Como alcançar a salvação é o problema fundamental de toda religião. Os cristãos acreditam que o homem nasce em pecado e iniqüidade, que deve ser salvo do pecado e alcançar a felicidade eterna no Paraíso. Os indus e budistas acreditam que o homem nasce na ignorância; que ele mesmo deve se salvar da ignorância, e dessa forma, da corrente de vida e morte, entrando no Reino de Deus, QUE ESTÁ DENTRO DE NÓS. Se realmente analisarmos todas as diferentes doutrinas das religiões do mundo, chegaremos à conclusão de que, embora a linguagem e expressões sejam diferentes, elas compartilham o mesmo ideal, a mesma meta. (1)
Tanto os indus, como os budistas e cristãos, ensinam QUE O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE NÓS; e isso é o que os místicos de todas as crenças acentuam – que o céu está dentro de todas as almas, e que, por meio de uma União completa com essa realização divina, se consegue a salvação ou libertação da ignorância e da cadeia de vida e morte.
(1) Assim é de fato, pois se este não fosse o ensinamento verdadeiro e procedente não haveria por que nos bastarmos a uma religião e nem a tantas quantas pudéssemos abraçar. Religião, no significado ocidental, deriva do termo latino "Religare", ou seja, ligar-se de novo à origem divina. O homem é divino, acredite ou não em Deus, pois foi criado para a perfeição, para o conhecimento da divindade dentro dele mesmo. Os envoltórios de matéria que constituem os seus corpos de manifestação, obnubilam sua introspecção enquanto ele não desperta em consciência para a realidade interna.
A personalidade, estando permeada pelos sentidos inferiores que a dominam, o deixam a mercê das forças da natureza. Neste estágio, ele é guiado por sua consciência menor, onde seu conteúdo emocional e mente objetiva, chamada racional, o levam a seguidos enganos. Somente depois, diante das oportunidades do despertar, através do processo evolucionário, tenderá o homem a aceitar sua condição imatura e a buscar dentro dele mesmo a "outra realidade".
Em que pese à visão moderna de determinadas filosofias espiritualistas, de movimentos religiosos, religiosos-esotéricos, esotéricos, e do próprio Espiritismo, divagar sobre os postulados das religiões milenares, mal os comparando com suas atuais posturas mentais, julgadas as mais sábias, nada muda na essência, pois o homem, filho das raças projetadas e surgidas na Terra, tem uma só endogenia e um só caminho real a trilhar, qual seja, o do autoconhecimento. Pouco importa os modelos doutrinários calcados nas diferentes culturas e idiossincrasias, as novas revelações – que não são de fato novas - e o verniz aplicado com os novos métodos implantados, uma vez que todos os modelos, orientais ou não, convergem para a mesma direção, visando unicamente à salvação humana pelos pensamentos aclarados, reforma íntima, atitudes práticas, reflexões, meditações, desapego, caridade e devoção.
Esses atributos reunidos, e outros mais que necessariamente virão a ser experimentados e trabalhados com pessoal dedicação e zelo, na medida em que se avance em consciência, elevam a Deus. Deste modo, todas as religiões sobreviventes de um passado evo, ou de um passado mais recente, como, por exemplo, a religião cristã e suas derivações – incluindo o Espiritismo – que permanecem ainda sob a orientação da Fraternidade Branca Universal, mesmo com o surgimento de segmentações emblemáticas, idealizadas por um ou outro serviçal mensageiro daquela Fraternidade, herdaram ensinamentos solidamente estruturados nas insofismáveis verdades. (Rayom Ra)
Assim, mais uma vez, os vedantistas atestam que estando a presença de Deus dentro de nós, pois está em todos, seja pecador ou santo, faz-se necessário a União com Deus. Pecador é quem não tem consciência dessa necessidade, enquanto que santo é quem a compreende e, conscientemente, se empenha nessa União. Mas o que é essa necessidade? É o desejo de se livrar do sofrimento, da miséria, da ignorância e morte. O que o pecador procura através de seus pecados? Felicidade, liberdade. Em outras palavras, ele também está buscando um céu, mas pela maneira errada, pois pode encontrar a liberdade em si mesmo. Cristo, Buda, todos os grandes espíritos iluminados e todas as Escrituras, mostram que só há uma verdade, ou seja, que há salvação da escravidão em que vivemos; que podemos ultrapassar as nossas limitações e finidade; que podemos alcançar a vida eterna, aquela felicidade eterna, se, somente entrarmos no Reino de Deus, QUE ESTÁ DENTRO DE NÓS PRÓPRIOS!
