sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Luzes no Caminho [44] - A Justeza dos Iniciados [2]


  MÓDULO V

  Este é um trabalho de reedição ao qual estamos chamando de “Luzes no Caminho”. É um Programa construído sobre comunicações esotéricas de textos já editados e agora coordenados em blocos. A finalidade é de facilitar ao leitor na busca de conhecimentos, na inspiração ao serviço, nas suas reflexões bem como nas práticas de exercícios para benefícios de suas áreas humanas física, emocional, psicológica, mental e espiritual.

LUZES NO CAMINHO [44] 

 A JUSTEZA DOS INICIADOS

  Os ocultistas sempre falam nos pequenos e grandes mistérios gregos, e as iniciações de outrora eram realizadas, principalmente na Grécia e Egito pelos sacerdotes chamados de hierofantes, e em Roma pelos grãos sacerdotes. Os povos asiáticos desenvolveram valores diferentes dos ocidentais, formando escolas e construindo templos das mais variadas filosofias segundo suas idiossincrasias. Nesse contexto, se destacaram em primeiro plano, a Índia, a China e o Japão, e após a instituição do budismo, também o Tibet. A classe sacerdotal iniciada era imensa, (1) com a distribuição de muitos cargos e deveres, porém os Grandes Hierofantes eram raros, porque, em princípio, deveriam ser representantes nomeados pela Grande Fraternidade Branca. Hierofante vem do grego hierophantes significando “Aquele que Revela”. O hierofante era o sumo sacerdote. No Egito era o conhecedor da cabala e de todos os mistérios e magias que se praticavam, e nas dinastias gloriosas podia ser o próprio Faraó. Gregos e egípcios formaram um corredor de cultura ocultista em que não se sabe ao certo, em determinadas épocas, quem mais influenciou quem, pois os grandes mestres dos mistérios gregos conheciam os mistérios egípcios e vice-versa. Tanto assim que Orpheu instituiu os sons iniciáticos na Grécia, em que os chacras eram atuados ou despertos pelas notas especialmente emitidas. E no Egito ele foi Thot ou Hermes onde era considerado um deus que alavancou as práticas e ensinamentos aos iniciados, instituindo lá no país de Menphis grande aparato de ciências ocultas.

  (1) “Os sons graves do hino sagrado enchiam o ambiente de vibrações melodiosas. Aqueles cantos sacros, executados com extrema perfeição por vozes soberbas, acompanhadas e sustentadas ao som de harpas, produziam sempre, no povo, impressão profunda e perturbadora; involuntariamente, as cabeças se curvavam, os joelhos vergavam e uma ardente aspiração para a divindade elevava-se de todos os corações. Após os cantores, vinham os padres de todos os graus, precedendo o naos (barca sagrada) da deusa coberto com um tapete ornado de flores e carregado por oito pastóforos; depois, os grandes dignitários do templo, tendo à frente o reitor dos matemáticos, precedido dos símbolos da música e dos livros de Thot; a seguir o Hierofante, grande mestre das ciências genetlíacas: o relógio e a palma eram os símbolos do seu cargo; a pena, a régua e o tinteiro, precediam o Escriba sagrado, grande mestre da ciência simbólica sob todas as formas, e da arte hierogramática; depois caminhava o grande mestre da justiça, com seus símbolos: o côvado figurando a igualdade perante a lei e o copo figurando a grande comunhão sacerdotal, com a vida espiritual do universo pela iniciação. Por fim, surgia a arca-santa, que continha os dez livros da iniciação suprema e, atrás dela, Potífera revestido das insígnias de sacerdote, tiara branca na cabeça, o peitoral formado de pedras simbólicas, cintilando ao peito, e seus emblemas: os pães da comunhão e a jarra de ouro”. ( O Chanceler de Ferro – J.W. Rochester )

  Candidatos vinham de longe para se preparar e ser iniciados no Egito, tal como teria ocorrido com os sábios gregos da gnose, os profetas hebreus, os caldeus e o próprio Jesus. Pela grande ciência que cercou as edificações das pirâmides e templos, pela posição ocupada pela grande pirâmide de Gizeh onde seu ápice está apontado para a direção de importantes constelações e estrelas moventes sob a ótica astronômica-astrológica, e estando a sua base exatamente sobre a imaginária linha que divide o planeta em duas frações iguais, sem dúvida o Egito representou o maior centro de estupendas forças da antiguidade, sendo celeiro de grandes almas e de esoterismo inigualável. Hoje se revelam a presença de deuses extraterrestres que no Egito teriam aportado instituindo suas lendas, artes, a ciência oculta e a utilitária, bem como noutras épocas de decadências, a direção do país e seu corpo sacerdotal estariam dominados por seres do mal, também extraterrestres. Muitas descobertas arqueológicas não permitem nenhum engano sobre as interpretações de figuras nos murais e templos, onde são mostradas naves, aviões comuns, helicópteros, astronautas e muitas outras imagens, perfeitamente iguais as que conhecemos no presente, bem como invenções avançadas para a época. Não duvidamos destes achados, mesmo porque não há como duvidar de provas tão incontestes, amordaçadas e sufocadas pelos donos das culturas mundiais, e somente reveladas por intrépidos homens de ciência e sérios pesquisadores que se arriscaram em divulgar verdades paralelas, contrárias aos interesses de grandes oligarquias. E esses achados são corroborados por novas descobertas noutras partes do planeta que vêm deixando os arqueólogos estarrecidos sobre as ingerências extraterrestres nas vidas de nossas civilizações.

  Se considerarmos ao fato de que desde tempos de Sanat Kumara viajantes do espaço nos visitam com a intenção de incrementar a evolução planetária e de nossa cadeia, não haverá o que estranhar, mesmo porque, conforme já antes mencionamos, iniciados maiores viajam para Sirius a fim de receber novas iniciações que aqui na Terra não são ainda possíveis. E de que maneira eles viajariam a tão distante constelação senão em naves? E se considerarmos também que a antiga arte egípcia e sua mitologia apresentam inúmeras características impares e magníficas para a época, enquanto as populações mundiais ainda repousavam sobre velhas crenças e sacrifícios, como se explicariam tão rápidas mudanças de uma época para outra e impulsos tão grandiosos naquela cultura?  A arte, a magia e a ciência com que o Egito deslumbrou a antiguidade, foram maiores do que o povo podia compreender; daí, mais tarde explicar-se às distorções e profanações do sagrado. Cremos não tardar a história ser passada a limpo sobre muitos relatos obscuros. Relativo aos extraterrestres, segmentos de governos já anunciam provas de suas existências e utilização de algo de suas avançadas tecnologias, ao passo que cientistas e homens da política já opinam sobre a legitimidade ou não de aceitarmos os seus contatos, o que há pouquíssimo tempo os céticos debochavam, tripudiavam e juravam de pés juntos que óvnis e extraterrestres eram produtos da imaginação desvairada de místicos e esotéricos. Quem continuar duvidando e pretender ainda ridicularizar-se a si mesmo precisa dar-se a humildade de ler livros modernos de pesquisadores da própria ciência onde há entrevistas e declarações de ex-funcionários e ex-astronautas da NASA, relatando encontros incríveis respaldados com fotos surpreendentes, além de existir coleções de vídeos com entrevistas e cenas inusitadas. Por oportuno, a NASA, não podendo mais omitir nem esconder a verdade, provavelmente pelo fato de sua concorrente européia abrir seus arquivos, vem de recentemente permitir que ex-astronautas e ex-chefes de setores governamentais de investigações sobre ufos, relatem tudo o que sabem, e é justamente o que eles vêm fazendo em livros e entrevistas.

