Figura 1 A habilidade de Meditar Conforme Simbolizado no Budismo Tibetano
“Enquanto
estivermos atentos não nos distrairemos com nada. Permaneceremos cônscios do
que estivermos fazendo. Necessário praticar o dia inteiro em tudo o que
façamos. É a habilidade mais básica na prática da meditação. Atenção plena é
estarmos presentes e cônscios do que estejamos fazendo e não ficarmos
distraídos”.
Durante o ano passado estivemos dando uma
série de palestras sobre os fundamentos da meditação e coisas necessárias e
mais fundamentais ao conhecimento, a fim de termos uma prática efetiva da
meditação. As ferramentas usadas nesse curso estão neste gráfico.
Figura 2
A figura aqui é uma representação muito
antiga fornecida pelo Buddha Maitreya. É parte do budismo tibetano que delineia
os estágios fundamentais do desenvolvimento da serenidade meditativa. Podemos
dizer que a concentração, especificamente, seja a habilidade em colocarmos a
atenção numa coisa e não ficarrmos distraídos. O painel tem nove estágios
principais através dos quais um meditante sério trabalhará. A beleza do mapa
não está somente na sua feitura, cuja finalidade é a de explicar os estágios do
desenvolvimento da concentração, mas também está em destacar os obstáculos que
teremos adiante, dando-nos os antídotos para os superarmos.
Uma vez aplicadas aquelas técnicas ao decurso
de nossas práticas para o desenvolvimento da serenidade meditativa,
alcançaremos níveis mais elevados e teremos também desenvolvido o que é
comumente chamado a mente unidirecionada – a concentração perfeita, Dharana,
Dhyana ou Samadhi. Em outras palavras: teremos alcançado aquela qualidade
chamada flexibilidade (brandura).
Flexibilidade é especificamente definida como
a condutividade de corpo e mente para meditar, significando que nosso corpo e
mente não lutam com a meditação. Eles não nos distraem. Nosso corpo e mente não
são de modo algum obstáculos. Na verdade são ajudantes dispostos a auxiliar-nos
em nossa vida espiritual. Normalmente para a maioria das pessoas isso
representa o caminho oposto, pois para elas o corpo físico e a mente são
obstáculos em suas vidas espirituais uma vez que corpo e mente têm muitas
vontades e necessidades, e tendem a desgastar-lhes muito, justamente para a
satisfação de seus desejos.
Assim este mapa é realmente significativo. É
inteiramente prático não tendo nenhuma ligação com crenças, sendo portador de
uma estrutura bastante clara que pode ser seguida para adquirimos a serenidade
meditativa.
Figura 3
Este outro mapa no qual nos apoiamos é
chamado a Árvore da Vida. É também o principal símbolo da tradição denominada
Cabala. Representa o universo; todos os níveis das coisas existentes e daquelas
que têm o potencial para ainda existir. E isso não está fora de nós, mas dentro
de nós. Muito embora pareça complicado é na verdade ferramenta bastante
simples. Uma vez comecemos a estuda-lo ficaremos acostumados com ele. É muito
belo e extremamente poderoso. Usamos estes dois símbolos combinados a fim de
compreendermos a meditação e desenvolvermos efetivamente nossa vida espiritual.
Na palestra anterior falamos sobre a palavra
compreensão. Introduzimos uma noção do que seja um tipo de conhecimento a que
chamamos compreensão, que vai além do conhecimento intelectual. Podemos também
chama-lo de entendimento. Não é algo que possamos adquirir de alguém, mas que
nos chega do íntimo e jamais virá de qualquer outra fonte. É pertencente à
consciência ou à alma. É penetrante conhecimento que corta a ilusão, o desejo,
o sofrimento e revela a verdade.
A compreensão é semelhante a isso. Uma vez
tenhamos compreensão todas as coisas mudam. É aquele tipo de conhecimento a
exemplo de um relâmpago, de uma coisa viva, energética, inegável.
Assim, com a compreensão vemos a verdade e a
realidade das coisas; além do mais vemos as ilusões como elas são. É isso o que
queremos ao meditarmos: compreensão. Queremos um tipo de conhecimento que nos
permita não sofrer da maneira como temos sofrido. Que nos permita com graça e
amor nos desatarmos dos problemas do sofrimento. Daí que na Árvore da Vida esse
tipo de conhecimento está representado numa posição bem acima
Resumindo: a Árvore da Vida representa a
densidade na natureza tanto fora de nós quanto dentro de nós. Nos alcances mais
elevados estão as forças mais sutís e primordiais. Na mais elevada altura está
o que é chamado o Absoluto. É o imanifesto e o potencialmente Ser mas que ainda
não se tornou. Quando aquilo se expressa no tornar-se temos a primeira
manifestação que é a energia primordial ou a presença na natureza.
Nas religiões aquilo está representado por
uma trindade e vemos aquela trindade no topo, mas é interessante saber estas
palavras em hebreu que descrevem referida trindade. A primeira representação é
Kether que significa “coroa”. A segunda representação é Chokmah que significa
"sabedoria”. A terceira representação é Binah que significa “inteligência” ou
“entendimento”. Quando aquela trindade cria, o faz através da região oculta
chamada Daath. Em hebreu isso significa
“conhecimento”.
No topo temos uma coroa a traduzir:
sabedoria, inteligência e conhecimento. Todas são expressões da trindade
fundamental da existência que os cristão a chamam de Pai, Filho e Espírito
Santo; os indús a chamam de Brahma, Vishnu, Shiva; os budistas a chamam de a Trikaya: Dharmakaya, Sambhogakaya,
Nirmanakaya. Se tivermos estudado qualquer religião saberemos sobre essa
fundamental trindade.
