segunda-feira, 29 de abril de 2019

Fundamentos da Meditação (6) - Preparação para a Serenidade

The beginning stages of concentration
  Figura 1
  Todos sabemos como nossa mente pode estar em constante movimento: pensando, cheia de vozes, demandas, questões e  sobre cuja existência parece-nos não determos um controle. Qualquer pessoa que tenha tentado aprender meditação sabe disso como um fato. Nosso instrutor para a meditação nos comanda a nos sentarmos e a esvaziarmos a mente dos pensamentos, mas não conseguimos fazer isso uma vez que os pensamentos continuam acontecendo. Através de toda a nossa vida, isso vem demonstrar uma falta de serenidade pelo não uso da vontade conscientemente dirigida ao controle diário da mente”.

  Os Estágios Iniciais da Concentração

  Tais como pessoas interessadas em meditação queremos também serenidade. Na maioria dos casos, quando as pessoas são atraídas a estudar meditação ou espiritualidade o fato acontece por algum sofrimento que os aflige, de que buscam por alívio. A meditação é uma solução conhecida; é ciência comprovada que muda diretamente nosso sofrimento e nos traz a oportunidade de descobrirmos o que verdadeiramente seja serenidade.

  Serenidade não nos pode ser dada como se fora um presente. Não é algo que recebamos dos deuses, nem o que possa ser comprado. Se tenhamos obtido alguma experiência neste mundo, teremos encontrado pessoas muito pobres ou muito ricas, e teremos atestado por nós próprios que serenidade é algo que lhes seja completamente desconhecida.  Riqueza não resolve seus problemas com o sofrimento ou com o descontentamento, visto podermos perfeitamente encontrar pessoas pobres igualmente infelizes. Podemos também encontrar pessoas ricas ou pobres igualmente contentes. A diferença entre elas não está em suas posses materiais ou em seus status sociais, mas em suas atitudes. A diferença não é material, mas sim psicológica.

   Meditação é realmente significativa na espiritualidade. Serenidade é um Resultado da Ação. Ao usarmos a palavra serenidade a estaremos usando de um modo muito técnico, descrevendo um estado mental bastante específico, um estado do ser. Serenidade é algo que experienciamos e que nele vivemos. Serenidade não está no futuro nem no passado é alguma coisa que somente podemos conhecer no presente. Refere-se àquela mente em estado paz – estável e calma – e não em caos ou submersa em pensamentos, emoções, desejos ou medos.

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  Figura 2
  Esta imagem ilustra nossos cinco centros, também chamados três cérebros. São ferramentas psicológicas, máquinas que estamos usando o tempo todo. Contudo, não somos muito cônscios delas, não prestamos devida atenção a elas.

  A qualidade da energia que passa através dessas máquinas psicológicas é o que determina nossa experiência de vida no momento. Nossa experiência de vida é o resultado de nossas ações psicológicas.

  O estado da energia que flui através do intelecto é o que experienciamos como mente ou pensamento; possui um elenco de qualidades, que, além de tudo, detém ainda uma característica dominante: nosso estado mental fora de controle. É um caos que a nos parece estarmos incapazes ou impossibilitados de controla-lo.

  Todos sabemos como nossa mente pode estar em constante movimento: pensando, cheia de vozes, demandas, questões e  sobre cuja existência parece-nos não determos um controle. Qualquer pessoa que tenha tentado aprender meditação sabe disso como um fato. Nosso instrutor para a meditação nos comanda a nos sentarmos e a esvaziarmos a mente dos pensamentos, mas não conseguimos fazer isso uma vez que os pensamentos continuam acontecendo. Através de toda a nossa vida, isso vem demonstrar uma falta de serenidade pelo não uso da vontade conscientemente dirigida ao controle diário da mente.

  Existe também um estado da mente que podemos chamar de tédio ou laxismo. É um estado em que a mente está obscurecida, opaca e grudenta como melaço ou lama. Ou como algo espesso e impenetrável. Podemos também a isso experienciar em nossa vida diária em tentativas de meditar, quando a mente nos parece exatamente letárgica. Nesse tipo de estado, não podemos realmente pensar com clareza. Normalmente, ao nos sentirmos assim, nos socorremos com um café ou com a cama. Esse estado indulgente é também consequência de nossa atitude psicológica, o modo como usamos a mente a cada instante.

  A excitação extrema, a agitação, o estresse e alta energia opõem-se em outro extremo à opacidade, à obstrução, à obscuridade, à fadiga e à preguiça mental. O mesmo pêndulo que oscila entre extremos oscila também, igualmente, noutros centros. Emocionalmente, a característica dominante é aqui a mesma: nossas emoções estarão naturalmente fora de controle. As emoções continuarão acontecendo e não conseguiremos controla-las do modo como elas nos controlam.

  Oscilamos de um extremo emocional a outro. Conseguimos ficar emocionalmente excitados, atraídos, interessados, aborrecidos, com estresse, ansiedade, medo, excitamento, e luxúria. Isso inclui todas as formas de desejos onde nos tornamos fixados em algo e nosso desejo emocional nos conduz enormemente à compulsão.

  Por que nos absorvemos em shows e musicais de tv? Porque é justamente o que nos provoca aquele estado emocional; desejamos experienciar aquele estado emocional em lugar de outros. Por que nos absorvemos no facebook ou escrevendo textos? Porque queremos constantemente deter a “emoção” de nos sentirmos o quanto somos amados, incluídos, valorizados, queridos. Não aquilatamos como essas emoções são ilusórias. Cada um de nós tem vícios emocionais e hábitos emocionais e não parece termos o menor controle sobre eles.

  O pior é que nossas emoções – tão caóticas ou tão fora de controle que possam estar, ou tão frias e sem vida que as possamos sentir em nosso coração – não correspondem à realidade. O que sentimos emocionalmente é subjetivo. Como de fato sabermos disso? Observando-nos. Quando acontece uma tragédia observemos a frieza de coração que temos. Quando algo maravilhoso acontece a alguém observemos a frieza de coração que temos ou a raiva ou inveja que sentimos. Podemos ir a uma festa onde todos estejam felizes, mas nós estejamos depressivos e nos sentindo miseráveis. Até podemos não saber porquê. Sentimo-nos unicamente mal. Ao prestarmos atenção a nós veremos que é muito comum aquele nosso estado interior não combinar com as circunstâncias exteriores.

  No terceiro cérebro, nesses três centros: o motor, os centros instintual e o sexual, acontecem coisas muito mais rápidas e muito mais difíceis de termos consciência por serem bastante sutis e estarem em profundo interior da psique. Contudo, encontramos esse mesmo pêndulo fundamental entre o excitamento e o laxismo, entre a agitação e a letargia.

  O ponto fundamental é que tudo daquele caos que experienciamos psicologicamente, que pensamos seja vida normal, não é normal. Na verdade, não é vida. É reação. É estarmos numa gaiola, uma gaiola psicológica, sobre a qual não detemos controle. Em outras palavras: coisas acontecem e dentro de nós as reações estão constantemente em ebulição naqueles centros. Tudo o que fazemos o tempo inteiro é tentar conte-las, mesmo que seja escapando delas, mascarando-as ou as escondendo.

  E a vida continua, trazendo-nos coisas dolorosas e coisas difíceis. Temos ansiedades, estresses e incertezas. Temos objetivos que não podemos alcança-los. Temos problemas que não conseguimos resolvê-los. Coisas que estão constantemente acontecendo e nunca cessam. E no dia a dia pisamos em água; lutamos para não afundarmos de todo. Em nosso íntimo ardem todos os tipos de reações sempre que não podemos manobra-las. Não sabemos como faze-lo, e assim corpo, coração e mente sofrem.