  Conforme prometemos, não nos deteremos sobre o tema e somente aqui nos alongamos um pouco mais, por que era necessário justificar os processos iniciáticos dos antigos, com a participação efetiva dos extraterrestres, pois se comprova abertamente o auxílio instituidor dos deuses de outrora ou Hierarquias Criadoras, e não podemos omitir tão importantes registros antes de nos remetermos um pouco mais aos tempos das iniciações da antiguidade.

  As iniciações são bem distintas. Os grandes iniciados que desde a cadeia lunar vêm trabalhando sob a égide de Hierarquias para a evolução de nosso planeta, tinham alcançado na Lua iniciações superiores que os habilitaram a formar nos escalões mais adiantados na Terra. Ao mesmo tempo em que esses mestres vinham auxiliando os diversos setores da vida terrena, expondo-se a todas as situações de riscos, apuravam cada vez mais seus conhecimentos e avançavam na senda evolutiva. Esse é o caminho natural dos servidores que em seus ingentes trabalhos consomem seus carmas e de iniciação a iniciação vão se libertando do jugo da carne. No entanto, as iniciações que aconteciam nos templos das principais civilizações que estamos mais particularmente enfocando, abrangiam níveis diversos da casta sacerdotal, que eram as iniciações mais comuns.

  Os neófitos eram entregues aos sacerdotes para serem instruídos e preparados nas diferentes escolas para iniciar suas vidas religiosas nos níveis mais inferiores, contudo ao se tratar de alguém excepcional, sua trajetória seria bem mais rápida e sua missão maior. Portanto, o Egito, a Grécia e Roma, nesse aspecto religioso, realizavam normalmente as iniciações menores, e os iniciados aprendiam dos mistérios que lhes eram permitidos.  Essa norma sempre foi a mesma nos diversos centros de mistérios do mundo antigo e ainda é assim com as escolas da atualidade, com iniciados dos variados graus, segundo a filosofia de suas respectivas escolas. As iniciações maiores, relativas aos mestres do conhecimento, gurus da humanidade, responsáveis por missões de grandes relevâncias, não se prenderam e nem se prendem às escolas tradicionais ou a qualquer outra. Os nascimentos destes luminares guias já vêm cercados de condições especiais e no devido tempo são encaminhados para instrutores ou núcleos secretos no oriente ou ocidente, onde seus superiores novamente os iniciam, despertando suas maiores forças até então em repouso para as retomadas de suas grandiosas missões. No entanto, os hierofantes do Egito durante algum tempo estiveram qualificados a dar iniciações a grandes missionários, como realmente aconteceu.

  Repassemos a aventura de um candidato à iniciação no Egito, nos tempos gloriosos da grande pirâmide de Ghizeh:

   “O neoplatônico Jâmblico (que viveu no começo do século IV de nossa era) ao referir-se à iniciação, aos Mistérios do Egito, assegura que o neófito penetrava ao templo da iniciação pela porta localizada entre as patas da Esfinge que dava acesso ao corredor subterrâneo que se prolongava até o interior da Grande Pirâmide.

       Por muitos anos esta afirmação do célebre filósofo da Escola Alexandrina não gozou de indiscutível crédito, e nem quando se praticaram as primeiras investigações no interior do misterioso monumento de Kheops se descobriu algo que comprovasse de alguma forma a afirmação de Jâmblico.

       Posteriores escavações que deixaram à mostra quase por completo a parte anterior da Esfinge, evidenciaram que, definitivamente, entre suas patas existe uma porta e investigações ainda mais modernas demonstraram que a uns quarenta metros ao sul, estava escondido na areia um templo subterrâneo. Tudo isto parece corroborar a afirmação do célebre neoplatônico e não faltam egiptólogos que supõem que em breve se descobrirá o caminho que, partindo da Esfinge e passando próximo ao santuário, conduz ao interior da pirâmide de Kheops.

       Que estes lugares servissem para efetuar as misteriosas cenas da iniciação, nada teria de extraordinário. A porta de entrada aberta no peito da Esfinge de Ghizeh, não deixa dúvida de que indica a existência de uma passagem subterrânea. O templo das imediações, por sua construção elíptica e pela carência de hieróglifos nas paredes, evidencia que nunca serviu para o culto público. A disposição interior da Grande Pirâmide, se claramente se comprova que não era destinada para o enterro de nenhuma classe de múmia como se acreditava, de modo algum permite averiguar quais outros objetivos poderiam ter aqueles corredores e aquelas cercanias. É legítimo, portanto, o parecer que se lhes atribuem de haver servido para realizar provas iniciáticas, ainda que não se oponha uma sólida razão, apoiada em luminosos antecedentes capaz de demonstrar o contrário.

       Segundo outras versões, a entrada do lugar das provas estava na Grande Pirâmide, num tipo de janela que existe a altura da carreira número dezesseis da face norte. Este critério é o que segue um autor do século XVIII, o cura Terrasson, cuja obra descreve as cenas iniciáticas do antigo Egito. Afirma o autor que seu livro é somente uma tradução do manuscrito existente numa biblioteca, a que não menciona, e opina que o manuscrito foi redigido por um grego residente em Alexandria, na época de Marco Aurélio.

       Não é muito fácil averiguar de onde Terrasson tomou os detalhes iniciáticos que narra. O que é certo é que estão de acordo com o que é contado por diversas tradições, e se existe ou não o manuscrito que traduziu, as cenas resultam até agora perfeitamente admissíveis. Por isso, vamos resumi-las para dar satisfatória idéia dos obstáculos e dificuldades que precisaria vencer quem aspirasse conquistar os segredos do santuário.