Elas representam um nível de inteligência, um
tipo de discernimento da realidade, um tipo de conhecimento. É um tipo de
cognição. É consciência, porém com profundo conhecimento. Isso está dentro de
nós em um estado potencial, germinal. Não está fora de nós. Todos temos isso
dentro de nós. É nossa mais primordial natureza. O mais primordial aspecto
disso que nos dá vida é esse tipo de conhecimento interior não ainda desenvolvido em nós. É um potencial que
se trabalharmos com ele aprendendo a acessá-lo, ele poderá expressar-se através
de nós.
Compreensão é começarmos a acessar aquilo. Em
sânscrito, tanto no budismo ou induísmo, aquele tipo de conhecimento é Prajna. Ao decompormos o termo sânscrito Prajna, temos
pra a significar “além” e jna a significar “conhecimento”. É pois
um tipo de conhecimento relacionado àquilo que esteja além. É o coração
profundo do estado de ser; um tipo de conhecimento que está além do que
entendemos como conhecimento. Algo além do conceito, da teoria ou crença.
Entretanto é o conhecimento da realidade – a verdade.
O
objetivo da meditação – a meta – é acessar aquele tipo de conhecimento.
Necessitamos entender nossa posição em
relação a isso. Esse tipo de conhecimento está dentro de nós. É algo para
conseguirmos acessar, porém unicamente se entendermos como. Com as ferramentas que nesse momento usamos, nosso acesso
àquilo encontra-se muito limitado. Acontece pelo fato de estarmos por demais
condicionados pelos nossos atuais experimentos. Quando estudamos a nós próprios
na relação com a natureza vemos que somos muito mais do que percebemos de
imediato.
FISICALIDADE
Na Árvore da Vida, ao buscarmos mapear nossa
estrutura como pessoa, começamos aqui e agora com o corpo físico. Esse é o mais
óbvio aspecto que temos para trabalhar em bases diárias. Nossa fisicalidade está
representada na Árvore da Vida como o mais inferior dos doze círculos. É
chamado o Reino, o corpo. Essa fisicalidade está marcada pelos cinco sentidos,
a habilidade em sentir experiências físicas.
Figura 4
Especificamente com relação a meditação,
quando queremos meditar, a primeira coisa a fazer é tratarmos com o corpo
físico. Colocamo-lo numa postura, mas sobretudo qual é a experiência que a
maioria tem...? Que o corpo físico não gosta disso, e ele reclama. Ele sente
dores, desconfortos, está quente, está frio, está ouvindo ruídos no quarto ao
lado, alguém está tocando música ou falando muito alto ou há na rua cães
latindo e assim ficamos agitados devido às tais experiências dos sentidos
físicos.
Então nos perturbamos não só fisicamente,
mas reagimos emocionalmente àquilo, ou podemos até reagir com nossos
pensamentos. O que isso nos demonstra é estarmos por demais identificados com a
fisicalidade e não termos desenvolvido suficiente vontade a fim de cultivar o
poder da flexibilidade – aquilo que descrevíamos anteriormente como algo muito
pronunciado em níveis elevados do desenvolvimento da serenidade meditativa.
Quando temos flexibilidade o corpo físico é capaz de sentar-se na sua postura e
relaxar não importando as circunstâncias físicas. Tendo estudado qualquer das
tradições da meditação, saberemos das histórias dos iogues e mestres que foram
capazes de sentar-se e meditar a despeito de incríveis dificuldades.
O exemplo que me vem à mente é de um mestre
do Budismo Chan que foi tão devotado ao entendimento e alcance da compreensão
que apesar de estar com disenteria e morrendo não interrompeu com sua
meditação. Se soubermos o que é disenteria entenderemos que o acontecido é algo
de inacreditável força de vontade pelo mestre, por se ter sentado em meditação
ignorando aquele tipo de doença. Isso demonstra quanto de vontade ele tinha e
quanto de flexibilidade desenvolveu, pois o corpo foi capaz de manter sua
postura de modo que sua consciência pudesse continuar trabalhando caso ele
morresse. E ele não morreu tendo superado aquilo.
Esse
é o tipo de poder necessário uma vez que todos morreremos, mas se estivermos
habilitados a meditar por esse processo no momento da morte, teremos
inacreditável influência sobre o que em seguida nos acontecerá. Entretanto se
formos uma vítima do sofrimento do corpo não conseguiremos. Ao invés disso passaríamos
por essa experiência inconscientemente com imprevisível resultado.
Alguém que seja capaz de desenvolver a flexibilidade
do corpo físico, será então capaz de sentar-se e não ser perturbado a despeito
de qualquer interferência externa ou sensorial, sejam sons, ruídos, calor,
frio, fome ou sede. Sentar-se-á e meditará apesar de tudo, pois terá controle
sobre o corpo.
ENERGIA
E acerca de uma pessoa que se senta para
meditar e rapidamente cai em sono? Por que tal acontece? É falta de energia.
Relacionemos isso com a segunda sefirote, Yesod, vitalidade.
Yesod é o aspecto superior do corpo físico.
Quando não temos suficiente energia, vitalidade no corpo, necessitamos dormir
para recuperá-la. Do mesmo modo ao perdermos a habilidade em ficarmos
concentrados e focados em nossa prática meditativa, isso decorre parcialmente
de uma falta de energia. Essa não é exatamente energia no corpo, mas energia
para alimentar nossa atenção. Estudantes caem no sono na classe. Motoristas
caem no sono sobre rodas. Empregados caem no sono durante o trabalho. Cair no
sono desse modo nem sempre significa que o corpo é que dorme. O corpo pode
permanecer ativo, mas a atenção é que se dispersa. Quando falta energia à nossa
atenção esta se dispersa e perdemos a noção. Esse é o sono que queremos
significar – um estado de dispersão. É bastante comum entre estudantes de
meditação. Muitos se sentam e começam suas práticas de meditação, mas logo
ficam distraídos e permanecem alheios ao que supunham ser concentração. Isso é uma
falta de energia.
