sábado, 18 de julho de 2020

Fundamentos da Meditação (13) - Meditar Sobre Alguma Coisa

Concentration Symbolized in Tibetan Buddhism
  Figura 1 A habilidade de Meditar Conforme Simbolizado no Budismo Tibetano
 
  Enquanto estivermos atentos não nos distrairemos com nada. Permaneceremos cônscios do que estivermos fazendo. Necessário praticar o dia inteiro em tudo o que façamos. É a habilidade mais básica na prática da meditação. Atenção plena é estarmos presentes e cônscios do que estejamos fazendo e não ficarmos distraídos”.

  Durante o ano passado estivemos dando uma série de palestras sobre os fundamentos da meditação e coisas necessárias e mais fundamentais ao conhecimento, a fim de termos uma prática efetiva da meditação. As ferramentas usadas nesse curso estão neste gráfico.

shamatha lg
   Figura 2

  A figura aqui é uma representação muito antiga fornecida pelo Buddha Maitreya. É parte do budismo tibetano que delineia os estágios fundamentais do desenvolvimento da serenidade meditativa. Podemos dizer que a concentração, especificamente, seja a habilidade em colocarmos a atenção numa coisa e não ficarrmos distraídos. O painel tem nove estágios principais através dos quais um meditante sério trabalhará. A beleza do mapa não está somente na sua feitura, cuja finalidade é a de explicar os estágios do desenvolvimento da concentração, mas também está em destacar os obstáculos que teremos adiante, dando-nos os antídotos para os superarmos.

  Uma vez aplicadas aquelas técnicas ao decurso de nossas práticas para o desenvolvimento da serenidade meditativa, alcançaremos níveis mais elevados e teremos também desenvolvido o que é comumente chamado a mente unidirecionada – a concentração perfeita, Dharana, Dhyana ou Samadhi. Em outras palavras: teremos alcançado aquela qualidade chamada flexibilidade (brandura).
 
  Flexibilidade é especificamente definida como a condutividade de corpo e mente para meditar, significando que nosso corpo e mente não lutam com a meditação. Eles não nos distraem. Nosso corpo e mente não são de modo algum obstáculos. Na verdade são ajudantes dispostos a auxiliar-nos em nossa vida espiritual. Normalmente para a maioria das pessoas isso representa o caminho oposto, pois para elas o corpo físico e a mente são obstáculos em suas vidas espirituais uma vez que corpo e mente têm muitas vontades e necessidades, e tendem a desgastar-lhes muito, justamente para a satisfação de seus desejos.

  Assim este mapa é realmente significativo. É inteiramente prático não tendo nenhuma ligação com crenças, sendo portador de uma estrutura bastante clara que pode ser seguida para adquirimos a serenidade meditativa.

tree of life
  Figura 3

  Este outro mapa no qual nos apoiamos é chamado a Árvore da Vida. É também o principal símbolo da tradição denominada Cabala. Representa o universo; todos os níveis das coisas existentes e daquelas que têm o potencial para ainda existir. E isso não está fora de nós, mas dentro de nós. Muito embora pareça complicado é na verdade ferramenta bastante simples. Uma vez comecemos a estuda-lo ficaremos acostumados com ele. É muito belo e extremamente poderoso. Usamos estes dois símbolos combinados a fim de compreendermos a meditação e desenvolvermos efetivamente nossa vida espiritual.

  Na palestra anterior falamos sobre a palavra compreensão. Introduzimos uma noção do que seja um tipo de conhecimento a que chamamos compreensão, que vai além do conhecimento intelectual. Podemos também chama-lo de entendimento. Não é algo que possamos adquirir de alguém, mas que nos chega do íntimo e jamais virá de qualquer outra fonte. É pertencente à consciência ou à alma. É penetrante conhecimento que corta a ilusão, o desejo, o sofrimento e revela a verdade.

  A compreensão é semelhante a isso. Uma vez tenhamos compreensão todas as coisas mudam. É aquele tipo de conhecimento a exemplo de um relâmpago, de uma coisa viva, energética, inegável.

  Assim, com a compreensão vemos a verdade e a realidade das coisas; além do mais vemos as ilusões como elas são. É isso o que queremos ao meditarmos: compreensão. Queremos um tipo de conhecimento que nos permita não sofrer da maneira como temos sofrido. Que nos permita com graça e amor nos desatarmos dos problemas do sofrimento. Daí que na Árvore da Vida esse tipo de conhecimento está representado numa posição bem acima

  Resumindo: a Árvore da Vida representa a densidade na natureza tanto fora de nós quanto dentro de nós. Nos alcances mais elevados estão as forças mais sutís e primordiais. Na mais elevada altura está o que é chamado o Absoluto. É o imanifesto e o potencialmente Ser mas que ainda não se tornou. Quando aquilo se expressa no tornar-se temos a primeira manifestação que é a energia primordial ou a presença na natureza.

  Nas religiões aquilo está representado por uma trindade e vemos aquela trindade no topo, mas é interessante saber estas palavras em hebreu que descrevem referida trindade. A primeira representação é Kether que significa “coroa”. A segunda representação é Chokmah que significa "sabedoria”. A terceira representação é Binah que significa “inteligência” ou “entendimento”. Quando aquela trindade cria, o faz através da região oculta chamada Daath.  Em hebreu isso significa “conhecimento”.

  No topo temos uma coroa a traduzir: sabedoria, inteligência e conhecimento. Todas são expressões da trindade fundamental da existência que os cristão a chamam de Pai, Filho e Espírito Santo; os indús a chamam de Brahma, Vishnu, Shiva; os budistas a chamam de a Trikaya: Dharmakaya, Sambhogakaya, Nirmanakaya. Se tivermos estudado qualquer religião saberemos sobre essa fundamental trindade.

