quinta-feira, 30 de abril de 2009

O Espiritismo Cardecista Parou no Tempo?

Quando Hippolyte Léon Denizard Rivail em 18 de abril de 1857 lançou em Paris a primeira edição de O Livro dos Espíritos, já com o pseudônimo de Allan Kardec, nascia um movimento de estudos espíritas que logo obteria milhares de simpatizantes, transformando-se em culto e hoje chamado Religião Espírita.

Pela mão do formidável médium Francisco Cândido Xavier, mineiro de Pedro Leopoldo, o movimento espírita teria um desenvolvimento espantoso começado a partir da década de 30, com Parnaso do Além Túmulo, seguida por outras 411 obras com mais de 20 milhões de tiragens em todo o mundo.

Chico Xavier proclamou sempre os ensinamentos de Jesus em suas palestras e entrevistas, e as lições contidas nas obras ditadas pelos espíritos até hoje inspiram a seguidores, motivando o crescimento do espiritismo fundado por Allan Kardec. Essa breve história todo o espírita que se preze deve conhecer.

Na prática, o espiritismo cardecista basicamente promove reuniões de estudos, palestras, sessões de desenvolvimento da mediunidade, aplicações de passes magnéticos, trabalhos de desobsessões, operações médicos-espirituais, além de estimular a uma série de procedimentos assistênciais e filantrópicos de todas as ordens.

O espiritismo veio se transformar realmente numa macro-célula assistencial infiltrada em todas as camadas da sociedade, trazendo em seu bojo sempre a mensagem intrínseca do bom samaritano e a imagem do Consolador prometido por Cristo, citado numa de suas parábolas aos apóstolos.

O espiritismo não possui um credo na acepção formal do termo, mas possui uma doutrina que foi montada, principalmente, a partir das respostas elencadas no Livro dos Espíritos coadjuvadas pelas interpretações mais elásticas retiradas de o Evangelho Segundo o Espiritismo, do mesmo autor Allan Kardec. É nesse ponto que muitos estudiosos de outras correntes da espiritualidade e segmentos das hostes espíritas divergem do estabelecido.

Outro dia ouvia um palestrante do espiritismo cardecista que respondia a perguntas em conhecida rádio aqui no Rio de Janeiro. Logo nas suas primeiras palavras disse ele às centenas de ouvintes: “meus irmãos, o mundo divide-se em dois tempos, um antes de Kardec e outro após Kardec”. Quase me belisquei para sentir se estava mesmo acordado ou algum espírito brincalhão me falava ao ouvido insinuando falsas premissas.

Noutra oportunidade, outro palestrante que na mesma rádio detinha um horário em que divulgava a doutrina e as atividades de seu centro espírita, respondendo a um ouvinte que lhe perguntara se os pretos-velhos eram almas atrasadas, saiu-se com essa: “são atrasados sim, inclusive usam o espiritismo de Kardec para fazer os seus marketings sobre a reencarnação”. Não entendi nada, mas admiti que ele se responsabilizasse pela divulgação dessa versão sobre os pretos-velhos de Umbanda, ao tornar público seu pensamento.

O espiritismo cardecista é, maiormente, freqüentado por pessoas de ótimos níveis da educação que nossa sociedade consegue produzir. No entanto, a doutrina é repetitiva, seguidora quase que literalmente das palavras dos espíritos, com pouca imaginação e absolutamente conservadora. Em qualquer programa de rádio, ou noutro veículo de comunicação, a tônica é invariavelmente sobre caridade, reencarnação, carmas devedores e adoção de órfãos.

Acabo de ler de um artigo bem escrito por um blogueiro espírita onde ele reclama com veemência ter observado em revistas especializadas do espiritismo reportagens sobre Quimbanda, Umbanda e outras crenças que absolutamente nada têm a ver com o espiritismo, como se espiritismo fosse coisa geral, quando não é. Segundo ainda ele, com certa dose de irritação, o espiritismo é unicamente a doutrina cardecista. Bem, eu já não penso assim. Acho que o termo espiritismo, originado da palavra spirito não é propriedade do cardecismo. Foi aproveitado do latim por Kardec, sendo vocábulo muito antigo emergente de designações de entes sem corpos físicos ligados ao psiquismo ou às atividades espirituais mediúnicas, principalmente de crenças primitivas.