  Existe um extremo estado de agitação que vem se tornando cada vez mais agudo, que piora dia a dia. Eis porque vemos pessoas buscando por alívio das dores, das incertezas e dificuldades da vida, e não ficando somente nisso tornam suas vidas ainda piores: viciam-se com álcool, cigarros, drogas, sexo, dinheiro, poder, tv, shopping, etc. Consomem comidas em demasia; buscam a todos os tipos de sensações. São indulgentes com elas próprias nas sensações, em tentativas de ludibriarem o que trazem em mentes, corações e corpos. Eis porque a sociedade está se destruindo. Não está equipada com conhecimento específico  para transformar agora, neste momento, o seu estado de ser a fim de, verdadeira e completamente, experienciar a serenidade.

  Serenidade é simplesmente um estado psicológico acontecido quando a mente não está agitada. Observemos um lago: quando não há vento o lago se encontra perfeitamente tranquilo. Com nossa mente se dá o mesmo. O vento são pensamentos, emoções, desejos, preocupações, medos, etc. Quando aprendermos a parar de nos atarmos completamente a todos eles, a mente ficará perfeitamente silenciosa, serena, quieta mesmo que as circunstâncias externas não estejam serenas.

  Estudamos religião e vemos que profetas e santos souberam como manobrar com essas coisas. Em meio aos inacreditáveis julgamentos a que foram submetidos eles mantiveram amor, compaixão, paciência, tolerância e grande e diligente trabalho em benefício de outros, apesar de terem sido torturados, perseguidos, ridicularizados e alvos de intrigas. Nenhum desses sofrimentos os afetou. Mesmo estando a ficar empobrecidos, famintos, no deserto, ainda assim endereçaram uma atitude amorosa aos seus perseguidores. Essa é uma espiritualidade real: a de deter a habilidade em permanecer sereno não importando as circunstâncias.

  Serenidade não é um fator externo; não é um presente dos deuses; não é algo enganoso, não pode ser enganosa. É realidade. É o estado natural do Ser. É imodificável e incondicionada. Serenidade é o que está dentro de nós; já está lá, todos a temos em nosso íntimo.

  O processo do aprendizado da meditação é chegarmos a transformar nossas respostas em estímulos internos e externos, passando a perceber ambos num caminho real e não a darmos respostas mecânicas e automáticas devido à raiva, medo, luxúria, ambição, inveja, gula ou a quaisquer outras qualidades negativas. Mas sim nos ligarmos ao verdadeiro e real estado natural do nosso ser interior, que é serenidade, amor, altruísmo, paciência, diligência – aqueles tipos de qualidades positivas que todos possuímos intimamente.

  O que estamos destacando é uma fundamental diferença na atitude. A maioria das pessoas que busca a meditação, deseja uma pomada que lhe anestesie o sofrimento. Quer que lhe seja dada uma solução rápida: “façam essa prática, tomem esse remédio, comprem aquele aparelho, vão ao shopping, gastem milhares de dólares e darei a vocês a chave da felicidade”.

  É isso que dizem e as pessoas acreditam. São todas mentiras; é tudo mentira. A realidade é que a serenidade já está dentro de nós. É um estado natural de nossa consciência. Tudo o que temos a realizar é transformar o modelo de cada um de nossos momentos quando fazemos coisas. É uma mudança de atitude. Ao invés de perseguirmos a serenidade procuremos pelas coisas que a vedam e estaremos estabelecendo respostas. Essa simples ação permite à serenidade emergir dela mesma; a conduz a retornar ao seu estado natural. É bastante simples, mas exige trabalho. É algo simples, mas não fácil.

  O que isso requer é ficarmos preparados para estarmos presentes a cada momento, permanecermos cônscios de partes de nós, daqueles cinco centros, deles vigilantes e conscientemente nos seus comandos. Nessa linha, quando alguém vier com fofocas e ouvirmos: “Oh, essa pessoa anda dizendo essas coisas sobre você...” Ao invés de nos permitirmos ficar fulos de raiva, com medo ou de orgulho ferido, que tomemos o controle de nosssa mente, coração e corpo e não nos liguemos àquele fato. E reflitamos considerando intimamente: “quem se importa com o que ela pensa, suas palavras não significam nada a menos que alguém as dê algum valor. Eu não dou o menor valor, então nada me significam. Por que eu deveria perturbar a minha paz mental? Além do mais se ela disse tais coisas talvez eu tenha feito algo errado; talvez eu esteja em falta e tenha magoado essa pessoa”.

  Desse modo, ao invés de ficarmos com ódio, fiquemos benevolentes, compreendamos e permaneçamos em paz. É uma mudança de atitude, uma mudança de como transformar impactos e sabermos utilizar em nós aqueles centros. Se formos capazes disso seremos capazes de aprender a meditar.

  Como Cultivar a Serenidade

  Em palestras anteriores vimos estudando este gráfico. Esta é uma imagem do budismo tibetano. Ilustra as etapas fundamentais a que cada praticante vai percorrendo na intenção de alcançar a serenidade. De novo, não é algo teórico nem questionável. É um estado de consciência que qualquer pessoa pode experienciar se produzir as causas conducentes àquele resultado.

  Figura 3
  (Obtenha um poster desta imagem)
shamatha lg
 
  Essa tradição expõe a existência de dois modos fundamentais para nos prepararmos a alcançar a serenidade, logo começando através deles. São bastante simples.

  Preparação
  Prática

  Já antes explicávamos que a sabedoria de que necessitamos a fim de entendermos a vida e nossos problemas é alcançada através de um processo com três etapas:

  Ética (Sila)
  Êxtase, Serenidade (Samadhi)
  Sabedoria (Prajna)
   
  A terceira etapa é a própria sabedoria que em sânscrito é chamada prajna, significando conhecimento profundo. A etapa anterior é chamada samadhi, significando êxtase. Refere-se ao estado do ser quando nossa consciência não está mais condicionada com nenhuma outra coisa. Significa que nossa consciência não se encontra condicionada pelo corpo, por qualquer dos sentidos nem por qualquer defeito egoísta ou psicológico, como orgulho, ódio ou sensualidade. Quando nossa consciência estiver libertada de tudo isso experienciamos o que é chamado samadhi ou êxtase. É uma experiência de pura libertação. Mesmo que permaneça somente por um momento é experiência inesquecível porque vemos, experienciamos e saberemos que nossa real natureza é serena.

  A fim de alcançarmos o samadhi necessitamos do primeiro dos três estágios, chamado sila, significando ética. Começamos com ética e através dela estabilizaremos nossas experiências psicológicas de tal modo que a consciência possa experienciar a serenidade. Partindo da serenidade acessamos a sabedoria. Isso é o significado de tudo: o que é simples. Alcançando a serenidade temos a chave para chegarmos à sabedoria. Para alcançarmos a serenidade a chave é a ética. Se assim não iniciarmos com base na ética, então nunca aprenderemos a meditar.

  Se estivermos estudando e praticando meditação e falhando em realmente experienciarmos mudanças e avanços em nossas práticas, então não teremos o correto conhecimento. Por outro lado, possuindo o correto conhecimento e produzindo o dharma pelo serviço ao próximo, haverá somente uma coisa a mais que pode impedir-nos de experienciarmos a realidade da meditação, e essa coisa é nossa ética. Se não estivermos experienciando samadhi e prajna em nossa meditação aquilo será o porquê das razões. Precisaremos reexaminar nossas práticas questionando-nos para entendermos: o que nos estará bloqueando? É esse o nosso foco fundamental. Não estaremos buscando a experiência, mas nos focando naquilo que a estará obstruindo. Na vasta quantidade do tempo, o que obstrui nosso acesso à experiência espiritual reside no estado de nossa psique, ou seja: em alguma brecha ou ponto cego na ética ou mesmo em algo que estejamos fazendo de bom grado que não deveríamos fazer.