EMOÇÃO
Outra experiência na meditação é aquela em
que estamos tentando praticar, mas há o excessivo surgimento de emoções. Temos
muita ansiedade, muito medo, muita inveja; estamos muito zangados, muito
amedrontados e por demais excitados. Talvez tenhamos tido um sonho, uma visão
ou algo semelhante e queremos voltar àquela experiência, mas estamos excitados
e possamos também estar temerosos. Nesse tipo de cenário o obstáculo aqui é a
emoção relacionada com Hod.
PENSAMENTO
Esta seguinte está relacionada com Netzach. Quando
estamos tentando nos concentrar e a mente não está querendo parar é que ela
está em constante análise, pensando, nomeando coisas, rotulando-as, tentando
explica-las lógica e racionalmente. Isso não é meditação é pensamento. O
pensamento é um obstáculo, um mau hábito. Nada disso pode conduzir à real
compreensão. Sensações físicas são simplesmente sensações. Elas não nos
facultam acesso à realidade ou compreensão.
Do mesmo modo que sensações energéticas são
meramente sensações são fundamentalmente ilusórias. Sensações não são
confiáveis. Definitivamente não nos proporcionam qualquer coisa confiável
relativamente à consciência ou meditação. Algumas pessoas querem meditar sobre
chakras ou meridianos e a energia circulante dentro de seus corpos. Querem
experiências da energia movente ou de auras. É perda de tempo! É somente
energia. Experiências com energia não significam nada e não mudam nada.
Assim como nada significa sentirmos nossos
pulmões cheios com ar, também é nada sentirmos um chakra. Energia é exatamente
energia. O corpo está preenchido com energia e necessitamos disso, porém
energia não direcionada ou não manobrada é exatamente isso: energia sem
direção. Não nos fascinemos com essas coisas. Não as permitamos tornarem-se
obstáculos!
O mesmo acontece com emoção e pensamento;
necessitamo-los, são úteis, mas estamos hipnotizados por eles e são muito
limitados em suas habilidades. Nem a emoção nem o pensamento veem a verdade.
Não nos apercebemos disso.
Todos lutamos contra todos esses obstáculos
cada um em nosso pessoal caminho. Eis porque ensinamos meditação do modo
bastante específico conforme fazemos; é para conseguir acessar o conhecimento
real: a compreensão. A fim de alcançarmos a compreensão todas aquelas situações
precisam estar suspensas, especialmente durante nossas práticas meditativas.
Necessitamos libertar a consciência das condições sobre o corpo físico: da energia,
emoção e pensamento. Isso não pode ser feito unicamente por tentativas nos
momentos em que estivermos meditando. Para vencermos isso precisamos estar
fazendo tentativas pelo dia inteiro e enfim por toda a noite também. Se
pudermos pôr em suspenso aquelas condições e permanecermos concentrados o tempo
inteiro em todas as atividades então alcançaremos a compreensão mais
rapidamente.
Ao começarmos a meditação colocamos o corpo
(Malkuth) numa posição e o deixamos lá imóvel, sem movimento. Deixamo-lo firme
e relaxado. Não mais nos ligamos a ele e retiramos nossa atenção dele. O corpo
deve ser posicionado e esquecido. Com energia (Yesod) o dominamos, o
trabalhamos e o dirigimos. Em termos práticos significa que uma vez esteja o
corpo posicionado relaxamos profundamente e fazemos algum pranayama e mantras a
fim de trabalhar a energia e a direcionarmos. A partir daí deixamos isso de
lado. Não ficamos hipnotizados pela energia nem fascinados por ela. Deixamos a
emoção ir-se. Tanto quanto relaxar o corpo e a energia temos também de relaxar
nosso clima, nosso estado emocional. Em outras palavras: não estamos tentando
resolver nossos problemas emocionais com emoção.
O mesmo se dá com o pensamento. Deixamo-lo
estar. Desligamo-nos dele. Separamos nossa atenção do pensamento. A consciência
não é física, energética, emocional ou mental. Somente a consciência pode
meditar. Assim não estamos tentando resolver nossos problemas com o pensamento
ou meditar pensando ou meditar através do pensamento, e sentimento. Ao invés
queremos suspender a fisicalidade, a energia, a emoção, o pensamento e nos
tornarmos vontade.
OBSERVEM
E COMPREENDAM
Vontade é atenção colocada e direcionada.
Hoje em nossa prática de meditação dissemos: “visualizem sua experiência de
hoje”. Naquele momento vocês suspenderiam o corpo, a energia, o pensamento e a
emoção e se tornariam atenção. Como atenção observariam a memória sem pensar
sobre ela, sem sentir emoção sobre ela; simplesmente observando os fatos do que
podia ser relembrado visualmente.
Quando nesse estado, estamos a observar
alguma coisa mais elevada na Árvore da Vida. Quanto mais alto possamos alcançar
na Árvore da Vida, mais próximos estaremos da verdade, da realidade. Quanto
mais baixo estejamos na Árvore da Vida mais longe estaremos da realidade.
Na meditação o que devemos fazer
preferencialmente é termos flexibilidade de modo que nosso corpo e mente sejam
bons conducentes e não lutem conosco. Que o corpo e mente obedeçam. Sentamo-nos,
fechamos os olhos, cerramos os sentidos, retiramo-nos do corpo, da energia, da
emoção e pensamento e simplesmente imaginamos a coisa que necessitamos
compreender. É isso; justamente a imaginamos. Não analisemos com o pensamento
nem vagueemos pelos nossos sentimentos (emoções). Ao invés unicamente observemos
os fatos. Fazendo certo e com algum acuramento isso então se torna suave.
