domingo, 29 de janeiro de 2023

Dezembro, Quase Vinte e Cinco


  Dezembro, quase vinte e cinco,
  Ansiedade, apinhamento,
                           Sol castiga, ardência,
  Nada amaina, brisa quente,
  Prova de tormento!

  Magazines, encantamentos,
  Sinos, luzezinhas, isopor,
  Heróis, presépios, histórias,
  Símbolos que são e que vêm,
  Tento e consigo transpor!

  Comemora a emoção,
  Envolve o clima, abraça a festa,
  Sob o céu Halley cometa,
  E viagens siderais.
  Terra. Véus escuros sobre esta!

  Sinos dobrarão solenes,
  Dentro em pouco mesas fartas,
  Também fome, expiação.
  Hóstias e surdos homens,
  Poucas Marias e tantas Martas!

  Som terrível se avizinha,
  Ouço, presto atenção,
  E trombetas são ouvidas,
  Clangores! Besta dos Mares,
  Apocalipse, João!

  Velho céu, velho planeta,
  Olho, vejo, quase entendo.
  Melhor..., entendo sim,
  Atlântida, Jerusalém,
  E a matéria aqui regendo!

  O círculo que se fecha,
  O caminho que se estreita,
  O Rei sugado e deposto,
  Deus de novo crucificado,
  A morte que vem e espreita!

  Da alma a luz, da Terra a ciência.
  No tempo aspiro a tudo ver,
  Respiro, espasmo, a sombra entra,
  E o alento após se esvai,
  Conseguirei viver?

  Magnífico João!
  Novamente o profeta,
  Doze tribos, Israel,
  Cento e quarenta e quatro mil,
  De quantos mais será a meta?

  Volvo o rosto sem sentir,
  Vago assim e inda divago,
  Mesmas faces, corações,
  Morte e Vida a quem as queiram,
  Acabo, entro, compro, pago!
   
                                           Rayom Ra
 

Caos, Luz Astral, Satan, Lúcifer, Kâma-Rûpa - [H.P.B.]

CAOS [Chaos-Gr.]

  O Abismo. “A Grande Profundidade”. Foi personificado no Egito pela deusa Neïth, anterior a todos os deuses. Como disse Deveria: “o único Deus sem forma nem sexo, que dá nascimento a si mesmo e sem fecundação; é adorado sob a forma de uma Virgem-Mãe”. Ela é a Deusa de cabeça de abutre, que se encontra no mais antigo período de Abydos, pertencente, à “Primeira Dinastia, afirma Mariette Bey”, que – segundo quiseram conceder-lhe, pela confissão dos orientalistas, tão amigos do apequenar o tempo – uma antiguidade de uns sete mil anos.  Como nos disse o senhor Bonwick, em sua excelente obra acerca da crença egípcia: “Neïth, Nut, Nepte, Nuk (seus nomes são lidos de diversas maneiras) é uma concepção filosófica digna do século décimo nono da era cristã, melhor que a do trigésimo século antes desta era ou de data anterior”.

  E adita o autor mencionado: “Neïth ou Nout não é nem mais nem menos que a Grande Mãe, e apesar disto é a Virgem Imaculada ou Deus feminino de quem procede todas as coisas”. Neïth é “Pai-Mãe” das estâncias da Doutrina Secreta, o Swabhâvat dos budistas do Norte, a verdadeiramente Mãe Imaculada, o protótipo da última de todas as “Virgens”, porque como disse Sharpe, “a festa da Candelária” em honra à deusa Neïth está, não obstante, indicada em nossos almanaques com a designação do dia da Candelária ou Purificação da Virgem Maria”. E Beauregard nos fala da Imaculada Concepção da Virgem, que, como a Minerva egípcia, a misteriosa Neïth, pode desde logo vangloriar-se de haver procedido de si mesma e haver dado nascimento a Deus.

  Ao que se pretenda negar à operação dos séculos e às repetições dos sucessos, deva-se ler o que era Neïth sete mil anos atrás no conceito dos iniciados egípcios – que tratavam de popularizar uma filosofia demasiado abstrata para as massas – e recordem-se logo os pontos de controvérsias no Concílio de Éfeso, em 431, no qual Maria foi declarada Mãe de Deus, e o dogma de sua Imaculada Concepção, imposto ao mundo por mandato de Deus, pelo Papa e Concílio de 1858.

  Neïth é Swabhâvat e também a Aditi dos Vedas e o Akâza dos Puranas, uma vez que ela não é somente a abóboda celeste ou éter senão que a fazem aparecer numa árvore, da qual ela oferece o fruto da Árvore da Vida (como outra Eva) ou derrama sobre seus adoradores, a divina “Água da Vida”. Por este motivo ela adquiriu a denominação favorita de “Senhora do Sicômoro”, epíteto aplicado à outra Virgem (Bonwick).

