domingo, 5 de fevereiro de 2012

Buddha Siddhârtha

                                                            
       Buddha Siddhârtha, nome dado a Gautama, príncipe de Kapilavastu, em seu nascimento. Dito término é uma abreviação de Sarvârthasiddha, e significa “realização de todos os desejos”. Gautama – ou Gotama – que significa “o mais vitorioso (tama) na Terra (gau)”, era o nome sacerdotal da família Zâkya, régio nome patronímico da dinastia a que pertencia o pai de Gautama, o rei Zuddhodana de Kapilavastu, uma cidade antiga, solo nativo do Grande Reformador, que foi destruída durante o tempo em que ele viveu.
  Do título Zâkyamuni, o último componente, muni, é interpretado no sentido de “poderoso na caridade, isolamento e silêncio”, e o primeiro nome Zâkya, é o nome de família. Não há orientalista nem pandita (sábio) que não saiba de cór a história de Gautama, o Buddha, o mais perfeito dos mortais que o mundo jamais tenha visto, porém, nenhum deles parece suspeitar sequer do significado esotérico que há no fundo de sua biografia pré-natal, isto é o significado da história popular.
       Em Lalita-vistara (1) há dela o relato, no entanto se abstém de insinuar a verdade. Os cinco mil Jâtakas (2) ou sucessos de anteriores nascimentos (reencarnações) são considerados, ao pé da letra, em lugar de sê-los esotericamente.  
       (1) Lalita-vistara (sânscrito), célebre biografia de Zâkyamuni, o Senhor Buddha, composta por Dharmarakcha, no ano 308 de nossa era.
       (2) Jâtakas (sânsc.), tratados búdicos relativos aos nascimentos dos Budas e Bodhisattvas. A parte do tratado de astrologia referente aos nascimentos.
       Gautama, o Buddha, não teria sido um homem mortal senão houvesse passado por centenas e milhares de nascimentos antes do último de todos os seus. Sem dúvida, a relação neles detalhada, e a assertiva de que durante os mesmos renascimentos ele foi abrindo caminho para cima através de cada grau de transmigração, desde o mais ínfimo átomo animado e inanimado e desde o inseto até a criatura mais elevada, ou seja, o homem encerra simplesmente o tal conhecido aforismo oculto: “a pedra se converte em planta, a planta em animal, e o animal em homem”.
       Todo o ser humano que tenha existido terá passado pela mesma evolução. Porém, o simbolismo oculto nesta série de renascimentos inclui uma perfeita história da evolução nesta terra, pré e pós humana, e é uma exposição científica de fatos naturais. Uma verdade não velada, senão desnuda e patente, se encontra em que, mal havia Gautama alcançado a forma humana, começou a mostrar em cada uma de suas personalidades, a maior abnegação, caridade e sacrifício de si mesmo. Buddha Gautama, o quarto dos Sete (Sapta) Buddhas e Sapta Tathâgatas (3) nasceu, segundo a cronologia chinesa, no ano de 1024 a.C, porém, segundo as crônicas senegalesas, nasceu no oitavo dia da segunda (ou quarta) lua do ano 621, antes de nossa era.
       (3) Sapta Tathâgata (sansc.), os sete principais Nirmânakâyas, entre os inumeráveis e antigos guardiões do mundo. Seus nomes se acham inscritos num pilar heptagonal existente numa câmara secreta em quase todos os templos búdicos da China e do Tibet. Os orientalistas recaem no erro de pensar que estes são “os sete substitutos budistas para os Richis dos brahamanes”.

       Fugiu do palácio de seu pai para abraçar a vida ascética, na noite do oitavo dia da segunda lua do ano 597 a.C., e depois de passar seis anos em Gaya, entregue em meditações e conhecendo que a tortura física de si mesmo era inútil para aportar a iluminação, decidiu seguir uma nova via até chegar ao estado de Bodhi (ou Sambhodi: inteligência receptiva oposta a Buddhi que é a potencialidade da inteligência). Na noite do oitavo dia da duodécima lua do ano 592 chegou a ser um Buddha Perfeito, e por fim entrou no Nirvana no ano 543, segundo o Budismo do Sul. Os orientalistas, sem dúvida, se atêm a outras e variadas datas. Todo o restante é alegórico.

       Gautama alcançou o estado de Bodhisattva na Terra, quando em sua personalidade se chamava Prabhâpala. Tuchita significa um lugar neste globo e não um paraíso nas regiões invisíveis. (4)
       (4) Tuchita (Tushita-Sansc.), uma classe de deuses de grande pureza que figuram no panteão indu. No budismo do Norte, exotérico ou popular, é um Deva-loka, uma região celeste no plano material, onde todos os Bodhisattvas renascem antes de descer a esta Terra como futuros Buddhas.

