sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Valor do Som - Reedição

     No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (João I).  
  
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  O Verbo é o Som; é a vibração; é a palavra. O Universo de nosso sistema solar é obra do Logos, ou Deus Criador, que aqui se encarnou e o sustenta através de Sua vibração-mater. Todas as partículas de matéria mantêm-se agregadas por atrações afins e por vibrações correspondentes. As vibrações produzem as particularidades de cada plano de existência ou dimensão.

 Segundo a filosofia indu, nos ensinamentos védicos, o som primordial de Brahman – o Senhor do Universo – é AUM. Sobre esta construção, nos seus tons e subtons, assentam-se todas as demais notas que chegam para a vida.

 Cada reino tem a sua nota fundamental que nele vibra permanentemente. O reino humano fundamenta-se, principalmente, sobre as vogais A e U.

 Cada pessoa tem também uma nota particular e fundamental e cada letra do alfabeto possui a sua significação oculta. As vogais unidas da seguinte forma IEOUA são de maior sonoridade e vêm representar um dos nomes de Deus.

 As consoantes quando unidas às vogais tornam-se portadoras de sínteses. Na linguagem antiga dos iniciados, definiam situações e não somente formavam palavras isoladas. Os alfabetos não foram inventados unicamente para apoio gráfico ou visual. Tiveram suas origens em símbolos que já eram portadores de segredos e analogias humanas.

 O alfabeto latino, por exemplo, teve sua origem há muitos milênios, havendo referências arqueológicas de sua existência entre os cumas, colônia grega estabelecida na Itália, entre os etruscos, no século XIII a.C., e entre os mais antigos gregos. Na realidade, os sinais deste alfabeto, tendo sido revelados na Atlântida, vagaram pelo mundo, onde nos achados da Suméria foram encontrados num sistema de escrita.  Estes fatos confirmam e reforçam a afirmativa ocultista de que o alfabeto conhecido por latino foi, na verdade, revelado por sacerdotes iniciados, em tempos muitíssimo mais recuados, praticamente imemoriais.

 Os caracteres básicos do alfabeto latino são o ponto, o traço e o círculo. O ponto é a primeira representação da manifestação do Criador. O traço é a sucessão de pontos que vêm também gerar o círculo. E o círculo é o limite que Deus impôs ao sistema solar, mas este limite circunscreve somente a criação, pois Sua Consciência transcende a própria circunscrição.

 Naquelas primeiras civilizações a palavra era encantada. A fonética utilizada articulava sons de exatas situações que se queriam mentalmente demonstrar, e os nomes eram mágicos. Os seres da natureza foram conhecidos pelos seus verdadeiros nomes, que uma vez pronunciados os faziam surgir. Os seres humanos usavam de um vocabulário limitado não necessitando de muitas palavras. O sentido telepático e o intuitivo tornavam o entendimento perfeito.

 Estas palavras foram perdidas, porém mais tarde recuperadas pelos magos iniciados que, no entanto, velaram o seu verdadeiro e poderoso sentido.

 Deste modo, existem determinados sons em formatos de palavras que pronunciados irão gerar efeitos extraordinários, positivos ou negativos, construtivos ou destrutivos dependendo da direção que lhes sejam dados. Esses sons hoje são genericamente chamados de mantras.

 Existem sons que vocalizados, obedientes a um propósito, virão vibrar órgãos e certas regiões do corpo. As vogais isoladamente pronunciadas podem produzir tais resultados. Também combinadas com consoantes podem se configurar, do mesmo modo, em mantras curadores.

 Há, assim, mantras em diversas escalas vibratórias que definem ou incidem para os mais variados resultados. Os mantras mais poderosos quando vocalizados podem alterar até a própria natureza. São secretos, revelados unicamente aos Mestres de graus superiores. Outros mantras de poderes não tão absolutos, mas ainda assim despertadores de consideráveis forças e energias, são do conhecimento de iniciados de vários graus. O mantra OM, graficamente representado por AUM, é o mais popular entre estudantes do ocultismo e seguidores da Yoga. Mas sua perfeita vocalização não é a mesma praticada em escolas de ocultismo ou em academias esotéricas.

 Das civilizações de épocas muito anteriores ao cristianismo, e mesmo posteriormente, conservadoras de alguns vestígios da verdadeira cultura iniciática nascida na Atlântida, tivemos a dos incas que expandiram seu império pelas Américas. Da cultura inca derivaram os conhecimentos astecas, maias, dos pele-vermelhas da América do Norte e dos demais povos mais tarde chamados ameríndios. Antes que as catástrofes naturais alcançassem e destruíssem paulatinamente o continente atlante, celeiro de tanta sabedoria, os ancestrais dos incas que lá viviam foram então conhecidos por Toltecas - uma poderosa sub-raça, a terceira daquela magnífica quarta raça-raiz.

 Dentre as formas de representar seus conhecimentos atávicos, os incas erigiam estátuas com figuras humanas ou divinizadas, chamadas totens (quem sabe corruptela da memória vocabular tolteca), empilhadas verticalmente ou posicionadas diretamente em linhas horizontais. Notava-se que suas bocas, total ou parcialmente abertas, indicavam cada uma a vocalização de um diferente som, que juntos formariam uma palavra sagrada ou um mantra.

 A igreja assimilou também elementos religiosos, principalmente gregos, egípcios e judeus. E ao introduzir a missa o fez com os mesmos propósitos iniciatórios daqueles povos. O antigo texto das missas em latim foi trabalhado para um determinado efeito sonoro. Seus hinos e a palavra “Amém” remontam dos mistérios egípcios e da gnose provinda de muito além do Mediterrâneo. Sob outra ótica e de modo bem mais requintado e científico, os antigos iniciados reverenciavam o extraordinário valor do som.

 Sem dúvida que os Iniciados de todos os tempos foram sempre instruídos do valor e força da palavra. A palavra realmente produz resultados visíveis e palpáveis.  Platão e Sócrates prescreviam aos discípulos longos períodos do mais absoluto silêncio. Assim faziam os indus, os budistas e chineses.

 O homem de vida comum não tem noção da força da palavra em sentido oculto, iniciático ou esotérico. Entretanto, quando maldiz e vibra ódio trabalha a favor das forças negativas planetárias, além de gerar carma. A reza e bênção pronunciadas por pessoa de intenções boas alcançam beneficamente o seu objetivo. Podem produzir uma cura ou o aclaramento de situação confusa. Jesus conhecia o valor da palavra, por isto dizia: “Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto sim, contamina o homem”. (Mt 13-11).

 Realmente, podemos nos alimentar de coisas impróprias ou excessivamente condimentadas, não apropriadas para o homem do espírito. Isto consumido virá requerer esforços no sentido de nos depurarmos das toxinas e das emanações indevidas que se aderem à nossa aura espiritual. Mas podemos fazer por nós mesmos, mediante disciplina e abstinências. Em relativo tempo estaremos purificados destes inconvenientes. Porém, se o homem proclama o mal, se vibra negativamente as palavras, se maldiz ou propaga falsas e destruidoras doutrinas, não dependerá dele neutralizar estes males. A lei de causa e efeito atuará inexoravelmente e ele se verá impotente para dela escapar. Estará contaminado pelas próprias palavras e ideias que expressou.