Fazendo assim não nos deteremos em esforços
uma vez que estaremos utilizando as habilidades naturais da consciência. E que
são tais habilidades? Primeiramente a percepção; segundo a compreensão. Essas
são habilidades naturais em nós. Não são forçadas e não requerem destreza. Não
nos exigem perícia para olharmos ou destreza para a compreensão da verdade.
Por exemplo, um bebê muito pequeno pode ver
seus pais brigando e saberá que eles estão brigando e que isso é sofrimento.
Ele não tem necessariamente total compreensão emocional do que se desenrola,
mas ao perceber a cena ele verdadeiramente entende o que está acontecendo.
Mesmo um cão consegue isso. Um cão pode ver uma briga e saber o que se
desenrola exatamente porque ele tem consciência. O que tento indicar-lhes é que
não é necessário usar de habilidade para se ver e compreender o básico fato das
coisas. Ainda, essa habilidade detém o potencial de crescer e se expandir extensamente
não só na percepção do que esteja ocorrendo – mesmo que não seja fisicamente –
mas também na compreensão a níveis muito profundos. Unicamente a consciência é
capaz disso.
MERGULHANDO
NAS PROFUNDEZAS
A meta na meditação é nos separarmos progressivamente
de todas as coisas que estejam abaixo, na Árvore da Vida, e subirmos o mais
alto possível. Em outras palavras: movermo-nos do mais profundo alcançado em
nosso íntimo e chegarmos o mais e mais perto da visão da realidade.
Pode ser-nos difícil conceituar ou entender
uma vez que neste gráfico isso se encontra organizado num modelo vertical. Na
verdade, experiencialmente – fisicamente – não é vertical. Experiencialmente é movermo-nos
nas profundezas de nosso próprio íntimo, indo cada vez mais fundo ao interior
de nossa consciência. É questão de aprofundamento e não de nível físico.
O Trikaya, a trindade, não está acima de nós
no céu mas dentro de nós, porém no profundo interior da consciência. Quem tiver
habilidade para acessar a meditação pode imediatamente pular para o interior
desses níveis profundos – imediatamente – sem esforço. E prontamente pode
cessar de prestar atenção ao corpo, à energia, à emoção, ao pensamento e
tornar-se vontade, poder, ver qualquer coisa e compreende-la. Não é relação de
tempo. Não é relação de esforço. Aprendermos como usá-la acontece sem esforço,
sem empenho, vindo a ser em nós uma habilidade natural que todas as coisas
vivas possuem. É como ouvirmos ou vermos com naturalidade; mas estaremos nos
utilizando de um sentido diferente.
Essa habilidade está arraigada em Tiphreth na
Árvore da Vida. Localiza-se diretamente no meio. Relaciona-se com nossa
consciência e nossa força de vontade. De Tiphereth a consciência tem acesso a
todas as partes da Árvore da Vida. Mais significativamente consegue perceber
aquilo a que chamamos Deus, Buda, Mestre, Atman. Unicamente a consciência tem
acesso a essa percepção. O corpo físico não tem. A mente não tem. A emoção não
tem. A emoção quer conhecer Deus, mas não pode por ela própria. Unicamente a
consciência pode conhecer Deus. Se a mente quer conhecer Deus o corpo quer ter
prova sensória de Deus, mas ambos nunca conseguem. A consciência é que pode
saber como. Eis porque necessitamos aprender como usá-la. Para fazermos isso
necessitamos aprender a sair do condicionamento.
CONDICIONAMENTO
Nosso principal problema é sermos possuidores
de muitos desejos, muito orgulho, demasiada raiva, demasiada inveja, medo,
luxúria e isso está representado na sombra da Árvore. Simbolizam os níveis
submersos de nossa mente. Geralmente quando nos sentamos a fim de meditar
devemos manobrar com o corpo para relaxar. Devemos ser capazes de termos
acalmado a emoção e o pensamento e de termos a atenção estabilizada. Então o
que virá à nossa imaginação? O que visualizaremos? O que estaremos vendo por
nosso olho da mente?
Digamos termos brigado com alguém e queiramos
entender, “por que estou sofrendo com esse ódio? Por que estou sofrendo com
essa dor pela briga que tive com aquela pessoa?”. Sentamo-nos para meditar,
visualizamos aquela cena, começamos relembra-la e o sofrimento recomeça;
pensamentos afloram e logo estaremos a imaginar quanto estivemos errados e como
conseguiremos nossa vingança. Imaginamos então quanto de nosso orgulho foi
ferido e desejamos o orgulho daquela pessoa também ferido: ela se sentindo
envergonhada e com remorso.
Quando temos inveja de alguma coisa que não
possuímos e tentamos meditar sobre aquilo, buscando entender, geralmente
começamos alimentar aquela inveja ao invés de realmente a entendermos.
Obviamente isso não nos irá ajudar na mudança. Felizmente podemos aprender a
superar esse problema.
OS TRÊS
TREINAMENTOS
O trabalho é desafiador. Para termos sucesso
requer-nos um conjunto bem específico de habilidades. O curso inteiro que vimos
ministrando está baseado neste conceito chamado no budismo de os três
treinamentos. Este conceito se encontra
presente em todas as religiões. É sua fundamental estrutura em todas elas. E
usamos especialmente os seguintes termos porque são muito precisos. São eles
nos três treinamentos:
- Sila: ética
- Samadhi: êxtase meditativo
- Prajna: sabedoria profunda
1. Ética
A base de toda vida espiritual é a ética. É o
primeiro passo do qual tudo mais depende. Toda religião possui seu próprio nome
para a ética. Por ética não significamos moralidade nem a fazermos aquilo que
dizemos para que façam. Ética significa adotarmos ações benéficas não somente
para nos beneficiar como também para beneficiar a outros.