  A semelhança resulta ainda mais notável quando em antigas pinturas se vê a Neïth representada como uma Mãe abraçando o deus de cabeça de carneiro, o “Cordeiro”. Uma antiga tábua de pedra declara que ela é Neut, a luminosa, “que engendrou aos deuses – incluindo o Sol, uma vez que Aditi é Mãe de Mârtana (Marttana), o Sol, um dos Adityas”. E é também ela Naus, a nave celestial; e aí que a encontramos na proa dos barcos egípcios, como Dido na proa das embarcações de navegantes fenícios, e temos depois a Virgem Maria, do Mar, o “Mar”, chamada “Virgem do Mar”, e a “Senhora Patrona” de todos os marítimos católico-romanos.

  O rei, Sayce, citado por Bonwick, a expõe como um princípio; em babilônico Bahu (Caos ou confusão); fato é, “nem mais nem menos que o Caos do Gênesis”... e talvez também Môt, a substância primitiva, é que foram a mãe de todos os deuses. Nabucodonosor [Nebuchadnezzar ou Nebukad-Nezar] devia estar presente na memória do ilustre professor, visto que deixou o seguinte testemunho em linguagem cuneiforme: “Eu edifiquei um templo à Grande Deusa, minha Mãe”.

  Podemos terminar com as palavras do Sr. Bonwick, com quem estamos completamente de acordo: “Ela (Neïth) é a Zeruâna de Avesta, “tempo sem limites”. Ela é Nerfe dos etruscos, “meio mulher e meio peixe” (daí a conexão da Virgem Maria como o peixe e peixes); de quem se tem dito “Graças ao santo bom Nerfe, a navegação é feliz”. Ela é Bythos dos gnósticos, o Um dos neoplatônicos, o Todo dos metafísicos alemães, e Anaita de Asiria.

LUZ ASTRAL

  A região invisível que rodeia nosso globo como a todos os demais e corresponde, como segundo “princípio” do Kosmos, ao Linga-zaríra ou Duplo Astral do homem, é uma Essência sutil, visível somente para olhos clarividentes, sendo a mais inferior, exceto um (a terra), dos sete Princípios âkázicos ou cósmicos. Eliphas Levi a denomina a Grande Serpente e o Dragão que irradiam sobre a humanidade toda a má influência. Assim é. Porém, por que não se adiciona que a Luz Astral não emite nada mais que aquilo que tenha recebido; que é o grande crisol terrestre no qual as más emanações da terra (morais e físicas) de que se nutre a Luz Astral, se tenham todas elas se convertido em sua essência mais sutil, e as devolve intensificadas, convertendo-se deste modo em causas de epidemias morais, psíquicas e físicas?

  Por último é a mesma Luz Sideral de Paracelso e de outros filósofos herméticos. Fisicamente é o éter da ciência moderna. Metafisicamente, e em seu sentido espiritual ou oculto, o éter é muito mais do que se costuma imaginar. Em física oculta e na alquimia está bem demonstrado que encerra dentro de suas ondas sem pralaya não somente a “promessa e potência de cada qualidade de vida” de Tyndall, bem como a realização da potência de cada qualidade de espírito. Os alquimistas e herméticos creem que seu éter astral, ou sideral, além das qualidades do enxofre e da Magnesita branca e roxa ou manganês, seja Anima Mundi, a oficina da Natureza e de todo o Cosmos, tanto espiritualmente quanto fisicamente.

  O “Grande Ensinamento” sustenta-se a si próprio no fenômeno do mesmerismo, na “levitação” do corpo humano e de objetos inertes, podendo chamar-se éter em seu aspecto espiritual. O nome astral é antigo e foi empregado por alguns dos neoplatônicos, se bem pretendem alguns que dita palavra a inventaram os martinistas. Porfírio descreve o corpo celeste, que está sempre unido com a alma, como imortal luminoso e radiante como um “astro”. A raiz de tal palavra pode ser encontrada, talvez, no Aist-era escítico, que significa astro ou no Istar assírio, que, segundo Burnouf, detém igual sentido (Isis Sem Véu). A Luz Astral é o mesmo que Arqueu (Archoeus), um elemento universal vivente e etéreo, mais etéreo e mais altamente organizado que o Akâza; o primeiro é universal, ao passo que o segundo é unicamente cósmico, ou seja: pertencente ao nosso sistema solar. É por sua vez um Elemento e um Poder que contém o caráter de todas as coisas.

