas de contos esotéricos, simbólicos e supersticiosos deste tipo, deveis então ser desconfiadamente cautelosos na investigação dos chamados relatos históricos, se quereis saber a verdade.

  Fisiologicamente, é impossível o nascimento por meio de uma virgem. Contudo se nos diz ser isso possível por milagres de Deus. Isto suscita a questão quanto ao que se entende por Deus, e quando começais a compreendê-Lo, percebeis não ser este o modo como Deus trabalha. Deus opera com leis estabelecidas, leis universais. De outro modo o universo não poderia propriamente existir, seria espúrio e excêntrico.

  Houve algo pouco usual com a personalidade de Jesus, e uma das maneiras que um de seus biógrafos poderem expressá-lo, era repetir narrativas fantásticas e maravilhosas visando ressaltá-Lo. Disto não se deduz que estas narrativas sejam completamente inverídicas e inexatas. São indicativas de que havia algo de notável relativo à natureza deste homem. Muitos dos acontecimentos narrados na escritura são alegóricos e têm de ser interpretados sob este prisma. Certo número de informes atribuídos ao Messias são interpolações; ao passo que muitas das palavras reais do Mestre foram mal entendidas por seus escribas e daí terem sido erradamente anotadas.

  É com pesar que vos desiludo, mas quando conhecerdes o significado esotérico da lenda do nascimento virgem, sabereis as razões espirituais, inteiramente à parte o senso comum, porque Jesus não poderia ter sido concebido daquela maneira miraculosa. Todavia, isso não importa. A coisa essencial é saber quem ou o que foi Jesus e o que Ele fez. Tal qual alguns outros grandes seres que desceram para ensinar nosso mundo, Ele não pertencia ao nosso planeta.

  Se à noite observais o firmamento, vereis que existem outros planetas além do nosso, e uma vez que o nosso é habitado, nenhuma razão há para que outros também não o sejam. Por que só nossa Terra deve ser habitada? Por que devemos só nós ter esse privilégio? Os outros planetas são também habitados, e os planetas que estão mais próximos do sol – o sol físico – têm seres que são mais evoluídos do que os nossos. Os planetas mais distantes do sol têm seres menos evoluídos, e o sol, para todos os fins, pode ser tomado como o coração do Supremo Criador.

  As inteligências em alguns planetas – assim as chamo porque não são seres humanos em nosso sentido; contudo sejam indivíduos – estão muito mais adiantados que nós na compreensão da vida e do que chamaríeis espiritualidade. Naturalmente tais seres possuem poder e compreensão maiores, e por terem este poder, para eles é possível comunicarem-se às vezes com outras regiões do universo e observar a exata condição espiritual dessas regiões. Eles podem sentir grande compaixão pelos que poderiam ser encarados como planetas atrasados. Nesse caso, podem oferecer-se ao Super Eu para serem utilizados como instrumentos a serem enviados para ajudar as regiões menos evoluídas do universo.

  Dos planetas superiores, alguns desses seres têm se apiedado dos seres humanos e têm vindo voluntariamente a esta Terra para ajudar a humanidade. Vieram a fim de fazer aquilo que o homem não poderia fazer por si mesmo. Foi o Super Eu que os enviou, utilizando-os para auxiliar o homem. A comunicação telepática em todo o universo é tão maravilhosa, que na Mente Cósmica não há distância nem separação. Daí a necessidade e a falta de recursos que aqui havia determinaram um suprimento provindo de planetas infinitamente distantes, dos quais vieram grandes instrutores. Foi um eco respondendo a uma vibração. O Super Eu os trouxe para aqui da maneira mais bela, fazendo-os sentir nossas necessidades, despertando-lhes a piedade de sorte que eles se dispusessem a vir.

  Tais seres, pois, vieram de planetas superiores para se encarnarem no nosso. Fizeram isto antes que Jesus fosse nascido. Buda e Osiris foram Messias. Este é o real significado do nascimento virgem. Indica que há algo pouco usual, super humano, em torno desta pessoa particular. Não se trata de seres humanos comuns. Vieram de planetas onde habitam os super humanos. Para realçar e simbolizar este fato circulam lendas sobre a sua origem divina. “Nascimento virgem” é uma doutrina salutar pela qual as mentes simples podem apreender a origem superior de tais seres espirituais. Mas nós que temos maturidade devemos descobrir os fatos em sua plenitude. O século vinte não é época para exposições simbólicas quando as inteligências podem alcançar as realidades.

