Figura
1
“Todos
sabemos como nossa mente pode estar em constante movimento: pensando, cheia de vozes,
demandas, questões e sobre cuja
existência parece-nos não determos um controle. Qualquer pessoa que tenha
tentado aprender meditação sabe disso como um fato. Nosso instrutor para a
meditação nos comanda a nos sentarmos e a esvaziarmos a mente dos pensamentos,
mas não conseguimos fazer isso uma vez que os pensamentos continuam
acontecendo. Através de toda a nossa vida, isso vem demonstrar uma falta de
serenidade pelo não uso da vontade conscientemente dirigida ao controle diário
da mente”.
Os Estágios Iniciais da Concentração
Tais como pessoas interessadas em meditação
queremos também serenidade. Na maioria dos casos, quando as pessoas são
atraídas a estudar meditação ou espiritualidade o fato acontece por algum
sofrimento que os aflige, de que buscam por alívio. A meditação é uma solução
conhecida; é ciência comprovada que muda diretamente nosso sofrimento e nos
traz a oportunidade de descobrirmos o que verdadeiramente seja serenidade.
Serenidade não nos pode ser dada como se fora
um presente. Não é algo que recebamos dos deuses, nem o que possa ser comprado.
Se tenhamos obtido alguma experiência neste mundo, teremos encontrado pessoas
muito pobres ou muito ricas, e teremos atestado por nós próprios que serenidade
é algo que lhes seja completamente desconhecida. Riqueza não resolve seus problemas com o
sofrimento ou com o descontentamento, visto podermos perfeitamente encontrar
pessoas pobres igualmente infelizes. Podemos também encontrar pessoas ricas ou
pobres igualmente contentes. A diferença entre elas não está em suas posses
materiais ou em seus status sociais, mas em suas atitudes. A diferença não é
material, mas sim psicológica.
Meditação
é realmente significativa na espiritualidade. Serenidade é um Resultado da
Ação. Ao usarmos a palavra serenidade a estaremos usando de um modo muito
técnico, descrevendo um estado mental bastante específico, um estado do ser.
Serenidade é algo que experienciamos e que nele vivemos. Serenidade não está no
futuro nem no passado é alguma coisa que somente podemos conhecer no presente.
Refere-se àquela mente em estado paz – estável e calma – e não em caos ou
submersa em pensamentos, emoções, desejos ou medos.
Figura 2
Esta imagem ilustra nossos cinco centros,
também chamados três cérebros. São ferramentas psicológicas, máquinas que
estamos usando o tempo todo. Contudo, não somos muito cônscios delas, não
prestamos devida atenção a elas.
A qualidade da energia que passa através
dessas máquinas psicológicas é o que determina nossa experiência de vida no
momento. Nossa experiência de vida é o resultado de nossas ações psicológicas.
O estado da energia que flui através do
intelecto é o que experienciamos como mente ou pensamento; possui um elenco de
qualidades, que, além de tudo, detém ainda uma característica dominante: nosso
estado mental fora de controle. É um caos que a nos parece estarmos incapazes ou
impossibilitados de controla-lo.
Todos sabemos como nossa mente pode estar em
constante movimento: pensando, cheia de vozes, demandas, questões e sobre cuja existência parece-nos não determos
um controle. Qualquer pessoa que tenha tentado aprender meditação sabe disso
como um fato. Nosso instrutor para a meditação nos comanda a nos sentarmos e a
esvaziarmos a mente dos pensamentos, mas não conseguimos fazer isso uma vez que
os pensamentos continuam acontecendo. Através de toda a nossa vida, isso vem
demonstrar uma falta de serenidade pelo não uso da vontade conscientemente
dirigida ao controle diário da mente.
Existe também um estado da mente que podemos
chamar de tédio ou laxismo. É um estado em que a mente está obscurecida, opaca
e grudenta como melaço ou lama. Ou como algo espesso e impenetrável. Podemos
também a isso experienciar em nossa vida diária em tentativas de meditar,
quando a mente nos parece exatamente letárgica. Nesse tipo de estado, não
podemos realmente pensar com clareza. Normalmente, ao nos sentirmos assim, nos
socorremos com um café ou com a cama. Esse estado indulgente é também
consequência de nossa atitude psicológica, o modo como usamos a mente a cada
instante.
A excitação extrema, a agitação, o estresse e
alta energia opõem-se em outro extremo à opacidade, à obstrução, à obscuridade,
à fadiga e à preguiça mental. O mesmo pêndulo que oscila entre extremos oscila
também, igualmente, noutros centros. Emocionalmente, a característica dominante
é aqui a mesma: nossas emoções estarão naturalmente fora de controle. As
emoções continuarão acontecendo e não conseguiremos controla-las do modo como
elas nos controlam.
Oscilamos de um extremo emocional a outro.
Conseguimos ficar emocionalmente excitados, atraídos, interessados,
aborrecidos, com estresse, ansiedade, medo, excitamento, e luxúria. Isso inclui
todas as formas de desejos onde nos tornamos fixados em algo e nosso desejo
emocional nos conduz enormemente à compulsão.
Por que nos absorvemos em shows e musicais de
tv? Porque é justamente o que nos provoca aquele estado emocional; desejamos
experienciar aquele estado emocional em lugar de outros. Por que nos absorvemos
no facebook ou escrevendo textos? Porque queremos constantemente deter a
“emoção” de nos sentirmos o quanto somos amados, incluídos, valorizados,
queridos. Não aquilatamos como essas emoções são ilusórias. Cada um de nós tem vícios emocionais e hábitos emocionais e não parece termos o menor controle
sobre eles.