  É o arquivo de memória do grande mundo o Macrocosmo, cujo conteúdo pode incorporar-se e reencarnar-se em formas objetivas; é o arquivo da memória do pequeno mundo, o Microcosmos, ou seja, o homem, por cujo arquivo pode recordar-se de seus casos passados, existindo uniformemente em todos os espaços interplanetários. Sem dúvida, a Luz Astral é mais densa e mais ativa em redor de certos objetos, devido a sua atividade molecular, especialmente ao redor do cérebro e medula espinhal de seres humanos, dela rodeados com se fora uma aura luminosa.

  Por meio dessa aura, que rodeia as células nervosas e tubos nervosos, pode o homem recolher impressões gravadas na aura astral do Cosmos e “ler na Luz Astral”. Constitui o meio para a transmissão do pensamento, e sem esse meio nenhum pensamento poderia ser transmitido à distância. É possível ao clarividente vê-la, e como cada pessoa tem uma aura astral própria, os que estejam dotados de dita faculdade podem ler o caráter de uma pessoa por sua Luz Astral.

  No caso de uma criança que não tenha formado nenhuma qualidade característica especial, essa aura emanante é branca como o leite. Porém no adulto há sempre esta cor fundamental e outras, como azul, verde, amarelo, roxo, roxo-escuro e ainda negro. Todo nervo vivo tem sua aura astral; todo mineral, vegetal ou animal, e toda coisa dotada de vida, bem como o corpo glorificado do espírito, resplandece com sua luz (F. Hartmann). A Luz Astral em alguns casos é sinônima de Akâza. Assim, lemos na Doutrina Secreta (II, 538):

  “O Akâza, a Luz Astral, pode ser definida em breves palavras – é a Alma Universal, a Matriz do Universo, o Mysterium Magnum do qual tudo quanto existe teve nascimento por separação ou diferenciação.” É a causa da existência; preenche todo o espaço infinito; é o mesmo Espaço, em certo sentido ou seus princípios sexto e sétimo a sua vez. Porém como o finito no Infinito, no que concerne a manifestação, esta Luz há de ter seu lado tenebroso. E como o Infinito jamais pode manifestar-se, por esta razão o mundo finito tem que se contentar com a sombra solar –cujas ações se estendem sobre a humanidade – e os homens atraem-na e forçosamente põem-na em atividade.

  Assim é que enquanto a Luz Astral é a Causa universal em sua imanifesta unidade e infinitude, vem a ser, com respeito à humanidade, simplesmente os efeitos das causas produzidas pelos homens em suas vidas pecadoras. Não são seus resplandecentes moradores – quer se chamem Espíritos de Luz ou das Trevas – aqueles que produzem o Bem ou o Mal, senão que é a própria humanidade mesma que determina a inevitável ação e reação no Grande Agente mágico.

  Desse modo, para o profano, a Luz Astral pode ser Deus e o Diabo respectivamente. Daemon est Deus inversus, ou seja: através de cada ponto do Espaço Infinito vibram as correntes magnéticas e elétricas da Natureza animada: as ondas que dão vida e dão morte; pois a morte na Terra vem a ser vida noutro plano (Doutrina Secreta, II, 538-539).

SATAN [Hebr.]

  Seguramente não há ponto algum em que se veja de modo tão manifesto a que absurdos extremos podem conduzir as errôneas interpretações de ideias e doutrinas primitivas. O Satan da teologia ocidental com todo o horror dogmático de tal ficção é filho de uma interpretação viciosa que tem desfigurado por completo um dos conceitos mais ideais e profundamente filosófico do pensamento antigo. As lendas dos “Anjos Caídos” e das “Guerras nos Céus” são de origens puramente pagãs, e procedem da Índia e da Caldéia. Tais guerras referem-se às lutas de ajustes espirituais, cósmicos e astronômicos, porém principalmente ao mistério da evolução do homem, tal como na atualidade.

  “O clero de todas as religiões dogmáticas considera Satan como “Inimigo de Deus”, “Anjo Rebelde”, “Anjo do Mal” ou ‘Espírito das Trevas”; porém uma vez que deixa de ser considerado segundo o supersticioso e antifilosófico espírito das Igrejas, Satan vem a se converter na grandiosa figura de um Personagem, que de homem terrestre faz-se um Homem Divino; que lhe dá, durante todo o dilatado ciclo do Mahakalpa, a lei do Espirito de Vida, que o livra do pecado da ignorância e, portanto, da morte [Doutrina Secreta I, 220].

  Satan era um dos “Filhos de Deus” e o mais formoso de seus arcanjos. Nos “Puranas”, o primeiro “Adversário” em forma humana é Nârada, filho de Brahmâ, e um dos maiores Richis e Yoguis, designado com o sobrenome de “Promovedor de Contendas” (Idem, II, 244). Satan é um com o Logos (II 245). O Logos é Sabedoria, entretanto, ao mesmo tempo, como adversário da ignorância, é Satan e Lúcifer. Satan é o verdadeiro criador e benfeitor; o Pai espiritual da humanidade; o Heraldo da Luz; o brilhante Lúcifer, que abriu os olhos do autômato “criado” por Jehovah e conferiu à linhagem humana a imortalidade espiritual (id. II.254).