Nesse particular, há também uma velha diferença sobre a relevância semântica entre espiritismo e espiritualismo, de um grau filosófico mais elevado, quando a escola francesa de Kardec advoga para si o epíteto correto de espiritismo (spiritism), enquanto a escola espiritista da América do Norte e Inglaterra fundada pelas irmãs Fox, seguidora das doutrinas de Rochester, denomina-se praticante do espiritualismo.

A visão uniforme e ortodoxa de uma só doutrina conduz realmente a hierarquização de seguidos erros que se transformam em princípios do adverso a que julgam dever desprezá-los sem outras considerações, e a eles abjurar definitivamente. Enquanto outras escolas abrem seus leques para as modernas visões da espiritualidade, e as novas correntes do esoterismo e do ocultismo conjugam seus conhecimentos às muitas e reconhecidas descobertas das ciências, ou adaptam práticas mentais da milenar sabedoria inciática para a realidade de uma nova era, sentimos o tempo recuar nos estereótipos cardecistas, apesar de o espiritismo não ser uma religião das massas.

Não obstante, o espiritismo continua vivo e atuante, avançando para mais de 30 países, deixando entrever que os novos seguidores não estão nem um pouco preocupados com as características conservadoras reveladas em suas práticas. A despeito de o cardecismo cobrar muito das religiões as modernizações de suas bases doutrinárias, segundo, principalmente, a introdução dos conceitos da reencarnação, as bases espíritas permanecem nos intocados evangelhos do novo testamento. Mas para esotéricos e estudiosos das ciências ocultas, as coisas não são todas exatamente como dizem e interpretam os espíritas ao falar dos ensinamentos do iniciado Yoshua Ben Pandira, ou Jesus de Nazaré! Há para eles outra história sedimentada por simbolismos sobre simbolismos, como uma espiral em ascenso, o que permite aos estudiosos deter visões sempre novas de patamares superiores da sabedoria dos evangelhos.

Rayom Ra

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8 comentários:

  1. "Logo nas suas primeiras palavras disse ele às centenas de ouvintes: “meus irmãos, o mundo divide-se em dois tempos, um antes de Kardec e outro após Kardec”."

    Nada poderia ser mais "anti-Kardec"... Era esse tipo de coisa que o próprio Kardec temia que terminasse por ocorrer, e muito!

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    "Noutra oportunidade, outro palestrante que na mesma rádio detinha um horário em que divulgava a doutrina e as atividades de seu centro espírita, respondendo a um ouvinte que lhe perguntara se os pretos-velhos eram almas atrasadas, saiu-se com essa: “são atrasados sim, inclusive usam o espiritismo de Kardek para fazer os seus marketings sobre a reencarnação”."

    O próprio Kardec já deixou transparecer seu preconceito quando, interpretando de forma incorreta o que os espíritos de luz lhe passaram, afirmou que "selvagens eram espíritos de baixa evolução"... Infelizmente esse tipo de preconceito ocorre até hoje em dia, a diferença é que o mundo de Kardec era bem diferente do atual: com nosso nível de informação esse preconceito não tem mais razão de ser, ah não ser pela ignorância que se recusa a ser lapidada em alguns espíritas...

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    "Nesse particular, há também uma velha diferença sobre a relevância semântica entre espiritismo e espiritualismo, de um grau filosófico mais elevado, quando a escola francesa de Kardec advoga para si o epíteto correto de espiritismo (spiritism)"

    Aqui devemos reconhecer que Kardec cunhou o termo exatamente para diferenciação entre espiritualistmo e espiritismo... Antes de Kardec o termo "espiritismo" não existia.

    Ele não fez isso porque julgasse o espiritismo "superior" ao espiritualismo, embora muitos espíritas de primeira viagem tenham essa concepção.

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    Em suma, o maior problema do espiritismo no Brasil é ironicamente a mesma razão de seu crescimento: a união com o catolicismo.

    Infelizmente muitos católicos trouxeram seus dogmas consigo, e há muitos que "endeusam" Kardec e Chico Xavier... Ainda outros que creem que Jesus era Deus, etc.