  1. Preparação Para Serenidade Meditativa

  Isso é mais especificamente diagramar sobre o primeiro aspecto para a serenidade da meditação, que é em suma a própria preparação. Essa é tradicionalmente descrita como possuindo seis aspectos.

  Moradia Apropriada
 
shamatha monk
  Figura 4
 
  Primeiro é ter um lugar para morar que adapte nossa motivação e nossa vida espiritual. Isso é representado no gráfico. Bem abaixo, à direita, vemos esse templo e o monge – o renunciante – que inicia o caminho. Então, o início do caminho para se alcançar o estado de meditação depende de um lugar que seja ajustável a isso. Muitas pessoas leem daquela  “moradia apropriada” e unicamente interpretam-na segundo as antigas tradições, em que um postulante tinha que viver numa caverna ou ir para um monastério no deserto, ficando isolado da sociedade. Essa condição, entretanto, prendia-se unicamente às circunstâncias externas. Pois a razão que detinha de abandonar a sociedade devia-se a isolar-se de todas as suas ligações: família, amigos, amor, interesses, álcool, intoxicantes, apelos do desejo, coisas em seguir comprando e vendendo, enfim todas as coisas que são partes da sociedade que mantêm a mente em agitação.

  É o que está implícito em “moradia apropriada” em seu mais fundamental nível, portanto no seu real significado: moradia apropriada significa precisarmos tomar medidas a fim de implementar nosso meio ambiente. Por exemplo: manter a casa bem limpa tem um grande impacto em nosso bem estar espiritual, produzindo bom efeito psicológico. Mantenhamos também a nós próprios limpos. Tendo no lar um espaço onde seja possível praticar isso pode realmente ajudar, mesmo em sendo um canto, uma dependência. Conheço pessoas que transformam o toilete em sala de meditação. Se conseguirmos cultivar um ambiente para trazer serenidade é o melhor de tudo. Se em nossa casa tenhamos a tv ou rádio sempre ligados, pessoas fumando, usando drogas e dormindo em qualquer canto ou vivermos em dormitórios coletivos, para o objetivo de moradia apropriada nos será muito difícil. Essa dificuldade com pessoas em dormitórios coletivos ou em prédios de apartamentos cercados por intensas influências psicológicas bastante negativas, são completamente contraditórias para chegarmos à serenidade. O esforço, o trabalho a ser empreendido para superar tudo aquilo é por demais significativo. Uma pessoa nessas circunstâncias pode necessitar de algum lugar em que possa ir para uma pausa, para ter paz, como, por exemplo, próximo a uma igreja, um templo, uma floresta, um lago; algum lugar onde possa ir e sentir-se isolada de tudo aquilo, pelo menos enquanto tente meditar.

  Moradia apropriada refere-se às coisas identificadas em nosso ambiente a fim de que possamos mudar para nos defendermos, nos protegermos e nos ampararmos em nossos esforços de meditar. Principalmente, sobre estarmos a salvos e seguros.

  Não fazer da “moradia apropriada” o nosso problema principal. Também nos é necessário aprender a aceitar as dificuldades que não conseguimos modificar e fazermos da maneira que der àquilo de que necessitamos. Temos observado pessoas que bem conseguem meditar perfeitamente, mesmo que haja uma britadeira perfurando pedras a pouca distância dali. Há pessoas que conseguem meditar serenamente em meio a grandes ruídos de multidões, ou estando cercadas por gritos de crianças, carros buzinando, cães latindo, ou em hospitais junto aos sofrimentos, etc. Essas pessoas não são “agraciadas” ou “abençoadas”; elas simplesmente mudaram suas atitudes e não mais se ligam mecanicamente às impressões. Notemos que isso está adstrito a atitude, aceitação e ao controle em como responder às coisas.

  2. Ter Pouco Desejo

  O segundo aspecto é termos pouco desejo; não ficando distraídos por todas as coisas que nos querem nelas prestando atenção, como os anúncios, os novos produtos chegando, às mudanças da moda e tudo o que nossos amigos estão fazendo ou o que eles possuam. Vermos nossos amigos saindo em viagens, indo esquiar, surfar, indo aqui e ali, tendo um belo carro, um ótimo emprego e não desejarmos todas aquelas coisas. Nunca questionarmos aqueles desejos.

  Esses aspectos nos convidam a questionar: por que queremos isso e aquilo? Por que estou me interessando por essas insignificâncias o tempo inteiro? Por que estou me permitindo que todos esses desejos por circunstâncias ou de posses tragam-me descontentamentos e agitações psicológicas? Temos tantos desejos que nos influenciam o tempo inteiro e a maioria deles é devida à inveja. Vemos pessoas na tv e nas lojas parecendo ter de tudo. Os anunciantes estão certos de que ao nos mostrar esses produtos ficaremos felizes como aquelas pessoas nos comerciais [ridículos]. Somos influenciados por aquelas coisas. Pensamos necessitar nos vestirmos de certa maneira. Acreditamos necessitar de certas posses, em termos um certo estilo de vida para sermos felizes. São todas mentiras, todas elas. Precisamos estar cônscios disso, de nos tornarmos cognizantes dos tipos de influência que nos afetam o tempo inteiro; que estão na verdade sugando a vida de todos. Por que precisarmos sair a comprar a todos esses produtos? Por que irmos tanto às compras, buscando realmente por coisas insignificantes? Gastamos muito de nossas vidas em bobagens. Nunca paramos a fim de realmente determos o controle disso. Então, termos pouco desejo refere-se a essas coisas.

  3. Estar Contente

  Quando aprendermos a estar contentes com o que tivermos, a reconhecermos que o que temos é muito especial, a ficarmos contentes vendo vantagens naquilo, a serenidade emergirá rapidamente. Estar contente é estar sereno. É estar de bem com o que se tem e como se é.

  Porém, isso é ligeiramente dúbio, uma vez que, obviamente, se estivermos interessados na espiritualidade vamos querer mudar. Reconhecemos que há coisas que podem se tornar melhores. Se estivermos sofrendo necessitaremos encontrar maneiras de modificar as coisas e mudarmos. Desse modo, isso não significa estarmos complacentes com nossos defeitos, vícios e erros. Significa isto sim estarmos contentes com coisas materiais, com nossas circunstâncias, e não lutarmos em demasia contra a realidade.

  Antes de entrarmos na espiritualidade pensávamos sempre: “Preciso de um emprego melhor, uma esposa melhor, um carro melhor, uma casa melhor, mais roupas, mais dinheiro no banco”. Há sempre esse tipo de descontentamento alimentado pela inveja em adquirir tantas coisas que não possuímos. Tendo entrado na espiritualidade mantemos essa mesma atitude, mas direcionada para coisas espirituais: “Não tenho as iniciações que preciso. Não tenho a esposa que preciso. Não tenho acesso aos professores que preciso. Não tenho tempo para meditar. Não tenho isso e aquilo”. É uma longa lista de coisas que pensamos que se as tivéssemos estaríamos contentes. As pessoas estão sempre procurando lá fora pelas compensações a fim de preencher o dolorido vácuo espiritual em seus corações. Contudo, essas coisas não as satisfazem para essa finalidade, pois nenhuma posse ou circunstâncias nos trará a serenidade. A serenidade emerge de dentro e não tem nada a ver com circunstâncias externas.