       O herói do livro de Terrasson se chama Shethos, jovem, inteligente e intrépido, que a todo custo queria penetrar no recinto secreto dos iniciados. Seu mestre Amedes, fez com que viajasse para adquirir as condições que lhe assegurariam um lisonjeiro recebimento, pois antes de ser admitido pelos iniciados era indispensável que o neófito se instruísse e adquirisse um amplo saber recolhido de diversos países. Quando já está suficientemente preparado, uma misteriosa casualidade faz com que chegue junto a Grande Pirâmide à hora marcada no momento propício. Amedes diz a Shetos quando chegam ao pé do misterioso santuário:

       - Seus secretos caminhos conduzem aos homens amados dos deuses, a um término que sequer posso comentar. É indispensável que eles façam nascer em ti o ardente desejo de alcançá-los. A entrada da Pirâmide está aberta para todo mundo; porém compadeço dos que têm que buscar a saída pela mesma porta cujos umbrais franquearam-lhe a entrada, não havendo conseguido outra coisa senão satisfazer a curiosidade muito imperfeitamente e ver o pouco que lhes é dado referir-se.

       Semelhantes advertências, mais e mais avivam os desejos do discípulo que, ardentemente, insiste em seu propósito de receber a iniciação. Conscientes, Amedes precedendo a Shethos escalam o lado norte da Pirâmide até o lugar de uma portinhola quadrada que sempre está aberta. De reduzidas dimensões (três pés de base e outros três de altura) dá acesso a uma passagem não mais larga. Shetos e seu guia percorrem-na arrastando-se penosamente. Shetos vai adiante, levando à mão uma lâmpada e entra sozinho no caminho de provas.

       Ao cabo de angustiosos momentos que ao aspirante parecem séculos, chega a uma habitação de dimensões regulares. Ali o recebem dois iniciados a quem não deve fazer nenhuma pergunta. Ignorando a essa proibição trata de pedir-lhes algumas explicações, mas em seguida é informado de que não deve perder tempo, já que todas as suas perguntas ficarão sem respostas.

       Precedido pelos dois iniciados, entra num extenso corredor e de pronto vê interceptado seus passos pela boca de um poço profundo e insondável. Uma luz posta na borda somente lhe permite admitir o perigo de uma espantosa queda. Olhando com atenção, o aspirante distingue umas barras de ferro a guisa de degraus num dos lados do negro abismo, que não sem risco tornam possível a descida por elas aos homens de cabeça firme e ânimo imperturbável. Ante a alternativa de retroceder ou seguir o difícil caminho, o aspirante se decide e começa o trabalhoso descenso.

       A bastante profundidade terminam os escalões, porém olhando o fundo se vê que ainda falta muito para por os pés em terreno firme. Buscando ansiosamente a solução ao terrível problema, o aspirante encontra na parede uma abertura ou estreita janela que por ela pode entrar e passar a outro corredor, em plano inclinado, cuja extensão em descenso vai formando uma espiral não muito larga.. Ao final, o neófito se vê diante de uma porta gradeada cujos batentes cederam sem o menor esforço e sem produzir qualquer ruído, porém ao fechar-se atrás do neófito, chocaram-se duramente contra seus quícios, produzindo cavernoso fragor que lhe feriram desagradavelmente os ouvidos, transmitindo ao ânimo indescritível inquietude. Estava no fundo do poço de cerca de cinquenta metros de profundidade

       Shetos segue avançando e outra grade lhe corta os passos, mas o espetáculo que se oferecia por esta grade era mais tranquilizador que o primeiro. Através das barras, percebia-se uma longa série de arcadas ladeando o caminho e, dessas arcadas, saía uma forte claridade de lâmpadas e tochas. Ao longe ressoavam vozes de homens e mulheres, a luz e vozes humanas faziam renascer a calma no coração perturbado do discípulo. Esta álea conduzia a um templo onde os sacerdotes e sacerdotisas ofereciam todas as noites sacrifícios aos deuses e se entregavam a cerimônias iniciáticas; mas este não era o caminho que lhe permitiam seguir; não tinha ainda o direito de se confundir com as obras divinas, não era iniciado, não tendo sofrido purificações. Pois era o caminho das purificações que ele precisaria empreender; era uma senda de seis pés de largura, abobadada, e que se estendia em linha reta a seis pés sob a terra. Ao aproximar-se, vê mais adiante a continuidade de um estreito e baixo corredor sobre cuja entrada brilhava o seguinte letreiro: ‘”Todos os que percorrem este caminho a sós e sem nunca olhar para trás, serão purificados pelo fogo, pela água e pelo ar. Se conseguirem vencer o medo e a morte, sairão do seio da terra, voltarão a ver a luz e terão o direito de preparar sua alma para receber a revelação dos mistérios da grande deusa Isis ‘”.

       O neófito, pedindo amparo a todas as supremas energias da vontade, prossegue o caminho da iniciação, disposto a não retroceder ainda que lhe custe a vida. Mesmo que nada veja, não está desamparado, seus condutores o vigiam e, a menor mostra de debilidade de que lhe ocorra algo, acudirão pressurosos e, por outros corredores, o conduzirão à porta de entrada para que se reintegre à luz e à vida exterior, não sem haver jurado que a nada se referirá do ocorrido. É algo sabido de que terrível modo se castigavam estes perjúrios, fosse quem fosse o traidor.

       Decidido a tudo, Shetos prossegue seu caminho. Ao final do obscuro corredor, desemboca numa estância onde o esperam três iniciados que cobrem suas cabeças e rostos com a máscara de Anúbis. Aquela é, na iniciação, a porta da morte. Um dos mascarados diz ao aspirante:

       - Não estamos aqui para estorvar teus passos, podes prosseguir tua marcha se os deuses te concedem o valor de que necessitas. Porém, tendes por sabido que transposto este lugar, se em algum momento retrocederes, aqui estaremos para impedir-te que fujas. Até agora eras livre para desandar o andado, mas se prosseguires haverá perdido toda esperança de sair destes lugares sem obter a vitória definitiva. Ainda há tempo: decide-te. Se renuncias, ainda podes sair por este corredor sem volver tuas vistas para trás; se avanças segue o caminho que vês frente a ti e percorre-o sem vacilação. Escolha...

       Ao contestar que nada o arredará, os três guardiões deixam-no passar, fechando a porta, e outra vez se vê num largo passadiço em cujo extremo percebe um resplendor. À medida que se adianta a luz se faz mais intensa, chegando a ser deslumbrante. Logo alcança um local abobadado, onde, de um lado e de outro, ardem enormes piras cujas chamas se entrecruzam ao centro. O solo está coberto por um gradil incandescente. Os espaços apenas lhe permitem por o pé em lugar seguro sem queimaduras, ocorrendo que não era somente o perigo de perecer abrasado, mas também a ameaça de morrer asfixiado naquele ambiente irrespirável de elevadíssima temperatura. Fechando os olhos, Shetos penetra na ígnea habitação, porém – oh, incrível acontecimento! Ao tocar os pés no fino gradil, as chamas desaparecem, as fogueiras se apagam instantaneamente e ele passa entre elas tanto quanto possível sem nenhum temor de enfrentar uma morte espantosa.