  Conduzido pela lei do karma e da evolução eterna, o Anjo encarnou-se como homem na Terra conservando todo o saber e conhecimento divinos (II, 296). A Sabedoria Divina, caindo como um raio (cadebat ut fulgur) avivou a inteligência daqueles que lutavam contra os demônios da ignorância e da superstição. Satan pode ser considerado alegoricamente como o Bem e o sacrifício e como Deus da Sabedoria (II, 247). Não sem razão, pois, se o tem qualificado de “Adversário”, porque é como acaba por se dizer, o Deus da Sabedoria, especialmente da Sabedoria secreta, naturalmente oposta a toda ilusão mundana e efêmera, incluindo nela as religiões dogmáticas e eclesiásticas (id. II 394).

  De sorte que Satan tem existido sempre como força antagônica, tal como requerem o equilíbrio e a harmonia de todas as coisas da Natureza, do mesmo modo que se faz necessária a sombra para tornar mais brilhante a luz, e a noite para que ressalte o esplendor do dia. Deus e Satan os dois “Supremos”, são uma só e mesma entidade vista sob dois aspectos diversos (Idem I, 218 e 219).

  A Igreja, pois, a maldizer Satan, maldiz o reflexo cósmico de Deus; anatematiza a Deus, fato manifesto na Matéria e no mundo objetivo; execra Deus ou a Sabedoria sempre incompreensível, que se revela como Luz e Sombra, Bem e Mal na Natureza. Se Deus é Absoluto e Infinito e a Raiz universal de tudo quanto existe no Universo, de onde viria o Mal senão da Matriz mesma do Absoluto? Temos assim que aceitar a emanação do Bem e do Mal, do Agathodaemon e do Kakodoemon como ramos do mesmo tronco da Árvore do Ser. Do contrário temos de nos resignarmos ao absurdo de crer em dois Absolutos (Id., I. 443). Porém, bem considerado, não há realmente Mal em si; o Mal não é senão uma força cega antagônica na Natureza: é reação, oposição e contraste; mal para uns, bem para outros; não há regeneração nem reconstrução sem destruição. Se desaparecesse o Mal na Terra, com ele desapareceria o Bem.

  Uma vez explicado o significado da alegoria de Satan e sua hoste, resulta haver recusado criar o homem físico só para serem os salvadores diretos e os criadores do Homem Divino. Em lugar de um mero instrumento cego, impelido e guiado pela Lei insondável, o Anjo “rebelde” reclamou e exigiu o seu direito de vontade e juízo independente – o seu direito de livre ação e responsabilidade – uma vez que o homem e o anjo são iguais ante a lei cármica (id. I 215-216).

  Até que a Sabedoria descesse do alto para animar a terceira Raça e chama-la à verdadeira vida consciente, a humanidade estava condenada à morte moral (III, 240). Satan foi denominado “Anjo das Trevas” e isto não deixa de ser justo no sentido de que a Obscuridade é Luz absoluta, coisa que a teologia parece ter esquecido. Satan, por fim, é nossa natureza humana e o homem mesmo, razão pela qual se tem dito que sempre está próximo do homem e inexplicavelmente entretido com ele; só se questiona que este poder se ache latente em nós próprios (II, 501). Quão outro seria o destino do mundo se as pessoas tivessem mais horror à tenebrosa ignorância e ao frio egoísmo do que ao ridículo Satan da teologia!

LÚCIFER [lat.]

  O planeta Vênus considerado como a brilhante “Estrela Matutina”. Antes de Milton, Lúcifer nunca havia sido um nome de Diabo. Pelo contrário, uma vez que no Apocalipse (XXII. 16) é dito o mesmo do Salvador cristão; “Eu Sou... a resplandecente estrela da manhã, o Lúcifer. Um dos primeiros papas de Roma levava tal nome, e havia ainda no século IV uma seita cristã denominada os Luciferianos. [Lúcifer vem de Luciferus, portador de luz, o que ilumina. E corresponde exatamente à voz grega Phosphoros]. A Igreja dá agora ao Diabo o epíteto de “trevas”, contrariamente ao Livro de Jó onde é chamado “Filho de Deus”, a brilhante estrela matutina, Lúcifer. Há toda uma filosofia de artifício dogmático em razão do porquê de o primeiro Arcanjo que surgiu das profundidades do Caos ter sido chamado Lux (Lúcifer), o luminoso “Filho da Manhã”, o Aurora manvantárica.

