A Linha de Oxalá na Umbanda é a mais respeitada devocionalmente, por se tratar justamente daquela de posição mais elevada em termos de hierarquia, embora não seja a mais poderosa em termos de ação nas demandas e trabalhos de magia. Entre os umbandistas Oxalá é o topo do triângulo de onde dimanam luzes e ordens, além de com ele materializar-se a filosofia do serviço. A força de Oxalá tem conotações e funções diferentes de todas as demais, o que também não é nenhuma novidade uma vez que cada uma das sete linhas desenvolve, compartilha e atua com determinadas e respectivas qualidades no conjunto básico de sete. No entanto, Oxalá na Umbanda representa sobretudo a vigilância e o poder de Deus.
A etimologia do vocábulo Oxalá e a posição do orixá na hierarquia dos deuses trazem algumas diferentes interpretações. Oxalá não é o deus supremo do universo, mas sim Obatalá que reina acima do Empíreo, conhecido também, dentre outros nomes, por Zambi, Orixalá (Orinshalá) ou Oludumaré. As sete grandes forças ou raios cósmicos extremamente poderosas atuantes em nosso sistema solar, são graduadas por Inteligências fora de quaisquer considerações humanas para o contexto mundial do planeta Terra. São, portanto, até onde suspeitamos, as mesmas forças criadoras sob cujas ações e movimentos as galáxias se formam e continuam delas a receber transformações. Na Terra atuam sob condições minimamente assimiláveis à vida aqui existente. Nessa realidade terrestre, as forças trabalham personificadas por deuses num processo hierárquico de atribuições e poderes.
Os historiadores e céticos invertem as posições das mitologias por ignorância ou propositalmente, desmerecendo-as e buscando ridicularizá-las, principalmente pelos excessos verificados entre os povos nas interpretações literais dos simbolismos e alegorias. Pretendem esses céticos desinformados que as culturas humanas inventaram aleatoriamente as mitologias, deixando um rastro na antiguidade que depois foi seguido pelos diversos povos segundo suas idiossincrasias. Em parte sim, pois certos povos de importância relativa assimilaram de outros suas culturas, mas não o fizeram de maneira totalmente correta, daí surgirem discrepâncias e crenças estranhas que se espalharam. As mitologias não foram absolutamente inventadas pelos povos, mas reveladas pela hierarquia que rege os destinos da Terra. Foi uma criação inteligente em que as narrativas vieram sendo calcadas na memória e, segundo as épocas, apuradas e reorganizadas. Revelaram a realidade oculta das forças planetárias sob diversos caminhos da simbologia e alegoria como já aludimos, estimulando ao máximo o exercício da imaginação. Além disso, sob a guarda popular ou exotérica, através das alegorias, serviram como depositárias de alguns segredos iniciáticos que não deveriam ser esquecidos pelas gerações futuras. Veicularam também as qualidades e defeitos das várias faces das personalidades humanas em seus papéis nas sociedades. Por outro lado, essa instituição não prescindiu que deuses vivessem na Terra em corpos físicos, incorporando personalidades humanas e desempenhando seus papéis de heróis, deixando aqui ensinamentos e obras.
Volto a Oxalá, que é Oxé-Alah, significando numa de suas traduções: “com licença do maior”. Não vou mover céus e terras em busca de todos os significados e lendas acerca de Oxalá, que, como já disse noutro texto, as origens do léxico na Umbanda evocam um sem número de termos e alusões. Escolhi essa aglutinação por evocar três culturas que se mesclaram num só vocábulo, permitindo que elementos de cultos ficassem indissociados. Os africanos, os árabes, os povos semitas do Oriente Médio, os europeus e asiáticos sempre intercambiaram valores, haja vista o Egito se ter constituido numa das mais misteriosas civilizações da antiguidade a par de seus esplendores. O Egito bem representou uma civilização cosmopolita, que por milênios importou e exportou elementos importantes das mais diversas culturas. Desse modo, o vocábulo Oxalá resumiria, mais especificamente, elementos árabes, caldeus e africanos no seu significado, vindo mais uma vez constatar que as tradições religiosas, mitológicas e da magia remontam desde um passado que se perde nos tempos. Afirmo isso uma vez que Oxé me parece uma corruptela de Axé, do yorubá, significando poder. Al, da cabala hebraica significa Deus, e Al-ait, traduz a idéia de o deus do fogo, pois o poder hierárquico de Oxalá domina sobre todos os elementos. Assim, possivelmente, chegaríamos a Allah, o deus dos povos islâmicos. Ou seja, desdobrando tudo Oxé-Allah significa tanto, “com licença do maior”, como “o poder do maior”. Há ainda a saudação islâmica Inshallah, que quer dizer exatamente Oxalá, ou “amanhã se deus quiser”.