  Um caminho para transformar esse aspecto de nossa psicologia está em quando sentirmos essa urgência, esse estímulo – “preciso disso, preciso daquilo! Ai de mim! Minha situação é terrível. Não tenho aquelas coisas que deveria ter. Tenho agora trinta e cinco anos, ou quarenta, e não tenho crianças. Não consegui minha educação e não tenho o dinheiro que precisava ter” – é olharmos a nossa volta. É uma coisa fácil de a isso transformar. É simplesmente observarmos aos fatos da vida das pessoas. Todas essas coisas que dizemos a nós próprios são lixo. Então é vermos essas pessoas sofrendo bem mais que nós próprios. É abrimos os olhos para a realidade. A vida não está para satisfazer os nossos  desejos. Nossa cultura nos diz sobre o que está por aí, mas essa cultura é vazia, nada tem a oferecer. Ela somente existe para dar possibilidades a outras pessoas de ficarem ricos. Nossa cultura não nos oferece nada de espiritual e nada subsiste; é como vapor, ilusão.

  Se quisermos algo real, que nos seja duradouro, então abandonemos os desejos e nos tornemos presentes aqui e agora; tornemo-nos contentes com o que temos e nos centremos em obter plenas vantagens disso. Quando nos sentirmos descontentes olhemos para os que têm menos. Sempre haverá alguém a sofrer mais que nós próprios, possuindo bem menos. Especialmente nós, no ocidente, não temos real conceito sobre o sofrimento, ainda que pensemos que sofremos muito. Estamos nos atoleimando.

  4. Abandonar Tarefas Inúteis

  Por que gastamos tanta energia e tempo sem sentido algum? Se entendêssemos da fragilidade da vida, da impermanência do corpo, então não nos engajaríamos em atividades inúteis. Conscientizemo-nos, pois, da possibilidade em acessar algo que seja real, que esteja além do corpo. Abandonar atividades inúteis é um passo fácil de dar. A realidade é que todos nós morreremos e não sabemos quando. Quando verdadeiramente nos dermos conta do fato trazendo-o à nossa real conscientização – compreendendo-o de todo – gastarmos qualquer momento numa coisa estúpida nos será impensável.

  Fazer-nos o possível cognizantes sobre a inevitabilidade de nossa morte e sabedores de nosso estado do ser naquele momento, determinam o que acontecerá após a nossa morte. Se estivermos com o nosso ser nesse seu estado corrente atual, no momento da morte de nosso corpo físico, nos acontecerá exatamente o que acontece quando caímos no sono a noite. Ao acordamos pela manhã lembramo-nos do que aconteceu por toda a madrugada? Não acordamos a manhã seguinte somente com algumas vagas memórias? É isso o que nos acontece quando morremos. Acordamos em algum novo corpo em qualquer outro lugar.

  Não nos lembraremos de nada, nem mesmo quem fomos. Nasceremos novamente e dependendo de nosso carma, de nossas ações, teremos o que merecermos, do que obtivemos. Enquanto lá, iremos chorar, uma alma de choro convulsivo, porque não saberemos quem somos nem onde estamos e não reconheceremos nada exceto frio, medo, incerteza e o sofrimento de uma pessoa alta de branco nos dando palmadas.

  Se quisermos ter controle desse processo de morte e renascimento, e estarmos cônscios disso, temos de mudar agora, hoje, o nível de nosso ser de modo que ao cairmos no sono a noite, saibamos o que nos está acontecendo por todo o tempo de sono, estando cônscios disso, e quando voltarmos ao nosso corpo pela manhã, saibamos quem somos, por onde estivemos e nunca perdermos a consciência durante o sono noturno.

  Isso não é teoria nem é crença. Está acontecendo com as pessoas que praticam esses ensinamentos. Aqueles que praticam diariamente, deitam-se para dormir, mas não caem no sono. O corpo dorme, mas a consciência não dorme. Usam aquele tempo enquanto o corpo esteja dormindo a fim de continuarem a trabalhar a si próprios, transformando-se não no mundo físico, mas no mundo dos sonhos.

  Na Árvore da Vida o nível mais baixo é Malkuth, o mundo físico. Sobre ele é Sim a quarta dimensão (Eden), e então segue-se a quinta dimensão, o mundo dos sonhos, Hod e Netzach. Qualquer religião que estudemos diz-nos sobre estarmos acordados no mundo dos sonhos, ali falando com os deuses, na quinta dimensão, seja no cristianismo, no judaísmo, no budismo, no hinduísmo. As pessoas de hoje pensam que isso é uma piada. Não é não, é real.

  Abandonarmos atividades inúteis significa que ao invés de perdermos tempo fazendo compras, absorvendo-nos no facebook por horas em nosso aparelho, paremos de fazer coisas estúpidas como aquelas. Voltemos nossa energia e atenção às coisas que sejam frutuosas, que realmente tragam benefícios e significados não unicamente a nós, mas também aos outros. Pessoas às vezes reclamam: “não sei o que fazer para ajudar outras pessoas. Não sei o que fazer para avançar na minha vida espiritual”. É somente ver como gastam o seu tempo, e mudar isso.

  Cada pessoa vivente tem muitas coisas a oferecer em ajuda aos outros, sem qualquer exceção. Temos estudantes; e um em particular está vindo a minha mente. Esse estudante é um homem bem jovem que está mentalmente desorganizado. Não é fácil lidar com ele. É muito imprevisível. Ele é alto, musculoso, enorme e de muita energia. É intimidador, mas tem enorme compaixão. Apesar de sua condição mental ele investe seu tempo e energia não como um “batata de sofá” a assistir tv ou a jogar vídeo games, mas servindo e ajudando os outros. Portanto, se ele com sua condição e limitações pode fazer isso, eu sei que todos podem também faze-lo. Não temos desculpas.

  Então, ao invés de perdermos tempo com coisas inúteis, mas investirmos nosso tempo e energia em ações frutuosas que beneficiem os outros, receberemos benefícios. Portanto, ao invés de passarmos o tempo com coisas egoístas, desperdiçando esse tempo, ajudemos os outros e em troca recebamos ajuda.

  5. Pura Disciplina Ética

  A quinta é a pura disciplina ética. Significa sermos muito verdadeiros para nossa consciência. Significa nunca mentir não importando o custo. Nunca mentir! Nunca roubar! Nunca matar! Entendemos agora que os grandes professores e grandes mestres nos explicaram que todas as éticas que aprendemos, como os Dez Mandamentos e o Vinaya, deram-nos todas as diferentes descrições de como nos comportar. Não podemos de nenhum modo tomar isso como um advogado a procurar por brechas. Temos de viver o espírito da ética.

  Há pessoas que cresceram na cristandade e pensam assim: “Bem, Deus disse que não devíamos fornicar nem cometer adultério. Mas estamos numa era moderna, todos estão fazendo isso, então Deus me perdoará mais tarde. Tudo o que eu tenho a fazer é dizer que aceito Jesus e pedir que me perdoe e Deus dirá Okay e me conduzirá ao Paraíso”.

  A Bíblia não diz assim. Nem as escrituras do induismo, budismo e judaísmo. Nenhuma diz isso. Jesus nunca disse isso. O que as escrituras dizem é que nenhum adúltero, nenhum assassino, nenhum mentiroso, nenhum ladrão irá para o paraíso. Todos nós temos aqueles elementos conosco: “bem, eu não matei ninguém, não cometi adultério”. Mas compreendendo o que os ensinamentos dizem, o que Jesus ele mesmo disse, que qualquer um que olhar para uma mulher com luxúria já cometeu adultério com ela em sua psique, em seu coração, em sua mente, isso vem significar que todos somos adúlteros, assassinos e ladrões, por que cometemos esses crimes psicologicamente. Permitimo-nos fazer isso diariamente.

  Ter pura disciplina ética significa trabalhar contra isso. Não importa se alguém mais concordar que estaremos indo contra a totalidade do mundo. O que importa é nossa íntima relação com a divindade. Lembro-me agora de umas belas palavras ditas por Joana D’Arc: “Prefiro morrer a fazer alguma coisa que eu saiba ser errada”.

