Há basicamente sete linhas na Umbanda comumente chamadas Linhas de Vibrações ou de Forças, ou Linhas de Orixás. O termo orixá significa entidades, divindades, seres ou forças. Se eu for seguir os rastros etimológicos tanto desse termo como de outros de Umbanda, formarei um número muito grande de palavras correlatas, pois sempre haverá novos significados emergentes das diversas origens dos povos da África. Para entrar com vontade nesse tema, que é vastíssimo, onde pesquisadores escrevem muitas laudas e vão buscar subsídios nos registros antropológicos dos africanos, precisaria também evocar de suas memórias atávicas e cultos. Mas como isso se tornaria extenso demais nos moldes a que se propõe esse blog precisarei simplificar, baseando-me somente em alguns exemplos da cultura yorubana.
Em tempos recuados, nem todas as civilizações possuíam escrita, e mesmo possuindo somente elites e castas podiam aprender a ler e escrever, por isso o povo desenvolvia memória prodigiosa, conseguindo assim armazenar e manter vivos os principais aspectos de suas culturas por todas as gerações, transmitindo-os oralmente. O que é contado pela tradição religiosa da Nigéria sobre o surgimento dos orixás e a organização de seus cultos, remete aos tempos dos primeiros descendentes do Adão bíblico.
Noutro texto já me referi ao fato de que todas as formas de magia tiveram suas sementes no continente atlante. Embora as religiões e os movimentos esotéricos ou gnósticos de todas origens e ramificações se tenham organizado mais tarde, segundo as épocas em que se situaram, todos eles tiveram seus embriões, sem a menor dúvida, das práticas sacerdotais e populares atlantes. Os instrutores espirituais naquele continente conseguiram fundir nas almas das suas diversas etnias um sentimento devocional ao superior, e trabalharam seus pensamentos com a disciplina cada vez mais profunda da obediência e respeito. Os cultos não tinham a conotação religiosa que hoje conhecemos, mas pela invasão das forças negativas os sentimentos devocionais à natureza cederam lugar, na grande maioria dos cultos, ao comando hipnótico dos praticantes da magia negra, passando à obediência pelo temor, ao surgimento de hábitos e práticas opostas ao que então era ensinado, e aos sacrifícios de animais e seres humanos. Quando tudo veio abaixo, tanto a sabedoria do bem como o mal se fragmentaram tendo esses valores se misturado nas diversas culturas dos povos decaídos, o que obrigou aos povos nos milênios vindouros a trabalhar com ambas as polaridades – a positiva e a negativa, - e, sempre que possível, procurar separar o bem do mal. Infelizmente, alguns ingressaram unicamente no mal.
Voltando à lenda yorubana. O personagem Ninrod era caldeu filho de Cuxe, sobrinho de Sem e neto de Noé, e conforme Genesis 10 – 8.9.10.11: “Cuxe gerou Ninrode, o qual começou a ser poderoso na Terra. Foi valente caçador diante do Senhor; daí dizer-se: como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor. O princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Cainé, na terra de Sinear. Daquela terra saiu ele para a Assíria, e edificou Níneve, Reobote-Ir e Calá”.
A lenda diz que Ninrod foi chamado por Deus que fez com ele um pacto e o mandou para a África já com o nome de Oduduwa, onde lá, em região hoje conhecida por Nigéria, começaria a epopéia yorubana. Sua missão seria inicialmente com os hotentotes, raça de pigmeus, descendentes de ramo decadente dos povos lemurianos. No entanto, não foi somente a esse povo pigmeu que Ninrod trataria de impor as ordens de Deus, pois geraria filhos grandes que iniciariam o grande panteão yorubano de orixás.
Assim, Oduduwa se uniria a Olokum (oceano), transformando-se em Obá-Olokun – o Rei dos Oceanos, tendo então três filhos:
1. Ogun = Vulcano, senhor do ferro, fígado e agricultura.
2. Ishedale = Afrodite, senhora das águas e mãe de todas as ninfas.
3. Okanbi = Senhor do fogo, das conquistas e da justiça.
A partir de Okanbi, começaria de fato a epopéia dos heróis yorubanos, pois Okanbi teria sete filhos que gerariam outros heróis e personagens da magia africana. O fato de existir orixás na Terra nos faz entender que há duas categorias dessas forças: os orixás menores, aqueles que foram filhos de homens e mulheres da Terra, incorporando poderes e comandando guerras e situações, e os orixás maiores.
Os orixás maiores, não são entidades na significação usual do termo, pois representam os picos de linhas de forças de onde emanam as qualidades personificadas para os orixás menores, segundo suas respectivas tendências nas variações sétuplas de uma hierarquia. Ou seja, são sete as forças superiores dos orixás, como sete são as linhas básicas dos orixás menores, contudo haja variações. Portanto, os orixás maiores são forças, embora haja sob elas, em seus altos escalões, entidades elevadas emergentes ou não do mundo humano, normalmente incorpóreas em médiuns ou em seus representantes na Terra. Porém, excepcionalmente, e dependendo da grandiosidade de uma missão, essas entidades podem vir a se manifestar em condições especiais num corpo físico ou através de uma mediunidade superior.
Temos agora uma idéia do que seja orixá. E embora me tenha fixado na cultura nigeriana, berço do idioma yorubá, o mais conhecido nos meios dos candomblés e de Umbanda, outros povos africanos também cultuam orixás segundo suas culturas e idiomas, atribuindo a eles a incorporação das forças da natureza.
Focalizarei agora um ponto mais alto, segundo as tradições africanas e alguns sincretismos das religiões antigas e atuais, cujas histórias, lendas e aspectos litúrgicos, se incorporaram nos simbolismos e práticas de Umbanda e suas magias.
O espaço maior, o universo inexplorado, é chamado de o reino de Obatalá. Obatalá, quer dizer o firmamento, ou Rei (Obá) do firmamento. Há inúmeros sinônimos nos cultos africanos para designar esse Deus maior criador dos céus e da Terra, mas não me estenderei para não complicar muito, permanecendo o quanto possível adstrito à Lei de Umbanda.
Obatalá é então o pai do mundo e das Forças de todos os orixás de Umbanda. Há, porém, discordâncias quanto à classificação dos sete orixás menores de Umbanda, sob cujas forças todos os trabalhos são realizados, cada um com características diferentes, incorporando e estabelecendo especificamente, segundo suas linhas, uma série de preceitos tais como: simbologias, roupagens, ferramentas, cores, cânticos, oferendas, histórias e outros implementos. De maneira geral, podemos classificar os sete orixás de Umbanda da seguinte maneira: Oxalá, Yemanjá, Oxun, Ogun, Oxossi, Xangô e Crianças.
Na parte III desse tema pretendo abordar as características essenciais dos orixás e suas intra-relações.
Rayom Ra
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