A cabala hebraica foi originada dos caldeus, povo muito antigo de ramo Turaniano, subraça atlante, cujo um núcleo instalou-se na Caldéia há mais de 30.000 anos desenvolvendo os seus segredos. Seria levada de Ur para o Egito onde lá foi adotada e ensinada.
Oxalá pareceu sempre representar uma força maior, tanto assim que no sincretismo assimilado pela Umbanda representa Jesus, a coluna mestra do edifício da igreja de Deus na Terra. No entanto, o Oxalá de Umbanda não possui as mesmas conotações que a igreja ensina existir em Jesus. Jesus foi um mestre dotado de poderes psíquicos superiores que em certo estágio de sua missão pôde deter em sua mente uma visão de o destino da Terra e de sua humanidade, o que lhe custou imenso sacrifício e perda de muitas energias psiquícas. Foi-lhe confiada a missão da continuidade dos ensinamentos de Buda, sob a perspectiva voltada, principalmente, para o ocidente. Buda ensinara que a realização da meta seria ligar a alma ao superior, ao céu, ao Nirvana, para se alcançar a suprema beatitude e a perfeição humana. Jesus, no entanto, sob a realidade objetiva ocidental, mas herdando da subjacente sabedoria oriental, ensinou que para se alcançar os céus e a união com o Pai, o homem deve ligar sua alma à terra, ou seja, materializar a alma sob aspectos de serviços. Sintetizou genialmente a aspiração da união com o poder superior levada a termo pelas devotadas ações na Terra em oblação ao mesmo Deus vivente em todos os homens. Mas tanto um método quanto o outro não descartam o sacrifício experimentado sob diferentes circunstâncias, embora em Jesus a fé caminhe como importante componente para preencher as lacunas de uma sabedoria que o ocidente despreza, mas que o oriente budista conquista pelos resultados das longas meditações.
Buda não teve propriamente um mestre, senão em seus primeiros passos, quando depois descartou qualquer auxílio e proteção, penetrando os labirintos da mente e ultrapassando os umbrais superiores do desconhecido por sua conta e risco. Finalmente chegou à iluminação, mas poderia ter enlouquecido. Já Jesus teve em Cristo seu parceiro para juntos obrarem, visto Jesus abrir as portas ao mundo para a quarta e quinta iniciações maiores, onde o Cristo vincula cada vez mais seus poderes do amor-sabedoria aos postulantes. Essa é uma das dificuldades em se entender Cristo como o incorporador do amor-sabedoria. E confundem Jesus, fazendo-o um representante unicamente do amor emocional e um orador hábil e inteligente. Na realidade, o poder de Cristo vai muito além das obras demonstradas na Terra por Jesus e as induzidas pelos seus ensinamentos, pois Cristo assumiu, além de tudo, um ciclo evolutivo de toda a humanidade em todos os quadrantes da Terra.
O Oxalá de Umbanda, se levado a fundo no reconhecimento de suas ações e na importância nos cultos umbandistas, considerando os elementos de sua magia, em nada se parece com o missionário Jesus, sendo unicamente reconhecido por uma só analogia, uma vez que Jesus Cristo foi cognominado o Filho de Deus, assim como Oxalá é o orixá mais próximo da corte de Obatalá. Jesus entra na Lei de Umbanda por ser na hierarquia o Mestre responsável por todas as religiões ou formas religiosas estabelecidas na Terra. No entanto, Jesus não reconhece crenças inventadas pelos homens que pregam ensinamentos estranhos àqueles ditados para a finalidade evolutiva da humanidade.
Rayom Ra
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Noutro segmento mais de Oxalá.
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