       Seguindo depois por outras galerias, o neófito chega diante de um canal de água de mais de cinquenta metros de largura que invadia a todo o amplo subterrâneo e lhe impedia o caminho A água, derivada habilmente do curso do Nilo, entrava de um lado desta câmara subterrânea gradeada e saía por uma grade idêntica no outro lado. A massa de água escorria com um ruído terrível. Na margem oposta se distinguia uma rampa e ao final dela uma subida de escalões que se perdiam na penumbra. Era preciso atravessar o perigoso obstáculo, e o neófito, se desnudando rapidamente, coloca as roupas sobre a cabeça, toma numa das mãos a lâmpada acesa e atravessa este rio subterrâneo, usando a outra mão para nadar e vencer a corrente de agitadas águas. Chegando à outra margem, se veste, e após breve descanso, começa a subir a escada em cujo extremo existia um pequeno patamar de seis pés de comprimento por três de largura.

       O patamar era uma ponte-levadiça. Conduzia a uma porta que não apresentava nenhuma alternativa para abri-la diretamente. No lintel, achavam-se suspensos dois grossos anéis e era impossível ao aspirante, depois de ter experimentado abrir esta porta, não ter o pensamento de que estes anéis tivessem uma utilidade e que dissimulassem, talvez, qualquer segredo capaz de abrir a uma nova vida. Ao colocar neles as mãos, eis que se passa a última prova, a purificação pelo ar.

       Desde que tocara sobre os anéis, a ponte-levadiça ergueu-se e o neófito achou-se suspenso entre o céu e a terra. Restavam-lhe agora duas alternativas: recuar, ou avançar e ficar suspenso à espera da salvação por qualquer mão libertadora. Mas, neste momento, produzia-se a terceira eventualidade, sobre a qual não tinha domínio. O lintel que suportava os anéis levantava-se por sua vez, com o aspirante sempre pendurado na posição inquietante. A lâmpada que ele trazia, abandonada sobre a ponte-levadiça a fim de ter as mãos livres, virara, deixando nas trevas quem tinha tanta necessidade de luz. Um estrondo terrível elevou-se da ponte-levadiça, produzindo medo no coração decidido.

       Neste momento o ar fora violentamente agitado por uma tempestade desconhecida e o neófito, sempre pendurado sobre a ponte, tateava no vácuo e na obscuridade, devendo vencer por sua vez o legítimo terror e a fadiga de tão penosa posição. Mas no momento em que suas forças iam faltar-lhe, a ponte-levadiça desce, assim como os dois anéis, e o aspirante retomando o contato com a terra, quase sem consciência, vê, porém. o que se oferece aos seus olhos de natureza a apagar da lembrança as suas penas, reanimando-se com a força e a alegria que retornam prontamente. Tão logo descido, os dois batentes se abriram por si mesmos por meio de uma simples mola interior. A vasta sala de um templo cintilava diante de seus olhares deslumbrados. Sacerdotes formavam para acolhê-lo numa ala que ia da porta até ao fundo do santuário, ao degrau do altar. O grande sacerdote veio adiante, e ao mesmo tempo em que louvava a sua coragem e resistência, felicitava-o pelo sucesso, prodigalizando palavras mais benevolentes. Eram as boas vindas.

       Apresentava-lhe, em seguida, um copo de água pura, símbolo ao mesmo tempo da iniciação e da purificação.. Esta água consagrada lavava a sua alma das últimas manchas que poderia ainda conservar, desembaraçando seu espírito dos erros que ainda o obscurecessem. Então, era-lhe permitido prosternar-se diante da estátua tríplice de Osíris, Isis e Horus. No meio de solene silêncio, o sumo sacerdote pronunciava palavras que faziam do recém vindo um verdadeiro iniciado. Ele o votava à deusa, dizendo:

       - Isis, grande deusa dos egípcios, daí o vosso espírito ao novo servo que venceu tantos perigos e tantos trabalhos para se apresentar diante de vós. Tornai-o vitorioso do mesmo modo nas provas de sua alma que o tornarão dócil às vossas leis, a fim de que mereça ser admitido em vossos mistérios.

       O coro unânime dos sacerdotes repetia estas palavras. Em seguida, o novo iniciado recebia uma beberagem que daria a seu espírito a compreensão e a memória das lições de sabedoria que ele tinha ainda a receber de seus superiores. Havia chegado ao termo de suas experiências materiais. Como anunciava a inscrição lida no começo de suas laboriosas peregrinações, achava-se purificado pelo fogo, pela água e pelo ar. Ele tinha vencido o terror da morte. Tinha o direito de rever a luz. Podia preparar sua alma para as revelações esperadas. Era admitido nos mistérios de Isis. Fosse qual fosse o ensinamento desses mistérios, não podia deixar senão uma impressão no espírito e as boas sensações naquele que tinha pago tão caro. Por isso os Mistérios de Isis deixaram na literatura e nas artes gráficas um traço mais considerável do que qualquer outra iniciação. “Os juramentos feitos de não os revelar eram formidáveis e nós os aprendemos de diversos autores”. (Los Mistérios Iniciaticos/A Ciência Secreta – H. Durville)

  Essas provas pré iniciatórias não são mais possíveis, nem jamais foram idênticas em lugar algum como realizadas no interior da pirâmide de Ghizeh. Pelos tempos houve o esforço de lojas ocultistas em copiar este estilo egípcio, mas evidentemente as condições materiais estiveram distantes de permitir a reprodução exata. Sabemos de umas raras ordens esotéricas de menor porte que ensaiam provas dos quatro elementos e encenações de perigos como passadas no Egito, porém de maneira somente simbólica. Podemos, entretanto, garantir, que candidatos às iniciações em escolas tradicionais ou estudantes eventualmente sem vínculos com qualquer loja, fraternidade ou grupo, estando no caminho probacionário, sem dúvida alguma passarão por provas as mais variadas e sensíveis, a fim de receberem iniciações, e de novo virão portar os galardões que lhes foram de suas conquistas em vidas passadas, ou pela primeira vez experimentarão o sabor de uma iniciação, por menor que seja.

  As provas mais substanciais, no entanto, se passam no cotidiano do candidato, no enfrentamento de problemas circunstanciais em quaisquer locais de suas atividades e no seio familiar. Nos momentos de provações, que podem durar meses, o neófito sentirá que as emoções, desejos e pensamentos imperfeitos por ele trabalhados no sentido de tentar corrigi-los ou sufocá-los emergirão, voltando para a objetividade e enlaçando-o. Os pensamentos indignos virão pulular a todo instante na mente do candidato tentando ligá-lo ao passado, a provocá-lo para situações errôneas do presente, que ele, com sinceridade e honesto esforço, precisará evitá-los, enganando-os se possível, buscando não se ligar emocionalmente nem permitir-lhes que o remetam ao desânimo. Com frequência o candidato passa por situações agressivas, as dificuldades se agigantam, o desinteresse por sua própria sorte ameaça-lhe, as sensações de tristeza e impotência ressurgem, depressões súbitas o assaltam alternando-se com o desânimo, e o amargor invade-lhe ao íntimo.

