“Compreensão
é possível a qualquer momento em que a consciência esteja presente e ativa.
Ainda, para realmente entendermos algo devemos estar habilitados a percebe-lo
inteiramente. Assim, a fim de
percebermos inteiramente as causas do sofrimento – que são os desejos e impulsos
em nossa mente – necessário ver as causas onde elas residem – e que não estão
no mundo físico – mas nos mundos internos, dentro de nós. Eis porque na meditação precisarmos deixar o
corpo para trás de modo que a consciência consiga entrar naqueles mundos para
ver referidas causas face a face.”
Nessa tradição estudamos as escrituras das
grandes religiões; estudamos tudo das ciências, as artes e as filosofias. Em
síntese: estudamos toda uma abrangência do conhecimento que a humanidade tem
desenvolvido no curso dos séculos. Entretanto o tudo desse estudo, o
conhecimento e a informação, tornam-se inúteis se não formos capazes de
aplica-los na prática e produzirmos profundas mudanças em nossas vidas pessoais
– agora! Não há valor em obter-se uma educação se permanecermos os mesmos. O
conhecimento deve ser capaz de produzir mudança, caso contrário é uma completa
perda de tempo.
Em nossa abordagem para meditação isso é especialmente
significativo porque os estudos da meditação são muito sutis e muito difíceis
de entender com o intelecto. Eis porque é comum ficarmos confusos com as
filosofias e teorias da meditação. É fácil estarmos enredados em debates entre
escolas e grupos, nos tornarmos associados a um grupo ou tradição contra outro,
nos perdermos dentro de um labirinto de ideias competitivas sobre meditação.
Para o estudante sério que pensa em reais
mudanças na sua vida torna-se necessário dar um corte na emaranhada massa de
teorias, filosofias, tradições e ideias a fim de encontrar aquilo que realmente
resulte em mudança. O propósito de estudar meditação é a mudança; então devemos
basear nossos estudos e práticas nesse fundamento e somente nesse. Estamos
mudando? Essa questão não pode permanecer em teoria nem em filosofia. Precisa
ser respondida com fatos observáveis e passíveis de provas.
MUDANÇA
Trocar teorias ou crenças não conduz para a
mudança real. Mudar nossa religião ou nossas roupas, nosso corte de cabelos ou
a dieta... não traduz a mudança real. Isso é superficial. Necessitamos de
mudança verdadeira, profunda, permanente e interior. Necessitamos mudar nossa
mente de forma consistente para melhor.
Para mensurarmos e confirmarmos a genuína e
duradoura mudança, nossa atenção precisa estar focada em fatos do que seja
observável em nossa mente, coração, corpo e no comportamento. A mudança real é
mensurada por quem está dentro dela.
Nossa cultura moderna insiste em que o bem
estar material traz felicidade, ainda que o rico seja tão miserável quanto o
pobre. O rico simplesmente tem mais dinheiro para gastar em operações
plásticas, vaidades, egoísmos, etc. As circunstâncias externas de sua vida
também não o incentivam a nada mudar do
básico de seu sofrimento. Ele ainda fica doente, sofre na velhice e morre
solitário. Sofre pela perda de seus amados e de suas posses.
Inclinamo-nos a mensurar nossa vida por
circunstâncias externas: aparência, idade, posses materiais, casa, família,
amigos, ainda que nada dessas coisas seja confiável para uma perfeita indicação
de valores. Não nos damos conta de que as circunstâncias da vida constantemente
mudam e estão sujeitas a forças além de nosso controle. Mudanças em nossas
circunstâncias externas não são paradigmas próprios para nosso status
espiritual.
A realização de nosso sucesso na
espiritualidade vai depender da qualidade de nossa mente, da qualidade do nosso
coração e em como respondemos às circunstâncias da vida.
Todos admiramos o pobre que a despeito de sua
pobreza é feliz, contente, amigável, paciente. Suas atitudes e a qualidade de
sua mente foram suas escolhas e dão-lhe força, não importando suas
circunstâncias externas. Assim ao invés de exatamente admirarmos essa atitude
por que não adotá-la e fazê-la parte de nós?