 Melhor acautelarmo-nos com os pensamentos porque eles podem estar sendo estimulados pelas forças negativas de nosso ego inferior, ou por alguma força maligna externa, ou ainda por uma forma-pensamento, daquelas errantes que cruzam o espaço a todo instante atraídas para nossa mente.

 O homem traz em si, potencialmente, Deus e Sua sombra. Em Deus ele é a força construtiva e todo o bem. Na Sua sombra ele é força destrutiva. [Evidentemente falamos da dualidade positivo-negativo presente na criação, pois Deus na sua imanência, dentre outros inexprimíveis atributos é Luz Pura sem sombras].

 Na escala, consoante ao sétuplo estado vibratório da matéria, as sete notas representam em nosso mundo não somente os fundamentos de toda a sonoridade musical bem como repercutem das vibrações dos reinos da natureza. Há, não obstante, subtons e oitavas não captados ainda por nossos ouvidos humanos, como há também outras formas ou vibrações destas notas básicas. Noutros planos vibratórios estes subtons e oitavas detêm variações mais elásticas, para cima e para baixo, produzindo sons ordinariamente desconhecidos. 

 É sabido que nossos órgãos auditivos têm a capacidade de sintonizar unicamente uma faixa de percepções sonoras, chamadas vibrações sônicas. Abaixo temos as vibrações infrassônicas, ou subsônicas, e acima desta faixa temos as vibrações ultrassônicas. Fora das vibrações sônicas não nos é possível perceber conscientemente qualquer outra presença de som. Entretanto, a natureza inteira sonoriza muito mais do que imaginamos. Os reinos todos emitem diversos e diferentes sons imperceptíveis aos nossos pavilhões auditivos.



Som alto prejudica as células nervosas localizadas do cérebro

 Excetuando os casos naturais das águas correntes, das pedras rolantes que se chocam e demais fenômenos fortuitos, acusamos deliberadamente o som mineral quando, por exemplo, atritamos metais, os golpeamos com suficiente força através de outros corpos sólidos, ou quando estejam passando por um processo científico ou industrial de transformação. Nestes exemplos, percebemos os diferentes teores de sua nota fundamental, pois suas vibrações alcançam nossa percepção auditiva. Fora disto, julgamos o reino na sua maior parte em repouso.

 De certo modo, o mesmo ocorre com o reino vegetal onde existe diversidade de sons não percebidos pelo pavilhão auditivo humano. Alguns equipamentos eletrônicos, super sensíveis, já conseguem registrar e reproduzir certas faixas de sonoridade de algumas plantas e flores, o que antes era sequer admitido.

 Do reino animal conhecemos as vozes de muitas espécies, havendo, no entanto, imenso leque de variedades por todo o reino, relativamente às suas capacidades de vibrar e se comunicar. Das espécies menores, como as formigas, não percebemos ordinariamente suas vibrações, mas sabemos que se comunicam inteligentemente porque possuem antenas para sonorizar e captar. Outras espécies menores são ainda portadoras de órgãos que emitem vibrações por todo o corpo.

 Neste estágio de desenvolvimento do gênero humano somente sensitivos de incomum percepção ou iniciados avançados com poderes psíquicos extraordinários, raros por sinal no contato com a humanidade, podem “conversar” com representantes de outros reinos via interna, ou seja, através da clariaudição astral plenamente desperta.

 Semelhante condição do instinto natural possuíamos nas primeiras etapas de nossas vidas, quando de nossa aparição no reino humano. Éramos, porém, imaturos, sem atributos mentais que nos diferenciassem uns dos outros. Tornaremos a ter tal condição em futuro, porém de modo consciente, a exemplo dos sensitivos avançados. Ao adentrarmos no conhecimento interno da natureza e de nossas próprias capacidades cognitivas, todas as coisas visíveis ou ainda invisíveis são e serão a identidade de nosso íntimo com a vida Una.

Rayom Ra

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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Alexandre o Grande ou o Filho de Amon (I)



  Alexandre! Esse nome ainda hoje ressoa aos nossos ouvidos como o símbolo eterno da juventude e da vitória. Com efeito, o destino de tal homem é de tão excepcional que parece partir diretamente da lenda e não da história. Os próprios contemporâneos de Alexandre ficaram de tal maneira maravilhados, que para distingui-lo de todos os outros personagens que levavam seu nome, chamaram-no O GRANDE e esse esplêndido epíteto, melhor que todos os elogios, coroa a fronte do prodigioso herói que como Jasão, partiu à conquista do maravilhoso Tosão de Ouro!

  E, entretanto, esse semideus, esse ser que se diria descido do Olimpo, imortalizado pela estatuária antiga no brilho dos seus vinte anos, de tal maneira belo que mais parece a representação de algum Apolo hiperbóreo, mais do que um simples mortal pertence à história; os homens aproximaram-se dele, conheceram-no e as descrições que nos deixaram ressuscitam para nós o jovem rei da Macedônia, e não é este o menor prodígio. Através de uma sucessão ininterrupta de vitórias fulminantes, o filho de Zeus chega à aurora de seus trinta anos, a tocar nas margens do Hydaspes, o Império do mundo.
  Um supremo esforço e sem dúvida a Índia milenária abriria suas portas aos filhos do Sol, desvelando para eles as fontes da luz. O abismo da morte tragou esse sonho desmensurado. Fulminado pela doença, com a idade apenas de trinta anos, número fatídico, Alexandre levou o segredo de seu gênio para o mausoléu de cristal e ouro que recebeu seu corpo no Egito.

  Não é relendo os modernos historiadores do grande capitão, aplicados a buscar no desenvolvimento da política e no turbilhão das batalhas a chave de um destino incomunicável, que poderemos responder à última interrogação: Quem foi verdadeiramente Alexandre?

  A resposta a esta única pergunta e que contém todas as outras não pode ser encontrada num horizonte racional. Liberemo-nos por um instante das imagens feitas e dos clichês convencionais que nos traçam o retrato tranquilizador de um Alexandre teatral, fixado no cartão envelhecido de uma tapeçaria dos Gobelins. Os fatos por importantes que sejam não são o espelho da verdade. Além dos acontecimentos políticos, das conquistas militares e de todos os fatos grandes ou pequenos que chovem sobre nós como granizo de uma tempestade, é preciso desvendarmos a mágica essência da divindade que se apresenta diante de nossos olhos como a luz rasgando as nuvens.

  Alexandre foi um grande espírito místico, profundamente penetrado do sentimento de sua origem sobrehumana e das consequências decorrentes de semelhantes crenças. Filho espiritual de Amon-Ra, esse deus supremo que tem em suas mãos os atributos cósmicos do Fogo Criador, o Raio e o Sol, o maior herói da Antiguidade inscreve-se bem nessa linhagem de criaturas divinas, engendrada pela vontade do Logos. E como nós veremos, o destino de Alexandre foi o de um meteoro, poderia ser de outra maneira?

                                                       A Tumba de Alexandre

  Onde se encontra, diga-me, a tumba de Alexandre”? Já perguntava no fim do século IV de nossa era, São João Crisóstomo e hoje, muitos turistas que visitam Alexandria perguntam ingenuamente, como se a presença do corpo do grande conquistador nessa “megalópolis” fosse obrigatória!