Esta doutrina de salvação, de obtenção da liberdade e de realização, portanto, está intimamente ligada à doutrina da graça. Se lerdes as diversas Escrituras do mundo, achareis a idéia da graça como o caminho derradeiro, através do qual se pode conseguir a libertação, aquela iluminação. Na verdade, Buda não falou na graça divina, (2) nem falou de Deus. Porém, Cristo, Krishna e Ramakrishna, todos eles, disseram que somente através da graça divina se pode chegar àquela sabedoria, o Reino de Deus. Cristo disse: "Vós não me escolhestes, fui Eu que vos escolhi". Nos Upanishads, lemos: "Por aquele a quem o Ser elegeu, esta verdade de Deus é alcançada". Sem esta escolha de Deus, sem aquela graça divina, não é possível conhecê-LO e alcançá-LO. E todas as grandes almas, nos mais elevados estágios de iluminação, têm, inequivocamente, admitido: "Somente através da graça divina consegui essa iluminação". Ninguém, seja cristão ou indu, jamais disse: "Consegui pelo meu próprio esforço".
(2) Até onde sabemos dos aforismos budistas, Buda dissera não existir um só Deus, porém deuses criadores. Naturalmente, o sábio Buda, de muitas encarnações em nossa Cadeia Terrestre e na Cadeia Lunar, precedente à nossa, pertenceu inicialmente à hierarquia lunar e depois à hierarquia terrestre, na qual ocupa agora o cargo de Mentor Principal em Shamballa.
Portanto, ele saberia que Deus, ou o Logos, criou o sistema solar com sua própria vontade, mente e inteligência, mas outorgou e dignificou às hierarquias que já existiam com seus próprios poderes de criação, para virem atuar como "co-criadores", segundo o Grande Plano que projetara subjetiva e objetivamente. Pois nada se constrói no universo sem um esforço conjunto de inteligências interagentes, operando com diversos e multidimensionais fatores inacessíveis ainda ao entendimento humano comum e à nossa ciência concreta.
Não obstante suas mensagens e filosofia não citarem especificamente a graça como um estado permitido sob bênçãos divinas, o Gautama elencou as quatro nobres verdades nas quais estamos todos imersos, mostrou os oito caminhos, e pregou sobre o caminho do meio, o mais difícil, corajoso e austero de todos, mas que seguido até o seu final conduz com maior brevidade ao autoconhecimento e realização completa. Esse estado, na sua máxima amplitude, nada mais é do que mergulhar no Nirvana, após a conquista de todas as etapas precedentes, seja pela mais absoluta entrega ao rigor da meditação asceta, seja, de outro modo, essa meditação menos intensa, mas em conjunto com demais práticas disciplinadoras e obras filantrópicas realizadas.
Ao final, entendemos que esse estado nirvânico do "não-ser" é a total, absoluta e inextinguível graça e sabedoria permitidas pelos mais altos escalões de deuses das hierarquias solares a usufruírem-se, enquanto avançamos com o Deus Solar. Pois, para todas as conquistas nos mundos superiores, há que existir a consonância com os propósitos da raça humana, do orbe terráqueo como um ente espiritual, da cadeia planetária com seus sete planetas de diferentes matérias, e com nosso sistema solar.E para esses propósitos a que, pouco a pouco, se deva inserir, e sobre eles avançar, há regras e princípios de irrestritas obediências e cumprimentos de suas normas, associados a um processo iniciatório, para daí irem-se obtendo gradativas graças e permissões.