  Elas representam um nível de inteligência, um tipo de discernimento da realidade, um tipo de conhecimento. É um tipo de cognição. É consciência, porém com profundo conhecimento. Isso está dentro de nós em um estado potencial, germinal. Não está fora de nós. Todos temos isso dentro de nós. É nossa mais primordial natureza. O mais primordial aspecto disso que nos dá vida é esse tipo de conhecimento interior não  ainda desenvolvido em nós. É um potencial que se trabalharmos com ele aprendendo a acessá-lo, ele poderá expressar-se através de nós.

  Compreensão é começarmos a acessar aquilo. Em sânscrito, tanto no budismo ou induísmo, aquele tipo de conhecimento é Prajna.  Ao decompormos o termo sânscrito Prajna, temos pra a significar “além” e jna a significar “conhecimento”. É pois um tipo de conhecimento relacionado àquilo que esteja além. É o coração profundo do estado de ser; um tipo de conhecimento que está além do que entendemos como conhecimento. Algo além do conceito, da teoria ou crença. Entretanto é o conhecimento da realidade – a verdade.

  O objetivo da meditação – a meta – é acessar aquele tipo de conhecimento.

  Necessitamos entender nossa posição em relação a isso. Esse tipo de conhecimento está dentro de nós. É algo para conseguirmos acessar, porém unicamente se entendermos como. Com as ferramentas que nesse momento usamos, nosso acesso àquilo encontra-se muito limitado. Acontece pelo fato de estarmos por demais condicionados pelos nossos atuais experimentos. Quando estudamos a nós próprios na relação com a natureza vemos que somos muito mais do que percebemos de imediato.

FISICALIDADE

  Na Árvore da Vida, ao buscarmos mapear nossa estrutura como pessoa, começamos aqui e agora com o corpo físico. Esse é o mais óbvio aspecto que temos para trabalhar em bases diárias. Nossa fisicalidade está representada na Árvore da Vida como o mais inferior dos doze círculos. É chamado o Reino, o corpo. Essa fisicalidade está marcada pelos cinco sentidos, a habilidade em sentir experiências físicas.

tree of life
    Figura 4

  Especificamente com relação a meditação, quando queremos meditar, a primeira coisa a fazer é tratarmos com o corpo físico. Colocamo-lo numa postura, mas sobretudo qual é a experiência que a maioria tem...? Que o corpo físico não gosta disso, e ele reclama. Ele sente dores, desconfortos, está quente, está frio, está ouvindo ruídos no quarto ao lado, alguém está tocando música ou falando muito alto ou há na rua cães latindo e assim ficamos agitados devido às tais experiências dos sentidos físicos.

  Então nos perturbamos não só fisicamente, mas reagimos emocionalmente àquilo, ou podemos até reagir com nossos pensamentos. O que isso nos demonstra é estarmos por demais identificados com a fisicalidade e não termos desenvolvido suficiente vontade a fim de cultivar o poder da flexibilidade – aquilo que descrevíamos anteriormente como algo muito pronunciado em níveis elevados do desenvolvimento da serenidade meditativa. Quando temos flexibilidade o corpo físico é capaz de sentar-se na sua postura e relaxar não importando as circunstâncias físicas. Tendo estudado qualquer das tradições da meditação, saberemos das histórias dos iogues e mestres que foram capazes de sentar-se e meditar a despeito de incríveis dificuldades.

  O exemplo que me vem à mente é de um mestre do Budismo Chan que foi tão devotado ao entendimento e alcance da compreensão que apesar de estar com disenteria e morrendo não interrompeu com sua meditação. Se soubermos o que é disenteria entenderemos que o acontecido é algo de inacreditável força de vontade pelo mestre, por se ter sentado em meditação ignorando aquele tipo de doença. Isso demonstra quanto de vontade ele tinha e quanto de flexibilidade desenvolveu, pois o corpo foi capaz de manter sua postura de modo que sua consciência pudesse continuar trabalhando caso ele morresse. E ele não morreu tendo superado aquilo.

   Esse é o tipo de poder necessário uma vez que todos morreremos, mas se estivermos habilitados a meditar por esse processo no momento da morte, teremos inacreditável influência sobre o que em seguida nos acontecerá. Entretanto se formos uma vítima do sofrimento do corpo não conseguiremos. Ao invés disso passaríamos por essa experiência inconscientemente com imprevisível resultado.

  Alguém que seja capaz de desenvolver a flexibilidade do corpo físico, será então capaz de sentar-se e não ser perturbado a despeito de qualquer interferência externa ou sensorial, sejam sons, ruídos, calor, frio, fome ou sede. Sentar-se-á e meditará apesar de tudo, pois terá controle sobre o corpo.

ENERGIA

  E acerca de uma pessoa que se senta para meditar e rapidamente cai em sono? Por que tal acontece? É falta de energia. Relacionemos isso com a segunda sefirote, Yesod, vitalidade.

  Yesod é o aspecto superior do corpo físico. Quando não temos suficiente energia, vitalidade no corpo, necessitamos dormir para recuperá-la. Do mesmo modo ao perdermos a habilidade em ficarmos concentrados e focados em nossa prática meditativa, isso decorre parcialmente de uma falta de energia. Essa não é exatamente energia no corpo, mas energia para alimentar nossa atenção. Estudantes caem no sono na classe. Motoristas caem no sono sobre rodas. Empregados caem no sono durante o trabalho. Cair no sono desse modo nem sempre significa que o corpo é que dorme. O corpo pode permanecer ativo, mas a atenção é que se dispersa. Quando falta energia à nossa atenção esta se dispersa e perdemos a noção. Esse é o sono que queremos significar – um estado de dispersão. É bastante comum entre estudantes de meditação. Muitos se sentam e começam suas práticas de meditação, mas logo ficam distraídos e permanecem alheios ao que supunham ser concentração. Isso é uma falta de energia.