O pior é que nossas emoções – tão caóticas ou
tão fora de controle que possam estar, ou tão frias e sem vida que as possamos
sentir em nosso coração – não correspondem à realidade. O que sentimos
emocionalmente é subjetivo. Como de fato sabermos disso? Observando-nos. Quando
acontece uma tragédia observemos a frieza de coração que temos. Quando algo
maravilhoso acontece a alguém observemos a frieza de coração que temos ou a
raiva ou inveja que sentimos. Podemos ir a uma festa onde todos estejam
felizes, mas nós estejamos depressivos e nos sentindo miseráveis. Até podemos
não saber porquê. Sentimo-nos unicamente mal. Ao prestarmos atenção a nós
veremos que é muito comum aquele nosso estado interior não combinar com as
circunstâncias exteriores.
No terceiro cérebro, nesses três centros: o
motor, os centros instintual e o sexual, acontecem coisas muito mais rápidas e muito
mais difíceis de termos consciência por serem bastante sutis e estarem em profundo
interior da psique. Contudo, encontramos esse mesmo pêndulo fundamental entre o
excitamento e o laxismo, entre a agitação e a letargia.
O ponto fundamental é que tudo daquele caos
que experienciamos psicologicamente, que pensamos seja vida normal, não é
normal. Na verdade, não é vida. É reação. É estarmos numa gaiola, uma gaiola
psicológica, sobre a qual não detemos controle. Em outras palavras: coisas
acontecem e dentro de nós as reações estão constantemente em ebulição naqueles
centros. Tudo o que fazemos o tempo inteiro é tentar conte-las, mesmo que seja
escapando delas, mascarando-as ou as escondendo.
E a vida continua, trazendo-nos coisas
dolorosas e coisas difíceis. Temos ansiedades, estresses e incertezas. Temos
objetivos que não podemos alcança-los. Temos problemas que não conseguimos
resolvê-los. Coisas que estão constantemente acontecendo e nunca cessam. E no dia
a dia pisamos em água; lutamos para não afundarmos de todo. Em nosso íntimo
ardem todos os tipos de reações sempre que não podemos manobra-las. Não sabemos
como faze-lo, e assim corpo, coração e mente sofrem.
Existe um extremo estado de agitação que vem
se tornando cada vez mais agudo, que piora dia a dia. Eis porque vemos pessoas
buscando por alívio das dores, das incertezas e dificuldades da vida, e não
ficando somente nisso tornam suas vidas ainda piores: viciam-se com álcool,
cigarros, drogas, sexo, dinheiro, poder, tv, shopping, etc. Consomem comidas em
demasia; buscam a todos os tipos de sensações. São indulgentes com elas
próprias nas sensações, em tentativas de ludibriarem o que trazem em mentes,
corações e corpos. Eis porque a sociedade está se destruindo. Não está equipada
com conhecimento específico para
transformar agora, neste momento, o seu estado de ser a fim de, verdadeira e
completamente, experienciar a serenidade.
Serenidade é simplesmente um estado
psicológico acontecido quando a mente não está agitada. Observemos um lago:
quando não há vento o lago se encontra perfeitamente tranquilo. Com nossa mente
se dá o mesmo. O vento são pensamentos, emoções, desejos, preocupações, medos,
etc. Quando aprendermos a parar de nos atarmos completamente a todos eles, a
mente ficará perfeitamente silenciosa, serena, quieta mesmo que as
circunstâncias externas não estejam serenas.
Estudamos religião e vemos que profetas e
santos souberam como manobrar com essas coisas. Em meio aos inacreditáveis
julgamentos a que foram submetidos eles mantiveram amor, compaixão, paciência,
tolerância e grande e diligente trabalho em benefício de outros, apesar de
terem sido torturados, perseguidos, ridicularizados e alvos de intrigas. Nenhum
desses sofrimentos os afetou. Mesmo estando a ficar empobrecidos, famintos, no
deserto, ainda assim endereçaram uma atitude amorosa aos seus perseguidores.
Essa é uma espiritualidade real: a de deter a habilidade em permanecer sereno
não importando as circunstâncias.
Serenidade não é um fator externo; não é um
presente dos deuses; não é algo enganoso, não pode ser enganosa. É realidade. É
o estado natural do Ser. É imodificável e incondicionada. Serenidade é o que
está dentro de nós; já está lá, todos a temos em nosso íntimo.
O processo do aprendizado da meditação é
chegarmos a transformar nossas respostas em estímulos internos e externos,
passando a perceber ambos num caminho real e não a darmos respostas mecânicas e automáticas devido à raiva, medo, luxúria, ambição, inveja, gula ou a quaisquer
outras qualidades negativas. Mas sim nos ligarmos ao verdadeiro e real estado
natural do nosso ser interior, que é serenidade, amor, altruísmo, paciência,
diligência – aqueles tipos de qualidades positivas que todos possuímos
intimamente.
O que estamos destacando é uma fundamental
diferença na atitude. A maioria das pessoas que busca a meditação, deseja uma
pomada que lhe anestesie o sofrimento. Quer que lhe seja dada uma solução
rápida: “façam essa prática, tomem esse remédio, comprem aquele aparelho, vão
ao shopping, gastem milhares de dólares e darei a vocês a chave da felicidade”.
É isso que dizem e as pessoas acreditam. São
todas mentiras; é tudo mentira. A realidade é que a serenidade já está dentro
de nós. É um estado natural de nossa consciência. Tudo o que temos a realizar é
transformar o modelo de cada um de nossos momentos quando fazemos coisas. É uma
mudança de atitude. Ao invés de perseguirmos a serenidade procuremos pelas
coisas que a vedam e estaremos estabelecendo respostas. Essa simples ação
permite à serenidade emergir dela mesma; a conduz a retornar ao seu estado
natural. É bastante simples, mas exige trabalho. É algo simples, mas não fácil.
O que isso requer é ficarmos preparados para
estarmos presentes a cada momento, permanecermos cônscios de partes de nós,
daqueles cinco centros, deles vigilantes e conscientemente nos seus comandos. Nessa
linha, quando alguém vier com fofocas e ouvirmos: “Oh, essa pessoa anda dizendo
essas coisas sobre você...” Ao invés de nos permitirmos ficar fulos de raiva, com
medo ou de orgulho ferido, que tomemos o controle de nosssa mente, coração e
corpo e não nos liguemos àquele fato. E reflitamos considerando intimamente:
“quem se importa com o que ela pensa, suas palavras não significam nada a menos
que alguém as dê algum valor. Eu não dou o menor valor, então nada me significam.