  Jesus desceu de um desses planetas e aqui se encarnou. Isto é, Seu Espírito se encarnou num corpo humano neste planeta Terra. Ele voluntariamente o fez porque desejava ajudar nossa humanidade.

  Jesus não pertence a nossa Terra. Ele veio de uma estrela onde os homens vivem uma vida infinitamente superior, uma vida que está mais próxima da beleza, dignidade, verdade e da realidade do Super Eu.

  Mas lembrai-vos que a vinda de tais Seres até aqui é uma forma de auto sacrifício. Eles têm que descer a uma vibração inferior em cada plano: físico, mental e espiritual; e isto só pode significar intenso sofrimento. Jesus fora crucificado antes mesmo de ter sido colocado na cruz. Fora crucificado mental e espiritualmente. Ele sabia que Sua crucificação física teria de vir, mas isso para Ele era o menos. Mesmo antes de Jesus encarnar-se, os grandes Seres que vigiam e controlam a evolução espiritual e o destino material da humanidade neste planeta, bem como o governo da Terra, mostravam-Lhe um quadro do que Ele teria de fazer aqui, do que Ele teria de experimentar, e qual seria o Seu fim.

  Estes misteriosos Seres espirituais são quatro em número. Eles são os reais executores das leis que Deus estabeleceu para certos departamentos deste planeta. Sua obra consiste em zelarem para que o planeta como um todo evolua através de todas as suas várias experiências em direção à meta que lhe foi fixada. Além disso, eles têm a cargo a vida e destino da humanidade em massa. Jesus aceitou a tarefa que Lhe mostraram estes quatro poderosos Arcanjos. Em profunda visão Ele viu o trabalho essencial que dele se requeria, e o negro destino que seria o Seu.

  Pouco se pode dizer destas Inteligências. Sofrem por dedicar-se ao bem estar das espécies inferiores – o homem. Desceram dos reinos superiores para beneficiar a humanidade. A suprema Sabedoria espiritual está sob a sua guarda e proteção, e do auxílio geral que nos é enviado, todos os videntes recebem inspiração em sua busca.

  Jesus se ofereceu para a tarefa auto sacrificadora de plantar a paz nos corações dos homens. Ele foi realmente um instrumento nas mãos dos Quatro Sagrados. Ele conhecia a tarefa que havia empreendido, porém tinha de pagar a penalidade da encarnação e passar pela lerda da memória divina que tais encarnações impõem à mente. Mas esta perda foi temporária, sem dúvida, no Seu caso.

  O que Ele foi na Sua infância não nos concerne, porque isso não representa o Jesus que veio dar uma mensagem. Foi apenas o começo. Jesus tinha de Se encontrar da mesma forma que tendes vós de vos encontrardes.

  Nenhum Deus, nenhuma divindade pode encarnar-se, tomar um corpo humano como um bebê sem deixar de sofrer as limitações de um bebê; sem deixar de aprender a fazer operar sua consciência gradativamente através da infância, até a maturidade, como qualquer ser humano. As leis da natureza são inexoráveis. A única maneira de poder ele evitar isso é tomar o corpo já crescido de um adulto, o que pode ser feito sob certas circunstâncias, onde tiver sido preparado um bebê, por alguma alma altamente adiantada.

  Os Cristos têm que crescer; não nascem em corpos prontos. São simplesmente As Flores Perfeitas da Humanidade. Mesmo o ser humano comum tem de passar rudemente os primeiro vinte anos de sua vida preparando-se para sua existência matura. É, pois, de se estranhar que Cristo não Se tivesse anunciado antes de completar os trinta anos de idade? Ele teve de preparar o homem espiritual e de levar bastante tempo nisso.

  Um homem como Jesus, que veio para uma missão especial, que envolvia a ajuda à humanidade, particularmente às massas, não poderia ter feito senão o que fez. Ele teve de conhecer como era a vida humana. Teve de conhecer o que era ser criança e ser jovem para poder ajudar as pessoas comuns. Teve de compreender que espécie de vida viviam as massas. E teve de nascer entre elas.

  Assim ele veio de maneira natural, e passou pelas privações da consciência humana, por toda a limitação daquilo que ele Era, sofrendo para nascer de maneira humana comum, crescer de maneira humana comum, e gradual e lentamente despertar para a Sua luz interior.