  Isso mostra o quanto ela estava envolvida com a ética correta, com a disciplina ética. Ela viveu com isso e transformou a Europa com essa atitude. Nós próprios necessitamos adotar esse tipo de atitude para descobrirmos a verdadeira ética. É algo conhecido através de nossa consciência.

  Há coisas que devemos estudar para nos auxiliar. Todos temos nossas escrituras, a Bíblia, os Sutras, os Tantras, o Gita, o Mahabharata e o Vinaya. Temos muitas escrituras de muitas tradições que explicam o espírito da tradição ética – a ética que necessitamos para libertar a consciência do sofrimento. Precisamos exatamente fazer isso.  A maioria das especificidades sobre disciplina ética são claramente óbvias. São baseadas em alertas que todos conhecemos, tal como: faze aos outros o que queres que te façam. Em outras palavras: tenha compaixão, seja bondoso, seja paciente e tenha amor.

  Há uma instrução em disciplina ética que pessoas modernas negligenciam ou evitam, e em alguns casos nada sabem dela. É a instrução que todo monge, freira, padre ou iogue recebe, que é estar num estado de Brahmacharya ou pureza sexual. Essa instrução é extremamente significativa. Modernos estudantes de meditação negligenciam esse alerta e acham que se aplica unicamente a monges, freiras e padres. Na verdade se trata da real fundação que estabiliza a consciência. Nosso uso da energia sexual tem um tremendo impacto em nossa psique. Brahmacharya ou castidade sexual não se refere à repressão ou evitação da sexualidade. Contrariamente, refere-se a um uso saudável da energia sexual: um uso da energia que abandona o desejo, que é aproveitada para intenções espirituais. A fim de tornar isso mais fácil, o estudante recebe instruções para exercícios em que a energia pode ser reaproveitada e transformada com o objetivo de nutrir a livre consciência, em troca de alimentar a sensualidade, o orgulho, a inveja, a ganância, a gula e todas as demais tendências a que nossa energia sexual se inclina em alimentar quando não está sob o controle da disciplina espiritual.

  A energia sexual é criativa, mas também é destrutiva. A pessoa bastante responsável sobre o desenvolvimento de sua consciência e auto libertação do sofrimento, virá utilizar o poder sexual para aquela libertação. Significa estar envolta pela disciplina ética ao uso da sexualidade. Em síntese, a disciplina ética da sexualidade conduz a retornar aquela energia para dentro de si próprio na intenção do desenvolvimento espiritual a fim de se libertar de sua submissão ao desejo animal à luxúria, fazendo algo puro, humano, algo que suporte o desenvolvimento e crescimento da consciência libertada.

  6. Estancar Pensamentos de Desejos

  O sexto pré requisito é estancar pensamentos de desejos ou pensamentos que são manobrados pelos desejos. Quando de fato observamos e honestamente prestamos atenção aos nossos pensamentos, emoções e aos impulsos que se movem o tempo inteiro através de nossa psique, descobriremos que eles são fortemente endereçados a todos os tipos de atrações pelos desejos de sensações. Em síntese, pensamentos, emoções e impulsos no corpo estão, na maior parte do tempo, enraizados nos desejos. Então, para este sexto pré requisito estancar os pensamentos de desejos é necessário transformar aquilo.

  Ao invés de sermos escravos de nossos pensamentos e sermos sempre pegos em seu constante fluxo, aprendemos a ter o controle  de nossa experiência psicológica e a observar o conteúdo dos pensamentos e emoções a fim de nos tornarmos cônscios deles. Começamos a questionar: de onde provêm esses pensamentos? Quem está realmente pensando? Sobre o quê, em verdade, são esses sentimentos? Há um desejo que esteja estimulando esse pensamento ou essa emoção ou esse impulso a agir? O que realmente esse desejo quer? É compatível com minhas aspirações espirituais ou é contraditório?

  Se formos honestos conosco, atestaremos que a maioria dos pensamentos, sentimentos e impulsos que experienciamos incide na gratificação dos desejos; a atração corre em direção às sensações e circunstâncias. É extremamente raro eles terem algo a ver com valores espirituais. Um modo de trabalhar esse estado de condicionamento psicológico de que somos possuidores é inverter nossa visão sobre esse ponto. Quando nos pegarmos a pensar, sentir e a seguir os impulsos mecânicos e animais, enraizados nos desejos, devemos então refletir sobre a impermanência, a inevitabilidade da morte, e sobre causa e efeito.

  Ao nos sentirmos atraídos a adquirir algo; a termos uma experiência ou estarmos atraídos por uma pessoa e não conseguirmos deixar de pensar sobre isso, precisamos refletir da natureza dessa atração. O que isso significa? O que há no interior disso? Por que somos uma vítima disso? Por que isso nos está direcionando?  Mesmo que consigamos a coisa que desejávamos não a teremos por muito tempo. Sofremos agora por não tê-la. Após a termos, sofreremos pelo medo de perdê-la e eventual e inevitavelmente a perderemos. Então, quando a perdermos, sofreremos. Por que então entrar nesse inteiro processo? Por que entrar no processo em sendo uma vítima do desejo e uma vítima do sofrimento? Por que, exatamente, não renunciar àquele desejo agora e evitar a todo o anunciado sofrimento?

  Deste modo, podemos transformar essa tendência de pensar constantemente em tudo que desejarmos, de estarmos jogando emoções e impulsos sobre as coisas a fim de obtermos e experienciarmos delas. Obviamente que para realizarmos isso temos de ser autoconscientes, auto-observantes. Precisamos estar observando nossa mente, intelecto, sentimentos, coração e corpo. Precisamos estar vigilantes e despertos. Nesse processo da plena consciência e vigilância estaremos desenvolvendo a concentração e a serenidade meditativa. Nisso desenvolvemos também nossas habilidades para a meditação e para reconhecermos a diferença entre nós e nossos pensamentos.

  O ponto essencial para todos esses pré requisitos é o modificar de nossos comportamentos de tal maneira que não mais tenhamos nossa psique interrompida. Ao invés de nos causarmos maiores distúrbios psicológicos temos de modificar nossos comportamentos, ações, pensamentos, sentimentos e o modo de usarmos nosso corpo, conduzindo-nos através da serenidade e tranquilidade. Isso é possível alcançarmos pelo abandono de nossos maus comportamentos, dos maus modos de pensar, das emoções nocivas e das ações perversas do corpo. A mente se estabiliza naturalmente e a psique mergulha num estado igualmente natural de calma.

  A razão de nossa mente estar perturbada e instável prende-se a não conseguir concentrar nem relaxar devido aos nossos comportamentos. Ao nos aplicarmos a esses dois pré requisitos eles convergem aos nossos comportamentos (físicos e psicológicos) e a serenidade vem tornar-se o natural destaque. Isso é simples causa e efeito.

  Permitam-nos enfatizar novamente que a base de toda essa mudança é energética. É a energia que nutre nossas ações. A energia mais poderosa que possuímos é a sexual. Podemos realizar todas as mudanças éticas, meditar diariamente por horas, mas se não estivermos trabalhando com a energia sexual de um modo correto, nunca aprenderemos da verdadeira serenidade. A energia sexual detém o maior poder de perturbar a mente, o coração e o corpo. Inversamente, é também o maior poder para criar a serenidade na mente, no coração e corpo. Então, se realmente desejarmos aprender a meditar, sejamos sérios no sentido de também transformarmos nossa vida sexual.

  Tudo isso será somente o primeiro aspecto da preparação para a serenidade. Se observarmos esses passos e praticá-los veremos que eles significam a troca das coisas que nos dão descontentamento, que nos vem causando dor, ansiedade, raiva, inveja, orgulho, sensualidade e todas as demais qualidades que são opostas à serenidade.