EMOÇÃO

  Outra experiência na meditação é aquela em que estamos tentando praticar, mas há o excessivo surgimento de emoções. Temos muita ansiedade, muito medo, muita inveja; estamos muito zangados, muito amedrontados e por demais excitados. Talvez tenhamos tido um sonho, uma visão ou algo semelhante e queremos voltar àquela experiência, mas estamos excitados e possamos também estar temerosos. Nesse tipo de cenário o obstáculo aqui é a emoção relacionada com Hod.

PENSAMENTO

  Esta seguinte está relacionada com Netzach. Quando estamos tentando nos concentrar e a mente não está querendo parar é que ela está em constante análise, pensando, nomeando coisas, rotulando-as, tentando explica-las lógica e racionalmente. Isso não é meditação é pensamento. O pensamento é um obstáculo, um mau hábito. Nada disso pode conduzir à real compreensão. Sensações físicas são simplesmente sensações. Elas não nos facultam acesso à realidade ou compreensão.

  Do mesmo modo que sensações energéticas são meramente sensações são fundamentalmente ilusórias. Sensações não são confiáveis. Definitivamente não nos proporcionam qualquer coisa confiável relativamente à consciência ou meditação. Algumas pessoas querem meditar sobre chakras ou meridianos e a energia circulante dentro de seus corpos. Querem experiências da energia movente ou de auras. É perda de tempo! É somente energia. Experiências com energia não significam nada e não mudam nada.

  Assim como nada significa sentirmos nossos pulmões cheios com ar, também é nada sentirmos um chakra. Energia é exatamente energia. O corpo está preenchido com energia e necessitamos disso, porém energia não direcionada ou não manobrada é exatamente isso: energia sem direção. Não nos fascinemos com essas coisas. Não as permitamos tornarem-se obstáculos!

  O mesmo acontece com emoção e pensamento; necessitamo-los, são úteis, mas estamos hipnotizados por eles e são muito limitados em suas habilidades. Nem a emoção nem o pensamento veem a verdade. Não nos apercebemos disso.

  Todos lutamos contra todos esses obstáculos cada um em nosso pessoal caminho. Eis porque ensinamos meditação do modo bastante específico conforme fazemos; é para conseguir acessar o conhecimento real: a compreensão. A fim de alcançarmos a compreensão todas aquelas situações precisam estar suspensas, especialmente durante nossas práticas meditativas. Necessitamos libertar a consciência das condições sobre o corpo físico: da energia, emoção e pensamento. Isso não pode ser feito unicamente por tentativas nos momentos em que estivermos meditando. Para vencermos isso precisamos estar fazendo tentativas pelo dia inteiro e enfim por toda a noite também. Se pudermos pôr em suspenso aquelas condições e permanecermos concentrados o tempo inteiro em todas as atividades então alcançaremos a compreensão mais rapidamente.

  Ao começarmos a meditação colocamos o corpo (Malkuth) numa posição e o deixamos lá imóvel, sem movimento. Deixamo-lo firme e relaxado. Não mais nos ligamos a ele e retiramos nossa atenção dele. O corpo deve ser posicionado e esquecido. Com energia (Yesod) o dominamos, o trabalhamos e o dirigimos. Em termos práticos significa que uma vez esteja o corpo posicionado relaxamos profundamente e fazemos algum pranayama e mantras a fim de trabalhar a energia e a direcionarmos. A partir daí deixamos isso de lado. Não ficamos hipnotizados pela energia nem fascinados por ela. Deixamos a emoção ir-se. Tanto quanto relaxar o corpo e a energia temos também de relaxar nosso clima, nosso estado emocional. Em outras palavras: não estamos tentando resolver nossos problemas emocionais com emoção.

  O mesmo se dá com o pensamento. Deixamo-lo estar. Desligamo-nos dele. Separamos nossa atenção do pensamento. A consciência não é física, energética, emocional ou mental. Somente a consciência pode meditar. Assim não estamos tentando resolver nossos problemas com o pensamento ou meditar pensando ou meditar através do pensamento, e sentimento. Ao invés queremos suspender a fisicalidade, a energia, a emoção, o pensamento e nos tornarmos vontade.

OBSERVEM E COMPREENDAM

  Vontade é atenção colocada e direcionada. Hoje em nossa prática de meditação dissemos: “visualizem sua experiência de hoje”. Naquele momento vocês suspenderiam o corpo, a energia, o pensamento e a emoção e se tornariam atenção. Como atenção observariam a memória sem pensar sobre ela, sem sentir emoção sobre ela; simplesmente observando os fatos do que podia ser relembrado visualmente.

  Quando nesse estado, estamos a observar alguma coisa mais elevada na Árvore da Vida. Quanto mais alto possamos alcançar na Árvore da Vida, mais próximos estaremos da verdade, da realidade. Quanto mais baixo estejamos na Árvore da Vida mais longe estaremos da realidade.
  
  Na meditação o que devemos fazer preferencialmente é termos flexibilidade de modo que nosso corpo e mente sejam bons conducentes e não lutem conosco. Que o corpo e mente obedeçam. Sentamo-nos, fechamos os olhos, cerramos os sentidos, retiramo-nos do corpo, da energia, da emoção e pensamento e simplesmente imaginamos a coisa que necessitamos compreender. É isso; justamente a imaginamos. Não analisemos com o pensamento nem vagueemos pelos nossos sentimentos (emoções). Ao invés unicamente observemos os fatos. Fazendo certo e com algum acuramento isso então se torna suave.