  Despertou um pouco mais rapidamente do que os demais. Tanto assim que pela fase da puberdade Ele havia começado a pensar, a refletir, a procurar e a compreender algo do significado espiritual da vida. Jesus, o menino inexperiente, pode confundir os doutores do templo judaico. Mas ele não havia ainda se encontrado.

  Não foi senão na idade de treze anos e meio que Ele compreendeu que devia pôr-se conscientemente a descobrir-se e a reconquistar Sua consciência superior. Para muita gente, parece que Ele desapareceu completamente entre as idades de doze e trinta anos, quando reapareceu de novo, subitamente, no país onde havia nascido. Por indicação intuitiva deixou a casa de Seus pais e foi para o Egito. Ali trabalhou e estudou sob condições as mais diferentes. Nas escolas era um estudante a imbuir-se da antiga ciência. Foi um jovem operário que pelo árduo trabalho de Suas mãos emprega parte do tempo em manter Sua própria subsistência.

  Pouco sabe o mundo destes anos de juventude. Os livros que dão fragmentos que o mundo conhece da história de Jesus, não foram escritos durante Sua época. Portanto, não se trata de documentos históricos contemporâneos, escritos na mesma ocasião em que se desenrolaram os acontecimentos. Depois da morte de Jesus, os autores escreveram o que eles acreditaram ser a Sua história.

  Uma vez estive debaixo da árvore em que estivera o menino Jesus enquanto sua mãe descansava em sua fuga para o Egito. E pus-me a refletir no milagre do tempo. A República de Roma e o reino da Caldéia adejam através da história como borboletas já extintas; o império da Babilônia e a civilização da Suméria não são senão poeira ressecada. Daqui a um século o maior conflito do mundo nada mais significará do que hoje para nós significa a descrição que os compêndios de história fazem das guerras napoleônicas.

  O Egito, seu vizinho, tinha uma cultura muito mais antiga. Os judeus tinham ligado seu país àquele. Um capítulo e meio do Livro de provérbios do Antigo Testamento foi copiado palavra por palavra do texto do sábio egípcio Amenemope. Entrai em qualquer sinagoga de hoje e vereis ali símbolos geométricos e outros, que poderíeis ver em qualquer templo egípcio do passado. É um pensamento chocante, mas verdadeiro, o de que a religião que Moisés deu aos judeus foi uma das ramificações da religião de Osíris, que por sua vez veio dos Atlantes para a África. Assisti, se puderdes, a uma reunião numa Loja maçônica, e ali encontrareis a mesma herança espiritual.

  O primeiro mosteiro cristão foi fundado no Egito. Foi inevitável que Jesus enfrentasse a Esfinge. Ele se dirigiu para o Egito porque aquela nação ainda tinha naquela época a tradição de cultura espiritual e instrução secreta numa vasta escala e de remota antiguidade, o que Ele não poderia encontrar em seu próprio país. Mas o Egito havia decaído muito, em comparação com a grandeza de seu passado. Da perdida grandeza pouco restava para alimentar a alma.

  Ele estudou e praticou os exercícios que Lhe foram ensinados. Viajou por várias províncias. Parte do tempo trabalhava em serviços subalternos e trabalhos manuais. Deixou o trabalho manual com a idade de dezoito anos e se entregou a estudos puramente intelectuais. Os patéticos remanescentes das escolas de mistérios e templos egípcios abriram as portas ao jovem estrangeiro.

  Na costa do Mediterrâneo ele encontrou um grupo de místicos, filósofos, estudantes e instrutores reunidos na cidade de Alexandria, em busca da Verdade. Uma das comunidades místicas a que Ele aderiu em Alexandria, praticava a meditação duas vezes por dia, ao amanhecer e ao entardecer. Quando o sol se erguia, eles oravam à luz solar para que suas mentes se enchessem de luz espiritual. Quando o sol se punha, oravam para que suas mentes se recolhessem em suas próprias profundezas, concentrando-se na Verdade.

  Naquela época, a cidade não era apenas um centro de cultura muito cosmopolita, mas também um porto de muito comércio. Constantemente chegavam e saiam navios carregados de cereais e outras mercadorias. Esses navios mantinham comunicações com Roma, Grécia e outras zonas da Europa mediterrânea. A intervalos chegavam comboios de navios no ponto mais próximo de Alexandria, no lado sul do Istmo de Suez, os navios eram árabes ou indianos, mais especialmente sul-indianos. Naquele tempo havia um comércio regular de sedas e outras espécies procedentes da Índia, que eram descarregadas ao longo do Istmo e depois baldeadas para Alexandria.