  Se quisermos serenidade na meditação, se quisermos adentrar esse caminho e estabilizar a nossa psique de modo a podermos refletir a realidade e adquirirmos sabedoria, então necessitamos parar de nos comportarmos de maneira contraditória. Observemos, reconheçamos os comportamentos com que nos desempenhamos, que nos causam a não serenidade, e então mudemos. Somos invejosos? Estamos descontentes, ansiosos, estressados, luxuriosos, raivosos? Transformemos tudo isso.

  A maioria de nós pensa assim: “ficarei contente se conseguir me mudar, se puder sair de minha cidade, meu local, meu apartamento; se puder encontrar uma namorada ou namorado, se conseguir melhor emprego”. Todos achamos que coisas exteriores nos trarão contentamento. Não trarão. Todas as circunstâncias exteriores nos criarão exatamente o mesmo problema. Nosso descontentamento não é causado pelas coisas exteriores, mas por nossa psique.

  Em resumo: esses seis passos estão encadeados para conduzir-nos a uma nova atitude; ensinar-nos a nos transformar; a encontrarmos contentamento para o momento; a sermos cônscios de nós próprios; a estarmos relaxados não permitindo aos desejos e ao descontentamento estarem ao comando de nossa experiência psicológica; para termos nossa força de vontade focada no momento: aberta, não desejosa, não alheia, percebendo a realidade, observando os fatos, vendo as coisas como são e manobrando com elas. É tudo muito prático: pés no chão e não estarmos com a cabeça nas nuvens, não sonharmos sobre o nirvana ou paraíso, não enfatizarmos sermos uma pessoa espiritualizada; é estarmos no momento, vivendo com plena atenção, com a consciência integrada ao completo poder de nossa habilidade em perceber, recebendo aquela informação e a transformando. Falamos sobre algo que é muito energético, muito consciente. Se pudermos começar esse processo então estaremos realizando o que é chamada auto-observância.

  Auto-Observância

  Auto-Observância é a continuidade da nossa própria conscientização de momento a momento. Não é a simples e casual conscientização, mas uma ativa observância. Diz sobre estarmos olhando os fatos, relaxando e continuamente observando.

  Relaxar não é o elemento chave. Podemos observar que quando nossa habitação ou lar é um lugar de caos estamos sempre irritados e incomodados. Isso nos deixa estressados e não conseguimos relaxar. Quando não estejamos contentes; cheios de tantas coisas de atividades, ficamos estressados e não relaxados. Não detemos boa ética. Mentimos, fornicamos, cometemos adultério, trapaceamos, não estamos sendo honestos, ficamos ansiosos. E tantas outras coisas mais! Que dizer das eleições; do presidente? Sobre a guerra?

  Todas essas informações fluindo sobre nós o tempo todo nos fazem muito tensos, estressados e caóticos. Acontecem por que não as estamos transformando. Essa é a escolha que devemos fazer. Ao mudarmos nossa atitude mudamos também as coisas que podemos mudar em nosso meio ambiente. Talvez haja algumas coisas que possamos melhorar em nosso lar: sejam nossos comportamentos, atitudes ou atividades em que estejamos envolvidos. Talvez possamos diminuir coisas de que não necessitamos estar fazendo. Porém, principalmente, necessitamos aprender a mudar nossa experiência de cada momento. Necessitamos estar presentes a observar fatos e relaxar.

  Esse relax é para o corpo inteiro o tempo todo; a qualquer momento que possamos nos lembrar. O que estejamos a fazer – no trabalho, dirigindo o carro, em casa, lavando pratos, lavando a roupa – tornemo-nos cônscios a nós próprios. “Por que estou tenso? Estou somente lavando a roupa! Por que minha mente dispara quando estou somente lavando roupas?”. Relaxemos e estejamos totalmente presentes. Não há necessidade de pensarmos sobre o amanhã ou o ontem. Vejamos o que estamos a fazer e unicamente façamos aquilo. Descartemo-nos de tudo mais. Respiremos, relaxemos e observemos. Mantenhamos essa continuidade, ação após ação.

  Quando estivermos no trabalho tratando com nosso empregador, e com pessoas a quem servimos, precisamos aplicar o mesmo princípio. Notemos que em meio a uma conversação ficamos muito tensos, começando a agir de diferentes modos a fim de impressionar as pessoas, a agradar-lhes para influencia-las nas suas atitudes conosco. Por que fazemos isso? Por que não ficarmos relaxados e sermos nós mesmos? Por que não sermos honestos? Por que não ficarmos contentes e não nos ligarmos ao fato de gostarem ou não de nós, se nos elogiam ou nos censuram? Ao sermos honestos conosco podemos ser fortes naquilo, ao invés de ficarmos passivos, decepcionados, não agindo como somos de fato. Se estivermos agindo como fôssemos outra pessoa, normalmente ficaremos ansiosos por não sermos genuínos.

  Essas coisas são simples, mas produzem um grande impacto sobre nossa psique.

  Todas essas ações cumulativas através do dia estarão a produzir nossa experiência de vida. Se estivermos experienciando descontentamento, ansiedade, estresse, estaremos nós mesmos criando cada vez mais essas coisas. Se, entretanto, pudermos mudar nossas atitudes aprendendo a observar e relaxar durante todo o tempo, tudo mais mudará. 

  Existe um princípio fundamental, uma lei da natureza: “se mudarmos interiormente, tudo mais exteriormente também mudará”. Isso é uma lei da natureza, não é uma teoria, e podemos comprova-la.

  Observemos as pessoas. A alguém que tenhamos conhecimento de sua vida por muito tempo e subitamente comece a beber, a fumar, a dormir em qualquer canto, tornando-se um viciado, um mentiroso e ladrão. Podemos observar como sua vida foi para dentro do toilette. Agora, observemos outra pessoa que tenha sido má e tenha feito coisas ruins, porém tenha mudado, desistido dos vícios, desistido de ser desonesta e constatemos como sua vida tem melhorado. Essas mudanças refletem leis da natureza. São observáveis, factuais e comprováveis. Vivamos por nossa própria conta.

  Escolhamos ações superiores e recebamos resultados superiores.

  Todas essas coisas concernem à nossa vida diária. Em nossa vida diária implantamos um ambiente psicológico. Podemos tornar essas coisas bem claras a nós próprios. O modo como estamos engajados no mundo vem criando um ambiente para nossa psique. Se estivermos nos comportando de um modo superior e apropriado, aquele nosso ambiente também se torna apropriado para a meditação. Somente num ambiente desses a meditação pode grassar. Aquele que for viciado em drogas, álcool, sexo, dinheiro, em divertir-se e em todas as coisas que podem viciar, esse nunca chegará a aprender meditação até que largue os vícios. Qualquer tipo de atividade ou comportamento que produza descontentamento, desequilíbrio, ódio, dor, ansiedade e todos os tipos de semelhantes qualidades [negativas] contraditórias à serenidade, contradizem à meditação. A meditação acontece quando a psique está calma e serena. Ao ouvirmos pessoas a falar sobre vida espiritual, encorajando o uso de drogas, do álcool, ao abuso do sexo e a considerarem quantidades do dinheiro envolvido, estão mentindo.

  2. Prática Para Serenidade Meditativa

  Uma vez criado o ambiente psicológico entramos na verdadeira prática para o desenvolvimento da concentração de modo a eventualmente conseguirmos acessar o estado de meditação.

  A prática tem dois aspectos:
  - Postura Efetiva
  - Prática Efetiva

  Ao longo de nossa vida diária nossa atitude psicológica encontra-se fora de controle, onde não estivemos cultivando o relaxamento e a tranquilidade; então, ao tentarmos meditar não conseguimos ficar relaxados. Voltando a nossa casa após um dia maluco: ansiosos, zangados, tristes e querendo meditar – será muito difícil conseguirmos. Podemos nos sentar e tentar meditar, mas pode nos tomar muito tempo para sairmos daquela intensidade. Vemos agora como faz sentido termos nossa vida diária cultivada com a serenidade antes de praticarmos meditação, visto que, ao virmos para a nossa meditação precisarmos nos ter mantido relaxados o dia inteiro a fim de que a meditação se tornasse fácil. Então, com essa atitude, já teremos vencido esse estágio e nosso corpo estará relaxado, nossa mente pronta, e igualmente pronto estará nosso coração.

