Figura
1
“Quando a consciência se torna estável e desenvolvemos aquela
flexibilidade em que o corpo e a mente tornam-se subservientes à consciência,
então somos capazes de olhar as coisas e não ficarmos presos a elas – mas
unicamente as vermos como elas são. A consciência liberta passa a ver o corpo
exatamente como corpo, não mais como sua identidade. A consciência vê a energia
simplesmente como ela é: exatamente energia, e não algo para ser por ela
fascinada, com ela identificada ou para jogos. É algo para ser amada e usada
com sapiência, para sentir emoções como elas são, as vibrações do corpo astral,
os conteúdos psicológicos que refletem as impressões boas ou más transformadas.”
O
Início da Meditação
Até agora temos falado sobre técnicas da
meditação, terminologias da meditação, fundamentos da meditação, formatos e
estruturas da meditação e especificamente como a meditação está ilustrada nas
tradições budistas tibetanas, através das pinturas dos nove estágios do Shamatha ou consistência da meditação.
Figura
2
Esses estágios da estabilidade meditativa ou
serenidade são observações experienciais das qualidades do coração, mente e
corpo necessárias a experienciarmos para sucessivos alcances do que seja a
chamada “flexibilidade”, ilustrada ao alto dessa imagem. Flexibilidade é uma qualidade da experiência
física e psicológica onde nosso corpo e mente tornam-se obedientes, inclinados
a auxiliar-nos em nossa vida espiritual ao invés de se tornarem obstáculos ou
impedimentos. A maioria das pessoas ao tentar aprender a meditar acha que o
corpo e a mente não ficarão quietos. São por demais agitados, com muitos
desejos, desconfortos, sempre buscando distrações, com coceiras e dores, com
fome e sede e com todas as diferentes coisas que o corpo requer bem como requer
a mente com seus pensamentos e sentimentos, memórias, preocupações e projeções.
É todo esse caos físico e psicológico que nos aflige e nos dificulta ao
aprendizado do que realmente seja meditação.
As primeiras dez palestras deste curso têm
sido sobre o que necessitamos entender a fim de largarmos esse estado de caos onde
temos permanecido e adentrarmos física e psicologicamente num estado de
serenidade. Ninguém pode nos proporcionar isso. Não podemos comprá-lo. Não
podemos encontrá-lo em qualquer outro país ou cidade, não conseguimos achá-lo
em nenhum lugar exceto dentro de nós próprios, sendo algo que precisa ser
cultivado pelas escolhas que fizermos momento a momento.
Como se dá a escolha do uso do corpo se nossa
mente cria o estado experiencial que estamos tendo nesse momento? Se estamos
estressados, agitados, em conflitos, nublados por pensamentos, emoções e
desconfortos físicos, devem-se ao modo com que estamos manobrando nosso corpo e
mente a cada momento experienciado. Isso é causa e efeito. Produzimos as causas
que resultaram nos efeitos que agora experienciamos. Meditação é exatamente a
base fundamental da causa e efeito. Se produzirmos as causas manobrando
sabiamente com nosso corpo e mente criamos o efeito da serenidade. Não depende
do tempo, do dinheiro, do status, do quanto ou onde vivamos. É de outro modo
inteiramente dependente de como usamos a nossa total energia e nada mais.
Entendamos que esse estado de serenidade seja
tão importante porque é necessário. Primeiramente é importante devido ao nosso
atual e corrente estado de sofrimento e todos podemos concordar com isso. Ao
falarmos do que seja sofrimento não é meramente porque o sofrimento esteja
localizado no físico, mental ou emocional, mas por ser um profundo estado de
não sabermos. Não sabermos quem somos ou porque estamos aqui sofrendo a
incerteza de nosso futuro e de nossa busca. De não sabermos quando e como
morreremos.
Na verdade nos encontramos só ligeiramente
conscientes do fato de que morreremos. Não estamos preparados para isso pois
essa fundamental ignorância não nos quer manobrando com a inevitabilidade da
morte. Preferimos evitar isso e nos distrairmos ao invés de nos prepararmos.
Esse profundo estado de ignorância é verdadeiramente a base significativa de
todas as religiões mundiais: esse estado de sofrimento da humanidade, de como
manobrar e realizar mudanças.
Bhavachakra:
A Roda do Tornar-se
No
budismo isso é conhecidamente ilustrado numa imagem chamada Bhavachakra. A
maioria das pessoas a chamam a Roda do Samsara, a Roda da Vida, mas esses não
são os seus nomes. O verdadeiro nome é Bhavachakra, que significa “Roda do
Tornar-se” e esse é um termo muito significativo. (nota do tradutor: versão
livre de algo como “roda do transformar-se”,”roda do vir a ser” “roda do
porvir”, “roda do colher”, etc). Já demos um curso sobre o assunto. Se
estiverem interessados em aprender mais sobre isso vejam [Bhavachakra Course]. [Ver também nossa postagem traduzida: https://arcadeouro.blogspot.com/2019/11/bhavachakra-roda-do-tornar-se-roda-do.html]. O
que a Roda ilustra não é simplesmente o mundo exterior que a maioria das
pessoas assim estudam de modo literal num nível de jardim da infância.
Figura 3
Nessa grande Roda da Existência nos domínios
de Yama o Deus da Morte, é onde estão desdobrados os seis reinos através dos
quais todos os seres transmigram. Ali existe esse significado, porém o maior
significado esotérico é aquele onde a Roda por inteira desdobra acerca de nossa
mente e como a mente funciona. E também em como experienciamos a vida. Os
objetos de nossa psique estão ali refletidos. Essa Roda na qual todas as coisas
existentes se movem, subindo e descendo, está permanentemente acontecendo em nossas
vidas o tempo inteiro e quando observamos nossa mente conforme explicado nos
procedimentos desse curso, descobrimos que temos enorme elenco de vontades
contraditórias que são os diferentes tipos de entidades viventes em nós.
Numa dada situação podemos sentir-nos muito
arrogantes, muito orgulhosos. Podemos parecer possuindo o melhor de tudo e
provavelmente a maioria de nós negaria isso. Contudo se alguém desse grupo
fosse para a Índia, Síria, a certas partes da África, pareceria um Deus, visto
que teria acesso a qualquer coisa que desejasse em assuntos de comida,
sobrevivência, qualidades de bens ou a qualquer outro tipo de disponibilidade. Estamos
nos incluindo no contexto geral de pessoas do grupo da humanidade que vive no
ocidente parecendo Deuses, uma vez que a maioria das pessoas no mundo não
possuem o que os ocidentais possuem.