Por que eu deveria perturbar a minha paz mental? Além do mais se ela disse tais
coisas talvez eu tenha feito algo errado; talvez eu esteja em falta e tenha
magoado essa pessoa”.
Desse modo, ao invés de ficarmos com ódio,
fiquemos benevolentes, compreendamos e permaneçamos em paz. É uma mudança de
atitude, uma mudança de como transformar impactos e sabermos utilizar em nós
aqueles centros. Se formos capazes disso seremos capazes de aprender a meditar.
Como Cultivar a Serenidade
Em palestras anteriores vimos estudando este
gráfico. Esta é uma imagem do budismo tibetano. Ilustra as etapas fundamentais a
que cada praticante vai percorrendo na intenção de alcançar a serenidade. De
novo, não é algo teórico nem questionável. É um estado de consciência que
qualquer pessoa pode experienciar se produzir as causas conducentes àquele
resultado.
Figura 3
(Obtenha um poster desta imagem)
Figura 3
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Essa tradição expõe a existência de dois
modos fundamentais para nos prepararmos a alcançar a serenidade, logo começando
através deles. São bastante simples.
Preparação
Prática
Já antes explicávamos que a sabedoria de que
necessitamos a fim de entendermos a vida e nossos problemas é alcançada através
de um processo com três etapas:
Ética (Sila)
Êxtase, Serenidade (Samadhi)
Sabedoria (Prajna)
A terceira etapa é a própria sabedoria que em
sânscrito é chamada prajna, significando conhecimento profundo. A etapa
anterior é chamada samadhi, significando êxtase. Refere-se ao estado do ser
quando nossa consciência não está mais condicionada com nenhuma outra coisa.
Significa que nossa consciência não se encontra condicionada pelo corpo, por
qualquer dos sentidos nem por qualquer defeito egoísta ou psicológico, como
orgulho, ódio ou sensualidade. Quando nossa consciência estiver libertada de
tudo isso experienciamos o que é chamado samadhi ou êxtase. É uma experiência
de pura libertação. Mesmo que permaneça somente por um momento é experiência
inesquecível porque vemos, experienciamos e saberemos que nossa real natureza é
serena.
A fim de alcançarmos o samadhi necessitamos
do primeiro dos três estágios, chamado sila, significando ética. Começamos com
ética e através dela estabilizaremos nossas experiências psicológicas de tal
modo que a consciência possa experienciar a serenidade. Partindo da serenidade
acessamos a sabedoria. Isso é o significado de tudo: o que é simples.
Alcançando a serenidade temos a chave para chegarmos à sabedoria. Para
alcançarmos a serenidade a chave é a ética. Se assim não iniciarmos com base na
ética, então nunca aprenderemos a meditar.
Se estivermos estudando e praticando
meditação e falhando em realmente experienciarmos mudanças e avanços em nossas
práticas, então não teremos o correto conhecimento. Por outro lado, possuindo o
correto conhecimento e produzindo o dharma pelo serviço ao próximo, haverá
somente uma coisa a mais que pode impedir-nos de experienciarmos a realidade da
meditação, e essa coisa é nossa ética. Se não estivermos experienciando samadhi
e prajna em nossa meditação aquilo será o porquê das razões. Precisaremos
reexaminar nossas práticas questionando-nos para entendermos: o que nos estará
bloqueando? É esse o nosso foco fundamental. Não estaremos buscando a
experiência, mas nos focando naquilo que a estará obstruindo. Na vasta
quantidade do tempo, o que obstrui nosso acesso à experiência espiritual reside
no estado de nossa psique, ou seja: em alguma brecha ou ponto cego na ética ou
mesmo em algo que estejamos fazendo de bom grado que não deveríamos fazer.
1. Preparação Para Serenidade Meditativa
Isso é mais especificamente diagramar sobre
o primeiro aspecto para a serenidade da meditação, que é em suma a própria
preparação. Essa é tradicionalmente
descrita como possuindo seis aspectos.
Moradia Apropriada
Moradia Apropriada
Figura 4
Primeiro é ter um lugar para morar que adapte
nossa motivação e nossa vida espiritual. Isso é representado no gráfico. Bem
abaixo, à direita, vemos esse templo e o monge – o renunciante – que inicia o
caminho. Então, o início do caminho para se alcançar o estado de meditação
depende de um lugar que seja ajustável a isso. Muitas pessoas leem daquela “moradia apropriada” e unicamente
interpretam-na segundo as antigas tradições, em que um postulante tinha que
viver numa caverna ou ir para um monastério no deserto, ficando isolado da
sociedade. Essa condição, entretanto, prendia-se unicamente às circunstâncias
externas. Pois a razão que detinha de abandonar a sociedade devia-se a
isolar-se de todas as suas ligações: família, amigos, amor, interesses, álcool,
intoxicantes, apelos do desejo, coisas em seguir comprando e vendendo, enfim
todas as coisas que são partes da sociedade que mantêm a mente em agitação.
É o que está implícito em “moradia
apropriada” em seu mais fundamental nível, portanto no seu real significado:
moradia apropriada significa precisarmos tomar medidas a fim de implementar
nosso meio ambiente. Por exemplo: manter a casa bem limpa tem um grande impacto
em nosso bem estar espiritual, produzindo bom efeito psicológico. Mantenhamos
também a nós próprios limpos. Tendo no lar um espaço onde seja possível
praticar isso pode realmente ajudar, mesmo em sendo um canto, uma dependência.
