segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Recordar é Reviver - I - Lobsang Rampa

INICIAÇÃO FINAL

       Depois de ter assistido, em alguns lamastérios, ao embalsamento de meia dúzia de pessoas, o abade superior de Chakpori mandou chamar-me; ‘Meu amigo, por ordem expressa de O Mais Poderoso, chegou a hora de ser iniciado como abade. A seu pedido, pode – como o Mingyar Dundup – continuar a ser tratado com o título de Lama.” Assim, como Encarnação Reconhecida, ia ser-me conferido o grau com que tinha deixado a Terra havia uns seiscentos anos. A Roda da Vida descrevera um círculo completo.

       Algum tempo mais tarde, um lama idoso veio ao meu quarto e disse-me que tinha de submeter-me à cerimônia da Pequena Morte. “Porque, meu filho, até ter passado os portões da morte e voltado não pode saber com certeza absoluta que não há de fato morte. Os seus estudos em viagens astrais têm-no levado longe, mas este levá-lo-á mais longe ainda, para além dos reinos da vida, para os confins do passado em nosso país.

       O treino preparatório foi duro e prolongado. A minha vida esteve estritamente controlada durante três meses. Rações especiais de ervas de gostos horríveis davam um tempero desagradável às minhas refeições. Tive de jurar manter os meus pensamentos “só no que há de mais puro e sagrado”. Como se num lamastério a escolha fosse muito grande. Até a tsampa e o chá tinham de ser tomados em menores quantidades. Rígida austeridade, disciplina estrita, e longas, longas horas de meditação.

       Por fim, três meses decorridos, os astrólogos declaravam que chegara o momento, que os portentos eram favoráveis. Jejuei durante vinte e quatro horas até me sentir tão vazio como um tambor. Depois, fui conduzido através daquelas escadarias e corredores escondidos nos subterrâneos de Potala. Embrenhávamo-nos pelas entranhas da terra, enquanto outros alumiavam o caminho com tochas flamejantes. Chegamos por fim ao término desse corredor. Defrontávamos rocha sólida, mas, quando nos aproximamos, um penedo enorme deslizou e abriu caminho. Outro corredor abria-se à nossa frente – um corredor estreito e escuro, com um cheiro de ar estagnado, especiarias, incenso. Alguns metros mais adiante, tivemos de parar uns momentos em frente de uma pesada porta chapeada de ouro, que se abriu lentamente com um chiar de protesto que ecoava e recoava através do espaço imenso.

       Ali se apagaram as tochas e acenderam-se lamparinas de manteiga. Entramos num templo escondido, escavado na rocha pela ação vulcânica do passado. Esses corredores e passagens tinham em tempo sido os condutos da lava derretida a caminho da boca fumegante de um vulcão ativo. Agora, homens insignificantes palmilhavam o mesmo caminho e pensavam que eram deuses. Ali era o Templo da Sabedoria Secreta.

       Conduziram-me três abades; o resto da procissão tinha desaparecido no escuro, como as memórias fugazes de um sonho. Três abades, idosos, dessecados pelos anos, que esperavam alegremente a chamada aos Campos Celestes. Três velhos, talvez os maiores metafísicos de todo o mundo, prontos a submeterem-me à prova final da iniciação. Cada um portava na sua mão direita uma lamparina de manteiga e, na esquerda, um grosso pau de incenso fumegante. O frio era intenso; um frio estranho que não parecia deste mundo. O silêncio era profundo: os sons velados que podiam ouvir-se apenas serviam para sublinhar o silêncio. As nossas botas de feltro não faziam qualquer ruído: era como se fôssemos fantasmas. Os hábitos cor de açafrão dos abades faziam um vago farfalhar. Com grande horror senti-me cheio de comichões e de pequenos choques que me percorriam o corpo. As minhas mãos resplandeciam. Os abades, reparei, resplandeciam igualmente. O atrito de nossos hábitos no ar sequíssimo tinha gerado uma carga elétrica estática. Um abade entregou-me uma pequena vareta de ouro e sussurrou: “Segure isto com a mão esquerda e vá fazendo contato ao longo da parede que o desconforto passa”.

       Uma a uma, as lamparinas de manteiga iluminaram-se, acesas por mãos invisíveis. À medida que a luz amarela ia aumentando, vi as figuras gigantescas, cobertas de ouro, e algumas meio enterradas em pilhas de gemas brutas. No meio da penumbra distinguia-se um Buda, tão grande que a iluminação não lhe passava da cintura. Outras formas surgiram enfumadas: imagens de demônios, representações de lascívias, e as formas das provações que o homem tem de passar antes de atingir o estado espiritual puro.

       Aproximávamo-nos de uma parede onde estava pintada uma Roda da Vida com uns cinco metros de diâmetro. A luz bruxuleante parecia girar e fazer os sentidos girarem com ela. Continuamos o nosso caminho e eu julgava ir a todo o momento bater com a cabeça de encontro às rochas. O abade que me havia conduzido desaparecera e o que eu julgara ser uma sombra mais escura era uma porta escondida. Esta dava para outro corredor que descia cada vez mais – um carreiro estreito, íngreme, coleante, onde a luz fraquíssima das lamparinas dos abades parecia simplesmente intensificar a escuridão.