Esse é o reino do topo, o nível dos Deuses.
Normalmente ao enfocarmos isso parece-nos estarmos a imaginar os Deuses das
mitologias, entretanto detemos em nós os aspectos psicológicos do orgulho,
arrogância, do bem estar e apegos as nossas coisas. Esses são os defeitos dos
deuses que podemos comparar como se fossem as formas dos defeitos terrenos
excessivamente materialistas.
Possuímos também porções animalescas ou
partes disso, aspectos em nós que são muito instintuais. Por exemplo: estamos
sempre temerosos por nossa segurança. Ficamos sempre terrificados sobre nossa
posição ou finanças. Isso é instinto animal, tipo qualidade de aspectos
psicológicos. Naturalmente temos os nossos diabos e demônios em nossos domínios
inferiores que se expressam através do ódio, violência, roubo e crueldade.
Nenhum de nós admite sermos assim, mas temos tudo isso. Se duvidarmos,
observemos como nossa mente fala com as demais pessoas. Se alguém nos dá um
corte na rodovia em que dirigimos ouçamos a linguagem de nossa mente, o
palavreado chulo, a violência do pensamento que descarregamos sobre aquela
pessoa. Isso não é uma qualidade humana, mas qualidade demoníaca que todos possuímos.
Vejamos então essa grande Roda a demonstrar
todos os elementos contraditórios e conflitantes que vão surgindo em nossa
atmosfera psicológica o tempo inteiro. Não é um mapa do que esteja fora de nós,
mas daquilo que está dentro de nós. O mais significativo de tudo sobre essa
grande Roda é seu eixo. Vejamos que a Roda é algo poderoso e depende
inteiramente do ponto em torno do qual ela gira. Se o ponto central estiver
danificado a Roda por inteiro virá cessar seu funcionamento.
Desse modo o Bhavachakra, que é a Roda de
nossa psique, tem um eixo central, e se conseguirmos compreender acerca daquele
eixo, podemos muda-lo – podemos mudar a Roda. E a Roda do Tornar-se sobre a
qual normal e repetidamente estamos circulando, adiciona na palavra “circulando”
o significado sânscrito do Samsara. Assim sendo é aqui onde a palavra Samsara
entra no jogo dessa Roda, pois estamos sempre circulando.
A maioria das pessoas pensa, quando estuda
esse tipo de material, que a liberação ou libertação do sofrimento, tem a ver
com uma bênção dada pelos deuses ao seu desempenho em alguma grande tarefa em
favor de um determinado deus – como exemplo de uma repetição de um mantra ou a
um demonstrar de sua crença em tais e tais coisas – tornando-se assim um devoto seguidor da
religião que herdou de seus familiares, etc. E que ao seguir as regras e
preceitos de sua religião esta, um dia, o fará liberto de todas as coisas.
Entretanto em lugar algum na natureza
encontramos que a lei cessa de operar em virtude daquilo que alguém crê. Não
acontece em lugar algum, não há qualquer escritura que adicione isso. Mesmo
Jesus dizia não ter vindo negar a lei, mas confirma-la. Para nos tornarmos
libertos isso não é assunto de crença ou tradição. De todos os modos – isto sim
– é trabalho de purgação, daquilo que nos causa sofrimento.
Sofremos porque temos ódio; temos luxúria,
orgulho, inveja, medo, avareza e preguiça. Essas qualidades conduzem ao
“crime”, às ações nocivas e são as causas de nosso pessoal sofrimento e dos
demais. Eis porque cada escritura no mundo alerta-nos de que nenhum idólatra, assassino,
adúltero, fornicador ou ladrão pode entrar nos reinos paradisíacos uma vez que
os resultados criados por suas ações os aprisionam em níveis inferiores. É isso
que essa Roda revela. Mesmo os Deuses estão aprisionados aqui. Estão
armadilhados por envolvimentos com seus poderes, com suas posses e status. Cada
nível é uma gaiola e o único modo de nos libertarmos dessa Roda é entende-la no
que ela gradativamente representa. É compreender a realidade básica de nossas
vivências e romper com a ilusão. Vemos os Deuses sofrerem na ilusão tanto
quanto os demônios. Todas as escrituras no mundo descrevem essas mesmas coisas
a seus modos.
A libertação virá acontecer quando estivermos
convivendo intimamente com a verdade. Não é unicamente vê-la, porém
compreende-la. É isso o que Nagarjuna, o grande instrutor budista disse:
“Estaremos libertos quando nossas ilusões e ações cármicas estiverem
esgotadas”.
Ilusões são as histórias que contamos a nós
próprios psicologicamente. São nossas enganosas percepções da realidade. Ações
cármicas contaminadas são todas as coisas que tenhamos feito durante a
influência das ilusões.
Figura 4
A parte central daquela Roda mostra
simbolicamente três criaturas. Ali o mais importante dos símbolos está
representado por um cão ou um porco, traduzindo simplesmente a “ignorância”.
Não é aquela ignorância de alguém que nunca tenha aprendido a ler ou a
escrever, mas a fundamental falta do conhecimento. É o não saber do que é real
e por conta disso todos nós estamos num estado de ignorância. Pois cada um
acredita em Deus, mas quantos conhecem Deus de sua pessoal experiência? À
maioria das pessoas que afirmasse conhecer tal coisa poderíamos chama-la de
maluca. Muito embora sejamos pessoas espiritualistas e amemos religião e
misticismo, se ouvirmos alguém a dizer “oh! Tive uma experiência com Deus e
falei com Ele”, a olharemos e nos expressaremos: “uau”! Está doida!”. É uma
grande contradição. Pessoas religiosas que estudam Deus devem também admitir
que é possível saber por sua própria e exata experiência o que seja Deus e que
realidade Ele é.
Essa básica ignorância é proveniente da falta
de conhecimento do que seja a realidade e sofremos disso por termos um grande
vazio em nós. Enorme esfera de dúvida e de ansiedade íntima nos oprime, sendo
tão poderosa que no exato instante de nossa vida em que nos preparamos contra
isso, fugimos terrificados, imersos em qualquer outra coisa que consiga
obscurecer aquele sentimento de terror.