Conheço pessoas que transformam o toilete em sala de meditação. Se conseguirmos
cultivar um ambiente para trazer serenidade é o melhor de tudo. Se em nossa
casa tenhamos a tv ou rádio sempre ligados, pessoas fumando, usando drogas e
dormindo em qualquer canto ou vivermos em dormitórios coletivos, para o
objetivo de moradia apropriada nos será muito difícil. Essa dificuldade com
pessoas em dormitórios coletivos ou em prédios de apartamentos cercados por
intensas influências psicológicas bastante negativas, são completamente
contraditórias para chegarmos à serenidade. O esforço, o trabalho a ser empreendido
para superar tudo aquilo é por demais significativo. Uma pessoa nessas
circunstâncias pode necessitar de algum lugar em que possa ir para uma pausa,
para ter paz, como, por exemplo, próximo a uma igreja, um templo, uma floresta,
um lago; algum lugar onde possa ir e sentir-se isolada de tudo aquilo, pelo
menos enquanto tente meditar.
Moradia apropriada refere-se às coisas identificadas
em nosso ambiente a fim de que possamos mudar para nos defendermos, nos
protegermos e nos ampararmos em nossos esforços de meditar. Principalmente,
sobre estarmos a salvos e seguros.
Não fazer da “moradia apropriada” o nosso
problema principal. Também nos é necessário aprender a aceitar as dificuldades
que não conseguimos modificar e fazermos da maneira que der àquilo de que
necessitamos. Temos observado pessoas que bem conseguem meditar perfeitamente,
mesmo que haja uma britadeira perfurando pedras a pouca distância dali. Há
pessoas que conseguem meditar serenamente em meio a grandes ruídos de
multidões, ou estando cercadas por gritos de crianças, carros buzinando, cães
latindo, ou em hospitais junto aos sofrimentos, etc. Essas pessoas não são
“agraciadas” ou “abençoadas”; elas simplesmente mudaram suas atitudes e não
mais se ligam mecanicamente às impressões. Notemos que isso está adstrito a
atitude, aceitação e ao controle em como responder às coisas.
2. Ter Pouco Desejo
O segundo aspecto é termos pouco desejo; não
ficando distraídos por todas as coisas que nos querem nelas prestando atenção,
como os anúncios, os novos produtos chegando, às mudanças da moda e tudo o que
nossos amigos estão fazendo ou o que eles possuam. Vermos nossos amigos saindo
em viagens, indo esquiar, surfar, indo aqui e ali, tendo um belo carro, um
ótimo emprego e não desejarmos todas aquelas coisas. Nunca questionarmos
aqueles desejos.
Esses aspectos nos convidam a questionar: por
que queremos isso e aquilo? Por que estou me interessando por essas
insignificâncias o tempo inteiro? Por que estou me permitindo que todos esses
desejos por circunstâncias ou de posses tragam-me descontentamentos e agitações
psicológicas? Temos tantos desejos que nos influenciam o tempo inteiro e a
maioria deles é devida à inveja. Vemos pessoas na tv e nas lojas parecendo ter
de tudo. Os anunciantes estão certos de que ao nos mostrar esses produtos
ficaremos felizes como aquelas pessoas nos comerciais [ridículos]. Somos
influenciados por aquelas coisas. Pensamos necessitar nos vestirmos de certa
maneira. Acreditamos necessitar de certas posses, em termos um certo estilo de
vida para sermos felizes. São todas mentiras, todas elas. Precisamos estar
cônscios disso, de nos tornarmos cognizantes dos tipos de influência que nos
afetam o tempo inteiro; que estão na verdade sugando a vida de todos. Por que
precisarmos sair a comprar a todos esses produtos? Por que irmos tanto às
compras, buscando realmente por coisas insignificantes? Gastamos muito de
nossas vidas em bobagens. Nunca paramos a fim de realmente determos o controle
disso. Então, termos pouco desejo refere-se a essas coisas.
3. Estar Contente
Quando aprendermos a estar contentes com o
que tivermos, a reconhecermos que o que temos é muito especial, a ficarmos
contentes vendo vantagens naquilo, a serenidade emergirá rapidamente. Estar
contente é estar sereno. É estar de bem com o que se tem e como se é.
Porém,
isso é ligeiramente dúbio, uma vez que, obviamente, se estivermos interessados
na espiritualidade vamos querer mudar. Reconhecemos que há coisas que podem se
tornar melhores. Se estivermos sofrendo necessitaremos encontrar maneiras de
modificar as coisas e mudarmos. Desse modo, isso não significa estarmos
complacentes com nossos defeitos, vícios e erros. Significa isto sim estarmos
contentes com coisas materiais, com nossas circunstâncias, e não lutarmos em
demasia contra a realidade.
Antes de entrarmos na espiritualidade
pensávamos sempre: “Preciso de um emprego melhor, uma esposa melhor, um carro
melhor, uma casa melhor, mais roupas, mais dinheiro no banco”. Há sempre esse
tipo de descontentamento alimentado pela inveja em adquirir tantas coisas que
não possuímos. Tendo entrado na
espiritualidade mantemos essa mesma atitude, mas direcionada para coisas
espirituais: “Não tenho as iniciações que preciso. Não tenho a esposa que
preciso. Não tenho acesso aos professores que preciso. Não tenho tempo para
meditar. Não tenho isso e aquilo”. É uma longa lista de coisas que pensamos que
se as tivéssemos estaríamos contentes. As pessoas estão sempre procurando lá
fora pelas compensações a fim de preencher o dolorido vácuo espiritual em seus
corações. Contudo, essas coisas não as satisfazem para essa finalidade, pois
nenhuma posse ou circunstâncias nos trará a serenidade. A serenidade emerge de
dentro e não tem nada a ver com circunstâncias externas.
Um caminho para transformar esse aspecto de
nossa psicologia está em quando sentirmos essa urgência, esse estímulo –
“preciso disso, preciso daquilo! Ai de mim! Minha situação é terrível. Não
tenho aquelas coisas que deveria ter. Tenho agora trinta e cinco anos, ou
quarenta, e não tenho crianças. Não consegui minha educação e não tenho o
dinheiro que precisava ter” – é olharmos a nossa volta. É uma coisa fácil de a
isso transformar. É simplesmente observarmos aos fatos da vida das pessoas.