  Fazendo assim não nos deteremos em esforços uma vez que estaremos utilizando as habilidades naturais da consciência. E que são tais habilidades? Primeiramente a percepção; segundo a compreensão. Essas são habilidades naturais em nós. Não são forçadas e não requerem destreza. Não nos exigem perícia para olharmos ou destreza para a compreensão da verdade.

  Por exemplo, um bebê muito pequeno pode ver seus pais brigando e saberá que eles estão brigando e que isso é sofrimento. Ele não tem necessariamente total compreensão emocional do que se desenrola, mas ao perceber a cena ele verdadeiramente entende o que está acontecendo. Mesmo um cão consegue isso. Um cão pode ver uma briga e saber o que se desenrola exatamente porque ele tem consciência. O que tento indicar-lhes é que não é necessário usar de habilidade para se ver e compreender o básico fato das coisas. Ainda, essa habilidade detém o potencial de crescer e se expandir extensamente não só na percepção do que esteja ocorrendo – mesmo que não seja fisicamente – mas também na compreensão a níveis muito profundos. Unicamente a consciência é capaz disso.

MERGULHANDO NAS PROFUNDEZAS

  A meta na meditação é nos separarmos progressivamente de todas as coisas que estejam abaixo, na Árvore da Vida, e subirmos o mais alto possível. Em outras palavras: movermo-nos do mais profundo alcançado em nosso íntimo e chegarmos o mais e mais perto da visão da realidade.

  Pode ser-nos difícil conceituar ou entender uma vez que neste gráfico isso se encontra organizado num modelo vertical. Na verdade, experiencialmente – fisicamente – não é vertical. Experiencialmente é movermo-nos nas profundezas de nosso próprio íntimo, indo cada vez mais fundo ao interior de nossa consciência. É questão de aprofundamento e não de nível físico.

  O Trikaya, a trindade, não está acima de nós no céu mas dentro de nós, porém no profundo interior da consciência. Quem tiver habilidade para acessar a meditação pode imediatamente pular para o interior desses níveis profundos – imediatamente – sem esforço. E prontamente pode cessar de prestar atenção ao corpo, à energia, à emoção, ao pensamento e tornar-se vontade, poder, ver qualquer coisa e compreende-la. Não é relação de tempo. Não é relação de esforço. Aprendermos como usá-la acontece sem esforço, sem empenho, vindo a ser em nós uma habilidade natural que todas as coisas vivas possuem. É como ouvirmos ou vermos com naturalidade; mas estaremos nos utilizando de um sentido diferente.

  Essa habilidade está arraigada em Tiphreth na Árvore da Vida. Localiza-se diretamente no meio. Relaciona-se com nossa consciência e nossa força de vontade. De Tiphereth a consciência tem acesso a todas as partes da Árvore da Vida. Mais significativamente consegue perceber aquilo a que chamamos Deus, Buda, Mestre, Atman. Unicamente a consciência tem acesso a essa percepção. O corpo físico não tem. A mente não tem. A emoção não tem. A emoção quer conhecer Deus, mas não pode por ela própria. Unicamente a consciência pode conhecer Deus. Se a mente quer conhecer Deus o corpo quer ter prova sensória de Deus, mas ambos nunca conseguem. A consciência é que pode saber como. Eis porque necessitamos aprender como usá-la. Para fazermos isso necessitamos aprender a sair do condicionamento.

CONDICIONAMENTO

  Nosso principal problema é sermos possuidores de muitos desejos, muito orgulho, demasiada raiva, demasiada inveja, medo, luxúria e isso está representado na sombra da Árvore. Simbolizam os níveis submersos de nossa mente. Geralmente quando nos sentamos a fim de meditar devemos manobrar com o corpo para relaxar. Devemos ser capazes de termos acalmado a emoção e o pensamento e de termos a atenção estabilizada. Então o que virá à nossa imaginação? O que visualizaremos? O que estaremos vendo por nosso olho da mente?

  Digamos termos brigado com alguém e queiramos entender, “por que estou sofrendo com esse ódio? Por que estou sofrendo com essa dor pela briga que tive com aquela pessoa?”. Sentamo-nos para meditar, visualizamos aquela cena, começamos relembra-la e o sofrimento recomeça; pensamentos afloram e logo estaremos a imaginar quanto estivemos errados e como conseguiremos nossa vingança. Imaginamos então quanto de nosso orgulho foi ferido e desejamos o orgulho daquela pessoa também ferido: ela se sentindo envergonhada e com remorso.

  Quando temos inveja de alguma coisa que não possuímos e tentamos meditar sobre aquilo, buscando entender, geralmente começamos alimentar aquela inveja ao invés de realmente a entendermos. Obviamente isso não nos irá ajudar na mudança. Felizmente podemos aprender a superar esse problema.

OS TRÊS TREINAMENTOS

  O trabalho é desafiador. Para termos sucesso requer-nos um conjunto bem específico de habilidades. O curso inteiro que vimos ministrando está baseado neste conceito chamado no budismo de os três treinamentos. Este conceito  se encontra presente em todas as religiões. É sua fundamental estrutura em todas elas. E usamos especialmente os seguintes termos porque são muito precisos. São eles nos três treinamentos:

  - Sila: ética
  - Samadhi: êxtase meditativo
  - Prajna: sabedoria profunda

  1. Ética

  A base de toda vida espiritual é a ética. É o primeiro passo do qual tudo mais depende. Toda religião possui seu próprio nome para a ética. Por ética não significamos moralidade nem a fazermos aquilo que dizemos para que façam. Ética significa adotarmos ações benéficas não somente para nos beneficiar como também para beneficiar a outros.