Por exemplo: quando ficamos crescidos e
entramos por essas questões do quem sou eu, qual é minha intenção e no que
estarei me tornando, e falhamos na obtenção das respostas, voltamo-nos então
para aquilo que nossos amigos fazem para se distrair – drogas, sexo, rock and
roll, carreira, dinheiro, posses, casamento, ter filhos – e a todas as demais
coisas que a sociedade nos diz satisfazer-nos.
Perseguimos a todas. Conseguimos dinheiro,
família: esposa, crianças – temos drogas, rock and roll, sexo e outras coisas
que antes supúnhamos nos preencheriam e que nelas encontraríamos plena
satisfação. Porém todas elas nunca nos satisfazem. Estão simplesmente cortinando
aquela básica e irrespondida inquirição que nos causa tamanho desconforto, e ao
invés de sabermos conviver com essa ignorância nos tornamos vítimas dos desejos.
Tornamo-nos prisioneiros. Começamos a satisfazer todos os nossos desejos na
intenção de evitarmos aquela básica e irrespondível inquirição, e gradualmente
os apegos e desejos nos subjugam. Então aqui o pássaro representa a enorme
diversidade de desejos e apegos.
Na cultura asiática isso é representado por um
pássaro uma vez que há certos tipos de pessoas que permanecem presos a um
marido ou a uma esposa, podemos assim dizer, e seus comportamentos tornam-se
extremos naquelas ligações. Assim aquela cultura usa o pássaro a fim de a isso
representar. Simplesmente representa uma qualidade psicológica, uma básica e
destacada qualidade fundamental de nossa psique, qual seja: estarmos sempre
buscando por algo que não temos.
Mesmo quando alcançamos algo não ficamos
satisfeitos. Podemos viver décadas na perseguição a um objetivo e tendo
completado a busca podemos nos satisfazer por cinco minutos, então uma profunda
insatisfação logo emerge, nos resgata; ela ainda está lá e nos lançamos pela
busca de algo a mais a fim de nos satisfazer daquela sensação de vazio, de não
termos aquilo de que necessitamos. Estamos sempre buscando fora de nós por algo
que nos satisfaça daquele inerente desejo, daquele anseio que nos conduz
física, emocional e mentalmente.
Ao mesmo tempo queremos evitar qualquer coisa
que contradiga nosso sentido de self, que contradiga a um objetivo e ao que
valorizamos. Queremos evitar dores. Queremos evitar alguém que nos faça sentir
inferiores. Temos então estas três qualidades:
1. Ignorância (cão/porco)
2. Desejo (pássaro)
3. Aversão (cobra)
Elas formam a dinâmica básica de nossa
inteira experiência desse atual tempo de vida e de tempos anteriores. Nesse
momento essas três forças estão ativas em cada um de nós, porém não somos
conscientes delas. Elas são a base de cada um de nossos pensamentos. São a base
de cada emoção e cada sensação. Por exemplo: vemos uma propaganda e não estamos
realmente prestando atenção nela, entretanto o anúncio comercial está em
verdade fluindo através de nós. Então em algum momento despertamos ao fato de
termos o desejo de possuir aquela coisa mostrada pelo comercial, mas não
sabemos por que. E começamos exatamente a pensar sobre a coisa. “Oh! Seria
muito bom. Talvez eu deva ter aquela coisa”. Embora tenhamos visto que as
imagens daquele comercial mostravam pessoas alegres e sorridentes, parecendo
contentes, mas que em verdade o que desejamos intimamente é a mesma qualidade
emocional das pessoas conforme mostrada, passamos a acreditar que o produto
anunciado é o que nos satisfará. De fato não é o produto, pois o que queremos é
afastar o sofrimento que em certos momentos dele somos possuídos. Entendem essa
dinâmica?
Desejamos algo externo a fim de evitar a dor,
mas existe uma dinâmica, pela ignorância fundamental, de uma realidade estabelecida
em muitos níveis. Aquele objeto não nos trará a felicidade. Não seremos iguais
as pessoas daquele comercial. Ao invés passaremos dias e dias em nosso trabalho
nos escravizando a fim de ganhar o dinheiro para comprar aquela coisa.
Compramo-la, trazemo-la para casa e ficamos felizes por cinco minutos e então,
de novo descontentes começamos a buscar alguma outra coisa. Eis como a vida trabalha
na era moderna e tem sido assim por século com todos os tipos de variações, mas
com a mesma básica dinâmica. Nunca contentes, sempre desejosos, sempre
ignorantes, e o resultado é o sofrimento.
É sobre isso que a Roda gira integralmente. É
tanto verdadeiro para aqueles que estão assolados pela pobreza como é para
aqueles que estão fabulosamente ricos. As circunstâncias exteriores podem ter
grande diversidade, porém a experiência psicológica é rigorosamente a mesma.
Todos estão sofrendo intensamente!
Querendo aprender a meditar vem a ser uma das
razões a desejarmos descobrir como essas três forças estão nos destruindo. Elas
fazem isso momento a momento. Nós como pessoas viventes num corpo físico temos
nossas emoções, nossos pensamentos e habilidades para agir.
Sintetizamos isso chamando-as de os três
cérebros:
1. Intelecto
2. Emoção
3. Corpo (motor, instinto, sexo)
O corpo pode ser algo explicado como tendo
motor, instinto e sexo. Esses três: motor, instinto e sexo são funções da
fisicalidade. Utilizamos essas forças através do corpo; então podemos sintetiza-las em uma só coisa. Temos aqui três cérebros, três centros de
nossas atividades primárias que são independentes uns dos outros, estando
usualmente em grande desarmonia entre eles. Temos certos tipos de continuados
pensamentos, diferentes tipos de sentimentos, porém o corpo estará realizando
inteiramente outras coisas além. Raramente todas aquelas coisas estarão
integradas e agindo em harmonia entre elas.
Em meio a isso estamos sendo constantemente
assaltados por impressões. Impressões são as percepções que recebemos através
de nossa mente, visão, audição, tato, paladar e olfato. Em outras palavras: através
de nossos seis sentidos. Sim, seis, não exatamente cinco sentidos. Os cinco
sentidos são as janelas através das quais percebemos fisicamente; entretanto
temos outro sentido que é a habilidade de sentir fenômenos psicológicos, como
pensamentos e emoções.
Esse sentido é verdadeiramente muito
poderoso. Necessitamos reconhece-lo em consonância com aqueles demais sentidos.