  A Igreja o tem transformado em Lúcifer, o Satan, porque é anterior e superior a Jehovah e teria que ser sacrificado ao novo dogma (Doutrina Secreta I, 99-100).

  Lúcifer é o portador de luz de nossa Terra, tanto no sentido físico quanto no místico (Id. II.36). Na antiguidade, e na realidade, Lúcifer ou Luciferus é o nome da Entidade angélica que preside a Luz da Verdade, o mesmo que a Luz do dia. Lúcifer é Luz divina e terrestre, o “Espírito Santo” e ao mesmo tempo “Satan” (id. II, 39). Está em nós; é nossa mente; nosso Tentador e Redentor – o que nos livra e salva do puro animalismo. Sem este princípio – emanação da mesma essência do puro e divino Mahat (Inteligência), que irradia de modo direto da Mente divina – com toda a segurança não seríamos superiores aos animais (id. II, 540). Lúcifer é o Verbo, um só em seu aspecto dual. Equivale ao Uzanas-Zukra da Índia.

KÂMA-RÛPA [Sanscr.]

  Metafisicamente e em nossa filosofia esotérica é a forma subjetiva criada em virtude dos desejos e pensamentos mentais e físicos, relacionados com objetos materiais por todos os seres sencientes, forma esta que sobrevive à morte do corpo.

  Depois desta morte, três dos sete “princípios” – melhor dizendo, planos dos sentidos e da consciência, nos quais atuam por todos os instintos e ideação do homem, a saber: o corpo, seu protótipo astral e a vitalidade física – que não tendo mais nenhuma utilidade permanecem na Terra. Os três princípios superiores agrupados em um só desaparecem no estado de Devachán, em cujo estado o Ego superior permanecerá até que chegue a hora de uma nova reencarnação; e o eidolon da ex-personalidade permanece sozinho em sua nova morada.

  Nela, a pálida duplicação do homem que foi, vegeta durante certo período de tempo, cuja duração é variável e proporcionada ao elemento de materialidade que tenha permanecido, e ali esteja confinado após a passada vida do falecido. Privado, como se fala, de sua mente superior, espírito e sentidos físicos, permanece abandonado com seus próprios desígnios insensatos se desintegrando e se desvanecendo de modo gradual.

  Porém, sendo atraído de novo e violentamente para a esfera terrestre, sejam pelos desejos aprisionados quanto por instâncias de amigos sobreviventes ou por práticas necromânticas comuns – uma das mais perniciosas das quais é a “mediunidade” (preconceito da autora uma vez que nem toda mediunidade torna o médium possuidor de um veículo pernicioso – nota do tradutor) – o “fantasma” pode subsistir durante um período de tempo, que excede muito da vida natural de seu corpo físico.

  Uma vez tendo o Kâma-rûpa conhecido o caminho de volta até corpos humanos viventes, virá converter-se em vampiro que se nutre da vitalidade daqueles de quem anseia por companhia. Na Índia esses eidolons são chamados pelo nome de pizâchas, sendo muito temidos como já explicado noutras partes. O Kâma-rûpa é nossa alma animal, o veículo ou corpo dos desejos e paixões, a forma astral do homem depois da morte do corpo físico. Tem, porém, outros significados – forma de desejos – ou seja, uma forma que troca uma vontade; e como adjetivo significa que troca ou toma uma forma a sua vontade ou desejo – que tem uma forma agradável ou sedutora.

  Assim diz o Bhagavad-Gîtâ, aludindo à índole variável do desejo e da paixão: “Tenaz inimigo do sábio, vela o conhecimento... adotando a forma do desejo (Kâma-rûpâ), insaciável como o fogo” (III,39). “...mata a esse inimigo que tem a forma do desejo (Kâma-rûpâ)” (III, 43)

  Fonte: Glosario Teosofico por H.P.B.

  Tradução Espanhol-Português: Rayom Ra

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Buddhas - Buddha Siddartha - Buddhas de Compaixão - [R]

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  BUDDHA – Literalmente: “O Iluminado”. O mais alto grau do conhecimento. Para chegar a ser Buddha há que se destruir inteiramente a escravidão dos sentidos e da personalidade; adquirir uma completa percepção do verdadeiro Eu e aprender a não separar este dos demais eu(s); aprender também, por experiência, em primeiro lugar, a completa falta de realidade de todos os fenômenos do Cosmos visível; chegar a um absoluto desprendimento de todo o efêmero e finito, e viver, ainda estando na terra, somente o imortal e eterno, num supremo estado de santidade. [Não se confunda dita palavra com Budha].

  BUDDHA-CHHÂYÁ – Literalmente, “a sombra de Buddha”. Segundo dizem, se faz visível em certos grandes acontecimentos, assim como durante algumas imponentes cerimônias celebradas nos templos em comemoração dos gloriosos feitos da vida de Buddha. O viajante chinês Hiouen-tseng, menciona certa caverna onde vez por outra aparece dita sombra na parede, porém acrescenta que somente consegue vê-la aqueles “cuja mente é de todo pura”.