  Em Mênfis foram desenterrados retratos de tipos indianos de mulheres e homens. Os egípcios usavam comerciar com Musiris, a moderna Crangamore, o porto marítimo do sul da Índia. Moisés referiu-se ao cinamomo e acácia usados no culto. Estes são produtos peculiares à costa de Malabar, onde mais tarde aportou São Tomás. A Deusa Mãe era adorada primitivamente, no Egito, na forma de uma vaca. A vaca sempre foi um animal sagrado para os dravidianos. O touro sagrado do Egito tem analogia com o touro de Shiva. As instituições sociais dos naiaras, um proeminente ramo dravidiano, foram calcadas nas que a literatura egípcia descrevia como existindo ali primitivamente. As folhas de palmeira e as penas de ferro eram comuns no Egito e Índia do Sul. O culto ancestral do Egito é comparado ao culto ancestral dos dravidianos de Malabar.

  Os navios às vezes traziam passageiros. De quando em quando chegavam comerciantes indianos que tinham aprendido algo de suas escrituras ouvindo os Brâmanes, a casta dos instrutores espirituais da Índia. Os Brâmanes mesmos nunca vieram, pois estavam proibidos de viajar. Mas os comerciantes, ouvindo aos sacerdotes nos templos locais e seus guias familiares, aprendiam algo de sua própria religião, e em contato com os filósofos de Alexandria trocariam experiências.

  Os anos se passaram, e depois de haver completado Seu treinamento e sido iniciado na mais elevada doutrina esotérica, Jesus regressou ao seu país natal. Então e só então Ele se encontrou a si mesmo.

  Por então ele estava com os seus vinte e oito anos. Lembrou-se então de Sua missão sagrada de servir e despertar, e preparou-se para dar Sua Mensagem aos que estavam preparados para recebê-la. Os grandes Instrutores apareceram tão só para ajudar a abençoar a todos. Nada reservavam para uns poucos privilegiados. Seu amor e conhecimentos fluem para todos. Dão a todos, igualmente, o mesmo ensinamento essencial de devoção ao Divino. Cristo ensinava a cada um que solicitava Seu auxílio. Suas pérolas Ele as dava aos pobres e incultos como aos de alta posição.

  Antes de iniciar Sua missão pública, Ele teve de passar pelo teste que todos Seus semelhantes têm a provar. Satã, a voz da sociedade convencional, ofereceu-se para fazer de Jesus um Rei. Mas Deus, a voz dos lugares solitários, destinou Jesus para algo superior – um peregrino revelador a ensinar verdades amargas e não solicitadas.
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Desde o momento em que entrou nas vilas da chamada Terra Santa, Ele começou Sua missão. Assim quebrou Jesus o Seu grande silêncio e voltou a conversar com os homens. A misteriosa magia que estivera acesa dentro Dele durante anos de silêncio, cintilava daí em diante em cada uma de Suas palavras e provavam ao coração do homem a divina verdade de cada frase e cada sentença. Como é costume no Oriente, que sempre reverenciou os verdadeiros místicos, tão profundamente como nós reverenciamos as estrelas de cinema, as notícias se espalharam lentamente de boca em boca acerca da existência de alguém que realizara Deus.

  Devotos e peregrinos começaram a fluir para Ele, a pedir sua bênção ou ajuda, e a alguns se permitiu tornarem-se Seus discípulos. Ainda que Seu ensinamento se destinasse a espalhar-se por todos os países e pela maioria dos continentes, Sua missão, contudo, não era universal. Não haverá um mundo cristão, porque não se visava destinar o cristianismo a todo o mundo, mas especialmente ao ocidente, O Carpinteiro de Nazaré veio aparentemente para converter uma pequena seita da Palestina; Ele conseguiu converter todo o mundo ocidental.

  Contudo, Jesus sabia onde se espalharia Sua doutrina, e sabia que não se espalharia senão depois de Sua morte. Jesus permaneceu numa relação geográfica particular com Seu século e também com os séculos futuros. Quando Krishna falou, Sua mensagem fluiu para o oriente da Índia, para Java, Sumatra, Camboja, e mesmo para o Ceilão, no sul. Quando Buda falou, sua mensagem fluiu até o extremo oriente, para a China e Japão, para o norte até o Tibete, e para o sul até o Ceilão. Mas em nenhum caso essas mensagens fluíram em direção ocidental. Moisés falou, mas sua mensagem não fluiu em nenhuma direção; os judeus a conservaram para si mesmos, pois em seu arrogante orgulho o resto da humanidade não pertencia á raça escolhida.