Também cessamos as ações nocivas não somente
contra nós próprios mas também nocivas a outros. Não significam só fisicamente
mas também mentalmente. E que não devemos nos pronunciar com violência contra
outra pessoa por nossa boca e mente. Ou seja: não só devemos não amaldiçoar o
vizinho ou falarmos de outros verbalizando duramente, mas não também em mente.
Isso inclui todos os comportamentos de nossa mente.
Tais fatores produzem o estado da mente e do
corpo que estamos agora experienciando – são todas as nossas ações físicas,
emocionais e mentais. Assim, não acessamos o real conhecimento (prajna) porque
nosso corpo e mente estão perturbados. Porém ao mudarmos o comportamento e
adotarmos ações benéficas tudo se acalma. Tornamo-nos serenos e felizes. Ao
invés de sentirmos ódio, inveja, luxúria, orgulho e todo o sofrimento que
temos, começamos a sentir felicidade, amor, compaixão pelos outros e gratidão
pelo que temos. Essas qualidades estabilizam mente e corpo. Ou seja, é nisso
que esse caminho está baseado – serenidade meditativa – a fim de desenvolver
flexibilidade [pacificação] mente e corpo.
Essa flexibilidade está representada no
gráfico pelo elefante. Veem quão calmo e relaxado está o elefante a olhar
atentamente para seu mestre, pronto a obedecer? Só a mente ética pode servir
daquela forma. Somente o corpo que se comporta eticamente pode servir daquela
forma. Como aprendemos ética? Não a aprendemos em livros. Aprendemo-la de nós
próprios, de nossa consciência.
A consciência é aquela parte de nós que
distingue o certo do errado. Ela sabe quando falar ou não falar; quando agir ou
não agir. Nossa consciência sabe o que está certo e o que está errado. Onde
está a consciência? Onde a sentimos? Num pensamento? A consciência está nos
pensamentos? Não, todos sabemos disso. Está em nosso coração. Não é uma voz;
não é um pensamento; não é uma palavra. É um estímulo, um pulso, um movimento
em nosso coração que sentimos e não pensamos. Entretanto normalmente a
ignoramos porque ela contradiz nossos desejos. Contradiz nosso ódio, a inveja e
o orgulho. Nosso orgulho quer destacar-se, estar no alto do topo. Nosso ódio
quer vingança; nossa inveja quer o que os outros possuem. A consciência nos diz
não precisarmos daquelas coisas, mas não a ouvimos. Eis porque agimos
erradamente e acabamos por sofrer.
Pelo ouvir da consciência, pelo seguir da
consciência desenvolvemos a ética. Então mente e corpo estabilizam, tornam-se
serenos e podemos acessar samadhi. Esse é o segundo treinamento.
2. Samadhi
Samadhi refere-se ao estado de consciência. É
um estado de um observador onde o ego não está de modo algum condicionando a
percepção. Nesse momento não há desejo, ódio, orgulho, inveja, cobiça, gula,
preguiça, luxúria ou medo. Ao invés há alegria, serenidade e felicidade. Teremos
isso interiormente se estabilizarmos mente e corpo e fizermos o que seja
direito, agindo de maneira benéfica conosco e com os demais.
Quando acessamos samadhi o que estamos
acessado é a consciência incondicionada, não filtrada pelas sensações ou por
desejos de sensações. Ela é não filtrada pela emoção e pelo intelecto. Samadhi
é a experiência da pura consciência liberta de todas as gaiolas na parte mais
baixa da Árvore da Vida. Nesse estado (a que chamamos um êxtase) é quando a
consciência experiencia sua verdadeira natureza. Então e somente então
acessamos o real conhecimento, que é prajna, sabedoria.
3. Sabedoria Profunda
Vemos que isso é uma estrutura muito simples.
Estabilizar mente e corpo pela ação do que seja certo e cessando ações nocivas
conduzem a não mais termos culpa, remorso e lamento. Começamos então a nos sentir
felizes, calmos e contentes; a termos gratidão, compaixão, amor e paciência.
Unicamente com aquilo a mente estabiliza. Nossa real natureza se torna
acessível a nós e sozinha tem a habilidade de ver a realidade. Nosso ódio não
pode ver a realidade. Nosso orgulho não pode ver a realidade. Somente quando a
consciência estiver livre de condições poderemos então ver e compreender.
Significa – por tudo de nossas experiências
em todos os tempos e em todos os lugares, pelo uso de nossos corpos (motor,
instintual e cérebros sexuais), por nossa emoção e por nosso intelecto – que necessitamos nos avaliar. Somos em verdade
serenos? Estamos realmente em paz? Estamos realmente aceitando nossas
circunstâncias e nos transformando para nosso próprio benefício e de outros?
Todos temos orgulho, ódio, inveja, cobiça,
gula e avareza. Até que essas qualidades estejam radicalmente eliminadas nunca
teremos a verdade e a duradoura serenidade. Podemos ignorar totalmente nosso
ódio, orgulho e inveja e nos enganar em pensamento de que somos serenos. Muitos
fazem assim. Podemos fugir para florestas e nos isolarmos da humanidade.
Podemos começar a sentir um pouco de serenidade quando não haja por lá alguém
que atiçará o nosso orgulho. Que não haja por lá alguém que nos faça sentir
invejosos ou lascívios. Se exatamente fugirmos de todas essas inaceitáveis,
desconfortantes e dolorosas qualidades, nunca as mudaremos.
Observemos um dependente. O dependente que
simplesmente evita seu vício consegue permanecer sóbrio por um ano, mas se ele
não compreender que o vício voltará mais forte, este o dominará e o destruirá.
Provavelmente alguns de nós tenhamos observado isso ou talvez tenhamos vivido a
situação. A única maneira pela qual possamos realmente estar libertos do
sofrimento e de tudo mais causado pelo orgulho, ódio, inveja etc., é os
compreendendo profundamente. Eles são enganosos. Não nos trazem nunca a
felicidade real. Unicamente confrontando-os diretamente podemos suplantá-los.