É possível termos felicidade, paz e alegria.
Os grandes mestres nos têm mostrado que isso é possível. Não é essa a mudança
que queremos? Esse tipo de mudança resulta da mudança interior, não exterior.
Todas as coisas em existência são como são
por motivos de leis. Se desejarmos a mudança real precisamos aprender sobre
aquelas leis e trabalhar com elas. Eis porque estamos a estudar os fatos de
nossas vidas, a buscarmos como aquelas leis estão em movimento em nós. A
principal daquelas leis dentre todas é a lei de causa e efeito. Hoje estaremos
estudando como causa e efeito são postos em movimento e como leis adicionais
direcionam as causas para seus efeitos. Assim aprenderemos como produzir causas
e guia-las para os efeitos que queiramos.
Para fazermos isso sucessivamente, primeiro
temos de compreender que não vemos a realidade, conforme debatida em anterior
palestra. Ao começarmos verificar as aparências do passado a fim de entendermos
as forças que estejam efetivamente em operações chegamos a conclusão de que
essa mudança em nosso comportamento interior altera nossas circunstâncias
externas. Sim: sempre as tivemos lá atrás.
Enganosamente pensávamos que se mudássemos
nossas circunstâncias externas seríamos então alegres e felizes. Esta ideia
está errada. A felicidade interior não nos vem de circunstâncias externas.
Aqueles que buscam alegria e felicidade nas coisas exteriores – em pessoas,
lugares, posses, status – estarão sempre e inevitavelmente desapontados
A verdade é que, se em primeiro lugar
mudarmos interiormente então encontraremos não só a real e duradoura felicidade
– que não depende de impermanência nem de não confiáveis circunstâncias
externas – mas também mudança nas circunstâncias exteriores. Tudo o que está
acontecendo em nossas vidas é simplesmente um reflexo da qualidade de nossa
mente.
Pessoas passam suas vidas tentando mudar as
circunstâncias externas e morrem tendo falhado. Não importa o que adquiram ou
quão imensas sejam as circunstâncias externas de suas vidas: tudo aquilo
perde-se na morte, porém elas, pessoas, levam consigo a qualidade do ser. Se
vivermos apegados às posses e às pessoas, continuaremos daquela mesma maneira
após a morte; então nunca encontraremos alegria e felicidade. Ao estudarmos os
grandes empreendedores espirituais vemo-los não mudando suas circunstâncias
externas, mas mudando suas circunstâncias internas. Pelas mudanças internas de
suas mentes e de suas psiques, suas circunstâncias externas também mudaram.
Assim podemos nos inquirir para sabermos como
responder: que é mudança? Genuína, profunda, a mudança duradoura tem três
características ou três aspectos: alguma coisa morre, alguma coisa nasce e
alguma coisa é sacrificada. Quando a mudança é profunda não somente vemos esses
três aspectos, mas também às consequências que mudam fundamentalmente tudo em
redor. Para entendermos a mudança precisamos entender esses fatores e o
ambiente no interior do qual eles ocorrem.
MUDANÇA
EM NÍVEIS
Estudamos a Árvore da Vida por que nos ajuda
a entendermos as leis da natureza. Um fato significativo que a Árvore
representa é que a mudança flui do sutil ao denso. Para criarmos algo
primeiramente temos a inspiração, a ideia, daí o plano, o processo do custo, a
montagem de tudo até que finalmente aquilo se torne uma realidade no mundo. A
natureza existe de modo parecido: antes de qualquer coisa acontecer no mundo
físico, acontece no sutil, nos mundos internos. Eis porque nossos sonhos podem
nos revelar o que acontecerá em futuro. Em sonhos podemos ver o que está em
formação; por eventual a formação pode aparecer fisicamente.
Podemos usar esse conhecimento para nos
ajudar a mudar. Se queremos mudar nossa vida física então precisamos mudar
interiormente.