       Fomos tateando o nosso caminho, aos tropeções, escorregando às vezes. O ar era pesado e opressivo e parecia que todo o peso da terra estava em cima de nossos ombros. Uma última curva e abriu-se à nossa frente uma caverna na rocha que brilhava como ouro: veios de ouro, pedras de ouro! Uma camada de rocha, uma camada de ouro, uma camada de rocha – e assim por diante. No alto, lá muito no alto, o ouro brilhava como as estrelas num céu noturno, conforme os veios captavam e refletiam a luz tremeluzente das lamparinas.

       No centro da caverna havia uma casa negra, brilhante, que parecia feita de ébano polido. As paredes estavam cobertas de símbolos estranhos – de diagramas como os que vira nas paredes do túnel do lago. Caminhamos na direção desta casa e entramos. Lá dentro havia caixões de pedra preta com esculturas curiosas. Nenhum destes caixões tinha tampa. Espreitei, e ao ver o conteúdo, suspendi a respiração e quase desmaiei. “Meu filho, olhe para eles. Eram deuses na nossa terra nos dias anteriores à chegada das montanhas. Caminharam pelo nosso país quando os mares banhavam as suas costas e quando as estrelas no céu eram diferentes. Olhe, por que só os iniciados os podem ver.”

       Olhei outra vez, fascinado e aterrado. Essas figuras de ouro, nuas, jaziam à nossa frente. Dois homens e uma mulher. Cada linha, cada marca, era fielmente reproduzida pelo ouro. Mas o tamanho! Ah, a mulher tinha pelo menos três metros e meio e o maior dos homens não tinha com certeza menos de cinco metros. As cabeças eram grandes e ligeiramente cônicas no alto. As mandíbulas eram estreitas, com bocas pequenas de lábios delgados. Os narizes eram longos e finos e os olhos encovados. Não pareciam mortos, apenas adormecidos. Num dos lados de uma tampa de caixão estava gravado um mapa do céu – mas que estranhas as estrelas pareciam! Os meus estudos de astrologia tinham-me familiarizado com o céu noturno, mas aquele era um céu muito diferente.

       O abade mais velho voltou-se para mim e disse: “Está prestes a ser iniciado, a ver o passado e a conhecer o futuro. O esforço será enorme. Muitos morrem durante o processo e alguns falham. Mas nenhum sai daqui vivo, a não ser que passe na prova. Está preparado?” Respondi afirmativamente. Levaram-me até uma laje de pedra entre dois caixões e ali, por ordem deles, sentei-me na posição de lótus: as pernas cruzadas, a espinha ereta, as palmas das mãos viradas para cima.

       Acenderam quatro paus de incenso, um para cada caixão e um para a minha laje. Cada um dos abades pegou na sua lamparina e abandonou a sala. Quando a pesada porta negra se fechou, fiquei só com aqueles corpos antiquíssimos. O tempo foi passando enquanto eu meditava sobre a laje. A lamparina que trouxera bruxuleou e apagou-se. Durante alguns momentos o pavio brilhou vermelho, com um ligeiro cheiro de pano queimado, e por fim se extinguiu. Estendi-me na laje e fiz os exercícios especiais de respiração que aprendera ao longo de muitos anos. O silencio e a escuridão eram opressivos, tratava-se na verdade do silêncio do sepulcro.

       De repente meu corpo tornou-se rígido, cataléptico. Os membros adormeceram e adquiriram a temperatura do gelo. Tive a sensação de morrer naquele túmulo antiqüíssimo a mais de cento e trinta metros de profundidade. Um estremecimento percorreu-me o corpo com a impressão inaudível de um roçar e estalar estranho, como de couro velho que se desdobra. Gradualmente o túmulo começou a iluminar-se com uma luz azul estranha, como o luar num caminho de montanha. Senti outro estremecimento e um erguer e um tombar. Durante um momento podia imaginar-me mais uma vez um papagaio que se balançava na ponta de uma corda. Foi nesse movimento que tomei consciência de estar flutuando acima de meu corpo carnal. Essa consciência foi acompanhada de movimento. Como uma nuvem de fumo velejei à frente de um vento que não sentia. Acima de minha cabeça via uma auréola dourada. Do meio de meu corpo descia um cordão de um azul prateado, que pulsava com vida e brilhava de vitalidade. Olhei para baixo, para o meu corpo estendido, que repousava como um cadáver no meio de cadáveres. As pequenas diferenças entre meu corpo e os daquelas figuras gigantescas, no entanto, foram se tornando pouco a pouco aparentes.