  Embora passando por esses difíceis momentos e tendo a mente nublada, ele sabe intuitivamente o quanto está sendo testado – mil olhos o vigiam – sabe que precisa lutar, não devendo se abater, necessitando demonstrar a si mesmo que diante de todas as adversidades detêm ainda forças para de fato chegar à iniciação ou de novo recuperá-la. Precisa se tornar inofensivo em pensamento perante seus mais torturadores adversários internos e externos a fim de não atrair forças negativas ou entrar em demandas. Mas não duvida por um segundo sequer de que nada lhe acontecerá sem a permissão superior, muito menos qualquer mal. E apesar de todas as vicissitudes e forças contrárias – caindo e se levantando – ele precisa ainda assim ter coragem e disposição para enfrentar a todos os demais obstáculos, ser altivo, não se dobrar ao mal e jamais desistir.

  Nesse estágio de provas ele é guiado a se retirar, isolar-se do mundo o quanto lhe seja possível e o quanto os seus compromissos permitam-lhe; afasta-se, assim, temporariamente de seus amigos mais diletos, das diversões, e constantemente medita ou se instrui com obras esotéricas que necessita conhecer que lhe caem às mãos das mais variadas formas, ou que intuitivamente as busca em livrarias especializadas. Se for obreiro em qualquer área da espiritualidade ou da filantropia, necessitará continuar seu trabalho, doando-se em meio à incompreensão que lhe tolhe os pensamentos mais lúcidos.

  Há escolas que determinam um tempo para que essas provas tenham um final, outras não. Se o candidato é autodidata, não há tempo para que acabem e na maioria dos casos as provas somente terminarão quando ele tiver vencido a todas elas. Esse é o estágio consciente do candidato. Há outros estágios de provas que se passam inconscientemente no plano astral ou mental, dependendo do nível evolutivo do candidato e de que ele somente terá lampejos de vidências e rápidas conscientizações, mas cujas atitudes e decisões no decorrer das provas se refletirão de seu próprio ego, portanto dele mesmo. Nessa linha, adaptamos algo nos relatos de nosso livro ‘Enigma Eu’, e entramos um pouco mais na elucidação da contextura de tais provas na primeira parte do livro A Face Negra da Terra. Reafirmamos, não obstante, que os procedimentos pré iniciatórios nos planos internos não são absolutamente obras da imaginação. Aquelas provas podem variar, porém muitas reeditam em certas proporções e circunstâncias mais elásticas as provas do passado realizadas aqui na Terra. Então, findo um ou outro desses estágios de provas, ou ambos, o mestre do aspirante o guiará para mãos que o iniciarão aqui na Terra e de onde receberá instruções do que precisará fazer no mundo, liberando-o nalguns casos para que decida onde ou como começar. Para os afiliados de lojas ocultistas, as iniciações se darão segundo suas respectivas tradições.

  O esotérico não é pessoa comum, muito menos é o iniciado. O mundo não o entende e os materialistas não o toleram. A natureza o provoca e constantemente ele se vê assediado pelas forças inferiores, quer invisíveis ou incorporadas em personalidades, mas com firmeza, concentração e fazendo uso de seus conhecimentos de ocultista ele as rechaça e as afasta de seus caminhos. Comumente a família se levanta contra ele e necessita de muita paciência, forças e ilimitada compreensão para superar todas as situações contrárias, precisando amar e perdoar sempre. Somente nesse exercício de autocontrole, trabalhando a calma interior e prosseguindo em suas obras, se tornará cada vez mais amado pelos seus guias, protetores e mestres espirituais e por aqueles que o entendem. Conforme mencionamos por nossas iniciais palavras na abertura dessa obra: a caminhada do esotérico nunca foi fácil e quanto mais vá palmilhando a estrada mais irá tendo consciência do quanto ainda precisará galgar para alcançar estágios que sua evolução atual lhe permita.

Capítulo VI do Livro "No Arco das Iniciações", disponível para leitura completa em:
https://arcadeouro.blogspot.com/2018/11/no-arco-das-iniciacoes-completo_17.html

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Rayom Ra

                                                                           http://arcadeouro.blogspot.com 

Luzes no Caminho [43] - Caminhos das Iniciações Humanas [1]

 

    MÓDULO V

   Este é um trabalho de reedição ao qual estamos chamando de “Luzes no Caminho”. É um Programa construído sobre comunicações esotéricas de textos já editados e agora coordenados em blocos. A finalidade é de facilitar ao leitor na busca de conhecimentos, na inspiração ao serviço, nas suas reflexões bem como nas práticas de exercícios para benefícios de suas áreas humanas física, emocional, psicológica, mental e espiritual.

LUZES NO CAMINHO [43]

CAMINHOS DAS INICIAÇÕES HUMANAS [1]

  Vimos que os reinos da natureza passam por iniciações a fim de atingir status mais elevados no processo evolucionário do planeta. As ondas de vida, com sucessivas emanações, preenchem os reinos com seus dinamismos começando propriamente a atuar a partir dos reinos elementais, localizados nos mundos mental abstrato, mental concreto e astral. Os reinos dos mundos mental e astral representam ainda a descida do arco por onde transitam as ondas de vida, porém uma onda ao atingir o mundo etérico, passará a atuar sobre o reino mineral, vindo encontrar aqui seu nadir ou ponto mais baixo de descida. Neste ponto, os investigadores destacam o começo da luta espírito x matéria nos limites etérico-físico do reino mineral, acontecendo aí o aprofundamento e estabilização do processo de descida e a subjugação do espírito pelo poder cristalizador “tamásico” (1) da matéria. Este marcante acontecimento estabelece a natureza do processo em que os ocultistas-alquimistas mais adiante tratariam como o “solve” e “coagula”, nas escolas iniciáticas, em relação à necessidade de cada aspirante em criar intimamente um vínculo ou ponte entre a matéria e o espírito (2).

