As principais contribuições benéficas dos
supramencionados cultos, que presumem ensinar-nos aquilo que Jesus e Buda se
esqueceram de mencionar, é seu encorajamento das atitudes corajosas, em vez de
covardes; sua constante reiteração de que os pensamentos otimistas, positivos,
construtivos e alegres são mais valiosos do que os pessimistas, negativos,
destrutivos e desesperados; e sua frequente recordação de que é bom ouvir o que
os silenciosos minutos de quietude mental têm a nos dizer.
Além disso, alguns dos movimentos atuais que
se propõem ostensivamente a espiritualizar o materialismo, têm meramente
conseguido materializar a espiritualidade.
Isto acontece especialmente quando eles se
degeneram em sistemas de converter pensamentos em coisas, imagens mentais em
realidades físicas, e quimeras aéreas em coisas sólidas – pela crença nelas!
A transformação mágica da pobreza em
prosperidade, da doença em boa saúde quase da noite para o dia, é
frequentemente proclamada pelos teóricos destes sistemas, mas raramente
demonstrada pelos seus seguidores. A matéria é algo complicada pelo fato de que
há alguma verdade misturada com suas fábulas, alguma sabedoria com sua falta de
senso, e alguma virtude com suas vãs asserções.
A raiz da questão, no entanto, é que eles
alimentam a satisfação dos desejos pessoais, ao passo que ao mesmo tempo os
conduzem ao reino do céu. Assim eles parecem propor-lhes um método de fazer o
melhor de ambos os mundos. Com efeito, a coisa pode ser feita, mas não à sua
maneira. Há uma diferença vital de aproximação e resultado entre as duas
maneiras. A diferença se cinge à atitude adotada para com o ego pessoal.
Este mal-entendido deve ser esclarecido, a
não ser que desejeis enganar-vos. As pessoas querem tanto apegar-se ao eu
pessoal, mesmo quando procuram entrar no reino mais alto, o reino da verdade
espiritual, o qual, todavia, só pode ser alcançado pela submissão do eu
pessoal. Nunca será possível encontra-se o espírito, a não ser que se alheie à
personalidade. Se encontrais a vida espiritual, e depois crede que, com isso,
tendes demonstrado vantagens materiais, estais simplesmente se iludindo a vós
próprios, e mais cedo ou mais tarde a vida vos desiludirá com severidade; isso
não é a verdade. É preferível procurardes a verdade, quer ela seja dolorosa ou
agradável. Amemos a verdade e aceitemo-la, e não tentemos incutir que a verdade
será sempre agradável. Aceitemos a verdade por ser a verdade, quer nos acarrete
maus problemas ou boa saúde. Se procurais a verdade só pelos benefícios que ela
vos traga, então é que não a encontrareis, pois estareis procurando benefícios
e não a verdade em si. A verdade se assemelha a uma dama orgulhosa e
exclusivista que jamais se vos entregará, a não ser que a procureis tão só por
causa dela mesma.
Às
vezes ouvimos falar de resultados obtidos em meio de muitos fracassos. Sempre
ouvimos falar mais de sucessos do que de fracassos, que, no entanto, excedem de
muito aos primeiros. Os sucessos são reais, porém poucos, e podem ser atribuídos
aos poderes da parte superior da mente, o chamado Superconsciente. São
conseguidos pelos poderes da Mente Superior.
A não ser que as pessoas compreendam que
estão tratando com os poderes latentes, mas pouco conhecidos da mente humana, e
não com os poderes do Eu divino, não passarão de simples cegos condutores de
cegos. E o trato com tais poderes mentais
demanda cautela, para não cair na magia negra e hipnotismo. Muitos de tais
cultos estão praticando inconscientemente magia negra. É fácil empregar o
magnetismo, influenciar outras pessoas, mas há sempre um preço, uma penalidade
a pagar.
Quando, por alguma modalidade de forte
concentração ou auto absorção, tendes acesso à Supermente planetária, e partilhais
temporariamente de seus poderes, nesse momento de partilha podeis fazer
milagres; milagres que podem ser materiais, ou também mentais, porém jamais
serão mais que mentais, nunca serão espirituais.
