Apresentamos extratos da obra A Igreja Gnóstica, do Dr. Krumm Heller, fundador da Fraternidade Rosacruz Antiqua – Fra, onde o autor nos traz uma panorâmica do que seja sua Igreja e o gnosticismo por ela representado.
“Assim como em todas as religiões existe um Livro Sagrado, Bíblia ou Conjunto de todos os ensinamentos e doutrinas que integram cada uma dessas religiões, do mesmo modo, nós gnósticos, dentro de nossa igreja, dispomos também de um Livro Sagrado; e, com algumas referências sobre ele. Quisera começar seu estudo, advertindo, desde já, que para compreender os diferentes autores, temos que levar em conta a época e o sentido esotérico em que foram escritos. O que é o Talmude para os semitas, o Bhagavad-Gita para os budistas(*), o Corão para os muçulmanos e a Bíblia para os cristãos, assim é para nós a Pistis Sophia.
(*) Não sabemos por qual razão o autor subordinou os seguimentos búdicos ao Bhagavad-Gita, uma vez que seja tradicionalmente dos ensinamentos védicos da Índia. O Bhagavad-Gita, conhecido como O Canto do Senhor, é um capítulo do grande poema épico da Índia, o Mahâbhârata, com um passado de mais de 5.000 anos, enquanto o budismo surgiria em 500 a. C. Sabemos que Buda parece ter tido sua iluminação no sul do Nepal, que é um país cujos limites são ao norte a China Tibetana, e ao sul, leste e oeste a Índia, não tendo o Gautama obedecido aos preceitos de nenhuma outra religião, e nem mandado elaborar um livro, código ou credo, embora, presuma-se, tenha sido em certa época influenciado pelo bramanismo, até encontrar seu próprio caminho. (Rayom Ra)
Arnoldo Krumm Heller - 1876-1949
Vejamos, pois, em síntese, o que diz sobre ela um historiador, e então concluiremos que o Pistis é um livro e uma entidade espiritual ao mesmo tempo. Trata-se do livro máximo de todas as doutrinas, publicado em latim no ano de 1851, por Schwartze e Petermann, de acordo com o código do Museu de Londres, chamado “Askeniano”, cuja antiguidade remonta do século III, ainda que alguns achem mais prováveis ser do século V. (Opus Gnosticum adjudicatum est Códice manuscripto Cóptico Londinensi descripsit est latine verit M.G. Schwartze).
O original grego desta obra, que serviu de base nos primeiros séculos, não pôde ser encontrado. Só se tem o texto saítico, que é uma tradução para o copta, do manuscrito primitivo. Quanto ao papiro copta, foi encontrado no Egito, sem que nada pudesse testemunhar se o original grego foi composto, também, nesta localidade. Entretanto, todos os críticos concordam em que a obra provém de algumas das múltiplas escolas ou sociedades gnósticas primitivas, acreditando-se, mais ainda, que pertenceria aos ofitas.
Divide-se em 148 capítulos e em quatro grandes partes ou livros. O primeiro e o quarto não levam títulos, enquanto que o segundo intitula-se: Segundo Livro de Pistis Sophia. Apresenta, também, um rótulo no final que diz: Parte dos Volumes do Salvador. Este mesmo rótulo volta a aparecer no final do terceiro livro que, contudo, aparece sem cabeçalho. Esta falta de homogeneidade é que faz com que alguns críticos suponham que a Pistis Sophia não foi composta de acordo com uma estrutura unitária e que a maior parte de seus escritos seja de épocas diferentes. Por isso garantem que o Quarto Livro é mais antigo que os outros.
Ao escrever-se essa obra, supõe-se que hajam transcorrido onze anos desde a ressurreição de Jesus e se o descreve conversando com seus discípulos no Monte das Oliveiras, dando-lhes a conhecer as grandes e supremas verdades iniciáticas. Com a vestimenta de luz que o rodeava, pôde atravessar o mundo supra-sensível, e remontando-se de esfera em esfera foram-lhe franqueadas todas as portas, atemorizando os próprios Arcontes ou Guardiões Daqueles Lugares, que o adoraram.