Então nesse dado momento, exatamente agora, todos nós estamos recebendo dados
sensórios através desses seis sentidos. Recebemos através do tato, paladar,
olfato, audição, visão, informações psicológicas e todos os dados recebidos
estão constantemente nos assaltando, sendo transformados através de nossos três
cérebros.
Ou seja: estamos reagindo pelo que
percebemos, mas não somos conscientes daquilo. Sobretudo não estamos no
controle; as coisas acontecem e reagimos automaticamente. Se alguém na estrada
nos corta temos um rompante de raiva e pensamentos de ódio em mente; o corpo
então fica bastante tenso e vem-nos o impulso de irmos nos vingar, nos posicionando
a frente do outro para também cortá-lo, certo? Assim, pois, acontece uma interação
muito rápida entre as percepções e a mente. O corpo é exatamente um reflexo
adicional daquela reação.
Figura 5
Aquele que deseja aprender como meditar
precisa tornar-se capaz de ir percebendo essas coisas constantemente. Não
somente de ir percebendo, mas também de estar ao comando conscientemente. Ser
capaz de receber todos esses pensamentos e emoções, avaliando mentalmente tudo
o que vê, ouve, toca, experiencia e cheira, escolhendo as reações e respostas
mais apropriadas. Não, simples e exatamente, para tê-las acontecendo, mas para
escolhe-las. Assim quando estamos numa loja e tratamos com uma pessoa muito
zangada, ao invés de sentirmos raiva em troca, que seria nossa reação natural,
ou ficarmos com medo e desejarmos nos afastar dali, devemos ser capazes de
observar aquela pessoa e compreende-la.
Vejam que normalmente nos meteríamos numa
luta ou em argumentos ou escaparíamos assustados com nosso coração palpitando,
querendo sair daquela situação. Aqui a ignorância, ansiedade e aversão
normalmente causariam uma reação. Alguém sendo conscientemente conhecedora percebe
quem é aquela pessoa e compreende que a pessoa zangada está num entremeio de
ignorância, ânsia e aversão, sofrendo, e sua explosão de ódio deve-se
unicamente a uma expressão de dor. Por que então responder e nos adicionarmos
àquele sofrimento? Por que ficar raivosos em resposta a alguém que seja doente
e sofredora? Seria cruel, sem sentido e provavelmente causaria mais dor, mais
sofrimento. Vejam que isso é um simples exemplo.
Cognição nesse tipo de relacionamento entre
as impressões e a psique é o que produz o efeito que experienciamos
psicologicamente. Se nossa mente está agitada, se estamos tendo emoções,
dúvidas, medos, ansiedades, incertezas, todos os tipos de dores, todos os tipos
de conflitos psicológicos são devidos a que esses processos estão acontecendo
sem estarmos no pessoal controle nem estarmos a dirigir nossa vida
apropriadamente. Em outras palavras: achamos que aquilo que vemos sentimos e
pensamos seja exatamente a maneira certa em como vemos, e aqui reside nosso
problema. Nossa esposa, nosso amor nos chega aborrecida e zangada e retribuímos
ficando também zangados por que unicamente temos aquela percepção pensando que
seja o real. Então respondemos do modo como percebemos, mas não estamos vendo a
realidade. Estamos vendo as desilusões.
Por exemplo: duas pessoas veem um mesmo oficial
de polícia. Cada uma responderá a esse momento diferentemente. Aquela que tenha
tido más experiências com a polícia no passado, que tenha vivido num lugar onde
a policia seja opressora, estupradora, assassina – sentirá ódio, medo ou
terror. Aquela que tenha um membro familiar que seja um oficial de polícia
sentirá calor – um sentido de conexão, um sentido de familiaridade ou irmandade.
É a mesma imagem do mesmo oficial de polícia que ali está, porém as reações dos
indivíduos em questão que o percebem são completamente diferentes e nenhuma é a
real. Nenhuma das duas é a realidade.
Cada indivíduo está simplesmente retratando aquelas impressões que
estão sendo traduzidas psicologicamente. Nenhuma das duas pessoas está vendo a
verdade. Nenhuma! Não estão vendo o oficial de polícia como ele é. Não veem sua
psique, suas experiências, suas dores, seus sofrimentos e seu conteúdo básico.
Não veem absolutamente nada disso. O que veem são pessoais impressões sobre ele
e como suas mentes interpretam aquelas impressões. Rapaziada, vocês estão
seguindo o que eu estou destacando? Em outras palavras: tudo o que estamos
percebendo é como se fosse através de um espelho nebuloso, e tudo o que o
espelho reflete é o conteúdo de nossa própria psique. Nunca vemos a realidade.
Somente vemos reflexos do que psicologicamente está se passando em nós.
Quando sairmos daqui, andarmos e estivermos
no parque de estacionamento, na verdade não o veremos por que nossa mente já
estará pensando onde iremos logo em seguida ou o que iremos fazer no próximo e
exato instante. Não veremos onde estaremos. Não estaremos cônscios do local no momento
pois nossa mente já estará em algum outro lugar. Quando em nosso emprego
realizando o nosso trabalho, o corpo físico poderá estar se desempenhando das
tarefas, mas a mente estará lá atrás com nossos dez anos de idade, nos
divertindo gostosamente no verão com amigos....
Somos completamente distraídos. Agora nesse
instante todos estão pensando sobre isso, certo? Ninguém está realmente ouvindo
o que eu estou dizendo. Estão começando a voltar-se para suas pessoais memórias
recordando quando tinham dez anos de idade. Veem como isso trabalha? A desconexão
entre o que realmente está acontecendo e o que a mente está refletindo através
das impressões transformadas? Desse modo entendemos que meditação não é
exatamente sobre aqueles poucos minutos durante os quais nos sentamos em nossa
cadeira ou colchão. Meditação é sobre o que vemos o tempo inteiro. Sobre como
percebemos. Tanto mais nos coloquemos frouxamente vendo só as nebulosas imagens
de nossa psique transformando impressões, nunca sentiremos a verdade, a
realidade. Os esforços do meditante é para expandir a consciência
dramaticamente. É para quebrar a desilusão da psique preguiçosa e expandir a
fim de conseguir ver o que é real, discriminando a ilusão do real.