  Não era desejo de Jesus trabalhar para determinado povo, porque simplesmente estava cooperando com a lei do destino. Internamente Ele não tinha nenhuma consciência de ser hebreu, e suas palavras foram ouvidas por todo o Ocidente. Jesus não limitou Sua simpatia a nenhum povo ou país em particular. Não pretendeu salvar particularmente a Grécia ou Roma. Ele sabia que durante o Seu período de vida seriam relativamente poucos os que aceitariam Suas palavras de Verdade. Ele procurou esses poucos. Estes O guardavam ardentemente. Pois é muito difícil encontrar um verdadeiro sábio, porque o sábio nunca se anuncia, nem se rotula como tal. Jamais ele diria quem é e o que ele é, exceto quando os deuses lhe deem uma missão especial no mundo, como no caso de Jesus. Para Jesus estava muito certo proclamar-se publicamente: “Eu e meu Pai somos um”. Mas, a não ser que uma tal missão pública tenha de ser levada a cabo, o sábio nunca o dirá, mas deixará que os homens o descubram. Todos os que tiveram uma mensagem a dar, nunca converteram nem quiseram converter ninguém. Mas para descobrir os poucos, Jesus teve de falar a muitos. E assim ele apareceu entre as multidões.

  Não necessitamos não apenas de um instrutor, mas também de um inspirador. Nós necessitamos, na expressão de Emerson, “Alguém para nos fazer o melhor que está em nós”. Que apareça o homem e nós o seguiremos. Que nos traga, não apenas as velhas mensagens cônicas de Deus, mas o fogo divino que nos inflame.

  Desde o começo sabia Jesus o que Lhe sucederia. Ele sabia quanta oposição e perseguição teria de suportar. Uma cruel perspectiva! Ou antes, que o destino havia ordenado um tal evento. Todavia – tal é o poder do amor divino! – Ele teve de encontrar os Seus eleitos, aqueles poucos que eram para serem os portadores de Seu espírito e mantenedores de Sua obra depois que Ele partisse.

  Ao encontrar-se a si, o que encontrou Jesus? Encontrou o Super Eu, encontrou o Seu mais recôndito ser. E como há apenas um Super Eu, apenas um espírito Universal, Ele encontrou em Si aquela mesma condição que vós também podereis encontrar dentro de vós. Não existem dois Super Eu; tão só um.

  É uma existência universal, não um ser pessoal, algo que não pode ser dividido e separado em duas pessoas diferentes. Não é um estado mental nem um estado físico, mas algo sem limitação, nem forma. Quando, com a idade de vinte e oito anos, Jesus se encontrou e conheceu como AQUELE, Ele encontrou a Sua missão na vida. Porque, enquanto não vos encontrardes a vós mesmos, ou pelo menos enquanto não houverdes começado parcialmente encontrar e conhecer o vosso Eu Real, não podereis encontrar vosso trabalho real na vida. Até então, estareis simplesmente tateando.

  O sentido da identidade com o eu universal substitui o ego. Portanto, o homem que compreende quem e o que ele é não pode deixar de desejar o bem estar de todas as criaturas, e não se satisfará com o mero desejo, mas fará algo nesse sentido em sua vida diária. Este é o teste final para sua realização, o serviço do mundo seja secreto ou público, e por isto Jesus se movimentou e ensinou incessantemente entre aqueles que Ele sabia um dia O premiariam com a cruz. Mas cada cravo pregado nessa cruz, também era pregado no negro destino deles.

  Qual foi sua obra? Durante os três anos que precederam a Sua chamada morte, Jesus pôde realizar aquilo para o que viera. Isto não é o que pensa a maioria dos cristãos. Ele não veio para fundar uma nova organização ou estabelecer uma nova igreja. Mas veio para plantar uma semente invisível nos corações dos homens, uma semente que cresceria até a máxima altura, porém, tal qual todas as outras árvores e plantas, o crescimento estava destinado a florescer por algum tempo e depois finalmente decairia. Jesus não fundou nenhuma organização religiosa, nenhuma igreja, Ele aconselhou Seus seguidores a orarem em segredo, não em igrejas. Não nomeou nenhum clérigo, nem sacerdotes. Toda a superestrutura da organização humana foi iniciada por outros.