       O estudo era absorvente. Meditei na vaidade insignificante dos homens de hoje e tentei imaginar que explicações apresentariam os materialistas para as presenças dessas figuras imensas. Meditei..., mas tornei-me então consciente de que algo me começava a perturbar os pensamentos. Pareceu-me não estar só. Pedaços de conversas chegavam até mim juntamente com fragmentos de pensamentos inexpressivos. Imagens isoladas começavam a iluminar-me a visão mental. De muito longe, alguém parecia tanger um sino enorme. O som foi aproximando-se até parecer explodir dentro de minha cabeça. O meu corpo astral era agitado e impelido como uma folha num vendaval. Dores agudíssimas fustigavam-me a consciência. Senti-me só, abandonado, isolado no meio de um universo que se desmoronava. Um nevoeiro negro desceu sobre mim, e com ele uma calma que não era deste mundo.

       Lentamente, esse negrume imenso que me envolvia foi desaparecendo. De algum ponto chegava-me o ruído do mar, o chocalhar de seixos sob o impacto das ondas. Cheirava o ar salgado, o perfume acre das algas ao sol. A cena parecia-me familiar. Deitei-me preguiçosamente de costas na areia aquecida pelo sol, descansando os olhos nas frondes das palmeiras. Mas uma parte de mim ia me dizendo que nunca vira o mar, e que nunca sequer ouvira falar de palmeiras! De um bosquete próximo chegavam-me os sons de risos, de vozes que cresciam, enquanto um grupo feliz de gente bronzeada me apareceu diante dos olhos. Gigantes todos eles. Olhei para mim mesmo e verifiquei que eu também era um gigante. Das minhas percepções astrais recebi as seguintes impressões: há uma imensidão enorme de anos a Terra girava mais perto do Sol, no sentido oposto ao do seu movimento atual; os dias eram mais curtos e mais quentes, vastas civilizações nasceram, e os homens sabiam mais do que hoje. Das profundezas do espaço infindo um planeta desgarrado passou perto demais da Terra, atirando-a assim para fora de sua órbita, para entrar noutra mais distante do Sol, onde começou a girar no sentido oposto.

       Vendavais levantaram-se e as águas encapeladas, sob forças gravitacionais diferentes, cresceram sobre a Terra, inundaram o mundo todo; terremotos violentíssimos fizeram estremecer todo o planeta; as terras mergulharam debaixo dos mares, enquanto outras se erguiam em outros pontos. A terra quente e agradável que fora o Tibet deixou de ser um paraíso à beira-mar para se elevar a uns quatro mil metros de altitude; à volta do país ergueram-se vastas montanhas que lançavam lavas fumegantes à distâncias; na terra brechas se abriram na superfície e uma flora e fauna de idades passadas continuaram a florescer; mas tudo isso é excessivo para ser descrito num livro só, e algumas das minhas percepções atrais são demasiadamente “sagradas e privadas” para poderem ser impressas.

       Algum tempo mais tarde as visões começaram a desvanecer-se. Gradualmente, a minha consciência, tanto astral como física, abandou-me. Mais tarde ainda comecei a ficar desagradavelmente cônscio de sentir frio – o frio que faz sobre uma laje na escuridão gelada de um túmulo. O meu cérebro sentia dedos tateantes de pensamentos. “Está voltando para nós. Aqui estamos!” Minutos passados e uma luminosidade vaga aproximou-se. Lamparinas de manteiga. Os três velhos abades. “Passou a prova, meu filho. Aqui jazeu durante três dias. Agora viu, morreu e tornou a viver”.

       Pus-me de pé, inteiriçado, a cambalear de fraqueza e fome. Abandonei aquela câmara inesquecível e arrastei os pés através dos corredores gelados, quase desmaiando de fome e estarrecido por tudo o que vira e experimentara. Comi e bebi o que queria, e naquela noite, quando me deitei para dormir, sabia que em breve teria de deixar o Tibet, partir para países estranhos conforme fora previsto.

                                                   [A Terceira Visão – Lobsang Rampa ]
Rayom Ra.

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[ Os textos do Arca de Ouro, por Rayom Ra, podem ser reproduzidos parcial ou totalmente, desde que citadas as origens ]

3 comentários:

  1. Saiu o "Minha Visita a Vênus": o último livro do Dr. T. Lobsang Rampa editado em português(2009) no Brasil.

    Para quem acompanha este grande escritor e para os que estão conhecendo agora este tibetano, este livro trás uma introdução feita pelo editor americano com uma breve biografia de Lobsang Rampa.

    Conta também sua expedição com seu Lama Guia e outros lamas, a uma cidade perdida nos altos do Himalaia, onde encontram uma base extraterrestre, e é revelado segredos sobre estes povos. Posteriormente são convidados a uma maravilhosa viagem ao planeta Vênus. Contém ilustrações do editor e do próprio Rampa.



    A ilustração da capa de Adalberto Rabello Bueno é inspirada no símbolo do Tibete desde vários séculos, o leão, que representa a força e sabedoria - as mesmas qualidades que nos trás Rampa em seus livros.

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  2. li todos os lvros do escritor aprendi muito e realizei esperiencias incriveis acredito 100% no autor fracisco

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    1. É isso Francisco. Muito bons os seus livros, todos eles.
      Abs.
      R/R

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