Todas essas coisas que dizemos a nós próprios são lixo. Então é vermos essas
pessoas sofrendo bem mais que nós próprios. É abrimos os olhos para a
realidade. A vida não está para satisfazer os nossos desejos. Nossa cultura nos diz sobre o que
está por aí, mas essa cultura é vazia, nada tem a oferecer. Ela somente existe
para dar possibilidades a outras pessoas de ficarem ricos. Nossa cultura não
nos oferece nada de espiritual e nada subsiste; é como vapor, ilusão.
Se quisermos algo real, que nos seja
duradouro, então abandonemos os desejos e nos tornemos presentes aqui e agora;
tornemo-nos contentes com o que temos e nos centremos em obter plenas vantagens
disso. Quando nos sentirmos descontentes olhemos para os que têm menos. Sempre
haverá alguém a sofrer mais que nós próprios, possuindo bem menos. Especialmente
nós, no ocidente, não temos real conceito sobre o sofrimento, ainda que
pensemos que sofremos muito. Estamos nos atoleimando.
4. Abandonar Tarefas Inúteis
Por que gastamos tanta energia e tempo sem
sentido algum? Se entendêssemos da fragilidade da vida, da impermanência do
corpo, então não nos engajaríamos em atividades inúteis. Conscientizemo-nos,
pois, da possibilidade em acessar algo que seja real, que esteja além do corpo.
Abandonar atividades inúteis é um passo fácil de dar. A realidade é que todos
nós morreremos e não sabemos quando. Quando verdadeiramente nos dermos conta do
fato trazendo-o à nossa real conscientização – compreendendo-o de todo –
gastarmos qualquer momento numa coisa estúpida nos será impensável.
Fazer-nos o possível cognizantes sobre a inevitabilidade
de nossa morte e sabedores de nosso estado do ser naquele momento, determinam o
que acontecerá após a nossa morte. Se estivermos com o nosso ser nesse seu
estado corrente atual, no momento da morte de nosso corpo físico, nos
acontecerá exatamente o que acontece quando caímos no sono a noite. Ao
acordamos pela manhã lembramo-nos do que aconteceu por toda a madrugada? Não acordamos
a manhã seguinte somente com algumas vagas memórias? É isso o que nos acontece
quando morremos. Acordamos em algum novo corpo em qualquer outro lugar.
Não nos lembraremos de nada, nem mesmo quem
fomos. Nasceremos novamente e dependendo de nosso carma, de nossas ações,
teremos o que merecermos, do que obtivemos. Enquanto lá, iremos chorar, uma
alma de choro convulsivo, porque não saberemos quem somos nem onde estamos e
não reconheceremos nada exceto frio, medo, incerteza e o sofrimento de uma
pessoa alta de branco nos dando palmadas.
Se quisermos ter controle desse processo de
morte e renascimento, e estarmos cônscios disso, temos de mudar agora, hoje, o
nível de nosso ser de modo que ao cairmos no sono a noite, saibamos o que nos
está acontecendo por todo o tempo de sono, estando cônscios disso, e quando
voltarmos ao nosso corpo pela manhã, saibamos quem somos, por onde estivemos e
nunca perdermos a consciência durante o sono noturno.
Isso não é teoria nem é crença. Está
acontecendo com as pessoas que praticam esses ensinamentos. Aqueles que praticam
diariamente, deitam-se para dormir, mas não caem no sono. O corpo dorme, mas a
consciência não dorme. Usam aquele tempo enquanto o corpo esteja dormindo a fim
de continuarem a trabalhar a si próprios, transformando-se não no mundo físico,
mas no mundo dos sonhos.
Na Árvore da Vida o nível mais baixo é
Malkuth, o mundo físico. Sobre ele é Sim a quarta dimensão (Eden), e então
segue-se a quinta dimensão, o mundo dos sonhos, Hod e Netzach. Qualquer
religião que estudemos diz-nos sobre estarmos acordados no mundo dos sonhos,
ali falando com os deuses, na quinta dimensão, seja no cristianismo, no
judaísmo, no budismo, no hinduísmo. As pessoas de hoje pensam que isso é uma
piada. Não é não, é real.
Abandonarmos atividades inúteis significa que
ao invés de perdermos tempo fazendo compras, absorvendo-nos no facebook por
horas em nosso aparelho, paremos de fazer coisas estúpidas como aquelas. Voltemos
nossa energia e atenção às coisas que sejam frutuosas, que realmente tragam
benefícios e significados não unicamente a nós, mas também aos outros. Pessoas
às vezes reclamam: “não sei o que fazer para ajudar outras pessoas. Não sei o
que fazer para avançar na minha vida espiritual”. É somente ver como gastam o
seu tempo, e mudar isso.
Cada
pessoa vivente tem muitas coisas a oferecer em ajuda aos outros, sem qualquer
exceção. Temos estudantes; e um em particular está vindo a minha mente. Esse
estudante é um homem bem jovem que está mentalmente desorganizado. Não é fácil
lidar com ele. É muito imprevisível. Ele é alto, musculoso, enorme e de muita
energia. É intimidador, mas tem enorme compaixão. Apesar de sua condição mental
ele investe seu tempo e energia não como um “batata de sofá” a assistir tv ou a
jogar vídeo games, mas servindo e ajudando os outros. Portanto, se ele com sua
condição e limitações pode fazer isso, eu sei que todos podem também faze-lo.
Não temos desculpas.
Então, ao invés de perdermos tempo com coisas
inúteis, mas investirmos nosso tempo e energia em ações frutuosas que beneficiem os
outros, receberemos benefícios. Portanto, ao invés de passarmos o tempo com
coisas egoístas, desperdiçando esse tempo, ajudemos os outros e em troca
recebamos ajuda.