Figura 6
Esta Árvore é a densidade dos estados
relativos. Os estados mais baixos são extremamente pesados e completamente
ilusórios. Tudo parece real, mas esse tudo é uma mentira. Quanto mais alto ascendamos
nesse mapa mais perto chegamos do que seja fundamentalmente real. É muito
claro, mais expansivo e menos condicionante. Existem leis. No topo elas são mais
simples, porém embaixo todas as coisas são muito complexas. Esta é a essência
da sua estrutura.
Nossa habilidade em existirmos e termos vida
deve-se a que dentro de nós há uma chama de viva energia que universalmente tem
diferentes nomes. No oeste é chamada Cristo. É uma Luz, um Fogo, uma Energia,
uma Inteligência, uma Força. No leste tem muitos nomes. O mais interessante – e
do que estaremos falando hoje por todo o restante da palestra – é de um tipo de
energia, um tipo da principal presença que permite a cada coisa vivente
existir. É um Raio que se lança para baixo desta Árvore da Vida dando
crescimento a todas as coisas. Esse Raio, essa Luz, essa Inteligência, essa
Energia está aqui e agora. É nossa habilidade em perceber, nossa função
fundamental.
Se aprendermos a nos centrar naquele estado
de consciência, de simples percepção, separados de todas as coisas percebidas,
podemos tocar naquela força fundamental e experienciá-la, conhecendo-a,
encontrando a serenidade, o conhecimento, a visão interior, a sabedoria, a
compaixão e despertar grande dedicação. Todas as virtudes que observamos em
todos os profetas e santos são expressões daquela Luz. É aquela Luz que emerge
do Vazio, do Absoluto. Para compreender isso temos que compreender um pouco
mais desta Árvore.
KAYA
Há uma palavra em
sânscrito chamada “kaya”, usualmente traduzida para significar “corpo”. Porém,
exatamente como nosso corpo físico é uma unidade de muitas coisas, então o
termo é “kaya”. Ao observarmos nosso corpo físico vemos que realmente não é uma
só coisa. O corpo físico é uma montagem de muitas partes que funcionam juntas
para dar-nos vida. O termo “kaya” implica na mesma coisa, mas é um termo muito
específico usado na filosofia asiática para referir a parte superior da trindade
na Árvore da Vida. Bem, toda religião tem uma trindade e há uma razão para
isso.
No oeste sabemos sobre o
Pai, Filho e Espírito Santo. A correspondência a isso no induismo é: Brahma,
Vishnu e Shiva. A mesma e exata função no budismo é o Trikaya ou três kayas: Dharmakaya,
Sambhogakaya e Nirmanakaya. É a Trindade, uma forma simbólica que representa a
estrutura básica na natureza. Essa Árvore é um ciclo ou uma série de trindades
– uma trindade superior, uma trindade média, uma trindade inferior e uma
pendurada no fundo, de um mundo decadente, o nosso mundo físico.
A trindade superior é a
interior que se encontra sobre cada coisa: Pai, Filho e Espírito Santo. Em
hebreu: Kether, Chokmah, Binah. Kether significa “coroa”. Em qualquer lugar na
Bíblia onde leiamos a palavra “coroa” (crown em Inglês), que no hebreu é Kether,
tem o seu significado, não sendo unicamente coroa. Está se referindo
espiritualmente àquela nossa parte. Chokmah significa “Sabedoria” em hebreu, e
de novo, não é exatamente aquilo que possamos ler num livro. Essa é um tipo de
penetrante iluminação íntima na natureza fundamental da realidade. Ademais,
Chokmah é uma expressão universal. Se pudermos imaginar cada ser iluminado,
cada buda, cada anjo, cada deus em todos os universos e todo o amor deles, isso
é Chokmah. É a unidade de todas as coisas iluminadas como uma expressão única
de pura compaixão. Isso é Chokmah. É totalmente simples, totalmente pura, totalmente
amor radiante. Isso é Chokmah. Binah é hebreu para “Inteligência”.
O estado fundamental do
ser, o ponto Kether, que emerge do nada: a primeira coisa que surge da não
existência para a existência é o Pai – a radiante e incompressível Divindade
que irradia como aquela grande compaixão atuando através da inteligência. Eis
como a Trindade trabalha através de toda a natureza. É muito sutil, muito
elevada e está em nós, em cada um de nós. Daí que a luz irradiando dentro da
densidade da natureza se torna Espírito, torna-se consciência abstrata,
pensamento abstrato, mente concreta, emoção, energia, fisicalidade ... e aqui
estamos fascinados pelas ilusões, totalmente ignorantes de onde veio esta
centelha do estado de ser. Se pudermos sair das ilusões, vê-las o que elas são,
podemos então restaurar de volta nossa conexão com aquela causa principal e de
novo experienciar a realidade: essa realidade que está dentro de nós.
Figura 7
Aquela Trikaya: Dharmakaya, Sambhogakaya e
Nirmanakaya, no budismo é tratada sobre os corpos a fim de nos ajudar a
compreender o que são. Dharmakaya é o corpo da verdade ou o corpo da realidade.
Sambhogakaya é o corpo da alegria ou fonte perfeita. Nirmanakaya é o corpo da
transformação. Não são corpos como nosso corpo físico. São qualidades abstratas
do ser. São difíceis de serem compreendidas intelectualmente. Contudo, o que é
significativo para a compreensão ao nosso nível é que esses são degraus de
luzes, tipos de inteligências que temos dentro de nós, a verdadeira natureza
raiz de nosso estado de ser. E se tivermos a capacidade, o treinamento, para
recuar de todas as formas de delírios e nos centrarmos mais e mais
profundamente, podemos tocá-las e experiencia-las, e aquelas experiências
transformam radicalmente uma pessoa.
Essa experiência pode ser obtida em nossa
vigília, no processo da entrada do sono, que é um processo chamado “dream
yoga”, e no momento da morte. Há muitas significativas oportunidades no curso
de nossas existências em que podemos obter isso, reconhecer o que seja nossa
real natureza, a realidade fundamental, e nela experienciarmos que todas as
coisas que achávamos tão importantes eram simplesmente ilusões completamente
insignificantes, e a realidade verdadeira e fundamental é a compreensão daquilo
que vem alinhada com a grande inteligência.
Quando estudamos as vidas de grandes mestres,
budas, santos e profetas vemos sempre essas particulares qualidades. Eles
sempre compreendem a realidade. Eles sempre têm grande compaixão e sempre têm
uma tremenda inteligência capaz de adentrar nos mais cruciais problemas, de tal
forma que nos deixam desconcertados. Estudem as vidas de Jesus, Krishna e
Moisés e verificarão isso. Um tipo de psicologia que não é como a nossa, mas
que vem sempre acompanhada por tremenda compaixão e inteligência. É assim como
esse Trikaya trabalha.