Também sabemos que, apesar de Buda ter apregoado haver vencido o mundo, ou o carma, por ter alcançado o Nirvana, e devido a isso não voltaria mais a renascer, fora obrigado a de novo reencarnar punitivamente na Terra, embora divinizado, pelo fato de ter revelado segredos não autorizados pelas Hierarquias Superiores. (Rayom Ra)
Do nosso ponto de vista ignorante, quando ouvimos dizer que somente através da graça divina se pode obter a iluminação, é muito difícil compreendermos o verdadeiro significado da "graça divina". Ficamos um pouco confusos e surge a pergunta: "se tenho que depender da graça divina, se tenho que esperar até que essa graça desça sobre mim, qual a necessidade de meus esforços?".Surge, então, outra pergunta: "será que Deus é parcial, derramando Sua graça sobre alguns e negando-a a outros?". E mais essa: "que espécie de Deus é esse?". É por que quando pensamos sobre a graça divina, baseamo-nos num Deus pessoal, com atributos humanos, emoções e sentidos humanos, num Deus antropomorfo.
Novamente, por sua vez, aqueles que acreditam num Deus impessoal, pensam: "como pode haver qualquer graça partindo do impessoal?". Para eles, o Impessoal é como um autômato, um mecanismo, uma abstração. Não responde. Mas isso também é um mal-entendido. O que "é" Deus? As Escrituras nos dizem que Ele é a própria Consciência. E se nós O chamamos de pessoal ou impessoal, não importa. A Consciência Infinita, na qual acreditamos, não pode ser um mecanismo, (3) uma abstração. Aqueles que realizaram Deus, afirmam que Ele é impessoal, mas não um conceito antropomórfico. Ele é também impessoal, mas não uma abstração. Ele é a Consciência Infinita, além do pessoal e do impessoal. Sri Ramakrishna costumava dizer: "Nunca Limiteis o Infinito!". Em outras palavras, nunca penseis que a vossa idéia sobre Deus é a única concepção, a única verdade. Eu diria que a melhor expressão, do ponto de vista humano, de Realidade Infinita, é a palavra sânscrita HARI, que significa: "Aquele que açambarca os corações da humanidade – o Amado Eterno". Isto é Deus! Aquele Amado Eterno está dentro de nossas próprias almas, e sem a Graça do Amado, não é possível compreende-Lo.
(3) A propósito de Deus ser um mecanismo, alguns exibem teorias esdrúxulas, baseados nas conquistas da nova ciência eletrônica, nos jogos incríveis que encantam e seduzem a juventude, nas descobertas surpreendentes através das lentes e recursos dos gigantescos e robotizados telescópios a girar em torno do planeta, e nas naves exploradoras que viajam milhões de quilômetros pesquisando o cosmos.
Se por um lado, esses intrincados aparelhos vieram desmentir insofismavelmente muitas das teorias e categóricas afirmações de orgulhosos astrônomos que nos ensinaram com evidentes erros, por outro lado, pelas suas automatizadas performances, decorre uma avalanche de novas teorias e prematuras suposições, não somente dos eventuais acontecimentos cósmicos, mas também sobre conjeturas fabulosas de um "Não-Deus" antropomórfico ou Impessoal.
Sob as asas da ciência concreta e tecnologia, teóricos cartelizados na imaginação científica vêm - uns, com suas empáfias emergentes das limitadas equações e teoremas matemáticos, outros, por hipotéticas e adulteradas conclusões da física moderna – exemplificar o absurdo, substituindo o Deus altíssimo e incognoscível por irreverentes conceitos de suas mentes finitas.
