quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dúvidas e Ceticismos Sobre a Bíblia, Sempre - I

Os aspectos religiosos foram no passado relativamente aceitos sem muitas discussões, muito embora sem provas concretas suficientes, mas com os historiadores dando crédito material aos textos bíblicos quando identificavam cidades ou locais fisicamente conhecidos ou não.

Hoje, porém, esta visão mudou e conturbou completamente uma possível coerência no processo histórico, sob cujos desdobramentos os textos bíblicos em diversas ocasiões convergiriam. O que mais causa divergências e cisões entre arqueólogos, sociólogos, historiadores e pesquisadores são as diferentes constatações de que as culturas dos povos se teriam desenvolvido em períodos não coincidentes com aqueles asseverados pelos textos bíblicos. Em alguns casos, se afastam de tal forma dos relatos religiosos que robustecem ainda mais a colocação dos argumentos díspares de quem diverge. Mesmo o Egito não escapa do esquadrinhamento de fatos imprecisos ou inexistentes e que produzem hiatos na sua memória arqueológica, por não existir elos seqüenciais de elementos concretos corroborantes com as narrativas bíblicas.

De Adão historicamente nada se pode comentar, exceto que o texto bíblico descreve propositalmente o paraíso no lugar onde existiu a antiga Mesopotâmia. O que Adão teria realizado não é cabal nem procedente, mesmo porque quase nada é dito de seus hábitos em comum com Eva no Jardim do Éden. A única trilha a seguir no contexto religioso é aquela deixada por seus descendentes até Noé. Não há, portanto, conteúdo em Adão e Eva como personalidades, sobre as quais se pudessem analisar e inferir racionalmente como a história necessita.

De acordo com meus cálculos, o começo da povoação da terra com Adão e Eva teria acontecido a aproximadamente 6045 anos, cifra esta que considero insignificante perante os anais universais e cronologia humana. Julgo, porém, que o cálculo judaico de 5768 anos, dessa mesma distância de pólos humanos, possa ser explicado pela sabedoria milenar cabalística. A data popularmente fixada do início de seu calendário é a de 07 de outubro de 3760 a.C., o que não muda a espinha dorsal de meus cálculos, pois atingiria os 653 anos que Adão ainda viveria até atingir 930 de idade. Porém, a cabala caldeu-hebraica mantém tradições herméticas onde se guardam explicações mais profundas não só dos sistemas numéricos relacionados com as forças divinas, como crônicas e livros sagrados de uma sabedoria antiqüíssima.

Teria sido a Mesopotâmia realmente o Jardim do Éden? Que a Mesopotâmia foi o berço da civilização dos povos do oriente médio não há dúvidas. Muito embora ramos étnicos semíticos tivessem alargado o círculo de seus grupamentos nômades para mais além dos rios Tigre e Eufrates, é inegável a influência por eles recebida dos povos culturalmente adiantados viventes na Mesopotâmia.

Noutro texto já citei os sumérios de cuja cultura sócio-religiosa surgiria mitologia plena de lendas. Ligavam-se essas lendas em muitas instâncias ao aparecimento do homem na Terra, aos deuses cósmicos e terrenos e as suas constantes lutas decorrentes da dualidade bem-mal. Adotaram cultos e crenças politeístas, códigos morais disciplinadores de bens e valores, mas não organizaram propriamente uma religião sobre bases espirituais. Os deuses representavam forças naturais e cósmicas, e os sacerdotes estabeleciam critérios temporais em seus cultos, pois segundo consta os sumérios não se preparavam para a morte com as mesmas noções de paraíso e inferno externadas por outros povos, como, por exemplo, os gregos e egípcios. Mesmo assim, possuíam muitas noções de valores transcendentais ao mundo material, inclusive realizando rituais de magia e oferendas aos deuses com base nas afinidades astrológicas.

Em virtude desses fatos, acredito ser altamente improvável não terem conhecido também a crença da reencarnação e de regiões suprafísicas, onde as almas lá permanecem entre uma e outra interpolação na matéria. Essas crenças, no entanto, já eram profundamente conhecidas das religiões orientais quando tratavam do carma e de seus efeitos retroativos aos bons ou maus atos praticados na Terra.

Todavia, o Gênesis bíblico ao prefaciar em poucas linhas o Velho Testamento com a criação da natureza terrena e humana, sob uma cosmogonia bastante resumida, não explicaria o necessário, deixando aos historiadores e pesquisadores modernos uma única saída a fim de tentar entender a razão e o sentido de tal revelação. E como os operadores das ciências materiais são na prática inerentemente agnósticos ou ateus, o concretismo é a única e perfeita razão de suas pesquisas.
Mesmo reconhecendo no ser humano uma psique reveladora de sensações, pensamentos e toda a sorte de emoções, não é competência das ciências anelar filosoficamente algo imaterial sobrepondo-se ao material. Nem atribuir um Deus invisível e intangível a quem a psique, anima, ego ou superego instintivamente reverencia, se dobra e oferece segundo sua cultura. Na realidade, permeia-lhes a alma física do anacronismo que procuram exorcizar com esforço racional e tecnológico.

E não obstante, um inevitável paradoxo os obriga a seguidamente reconhecer um paradigma invariável, persistente e inexplicavelmente constante com a inclinação humana, que vem revelar sempre na alma dos povos a imorredoura certeza a algo invisível e superior a todas as demais vidas e forças da natureza. Dessa maneira, partindo das crenças de genealogias dêiticas de povos pré-existentes aos judeus, a pesquisa procurou analogias e paralelos para entender a cosmogonia bíblica. E não foi difícil encontrar coincidências no Gênesis bíblico com os relatos mitológicos sumérios.
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Rayom Ra
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