  Portanto, os restos mortais de Alexandre foram enterrados nessa cidade do Egito, fazendo dentro em pouco vinte e três séculos. Ao morrer Alexandre o Grande levava consigo O Segredo de Seu Prodigioso Destino e a chave do mistério foi talvez encerrada em sua tumba. Mas antes de chegarmos lá é preciso sem dúvida explicar porque caminho o corpo do herói chegou das margens do Eufrates às margens do Nilo. A idéia de ser enterrado no Egito partiria do próprio Alexandre, desejoso de reencontrar para a eternidade a terra sagrada de seu deus tutelar, Amon-Ra, o Sol vivo?

  O historiador grego Luciano atribui-lhe essas palavras em resposta a uma questão de Diógenes. “Eis que há três dias jazo em Babilônia; mas Ptolomeu prometeu mandar levar-me ao Egito para lá ser inumado e colocado na categoria dos deuses”. Verdadeiras ou falsas essas palavras, em todo o caso correspondem aos sentimentos profundos do jovem rei, morto aos trinta anos. Sua visita ao oráculo de Amon que lhe prometera o Império do Universo marcara-o muito profundamente para que não anelasse repousar na terra dos faraós. Já muitas vezes no curso de sua vida, confiara aos seus próximos o desejo de ser inumado, senão na própria Alexandria, a cidade fundada por ele, ao menos no santuário que lhe recordava sua fulminante ascensão no coração do oásis da Líbia, cercado de todos os lados pelos fogos do deus-Sol.

  Malgrado essa vontade bem determinada, a disputa foi grande no campo dos herdeiros, para saber quem entre os macedônios, os sírios ou os egípcios ficariam com o corpo de Alexandre. Os primeiros reclamavam-no com insistência como lhe pertencendo de direito já que se tratava de seu rei. Queriam, portanto, depositá-lo na sua capital de Aegae na Macedônia.  Finalmente Ptolomeu, um dos generais de Alexandre que se apoderara do Egito, roubou os despojos e os fez transportar para Alexandria, após havê-lo embalsamado, em meio a uma grandiosa pompa que o antigo historiador Diodoro da Sicília descreveu-nos fielmente:

  “Neste ano (1) Arrhide encarregado de transportar o corpo de Alexandre, fizera construir o carro que servia a esse transporte e acabara os preparativos para essa solenidade digna da glória de Alexandre. Distinguia-se de todas as solenidades desse gênero, tanto pelas enormes despesas que ocasionou como pela magnificência. Achamos pois conveniente entrar agora em certos detalhes. Primitivamente construiu-se um primeiro ataúde recoberto de ouro laminado e cheio de perfumes, para ter ao mesmo tempo um cheiro bom e conservar o cadáver. Esse ataúde se fechava com uma tampa de ouro, adaptando-se perfeitamente à parte superior da superfície. Sobre a tampa foi jogado um belo tecido drapeado, de ouro e púrpura sobre o qual colocaram-se as armas do defunto para que nada faltasse no tocante è imaginação, em tais circunstâncias. Após tudo isso ocuparam-se da construção do carro que transportaria o corpo; o alto representava uma abóbada de ouro ornada de mosaicos dispostos em escamas de oito polegadas de comprimento. Sob essa abóbada achava-se um trono de ouro ocupando o espaço de toda a peça; era quadrado, ornado de focinhos de carneiros (2) aos quais estavam fixadas presilhas de ouro de dois palmos de espessura; a essas presilhas suspendiam-se guirlandas fúnebres cujas cores resplandecentes imitavam flores naturais. No topo prendia-se uma rede carregada de grandes campainhas que por seu ruído anunciavam a aproximação do cortejo. Em cada ângulo da abóbada elevava-se uma vitória de ouro levando os troféus. Toda a abóbada com suas dependências repousava sobre colunas de capitéis jônicos. Dentro do peristilo via-se uma pequena rede de ouro cujos fios da grossura de um dedo, sustentavam quatro quadros da mesma altura do peristilo, e paralelos às colunas.

(1) Os preparativos fúnebres levaram dois anos: portanto, a data da transferência das cinzas é 321.
(2) No simbolismo dos animais o bode ou o carneiro é a representação tradicional do deus Amon, pai espiritual de Alexandre. Em astrologia, ciência particularmente estimada na Antiguidade, o signo do carneiro é um signo do ar e no que concerne o conquistador, representa a corrida do Sol, Ra, no tempo do carneiro. Alexandre é representado em numerosas moedas, com a fronte ornada dos cornos sagrados do carneiro solar.

  O primeiro quadro representava um carro ornado de cinzelados nos quais Alexandre achava-se sentado, tendo na mão um cetro muito belo. Em torno do rei estavam as armas de sua casa militar composta de macedônios, persas melophores precedidos dos escudeiros. O segundo quadro representava em continuação da casa militar, os elefantes equipados para a guerra, montados adiante pelos condutores indus e atrás pelos macedônios revestidos de suas armas comuns. No terceiro quadro figuravam os esquadrões da cavalaria evoluindo nas manobras militares. Finalmente no quarto quadro representavam os navios armados para a guerra, preparados para um combate naval. Na beira da abóbada viam-se leões de ouro fixando o olhar sobre os que se aproximavam do carro. Nos interstícios das colunas viam-se os acantos de ouro, o dorso elevando-se quase até os capitéis das colunas. Sobre as costas da abóbada estendia-se um drapeado de púrpura sobre a qual repousava imensa coroa de oliveira, em ouro; os raios do Sol caindo sobre essa coroa produziam de longe, por seu reflexo, o efeito de relâmpagos deslumbrantes. Todo o trem repousava sobre dois eixos em torno dos quais giravam quatro rodas pérsicas cujo centro e raios eram dourados e as juntas guarnecidas de ferro. As saliências dos eixos eram em ouro e levavam focinhos de leão tendo entre os dentes o ferro de uma lança. No centro do fundo do carro de uma parte e no meio da abóbada, de outra, fixava-se em toda altura do monumento um mecanismo que girava para proteger a abóbada das sacudidas do carro rolando sobre um terreno desigual e áspero. Quatro timões estavam fixados no carro e em cada timão um trem de quatro jugos compostos de quatro mulas e que formavam uma atrelagem de sessenta e quatro mulas escolhidas entre as mais vigorosas e mais esguias. Cada um desses animais levava à cabeça uma coroa de ouro; às duas mandíbulas suspendiam-se duas campainhas de ouro e os pescoços ornavam-se de colares de pedras preciosas.

  Era esta a aparelhagem desse carro, mais belo de ver-se que de compreender por uma simples descrição. Grande era o número de espectadores que a magnificência desse funeral atraía.