  BUDDHA-DHARMA-SANGHA – “O Buddha, a Lei, a Ordem”. Esta fórmula é o resumo da seguinte profissão de fé dos buddhistas, chamada Tisarana. “Eu sigo a Buddha como meu guia; sigo a Lei (ou Doutrina) como meu guia; sigo a Ordem (ou Igreja) como meu guia”.

  BUDDHÂGAMA (Buddha-âgama) – Literalmente “aproximação ou legado à iluminação”. Seguimento da doutrina de Zâkya-Muni (Buddha). No Ceilão e outros países búdicos se designa com dito nome ao Buddhismo, ou seja à doutrina de Buddha.

  BUDDHA-MÂRGA – A via de Buddha. A Lei religiosa predicada por Buddha.

  BUDDHA-PHALA – Literalmente, “o fruto de Buddha”, a fruição do Arahattvaphala ou condição de Arhât.

  BUDDHA SIDDHÂRTHA – Nome dado a Gautama, príncipe Kapilavastu, em seu nascimento. Dito término é uma abreviação de Sarvârthasiddha, e significa “realização de todos os desejos”. Gautama [ou Gotama], que significa “o mais vitorioso (tama) na terra (gau)” era o nome sacerdotal da família Zâkya, régio nome patronímico da dinastia a que pertencia o pai de Gautama, o rei Zuddhodana [Suddhodhana] de Kapilavastu. Kapilavastu era uma cidade antiga, solo nativo do grande Reformador, que foi destruída durante o tempo em que ele viveu. Do título Zâkyamuni, o último componente, muni, é interpretado no sentido de “poderoso em caridade, isolamento e silencio”, e o primeiro Zâkya, é o nome de família.
 
  Não há orientalista nem pândita (sábio) que não saiba de cor a história de Gautama, o Buddha, o mais perfeito dos mortais que o mundo jamais haja visto, porém, nenhum deles parece suspeitar sequer do significado esotérico que há no fundo de sua biografia prenatal, isto é, o significado da história popular.

  O Lalita-vistara faz um relato dela, porém se abstém de insinuar a verdade. Os cinco mil Jâtaka, os fatos de anteriores nascimentos (reencarnações), foram considerados ao pé da letra, em lugar de serem esotericamente. Gautama, o Buddha não teria sido um homem mortal se não houvesse passado por centenas e milhares de nascimentos, antes do último deles. Não há dúvida de que a relação detalhada deles e a assertiva de que durante os mesmos ele foi abrindo caminho até acima, através de cada grau de transmigração, desde o mais ínfimo átomo animado e inanimado, e desde o inseto até a criatura mais elevada, ou seja o homem, encerram simplesmente o tão conhecido aforismo oculto: “a pedra se converte em planta, a plante em animal, e o animal em homem”.

  Cada ser humano que tenha existido passou pela mesma evolução. Porém, o simbolismo oculto nesta série de renascimentos (jâtaka) inclui uma perfeita história da evolução nesta terra, pre e pós humana e é uma exposição científica e fatos naturais. Uma verdade não encoberta, senão desnuda e patente se encontra na sua nomenclatura, a saber, que nem bem houvera Gautama alcançado a forma humana, começou a mostrar a cada uma de suas personalidades a maior abnegação, caridade e sacrifício de si mesmo.

  Buddha Gautama, o quarto dos Sapta (sete) Buddhas e Sapta Tathâgatas, nasceu, segundo a cronologia chinesa, no ano 1024 antes de J.C., porém segundo as crônicas senegalesas, nasceu no oitavo dia da segunda (ou quarta) lua do ano 621 antes de nossa Era. Deixou o palácio de seu pai para abraçar a vida cética, na noite do oitavo dia da segunda lua do ano 597 antes de J.C., e depois de passar seis anos em Gaya, entregue à meditação e conhecendo que a tortura física de si mesmo era inútil para aportar à iluminação, decidiu seguir uma nova via até chegar ao estado de Budhi. Na noite do oitavo dia da duodécima lua do ano 592 chegou a ser um Buddha perfeito, e por fim entrou no Nirvâna no ano de 543, segundo o Budismo do Sul.

  Sem dúvida que os orientalistas se ativeram a outras várias datas. Todo o restante é alegórico. Gautama alcançou o estado do Bodhisattva na terra quando sua personalidade se chamava Prabhâpala. Tuchita (1) significa um lugar neste globo e não um paraíso nas regiões invisíveis.