Outros mais, dominados pelo fanatismo da ciência, execram a fé dos religiosos e debocham sistematicamente das religiões, convictos da inexistência de um Deus por elas inventado. Há uma triste galeria de famosos teóricos e ficcionistas deste tipo, que sequer menciono qualquer de seus nomes, infiltrados nos meios científicos, amados e reverenciados pelos entusiastas seguidores.
Uma dessas abismais e lúdicas teorias, provavelmente confeccionada por um ou mais discípulos destes ícones de barro, a que homens do saber espiritual não prestam a mínima atenção, se tornou, no entanto, mundialmente conhecida e discutida por amantes da ficção científica. Diz a imaginativa invenção que um imensurável computador cósmico seria o responsável pela totalidade das leis mecânicas do universo, consequentemente pelo controle de toda a criação. E de seus infindáveis recursos todas as possibilidades do passado, presente e futuro, estiveram ou estão programadas para acontecer.
Se esta fosse uma possibilidade verídica, e não uma brincadeira, e sendo o universo produto de uma máquina, o destino humano seria também de acabar robotizado. (Rayom Ra)
Respondendo, agora, às perguntas: "qual a necessidade e nossos esforços, se temos de depender de Sua Graça?". E "sendo Ele parcial, dá a Sua graça a alguns e a outros não?". O Bhagavad Gita diz que AQUELE QUE ESTÁ DENTRO de todos nós, não fica observando o mérito ou o demérito de ninguém, mas permanece encoberto pela nossa ignorância, e, por isso, ficamos iludidos. Eis toda a verdade: DEUS RESIDE IGUALMENTE NO CORAÇÃO DO PECADOR E DO SANTO. No coração do pecador Ele está encoberto por sua ignorância. No do santo, a ignorância foi removida.
E qual a causa dessa capa de ignorância? A causa é o ego!
Cada um de nós pensa que é independente de Deus, que temos vontade própria. Mas, na realidade, simplesmente não somos sem Deus. O homem esquece que, embora desfrute da vida de Deus, da Consciência de Deus, ele cria, como se assim fosse, um ego independente. E, então, o que acontece? Fica preso pelo carma, ganhando mérito ou demérito dentro desse carma, mas Deus permanece insensível.
Segundo as palavras de Sri Ramakrishna, a brisa da graça de Deus está soprando continuamente. Tereis que içar vossa vela para apanhar essa brisa. Se disserdes, simplesmente, que, uma vez que se depende da graça, não precisais fazer nada, é por que pensais que possuís uma vontade independente. Enquanto o ego ao estiver, enquanto pensardes que tendes uma vontade livre, como podereis entender algo acerca da graça divina?
Sendo assim, o que deveremos fazer? Novamente, ensina o Gita: "devereis salvar-vos por vosso próprio Ser". Sois o vosso próprio amigo e inimigo. Esquecei-vos da graça enquanto tiverdes esse ego, tão grande, tão forte! Usai vosso ego, a vossa vontade, para superar o ego, e submeter a vossa vontade à vontade de Deus. Este é o esforço que todos devem fazer.
Meu mestre costumava repetir um lindo verso de um santo Vaishnava: "há a Graça do guru, há a graça de Deus, há a graça dos seus devotos, mas pela falta de uma certa graça o homem se perde. E que graça é esta? É a graça da vossa própria mente. A não ser que tenhais a graça da própria mente, não podereis ter a graça divina. Embora esteja soprando a brisa da graça divina, não podereis apanhá-la até possuirdes a graça da vossa própria mente. De fato, existem estágios evolutivos nos quais esta graça é sentida tangivelmente".
No primeiro estágio precisa-se começar a vida espiritual porfiadamente, usando a vontade. Precisa-se fazer um esforço. Deveis possuir um grande anseio, um desejo intenso de encontrar Deus. Mas não basta tão somente ter a ânsia de encontrá-Lo. Precisareis dar o passo seguinte. Precisareis praticar disciplinas espirituais. Isso vos levará ao terceiro estágio, à renúncia. Não haverá mais luta, nem mais disciplinas espirituais, pois entregastes completamente o vosso ego à Deus. Haverá, então, uma contínua conscientização de Deus.