  A multidão acudia de todas as partes das cidades por onde devia passar e não se cansava de admirar; e essa multidão confundindo-se com os viajantes, com os artistas e os soldados que seguiam o comboio, aumentava a pompa desses esplêndidos funerais. Arrihide que empregara quase dois anos de trabalhos dessas exéquias, pusera-se em marcha para transportar da Babilônia para o Egito os despojos do rei. Ptolomeu para prestar as honras a Alexandre foi com seu exército à frente do comboia até a Síria. Recebeu o corpo com as maiores demonstrações de respeito. Julgou mais conveniente transportá-lo no momento, não para o templo de Júpiter-Amon, mas para a cidade fundada por Alexandre e que quase se tornara a mais célebre do mundo. Fez construir lá um templo que por sua grandeza e sua beleza era digno de glória de Alexandre; ali celebrou um serviço fúnebre com sacrifícios heroicos e solenidades de concurso. Ptolomeu foi recompensado pelos homens e pelos deuses por ter assim honrado a memória de Alexandre. A generosidade e a grandeza da alma de Ptolomeu fizeram acudir à Alexandria uma multidão de estrangeiros desejosos de servir no seu exército; e embora logo tivessem que combater o exército real e não ignorassem os perigos a que se expunham, estavam todos prontos a dar a vida por Ptolomeu. Os deuses em recompensas de tantas virtudes salvaram inutilmente Ptolomeu de maiores perigos.

  Esse valor profilático da tumba de Alexandre, ressaltado por Diodoro, tivera crédito entre o exército e o povo, desde a morte do conquistador. Os magos afirmavam que a terra abrigando o corpo de Alexandre, desfrutaria da eterna proteção dos deuses e de fato de todos os reinos helenísticos o Egito dos Ptolomeus foi o mais próspero e o mais duradouro e a estrela de Alexandre, destinada pela lenda a uma apoteose mística, brilhou ainda longo tempo iluminando toda a Antiguidade.

  Quanto à tumba, propriamente, segundo o que nos fazem crer os autores antigos, era de um esplendor jamais igualado: encimada por uma cúpula de mármore ricamente incrustada de ônix e de jaspe, a sala funerária de forma octogonal era sustentada por uma floresta de colunas esguias e sua superfície completamente revestida de mármore negro, ligeiramente veiado de branco, de esplêndido efeito. Um féretro de ouro maciço forrado de púrpura, recebia a múmia real. O sarcófago estava colocado sobre um pedestal de jade branco, enviado da Índia pelo rei Sandracotus, símbolo das qualidades ideais e das perfeições inacessíveis do defunto. Os despojos do conquistador foram cercados de um mobiliário funerário de riqueza inaudita, cofres de madeira preciosa, tronos incrustados de marfim e de pedras preciosas, vasos de perfumes, estátuas de Apolo, de Zeus e de Amon em ouro e marfim ou alabastro, objetos de culto e joias de ouro. A riqueza da sepultura era tal que um dos Ptolomeus (Ptolomeu X, rei de 107 a 90 antes de JC.) soberano ávido de riquezas, saqueou a tumba num acesso de cupidez. Substituiu o sarcófago de ouro maciço por um sarcófago de vidro, no qual se poderia desde então admirar Alexandre, perfeitamente conservado e fixado num sono eterno.

  Aqui intervém uma tradição muito antiga dizendo que Alexandre, no momento de morrer, fez colocar em torno ao pescoço um tubo de ouro contendo um papiro muito precioso que lhe fora dado pelos padres de Amon no oásis de Siauah: esse manuscrito, de essência mágica conteria o segredo do Universo, que teria feito Alexandre o Grande semelhante a um deus?

  Que existe em realidade? Não se trataria mais de uma espécie de talismã tendo o efeito de tornar invencível seu portador? O texto gravado no papiro seria nesse caso um arcano hermético compreensível somente pelos iniciados. O que quer que seja só conheceremos a verdade no dia em que arqueólogos encontrarem o lugar do mausoléu de Alexandre, que ignoramos atualmente onde se encontra.

  Nem sempre foi assim, embora as visitas à sepultura real cessassem completamente a partir do III século depois de J.C. A contar dessa época parece que foi esquecido o lugar da tumba. Como pôde suceder tal coisa? Na Antiguidade a visita à tumba de Alexandre, célebre em todo o mundo greco-romano, era uma peregrinação extremamente conhecida e o privilégio de aproximar-se dos despojos do conquistador, considerado uma honra imensa, só era concedido aos maiores personagens.
 
  De seu lado os imperadores romanos, como restauradores do império universal consideravam-se os herdeiros espirituais de Alexandre o Grande. Assim Augusto, fundador da primeira dinastia romana dos Césares, quis visitar o Sema 3. O imperador pôde ver e tocar o corpo do conquistador ao qual se sentia ligado por profundos laços. Não era ele também um adorador do deus-Sol: Apolo-Hélios? Em sinal de veneração, Augusto depositou uma coroa de ouro e de flores ao pé do sarcófago, recusando com desprezo visitar, ao mesmo tempo, a tumba dos Ptlomeus: “Eu vim, disse ele, ver um rei e não os mortos”. Depois dele Calígula e Sétimo Severo vieram inclinar-se, uma vez coroados imperadores, diante dos despojos reais. Sétimo Severo não foi o último a visitar o mausoléu, pois seu filho Caracala deveria ser de fato o último imperador a poder contemplar os despojos mortais. Diz-se que sendo ainda criança acompanhou seu pai na visita ao Sema. Pôde assim ver Sétimo Severo, soluçando de emoção colocar seu manto de púrpura sobre o féretro de vidro. Nessa ocasião o imperador sírio que também era um fervoroso adorador do Sol através do Júpiter Heliopolitano de Baal’Beck e de Antióquia, depositou no túmulo grande número de manuscritos preciosos contendo segredos da sabedoria antiga, pois pensava ele, ninguém dentro em pouco tempo será mais capaz de compreender o seu sentido oculto. O próprio Caracala sentiu-se perturbado com essa entrevista a sós com a múmia e perdeu um pouco o sentido a ponto de julgar-se a reencarnação de Alexandre. Ordenou que depois dele a tumba fosse selada, queria ser o último mortal a encontrar-se diante do deus. E esse desejo foi realizado menos de cinquenta anos mais tarde, quando um terremoto sacudiu Alexandria transtornando o bairro do Sema. Desde então perderam-se os traços da tumba, o que justifica a indignação de João Crisóstomo. Pode-se então supor que os cristãos, acabando de triunfar do paganismo em toda a bacia do Oriente-próximo, não fizeram grandes esforços para encontrar a sepultura daquele que os sectários do antigo culto adoravam como um deus. Os nostálgicos chegaram a acusar os “galileus” de construírem uma basílica sobre o local do mausoléu, com a finalidade de apagar qualquer traço dele. O arquiteto encarregado da construção do edifício religioso, Johanes de Corinto, era entretanto um admirador secreto da antiga religião, chegaram mesmo a dizer que cavando os alicerces da igreja encontrou sob a terra as muralhas da tumba, de tal forma espessas, que resistiram ao antigo sismo.

  3.Nome grego da tumba de Alexandre

  Johanes desviou ligeiramente o embasamento da igreja modificando sua orientação e fez cavar, partindo das criptas da basílica, uma galeria em declive que levava à tumba de Alexandre e às dos Ptlomeus que desapareceram ao mesmo tempo. Estes últimos passavam por estar cheios de riquezas acumuladas no curso dos séculos e sabe-se pelos antigos da reputação da tumba de Stratonice, feita de ágata e de cristal.

  O quer que seja, não estamos capacitados para verificar se tais trabalhos foram realmente realizados, pois ignoramos o local exato em que foi construída a igreja de São Marcos. 4.