    (1) “A matéria (Prakriti ou Pradhâna) está constituída por três gunas (modos, modalidades, qualidades ou atributos), chamados respectivamente sattva, rajas e tamas, os quais não são meros acidentes da matéria, senão que são de mesma natureza e entram em sua composição. Podemos traduzir de maneira aproximada os três gunas como segue: Sattva: bondade, pureza, harmonia, lucidez, verdade, realidade, equilíbrio, etc. Rajas: paixão, anelo, atividade, luta, inquietude, afã, dor, etc. Tamas: inércia, apatia, tenebrosidade, confusão, ignorância, erro, etc. Os gunas estão universalmente difundidos na natureza material: existem em todas as criaturas, determinando o caráter ou condição individual, na proporção em que se acham reunidos em cada ser. Assim vemos que Sattva é a qualidade (guna) que predomina sobre as outras duas no mundo dos deuses. Rajas, é que dá proeminência à espécie humana. Tamas, é a que prevalece nos brutos e nos reinos vegetal e inorgânico. Assim, nada há (a exceção do espírito puro) que esteja completamente livre dos gunas, nem há um só ser e nenhum só ponto no universo onde não exista pelo menos uma mínima parte de cada um deles. Na matéria caótica ou imanifesta, os três gunas estão perfeitamente equilibrados entre si, então todas as potências e energias que aparecem no universo manifestado repousam numa inatividade  comparável a de uma semente, porém, quando se rompe uma forma, uma manifestação, e toda manifestação ou forma é um produto de Prakriti em que predomina um dos gunas sobre os dois restantes, Sattva e Rajas não podem por si sós entrar em atividade; requerem o impulso do motor e da ação (Rajas) para se por em movimento e desatar suas propriedades características. Por isto se tem dito que ‘o Sendero se estende deste Tamas até Sattva por meio da luta e aspiração – Rajas’ “.   (HPB)

     (2) Evidente que estamos nos utilizando de uma figura válida para chamar a atenção do leitor sobre fatos análogos maiores de cujas relações outros advieram. O Baphomet de Mendes detem diversos simbolismos e analogias entre a divindade de Deus e o iniciado, o Micro e o Macro, entre as forças e energias que circulam na natureza e dentro do próprio homem e da necessidade de a elas trabalhar em níveis de transmutações espírito-matéria, matéria-espírito. Nas indicações do "solve e coagula" destacam-se, ainda, o pensamento de Deus e o pensamento do homem; a intuição pura e a capacidade em formular um pensamento objetivo; a força consciente do iniciado em reunir e magnetizar e o trabalho de transformar os elementos químicos internos do corpo em ouro espiritual, etc. Dessa mesma relação de valores e qualidades entre espírito e matéria estamos nos apropriando para em âmbito das Forças Criadoras relacionar à ação vivificante do Segundo Logos ao afundar a fluidez de Seu Espírito e dissolver-se nas forças paralisantes e condicionantes da matéria, chamadas tamásicas. No entanto, por imperativo de um processo natural evolucionante permeado por leis regentes do movimento e ação, a matéria não pode eternamente aprisionar o espírito, senão por um período pré-determinado, enquanto o espírito por todo o tempo de submersão solve-se e frutifica a própria matéria”. (Rayom Ra)    

  Após eons da existência em que a matéria externamente predomina sobre o espírito, ou seja, o negativo estabelece todas as suas bases como matéria densa e assim vive plenamente nas consciências obscuras dos reinos e mente humana, a pressão progressista do carma da natureza começa a se inverter e o processo de submersão, lenta e gradualmente vai perdendo suas forças para a libertação da luz dos grilhões da matéria. O arco de subida então passa a ser galgado pelas incursões da força interna do espírito que se acha invertido no seu polo diametralmente oposto, vindo descerrar uma a uma as cortinas que ofuscam a verdadeira história da criação gravada indelevelmente nas auras dos átomos da própria matéria.

  Durante os tempos em que a matéria predominava não teria sido talvez a história mais dolorosa da humanidade. A inconsciência prevalecia e o sofrimento suportado era somente físico. Do homem das planícies da Lemúria ao aprendiz atlante a alma humana não se rebelou, porém quando a alma começou a acordar de sua hibernação, a se dar conta de que era mais que uma simples vida em meio à natureza, o sofrimento maior acordou também; a dor física passou a dividir-se com os anseios não compensados, com os sonhos não realizados (no início tratava-se de uma tosca imaginação em vigília, porque o homem lemuriano não sonhava) e objetivos não alcançados. A raça humana passou a ser de duas ordens principais: a obediente que acatava os ensinamentos de seus mestres e a que povoava o mundo desejando domá-lo. Daí, multidões de homens e mulheres rolariam pelo tempo experimentando sempre crescentes e mais diversas doses do sofrimento. Muitas raças nasceram e se espalharam pelo mundo e o homem em todas elas, como o eterno moleiro, esteve sempre a amassar o barro, a moldar o sofrimento e pela dor obter suas mais profundas experiências. Conforme Deus dissera a Adão e Eva no paraíso, quando mostrara da árvore do conhecimento do bem e do mal e depois decretara do suor do rosto. A morte e a vida, a vida e a morte a partir dali viveriam opostas, mas inseparáveis, sempre imanentes na eternidade da Terra!

  O conhecimento do bem e do mal traria ao homem considerações cada vez mais inquiridoras e na medida em que ele evoluía, vinha-lhe a necessidade de respostas mais significativas aos seus íntimos dilemas. Já na Lemúria, Sanat Kumara e seus servidores iniciariam um trabalho de concentração na meta evolucionária direcionando a população lêmure no sentido de estimulá-la a trabalhar suas potencialidades naturais e idealizar uma sociedade. Foram milhões de anos despendidos na potencialização e exteriorizações dos elementos vocacionais do homem, na edificação gradual de sua personalidade, segundo suas necessidades evolutivas nos caminhos do aperfeiçoamento. Como sabemos, a personalidade é considerada a alma terrena transitória que ao término de cada reencarnação é diluída. Através de muitas encarnações experimentadas nas diversas situações da vida, o homem edifica valores cada vez mais consistentes que o ajudam a conhecer, reconhecer-se e a sobrelevar-se das dificuldades por méritos próprios. Conforme reconhecem os esotéricos, a personalidade humana somente é considerada edificada quando detêm a formação completa dos quatro corpos inferiores funcionando e devidamente treinados.  Antes disto, o homem é ainda uma entidade humana em formação, sendo unicamente o animal mais evoluído da natureza. O corpo causal do homem, localizado entre o corpo mental abstrato e o búdico, é o responsável em registrar os seus avanços e determinar, a partir dos valores armazenados, quais serão os desafios do ego numa nova interpolação terrena.

  O processo evolucionário das raças encarnadas na Terra, conforme vimos focando, iniciou-se propriamente com a raça lemuriana numa espiral ascendente na conformidade com os surgimentos das suas sete subraças. Os valores externos que necessitassem constantes apuros, como a constituir sociedades com melhores identidades culturais, edificar cidades para a proteção contra os ataques de animais ou de inimigos da própria raça, melhorar sempre o meio ambiente de suas atividades e outras ações, imprimiriam a conotação de iniciações aos povos lêmures, a partir, principalmente, de sua quarta subraça. E relativamente às suas consciências externas, de fato assim foram, como continuariam a ser noutros povos de emergentes civilizações, embora em certas etapas os povos começassem a avançar no pensamento reflexivo e na vida interior.