  Aquilo que Jesus trouxe ao mundo está agora em processo de decadência. Homens como Lenin e Hitler foram projetados por sua época, porque são meramente instrumentos do destino, tal como um Messias como Jesus foi projetado em Sua época. Ele deu o que viera dar. Foi algo intangível, invisível. Nos corações dos homens Ele plantou algo que só podemos chamar de espírito. Ele trouxe uma nova dispensação do Espírito para este planeta. Tudo o que vedes do cristianismo é a manifestação fragmentária daquele espírito lutando por expressar-se neste mundo.

  O mundo acreditava, como sempre, na força. Sempre estava pronto a vergar ou quebrar um homem, quando procurava sujeita-lo à sua vontade. Daí o esperar ele – se esperava alguém – por um salvador que surgisse e o compelisse à salvação, mesmo contrariando-o. O mundo se desapontou. Jesus nunca interferiu no livre arbítrio de outra pessoa. Estimulou as almas para a verdade; deu um ímpeto para a auto descoberta; mostrou aos homens o que realmente prometia a vida espiritual, mas nunca compeliu ninguém a adotá-la.

  O que, pois, Jesus fez. Foi algo que não era para ser medido como realização externa, em Seu próprio tempo ou em tempos futuros, porque foi algo que vive dentro dos corações por todo o sempre. É profundo e sem preço.

  O Novo Testamento transmite algo do perfume deste homem divino. As páginas dos quatro evangelhos são inspiradas; brilham como lâmpadas. Embora tenha desdenhado dar ao mundo qualquer filosofia sistemática e fabricada, Jesus lhe deu algo melhor; Seu próprio atingimento interno daquilo que transcende toda a filosofia, Aqueles terços parágrafos resplandecem de iluminação. Ele diz a última palavra e nada deixa para dizer. Os penetrantes pensamentos de Jesus são apanhados e aglutinados em concisas sentenças, que não são facilmente esquecidas. Não é necessário tecer estes pensamentos num fio de lógica, porque cada um deles é soberbamente autossuficiente, incontestável, divinamente convincente.

  A ideia do próximo advento de um Messias tem produzido a habitual safra de falsos instrutores e fanáticos profetas correlatos. Pois estes criam consciente ou inconscientemente fúteis desvios, em que os investigadores sinceros desperdiçam suas energias e perdem suas aspirações.

  Há no momento, à vista do público, diversos “Messias” autoproclamados, e deve haver muitos outros menores, pouco conhecidos. O efeito resultante de seus trabalhos é mistificar os que pensam, e desencaminham os que não pensam. Mas quando a verdade é conhecida, todos os iludidos e mistificadores se desvanecem em suas insignificâncias e não mais nos interessam. As estultícias que desencaminham a humanidade e os sofismas que a iludem, não durarão para sempre.

  Estes homens nada têm a dizer-nos embora o digam. Que podem eles dizer que se compare à cintilante asserção do Mestre, “O reino do céu está dentro de vós”? Essa verdade que ele deu aos admirados ouvintes é uma abridora de mentes. Sua lucidez é de uma clareza meridiana. Pois a maioria de nós perdeu a cabeça e tornou o caminho que trilhamos, os ritos que observamos, os dogmas que acalentamos, mais importantes do que a salvação que queremos alcançar.

  O único homem que posso cultuar como um Messias é aquele que tem o Poder. Dele se pode adquirir um novo impulso. Só ele é digno de receber minha mais elevada oblação. O ensinamento não me afeta, mas aquele que me pode dar uma nova orientação em caráter, ou afastar minha vontade das loucuras mundanas, ou abrir as janelas de minha mente para que a consciência superior possa brilhar – eu o reverenciarei.

  A vinda de Jesus foi uma bênção para o mundo. Ele instruiu e inspirou homens. Ele lhes ensinou o segredo mais profundo da vida e incitou-os a seguir o caminho divino. Em Sua própria existência diária Ele exemplificou uma santidade que lança na sombra a nossa vida comum.

  Quando contemplo os quadros da história do passado e vejo Sua figura desfilar diante de mim, trazendo em sua fronte a alta dignidade da marca apostólica, recebo renovado conforto e segurança. Não estamos abandonados. Deus ainda envia companheiros para nossos trôpegos pés e apóstolos do Infinito para nossas mentes ainda tateantes.

Fonte: A Realidade Interna - Paul Brunton.

                                                                Rayom Ra                                                                                                             http://arcadeouro.blogspot.com.br