Segue-se que se nosso conhecimento e
entendimento são profundos, mais interiores, então podemos esperar que a
mudança seja bem maior. Ou seja: o entendimento de algo no mundo denso não é
difícil, visto requerer somente observação pelos sentidos físicos. Ademais esse
nível do conhecimento pode somente conduzir a alguma coisa superficial. Isso
comparado com o conhecimento interior de energia, emoção, mente ou vontade...
que quanto mais profundo mais poderoso será e por isso mais consegue mudar
situações em níveis abaixo.
Ao compreendermos algo em nível emocional
isso tem poder para nos mudar profundamente. Porém ao compreendermos na
consciência, em nossa força de vontade, isso é muito mais profundo e muito mais
poderoso que na emoção. Mais profundo ainda é compreendermos algo em níveis
mais elevados na Árvore da Vida dentro de nós.
A Árvore da Vida é um mapa do universo
exterior (nossas circunstâncias externas), porém, mais profundamente é nossa
reflexão interior. O principal valor da Árvore da Vida está circunscrito ao que
ela reflete de nossas circunstâncias internas.
O Oráculo de Delpho disse:
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o
universo e os deuses”.
O ponto é: não olhemos para fora a fim de resolvermos
os anseios que temos interiormente. Não busquemos lá fora por fenômenos
externos na tentativa de manobrarmos com nossos fenômenos internos. A dor que
temos, o vazio, a dúvida, o medo, o ódio – todas essas coisas de nosso íntimo –
não podem ser resolvidas através de qualquer influência externa. Elas somente
podem ser resolvidas com nosso labor interior diretamente nelas. Eis o motivo
de aprendermos a meditar.
Meditação é a ciência da compreensão
de nós mesmos, de modo a assim compreendermos também “o universo e seus
deuses”.
Quando realmente compreendemos a realidade,
mudanças acontecem. Com a real compreensão as ilusões morrem, o conhecimento
nasce e nossa antiga via do ser é sacrificada. Eis porque elevamos nosso nível
do ser. O oposto existe quanto mais baixamos esse nível do ser, pois ao falharmos
na compreensão da realidade agimos enganosamente e os três fatores, nascimento,
morte e sacrifício resultam em profundo sofrimento.
COMPREENSÃO
Unicamente olhando-nos e nos estudando não é
o suficiente. Necessitamos adquirir entendimento, compreensão a fim de
conscientemente conhecermos a nós próprios. Já nos olhamos constantemente;
somos fascinados por nós próprios. Somos verdadeiros narcisistas; sempre
olhando nosso próprio reflexo, sentindo nossa dor, prazer, orgulho, vergonha.
Assim continuamos a sofrer prosseguindo na profunda ignorância da realidade
pois, definitivamente, somente a nos olharmos não é o suficiente para
produzirmos mudança.
O que produz mudança real e positiva é
entendimento e compreensão – em outras palavras: real conhecimento. Eis porque Sri
Shankaracharya em seus escritos Atma Bodha (sobre o que demos um curso alguns
anos atrás) disse que o conhecimento por si só conduz à libertação. Nada mais,
unicamente autoconhecimento.
Essa é a única coisa que pode conduzir à
libertação. Nem Deus, a divindade, a igreja, a religião, o mestre, o livro,
nada externamente a nós pode dar-nos a libertação do sofrimento, uma vez que o
sofrimento está no íntimo. Unicamente pelo conhecimento do que são as causas
podemos nos tornar livres delas. Esse tipo de conhecimento, autoconhecimento,
só emerge através da compreensão. Possamos ter reunido um montante de fatos,
mas se não os compreendermos não podemos resolver o enigma.
Reunir fatos é bom. Necessário porém nos
observarmos, nos estudarmos e aprendermos de nós próprios reconhecendo acerca
de nós, que entretanto ainda não é o suficiente. Necessitamos compreender,
entender. A palavra compreensão é muito precisa e científica. Usamo-la numa
forma bem específica para traduzir conhecimento consciente, pela alma, por
nossa essência. Compreensão não tem nada a ver com intelecto, memória, crenças
ou tradições. Não tem nada a ver com o que temos estudado ou alguém mais nos
tenha dito. Isso é informação intelectual e não compreensão. Lermos um monte de
livros é um excelente exercício intelectual. Irmos a muitas palestras e aulas é
também bom, mas é intelecto e não compreensão.