  4. Igreja de São Marcos, julgamos nós.

  Os árabes que se tornaram os senhores do Egito no século VII conheciam o legendário personagem Alexandre, que veneravam com o nome de Ishkander, mas não parece que tenham encontrado o famoso Sema, a menos que os califas do Egito, invejosos da glória do conquistador tenham feito buscas frutíferas guardando depois o segredo. Isso parece ter confirmação no seguinte fato: no “bairro de Alexandre” foi construída a mesquita Nabi Daniel que encerra a tumba de Said Pacha, do príncipe Hassan e de diferentes membros da família real. Ora acreditando-se nos astrônomos árabes a lenda do profeta Daniel, que deu nome à mesquita, apresenta curiosas coincidências com o destino de Alexandre:

  Um jovem judeu Daniel, expulso da Síria pelos idólatras que desejava converter, viu em sonhos um velho que lhe ordenou iniciar a guerra contra os descrentes prometendo-lhes a vitória em toda a Ásia. Daniel teve numerosos partidários no Egito onde se refugiara, construiu Alexandria e após uma feliz expedição, retornou a Alexandria onde morreu muito velho. Seu corpo foi posto num féretro de ouro e de pedras preciosas, mas os judeus roubaram-no para cunhar moedas e substituíram-no por um sarcófago de pedra.

  Através dessa história, muito deformada, encontra-se a lembrança do féretro de ouro e da violação da sepultura por Ptolomeu X prova de que a tradição do Sema não estava perdida. Essa mesquita construída no século XVIII foi restaurada em 1823 pelo sultão Mehemet-Ali, sem que nada transpirasse do segredo.

  De nossa parte acreditamos que o mausoléu foi efetivamente descoberto pelos sultões que continuaram a fazê-lo visitar por seus hóspedes de qualidade. Se não como explicar os propósitos do geógrafo árabe Leão o Africano, que escrevia em 1517:

  Os maometanos afirmavam que numa certa casa pequena tendo a forma de uma igreja, situada entre as ruínas, conserva-se o corpo de Alexandre, grande profeta e rei, como se lê no Al-Coran. E muitos estrangeiros vindos até de bem longe para ver e venerar a dita sepultura deixavam neste lugar considerável esmolas.

  A questão foi reaberta em 1850 apaixonando a elite dos sábios do mundo inteiro, quando um certo Ambroise Schilizzi; funcionário do consulado da Rússia em Alexandria, confiou ao historiador Max de Zogheb a seguinte aventura:

  Esse homem depois de ter descido e percorrido um corredor encontrou-se diante de uma porta aferrolhada através de cujas fendas pôde vislumbrar numa espécie de caixa de vidro um corpo humano cuja cabeça estava encimada por um diadema e que parecia meio curvada sobre uma espécie de elevação ou trono. Uma quantidade de livros e de papiros estava espalhada em redor. Faltou-lhe o tempo para dar-se melhor conta do que tão fortemente excitava sua curiosidade pois logo foi puxado para trás, seu guia um religioso da mesquita recusou-se a deixá-lo fruir mais tempo do espetáculo. Todavia pôde, disse ele consignar o resultado dessa visita num informe detalhado cuja cópia entregou tanto ao cônsul da Rússia junto ao qual exercia um cargo honorífico como ao patriarca grego ortodoxo seu chefe espiritual; malgrado porém as suas tentativas posteriores, nunca mais lhe foi permitido abordar o porão misterioso e fez-se o silêncio sobre esse acontecimento.

  Esta curiosa história foi corroborada pelo arquiteto Mahmoud el Talaki, que visitou as salas subterrâneas da mesquita Nabi Daniel, por ocasião das sondagens realizadas para o estabelecimento da carta de Alexandria, em 1861. Deixou-nos a seguinte narrativa:

  Quando de minha visita às criptas desse edifício, entrei numa grande sala abobadada, construída sobre o solo da cidade antiga. Desta sala lajeada partiam em quatro direções diferentes, os corredores em abóbada, que não pude percorrer completamente devido ao comprimento deles e do mau estado em que se achavam. A riqueza das pedras empregadas na construção e muitos outros indícios confirmaram-me a idéia que esses subterrâneos deveriam desembocar na tumba de Alexandre o Grande; também eu me reservei para levar mais longe as minhas investigações, quando infelizmente foi dada a ordem para murar todas as saídas.

  Aqui também o muro do silêncio foi mais forte; pois foi preciso que existisse um interesse muito grande para manter em segredo o local do hipogeu, indo mesmo a precaução a ponto de murarem todas as saídas do mausoléu, para interditar definitivamente o acesso a ele. E esse mistério suplementar vem acrescentar àqueles que reinam em torno do personagem Alexandre o Grande.

  Foram depois feitas sondagens em 1931, mas quer tenham sido feitas rapidamente, quer desejassem provas de que não havia nada, o resultado foi completamente negativo.

  No momento atual e no estado de acontecimentos arqueológicos, é possível localizar a tumba de Alexandre. Também será preciso que uma equipe competente e séria possa empreender escavações metódicas no antigo bairro do Sema, sem ser estorvada por ordens superiores.

  Quanto à história da tumba de Alexandre que talvez não esteja terminada, prova o apego místico, ainda hoje sensível dos homens àquele que foi em vida um herói e um deus depois de sua morte. Através dos episódios mais significativos da vida de Alexandre, pode-se indagar que outra estrela além do Sol presidiria a um tal destino?

                                                   O Destino de Alexandre

  No século IV antes de nossa era, a Macedônia não era muito diferente do que é hoje, isto é, um país grandioso e selvagem feito de montanhas cobertas de florestas e de vales profundos, semeados de planícies e de pastagens no fundo das quais corriam impetuosos cursos de água baixando dos cumes. Essa região que hoje faz parte da Iugoslávia estende-se entre a Albânia ao oeste e a Bulgária a leste; a Grécia delimita sua fronteira meridional [Nota de Rayom Ra: hoje o país é ex-república da Iugoslávia, tornando-se membro da ONU, desde 1993, como República da Macedônia].

  Na época do reino macedônio, essa região formava um Estado poderoso que já fazia estremecer as cidades gregas, inquietas com esse vizinho nórdico.

  A lenda que relata o nascimento da Macedônia vale a pena ser contada. Indica com efeito uma relação de uns soberanos com o Sol, parentela que o jovem Alexandre deveria proclamar a céu aberto.

  No fundo da bárbara Ilíria, cerca do fim do século VIII antes de J.C., três irmãos da raça negra chamados Gaianos, Aeropus e Perdicas, vindos de Argos, cidade do Peloponeso, instalaram-se na Alta Macedônia onde se tornaram pastores. Descendentes longínquos do poderoso Héracles – Hércules – ele próprio filho de Zeus, nossos três heróis não poderiam ter um destino comum.

  Certo dia um dos irmãos, Perdicas que era de grande beleza seduziu a esposa de um chefe de rebanho em cuja casa os três jovens estavam empregados. O marido suspeitou, foi tomado de um acesso de cólera terrível e expulsou nossos três heróis; como estes reclamassem o ajuste de seus salários, o chefe designando o Sol que dardejava seus raios pela abertura do alojamento respondeu-lhes ironicamente; “Eis aí todo o salário que mereceis, tomai este Sol, eu vô-lo dou”. Perdicas que tinha resposta pronta retorquiu aceitar o pagamento e traçando um círculo no espaço delimitado pela luz do astro, proclamou que se considerava daí em diante o senhor e o rei dessa terra, acrescentando o gesto à palavra, avançou ao Sol e ofereceu-lhe por três vezes seu peito nu em sinal de gratidão.