  Também cessamos as ações nocivas não somente contra nós próprios mas também nocivas a outros. Não significam só fisicamente mas também mentalmente. E que não devemos nos pronunciar com violência contra outra pessoa por nossa boca e mente. Ou seja: não só devemos não amaldiçoar o vizinho ou falarmos de outros verbalizando duramente, mas não também em mente. Isso inclui todos os comportamentos de nossa mente.

  Tais fatores produzem o estado da mente e do corpo que estamos agora experienciando – são todas as nossas ações físicas, emocionais e mentais. Assim, não acessamos o real conhecimento (prajna) porque nosso corpo e mente estão perturbados. Porém ao mudarmos o comportamento e adotarmos ações benéficas tudo se acalma. Tornamo-nos serenos e felizes. Ao invés de sentirmos ódio, inveja, luxúria, orgulho e todo o sofrimento que temos, começamos a sentir felicidade, amor, compaixão pelos outros e gratidão pelo que temos. Essas qualidades estabilizam mente e corpo. Ou seja, é nisso que esse caminho está baseado – serenidade meditativa – a fim de desenvolver flexibilidade [pacificação] mente e corpo.

  Essa flexibilidade está representada no gráfico pelo elefante. Veem quão calmo e relaxado está o elefante a olhar atentamente para seu mestre, pronto a obedecer? Só a mente ética pode servir daquela forma. Somente o corpo que se comporta eticamente pode servir daquela forma. Como aprendemos ética? Não a aprendemos em livros. Aprendemo-la de nós próprios, de nossa consciência.

  A consciência é aquela parte de nós que distingue o certo do errado. Ela sabe quando falar ou não falar; quando agir ou não agir. Nossa consciência sabe o que está certo e o que está errado. Onde está a consciência? Onde a sentimos? Num pensamento? A consciência está nos pensamentos? Não, todos sabemos disso. Está em nosso coração. Não é uma voz; não é um pensamento; não é uma palavra. É um estímulo, um pulso, um movimento em nosso coração que sentimos e não pensamos. Entretanto normalmente a ignoramos porque ela contradiz nossos desejos. Contradiz nosso ódio, a inveja e o orgulho. Nosso orgulho quer destacar-se, estar no alto do topo. Nosso ódio quer vingança; nossa inveja quer o que os outros possuem. A consciência nos diz não precisarmos daquelas coisas, mas não a ouvimos. Eis porque agimos erradamente e acabamos por sofrer.

  Pelo ouvir da consciência, pelo seguir da consciência desenvolvemos a ética. Então mente e corpo estabilizam, tornam-se serenos e podemos acessar samadhi. Esse é o segundo treinamento.

  2. Samadhi

  Samadhi refere-se ao estado de consciência. É um estado de um observador onde o ego não está de modo algum condicionando a percepção. Nesse momento não há desejo, ódio, orgulho, inveja, cobiça, gula, preguiça, luxúria ou medo. Ao invés há alegria, serenidade e felicidade. Teremos isso interiormente se estabilizarmos mente e corpo e fizermos o que seja direito, agindo de maneira benéfica conosco e com os demais.

  Quando acessamos samadhi o que estamos acessado é a consciência incondicionada, não filtrada pelas sensações ou por desejos de sensações. Ela é não filtrada pela emoção e pelo intelecto. Samadhi é a experiência da pura consciência liberta de todas as gaiolas na parte mais baixa da Árvore da Vida. Nesse estado (a que chamamos um êxtase) é quando a consciência experiencia sua verdadeira natureza. Então e somente então acessamos o real conhecimento, que é prajna, sabedoria.

  3. Sabedoria Profunda

  Vemos que isso é uma estrutura muito simples. Estabilizar mente e corpo pela ação do que seja certo e cessando ações nocivas conduzem a não mais termos culpa, remorso e lamento. Começamos então a nos sentir felizes, calmos e contentes; a termos gratidão, compaixão, amor e paciência. Unicamente com aquilo a mente estabiliza. Nossa real natureza se torna acessível a nós e sozinha tem a habilidade de ver a realidade. Nosso ódio não pode ver a realidade. Nosso orgulho não pode ver a realidade. Somente quando a consciência estiver livre de condições poderemos então ver e compreender.

  Significa – por tudo de nossas experiências em todos os tempos e em todos os lugares, pelo uso de nossos corpos (motor, instintual e cérebros sexuais), por nossa emoção e por nosso intelecto – que  necessitamos nos avaliar. Somos em verdade serenos? Estamos realmente em paz? Estamos realmente aceitando nossas circunstâncias e nos transformando para nosso próprio benefício e de outros?

  Todos temos orgulho, ódio, inveja, cobiça, gula e avareza. Até que essas qualidades estejam radicalmente eliminadas nunca teremos a verdade e a duradoura serenidade. Podemos ignorar totalmente nosso ódio, orgulho e inveja e nos enganar em pensamento de que somos serenos. Muitos fazem assim. Podemos fugir para florestas e nos isolarmos da humanidade. Podemos começar a sentir um pouco de serenidade quando não haja por lá alguém que atiçará o nosso orgulho. Que não haja por lá alguém que nos faça sentir invejosos ou lascívios. Se exatamente fugirmos de todas essas inaceitáveis, desconfortantes e dolorosas qualidades, nunca as mudaremos.

  Observemos um dependente. O dependente que simplesmente evita seu vício consegue permanecer sóbrio por um ano, mas se ele não compreender que o vício voltará mais forte, este o dominará e o destruirá. Provavelmente alguns de nós tenhamos observado isso ou talvez tenhamos vivido a situação. A única maneira pela qual possamos realmente estar libertos do sofrimento e de tudo mais causado pelo orgulho, ódio, inveja etc., é os compreendendo profundamente. Eles são enganosos. Não nos trazem nunca a felicidade real. Unicamente confrontando-os diretamente podemos suplantá-los.