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    1. eu creio que esta grande confusão ou mistura se deu por causa do sincretismo;com a vinda dos negros para o brasil.Eles precisavam cultuar sua crença,mas havia o embargo da religião dos senhores da senzala,além disso nos anais da estória afirma-se que qundo no concílio de nicéia 9se não estou equivocada)quando foi proibido a comunicação com o alto,com os planos superiores, a espiritualidade maior ,precisava que houvesse continuidade das comunicações;e isso foi feito,a partir da umbanda;pois ,nela encontrariam na fugura do conselheiro preto velho, o confessor,no cheiro dos insensos dos terreiros, a mesma sensação das naves das igrejas.tudo isso gerou uma grande e abençoada mistura; pois cada um está em um degrau de evolução.paz e luz a rodos.

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    2. Prezada Edna, obrigado pela visita:

      Há de fato confusão, pois as consciências são diversas. Creio o espiritismo ser tão necessário aos espíritas quanto é para outros a umbanda, o cristianismo, o budismo...ou todas aquelas religiões que se organizaram a partir de ensinamentos de homens sábios. O problema do homem religioso é quando dá provas de estreiteza que gera fanatismo.

      E infelizmente o cardecismo não é exceção, pois muitos seguidores dão provas desta estreiteza. São intolerantes com a umbanda, com o catolicismo, com o protestantismo e com outras religiões. O espiritismo oferece muitos exemplos de caminhar para divisões dogmáticas, embora seja ainda um movimento muito jovem e tenha por bandeira justamente o contrário.

      Muitos oradores tomam literalmente, e em grande dose, o epíteto de que o espiritismo seja a Grande Revelação, o Consolador, etc., quando realmente não é isto, e quando sabemos que a reencarnação e tantos outros importantes ensinamentos inseridos nas lições do espiritismo não serem novidade alguma. Essas lições a antiguidade já sabia e praticava. Basta vermos que o Oriente é o Pai de todos os movimentos religiosos.

      Não existe ainda uma religião universal que atenda a todos indistintamente, por que isto na idade atual dos povos não é possível existir. Mas continua haver sabedoria em todas as religiões, em livros esotéricos, nas tradições étnicas e na ciência espiritual de antigas Escolas de Mistérios, bem como, modernamente, nos grupos de Nova Era.

      As antigas Escolas e grupos de Nova Era, por oportuno, cada vez mais se atualizam nas suas mensagens e práticas, e participam da sociedade com novas energias e pensamento renovador, ensinando de acordo com o século em que vivemos, e dando provas de fatos científicos do que sequer antes desconfiávamos, apesar de o materialismo dos homens de ciência e de seus seguidores tentarem distorcer para outro lado.

      Os erros interpretativos de espíritas por desconhecimento da história e de muitas verdades, temos certeza de que no devido tempo serão corrigidos, e necessários ajustes ocorrerão na doutrina por mentes mais sábias e arejadas. E essas naturais correções, certamente trarão novos e bons combustíveis aos espíritas de mentes abertas, mas muitas decepções aos ortodoxos reacionários.

      E os heréticos que torpedeiam as religiões; sejam ateus, céticos, pseudo e esquisitos agnósticos - todos moradores de um umbral estranho e paralelo - continuarão a fazer fila no inútil e prolixo gênero teórico.

      Abraços.

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  2. Raph,

    Diferenças de opiniões, subgrupos e correntes dissidentes sempre existirão em qualquer organização de cunho espiritual, ou religiões.

    Mas o importante é que se discutam as bases, os novos e mais modernos conceitos e as reformulações, não permitindo às aves de rapina entrar e roubar as preciosidades que os religiosos não saibam bem guardar.

    Abs.

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  3. Cada pessoa é responsavél pelo que fala. Não podemos pensar que o pensamento de um menbro significa, o pensamento de todo um grpo.
    Sobre isto que vc, diz que os esperitas ~sao sempre de niveis bons, de educação e posição social, não sei

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  4. a bilblia fala que ao homem esta destinado morrer uma só vez vindo depois disso o juízo. Como entao o espirito pode voltar em outro corpo?

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  5. e a salvaçao onde fica? e o sacrificio de Cristo na Cruz nao valeu de nada?

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  6. gostaria de de conhecer mais sobre os cardecistas.

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