  Desse modo, as atividades urbanísticas, o desenvolvimento e aplicações coordenadas de áreas da ciência, as concentrações religiosas, os estudos filosóficos e de fenômenos ocultos, se constituíram durante alguns ciclos nas principais expressões culturais das espirais evolucionárias atlantes, propiciando-lhes crescentes qualidades para o ritmo de suas conquistas. Esse mesmo delineamento revelado aos povos de antanho se revelaria também para a humanidade do segundo milênio de nossa era, ao passar por novos momentos iniciatórios quando começou a manipular a eletricidade para diversos fins utilitários, transformando-a num instrumento essencial para o progresso material das nações, implementado com a iluminação elétrica em lares e cidades inteiras em todo o planeta. Do mesmo modo, a isso se seguiria à implantação do telefone que nos veio prover da intercomunicação imediata a curtas e longas distâncias, e quando o domínio do ar pela aviação foi consumado. No passado recente, houve também a transformação do ferro em longas linhas de trens, na fabricação de locomotivas e de pesados transatlânticos, o que proporcionaria novas realizações científicas e culturais.

  Se no lado positivo a eletricidade atraiu a lâmpada e a lâmpada inundou o planeta de luz, no lado negativo, nas sombras das consciências, provaríamos das desgraças e dores de duas grandes guerras mundiais, testemunharíamos as explosões hediondas de bombas atômicas sobre pacíficos e indefesos cidadãos de duas cidades japonesas, e registraríamos, nas últimas décadas, aos eclodimentos de novas guerras por conquistas: guerras étnicas e outras declaradas por diversos motivos ou alegações, além de se desencadearem sucessivas revoluções locais: todas, com poucas exceções, que matariam dezenas, centenas ou milhares, destruiriam propriedades e afetariam profundamente milhões em níveis físicos, emocionais e mentais.

  As duas grandes guerras acabariam por se constituir em veículos para o expurgo do carma dos povos envolvidos e embora espremendo os seixos no giro oposto da roda evolucionária, contribuiriam para acelerar experimentos e invenções que, apesar de almejados para o fortalecimento e superioridade dos contendores, serviriam muito mais ao aparelhamento científico e tecnológico das várias áreas das atividades humanas do que para outros objetivos quaisquer. Os implementos científicos modernos calcados nessas duas grandes introduções – a eletricidade e a comunicação telefônica (esta acontecida após o código Morse no telégrafo) – a exemplo do transporte sobre rodas equipado com motor à explosão ou combustão interna, e dos adventos do rádio, cinema, televisão, internet, celulares e de outras derivações, foram também efeitos sucessivos que a humanidade em massa experimentou e continua experimentando nas esferas da moderna tecnologia.

  São, sem dúvida, contextos iniciatórios globais, embora sejam para muitos de menores avanços conscienciais ou de nenhum, ao se tratarem de usos meramente domésticos ou de facilidades utilitárias. Mas uma vez trazidos para os domínios e manipulações industriais e técnicas, houve necessariamente metodologias aplicadas, algumas profissionalmente complexas exigindo longas jornadas de estudos e práticas, portanto de adestramentos mentais. Já as explorações dos recursos minerais de pedras em várias categorias, além de propiciar iniciações ao reino mineral, proveram o mundo de adornos e maior expansão do brilho exterior do ouro que veio ancorar definitivamente suas vibrações magnéticas externas do plano de Atma no mundo físico, beneficiando em maior número egos de individualizações mais recentes.

  Portanto, a partir da quarta subraça os lemurianos obteriam maiores avanços em seus processos civilizatórios, principalmente pela participação efetiva em suas vidas de representantes das Hierarquias Criadoras que entre eles encarnaram, como os Barhishads Pitris - os mestres lunares. Vejamos os seguintes tópicos a partir da quarta subraça:

     Nessas últimas subraças os Barhishads tornaram-se reis – os Reis-Iniciados dos mitos – que foram mais verdadeiros do que histórias. Um Rei-Iniciado reunia um número de pessoas ao seu redor, formando um clã; então ensinava a esse clã algumas das artes das civilizações e o dirigia, auxiliando-o na construção de uma cidade. Uma grande cidade foi erigida sob tais instruções, onde agora é a Ilha de Madagascar, e muitas outras foram igualmente construídas noutras partes do continente lemuriano. O estilo da arquitetura era ciclópico, impressionando pela enormidade” (AEP)

       Nesse tempo, novos membros da Hierarquia dos Pitris já operavam em auxílio aos Manús, que eram responsáveis pelas transformações e evoluções físicas das raças, conforme anotado:

     Enquanto a sexta subraça se desenvolvia, um grande número de Iniciados e seus discípulos foram enviados da Intra-Cadeia do Nirvana para a Terra a fim de auxiliar desde logo e para resultados futuros ao Manú da quarta Raça-Raiz, encarnando nos melhores corpos (lemurianos, naturalmente). (...) Existiu na Lemúria a Loja dos Iniciados que não foi primordialmente para o benefício dos lemurianos. É bem verdade que embora alguns deles estivessem suficientemente avançados tendo aprendido de Gurus Adeptos, os ensinamentos necessários a eles limitavam-se às explicações de fenômenos físicos, tais como o movimento da Terra em torno do Sol, ou às razões das diferenças nos aspectos que os objetos apresentavam quando observados alternadamente mediante as vistas físicas e as astrais. A Loja, embora estivesse estabelecida para aquelas entidades vinda de Vênus enquanto trabalhassem em favor da evolução da Terra, servia-lhes do mesmo modo para o seguimento de seus próprios desenvolvimentos evolucionários”. (AEP)

  O continente de Atlântida marcaria extraordinária evolução humana tanto no aspecto físico e emocional quanto na organização mental de suas subraças que começariam a ser formadas milhões de anos antes. Alguns povos atlantes conviveram com os lêmures ainda no continente da Lemúria, que se transformaria mais tarde na grande extensão continental dominada pelos atlantes, após as seguidas catástrofes que modificariam a geografia da Terra. Os atlantes foram de extrema importância para a sabedoria que hoje o homem manipula e detêm, pelo desenvolvimento mental que iniciaram e pelas iniciações que tiveram, tanto nos aspectos da ciência oculta quanto das ciências materiais.