Classicamente no budismo isso é representado
por um espelho a fim de nos lembrar que o que estamos buscando espiritualmente
não está fora de nós. Está no espelho. A mente é um espelho. Tudo o que vemos
está refletido, mas esquecemos aquilo. O que nos acontece quando assistimos TV,
quando assistimos um filme, quando jogamos um vídeo game ou lemos um livro? Não
nos tornamos naquilo que estamos lendo? Não esquecemos nosso corpo? Não pensamos
naquilo que fazemos? Observemos e descubramos que quando estamos assistindo aquele
show na TV nos tornamos no que estamos vendo. Esquecemos completamente de nós.
Esquecemos a sala onde estamos e de nosso próprio corpo. Nos tornamos o ator e
a experiência. Nosso coração aumenta com as emoções. Nosso corpo salta em
reação às coisas que estamos vendo na tela por que nos esquecemos de nós
próprios.
Em outras palavras: nos tornamos hipnotizados
pela ilusão. Nenhum de nós gosta de admitir tal coisa, mas é exatamente o que
acontece quando também jogamos vídeo games ou assistimos TV, filmes ou a
internet. Esquecemo-nos de
nós próprios nos tornando totalmente imersos numa experiência psicológica que é
100% ilusória. Não é real! Pensamos que seja real. O corpo, o coração, a mente
pensam que seja real, mas não é.
Mesmo que logicamente digamos a nós próprios:
“Oh! Eu sei que isso é um show, são somente atores, ou exatamente gráficos de
computador e sei que nada disso é real”. Mas não sabemos que psicológica e
fisicamente estamos respondendo àquelas cenas e eventos como se estivessem
realmente acontecendo. Eis porque quando o herói está em grande perigo ficamos
nervosos, tensos e sentimos calafrios porque nosso coração e mente sentem que
aquilo seja real, uma vez que não estamos cônscios de nós próprios e do que
estejamos fazendo. Ou seja, estamos adormecidos, sonhando com a ilusão da tela.
Fazemos a mesma coisa a noite inteira enquanto o corpo está descansando. Fazemos também o dia inteiro por que estamos
engajados no exato mesmo tipo de hipnose com o conteúdo de nossa mente.
Pensando, pensando, pensando! Imaginando conversas, imaginando eventos e cenas
que não existem. Vemos uma pessoa atrativa e começamos a imaginar como seria
nossa vida com ela ou enquanto dirigimos o carro pensamos sobre aquelas cenas:
”Eu gostaria de saber como ela seria. Nossas vidas seriam talvez assim ou
assim? Oh! Sinto falta de minha amiga do colégio!” e vagueamos em torno,
psicologicamente fascinados por ilusões.
Quando vamos para um confronto com alguém
começamos a imaginar àquela cena, à conversa, o que iremos dizer, o que a
pessoa irá dizer e reagimos àquilo fisicamente, psicologicamente – o corpo
estará reagindo, a mente estará reagindo, mas nada disso é real! Não estamos
vendo a realidade naquele instante onde estamos ou no que estejamos fazendo.
Estamos ali fascinados por nossa própria mente, adormecidos. Não estamos vendo
a realidade. Essa é a nossa vida!
Gastamos toda a nossa vida dessa maneira,
completamente fascinados por ilusões, conduzidos por desejos e aversões,
imaginando essas conversas com pessoas, querendo afetos, aprovações e atenções,
tentando evitar sermos feridos ou rejeitados. Tudo enquanto principalmente
ignorarmos a verdade, a realidade do onde estamos, de nossos pés no chão, de
nossos olhos que não veem o que realmente está acontecendo. Por isso a
humanidade sofre. Ninguém está aqui. Todos os que encontramos não estão ali!
Seus corpos físicos podem estar ali, mas suas psiques estão em algum outro
lugar. Nenhum de nós encontra outro “olho-a-olho”, “cara-a-cara”, consciência a
consciência e nos engajamos mutuamente. Talvez num lampejo, por um momento, uma
vez ou outra, mas na maior parte do tempo são ilusões conversando com ilusões.
Na verdade não vemos a outro. Não vemos a nós próprios. Eis porque o espelho é
tão importante. Vermo-nos e compreendermos que se pudermos romper com todas as
ilusões, conseguiremos estabelecer a realidade.
Precisamos reconhecer que o Dharmakaya não
está fora de nós, mas em nós! Dharmakaya representa Kether, o mais alto pico da
Árvore da Vida. É um profundo extremo, um nível abstrato da natureza, mas está
aqui e agora. Falta-nos exatamente a capacidade em sermos cônscios dele, porém
um Mestre é cônscio. Pode não soar importante ao nosso nível, mas sermos
cônscios é a coisa da maior importância – conhece-lo! É o Ser do estado de ser.
A expressão fundamental do ser está Nele e está aqui e agora, porém
simplesmente não estamos interessados nisso. Amamos por demais nossas ilusões.
Ademais, Sambhogakaya está aqui e agora;
Chokmah, aquela fundamental sabedoria/compaixão, está aqui e agora. Aquilo a
que os cristãos chamam Cristo. Aquele estado de ser, aquela Inteligência que
está em cada coisa vivente – uma chama, um fogo em nós agora – e cada um de nós
pode experienciá-la – é parte de nós. Não podemos experienciá-la se estivermos
fascinados pela ilusão. Além disso o Nirmanakaya está também aqui e agora, a
ação inteligente enraizada na compaixão e na verdade.
Tudo o que existe emergiu fundamentalmente do
Absoluto como uma expressão de três forças – a Lei dos Três. Eis porque há
trindades em todas as religiões.
A Lei dos Três na sua forma simples pode ser
entendida como:
1. Positivo (o princípio ativo)
2. Negativo (o princípio receptivo)
3. Neutro (o princípio conciliatório), que os
traz juntos.
Qualquer coisa que queiramos desempenhar,
qualquer coisa que aconteça é sempre uma combinação desses três fatores. Se
desejarmos ter sucesso em algum empreendimento devemos nos tornar cônscios do
trabalho dessas três forças. Se quisermos ter filhos não podemos escapar da Lei
dos Três.