  Depois Perdicas, ajudado por seus irmãos, tornou-se o primeiro rei da Macedônia sustentando assim sua palavra. A esse primeiro monarca sucedeu Amintas I seguido por toda uma linhagem real interrompida até Felipe, futuro pai de Alexandre o Grande.

  Grandes admiradores da civilização helênica, os soberanos adotaram a língua e a cultura gregas que impuseram aos seus súditos. Eles mesmos fizeram vir arquitetos e artistas de Atenas e de outras cidades, para edificarem uma capital baseada no modelo grego. Esta cidade tomou o nome de Egeu. Sua localização em pleno coração do reino, sobre um promontório rochoso dominava as planícies circundantes, tornava-a um ponto estratégico e uma praça militar de primeira importância.

  Do alto de suas muralhas podia-se contemplar a perder de vista a aglomeração das florestas que diziam ser povoadas de ninfas e sátiros. Ao longe desenhava-se, para o sul, a silhueta majestosa do monte Olimpo, elevando a três mil metros de altura sua coroa nevada, morada de Zeus e dos doze grandes deuses. 5

  5. Observamos aqui ainda o parentesco com os doze signos do zodíaco.

  Na região circunvizinha chamada Pireu, sobre os declives setentrionais do Olimpo estendia-se o império das divindades mitológicas, a morada tradicional das musas abrigando a tumba de Orfeu, o deus músico, em meio à florescência de roseirais silvestres de onde se escapava o canto harmonioso dos passarinhos. Embora macedônia queira dizer quase bárbara, essa terra era venerada pelos gregos que a consideravam inviolável. Não distante estendia-se a cidade de Heracléia (de Héracles). A seus pés corria um rio cujas águas passavam por ser tão capitosas como o vinho.

  A realidade seria tão sedutora como a lenda? O clima da Macedônia, de toda a maneira não corresponde a essa descrição edênica: muito rude no inverno com chuvas abundantes na primavera, comporta verões ardentes entrecortados de tempestades terríveis.

  O país embora selvagem era bastante fértil, apesar das grandes extensões incultas e no fundo dos vales ou nos aclives das colinas cultivava-se o trigo, ou a aveia nos campos semeados aqui e ali de figueiras e oliveiras.

  Os macedônios, povo rude e guerreiro, pertenciam aos povos dórios, essa raça indo-europeia, intrépida, chegada anos antes para conquistar a Grécia. Fisicamente eram homens grandes, vigorosos, olhos quase sempre azuis e cabelos louros descendo sobre o pescoço em espessas cabeleiras, Alexandre herdaria esse físico nórdico e sua bela figura contribuiu bastante para o seu sucesso, pois os gregos admiravam muito os homens louros, e deles fizeram o tipo ideal de beleza.

  Alexandre o primeiro com esse nome 6, fez reconhecer sua ascendência helênica e transferiu a capital para Péla mais ao sul que viu prontamente afluir uma plêiade de escritores e artistas célebres, tanto assim que o rei Aquelaus, filho de Perdigas II, deu asilo ao grande dramaturgo Eurípedes que ali pode escrever seus Baquíacos. Também estiveram em Péla: Timóteu, músico e poeta que foi por um tempo o ídolo de Atenas e o brilhante Agaton, companheiro de O Banquete de Platão. 7.

  6. É preciso não confundir com Alexandre Grande e nem com Alexandre III da Macedônia.
  7. Sobre a importância de o banquete ver-se relativamente a Akhenaton.

  Quando Filipe, que seria o pai de Alexandre o Grande, subiu ao trono com a idade de trinta e três anos, pôde tranquilamente admirar as instituições políticas e militares da Grécia, pois passara três anos de sua juventude em Tebas, cidade célebre pela organização militar e disciplina marcial que a caracterizavam. O novo rei não era menos apaixonado pela cultura ateniense que seus predecessores e o fato de que fosse de origem montanhesa acentuava ainda mais sua veneração pelo Estado-cidade.
  Filipe era um homem ambicioso, tinha qualidades de inteligência e coragem e uma certa tendência à impulsividade e aos repentes. Esportista completo não hesitava em participar dos concursos de jogos e de lutas e suas bebedeiras, seguidas de terríveis acessos de cólera, inspiravam temor aos mais próximos. Grande amador de mulheres, tinha também uma outra paixão, o exército, que reorganizou sob o modelo tebano de austeridade e disciplina, instruindo um corpo de cavalaria: os “Companheiros” ou Htaroi, recrutados entre os jovens da aristocracia; a infantaria foi por sua vez desenvolvida e treinada para combater em formação cerrada sob os modelos das “falanges” gregas.

  Essa falange macedoniana se tornaria um instrumento temível de combate e asseguraria o sucesso das futuras campanhas de Alexandre. O exército em sua totalidade contava mais ou menos dez mil homens muito bem treinados, cheios de ardor patriótico, formado por soldados profissionais, era completamente devotado ao rei e não pedia mais que servir.

  No ano de 357 quando Filipe entrava nos seus vinte e cinco anos teve um desses súbitos acessos de religiosidade, habituais nos espíritos apaixonados. Possuído de uma exaltação bem digna de um grego, partiu para a ilha de Samotrácia no mar Egeu da qual lhe havia elogiado os prodígios, para assistir os mistérios religiosos celebrados uma vez por ano e conhecidos em toda a Grécia. Esta ilha era com efeito a sede do culto de Cabiros, 8 seres misteriosos que segundo Estrabão, eram os netos de Vulcano – o deus subterrâneo que forjava suas armas no fogo dos vulcões – permaneciam aos olhos de todos os habitantes semi-divinos dos mundos subterrâneos, obscuros gênios da Terra, expulsos 9 da superfície luminosa.

  8. A origem dos Cabiros liga-se aos Pelasgos, povos pré-helênicos cuja história se perde na noite dos tempos. A presença deles na ilha de Samotrácia é ressaltada pela lenda segundo a qual é nessa ilha do Mar Egeu que foram iniciados Jasão, os Argonautas e Orfeu. Os Cabiros são considerados os “Teurgos do Fogo” e os precursores do trabalho dos metais (ou metalúrgicos) e os pais da Alquimia.
  9. As fogueiras de Vulcano simbolizam o Sol interior da Terra, réplica do Sol celeste.