Jesus chega ao plano onde estão esses Arcontes ou Senhores Tiranos, cujo príncipe é Adamas. Eles vêm a ser os donos do destino. Mas Jesus, provido de seu habitual heroísmo, chega ao 13º. Eon, onde se encontrava estacionada primitivamente a Pistis Sophia. Em relação a isto, conta a seus discípulos a história deste ser misterioso que, pretendendo chegar à região da luz suprema, atravessando os doze eones, sai de sua morada limitada pelo 13º. Eon e, ao ascender em seu voo, é atirado pelos Arcontes na imensidão do caos. Tal era a triste situação da Pistis, até que o Pai lhe enviou Jesus como libertador. Jesus, então, apela a Gabriel e a Miguel, para que a levem em suas mãos com a finalidade de que nenhuma de suas partes se perca nas trevas, transladando-a, assim, do caos para um lugar que se encontra abaixo do 13º. Eon. Por fim, depois de uma cruenta luta, Jesus despoja os Arcontes de suas luzes e a Pistis Sophia é conduzida ao Lugar Sagrado, onde mora, como todos os seus irmãos invisíveis.
Na história da Pistis Sophia, o relato se interrompe repetidas vezes com o recitativo de vários hinos que ela fazia chegar do Caos à Luz. Estes são 13 e cada vez que Jesus recita um deles aos seus discípulos, convida-os a dar sua explicação. Com frequência falam as santas mulheres, Maria ou Salomé. Outras vezes algum apóstolo, como André, Pedro, Mateus ou Felipe, os quais interpretam os hinos da Pistis, adicionando alguns salmos de David ou Salomão. É uma característica dos gnósticos coptas não procurar outra autoridade para confirmar seus escritos a nãos ser as Sagradas Escrituras: e se algum sincretismo se observa neles, é mais na forma do que nas idéias.
Depois, este livro, trata da sorte que espera as Almas além da morte, revelando-nos o que acontecerá a cada uma das diferentes categorias de homens; as alegrias e privilégios que aguardam uns, e os tormentos e penas que afligirão a outros. Seu tema principal é, pois, a redenção das almas.
Na primeira parte, ocupa-se da sorte das almas privilegiadas, isto é, dos apóstolos, das santas mulheres e dos perfeitos ou iniciados, que haviam renunciado à matéria e aos cuidados do mundo. Na segunda, revela-nos o destino reservado às outras almas, especialmente às que se arrependem de seus pecados. Depois, vem outra parte em que se trata dos Mistérios e de sua eficácia. Finalmente, chega-se àquela em que se descrevem os tormentos dos condenados. Veremos mais tarde que o principal são os Mistérios e que tudo o mais gira em seu redor.
No quarto livro, fala-se da ressurreição de Jesus, de quem se diz que venceu os Arcontes do Destino e da Fatalidade, cuja sombra nefasta deixará de pesar, daí em diante, sobre os homens. Aqui, Jesus relata a seus discípulos as façanhas destes Arcontes, filhos de Adamas, os quais, persistindo em seu afã do procriar, deram origem aos Arcanjos, Anjos, Liturgos e Decanos, até que interveio Jeú, a quem Jesus chamava de PAI DE MEU PAI. Jabraoth Adamas e os seus se obstinaram em seu pecado; por isso Jeú os prendeu à Esteira onde atualmente formam parte do Zodíaco, vindo estes a ser os Arcontes do Destino, os quais tiranizavam os homens cujos passos a astrologia trata de investigar.