Coisa similar se dá com referência às
chamadas demonstrações de prosperidade. Isso é feito de maneira semelhante pela
concentração da mente no dinheiro. Se puderdes concentrar-vos intensa e demoradamente,
se o fizerdes com vossa auto absorção na Supermente, às vezes obtereis
dinheiro. Obtê-lo-eis porque estais demonstrando certo poder mental. Mas se
tentar fazer estas coisas à revelia de vossa própria sabedoria estais correndo
certos riscos, e os riscos nunca são de desejar. Podeis obter pela concentração
o que procurais, mas podeis juntamente com isso obter outras coisas que não
procuráveis. Podeis obter a demonstração da perfeita saúde e morrer logo no dia
seguinte. Não digo que isso vos acontecerá, mas afirmo que se desejais tratar
com poderes que não compreendeis, procurai compreendê-los antes de tentar usá-los.
E não vos enganeis a vós próprios supondo que estais usando poderes
espirituais. São puramente mentais, não espirituais.
Se podeis imaginar a Supermente como um
grande oceano com miríades de braços, cada um representando uma mente humana
individual, estais a caminho de compreender a origem dos fenômenos ocultos e o
princípio da telepatia. Muito ouvimos falar de poderes ocultos. Há pessoas que
supõem que o desenvolvimento desses poderes ou é um complemento necessário da
busca ou é em si desejável. Os poderes ocultos nada têm a ver com nossa busca.
Na busca do Super-eu não devemos deter-nos na rota. Todos os poderes ocultos
são inerentes ao plano da mente. São
fenômenos dentro da região da Supermente planetária. Se obtiverdes acesso às
regiões da Supermente, obtereis acesso aos poderes ocultos.
Mas a Supermente não é o Super-eu. É um plano
inferior. Se pretendeis permanecer dentro da região da Supermente, nunca
atingireis o Super-eu. Que quereis? Quereis o reino do céu? Então deveis
prosseguir. Deveis pôr de lado a Supermente e com ela os poderes ocultos.
Aprendei a penetrar naquela porta estreita onde tudo é deixado atrás: posses
materiais e posses mentais.
Se vos
apegais a poderes ocultos, nunca podereis atravessar a porta que leva ao reino
do céu. Esses poderes não interessam à nossa busca do Super-eu. Algumas pessoas
desperdiçam seu tempo e energia na perquirição destes poderes; porém são
pouquíssimas que conseguem obtê-los. No entanto, se o conseguem, farão alto em
sua busca espiritual. E ficarão marcando passo até desistirem de sua
perquirição de fenômenos ocultos. É fácil compreender quantos cultos surgem
acompanhando líderes já detidos em vários pontos ao longo do caminho de sua
busca da verdade.
Sim, é perfeitamente possível curar. O poder
da Supermente é tal que pode salvar-nos das garras da morte, onde os médicos
desistiram desesperados. Mais de uma vez vi este poder salutarmente exercido.
Mas o segredo é que ele operou através de um canal humano que deliberada e
egoisticamente não se pôs a curar, e consequentemente a cura foi certa e
permanente.
A cura mental só se justifica quando cria uma
visão superior no paciente, quando lhe dá a compreensão de que ele não é o
corpo, mas algo não material.
Jesus prometeu que todas as demais coisas vos
seriam acrescentadas, se buscásseis o reino do céu. Vede assim que existe um
caminho superior para obter demonstrações, um caminho superior que requer que
busqueis o reino do céu. E se quereis encontrar esse reino, tendes de renunciar
a vosso ego pessoal, e se renunciai a vosso ego pessoal, renunciai ao desejo de
coisas materiais. Tereis certas necessidades materiais, mas então as confiareis
a vosso Pai no céu e Ele cuidará delas. Mas se concebeis que sois mais sábio
que vosso Pai e tentai ditar ao Pai por meio da concentração mental, então ele
vos deixa a sós, para que descubrais as coisas por meio de vossas próprias
experiências.