  O processo evolucionário de um planeta requer fases distintas onde os reinos não humanos e o humano participem ativamente a fim de mover forças e energias e requalificá-las, resultando que matéria e espírito passem por experiências em diversos níveis. Os níveis se correspondem. Há uma inversão nas posições e funções dos planos que nos níveis acima e abaixo se situam. Os triângulos que se entrelaçam e se traduzem pelo axioma oculto “Quod Est Superius Est Sicut Quod Est Inferius” estabelecem justamente esta relação em termos de situações, porém não exatamente de qualidades. O triângulo que aponta para cima e o que aponta para baixo ao se entrelaçar demonstrarão um resultado de equilíbrio das forças. Isso se dá com a natureza em seus mundos de diferentes graus de matéria e com o homem em seu processo de libertação sob as injunções do carma evolutivo obrigatório a que está submetido, quer ele aceite ou não. O homem através de suas iniciações no mundo material abrirá sempre fendas superiores pelas quais as forças e energias mais poderosas descerão, incitando-o a cada vez mais a buscar no conhecimento a sua libertação.

  Esses passos representaram no passado a história iniciática dos povos, o conhecimento oculto e sacerdotal que lhes permitiu obrar sobre a anatomia, a medicina, a formulação de poções e remédios, e sobre cujas pesquisas e revelações superiores desenvolveriam a astrologia, a astronomia, a matemática, a física e a química oculta com a qual avançariam no conhecimento do átomo químico e nos átomos dos mundos superiores ao físico denso. Para os homens da modernidade, da ciência material, essa memória não existe: eles fingem não se dar conta de que o presente não existiria sem o passado, e que o homem nada teria conquistado sem a experiência pregressa gravada nas suas memórias celulares. Preferem mentir-se a si mesmos reafirmando que somente após a libertação da servidão das crenças e propósitos religiosos, e somente por isso,  teria unicamente o homem avançado em poucos séculos sob as asas dos experimentos científicos.

  Voltando ao passado, uma a uma desfilariam as sete subraças do continente atlante, avançando sempre no conhecimento do mundo, nas artes das guerras, movendo águas e terras. Sob as orientações de seus Manús, dos iniciados das Hierarquias Criadoras, a vida planetária viria se transformar através dos milhões de anos. Civilizações esplendeceriam, cidades inteiras seriam edificadas com ornamentos em ouro e prata a fim de atrair poderosas energias sob as quais obrariam, e com essas energias aprenderiam a trabalhar e produzir na matéria e aprenderiam de suas almas em processos de perenes avanços do conhecimento. Em todas as subraças, os mestres do conhecimento introduziriam cultos às forças planetárias, ensinariam rituais, conduzindo os povos a desenvolver suas sensibilidades mediúnicas em correlações diretas com os sistemas de chackras. A Ilha Branca – a Shamballa – cidade construída no interior do planeta, com a chegada de Sanat Kumara, polarizava e dimanava novas e restauradoras energias para todos os reinos e civilizações humanas. De lá os mentores partiam sempre para ensinar e obrar junto aos atlantes, e também para guerrear com suas naves e armas especiais quando o mal incursionava contaminando os povos, ameaçando o equilíbrio das forças planetárias.

  As muitas histórias sobre os povos atlantes contam sobre guerras e destruições de civilizações. As trevas da matéria e as luzes do espírito estiveram em constantes lutas revestidos de mal e bem; essa herança a raça ariana também traria para sua época. Na realidade, o longo percurso civilizatório das raças jamais se apartou das lutas e sacrifícios uma vez que a natureza humana mergulhara na matéria e somente a luz do espírito poderia se antepor a fim de que desses choques e embates o carma retomasse suas porções de avanços e abrisse novos caminhos. O Plano da Criação possui um planejamento reto e objetivo; as etapas precisam ser cumpridas segundo os tempos em que o homem consiga maturar seu carma em diferentes experiências. A inevitável exposição de sua imaturidade diante das polaridades opostas o conduzem a tomar caminhos secundários ou divergentes, distanciando-o da meta principal. Assim, a humanidade palmilha vias sinuosas e se perde em desvios e em abismos de tentações; por isso, pela dor e sofrimento maiores, pela ilusão reconhecidamente não satisfeita, ela tende a buscar o caminho de volta e a retomar a trilha anteriormente traçada. Mas, novamente, sob a ação de suas próprias e desmedidas ambições, ela retoma os desvios. Essa é a sina das mentes vacilantes cheias de desejos ardentes, que nos grandes grupamentos humanos rolam sobre escombros de imperfeitas realizações, porém cedo ou tarde precisarão definitivamente segurar a ponta do fio de Ariadne.

  Assim foram os povos atlantes, assim são os povos arianos, assim sempre foi o maior percentual da humanidade. Os mentores raciais sabem disto, as Hierarquias Criadoras já trazem consigo o conhecimento da psicologia das massas em suas mais variadas etapas de crescimento da consciência, como já acontecido em diversos outros orbes de nosso sistema solar. Deste modo, a etapa atlante trouxe o planejamento do despertar das forças astrais. O homem lêmure na sua mais alta expressão evolucionada era ainda uma criança diante daquilo que a ele se destinava quando se albergasse em corpos atlantes. A tônica lemuriana foi do desenvolvimento do corpo biológico; a fase atlante se incumbiria de aperfeiçoá-lo na medida do surgimento das novas subraças, configurando formas mais bem delineadas em sua contraparte etérica, reproduzindo aparelhos físicos mais apurados. O conteúdo emocional do homem atlante foi mais destacado por que, justamente, as energias planetárias concorriam para esse desenvolvimento; por isso o mundo astral era inundado de formas elementais e egrégoras de todos os tipos, umas criadas pela vontade direcionada das Hierarquias Criadoras, outras pelas forças negativas estimuladas pelas mentes diabólicas que chegavam ao planeta e aqui estabeleciam sempre novas bases e hierarquias do mal.

  As sete subraças atlantes: Rmoahal, Tlavatly, Tolteca, Turaniana, Semítica Original, Acadiana e Mongol, por milhões de anos desenvolveriam as potencialidades astrais que marcariam o ego terreno com traços especiais. As iniciações se sucederiam de subraça a subraça diferentemente dos tempos atuais e de nosso passado recente. Em cada uma delas, em certos períodos, encarnavam grupos de iniciados das Hierarquias Criadoras, a fim de impulsionar-lhes o progresso, incrementando-lhes as vibrações através de seus equipamentos mentais avançados e corpos evoluídos, estimulando-os para valores mais importantes no tocante a organizações de sociedades, edificações de templos e iniciações à ciência de modo geral.

Rayom Ra

  Fonte: Capítulo III do Livro "No Arco das Iniciações, por Rayom Ra. https://arcadeouro.blogspot.com/2018/11/no-arco-das-iniciacoes-completo_17.html

  Próximo Luzes no Caminho [44] - A Justeza dos Iniciados [2]: https://arcadeouro.blogspot.com/2021/11/luzes-no-caminho-44-justeza-dos.html