5. Pura Disciplina Ética
A quinta é a pura disciplina ética. Significa
sermos muito verdadeiros para nossa consciência. Significa nunca mentir não
importando o custo. Nunca mentir! Nunca roubar! Nunca matar! Entendemos agora
que os grandes professores e grandes mestres nos explicaram que todas as éticas
que aprendemos, como os Dez Mandamentos e o Vinaya, deram-nos todas as diferentes
descrições de como nos comportar. Não podemos de nenhum modo tomar isso como um
advogado a procurar por brechas. Temos de viver o espírito da ética.
Há pessoas que cresceram na cristandade e
pensam assim: “Bem, Deus disse que não devíamos fornicar nem cometer adultério.
Mas estamos numa era moderna, todos estão fazendo isso, então Deus me perdoará
mais tarde. Tudo o que eu tenho a fazer é dizer que aceito Jesus e pedir que me
perdoe e Deus dirá Okay e me conduzirá ao Paraíso”.
A Bíblia não diz assim. Nem as escrituras do
induismo, budismo e judaísmo. Nenhuma diz isso. Jesus nunca disse isso. O que as
escrituras dizem é que nenhum adúltero, nenhum assassino, nenhum mentiroso,
nenhum ladrão irá para o paraíso. Todos nós temos aqueles elementos conosco:
“bem, eu não matei ninguém, não cometi adultério”. Mas compreendendo o que os
ensinamentos dizem, o que Jesus ele mesmo disse, que qualquer um que olhar para
uma mulher com luxúria já cometeu adultério com ela em sua psique, em seu
coração, em sua mente, isso vem significar que todos somos adúlteros, assassinos e ladrões, por que cometemos esses crimes psicologicamente.
Permitimo-nos fazer isso diariamente.
Ter pura disciplina ética significa trabalhar
contra isso. Não importa se alguém mais concordar que estaremos indo contra a
totalidade do mundo. O que importa é nossa íntima relação com a divindade.
Lembro-me agora de umas belas palavras ditas por Joana D’Arc: “Prefiro morrer a
fazer alguma coisa que eu saiba ser errada”.
Isso mostra o quanto ela estava envolvida com
a ética correta, com a disciplina ética. Ela viveu com isso e transformou a
Europa com essa atitude. Nós próprios necessitamos adotar esse tipo de atitude
para descobrirmos a verdadeira ética. É algo conhecido através de nossa
consciência.
Há coisas que devemos estudar para nos
auxiliar. Todos temos nossas escrituras, a Bíblia, os Sutras, os Tantras, o
Gita, o Mahabharata e o Vinaya. Temos muitas escrituras de muitas tradições que
explicam o espírito da tradição ética – a ética que necessitamos para libertar
a consciência do sofrimento. Precisamos exatamente fazer isso. A maioria das
especificidades sobre disciplina ética são claramente óbvias. São baseadas em
alertas que todos conhecemos, tal como: faze aos outros o que queres que te
façam. Em outras palavras: tenha compaixão, seja bondoso, seja paciente e tenha
amor.
Há uma instrução em disciplina ética que
pessoas modernas negligenciam ou evitam, e em alguns casos nada sabem dela. É a
instrução que todo monge, freira, padre ou iogue recebe, que é estar num estado
de Brahmacharya ou pureza sexual. Essa instrução é extremamente significativa.
Modernos estudantes de meditação negligenciam esse alerta e acham que se aplica
unicamente a monges, freiras e padres. Na verdade se trata da real fundação que
estabiliza a consciência. Nosso uso da energia sexual tem um tremendo impacto
em nossa psique. Brahmacharya ou castidade sexual não se refere à repressão ou
evitação da sexualidade. Contrariamente, refere-se a um uso saudável da energia
sexual: um uso da energia que abandona o desejo, que é aproveitada para
intenções espirituais. A fim de tornar isso mais fácil, o estudante recebe
instruções para exercícios em que a energia pode ser reaproveitada e
transformada com o objetivo de nutrir a livre consciência, em troca de
alimentar a sensualidade, o orgulho, a inveja, a ganância, a gula e todas as
demais tendências a que nossa energia sexual se inclina em alimentar quando não
está sob o controle da disciplina espiritual.
A energia sexual é criativa, mas também é
destrutiva. A pessoa bastante responsável sobre o desenvolvimento de sua
consciência e auto libertação do sofrimento, virá utilizar o poder sexual para
aquela libertação. Significa estar envolta pela disciplina ética ao uso da
sexualidade. Em síntese, a disciplina ética da sexualidade conduz a retornar
aquela energia para dentro de si próprio na intenção do desenvolvimento
espiritual a fim de se libertar de sua submissão ao desejo animal à luxúria,
fazendo algo puro, humano, algo que suporte o desenvolvimento e crescimento da
consciência libertada.
6. Estancar Pensamentos de Desejos
O sexto pré requisito é estancar pensamentos
de desejos ou pensamentos que são manobrados pelos desejos. Quando de fato observamos
e honestamente prestamos atenção aos nossos pensamentos, emoções e aos impulsos
que se movem o tempo inteiro através de nossa psique, descobriremos que eles
são fortemente endereçados a todos os tipos de atrações pelos desejos de
sensações. Em síntese, pensamentos, emoções e impulsos no corpo estão, na maior
parte do tempo, enraizados nos desejos. Então, para este sexto pré requisito
estancar os pensamentos de desejos é necessário transformar aquilo.
Ao invés de sermos escravos de nossos pensamentos
e sermos sempre pegos em seu constante fluxo, aprendemos a ter o controle de nossa experiência psicológica e a observar
o conteúdo dos pensamentos e emoções a fim de nos tornarmos cônscios deles.
Começamos a questionar: de onde provêm esses pensamentos? Quem está realmente
pensando? Sobre o quê, em verdade, são esses sentimentos? Há um desejo que
esteja estimulando esse pensamento ou essa emoção ou esse impulso a agir? O que
realmente esse desejo quer? É compatível com minhas aspirações espirituais ou é
contraditório?