Tendes o caminho de Jesus e tendes o caminho
desses cultos; são dois caminhos diferentes. E ainda que os cultos usem o nome
de Jesus e pretendam que O estão seguindo, não são a mesma coisa. Os caminhos
são diferentes. Certas demonstrações materiais são possíveis através de ambos
os caminhos, mas outras não o são por nenhum. A última palavra pertence a Deus
e não a nós. Mas o primeiro é o caminho da submissão da vontade do eu pessoal,
e, portanto, sempre traz a paz e fortaleza internas para enfrentarmos as
dificuldades, quer isso importe ou não em atrair boa fortuna ou saúde. O
segundo é o caminho do uso do eu
pessoal para satisfazer desejos pessoais; e sempre traz inquietude e incertezas
mentais com as quais enfrentamos as dificuldades. O primeiro caminho é divino e
certo; o segundo é egoísta e errado.
Quanto ao fato de que estes postulados se
baseiam no princípio de que o pensamento concentrado tende a tornar-se criador
no plano objetivo, é exato. Não obstante, tal ensinamento não é certo para o
pensamento de noventa e cinco por cento das pessoas que o estudam, simplesmente
porque os seus pensamentos não são suficientemente poderosos para tornarem-se
rapidamente criadores. Esta doutrina é certa somente para o adepto, cujos
pensamentos estão cheios do poder criador da mente cósmica. Dai, só os
seguidores desses cultos que hajam praticado a yoga até um grau bastante
adiantado e atraído este poder universal, podem começar a materializar seus
pensamento.
Se um adepto possui poderes mágicos é porque
ele tem se concentrado neles e os procurado, não apenas nesta existência, mas
também em anteriores. Esta foi sua linha de desenvolvimento, e assim, quando
finalmente atingiu a meta, estes poderes lhe foram acessíveis, porque os tinha
procurado, e a integração da Verdade lhe veio como um prêmio. Se ele tivesse procurado
somente a Verdade, então não teria tido estes poderes, porém não seria menos
adepto, porque sua consciência seria real e eterna. Para ele o mundo físico,
por onipresente que parecesse, não constituiria a realidade, mas antes, teria o
valor de um sonho.
O adepto dotado de poderes ocultos os encara
como poderes do sonho. Para ele, estes poderes não têm grande importância,
porque para exercê-los ele tem de descer de sua mais elevada consciência. É para
ele uma forma de autosacrifício o emprego da cura ou poderes ocultos, porque
não pertencem ao plano do espírito eterno; pertencem ao plano da mente, que é
inferior.
Vaidade é a primeira das armadilhas à espera
da pessoa com poderes ocultos semidesenvolvidos. O sobrenatural é meramente o
natural mal compreendido. Cada mente finita é apenas um remoinho, um vórtice,
na Supermente infinita. Em realidade não tem nenhuma existência separada e
distinta, em substância, mas assemelha-se à cava de uma onda no oceano, do qual
difere apenas na forma. Em tempo algum esteve separada da Supermente.
Portanto, não cometais o erro comum de
esperar maravilhas ocultas de um adepto, ou ficareis decepcionados. Ele utilizará
estes poderes ocultos sempre que achar conveniente, porém não de outra maneira.
Há uma coisa que devemos lembrar-nos: o homem que encontrou o espírito divino
também encontrou a fonte de todos os poderes, inclusos os ocultos. Os próprios
poderes mágicos são expressões menores dos poderes superiores do Super-eu,
porque, finalmente, existe apenas um poder e uma força em todo o Universo, como
existe apenas uma mente. À medida que esta força desce e se condensa, ela se
divide em forças inferiores, e estas ainda em expressões mais tênues e nas
várias forças e energias que conhecemos.