Serenidade, paz, contentamento e aceitação
são nossos objetivos, mas não são algo para tentarmos falsamente só por agirmos
naquela via. Desse modo é uma mentira. Muitas pessoas agem serenas, mas não são
serenas e mentem a si próprias.
A alegria emerge espontaneamente assim que
eliminamos dentro de nós o que a obstrui. O que obstrui a felicidade não é
exterior, mas interior. Os obstáculos à felicidade e à sabedoria residem em
nosso íntimo.
Ao eliminarmos nosso ódio, realmente o
compreendendo, não mais o sentiremos. Sentiremos amor. Mesmo quando alguém
esteja terrivelmente contra nós não teremos ódio porque compreenderemos seu
sofrimento. Sentiremos compaixão. É assim que isso trabalha. Através da
compreensão desenvolvemos a habilidade de acessar a serenidade. O método é
combinar a habilidade na consciência.
COMO
MEDITAR SOBRE ALGUMA COISA
A meta na prática da meditação é alcançarmos
a compreensão e entendermos das qualidades que nos fazem sofrer. A única
maneira de as compreendermos total e profundamente é cultivando e usando os
poderes que a consciência detém. Isso está belamente sintetizado nessa simples
equação: Concentração + Imaginação = Meditação. Concentração combinada com
imaginação conduzem à meditação. Esta equação bastante simples nos ajudará a
desenvolver nossa habilidade em meditar a um perfeito grau.
Se estivermos estudado meditação de qualquer
tradição podemos descobrir que as tradições somente oferecem uma parte da
equação. Algumas tradições ensinam unicamente a prática da concentração. Outras
ensinam unicamente a prática da imaginação. Raro encontrar aquelas que ainda
ensinem a combinação das duas. É a combinação que utiliza o poder total da
consciência para mudar. Eis porque ensinamos como uni-las.
O método com que
trabalhamos hoje antes da palestra é para utilizarmos aquelas habilidades sem
esforço e em harmonia entre elas. Para fazermos com sucesso necessitamos ter já
desenvolvido alguma habilidade. Para utilizarmos a técnica que chamamos
retrospecção necessitamos já termos a habilidade de concentrar. Não já
estivemos na situação em que tentamos fazer essa prática e não conseguimos nos
concentrar? Não já esquecemos de que estávamos justamente fazendo meditação
quando nos pegamos pensando ou relembrando de coisas que nos deixaram
distraídos por um momento? Se assim foi significa necessitarmos nos trabalhar
com técnicas a fim de desenvolver maior concentração. É isso que está mapeado
no nono estágio.
Quando nos pegamos facilmente distraídos é
porque ainda estamos naqueles níveis baixos da serenidade meditativa. O que
necessitamos a fim de usar efetivamente a retrospecção é a habilidade em
meditar e não nos esquecermos de que estamos meditando. Se nos sentamos por dez
minutos, vinte minutos ou por uma hora necessitamos da habilidade em estarmos
cônscios do que estaremos fazendo durante aquele tempo. Se estivermos nos
esquecendo de que estamos meditando e cairmos na distração nos desviando por um
tempo, então isso nos demonstra precisarmos desenvolver maior concentração.
É aconselhável então para o estudante com
esse tipo de dificuldade trabalhar diariamente nas práticas da concentração
para não se esquecer do que esteja fazendo. Isso é chamada atenção plena:
lembrar-se atentamente do que esteja fazendo. Enquanto estivermos atentos não
nos distrairemos com nada. Permaneceremos cônscios do que estivermos fazendo.
Necessário praticar o dia inteiro em tudo o que façamos. É a habilidade mais
básica na prática da meditação. Atenção plena é estarmos presentes e cônscios
do que estejamos fazendo e não ficarmos distraídos.
Quando dirigirmos nosso carro dirijamos
exatamente nosso carro. Não pensemos sobre outras coisas. Quando cozinhando
estejamos unicamente cozinhando e cônscios do que fazemos. Essa continuidade da
atenção é a que conduz nossa concentração a ser mais forte.
Segundo: nos darmos conta de que enquanto
tivermos somente poucos graus de concentração, ao tentarmos nos lembrar de
cenas ou eventos ocorridos durante o dia, aquelas recordações não nos serão
claras. As lembranças são efêmeras. Precisamos ser capazes de evocar uma
imagem, trazê-la rapidamente e darmos seguimento a ela. Ou, contrariamente, a
cena vem e começa a mudar em algo que realmente não aconteceu. Sendo assim
demonstra necessitarmos desenvolver mais profundamente a habilidade da
visualização.
Em síntese: uma vez desenvolvida a
concentração e a imaginação, e combinando-as mutuamente, aprendemos a usá-las
na prática da meditação, sendo a retrospecção um dos objetos de maior
significado uma vez que conduz à compreensão. Sentamo-nos a fim de meditar,
colocamos o corpo para descansar, dirigimos e utilizamos energia para
estabilizar mente e corpo. Desligamo-nos da emoção e do pensamento. Pomos
atenção e força de vontade na visualização do evento que queiramos entender.
Tudo o que esteja abaixo da visualização e da imaginação fica em suspensão. O
corpo, a emoção e o pensamento estão estáveis e em silêncio; algo acontecendo
por ali não nos chama a atenção. Ignoramos. Possamos estar cônscios daquilo,
mas não iremos querer nos conectar.
Essa é a meta nessa fase da prática.
Colocarmos atenção na coisa que queiramos entender e a visualizarmos.