A Lei dos Três regula a vida desde seu mais
básico nível. Onde está a Lei dos Três na procriação de crianças? O homem é um princípio
ativo, a força que provê, que projeta. A mulher, o princípio receptivo, recebe
a força do homem. O que os traz a se juntar? Sexo, amor, que estão na Lei dos
Três. Não há outra maneira de criar um ser humano em qualquer parte do
Universo. Homem, mulher, sexo – é isso o que está expresso naquelas três
forças.
Se quisermos elevar o nosso nível do ser,
incrementar nossas vidas, necessitamos alavancar aquele mesmo tipo de forças,
mas que requer conhecimento. Dharmakaya é conhecimento ou verdade. É conhecer a
realidade. Ao agirmos sem conhecer a realidade, fazemos erradamente. Pensamos
estar ajudando pessoas e com frequência os estamos ferindo por que realmente
não conhecemos a verdade. E com frequência tentamos ajudar a nós próprios e na
verdade estamos também nos ferindo, pois de fato não sabemos a verdade. Para
realmente ajudarmos e mudarmos alguma coisa, necessitamos saber a verdade
daquilo, a verdade fundamental. Se não fizermos isso estaremos tornando as coisas
piores. Uma vez que saibamos a verdade daquilo e tenhamos compaixão e
sabedoria, podemos agir inteligentemente, vermos que aquelas três forças devem
trabalhar juntas. Se qualquer delas faltar haverá falha.
O problema reside em que na maioria das coisas
que fazemos física, emocional e intelectualmente não trabalhamos com as três
forças superiores, mas com suas polaridades opostas. Na maior parte do tempo
não sabemos o que está realmente acontecendo, não sabemos a realidade;
usualmente agimos sob algum desejo ou aversão. Todos queremos desenvolver
nossas vidas espirituais, saber algo da verdade, sobre Deus, a Divindade, sobre
o que seja a realidade fundamental, então buscamos práticas espirituais, grupos
espirituais, movimentos e ensinamentos espirituais, mas como temos ânsias,
apegos e desejos, não queremos estar face àquilo que de fato esteja
acontecendo.
Ao invés, queremos que a realidade espiritual
sustente nossas ânsias e encoraje os nossos desejos. Queremos evitar a dor, o
desconforto; queremos alimentar os desejos, então preferimos não saber do real
problema. Preferimos ignorar qual seja a causa do nosso sofrimento. Preferimos
em verdade assinar alguma apólice de seguro que conseguimos da religião como:
“okay, se você acredita nisso, nisso e nisso... e todos os meses nos der muito
dinheiro, então irá para o paraíso”.
Realmente amamos isso por que significa não
termos de tratar com toda a realidade. Não temos de enfrentar o fato de que em
nosso íntimo há muitas coisas nocivas e muito do sofrimento causado por conta
disso. Não queremos tratar dessas coisas, queremos ignorar. Queremos nos
assegurar de nos mantermos agarrados aos nossos sofrimentos e deixar as coisas
como estão. Queremos exatamente a apólice de seguro que então nos conduzirá ao
céu. Entretanto não funciona desse modo. Desafortunadamente a vida não é assim.
A natureza não é assim. A Divindade não é assim.
Figura 8
Este mapa da Árvore da Vida nos mostra densidade
através da multidimensionalidade e todo ele obedece às leis da física. Não é exatamente
nesse caminho que esta física aplica fisicalidade, mas através da relatividade
multidimensional. Porém há uma verdade fundamental aplicada a todos os níveis da
existência assim traduzida: “cada coisa pertence a quem dela é”. Por exemplo,
ódio, luxúria, inveja, essas são qualidades de demônios não qualidades de
budas, anjos ou mestres. Se pessoas tem ódio ou orgulho, gula ou ganância
permanecem onde essas qualidades habitam e essas qualidades habitam nos
domínios do inferno; que são as regiões mais baixas, os lugares de sofrimentos.
Pessoas estão presas lá por suas qualidades. Se uma pessoa quer ser libertada
daquelas experiências de sofrimentos ela precisa libertar-se das correntes que
a mantém assim. Isso significa matar o ódio, destruir o orgulho, erradicar a
luxúria para então aquilo que intimamente a está aprisionando venha ser
libertado. Ou seja: que aquilo que a está aprisionando intimamente retorne para
seu lugar natural. Simples assim!
Eis porque necessitamos fazer mudanças em nós
a cada momento. Iremos de boa vontade permanecer fascinados com ilusões e
presos aos nossos sofrimentos ou por nossa vontade teremos a coragem de encarar
a realidade de nosso estado psicológico e muda-lo? Nós podemos! Mas a única
maneira pela qual podemos nos libertar das condições que nos cegam é
entende-las. Contudo, não podemos entender algo que não conseguimos perceber.
Se quisermos entender algo temos de nos habilitar a ver aquilo. Não somente
pensar sobre aquilo. Precisamos ver. Perceber diretamente não na exata
fisicalidade, mas internamente com nossos outros sentidos.
Figura 9
Aqui está nossa fisicalidade – Malkuth.
Quando nos sentamos para meditar aprendemos a relaxar o corpo e então podemos
ficar livres daquele condicionamento, de suas energias, suas emoções e seus
pensamentos. Quanto mais relaxado nos tornamos mais calmos e serenos o deixamos
e menos ele nos condiciona como observadores. É isso que vimos ensinando por
todo o curso – como pô-lo num estado de absoluta quietude de modo que a
consciência que está nele possa elevar-se. Ao fazermos isso obteremos a
capacidade de começar a ver todas aquelas coisas como elas são.
Quando a consciência se torna estável e
desenvolvemos aquela flexibilidade em que o corpo e a mente tornam-se
subservientes à consciência, então somos capazes de olhar as coisas e não
ficarmos presos a elas – unicamente as vermos como elas são. A consciência
liberta passa a ver o corpo exatamente como corpo, não mais como sua
identidade. A consciência vê a energia simplesmente como ela é: exatamente
energia, e não a algo para ser por ela fascinada, com ela identificada ou para
jogos. É algo para ser amada e usada com sapiência, para sentir emoções como
elas são, as vibrações do corpo astral, os conteúdos psicológicos que refletem
as impressões boas ou más transformadas.