       A seleção da família Zâkya e sua mãe Mâyâ, como “a mais pura da Terra”, está em harmonia com o modelo da natividade de cada Salvador, Deus o Reformador divinizado. A lenda de ele haver entrado no seio de sua mãe em forma de elefante branco, é uma alusão a sua inata sabedoria, por ser o elefante de dita cor um símbolo de cada Bodhisattva. Os relatos de que, ao nascer Gautama, a criança recém-nascida deu sete passos em quatro direções, que uma flor de Udumbara (fícus glomerata) se abriu em toda sua beleza peregrina e que os reis Nâgas procederam sem demora a batizá-lo, são todas estas e tantas outras, alegorias da fraseologia dos iniciados, bem compreendidas de todo ocultista oriental.

       Todos os acontecimentos de sua nobre vida se expressam em números ocultos, e cada sucesso chamado milagroso – tão deplorado pelos orientalistas por que confunde o relato - tornando impossível separar a verdade da ficção – é simplesmente o disfarce ou véu alegórico da verdade. Isto é tão compreensivo para um ocultista versado em simbolismo, como é de difícil compreensão para um sábio europeu que desconheça o Ocultismo.

       Cada detalhe da narração depois da morte do Gautama, o Buddha, e antes de sua cremação, é um capítulo de fatos escritos numa linguagem que deve ser estudado para ser bem compreendido, pois de outro modo sua letra morta conduziria a contradições absurdas. Por exemplo, havendo recordado a seus discípulos da imortalidade Dharmakâya (o corpo espiritual glorificado, conhecido com o nome de “Vestidura” de bem-aventurança), Buddha, segundo se diz, passou ao estado de Samâdhi (o supremo grau do yoga – contemplação estática ou supraconsciência) e se perdeu no Nirvâna, do qual nada pode voltar. E apesar disto, apresentam Buddha abrindo com violência a tampa do féretro e saindo para saudar com mãos juntas a sua mãe Mâyâ que havia aparecido de repente no ar, ainda que ela houvesse morrido sete dias depois do nascimento do Gautama, etc., etc. Como Buddha era um Chacravartin (aquele que faz girar a roda da Lei), seu corpo, no ato da cremação, não podia ser consumido pelo fogo ordinário. E o que sucedeu? De improviso um jorro de envolvente fogo brotou da Suástica que tinha no peito e reduziu seu corpo a cinzas. O pouco espaço de que dispomos nos impede de oferecer mais exemplos.

       No tocante a ser ele um dos verdadeiros e inegáveis Salvadores do Mundo, basta dizer ao mais fanático missionário ortodoxo, a menos de estar irremediavelmente louco de não ter o mínimo respeito à verdadeira história, não poder encontrar a mais leve acusação contra a vida e o caráter pessoal de Gautama o Buddha. Sem pretensão alguma à divindade, desejando que seus prosélitos caíssem no ateísmo antes que se fundissem na degradante superstição do culto de Deva ou da idolatria, sua vida, desde o princípio até o fim, foi santa e divina. Durante os quarenta e cinco anos de sua missão, sua vida como um deus, é pura e inatacável – ou como deveria ser a deste último. É o perfeito exemplo de um homem divinizado.

 
       Alcançou a condição de Buddha – isto é a Iluminação completa – inteiramente por seus próprios méritos e graças a seus esforços individuais, porquanto não se crê que nenhum deus tenha o menor mérito pessoal no exercício da virtude e santidade. Os ensinamentos esotéricos pretendem que Gautama renunciou ao Nirvana e abandonou a vestidura Dharmakâya para continuar a ser um “Buddha de Compaixão” (5) sujeito às penalidades e misérias deste mundo. E a filosofia religiosa que deixou para a humanidade tem produzido durante mais de dois mil anos gerações de homens virtuosos e desinteressados. Sua religião é a única absolutamente livre de mancha de sangue dentre todas as religiões existentes: tolerante e generosa, incutindo a caridade e a compaixão universal, o amor e o sacrifício de si mesmo, a pobreza e o contentamento com a sorte de cada um, se esta é o que seja. 

       Perseguição alguma nem imposição da fé por meio do fogo ou da espada nunca a houveram coberto do opróbrio. Nenhum deus que vomite trovões e raios imiscuiu-se em seus puros preceitos. E se o sensível, filosófico e humano código de vida diária, que nos deixou o maior Homem-Reformador conhecido, chegará um dia ser adotado pela humanidade em geral e seguramente, principiará para a espécie humana uma era de paz e bem-aventurança.
       (5) Buddhas de Compaixão, com este nome se designam aqueles Bodhisattvas que, havendo alcançado a categoria de Arhat (Mestres Ascensos, Adeptos ao nível búdico), recusam-se a passar ao estado nirvânico ou “envergar a vestidura Dharmakâya e passar para outra condição”, pois então não estaria em seu poder ajudar a humanidade, mesmo no pouco que o Carma permita. Preferem permanecer invisíveis (em espírito, por assim dizer) no mundo e contribuir para a salvação dos homens, exercendo sobre eles seu influxo para que sigam a boa Lei, ou que eles mesmos, guiem-se pelo Sendero de Justiça.
                                                      [Helena Petrovna Blavatsky]
Rayom Ra

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