Como exemplo, dou um fato ocorrido na vida de um discípulo de Ramakrishna, o conhecido dramaturgo G. C. Ghosh. É um exemplo ideal de renúncia na presente época. Procurando Sri Ramakrishna, este lhe disse para praticar certas disciplinas espirituais. Respondeu que não poderia praticá-las. Então, Sri Ramakrishna pediu-lhe que meditasse durante dez minutos, pela manhã e pela tarde. Respondeu, novamente, que não poderia. Em vista disso, Ramakrishna disse-lhe: "muito bem, então tome o nome de Deus antes de dormir". "Não posso prometê-lo, pois sou um bêbado contumaz e, às vezes, nem sei se é noite ou dia". Então Ramakrishna disse; "Muito bem, passai-me uma procurção e farei tudo isso por vós. Em outras palavras, entregai-vos a mim". C.G. Gosh, retrucou: "isto farei com muito prazer".
Porém, quando voltou à casa. Começou a pensar: "oh, terei que fazer isto. Como posso fazê-lo? Tendo-me entregue a Ramakrishna, como posso ter uma vontade própria?". Como podeis ver, ele era o que nós chamamos um pecador, mas, no fundo, sincero e franco. Assim, mesmo quando estava simplesmente caminhando, não podia pensar que estava caminhando, mas, a cada passo que dava, tinha de pensar em Ramakrishna. Em cada respiração era forçado a estar consciente da força d Ramakrishna. Certa vez, comentou com outros discípulos: "se praticarem a meditação a certas horas, é muito bom. Mas comigo é diferente, pois preciso praticar a meditação a todo o momento de minha vida". Isso é que é renúncia. E quando essa renúncia chega, é que se compreende o significado da graça.
Qual é, então, o ideal que devemos seguir? Repetirei a mesma coisa que já disse muitas vezes. Mantende o coração em Deus. É certo que seguidamente o esquecereis, mas, mesmo lembrando-vos poucas vezes por dia, a mente fixar-se-á gradativamente. Este é o esforço que deveis fazer – manter a mente em Deus. Acredito, tão somente, na prática dessa disciplina para nos ajudar a manter nossas mentes em Deus.
Sri Ramakrishna faz a seguinte comparação. Um policial, no escuro, projeta em outros a luz de sua lanterna e não pode ser visto por eles. Com a ajuda da luz, uns podem ver os outros. Pedindo ao policial para voltar sobre si mesmo a luz da lanterna, então poderemos vê-lo. É este o caso. Temos dentro de nós aquela luz que procede de Deus, que nos ilumina os sentidos, que nos faz sentir e ser conscientes, que nos possibilita estar em contato com o mundo. Mas não conhecemos a sua fonte. Usamos essa luz, mas esquecemos que é Sua luz. Criamos um ego próprio, que atua neste mundo com a luz emprestada por Deus; e permanecemos presos à lei do Carma, sujeitos ao nascimento e morte, atados àquelas três misérias, o sofrimento, a ignorância e a morte. Para nos libertar destes grilhões, precisamos aprender a dirigir aquela luz sobre o próprio Deus. A mente foge, pula, mas precisareis conservá-la voltada para Deus. Somente pela prática isso pode ser feito. Enquanto praticais esta renúncia, tratai de praticar o pensamento em Deus, meditai sobre Deus, tornai-vos consciente Dele. Começareis, então, a sentir verdadeiramente a Sua graça. Sereis como um imã atraindo a agulha para si.
Enquanto estais pensando na Presença de Deus, ainda surgirão distrações, ainda haverá escuridão, e nada vereis ainda. Mas sentis intensamente aquela Presença, há um "vazio" em vós. Subitamente, quando menos esperais, sentireis que, apesar de serdes vós mesmo, vossa mente estará sendo atraída para aquele imã, perdereis a consciência deste mundo e ficareis conscientes da Presença da Realidade, passando a sentir a graça e o imã vos puxando.