Mais importante: podemos começar a investigar
as causas reais de nossas dores, os sentimentos de orgulho, de ódios, aquela
qualidade de luxúria, mas não as vendo como algo abstrato ou filosófico:
realmente vendo-as todas nos mundos internos como elas trabalham, pensam ou
sentem; a forma como nos cegam, os seus desejos e aversões e sua ignorância
fundamental.
Num sentido podemos dizer que alguém que
saiba meditar corretamente sentar-se-á, libertar-se-á de todos aqueles fatores
condicionantes, focar-se-á nas causas dos sofrimentos e ir-se-á em frente a
investiga-las, vê-las pessoalmente, cara-a-cara ... nos mundos internos. Não
como a algo fantástico, mas como a algo real e experienciável. Algo
compreensível.
É assim que ganhamos conhecimento, visão
interior e compreensão. É esse o sentido da meditação: vermos a realidade
primeiramente em nós próprios. Quando
começarmos a ver que a luxúria que criamos no curso de todas as nossas
existências é verdadeiramente a grande causa de dores e sofrimentos, é
sobremodo libertador. Além disso essa visão traz-nos grande compaixão pelos
outros, os que ainda sofrem na ilusão e luxúria. E começamos a compreender que
o orgulho é uma gaiola. Que os sofrimentos daqueles que estejam tentando
manter-se no orgulho como a uma fonte de felicidade, exatamente por isso nunca
a terão. Aprendemos aquelas coisas não através de filosofias ou lógica, mas por
vívidas experiências em meditação, sonhos, visões; pelas experiências da
consciência em estados de alertas ao perceber a verdade.
Primeiramente temos de despertar aqui
fisicamente. Tornarmo-nos cônscios de nós próprios em corpo físico momento a
momento, para estarmos sempre atentos aqui e agora. Ao aprendermos isso, aquela
habilidade começa a expandir-se para todos os lugares onde estejamos. Quando
vamos para a cama dormir e começamos a sonhar é porque estamos começando a
ficar despertos em nosso corpo físico durante nossa vida diária. Assim é porque
de volta ao mundo dos sonhos – o mundo físico – nele estamos começando a ficar
cônscios, despertos, e não mais sonolentos. Não mais estaremos sonhando como
uma montaria de nossos desejos; ao invés disso, estaremos presentes.
A habilidade em estarmos despertos expande-se
pouco a pouco através daquelas outras regiões. Assim que uma delas liberta a
consciência das condições do aprisionamento a consciência obtém força,
expande-se mais e mais, começa a ver mais da realidade. Não se trata do que
pensamos que esteja aqui. A realidade é algo muito, muito maior. Para experienciá-la,
compreende-la em nós próprios, temos os exercícios que prosseguem das palestras
anteriores.
EXERCÍCIOS
1. Diariamente como parte de sua
auto-observância momento a momento, questionar a validade do que percebe.
2. Diariamente praticar retrospecção
meditativa. Recordar o que percebeu externamente e internamente o dia inteiro.
3. Escrever os fatos de seu dia em seu diário
espiritual.
Contudo, com sua auto-observância momento a
momento, você não somente deveria estar observando-se a si próprio como auto
experiência, mas também estar questionando a validade do que observa? Observar
que a auto-observância é uma habilidade, um senso do estar presente aqui e
agora, vendo o self sem estar sendo identificado, usando da distinção entre o
observador (que é a consciência) e o observado (que são os três cérebros e a
percepção recebida pelos três cérebros).
Nessa distinção que fazemos agora, necessário
começar com o questionamento: “isso é verdadeiramente real? Estou vendo a
realidade?”, considerar isso dando um passo a mais e testar-se, começando
realmente desejar saber se está vendo a verdade ou está sonhando.
Como em muitas vezes, na medida em que
consegue lembrar-se de que ao fazer isso torna-se bem cônscio de si próprio, e questionando
o que você está vendo, testar-se assim: “isso é real ou estou sonhando?”, então
pegue seu dedo e tente esticá-lo. Ficar atento ao fato, realmente questionando-se
por que sabemos que se estivermos sonhando nosso dedo esticará.
Necessário para, real e conscientemente, com
muitos subsídios, tentar estica-lo. Se fizer esta prática com muita seriedade,
se auto-observando e estando cônscio de si próprio momento a momento, chegará
subitamente o instante de seu dedo esticar-se e você entender que está sonhando
e não está em seu corpo físico. Estará sonhando, seu corpo estará adormecido,
mas você estará agora no plano astral, desperto no mundo astral.
Então alguém que faça este exercício e
economize energia durante o dia terá a experiência de começar a ver muito mais
coisas que antes não via.
A segunda parte é para naturalmente continuar
meditando diariamente. Estivemos praticando retrospecção do mesmo modo que queiramos
questionar a validade do que percebamos em meditação. Assim não mais aceitar
imediatamente o que vê como sendo real, mas deter aquele senso de dúvida: “Isso
é real ou é falso? Isso é real ou é ilusão?”. Separar o percebedor da coisa
percebida; recuar e tornar-se cônscio da transformação daquelas impressões.
Finalmente, claro, continuar com seu diário espiritual.
POR UM
INSTRUTOR ESPIRITUAL
Pensamento do Dia: “Detenha todas as coisas de cada momento, pois cada momento é uma
criança da Gnose; cada momento é absoluto, vivo e significativo.
Transitoriedade é especial característica da Gnose. Amamos a filosofia da
transitoriedade.”
Samael
Aun Weor. “A Eliminação da Cauda de Satan”.
Tradução Inglês / Português: Rayom Ra
Rayom Ra
http://arcadeouro.blogspot.com.br
http://arcadeouro.blogspot.com.br
Parabéns pelo post! Retornando depois de sei lá qto tempo e achando esse post foi ótimo.
ResponderExcluirFraterno Abraço!
Reconheci-o de imediato nobre amigo e irmão, com muita alegria. Já dei uma pesquisada no seu perfil e busquei o blog Imaginário do Mario, que gostei muito.
ExcluirImagino-o, com certeza, cada vez mais conhecedor e Martinista afiado. Eu ainda permaneço escrevendo e trabalhando na espiritualidade. Mas já caminho para a aposentadoria em tudo, exceto nas meditações.
Desejando novos contatos use meu Email: rayomra278@gmail.com. Será um prazer.
Abraços,
R/R
RR grato pelas palavras! Elas continuam douradas!
ResponderExcluirVou fazer contato por email sim! Irei me desafiar a fazer alguns comentários no seu post relembrando os velhos tempos!
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