  Esses gnomos são bem conhecidos das lendas alemãs relatadas no Edda islandês e não é menos extraordinário constatar essa parentela entre a mitologia nórdica e a da Grécia antiga. Entretanto esta semelhança que poderíamos levar até muito longe, não é de tal forma surpreendente se pensarmos que nos encontramos diante de um fundo comum à família indo-europeia que invadiu a Europa e o Oriente-Próximo num passado distante. Esses deuses “anões” foram por sua vez considerados os patronos da Fertilidade e semelhantes aos gênios tutelares da Navegação que se manifestam aos marinheiros em desgraça, sob a forma de clarões espectrais coroando os mastros dos navios nas noites de tempestades, mais conhecidos sob o nome de “Fogos de Santelmo”. Se demos crédito ao historiador Weigall: 

Os ritos secretos e as orgias dos Cabiros estavam entre os mais famosos “mistérios” da Antiguidade: e embora houvesse vários lugares em que se realizavam – principalmente na ilha vulcânica de Lemnos a um dia de navegação para o sul – Samotrácia era o centro real do culto, os mistérios realizavam-se num templo próximo à cidade principal, cujas casas se agarravam como moluscos aos rochedos da costa norte. A pequena ilha parecia destinada pela natureza a ser o domínio dessas cerimônias esotéricas, pois suas margens inóspitas e sem enseadas surgiam das ondas do Egeu com poética magnificência; os declives abruptos e os precipícios sobrepunham-se até o cume central atingindo mais de mil e quinhentos metros acima do mar. A ilha inteira parecia uma única montanha mágica que tivesse espontaneamente saído do oceano para um encantamento misterioso e se preparasse para desaparecer de repente. 10. A. Weigall, Alexandre o Grande, pgs. 46-47

  Filipe da Macedônia pôs o pé em terra no único porto da ilha, em Paleópolis. Os mistérios começaram desde o dia seguinte, atraindo uma enorme multidão de peregrinos vindos da Europa e da Ásia. Como rei, Filipe foi recebido pelo grande padre do culto, revestido de seus hábitos sacerdotais. O rei pôde assim assistir as cerimônias mais secretas, que se sabe apenas consistiam numa orgia sexual visando encontrar pela exaltação sensual, a comunicação com o deus. São muito próximas de tais práticas o Tantrismo Asiático, tal como é ainda praticado na Índia. Foi numa dessas orgias sagradas que Filipe viu pela primeira vez a bela Olímpias, sacerdotisa do culto cabírico dedicado às orgias sagradas. Filipe foi literalmente sugado por essa beleza selvagem que ao som fremente das liras e dos tambores dançava com monstruosas serpentes pítons. Devota assim de Zeus-Amon, a jovem mulher com a idade de apenas dezesseis anos participou de todos os mistérios durante os dez dias e as dez noites que durou esta festa religiosa. Foram invocados os espíritos dos mortos no curso de cerimônias em que se extinguiram e acenderam-se sucessivamente os fogos sagrados trazidos de Delfos, ilha consagrada ao deus solar Apolo. Iniciado nos pequenos mistérios ou mistérios menores, Filipe sentiu-se indissoluvelmente ligado a essa sacerdotisa de longos cabelos dourados que o olhava fixamente com seu estranho olhar azul. Após os últimos sacrifícios que o purificavam de todas as faltas, levou consigo a jovem mulher com a promessa de torna-la rainha de seus Estados.

  Olímpias não esperava menos do monarca, ela que era de raça principesca, filha do defunto rei Neptolomeu I do Epiro, remontava sua origem ao filho de Aquiles, herói imortal da Ilíada. Essa filiação semidivina impressionou o jovem Alexandre que tomou por modelo e por guia, o grande herói da guerra de Tróia.

  O Epiro, pátria de origem da futura rainha, era então uma região mais selvagem que a rude Macedônia; era a terra de eleição desses seres semilegendários, as Bacantes, essas mulheres em estado de loucura que celebravam no decorrer das cerimônias frenéticas, os ritos associados às libertinagens sexuais de toda natureza. Se acreditarmos no romano Plutarco, Olímpias era “uma devota ardente desses exercícios desenfreados e orgíacos”, o que diz bastante sobre seu caráter desequilibrado. Participando do culto à Natureza, oferecendo seu corpo ao Sol, fonte de toda a vida, era uma mística sincera em que a expansão dos sentidos associava-se estreitamente aos transportes religiosos, magia sexualis cujas imensas possibilidades não se esgotaram no seio de certos cenáculos esotéricos muito fechados.

  As núpcias reais foram logo apregoadas ao som de trombetas, em todas as cidades do país. A cerimônia for cercada de todos os esplendores que um tal acontecimento merecia, em meio aos festins e aos jogos oferecidos com largueza.

  Entretanto, Olímpias, aos faustos um tanto frios da corte e ao luxo estático do palácio, já começava a preferir as florestas de carvalhos de seu Epiro natal e deplorava os tempos em que adorada por todo um povo, celebrava os mistérios cabíricos de Samotrácia.

  Tendo para sempre no horizonte as fortificações de Péla, nossa jovem rainha refugiava-se no culto místico de seus deuses de eleição: Amon-Ra, dedicando-lhe a criança que mais que tudo desejava trazer ao mundo. Como estava longe o país frio e ventoso, amigo da tempestade e os ancestrais Pelasgos, tribo ariana detida ao pé do monte Tomaros pela voz do grande deus em pessoa, entre os carvalhos agitados pela borrasca. Depois dessa época distante, o oráculo de Dodona adquirira fama. Depressa ultrapassou as fronteiras Epiro vindo gente de todos os cantos da Grécia para consulta-lo. Olímpias em sua infância tinha o costume de visitar o recinto sagrado, ela que era a filha do rei, o protetor do oráculo.

  Em Dodona, escreveu um mitógrafo, havia um carvalho consagrado a Zeus e nesse carvalho um oráculo do qual mulheres (as Plêiades) eram as profetisas. Os consultantes aproximavam-se do carvalho e a árvore se agitava por um momento, a seguir as mulheres tomavam a palavra dizendo: “Zeus anuncia, ouvi-o”. Com exceção de Delfos, Dodona no Epiro e Siauah no Egiro eram os dois oráculos mais frequentados pelos gregos que os consideravam gêmeos, supondo-se terem as duas instituições idênticas origens e sendo análogo em ambos o procedimento oracular. Da mesma maneira que o santuário de Dodona estava situado nos bosques, o santuário de Siauah – que seria visitado por Alexandre o Grande – encontrava-se num oásis sombreado, conhecido dos egípcios pelo nome de Seket-Iemy, “o lugar das árvores”. Amon era o deus do santuário de Siauah e Zeus, a divindade que presidia em Dodona era identificada com ele em toda a Grécia, com o nome de Zeus-Amon ou na terminologia latina que nos é mais familiar, de Júpiter-Amon.   A. Weigall, op.cit.pag.51.

  Zeus representava o elemento cósmico divino presente no raio e no trovão, enquanto que Amon simbolizava o lado luminoso da divindade figurada pelo Sol iluminando o Universo. As duas divindades associadas completavam o logos ou princípio superior.

  Não há portanto nada de surpreendente que o Egito fosse visto pelos gregos como a terra sagrada por excelência, dotada de imensa sabedoria, pois todos os grandes espíritos da Helade, tanto Platão como Pitágoras foram iniciados nos seus templos e essa lembrança do Egito, filho da Atlântida e mãe das civilizações, aparece nitidamente na mitologia grega, no episódio que se viu desenvolver o enfrentamento entre Zeus e o gigante Tífon. Fugindo desse monstro, demônio saído do Tártaro, os deuses do Olimpo à vista do gigante atacando o céu, ganharam a terra do Egito onde se metamorfosearam tomando a forma de animais.