Sendo educado no hemisfério ocidental, podereis dizer: "mas se fixarmos nossas mentes em Deus, o que será de nossas vidas neste mundo, e os nossos deveres?". A vossa idéia conceptual é a de atividade. Isto é, apenas, uma desculpa. Podeis pensar em Deus, podeis amar a Deus, podeis fixar vosso coração absorventemente em Deus, e viver, simultaneamente, no mundo, atendendo vossas obrigações. Qual a finalidade de trabalhar e viver? Encontrar a libertação dos grilhões da miséria e da morte. Não há outra finalidade. Deixai, portanto, todas as vossas ações, todos os momentos de vossa vida, mesmo quando estais atendendo os vossos assim chamados "deveres", serem usados como um meio para conservar vossa mente em Deus, para alcançar iluminação.
Filosoficamente, é obvio que o esforço limitado do homem não pode lhe proporcionar a União com Deus, uma vez que Deus é infinito. Sobre isso, Shankara, o grande santo-filósofo, diz, com toda a clareza, que não é através dos esforços finitos que atingireis o Infinito, mas através da graça desse Infinito. Nossos esforços finitos são, contudo, necessários para remover o obstáculo finito da ignorância. O Sol brilha, mas as nuvens se juntaram e deve vir uma rajada de vento para dissipá-las, a fim de que o Sol possa brilhar sobre nós. Deus, o Sol luminoso está brilhando DENTRO DE NÓS, mas existe uma nuvem de ignorância cobrindo a Sua luz. O vosso esforço remove aquela ignorância finita. A libertação não é uma coisa que tenhais de conseguir. É algo que já possuís, em vossa própria natureza. Removei a nuvem da ignorância, penetrai nessa nuvem e observai o que está além dela. Este é o único caminho!
Essa verdade é simplesmente estabelecida quando dizemos: "pensai em Deus". Orai a Ele, venerai-O, meditai sobre Ele, e notareis que a vida se torna cheia de alegria e doçura. Não concebo como as pessoas podem viver sem pensar em Deus. De que maneira conseguem viver?
Podeis dizer que sou um pessimista. Talvez o seja, pois nada vejo, a não ser dificuldades e preocupações nesta vida. A vida parece ser suave por algum tempo, mas ninguém escapa da morte. Onde está o único repouso verdadeiro? Se tentardes repousar em qualquer coisa, ela escapará, pois assim é a natureza de tudo: fluxo, mudança. Como pode, portanto, qualquer ser humano inteligente viver uma outra vida senão a de viver em Deus? Todas as nações do mundo estão se suicidando por que elas não têm Deus, por que esqueceram Deus. Mas, digo eu, ninguém se perderá. Hari, aquele que açambarca os corações da humanidade, ESTÁ DENTRO DO CORAÇÃO DE TODOS. Ele envolvera o coração de cada um, numa ou noutra ocasião, numa ou noutra vida. Aqueles que acordaram, não dormirão novamente.
Empenhe-se, esforce-se, mantenha seus pensamentos em Deus. Acredito que se alguns poucos puderem fazer isto a aura do mundo mudará. Todos sentem, toda a criança sente, que tereis de fazer algo para o mundo. Pois, muito bem, a coisa maior que podeis fazer para o mundo é voltar a face na direção de Deus. Sereis um dínamo, não tereis que falar, não tereis que procurar ninguém, por que sereis um dínamo humano vivo. A vida que estais vivendo refletir-se-á nas almas dos homens e também eles esforçar-se-ão para atingir aquela meta.
[Swami Prabhavananda – Vedanta for the Western World - FEEU]
Rayom Ra
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[Os textos do Arca de Ouro, por Rayom Ra, podem ser reproduzidos parcial ou totalmente, desde que citadas as origens ]
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