  Serenidade, paz, contentamento e aceitação são nossos objetivos, mas não são algo para tentarmos falsamente só por agirmos naquela via. Desse modo é uma mentira. Muitas pessoas agem serenas, mas não são serenas e mentem a si próprias.

  A alegria emerge espontaneamente assim que eliminamos dentro de nós o que a obstrui. O que obstrui a felicidade não é exterior, mas interior. Os obstáculos à felicidade e à sabedoria residem em nosso íntimo.

  Ao eliminarmos nosso ódio, realmente o compreendendo, não mais o sentiremos. Sentiremos amor. Mesmo quando alguém esteja terrivelmente contra nós não teremos ódio porque compreenderemos seu sofrimento. Sentiremos compaixão. É assim que isso trabalha. Através da compreensão desenvolvemos a habilidade de acessar a serenidade. O método é combinar a habilidade na consciência.

COMO MEDITAR SOBRE ALGUMA COISA

  A meta na prática da meditação é alcançarmos a compreensão e entendermos das qualidades que nos fazem sofrer. A única maneira de as compreendermos total e profundamente é cultivando e usando os poderes que a consciência detém. Isso está belamente sintetizado nessa simples equação: Concentração + Imaginação = Meditação. Concentração combinada com imaginação conduzem à meditação. Esta equação bastante simples nos ajudará a desenvolver nossa habilidade em meditar a um perfeito grau.

  Se estivermos estudado meditação de qualquer tradição podemos descobrir que as tradições somente oferecem uma parte da equação. Algumas tradições ensinam unicamente a prática da concentração. Outras ensinam unicamente a prática da imaginação. Raro encontrar aquelas que ainda ensinem a combinação das duas. É a combinação que utiliza o poder total da consciência para mudar. Eis porque ensinamos como uni-las.

  O método com que trabalhamos hoje antes da palestra é para utilizarmos aquelas habilidades sem esforço e em harmonia entre elas. Para fazermos com sucesso necessitamos ter já desenvolvido alguma habilidade. Para utilizarmos a técnica que chamamos retrospecção necessitamos já termos a habilidade de concentrar. Não já estivemos na situação em que tentamos fazer essa prática e não conseguimos nos concentrar? Não já esquecemos de que estávamos justamente fazendo meditação quando nos pegamos pensando ou relembrando de coisas que nos deixaram distraídos por um momento? Se assim foi significa necessitarmos nos trabalhar com técnicas a fim de desenvolver maior concentração. É isso que está mapeado no nono estágio.

  Quando nos pegamos facilmente distraídos é porque ainda estamos naqueles níveis baixos da serenidade meditativa. O que necessitamos a fim de usar efetivamente a retrospecção é a habilidade em meditar e não nos esquecermos de que estamos meditando. Se nos sentamos por dez minutos, vinte minutos ou por uma hora necessitamos da habilidade em estarmos cônscios do que estaremos fazendo durante aquele tempo. Se estivermos nos esquecendo de que estamos meditando e cairmos na distração nos desviando por um tempo, então isso nos demonstra precisarmos desenvolver maior concentração.

  É aconselhável então para o estudante com esse tipo de dificuldade trabalhar diariamente nas práticas da concentração para não se esquecer do que esteja fazendo. Isso é chamada atenção plena: lembrar-se atentamente do que esteja fazendo. Enquanto estivermos atentos não nos distrairemos com nada. Permaneceremos cônscios do que estivermos fazendo. Necessário praticar o dia inteiro em tudo o que façamos. É a habilidade mais básica na prática da meditação. Atenção plena é estarmos presentes e cônscios do que estejamos fazendo e não ficarmos distraídos.

  Quando dirigirmos nosso carro dirijamos exatamente nosso carro. Não pensemos sobre outras coisas. Quando cozinhando estejamos unicamente cozinhando e cônscios do que fazemos. Essa continuidade da atenção é a que conduz nossa concentração a ser mais forte.

  Segundo: nos darmos conta de que enquanto tivermos somente poucos graus de concentração, ao tentarmos nos lembrar de cenas ou eventos ocorridos durante o dia, aquelas recordações não nos serão claras. As lembranças são efêmeras. Precisamos ser capazes de evocar uma imagem, trazê-la rapidamente e darmos seguimento a ela. Ou, contrariamente, a cena vem e começa a mudar em algo que realmente não aconteceu. Sendo assim demonstra necessitarmos desenvolver mais profundamente a habilidade da visualização.

  Em síntese: uma vez desenvolvida a concentração e a imaginação, e combinando-as mutuamente, aprendemos a usá-las na prática da meditação, sendo a retrospecção um dos objetos de maior significado uma vez que conduz à compreensão. Sentamo-nos a fim de meditar, colocamos o corpo para descansar, dirigimos e utilizamos energia para estabilizar mente e corpo. Desligamo-nos da emoção e do pensamento. Pomos atenção e força de vontade na visualização do evento que queiramos entender. Tudo o que esteja abaixo da visualização e da imaginação fica em suspensão. O corpo, a emoção e o pensamento estão estáveis e em silêncio; algo acontecendo por ali não nos chama a atenção. Ignoramos. Possamos estar cônscios daquilo, mas não iremos querer nos conectar.
  
  Essa é a meta nessa fase da prática. Colocarmos atenção na coisa que queiramos entender e a visualizarmos.