O que queiramos entender pode ser qualquer
coisa. Pode ser uma memória, uma experiência, uma emoção; pode ser um
pensamento, uma escritura, um ensinamento; pode ser um mantra. O que devemos
fazer é colocar na tela da imaginação aquele elemento que desejamos dele
compreender, mantê-lo lá e aguardar. Podemos aguardar por um longo tempo. Se
formos pacientes, nossa concentração e visualização forem boas e vigiarmos
aquele elemento pacientemente, em determinado ponto alguma coisa nova emergirá.
Pode chegar de muitas maneiras. Qualquer que seja a nova coisa precisamos
observá-la do mesmo modo com que estivemos observando outra coisa qualquer: com
indiferença, sem excitação ou desejo.
Por exemplo: estamos
meditando sobre um evento e o imaginando; então uma nova cena ou nova imagem
emerge e nos excitamos. Instantaneamente tudo se perturba, A emoção nubla nossa
visão. Ou alguma imagem emerge e nossa mente começa pensar “Oh, isso parece com
aquilo e me faz lembrar de tal coisa”. Isso é intelecto. É pensamento
associativo. A experiência é interrompida. O aspecto consciência que estava
habilitado a ver sem a interferência da emoção ou intelecto dissolveu-se. Agora
estamos às voltas com emoção e intelecto, significando que nossa percepção da
realidade está novamente limitada.
Queremos mesmo é alcançar a habilidade de não
reagir física, emocional ou intelectualmente a qualquer coisa emergente, para
simplesmente continuar observando. Com prática sustentada nossa visão interna
se tornará mais e mais clara e estável e novas informações emergirão com maior
facilidade.
Ao começarmos a adquirir novas informações
sobre esse caminho como avaliarmos? Como devemos interpretar essas coisas e
como sabermos se são confiáveis ou nossa mente esteja exatamente nos pregando
uma peça? Que medida devemos ter com essa experiência? Não é emoção. Não é
pensamento. Não é consciência. É aquela habilidade em sabermos a verdade, o certo
do errado. Temos uma palavra para isso. É na verdade mal usada hoje em dia, mas
é intuição.
INTUIÇÃO
Intuição é conhecimento no coração que sabe
sem pensamento ou emoção. Eis porque alcançamos compreensão sobre coisas. A
intuição está profundamente relacionada com a consciência.
A intuição é um profundo poder. No começo é
muito delicada como um bebê crescendo. Tem de ser tratada como tal, com muito
cuidado, respeito e suavidade de modo a poder se desenvolver e tornar-se em
algo forte. Se estivermos cultivando rosas e outras flores em nosso jardim não
haveremos de querer pular em redor e atingi-las. Temos de ser muito
respeitosos, nutridores e pacientes. O mesmo se dá com a intuição.
Se acercamo-la com esses nutrientes e
respeito ela realmente se transforma em algo muito belo. Excedentemente belo!
Mesmo mágico! Não cresce pela força, mas emerge com a paciência.
Eis para qual finalidade é a pratica da
meditação. Todas as técnicas que qualquer de nós tenha sempre ouvido a fim de
conseguir encaixar-se no caminho são para alcançar essa habilidade.
Observando uma respiração, meditando sobre
chacras, fazendo práticas energéticas, pranayamas, trabalhando yantra ou
visualizando os deuses – todas essas técnicas são práticas preliminares. São
unicamente exercícios de treinamentos. Eles existem a fim de desenvolver nossas
habilidades de modo que possamos em resposta refletir sobre nós próprios e
vermos a verdade de quem somos interiormente e mudarmos: nesse caminho a consciência
pode olhar a mente e vê-la sem interferências de corpo, energia, emoção ou
pensamento.
A consciência está enraizada na alma humana
(Tiphereth). É ali onde experienciamos; é como um impulso em nós. Está
relacionada com a alma humana. É aquilo batendo no coração, aquela consciência
a dizer-nos que algo está errado, que não devemos fazer aquilo e não devemos
ter pensamentos do porquê, pois não seremos capazes de explicar-nos logicamente
e podemos contradizer nossa emoção; porém sabemos o que seja o certo.
A consciência desenvolvida torna-se nossa
conexão com a divindade dentro de nós. Torna-se muito mais do que um exato
batimento, um pequeno pulso do coração. Passa a ser uma torrente de
conhecimentos que emerge a exteriorizar a divindade.
Aquela pequena fagulha que estamos experienciando
como consciência está conectada com os alcances mais elevados da Árvore da
Vida. Acessa o conhecimento (Daath), a inteligência (Binah) a sabedoria
(Chokmah) e a coroa da vida (Kether). Tudo acessado através da consciência.
Não conseguimos ouvir a consciência quando a
mente está hiperativa, identificada com o corpo físico. Eis porque todos esses
aspectos – pensamento, emoção, energia, corpo – necessitam estar passivos,
receptivos de modo que a consciência consiga expressar-se como conhecimento em
nós: real conhecimento. E eis porque necessitamos da meditação. O processo do
aprendizado da meditação não é linear. Não está limitado ao momento em que
estivermos sentados em meditação, ou sentados num colchão de nossa cama. É uma
dinâmica que nos permeia a vida inteira.
Os impulsos que conseguirmos, as percepções
intuitivas obtidas durante a prática da meditação, virão no decorrer do dia e
da noite e não somente na hora em que estejamos sentados em meditação. Essa é a
dinâmica que estabelecemos através das muitas práticas em todas as nossas
atividades. Conseguiremos visões em sonhos. Conseguiremos impulsos enquanto
fazemos nosso prato, estando ao chuveiro ou a caminhar com o cachorro; viremos
senti-los subitamente. Tudo mudará para nós. Sentiremos muito bem isso,
saberemos e compreenderemos embora não consigamos explicar por palavras. Simplesmente
saberemos.