   Postura Efetiva: Relaxamento & Vigília

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    Figura 5
    Postura
  A efetiva postura significa primeiramente estarmos relaxados. Essa é a coisa mais significativa. Temos de estar completa e plenamente relaxados; não unicamente física, mas também mental e emocionalmente. Na linhagem da meditação tradicional existem posturas específicas recomendadas, que são muito boas. Há a tradicional postura do lótus ou a postura meio-lotus que a maioria das pessoas associa com meditação por uma razão. É um fundamento extremamente efetivo para a prática da meditação, contudo não seja o único. Podemos nos sentar ao estilo japonês, com as pernas dobradas debaixo de nós. Podemos nos sentar numa cadeira, com mãos nos joelhos, pés no chão e costas retas. Essas posturas básicas não são as melhores para iniciantes terem sua espinha reta, sua cabeça em pé e o corpo relaxado. A razão de querermos estar empertigados, sendo iniciantes, prende-se a não cairmos no sono.

  Como iniciantes, estamos aprendendo a relaxar o corpo, a traze-lo daquela intensidade do stress e da busca por desejos, para um estado de contentamento. Entretanto, o hábito com que estamos hoje em dia acostumados é de, ao nos sentarmos ou nos largarmos para relaxar, cairmos diretamente no sono. Na prática meditativa não queremos cair no sono e perder a consciência. Então, aprendemos a manter uma postura onde possamos relaxar, embora permaneçamos vigilantes. A vigília significa mantermos nossa consciência presente ao que estejamos fazendo. Por vezes usamos a palavra sonolência ao falarmos sobre prática meditativa. Algumas linhagens condenam a sonolência. Dizem não devermos ficar sonolentos. Estão significando que não devemos cair no sono perdendo nossa consciência. O que significamos por sonolência é quando o corpo esteja tão bem relaxado que não tenhamos de prestar-lhe atenção, o que é idêntico a quando nos preparamos para tirar uma soneca ou dormir. O corpo se torna exatamente imóvel. Essa é a melhor postura a conseguirmos para a meditação. O que devemos querer em nossa prática meditativa é estarmos aptos a esquecer o corpo, colocando-o naquela postura e o deixando ali, parado, perfeitamente imóvel. Ademais, com a sonolência acessamos facilmente o poder da imaginação, que é supinamente importante para o acesso ao samadhi. Adiante, falaremos mais sobre esse assunto

  Nosso objetivo, conforme explicado em palestras anteriores, é retirarmos nossa consciência para fora do corpo físico. Relembremos: Malkuth representa a fisicalidade. Cada uma daquelas esferas acima de Malkuth representa outros aspectos de nossas experiências energéticas e psicológicas: energia, emoção e vontade. Devemos querer relaxar para além daqueles fatores condicionantes. Não conseguiremos fazer isso se nosso corpo físico estiver desconfortável, com dores e nos perturbando. Daí necessitarmos estar aptos a colocarmos o corpo numa postura em que possa descansar, estar contente e imóvel. Para tanto necessitaremos do relaxamento.

  Prática Efetiva

   A prática efetiva requer dois componentes:
   Atenção plena (corda): atenção é não nos distrairmos do objeto da concentração.
  Vigilância (gancho): conscientização de estarmos distraídos.
 
  Esses dois componentes estão representados pelos implementos que o monge carrega. Na sua mais básica forma, atenção plena significa permanecermos atentos ao que estejamos fazendo. Ao estarmos lavando pratos permanecemos atentos nessa tarefa? Se formos honestos diremos, não. A maioria de nós lava pratos pensando em qualquer outra coisa. Lavamos mecanicamente. Não prestamos atenção àquilo; ouvimos o rádio ou pensamos sobre o trabalho, sobre aquela pessoa atraente que vimos, ou sobre aquele produto que desejamos comprar na internet. Lembramos dos problemas que tivemos naquele dia ou dos problemas que iremos tratar amanhã, continuando a lavar os pratos sem nos conscientizarmos de nosso corpo. Isso é falta de atenção plena, o que será um obstáculo para a meditação. Para estarmos aptos a meditar necessitamos de uma atenção bastante forte. Significa nossa atenção não estar distraída sobre o que estejamos concentrados. Ao iniciarmos o procedimento do desenvolvimento da serenidade meditativa, aprendemos a colocar nossa consciência num só objeto, mantendo-a ali, retirando nossa atenção de qualquer outra coisa.

  Uma prática comum e básica a usarmos é a mecânica da respiração. Ao observarmos as sensações da respiração na medida em que acontecem, e sem muda-las, mantemos nossa atenção naquilo. Atenção plena é como aquela corda entre o lugar de onde a consciência procede e o objeto  que estejamos observando. É uma corda que nos conecta. Estarmos cônscios sobre o que estejamos fazendo é atenção plena. É isso o que devemos aperfeiçoar. Podemos desenvolver a atenção o dia inteiro durante todas as nossas atividades. Ao dirigirmos o carro estejamos inteiramente atentos à direção. Devemos estar cônscios do que fazemos, observando a continuidade daquela conscientização. E ao ficarmos distraídos, de novo trazermos de volta nossa atenção permanecendo atentos continuamente, cônscios sobre tudo o que estivermos fazendo. Desse modo, estaremos desenvolvendo nossa prática meditativa mesmo ao volante, andando, lavando pratos ou enquanto trabalhamos. Nossa vida se fortalecerá para o objetivo do desenvolvimento espiritual.

  O gancho que ele mantém na sua outra mão é a vigilância. Isso é usado para vigiar quando começarmos a ficar distraídos. Digamos que estejamos a meditar observando nossa respiração, então estamos vigilantes de que os pensamentos começam a acontecer sobre o show na tv, e puxa! Foi engraçado quando tais e tais fizeram isso e aquilo, e quando disseram isso também, aha aha....[risos]. Então nós nos pegamos: ah, não estou prestando atenção. Esse é o gancho da vigilância trazendo-nos de volta àquele objeto da concentração.

  Essas duas ferramentas são significativas.

  Quando inicialmente estiverem aprendendo a meditar se sentirão impossibilitados de executar qualquer delas. Daremos a instrução para todos relaxarem, vocês tomarão uma postura e diremos: Okay, agora observem sua respiração, não prestem atenção a nada mais e coloquem 100% da atenção nas sensações respiratórias”. Começarão na observação por cinco segundos, dez segundos, quinze segundos, então se lembrarão de um episódio de algum show na tv quando foram crianças, que foi muito engraçado. Vinte minutos se irão e eu direi: “Okay, feito”. Vocês dirão: “Espere um minuto. Tudo o que eu fiz foi pensar sobre tv”. Parecerá frustrante. O que essa experiência demonstra é quão pouca atenção, quão pouca vigilância detiveram, não unicamente na meditação, mas pelo dia inteiro. Então terá sido uma boa experiência que mostrará o quanto de trabalho será necessário realizar. É uma experiência penosa, mas bela. Esse é o momento inicial e quando conseguirmos realizar exultaremos: “Uau! Isso é real. Eu posso mudar!”

  Mudamos isso através de nossas atividades diárias, praticando diariamente. Pouco a pouco nossas ferramentas vão ficando melhores. Ficamos mais fortes. Tornamo-nos capazes de manter a vigilância em tudo o que estivermos fazendo em longos períodos. Nossa vigilância desenvolverá de um modo a estarmos sempre ali, aguardando para ver se nos distraímos e nos pegar para trazer-nos de volta ao foco do objeto da meditação.