Por compreensão entendemos o conhecimento
adquirido pela consciência. Conhecimento que é parte de uma alma, parte de
nossa essência. Compreensão é a parte do conhecimento que não se apaga ao
morrermos. O tipo do conhecimento que temos quando nascemos é uma parte de nós.
É um conhecimento que não tem um pensamento: é exatamente o que é.
Não podemos adquirir compreensão simplesmente
através de leituras de livros ou frequentando palestras; possamos ler todas as
escrituras e tratados científicos do planeta, memoriza-los a todos, e ainda
assim não termos sua compreensão. Observemos quantas das chamadas pessoas
educadas conhecemos e apesar daquelas suas condições permanecem incrivelmente
estúpidas, capazes dos mais terríveis crimes contra elas próprias e ao próximo.
Educação, memorização, imitação não significam nada se não temos compreensão.
Por outro lado, uma pessoa que nunca tenha
lido nada, sendo completamente iletrada, pode incrivelmente ter entendimento,
compreensão, sabedoria que são conhecimentos intuitivos e conscientes da
realidade. Qualquer um de nós pode adquirir compreensão; não é assunto da educação,
mas de estarmos usando a consciência na direção certa.
Compreensão
é um tipo de conhecimento, um tipo de entendimento que desenvolvemos ao
aprendermos a usar a consciência, a entender a realidade. Ainda, compreensão
combinada com educação é muito mais poderosa. Principalmente com ambas,
educação e entendimento, necessitamos nos focalizar em fatos. Quando observamos
os fatos e os compreendemos mudamos profundamente.
Alguém que haja ouvido sobre o sofrimento da
guerra traz o fato a nível bem diferente daquele que o tenha experienciado
pessoalmente. Eis a diferença: se por um lado estão nossas ideias, teorias,
crenças sobre algo, por outro lado estão a compreensão, o entendimento da
experiência vivida e a observação da realidade.
Necessário compreendermos a nós próprios se
quisermos mudar profundamente. Se quisermos que nossa vida seja cheia de amor,
paz, alegria, altruísmo e entendimento, precisamos então lograr êxito em
situações de ódio, inveja, egoísmo, luxúria, dor, etc., daí, primeiramente
precisarmos compreender aqueles defeitos. O que realmente significa compreender
algo? Analisemos um pouco.
Todos sabemos que ingestão de álcool é algo
ruim para a saúde. Ainda assim observemos quantas pessoas bebem álcool!
Igualmente todos sabemos que é ruim mentir, fofocar, fraudar, roubar e ainda
assim desempenhamos cada uma dessas reprováveis ações. Desse modo termos a
ideia de que algo seja ruim não é a mesma coisa que a compreendermos.
Se nos sentarmos a beira do leito de uma
pessoa que esteja morrendo de uma doença causada pelo álcool e conscientemente
testemunharmos seu sofrimento, compreenderemos a realidade do álcool. Então
iremos parar de beber.
Quando somos roubados, nosso lar foi
quebrado, nossas coisas pessoais foram levadas ou destruídas e se
conscientemente observamos nossa dor compreenderemos como o roubo causa
sofrimento. Assim pensaremos duas vezes se estivermos tentados a roubar.
Entretanto, se alguém que não compreenda quiser “vingança” ou “o que lhe seja
devido” e venha roubar de outros a fim de “obter o que merece”, naturalmente
isso somente lhe causará mais sofrimentos.
Comparativamente, se somos pegos a mentir e
sentirmos conscientemente como nossas mentiras ferem a outros, então
resolveremos contar verdades. Desse modo teremos compreendido que a mentira
causa a dor. É neste caminho, pela experiência e consciente observância, que
adquirimos compreensão.