Continua, ainda, a descrição do modo torturante como os Arcontes penetram nos homens e os incitam ao mal, atraindo sobre eles terríveis castigos e perdição absoluta. Até aqui, eis o quanto se pensa profanamente e se percebe dos ensinamentos deste livro sagrado sobre o qual os historiadores e investigadores não podem se aprofundar por falta de Chaves. Pistis, para nós, significa FÉ, mas não nossa fé habitual, que resulta da aceitação de uma opinião estranha, porque a contaram. Não. Fé, em sentido bíblico, é uma força, é a força mágica, que basta se ter tanto quanto um grão de mostarda para se levantar uma montanha e jogá-la ao mar. Sophia, sabemos que é ciência, de modo que Pistis Sophia é poder ciência, é teurgia, magia branca, cuja chave, naturalmente, não se pode dar neste livro., mas se dá nos cursos secretos que podem ser proporcionados pelo autor. Aí está a diferença principal entre ela e a teosofia indu. Aquela é teoria, e muitos são até contrários à prática da magia. O gnóstico exige primeiro o governo de Pistis e depois a comprovação dos fatos. É, pois, antes de mais nada, prática real, efetiva, sem nada de especulação à priori.
É racional e justo que alguns críticos suponham, devido à falta de concordância e homogeneidade de suas partes, que esta obra não foi escrita com vistas a uma unidade e a um plano pré-concebido, mas isto se deve ao fato de que, na tradução de Schwartze e ainda no códice do Museu de Londres, só existam fragmentos esparsos deixados, indubitavelmente, por algumas das primitivas escolas gnósticas.
O livro completo, íntegro, intacto, o verdadeiro original grego, tal qual foi escrito e com toda a pureza de seus ensinamentos, está em poder de nossa Santa Igreja, como relíquia esotérica, que não é dado a conhecer, senão àqueles que estão em condições de receber suas profundas e claras verdades.
(...) A ação da substância cristônica do sol em nosso sangue, como é experimentada pelos Rosa-Cruzes, e como já a descrevemos em nosso livro “Plantas Sagradas”, nos dá a chave da pré-história dos povos e permite formar grupos de sangue como os idealizados por Wirth, oferecendo-nos a solução de todos os enigmas da natureza. E, da mesma forma, a chave de todos os cultos, e nos transporta à primitiva linguagem de luz explicada em nosso livro “Logos-Mantram-Magia”. Todas essas experiências nos demonstraram que aquilo era sabido nos mistérios antigos e o que conhecemos hoje, mediante a Igreja Gnóstica, têm base real e positiva. Contudo, o que os citados investigadores fizeram foi materializar estes conhecimentos.
(...) E perguntareis por que a Igreja Gnóstica dá mais importância a Jesus da Galiléia que a qualquer outro fundador de religião? Pois bem: porque entre aqueles e Jesus existiu uma grande diferença, que foi a Ressurreição. Nem Lao-Tsé, nem Confúcio, nem Buda, nem Maomé ressuscitaram. Terminaram para nosso mundo visível ao acontecer suas mortes. Só o corpo astral do Nazareno regressou e se perpetuou com todas as forças. O processo iniciático ficou, em consequência, completo somente nele, e daí que seja tão necessário e interessante a imitação de Jesus. A substância de Jesus, do Logos Solar, se propagou pelo mundo e transformou seu ambiente perpetuando-se até nossos dias como essência solar, que oferecemos em nossa Unção Eucarística.
A Eucaristia não é somente uma simples rememoração, nem devemos tomá-la ao pé da letra como fazem os católicos quando afirmam que, se um sacerdote pronuncia a fórmula HOC EST ENIM CORPUS MEUM e depois a de HIC EST ENIM CALIX SANGUINIS MEI, instantaneamente o pão se converte em carne e o vinho em sangue. Nem mesmo como os protestantes, ao afirmar que a ceia é tão somente uma lembrança imorredoura do ágape do Senhor. A igreja Gnóstica transita por um caminho médio. O verdadeiro sacerdote ao pronunciar nossas fórmulas sagradas pode, se quiser, despertar a força solar dentro do pão para que tenha vida, como também pode curar, se o desejar, o corpo e a alma de todos os seus semelhantes.