Se formos honestos conosco, atestaremos que a
maioria dos pensamentos, sentimentos e impulsos que experienciamos incide na
gratificação dos desejos; a atração corre em direção às sensações e
circunstâncias. É extremamente raro eles terem algo a ver com valores
espirituais. Um modo de trabalhar esse estado de condicionamento psicológico de
que somos possuidores é inverter nossa visão sobre esse ponto. Quando nos pegarmos
a pensar, sentir e a seguir os impulsos mecânicos e animais, enraizados nos
desejos, devemos então refletir sobre a impermanência, a inevitabilidade da
morte, e sobre causa e efeito.
Ao nos sentirmos atraídos a adquirir algo; a
termos uma experiência ou estarmos atraídos por uma pessoa e não conseguirmos
deixar de pensar sobre isso, precisamos refletir da natureza dessa atração. O
que isso significa? O que há no interior disso? Por que somos uma vítima disso?
Por que isso nos está direcionando? Mesmo que consigamos a coisa que desejávamos
não a teremos por muito tempo. Sofremos agora por não tê-la. Após a termos,
sofreremos pelo medo de perdê-la e eventual e inevitavelmente a perderemos.
Então, quando a perdermos, sofreremos. Por que então entrar nesse inteiro
processo? Por que entrar no processo em sendo uma vítima do desejo e uma vítima
do sofrimento? Por que, exatamente, não renunciar àquele desejo agora e evitar a
todo o anunciado sofrimento?
Deste modo, podemos transformar essa tendência
de pensar constantemente em tudo que desejarmos, de estarmos jogando emoções e
impulsos sobre as coisas a fim de obtermos e experienciarmos delas. Obviamente que
para realizarmos isso temos de ser autoconscientes, auto-observantes.
Precisamos estar observando nossa mente, intelecto, sentimentos, coração e
corpo. Precisamos estar vigilantes e despertos. Nesse processo da plena
consciência e vigilância estaremos desenvolvendo a concentração e a serenidade
meditativa. Nisso desenvolvemos também nossas habilidades para a meditação e
para reconhecermos a diferença entre nós e nossos pensamentos.
O ponto essencial para todos esses pré
requisitos é o modificar de nossos comportamentos de tal maneira que não mais
tenhamos nossa psique interrompida. Ao invés de nos causarmos maiores
distúrbios psicológicos temos de modificar nossos comportamentos, ações,
pensamentos, sentimentos e o modo de usarmos nosso corpo, conduzindo-nos
através da serenidade e tranquilidade. Isso é possível alcançarmos pelo
abandono de nossos maus comportamentos, dos maus modos de pensar, das emoções
nocivas e das ações perversas do corpo. A mente se estabiliza naturalmente e a
psique mergulha num estado igualmente natural de calma.
A razão de nossa mente estar perturbada e
instável prende-se a não conseguir concentrar nem relaxar devido aos nossos
comportamentos. Ao nos aplicarmos a esses dois pré requisitos eles convergem
aos nossos comportamentos (físicos e psicológicos) e a serenidade vem tornar-se
o natural destaque. Isso é simples causa e efeito.
Permitam-nos enfatizar novamente que a base
de toda essa mudança é energética. É a energia que nutre nossas ações. A
energia mais poderosa que possuímos é a sexual. Podemos realizar todas as
mudanças éticas, meditar diariamente por horas, mas se não estivermos
trabalhando com a energia sexual de um modo correto, nunca aprenderemos da
verdadeira serenidade. A energia sexual detém o maior poder de perturbar a
mente, o coração e o corpo. Inversamente, é também o maior poder para criar a
serenidade na mente, no coração e corpo. Então, se realmente desejarmos
aprender a meditar, sejamos sérios no sentido de também transformarmos nossa
vida sexual.
Tudo isso será somente o primeiro aspecto da
preparação para a serenidade. Se observarmos esses passos e praticá-los veremos
que eles significam a troca das coisas que nos dão descontentamento, que nos
vem causando dor, ansiedade, raiva, inveja, orgulho, sensualidade e todas as
demais qualidades que são opostas à serenidade.
Se quisermos serenidade na meditação, se
quisermos adentrar esse caminho e estabilizar a nossa psique de modo a podermos
refletir a realidade e adquirirmos sabedoria, então necessitamos parar de nos
comportarmos de maneira contraditória. Observemos, reconheçamos os
comportamentos com que nos desempenhamos, que nos causam a não serenidade, e
então mudemos. Somos invejosos? Estamos descontentes, ansiosos, estressados,
luxuriosos, raivosos? Transformemos tudo isso.
A maioria de nós pensa assim: “ficarei
contente se conseguir me mudar, se puder sair de minha cidade, meu local, meu
apartamento; se puder encontrar uma namorada ou namorado, se conseguir melhor
emprego”. Todos achamos que coisas exteriores nos trarão contentamento. Não
trarão. Todas as circunstâncias exteriores nos criarão exatamente o mesmo
problema. Nosso descontentamento não é causado pelas coisas exteriores, mas por
nossa psique.
Em resumo: esses seis passos estão encadeados
para conduzir-nos a uma nova atitude; ensinar-nos a nos transformar; a
encontrarmos contentamento para o momento; a sermos cônscios de nós próprios; a
estarmos relaxados não permitindo aos desejos e ao descontentamento estarem ao
comando de nossa experiência psicológica; para termos nossa força de vontade
focada no momento: aberta, não desejosa, não alheia, percebendo a realidade,
observando os fatos, vendo as coisas como são e manobrando com elas. É tudo muito
prático: pés no chão e não estarmos com a cabeça nas nuvens, não sonharmos
sobre o nirvana ou paraíso, não enfatizarmos sermos uma pessoa espiritualizada;
é estarmos no momento, vivendo com plena atenção, com a consciência integrada ao
completo poder de nossa habilidade em perceber, recebendo aquela informação e a
transformando. Falamos sobre algo que é muito energético, muito consciente. Se
pudermos começar esse processo então estaremos realizando o que é chamada auto-observância.