  (1) [Tuchita – é uma classe de deuses de grande pureza que figuram no panteão indu. No Buddhismo do Norte exotérico ou popular é um Deva-loka, uma região celeste no plano material, onde todos os Bodhisattvas renascem antes de descerem a esta terra como futuros Buddhas. [No plural, uma classe de divindades de ordem secundária identificada com os Âdityas]. (Dowson, Dicionário clássico indu. Por H.P.B.).

  A seleção da família Zâkya e sua mãe Mâyâ, como “a mais pura da terra”, está em harmonia com o modelo da natividade de cada salvador, Deus ou Reformador divinizado. A lenda de haver ele entrado no seio de sua mãe em forma de elefante branco, é uma alusão a sua inata sabedoria, por ser o elefante de dita cor, um símbolo de cada Bodhisattva. Os relatos de que, ao nascer o Gautama, o recém-nascido deu sete passos em quatro direções, que uma flor a Udumbara (1) se abriu em toda a sua peregrina beleza e que os reis nâgas acorreram sem demora a batizar-lhe, são todas outras tantas alegorias na fraseologia dos iniciados, bem compreendidas por todos os ocultistas orientais.

  (2) Udumbara – Um loto de tamanho gigantesco consagrado a Buddha: o Nila Udumbara ou “loto azul”, considerado como um presságio sobrenatural quando quer floresça, porque floresce uma só vez a cada três mil anos. Um desses vegetais, segundo nos dizem, floresceu antes do nascimento de Buddha, e outro, próximo a um lago ao pé dos Himalayas, no século décimo quarto, imediatamente antes do nascimento de Tsong-ka-pa, etc.
  Outro tanto se diz da árvore Udumbara (Ficus glomerata) porque floresce a intervalos de largos ciclos, o mesmo que uma espécie de cactos, que só floresce a determinadas alturas e se abre a meia noite. [Diz a Voz do Silêncio (livro): “Os Arhans e os Sábios de visão sem limites são tão raros quanto à flor da árvore Udumbara. Nascem os Arhans na hora da meia-noite, juntamente com a planta sagrada de nove e sete talos, a flor santa que se abre e desprega nas trevas, surgindo do límpido rocio no lado gelado dos cumes nevados não pisados por nenhum pé pecador”.

  Todos os acontecimentos de sua nobre vida se expressam em números ocultos e cada sucesso chamado milagroso – tão deplorado pelos orientalistas porque confunde o relato, tornando-se impossível separar a verdade da ficção – é simplesmente o disfarce ou véu alegórico da verdade.

  Isto é tão compreensível para um ocultista versado em simbolismo, como é de difícil compreensão para um sábio europeu que desconheça o Ocultismo. Cada detalhe da narração depois da morte do Gautama, o Buddha, e antes de sua cremação, é um capítulo de fatos escritos numa linguagem que deve ser estudada para ser bem compreendida, pois de outra sorte sua letra morta conduzirá às contradições mais absurdas. Por exemplo: tendo recordado a seus discípulos da imortalidade do Dharmakâya (2), Buddha, segundo dizem, passou ao estado de Samâdhi e perdeu-se no Nirvâna do qual nada pode voltar. E sem dúvida, apesar disto, apresentam Buddha abrindo com violência à tampa do féretro e dele saindo para saudar os irmãos, de mãos dadas com a sua mãe, Mâyâ, que tinha aparecido de repente no ar, ainda que houvesse ela morrido sete dias após o nascimento do Gautama, etc., etc.

  (3) Dharmakâya – literalmente, “o corpo espiritual glorificado”, conhecido com o nome de “’Vestidura de bem-aventurança”’.

  É o terceiro, ou o mais elevado dos Trikâyas, atributo desenvolvido por todo o “Buddha”, ou seja: todo o Iniciado que tenha cruzado ou alcançado o fim do chamado “quarto Sendero” (no esoterismo, o sexto “portal” que precede a sua entrada no sétimo).

  É o mais elevado dos Trikâyas e o quarto dos Buddha-kchetra, ou planos búdicos de consciência, representados figuradamente no ascetismo búdico como uma roupagem ou vestidura de luminosa espiritualidade. No budismo espiritual do Norte, estas vestiduras ou roupagens são: Nirmânakâya, Sambhogakâya e Dharmakâya, esta última a mais elevada e sublime de todas, porquanto põe o asceta em um umbral do Nirvâna. Sem dúvida, para o verdadeiro significado esotérico, veja-se o que diz a Voz do Silêncio:

  1º. O corpo, vestidura ou forma Nirmânakâya é aquela forma etérea que alguém adotaria no momento em que, abandonando o seu corpo físico, aparecesse em seu corpo astral, possuindo, por acréscimo, todo o conhecimento de um Adepto. O Bodhisattva vai desenvolvendo esta forma em si mesmo à medida que avança no caminho. Uma vez alcançada a meta, depois de recusar a fruição da recompensa, continua na Terra como Adepto: e quando morre, em lugar de encaminhar-se ao Nirvâna, permanece naquele corpo glorioso que tenha tecido para si próprio; invisível para a humanidade não iniciada, a fim de velar por ela, protege-la e guia-la pelo caminho da Justiça.