  O que queiramos entender pode ser qualquer coisa. Pode ser uma memória, uma experiência, uma emoção; pode ser um pensamento, uma escritura, um ensinamento; pode ser um mantra. O que devemos fazer é colocar na tela da imaginação aquele elemento que desejamos dele compreender, mantê-lo lá e aguardar. Podemos aguardar por um longo tempo. Se formos pacientes, nossa concentração e visualização forem boas e vigiarmos aquele elemento pacientemente, em determinado ponto alguma coisa nova emergirá. Pode chegar de muitas maneiras. Qualquer que seja a nova coisa precisamos observá-la do mesmo modo com que estivemos observando outra coisa qualquer: com indiferença, sem excitação ou desejo.

   Por exemplo: estamos meditando sobre um evento e o imaginando; então uma nova cena ou nova imagem emerge e nos excitamos. Instantaneamente tudo se perturba, A emoção nubla nossa visão. Ou alguma imagem emerge e nossa mente começa pensar “Oh, isso parece com aquilo e me faz lembrar de tal coisa”. Isso é intelecto. É pensamento associativo. A experiência é interrompida. O aspecto consciência que estava habilitado a ver sem a interferência da emoção ou intelecto dissolveu-se. Agora estamos às voltas com emoção e intelecto, significando que nossa percepção da realidade está novamente limitada.

  Queremos mesmo é alcançar a habilidade de não reagir física, emocional ou intelectualmente a qualquer coisa emergente, para simplesmente continuar observando. Com prática sustentada nossa visão interna se tornará mais e mais clara e estável e novas informações emergirão com maior facilidade.

  Ao começarmos a adquirir novas informações sobre esse caminho como avaliarmos? Como devemos interpretar essas coisas e como sabermos se são confiáveis ou nossa mente esteja exatamente nos pregando uma peça? Que medida devemos ter com essa experiência? Não é emoção. Não é pensamento. Não é consciência. É aquela habilidade em sabermos a verdade, o certo do errado. Temos uma palavra para isso. É na verdade mal usada hoje em dia, mas é intuição.

INTUIÇÃO

  Intuição é conhecimento no coração que sabe sem pensamento ou emoção. Eis porque alcançamos compreensão sobre coisas. A intuição está profundamente relacionada com a consciência.

  A intuição é um profundo poder. No começo é muito delicada como um bebê crescendo. Tem de ser tratada como tal, com muito cuidado, respeito e suavidade de modo a poder se desenvolver e tornar-se em algo forte. Se estivermos cultivando rosas e outras flores em nosso jardim não haveremos de querer pular em redor e atingi-las. Temos de ser muito respeitosos, nutridores e pacientes. O mesmo se dá com a intuição.

  Se acercamo-la com esses nutrientes e respeito ela realmente se transforma em algo muito belo. Excedentemente belo! Mesmo mágico! Não cresce pela força, mas emerge com a paciência.

  Eis para qual finalidade é a pratica da meditação. Todas as técnicas que qualquer de nós tenha sempre ouvido a fim de conseguir encaixar-se no caminho são para alcançar essa habilidade.

  Observando uma respiração, meditando sobre chacras, fazendo práticas energéticas, pranayamas, trabalhando yantra ou visualizando os deuses – todas essas técnicas são práticas preliminares. São unicamente exercícios de treinamentos. Eles existem a fim de desenvolver nossas habilidades de modo que possamos em resposta refletir sobre nós próprios e vermos a verdade de quem somos interiormente e mudarmos: nesse caminho a consciência pode olhar a mente e vê-la sem interferências de corpo, energia, emoção ou pensamento.

  A consciência está enraizada na alma humana (Tiphereth). É ali onde experienciamos; é como um impulso em nós. Está relacionada com a alma humana. É aquilo batendo no coração, aquela consciência a dizer-nos que algo está errado, que não devemos fazer aquilo e não devemos ter pensamentos do porquê, pois não seremos capazes de explicar-nos logicamente e podemos contradizer nossa emoção; porém sabemos o que seja o certo.

  A consciência desenvolvida torna-se nossa conexão com a divindade dentro de nós. Torna-se muito mais do que um exato batimento, um pequeno pulso do coração. Passa a ser uma torrente de conhecimentos que emerge a exteriorizar a divindade.

  Aquela pequena fagulha que estamos experienciando como consciência está conectada com os alcances mais elevados da Árvore da Vida. Acessa o conhecimento (Daath), a inteligência (Binah) a sabedoria (Chokmah) e a coroa da vida (Kether). Tudo acessado através da consciência.

  Não conseguimos ouvir a consciência quando a mente está hiperativa, identificada com o corpo físico. Eis porque todos esses aspectos – pensamento, emoção, energia, corpo – necessitam estar passivos, receptivos de modo que a consciência consiga expressar-se como conhecimento em nós: real conhecimento. E eis porque necessitamos da meditação. O processo do aprendizado da meditação não é linear. Não está limitado ao momento em que estivermos sentados em meditação, ou sentados num colchão de nossa cama. É uma dinâmica que nos permeia a vida inteira.

  Os impulsos que conseguirmos, as percepções intuitivas obtidas durante a prática da meditação, virão no decorrer do dia e da noite e não somente na hora em que estejamos sentados em meditação. Essa é a dinâmica que estabelecemos através das muitas práticas em todas as nossas atividades. Conseguiremos visões em sonhos. Conseguiremos impulsos enquanto fazemos nosso prato, estando ao chuveiro ou a caminhar com o cachorro; viremos senti-los subitamente. Tudo mudará para nós. Sentiremos muito bem isso, saberemos e compreenderemos embora não consigamos explicar por palavras. Simplesmente saberemos.