(...) O credo romano, que foi retirado também dos mistérios, contém as frases que destacamos: “Creio em...o todo visível e invisível...em Jesus Cristo...que nasceu do pai antes de todos os séculos. Deus de Deus, luz de luz...por quem foram feitas todas as coisas”. Este princípio imaterial – ainda que este termo não seja exato – é o éter químico, cuja base é a substância de Cristo. A diferença entre o catolicismo e a Igreja Gnóstica estriba-se em que, para nós, Cristo é uma substância e sua existência na Terra, um fato ou um fenômeno cósmico-biológico, enquanto os católicos somente dão importância ao fato histórico-material desconhecendo o verdadeiro mistério da substância cristônica.
Nossa Igreja tem três únicos sacramentos: o Batismo, a Eucaristia e a Extrema-Unção, cujo ritual tem um poder mágico e eficaz. Conserva, também, a Confissão, porém, não ao modo dos católicos. A nossa é uma espécie de solicitação de conselhos e instrução que se faz ao sacerdote, já que este, como conhecedor da parte oculta, pode dar e oferecer normas em cada caso concreto. Não aceita pecados, mas, sim erros, porquanto se tem como um absurdo fazer crer aos demais, que seus pecados serão perdoados, quando ninguém pode adjudicar-se esse poder, nem prestar, sequer, a menor ajuda nesses problemas em que só é responsável a personalidade de cada um. Em troca, o erro se pode corrigir e reparar com o conselho do sacerdote gnóstico, porque ele une ao seu ministério a qualidade de ser um médico por excelência que, dentro da psicanálise, lhe é dado transmutar os erros e fazê-los converter-se em santas e puras verdades.
Para isto é necessário estar com boa disposição e em condições de receber Forças Divinas, cuja atitude só se consegue colocando-nos em contato com a Santa Eucaristia. Um sacerdote, como não é infalível em sua vida comum, poderá enganar-se numa de suas apreciações ou opiniões; porém ao atuar como sacerdote neste sagrado sacramento, todas as forças se concentram nele e, então, representa um Alto Iniciado, o Ungido, o próprio Deus e esparge e dá aos demais tudo quanto recebe. Nesse supremo instante é quando devem se aproximar do altar todos os enfermos e aflitos. Dali, certamente, sairão curados.
Todos os grandes iniciado, aqueles que chamamos Santos e Pais de nossa Igreja Gnóstica, estão de acordo com essa doutrina, e assim a deixaram exposta em obras transcendentais que hoje, dificilmente, poderão ser encontradas nas bibliotecas. A Igreja Católica em sua luta para conseguir seu estabelecimento no mundo, fez tudo quanto pôde para apagar os vestígios da presença dos gnósticos, cujos ensinamentos eram demasiado claros e abertos, e muito ampla a sustentação da verdade. E, embora, depois corressem rios de sangue para a imposição do cristianismo em sua forma católica, ela se valeu, nos primeiros séculos, de meios mais diplomáticos, retornando, então, à queima de livros, a falsificar outros e a recolher os de maior importância iniciática que hoje se encontram escondidos no Vaticano. Muito, naturalmente, está expresso neles metáforas, em símbolos, que os católicos não se deram ao trabalho de decifrar, porém, que agora nos vemos forçados a esclarecer, cumprindo nossa missão, embora isso seja com dezoito séculos de atraso.
Vamos, finalmente, consegui-lo-lo com Epifania. Epifania é uma palavra procedente do grego, que mesmo sendo a atual ocupação e preocupação constante dos teólogos, não permitiu que se obtivesse resolutamente sobre ela uma justa e acertada explicação. Contudo, podemos dizer que entendemos por Epifania, a Revelação, a Ascensão ou a Manifestação de Cristo em nós".
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