  Isso é fundamentalmente como começamos a caminhada ao longo da trilha da serenidade.

  Primeiro Estágio da Serenidade Meditativa
 
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  Figura 6
  Fixamo-nos na psique pela retirada da atenção de qualquer outra coisa e a conduzimos diretamente para um único foco.

  O primeiro estágio mostra um monge perseguindo um elefante e um macaco. O elefante representa a dureza e o peso da mente que se encontra fora de controle. A mente está sendo ao longo conduzida pelo macaco, que está sempre distraído e curioso, sempre navegando na internet, indo ao facebook, indo aqui e ali, interessado nisso, naquilo, sempre escapando da verdade. Nós, como pessoas espiritualizadas, a consciência que deseja mudar, temos de perseguir esses animais em nossa mente. Para fazermos isso, necessitamos da corda e do gancho.

  Então, através de nossa vida diária e também através de nossa prática diária da concentração, necessitamos aprender a fixar a psique pela retirada da atenção de qualquer outra coisa e a conduzirmos diretamente para um único foco.

  Esse é o estágio um. Cada buda, anjo e mestre que por certo aprenderam a se tornar naquilo o que são, começaram aqui. O começo não é fácil. É o que o fogo a esquerda representa, ou seja: a intensidade de esforços que isso exige, a quantidade de energia que nos toma para nos mantermos cônscios de nós próprios, muitas e muitas vezes. O Buddha Shakyamuni disse que em nossa prática a mente vagueia milhares de vezes e a retornamos para a vigília milhares de vezes e que isso era uma bela meditação.

  A chave é mantê-la quando estivermos distraídos e trazer de volta nossa atenção ao objeto da observação. Isso tem de ser um esforço diário e continuado, todos os dias sem exceção. É isso que inicia o processo de mudança. Se fizermos assim uma vez na semana nunca chegaremos a lugar algum. Desistiremos. Entretanto, se trabalhamos nisso diariamente, fazendo o máximo esforço que possamos, então chegaremos na mudança. Chegaremos. É inevitável. É científico.

  Esse esforço tem dois componentes:

  Concentração diária: nessa experiência diária, o dia inteiro, é estarmos vigilantes, presentes e relaxando, observando o que estejamos fazendo, não ficando distraídos, e quando começarmos a nos distrair, retornamos a atenção à completa conscientização naquilo ao que estejamos fazendo no momento.

  Prática de concentração diária: todos os dias tomando dez ou vinte minutos sentados, fechando todos os nossos sentidos e focalizando a concentração numa só coisa. Essa coisa pode ser o que desejarmos, mas não mudando isso. A observância ao fluxo natural da respiração é a mais simples: temos sempre ela conosco. É justamente observar as sensações da respiração por nossas narinas. Não mudemos nossa respiração, não a modifiquemos, somente a observemos: existem pequenas e constantes mudanças naquelas sensações, assim unicamente as observemos e vejamos não somente o quanto detalhada e focada nossa concentração pode ser, mas também o quanto contínua.  

  Se quisermos realmente levar a concentração a sério precisaremos fazer isso duramente, porém com mais efetivos exercícios: primeiramente, observarmos um objeto sagrado, como uma estátua ou imagem de divindade. Digamos, uma imagem de Jesus ou Buddha ou alguma divindade. Memorizarmos o que vemos. Em outras palavras, trazermos o quadro mental daquilo. Depois usarmos aquele quadro mental como nosso objeto de foco. Fechamos os olhos e o visualizamos. Isso é bem mais difícil que observarmos a respiração, mas proporciona mais frutos.

  Faz-se necessária a prática da concentração nesse mesmo modo pelo dia inteiro. Para iniciantes é eficiente fazerem isso em pequenas sessões a fim de não se exaurirem: façam por dez minutos, deem uma parada e se desejarem façam outra sessão por mais dez minutos, deem outra parada, etc. Isso é o começo do treinamento da atenção.

  Segundo Estágio da Serenidade Meditativa

  A continuada fixação envolve a atenção que foi inicialmente direcionada para o contínuo foco sem ficar distraída por qualquer outra coisa.

  Ao trabalharmos seriamente com aquelas duas áreas de práticas alcançaremos o segundo estágio. Aquele estágio que mais estaremos mirando a fim de diretamente desenvolvermos a maior continuidade da atenção.

  No primeiro estágio aprendemos a colocar a atenção numa só coisa. No segundo estágio estaremos constantemente trazendo isso de volta. Eles nos soam muito familiares. A diferença está em que no segundo estágio já existe um pouco mais de atenção e vigilância, significando determos alguma conscientização de que devemos nos concentrar naquilo que estejamos fazendo. No gráfico podemos ver agora que existe um pouco de branco nos animais. Aquele branco é claridade, serenidade, concentração, fixação, etc. Ilustra como a psique começa a se tornar um pouco diferente. Ao invés de estarmos indômitos durante todo o tempo temos esses momentos em que experienciamos paz. Podem acontecer a qualquer hora. Podem ser durante o dia ou durante nossa prática de meditação, entretanto começamos a perceber o fato. Podem acontecer assim: “Uau! Realmente me sinto relaxado, sinto-me vigilante e um pouco mais concentrado”. É algo muito bonito começarmos a ver esse fruto. Se realmente estivermos fazendo o esforço a fim de desenvolver esses dois aspectos da concentração – diariamente com atenção plena e diariamente com práticas concentradas – então estaremos iniciando uma mudança dinâmica em nossa experiência de vida e os resultados emergirão inevitavelmente. É simplesmente causa e efeito: produzimos as causas e os efeitos chegarão.

  Os efeitos dessas práticas começam primeiramente com momentos de serenidade, paz, calma, contentamento simples. Do mesmo modo em que estejamos praticando atenção plena durante todo o tempo, esses efeitos podem emergir a qualquer hora. Então, sejamos pacientes, persistentes, e confiemos na inevitabilidade da causa e efeito.

  Exercícios

  Todos os dias para desenvolver a todo momento a auto-observância. Também para ampliar a atenção plena: o espaço de tempo em que estejam cônscios de vocês mesmos.

  Todos os dias desenvolver a concentração meditativa. Adotar uma postura de meditação, relaxar completamente e então focalizar 100% da atenção sobre um objeto escolhido.

  Escrever os fatos de seu dia em seu Diário Espiritual

  Ao desejar serenidade e a possibilidade de eventualmente acessar a meditação, colocar essas ideias em prática na vida diária: observar-se todos os dias, realizar a concentração meditativa todos os dias, e reportar aos fatos de sua experiência num diário espiritual. É assim que se torna responsável a si mesmo e honesto consigo próprio. O diário não é para qualquer um estar olhando. É só seu. Pode ser simples ou implementado como cada um o queira. Começar a reportar pelo mínimo: “hoje fiz esforço, hoje aprendi isso e hoje pratiquei por dez ou vinte minutos”. 

  Começar recordando esses fatos sobre seu trabalho espiritual e pouco a pouco começará a ver que produzem percepção; muita percepção. Algumas dessas serão dolorosas. Se, entretanto, reconhecer aqueles locais de dor é possível trabalhar neles e eles se desfarão. Se não vê-los e não manobrar com eles a dor ainda continuará ali. Melhor aprender sobre eles e a manobra-los.

POR UM INSTRUTOR GNÓSTICO

Fonte:https://gnosticteachings.org/courses/meditation-essentials/3786-meditation-essentials-06-preparation-for-serenity.html

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  Tradução Inglês / Português: Rayom Ra

                                                      Rayom Ra                                                                http://arcadeouro.blogspot.com.br