  Eis o valor desse estilo de vida. Meditação não é simplesmente uma hora por dia, dez minutos ou uma hora por semana ou qualquer coisa no gênero. É um dia completo de vida. Muda tudo o que fazemos e tudo o que experienciamos. Quando estamos realmente dedicados à meditação, ela nos revela a vida através de um modo inacreditável, desdobrando-a claramente diante de nós. Então vemos camadas, camadas e camadas em nós próprios, compreendemos os traumas, dores e sofrimentos, e os desfazemos nos libertando de todas aquelas coisas.

   Sempre ao compreendermos um nó de um experienciado sofrimento estamos libertando a energia daquele local em que ela esteve armadilhada e aquela energia libertada fará crescer a consciência expandindo-a. Passo a passo, dia a dia aquela habilidade é expandida, expandida e expandida e nos tornamos capacitados a entender a expansão, não somente no sentido de entendermos a nós próprios, mas também entendermos os outros. E não somente estaremos reduzindo nosso ódio, desenvolvendo mais paciência, mas também desenvolvendo mais amor. É algo simples, uma bela coisa, uma coisa difícil ao mesmo tempo tranquila.

EXERCÍCIOS

  Em todas as palestras passamos-lhes exercícios. Neste estágio do curso queremos continuar a desenvolver-lhes a habilidade em observarem-se durante o dia. É na verdade um sentido e não exatamente uma habilidade. Auto-observância é um sentido; é um modo de perceber e sentir. É um modo de experienciarmos.

  Quando estamos nos observando isso baseia-se e se encontra enraizado no estarmos aqui e agora: é ativamente auto-observância. Podemos saber que estamos sentados aqui, mas é outra coisa inteiramente consciencial sabermos que estamos sentados aqui. Podemos saber que estamos dirigindo, mas é completamente diferente nos observarmos dirigindo numa ativa observância.

  O que queremos que aconteça naquela observância é simplesmente a inquisitiva do acompanhamento, porém não adicionando pensamento ou emoção. Alguém nota que tarde da noite ouve um som pouco comum dentro da casa, mas no primeiro instante, não sabendo o que seja, não tem aquela inquisitiva? Somente depois advém-lhe um pensamento: “o que é isso?”. Então a mente começa a analisar o som e o coloca juntamente com coisas que já foram experienciadas no passado. Isso acontece muito rápido. A exata primeira coisa que acontece é a inquisitiva.

  Há uma receptividade na mente, mas o intelecto rapidamente estreita todas as possibilidades para o que já seja conhecido e diz: “deve ser um gato”, ou “o vizinho” ou “o vento”. Veem como a mente faz isso? Na meditação precisamos suspender. Pararmos aquilo quando estivermos meditando. Sermos aquele que está simplesmente olhando e não sabe a resposta. Não mais deixemos a mente rotular, nomear e comparar com o que seja experiência anterior, uma vez que passadas experiências são extremamente limitadas e inteiramente condicionadas pelo sofrimento. Ela não conhece a realidade. Se quisermos conhecer a realidade temos de estar inclinados a olhar objetivamente e aceitar que ainda não a conhecemos.

  Auto-Observância deve ser a mesma coisa. Observemo-nos se não sabemos quem somos. Olhemo-nos como: “existe uma coisa estranha, e eu estou nesta máquina misteriosa que está andando em redor dizendo e fazendo coisas, e eu não sei quem está no comando. Às vezes tem dessas emoções e pensamentos emergindo. E palavras saindo dela, e eu não sei o que está fazendo e quem está rolando esta máquina”.

  Eis como o auto-observante alarga-se. Se estiver dando voltas imaginando que conhece a si próprio e que sabe quem é – e o que é – então estará estreitando sua faixa de percepção. Abra-a e permita irem-se todas aquelas noções do “eu sei quem eu sou”, uma vez que não sabe; nenhum de nós sabe.

  A segunda prática é aquela para começar a trabalhar diariamente nessa retrospecção. Ao longo de todos os dias observar-se e às noites lembrar-se do que observou, não analisando, não rotulando. Não é para querer o intelecto a dizer: “eu fiz isso e isso e foi tudo muito lógico”. Não é assim que se faz a retrospecção. A retrospecção é simplesmente recuperar as memórias do que aconteceu. Não rótulos, não nomes, não análises. É  justamente onde reunir os fatos. É simplesmente juntar todos os fatos disponíveis.

  Finalmente após fazer a retrospecção, tomar um fato que queira investigar melhor. Meditar naquilo mas não especular sobre o fato. Não permitir às emoções colori-lo. Não estar distraído. Observar exatamente  como o fato é; ser paciente, esperar para ver se algo novo emerge. Não se preocupar. Eventualmente algo virá.

  Os exercícios para hoje apesar de descritos aqui de forma simples, requerem muito do que você já tenha, mesmo que tenha desenvolvido alguma habilidade. Você necessita ter suficiente concentração, suficiente relax e suficiente imaginação.

  Necessário ser honesto consigo e realmente reconhecer o nível do desenvolvimento que tenha e o que precisa. Eu não tenho expectativa de que todos os ouvintes desta palestra serão capazes de fazer essas práticas diariamente. Eu as estou explanando a fim de que saibam quais tarefas têm pela frente.

  Há uma meta e um objetivo para tudo isso. Começar de onde estão. Quem tiver a mente completamente indômita que não o obedecerá e o corpo de modo algum o obedece, deve começar do início e treinar.

    Pensamento do dia: “Unicamente pela ausência do “eu” alguém pode experienciar a  felicidade do Ser. Unicamente  pela ausência do “eu” pode o êxtase ser alcançado”. Samuel Aun Weor: “A Eliminação da Cauda de Satã”.

POR UM INSTRUTOR GNÓSTICO


  Tradução Inglês / Português: Rayom Ra

                                                        Rayom Ra
                                     http://arcadeouro.blogspot.com.br

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