Um adepto pode, por exemplo, não ter
desenvolvido o poder de curar. Ele pode ter trabalhado pelo poder do Super-eu,
que é o maior do mundo. Com esse poder ele pode obrar os maiores milagres,
muito maiores do que os executados por um ocultista. O maior milagre que um
adepto pode efetuar é ajudar os outros a uma mudança de consciência, pois isso
os auxilia a despertar-se da ilusão para a verdade. Não obstante, é tal o poder
do Super-eu, que está na base de todas as coisas, que ele pode a todos os
momentos operar, e opera, os mais surpreendentes milagres, através do
instrumento do Super-eu, por certo. Aqueles que têm aparecido neste mundo e
operado maravilhas e milagres, geralmente não foram adeptos no melhor sentido.
Não encontraram a vida eterna. Se desejam tornar-se verdadeiros adeptos, se desejam
tornar-se tal qual foi Jesus, então só lhes resta um passo a dar, o qual
consiste em renunciarem a seus poderes e colocarem-se no caminho mais elevado.
Tais poderes se tornam uma pedra de tropeço
quando começam a procurar algo superior. Seus poderes são ainda mentais, e para
procurar o plano do espírito, os buscadores devem transcender o plano da mente.
Ganho o espírito, tais homens, se transcenderem a mente e renunciarem aos
poderes, terão mais tarde estes poderes restituídos. O Super-eu então os
utiliza para realizar feitos milagrosos, de sorte que não haja mais nenhum
motivo egoísta. Os poderes serão utilizados apenas como uma expressão da
vontade do Super-eu, não do eu pessoal, que causa todas as diferenças no mundo.
Há um grande mistério relacionado com a
consciência espiritual, um mistério que os ocidentais acham muito difícil de
compreender, e esse jaz na submissão do ego, ou, como referiu Jesus, na “perda
de sua própria vida”. Quando submeteis vosso ego e atingis a verdade, não mais
atuais, mas atuam em vós; não mais falais, mas falam por vós. Isto significa
que o Super-eu encontrou neste mundo material um foco e um canal que antes não
teve. Este é o milagre. Está na base de todas as coisas; interpenetra todo o
espaço.
O observador de fora via milagres efetuados
por Jesus, e ainda assim cuidava que Jesus deliberadamente queria que
acontecesse determinada coisa. Jesus nada queria, mas deixava-Se ser
intermediário do querer. O Super-eu, que é o único espírito presente tanto nos
outros quanto em Jesus, sabendo perfeitamente o que deve ser feito, o que deve
ser servido, quis naqueles momentos que estes milagres fossem feitos, e os fez.
Segui o caminho que Jesus nos ensinou, que é
o da submissão do ego. Vosso Pai sabe o de que necessitais. Ele vos pôs neste
mundo. Se o sabeis, seguramente Ele também o sabe. Segui esta busca sem receio,
pois nada tendes a temer. Confiaste toda a vossa vida a Deus. Fizeste isto, não
por ato de fé apenas, mas também por comunhão consciente. O fardo que a maioria
dos mortais carrega sobre suas mentes e dentro de seus corações, foi alijado de
vós. Daqui em diante viveis como um homem ou mulher inspirado, atento aos
ditames do Cristo Interno.
Quando houverdes encontrado o reino, somente
então podereis ter saúde, fortuna, amor, poderes ocultos, se for vosso destino
tê-los. Podereis apanhá-los sem o menor esforço. Só então vos é justo
possuí-los. Estarão perfeitamente seguros em vossa posse, porque os
conservareis em seu lugar. Eles desempenharão um papel secundário e subalterno
em vossa vida, quando tiverdes terminado a busca. Mas até então não os
procureis por meios supranormais. É mais sábio não fazê-lo.
Confiai no Super-eu. Submetei-vos a ele e
achareis alívio. Tereis perdido vosso eu enfardado, e o que quer que venha,
mesmo a morte, vós o aceitarei. Pois conhecer vosso Super-eu é a razão interna
de vossa existência. Pelo sofrimento até coisas belas vos serão mostradas. Algo
do espírito eterno virá até vós.
Fonte:
A Realidade Interna, por Paul Brunton.
Editora
Pensamento.
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