  A prece de Olímpias não ficou sem eco; o deus grego-egípcio de Dodona e de Siauah, esse “deus místico da Fecundidade”, cujo poder se manifestava através das estrelas cadentes e pelos raios e cuja voz estendida sob a forma do vento nas árvores, aconselhara seus antepassados de tempos imemoriais 12 avisou-lhe durante o sonho, que ficaria grávida. Nesse sonho, Zeus apareceu-lhe sob a forma do raio caindo do céu e o fogo celeste que descia sobre ela abrasou-a inteira como uma tocha. A criança que nascesse sob tais auspícios só poderia ter um destino excepcional.

  A noite que se seguiu foi a celebração do casamento, Filipe teve de seu lado outro sonho tão perturbador como o de sua esposa: no decorrer do sinhô ele fechava o sexo de sua jovem mulher com um selo tendo a marca do Leão. 13 Ora, sabe-se que esse emblema solar é reservado aos deuses e à sua descendência. Aristandro de Telmessos, mágico da corte, interpretou esse sonho como o anúncio de um acontecimento feliz. “Não se sela um odre vazio”, declarou ele e essa frase colorida significava que Olímpias estava grávida e traria ao mundo um menino de coração de leão.

  12. A. Weigall, op.cit, pag.52.
  13. Comparação com o nascimento de Jesus-Cristo e a virgindade de Maria.

  E logo Olímpias pariu um filho que não hesitou em considerar um “ser predestinado”, filho de Amon-Ra, deus tutelar do Egito oculto. No instante do nascimento, manifestaram-se sinais prodigiosos na terra e no céu: sismos estremeceram o solo e tempestades abateram-se sobre as ondas fazendo retumbar a voz de Zeus em meio a fulgurantes relâmpagos. Durante o parto, duas águias diz-se, permaneceram juntas, encarapitadas no telhado dos apartamentos da rainha, presságio anunciador de que a criança reinaria um dia sobre dois impérios. O recém-nascido recebeu o nome de Alexandre, em lembrança aos reis da Macedônia, que levaram esse nome.

  Filipe, ausente na capital, soube do nascimento enquanto guerreava em seus territórios. Quase ao mesmo tempo foi-lhe anunciado que Parmenion, um de seus comandantes, acabara de obter esmagadora vitória sobre os ilírios, que a colônia grega de Potidea entregara-se às suas tropas e que um cavalo de suas coudelarias acabava de ganhar uma corrida em Olímpia. Essas três notícias triunfais foram interpretadas pelos adivinhos como o aviso de um esplendoroso destino para a criança recém-nascida. Na mesma noite, o grande templo de Artemisa em Éfeso, santuário por todos venerado, foi devastado por um grande incêndio que destruiu o edifício até os alicerces. E os magos ao saberem da notícia exclamaram: “Esta noite em alguma parte do mundo acendeu-se uma tocha que fará arder todo o Oriente”. Alexandre levaria a chama dessa tocha ao coração da Ásia que reanimada pelo fogo sagrado de Zoroastro iluminaria o mundo com sua luz solar.

  Antes de abordarmos a vida de Alexandre é preciso explicar a significação legendária de sua parentela divina. Se Deus-Amon foi o pai espiritual do herói, essa proteção estendeu-se sobre toda a sua vida. E desde esse instante deve-se analisar o comportamento de Alexandre através da mitologia sagrada da Grécia e do Egito.

  Na religião grega Zeus é o rei dos deuses, assentado sobre o Olimpo. Sua história parece o modelo do destino de Alexandre; criado por sua mãe Rhea, Zeus lutou para destronar seu pai, o deus Cronos e nesse combate teve de enfrentar os Titãs aliados contra ele. Para vencer, Zeus liberou os Ciclopes e os gigantes até então encerrados sob a terra numa espécie de inferno, o Tártaro. Com a ajuda desses seres monstruosos conseguiu assim suplantar seu pai. Cronos e os Titãs foram por sua vez encadeados e jogados no Tártaro. Dessa maneira terminou essa Titãnomaquia ou guerra dos Titãs, que expulsou do poder a geração primordial e instalou os primeiros olímpicos. 14 Pierre Grimal, La Mythologie grecque, P.U.F., Paris. 1353, pag. 25.

  Mas Zeus não era ainda o senhor incontestável. Os gigantes que o ajudaram na sua conquista voltaram-se contra ele e começaram a lapidar o céu. Zeus armando-se então com o raio forjado pelos ciclopes aniquilou essa primeira geração mortal em revolta contra os deuses. Contudo antes de assentar definitivamente seu poderio, Zeus devia passar ainda por uma prova, a luta contra Tífon. Maior que os gigantes, esse monstro tocava as estrelas com sua cabeça. “Em lugar de dedos, possuía nas mãos cem cabeças de dragões. A partir da cintura, até os pés, seu corpo estava recoberto de víboras. Era um ser alado e seus olhos lançavam chamas”. Após muitos episódios, Zeus terminou por triunfar de Tífon que foi esmagado por ele sob o Etna, na Sicília.

  Tífon foi o último adversário de Zeus. A idade dos monstros terminara. Foram então criados os homens modelados na argila. Prometeu, que se tornou o protetor da raça humana, quis subtrair a Zeus as “sementes do fogo” tiradas da “roda do Sol” para dá-las aos homens. Dessa vez a vingança do deus foi terrível. Prometeu foi encadeado sobre o Cáucaso e uma águia, ave vingativa do Sol, devorava-lhe o fígado, sempre refeito. Depois Zeus pediu a Hefaístos para criar a mulher, o que foi feito. A maior parte dos deuses do Olimpo, em número de doze, são filhos ou filhas de Zeus, o que lhe valeu o nome de “pai dos deuses”.

  As divindades originadas de Zeus são: Afrodite, Apolo, Artemisa, Hefaístos, Atena, Hermes e Dionísio.

  Zeus apresenta-se assim como um deus guerreiro, superior a todos os outros, senhor do céu, detentor da arma celeste, o raio nascido do Sol. Era bom para Alexandre uma parentela real de ordem divina. Veremos que seu correspondente egípcio, Amon-Ra não era inferior.

  Amon é o deus tutelar do Antigo império egípcio, Através da monarquia faraônica simbolizava a supremacia do princípio divino superior inexpresso e inexprimível. Seu nome é tirado da raiz imm que significa o ser oculto. Derivado do antigo deus Atum adorado em Heliópolis, Ra veio completar o princípio único figurado por Amon, simbolizando o lado aparente do poder divino agindo sobre a matéria em face da significação oculta de seu gêmeo. A glória de Ra está contida inteiramente na epifania do Sol, significando o triunfo definido da luz sobre as trevas.

  Como filho de Amon, o faraó identificava-se com a “divindade do céu” descendo a terra para realizar a apoteose de Ra. Como filho de Ra, o faraó identificava-se com o Sol soberano de todos os astros e como ele proclamava-se mortal, triunfador da noite e da morte, filho de Amon-Ra, o rei reunia em sua pessoa a concepção escatológica heroica, iniciatória, das divindades “solares”. Essas qualidades primordiais aos olhos dos antigos reuniu-as Alexandre sobre sua cabeça quando foi coroado faraó, em virtude de uma tradição que se perde na noite dos tempos.

                                                         Segue Parte II 


Fonte: Os Filhos Místicos do Sol, Jean-Michel Angebert - Difel

Rayom Ra
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