Ainda....é possível adquirirmos a compreensão
sem termos sofrido a experiência através daquelas situações. Não temos de morrer de
envenenamento por álcool para compreendermos o perigo daquilo; ao invés é
somente necessário que nos tornermos suficientemente cônscios da realidade do
álcool. Tornarmo-nos cônscios de uma realidade como esta é estarmos de tal
forma aclarados sobre ela que não teremos a tentação de beber. Pois mesmo que fôssemos cercados por todas as mais caras e inacreditáveis bebidas alcoólicas
que existam não nos sentiríamos tentados a beber. Porém se sentirmos tentação é
devida a não compreendermos: logo temos ainda desejo.
Através da meditação, pela ativação da
consciência e observando os fatos de nossas vidas podemos adquirir profunda
compreensão da verdade. E vendo-nos dentro das dificuldades e problemas em
nossas vidas, compreendendo-as como se originaram, subsequentemente saberemos
como muda-las. Esse é o valor da compreensão que nos mostra como nos elevarmos
do sofrimento.
Ademais, verdadeiramente, tendo uma vez compreendido
algo, aquele conhecimento permanece conosco. Não pode ser retirado de nós.
Quando descobrimos que uma pessoa de nossa amizade nos vem mentindo por um
longo tempo ou fez algo realmente horrível, então tudo muda. Nunca mais
voltamos a vê-la do mesmo modo de antes. Isso é semelhante com o que acontece
com a compreensão: quando vermos que os comportamentos e qualidades de que tínhamos confiança por um longo período de vida foram na verdade as causas de
nosso sofrimento, nunca mais os olharemos como antes, mesmo que queiramos. A
compreensão nos muda.
COMO A
COMPREENSÃO DESPERTA
Contudo podemos ver que a compreensão não
desperta acidentalmente nem nos chega por um presente dos deuses. Ela está
sujeita às leis. Assim, querendo compreender fundamentalmente a realidade de
nossas vidas necessitamos trabalhar com aquelas leis.
Primeiramente a compreensão é um resultado da
lei de causa e efeito. Uma vez seja a compreensão uma função da consciência
torna-se impossível termos compreensão se a consciência permanecer inativa,
adormecida. Como resultado o primeiro passo é colocar a consciência em ativo
estado de atenção momento a momento. É isso que por todo o curso tem sido o
encorajamento para que façam: estar acordados momento a momento. Estar aqui e
agora. Observem os fatos com total consciência do que estejam fazendo a cada
momento.
Se a consciência estiver ativa observando os
fatos então aquela causa é capaz de produzir o resultado do entendimento, da
compreensão. Pode soar-nos bastante simples e lógico agora, e não
decepcionante, mas não estará acontecendo a menos que estejamos treinando para
isso.
Estamos adormecidos e fascinados pelas
ilusões. Não estamos despertos e vendo a realidade. Então por primeiro temos de
nos treinar a estarmos acordados e a romper com as ilusões onde nossa mente
esteja constantemente navegando.
No geral já temos estudado o processo
essencial que conduz à compreensão, qual seja:
Ética: pela adoção de ações benéficas,
evitando ações nocivas e nos sacrificando por outros a consciência estará
estabilizada, calma, serena.
Samadhi: conquanto serena, a consciência
consegue escapar de condições a que esteja presa; então estará livre para
experienciar sua verdadeira natureza.
Prajna: tendo agora clara percepção podemos
ver o que seja real e compreensível.
A palavra prajna literalmente significa
“conhecimento além”. Isso descreve o conhecimento que está além do “pequeno
conhecimento” (jnana) que temos em nosso intelecto. Prajna é conhecimento
consciente, compreensão, aquilo que reside na verdadeira essência de nossa
consciência; sendo o conhecimento que retemos mesmo depois da morte. Prajna
também indica conhecimento do além, conhecimento das dimensões além do mundo
físico, mas especialmente conhecimento do Absoluto, o Vazio, o fundamento.
Para nosso objetivo hoje, prajna é
conhecimento da realidade que não está filtrado de qualquer coisa terrena.