  2º. Sambhogakâya, ou “corpo de Compensação”, é o mesmo que Nirmânakâya, porém com o brilho adicional de “três perfeições”, uma das quais é a completa obliteração de tudo quanto concerne a Terra.

  3º. Dharmakâya é o de um Buddha completo, ainda que propriamente não seja um corpo de modo algum, senão tão somente um sopro ideal; a consciência abismada na Consciência Universal, ou a Alma livre de todo atributo. Uma vez Dharmakâya, o Adepto, ou Buddha, abandona atrás de si toda a relação possível com esta Terra e a todo pensamento com ela ligado. Assim é que, para poder ajudar a humanidade, o Adepto que tenha adquirido o direito ao Nirvâna, “renuncia ao corpo Dharmakâya”, segundo a fraseologia mística; não conserva de Sambhogakâya outra coisa que o vasto e completo conhecimento, e permanece em seu corpo Nirmânakâya.

  A escola esotérica ensina que Gautama Buddha, com vários de seus Arhats, é um Nirmânakâya deste gênero, um “Buddha de Compaixão”, e que não se conhece nenhum que seja mais elevado que ele, por razão de sua grande renúncia e sacrifício para o bem da humanidade.

  Como Buddha era um Chakravartin (o que faz girar a roda da Lei), seu corpo, no ato da cremação, não podia ser consumido pelo fogo comum. E o que sucedeu? De improviso um jorro de chamejante fogo brotou da Svastika que tinha no peito e reduziu seu corpo a cinzas. O pouco espaço que dispomos nos impede de oferecer mais exemplos. No tocante a ser, é um dos verdadeiros e inegáveis Salvadores do mundo, bastando dizer que o mais fanático missionário ortodoxo – a menos que esteja irreversivelmente louco, ou que não tenha mais o mínimo respeito à verdade histórica – não possa encontrar a mais leve acusação contra a vida e o caráter pessoal de Gautama, o “Buddha”. Sem pretensão alguma à divindade, deixando que seus prosélitos caíssem no ateísmo antes que se fundissem na degradante superstição do culto ao deva ou ao ídolo, sua vida, desde o princípio até o fim, foi santa e divina. Durante os quarenta e cinco anos de sua missão, sua vida, como a de um deus, é inatacável – ou como deveria ser a deste último.

  É um perfeito exemplo de um homem divino. Alcançou a condição de Buddha – isto é a iluminação completa – inteiramente por seus próprios méritos e graças a seus esforços individuais, porquanto não se crê que qualquer deus tenha o menor mérito pessoal no exercício da virtude e santidade.

  Os ensinamentos esotéricos pretendem que Gautama renunciou ao Nirvana e abandonou a vestidura Dharmakâya para continuar sendo um “Buddha de Compaixão” acessível às penalidades e misérias deste mundo. E a filosofia religiosa que deixou para a humanidade tem produzido durante mais de dois mil anos, gerações de homens virtuosos e desinteressados.

  A sua é a única religião absolutamente livre de manchas de sangue entre todas as religiões existentes: tolerante e generosa, inculcando a caridade e a compaixão universal, o amor e o sacrifício de si mesmo, a pobreza e o contentamento com a sorte de cada um, seja esta o que for. Nem perseguições nem imposições da fé por meio do fogo ou da espada jamais a fizeram coberta de opróbrio. Nenhum deus que vomite trovões e raios houve se imiscuído em seus puros preceitos. E se o sensível, filosófico e humano código de vida diária, que nos deixou o maior Homem-Reformador conhecido, chegar algum dia a ser adotado pela humanidade em geral, seguramente principiaria para a espécie humana uma Era de paz e bem-aventurança.

  BUDDHAS DE COMPAIXÃO – Com este nome se designam aqueles Bodhisattvas que, havendo alcançado a categoria de Arhat, recusam-se passar ao estado nirvânico ou “a pôr-se na vestidura Dharmakâya e passar para a outra margem”, pois, então, não estaria em seus poderes ajudar a humanidade ainda no pouco em que o karma permite. Preferem permanecer invisíveis (em Espírito, por assim dizer-se) diante do mundo e contribuir para a salvação dos homens, exercendo sobre eles sua influência para que sigam a boa Lei ou, o que seja o mesmo, guiando-os pelo caminho de Justiça. (Voz do Silêncio, III).

  Fonte: Glosario Teosofico – H.P. Blavatski
 Tradução Espanhol / Português: Rayom Ra