Evidenciava-se que os sumérios tinham chegado à Mesopotâmia antes do povo judeu, subjugando com suas milícias e adiantada cultura os semitas ali viventes, conforme já anotei. Alguns registros históricos apontam 10.000 anos de existência da civilização suméria; outros levantam suspeitas e suposições de que esse tempo possa ser maior, puxando a lenda do Jardim do Éden para um período ainda mais recente. Os cananeus, que anteriormente viviam pela região da Mesopotâmia, seriam antes da invasão suméria pequenas e esparsas tribos semitas que não podiam representar uma influente cultura. Mas somente após o êxodo do Egito, e com a civilização suméria decaída e fragmentada, que os judeus teriam chegado a Canaã dos cananeus na Palestina com sua força militar e religião monoteísta, lá se instalando. Admite-se que os cananeus, nessa época, já utilizavam o termo hebreu para designar seu ramo étnico, que os judeus somente após a conquista de Canaã absorveriam e adotariam. Portanto, hebreu antes do êxodo, não seria somente epíteto de especial ramo semítico israelita conforme atribuíam a Moisés e ao povo judeu escravo no Egito.
Além disso, o hebraico é um idioma muito mais antigo, originário da África e lá existente há mais ou menos 8.000 anos a.C., levado para a Ásia e depois falado tanto por fenícios como por cananeus. Sua forma escrita, mais tarde trabalhada pelos rabinos judeus que lhe introduziriam sinais massoréticos, estabelece similitudes com o aramaico falado por Jesus e alguns povos da antiga Palestina e Mesopotâmia. Desse modo, os sumérios teriam sido muito anteriores aos judeus do Velho Testamento e não poderiam de forma alguma se revestir com um proselitismo judaico, senão o oposto visto a cultura politeísta suméria, durante milênios, ser a mais forte e assimilada forçosa ou casuisticamente pelos povos espalhados desde a Síria Oriental até a Mesopotâmia.
Apesar de alguns historiadores serem cautelosos num julgamento definitivo sobre a realidade ou não da existência dos patriarcas bíblicos, outros demonstram o mais profundo ceticismo quanto ao fato. No entanto, grande número de pesquisadores no mundo inteiro está interessado unicamente em comprovar a veracidade dos relatos bíblicos sem preconceitos. Achados arqueológicos têm sido para uns a via única comprobatória de falhas e inverdades dos relatos do Velho Testamento. Duas conhecidas correntes de estudiosos, nos Estados Unidos e na Europa, divergem em vários pontos sobre critérios interpretativos dos elementos arqueológicos coligidos.
A Maximalista se apresenta não radical, comedida, postulante da aceitação de fatos bíblicos como sendo históricos desde que não possam ser contestados nem sejam comprovadamente falsos. Já a corrente Minimalista desconsidera e julga falsos os fatos onde não haja evidências possíveis de comprovação.
A mim me parece haver grande precipitação dos Minimalistas em julgar fatos bíblicos desta forma, pois dificilmente há consenso ou absoluta certeza de uma amostra arqueológica ou documento histórico serem eminentemente comprobatórios de mentiras e enganos, ou suficientes de per si para conclusões definitivas.
Por outro lado, a arqueologia não encontrou ainda meios para definir uma data precisa, ou o mais aproximado possível, de quando definitivamente o dilúvio teria ocorrido, se de fato ocorreu conforme diz o Velho Testamento. Cientistas são categóricos em afirmar que pelos estudos dos solos, acidentes geográficos e condições ambientais de muitas regiões dos continentes, até o momento não há indícios de que há milênios tenha de fato acontecido uma inundação daquela magnitude.
Estudos acurados indicam também que seria impossível a natureza provocar inundação de uma só vez em todo o planeta, cobrindo montanhas, oceanos, mares e rios em somente quarenta dias de chuva. Mesmo chovendo mais do que quarenta dias, se verificaria aumento de volume ínfimo de água por toda a Terra, embora para nós esse mesmo volume viesse a se revelar assombrosamente grande. Ademais, segundo ainda afirmam homens das ciências, a natureza, além de tudo, não reúne condições de formar tanta elevação de nuvens que possa precipitar uma inundação em escala planetária.
O Noé bíblico, tanto quanto Abraão, Jacob, José e Moisés, são reconhecidos e respeitados pelo Islam que, principalmente, consideram Abraão um muçulmano da maior envergadura. Esta atribuição se deve por sua aceitação e fé a um Deus único, pois nos tempos dos patriarcas não existia ainda cristianismo ou islamismo.
A maior das polêmicas envolve a criação da Bíblia. A tradição sacerdotal (a mesma que religiosa) atribui a Moisés a autoria dos cinco primeiros livros. Investigadores rechaçam a existência de Moisés, sua origem hebraica e todos os seus atos fantásticos praticados no Egito e fora dele, obedientes à vontade do Deus de Israel. Os fatos concatenados pela arqueologia e pesquisadores não seqüenciam uma relação histórica conducente ao libertador hebreu.
A história não desata e os religiosos somente repetem a Bíblia. Neste ponto, as duas correntes são inconciliáveis, mesmo por que o religioso crê, imagina e se satisfaz. A história, ao contrário, manuseia, tange, rearticula e procura comprovações sem o quê nada pode guardar, afirmar ou restabelecer. E as discussões continuam.
De Rayom Ra
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