Conforme já explanado, para adquirir prajna necessitamos do samadhi e para
adquirir samadhi necessitamos ética (sila). Coloquemos esta estrutura em
palavras comuns:
1. Da base do comportamento ético
(internamente e externamente) estabelecemos o estágio para a real meditação.
Ética permite ao corpo e mente relaxar e concentrar.
2. Através da meditação livramos a
consciência de todos os fatores condicionantes: corpo, energia, emoção,
pensamento, etc. Quando a consciência estiver liberta ela espontaneamente
experiencia sua verdadeira natureza, que é felicidade (samadhi).
3. Nesse estado, pela percepção de qualquer
coisa acontecendo, é possível vermos a verdade daquilo, entendendo-a. Esse
procedimento é prajna, compreensão.
Contudo precisa ser bem entendido que a
consciência começa a compreender no momento em que esteja ativa. Quando estamos
nos observando conscientemente estamos em posição de entender o que percebemos
e esse entendimento é compreensão. Entretanto ao nosso nível as coisas estão
filtradas, influenciadas pela presença de todos os fatores condicionantes:
fisicalidade, personalidade, emoções, envolvimentos, etc.
Compreensão
é possível a qualquer momento em que a consciência esteja presente e ativa.
Ainda, para realmente entendermos algo devemos estar habilitados a percebe-lo
inteiramente. Assim, a fim de
percebemos inteiramente as causas do sofrimento – que são os desejos e impulsos
em nossa mente – necessário ver as causas onde elas residem – e que não estão
no mundo físico – mas nos mundos internos, dentro de nós. Eis porque na meditação precisarmos deixar o
corpo para trás de modo que a consciência consiga entrar naqueles mundos para
ver referidas causas face a face.
A libertação do sofrimento é somente possível
através da compreensão das suas causas. Contudo para adquirir aquela
compreensão devemos nos tornar muito habilidosos com a meditação. E para nos
tornar muito habilidosos com a meditação necessitamos de muito boa ética.
Tendo estabelecido causas e condições – ética
e meditação – como a compreensão surge? Surge pela ação da consciência.
O intelecto sozinho não pode trazer
compreensão. A emoção sozinha não pode trazer compreensão. Os sentidos físicos
não podem trazer compreensão. Cada um deles pode participar e prover-nos com
seu próprio ponto de vista, mas compreensão é uma manifestação da consciência.
Sem dúvida. Uma vez que nosso intelecto, emoção e fisicalidade são tão
corrompidos é mais que provável de virem interferir na compreensão ou mesmo impedi-la inteiramente. Eis porque é melhor meditar sem a interferência do
intelecto, emoção ou sensação física.
Em todos os níveis, sejam em nossa vida
diária ou durante a meditação, o que nos traz compreensão é a consciência:
aquele senso em nosso coração que conhece o certo do errado, que conhece como
agirmos mesmo que não possa explicar o porquê. A consciência está conectada com
a divindade em nós e se aprendermos ouví-la ela nos conduzirá para fora do
sofrimento. Nosso problema reside em que não escutamos a nossa consciência. Ao
invés escutamos aos nossos desejos.
Nossa consciência sabe que não devemos trair
a esposa, mas nosso desejo quer sexo e atenção e quando encontramos isso os
desejos abafam a voz da consciência. Não a ouvimos. E quando a tempestade do
desejo se acalma, novamente submergimos pela culpa e temos que manobrar com a
consequência de nosso adultério. Sofremos e causamos sofrimento a outros. Se
tivéssemos ouvido nossa consciência teríamos evitado tudo aquilo.
A consciência é uma pequena centelha da
inteligência que não raciocina nem sucumbe pela emoção ou sensação. É uma
observadora, uma conhecedora e uma arauta do conhecimento. Ela expressa a
vontade da divindade. Expressa o caminho para a libertação. Ela conhece o
caminho para fora da escuridão. Simplesmente precisamos aprender como ouvi-la.
A meditação é o caminho do aprendizado.
Através da meditação, silenciando corpo,
mente e emoção ativamos a consciência e sustentamos sua atividade. Nesse estado
de ativa observação a consciência consegue ser ouvida claramente. Onde? No
coração. Não como emoção, mas como intuição.