Eis o valor desse estilo de vida. Meditação
não é simplesmente uma hora por dia, dez minutos ou uma hora por semana ou
qualquer coisa no gênero. É um dia completo de vida. Muda tudo o que fazemos e
tudo o que experienciamos. Quando estamos realmente dedicados à meditação, ela
nos revela a vida através de um modo inacreditável, desdobrando-a claramente
diante de nós. Então vemos camadas, camadas e camadas em nós próprios, compreendemos
os traumas, dores e sofrimentos, e os desfazemos nos libertando de todas
aquelas coisas.
Sempre
ao compreendermos um nó de um experienciado sofrimento estamos libertando a
energia daquele local em que ela esteve armadilhada e aquela energia libertada
fará crescer a consciência expandindo-a. Passo a passo, dia a dia aquela
habilidade é expandida, expandida e expandida e nos tornamos capacitados a
entender a expansão, não somente no sentido de entendermos a nós próprios, mas
também entendermos os outros. E não somente estaremos reduzindo nosso ódio,
desenvolvendo mais paciência, mas também desenvolvendo mais amor. É algo
simples, uma bela coisa, uma coisa difícil ao mesmo tempo tranquila.
EXERCÍCIOS
Em todas as palestras passamos-lhes
exercícios. Neste estágio do curso queremos continuar a desenvolver-lhes a
habilidade em observarem-se durante o dia. É
na verdade um sentido e não exatamente uma habilidade. Auto-observância é um
sentido; é um modo de perceber e sentir. É um modo de experienciarmos.
Quando estamos nos observando
isso baseia-se e se encontra enraizado no estarmos aqui e agora: é ativamente auto-observância.
Podemos saber que estamos sentados aqui, mas é outra coisa inteiramente
consciencial sabermos que estamos sentados aqui. Podemos saber que estamos
dirigindo, mas é completamente diferente nos observarmos dirigindo numa ativa
observância.
O que queremos que aconteça naquela
observância é simplesmente a inquisitiva do acompanhamento, porém não
adicionando pensamento ou emoção. Alguém nota que tarde da noite ouve um som pouco
comum dentro da casa, mas no primeiro instante, não sabendo o que seja, não tem aquela
inquisitiva? Somente depois advém-lhe um pensamento: “o que é isso?”. Então a
mente começa a analisar o som e o coloca juntamente com coisas que já foram
experienciadas no passado. Isso acontece muito rápido. A exata primeira coisa
que acontece é a inquisitiva.
Há uma receptividade na mente, mas o
intelecto rapidamente estreita todas as possibilidades para o que já seja
conhecido e diz: “deve ser um gato”, ou “o vizinho” ou “o vento”. Veem como a
mente faz isso? Na meditação precisamos suspender. Pararmos aquilo quando
estivermos meditando. Sermos aquele que está simplesmente olhando e não sabe a
resposta. Não mais deixemos a mente rotular, nomear e comparar com o que seja
experiência anterior, uma vez que passadas experiências são extremamente
limitadas e inteiramente condicionadas pelo sofrimento. Ela não conhece a
realidade. Se quisermos conhecer a realidade temos de estar inclinados a olhar
objetivamente e aceitar que ainda não a conhecemos.
Auto-Observância deve ser a mesma coisa.
Observemo-nos se não sabemos quem somos. Olhemo-nos como: “existe uma coisa
estranha, e eu estou nesta máquina misteriosa que está andando em redor dizendo
e fazendo coisas, e eu não sei quem está no comando. Às vezes tem dessas emoções
e pensamentos emergindo. E palavras saindo dela, e eu não sei o que está fazendo
e quem está rolando esta máquina”.
Eis como o auto-observante alarga-se. Se
estiver dando voltas imaginando que conhece a si próprio e que sabe quem é – e
o que é – então estará estreitando sua faixa de percepção. Abra-a e permita
irem-se todas aquelas noções do “eu sei quem eu sou”, uma vez que não sabe;
nenhum de nós sabe.
A segunda prática é aquela para começar a
trabalhar diariamente nessa retrospecção. Ao longo de todos os dias observar-se
e às noites lembrar-se do que observou, não analisando, não rotulando. Não é
para querer o intelecto a dizer: “eu fiz isso e isso e foi tudo muito lógico”.
Não é assim que se faz a retrospecção. A retrospecção é simplesmente recuperar
as memórias do que aconteceu. Não rótulos, não nomes, não análises. É justamente onde reunir os fatos. É
simplesmente juntar todos os fatos disponíveis.
Finalmente após fazer a retrospecção, tomar
um fato que queira investigar melhor. Meditar naquilo mas não especular sobre o
fato. Não permitir às emoções colori-lo. Não estar distraído. Observar
exatamente como o fato é; ser paciente,
esperar para ver se algo novo emerge. Não se preocupar. Eventualmente algo
virá.
Os exercícios para hoje apesar de descritos
aqui de forma simples, requerem muito do que você já tenha, mesmo que tenha
desenvolvido alguma habilidade. Você necessita ter suficiente concentração,
suficiente relax e suficiente imaginação.
Necessário ser honesto consigo e realmente
reconhecer o nível do desenvolvimento que tenha e o que precisa. Eu não tenho
expectativa de que todos os ouvintes desta palestra serão capazes de fazer
essas práticas diariamente. Eu as estou explanando a fim de que saibam quais
tarefas têm pela frente.
Há uma meta e um objetivo para tudo isso.
Começar de onde estão. Quem tiver a mente completamente indômita que não o
obedecerá e o corpo de modo algum o obedece, deve começar do início e treinar.
Pensamento do dia: “Unicamente pela ausência
do “eu” alguém pode experienciar a
felicidade do Ser. Unicamente
pela ausência do “eu” pode o êxtase ser alcançado”. Samuel Aun Weor: “A
Eliminação da Cauda de Satã”.
POR UM
INSTRUTOR GNÓSTICO
Tradução Inglês / Português: Rayom Ra
Rayom Ra
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