A consciência é o embrião ou semente da
intuição. Conforme libertamos a consciência do condicionamento ela se expande
tornando-se um sentido muito poderoso que percebe e entende muito além da
mente, emoção ou corpo. Daí, ao acessarmos o estado de meditação aquietando corpo,
mente e emoção e colocando qualquer coisa diante da consciência – uma imagem,
um problema, uma memória – a intuição pode então penetrar naquela coisa a fim
de entende-la. É desse modo que adquirimos compreensão e entendimento. A mente
não pode fazer isso. A emoção não pode fazer isso. O corpo não pode fazer isso.
Somente a consciência pode.
Assim é necessário aprender a pormos a consciência
em ativo estado o tempo inteiro. Para isso ocorrer a consciência deve ser única
no comando de tudo dentro de nós, ou seja: devemos usar o intelecto
conscientemente, devemos usar a emoção conscientemente e o corpo
conscientemente. Devemos usar os sentidos conscientemente. Isso significa o dia
inteiro, a noite inteira, em todas as ações.
Com essa dinâmica rapidamente expandimos a
consciência e fortalecemos sua presença. Ficamos então acostumados com o
sentido da consciência (intuição) que sabe o que fazer e quando. E eventualmente
dessa dinâmica a compreensão emerge.
A compreensão emerge naturalmente, não pode
ser forçada. Ela não responde à demanda, à intensificação ou à violência. Ao
invés emerge como faz uma flor: naturalmente, através da nutrição e condições
apropriadas.
Quando quisermos entender um problema
observemo-lo firme e pacientemente com grande atenção e serenidade, sem especulações,
sem adivinhações, crenças ou análises; ao invés somente observemo-lo com
renovado frescor como se observássemos um nascer do sol.
Ao observarmos um nascer do sol não
precisamos intelectualizar sobre o fato, etiqueta-lo ou descreve-lo; palavras
interferem com sua beleza e obscurecem sua natural poesia. Do mesmo modo quando
quisermos compreender qualquer coisa temos de observar sem a mente ou
emoção interferindo. Quando observamos
um fenômeno desse modo – sem tentar muda-lo ou tirar algo dele – a compreensão
inevitavelmente emerge. Entretanto, se estivermos a exigir; impacientes;
frustrados; intensos, a compreensão nos fugirá.
Ademais a compreensão emergirá por si mesma
quando estiver pronta, exatamente como a flor que desabrocha em nosso jardim.
Pode não desabrochar enquanto estivermos sentados em meditação. Pode
desabrochar num sonho ou enquanto caminhamos ou trabalhamos. Pode desabrochar
quanto lemos ou lavamos. No momento em que estiver pronta a emergir surgirá
dentro de nós e subitamente compreenderemos, acariciando aquele maravilhoso
sentimento do “A-há!”.
A causa disso acontecer é a continuidade da
consciente ação em nossas atividades diárias e nas práticas da meditação. Se
estivermos sempre nos esforçando em nossa observância, e presentes, meditando
diariamente tanto quanto possamos, a dinâmica da compreensão é posta em
movimento. Tanto mais energia invistamos na continuidade da ação consciente
mais dinâmica nossa compreensão virá a ser. É física simples: ação e
consequência.
Então usemos corpo, intelecto e emoção
conscientemente, mas deixemos a consciência estar no comando.
EXERCÍCIOS
1. Diariamente aprofundar-se e expandir sua
auto-observância.
2. Diariamente praticar retrospecção
meditativa.
3. Não especular, teorizar ou intelectualizar
sobre fatos que esteja observando.
4. Anotar os fatos de seu dia em seu diário
espiritual.
Pensamento do Dia: “Se você obtiver conhecimento da luz comece por discutir a escuridão. Se
considerar a Verdade comece por discutir a falsidade, o oposto.”
M, Lord God of Truth Within
M, Lord God of Truth Within
POR UM
INSTRUTOR GNÓSTICO
Tradução Inglês / Português: Rayom Ra