Auto-Observância
Auto-Observância é a continuidade da nossa
própria conscientização de momento a momento. Não é a simples e casual
conscientização, mas uma ativa observância. Diz sobre estarmos olhando os
fatos, relaxando e continuamente observando.
Relaxar não é o elemento chave. Podemos
observar que quando nossa habitação ou lar é um lugar de caos estamos sempre
irritados e incomodados. Isso nos deixa estressados e não conseguimos relaxar.
Quando não estejamos contentes; cheios de tantas coisas de atividades, ficamos
estressados e não relaxados. Não detemos boa ética. Mentimos, fornicamos,
cometemos adultério, trapaceamos, não estamos sendo honestos, ficamos ansiosos.
E tantas outras coisas mais! Que dizer das eleições; do presidente? Sobre a
guerra?
Todas essas informações fluindo sobre nós o
tempo todo nos fazem muito tensos, estressados e caóticos. Acontecem por que
não as estamos transformando. Essa é a escolha que devemos fazer. Ao mudarmos
nossa atitude mudamos também as coisas que podemos mudar em nosso meio
ambiente. Talvez haja algumas coisas que possamos melhorar em nosso lar: sejam
nossos comportamentos, atitudes ou atividades em que estejamos envolvidos.
Talvez possamos diminuir coisas de que não necessitamos estar fazendo. Porém,
principalmente, necessitamos aprender a mudar nossa experiência de cada
momento. Necessitamos estar presentes a observar fatos e relaxar.
Esse relax é para o corpo inteiro o tempo
todo; a qualquer momento que possamos nos lembrar. O que estejamos a fazer – no
trabalho, dirigindo o carro, em casa, lavando pratos, lavando a roupa –
tornemo-nos cônscios a nós próprios. “Por que estou tenso? Estou somente
lavando a roupa! Por que minha mente dispara quando estou somente lavando roupas?”.
Relaxemos e estejamos totalmente presentes. Não há necessidade de pensarmos
sobre o amanhã ou o ontem. Vejamos o que estamos a fazer e unicamente façamos
aquilo. Descartemo-nos de tudo mais. Respiremos, relaxemos e observemos.
Mantenhamos essa continuidade, ação após ação.
Quando estivermos no trabalho tratando com
nosso empregador, e com pessoas a quem servimos, precisamos aplicar o mesmo
princípio. Notemos que em meio a uma conversação ficamos muito tensos,
começando a agir de diferentes modos a fim de impressionar as pessoas, a
agradar-lhes para influencia-las nas suas atitudes conosco. Por que fazemos
isso? Por que não ficarmos relaxados e sermos nós mesmos? Por que não sermos
honestos? Por que não ficarmos contentes e não nos ligarmos ao fato de gostarem
ou não de nós, se nos elogiam ou nos censuram? Ao sermos honestos conosco
podemos ser fortes naquilo, ao invés de ficarmos passivos, decepcionados, não
agindo como somos de fato. Se estivermos agindo como fôssemos outra pessoa,
normalmente ficaremos ansiosos por não sermos genuínos.
Essas coisas são simples, mas produzem um
grande impacto sobre nossa psique.
Todas essas ações cumulativas através do dia
estarão a produzir nossa experiência de vida. Se estivermos experienciando
descontentamento, ansiedade, estresse, estaremos nós mesmos criando cada vez
mais essas coisas. Se, entretanto, pudermos mudar nossas atitudes aprendendo a
observar e relaxar durante todo o tempo, tudo mais mudará.
Existe um princípio fundamental, uma lei da
natureza: “se mudarmos interiormente, tudo mais exteriormente também mudará”.
Isso é uma lei da natureza, não é uma teoria, e podemos comprova-la.
Observemos as pessoas. A alguém que tenhamos
conhecimento de sua vida por muito tempo e subitamente comece a beber, a fumar,
a dormir em qualquer canto, tornando-se um viciado, um mentiroso e ladrão.
Podemos observar como sua vida foi para dentro do toilette. Agora, observemos
outra pessoa que tenha sido má e tenha feito coisas ruins, porém tenha mudado,
desistido dos vícios, desistido de ser desonesta e constatemos como sua vida
tem melhorado. Essas mudanças refletem leis da natureza. São observáveis,
factuais e comprováveis. Vivamos por nossa própria conta.
Escolhamos ações superiores e recebamos
resultados superiores.
Todas
essas coisas concernem à nossa vida diária. Em nossa vida diária implantamos um
ambiente psicológico. Podemos tornar essas coisas bem claras a nós próprios. O
modo como estamos engajados no mundo vem criando um ambiente para nossa psique.
Se estivermos nos comportando de um modo superior e apropriado, aquele nosso
ambiente também se torna apropriado para a meditação. Somente num ambiente
desses a meditação pode grassar. Aquele que for viciado em drogas, álcool,
sexo, dinheiro, em divertir-se e em todas as coisas que podem viciar, esse
nunca chegará a aprender meditação até que largue os vícios. Qualquer tipo de
atividade ou comportamento que produza descontentamento, desequilíbrio, ódio,
dor, ansiedade e todos os tipos de semelhantes qualidades [negativas]
contraditórias à serenidade, contradizem à meditação. A meditação acontece
quando a psique está calma e serena. Ao ouvirmos pessoas a falar sobre vida
espiritual, encorajando o uso de drogas, do álcool, ao abuso do sexo e a
considerarem quantidades do dinheiro envolvido, estão mentindo.
2. Prática Para Serenidade Meditativa
Uma vez criado o ambiente psicológico
entramos na verdadeira prática para o desenvolvimento da concentração de modo a
eventualmente conseguirmos acessar o estado de meditação.
A prática tem dois aspectos:
- Postura Efetiva
- Prática Efetiva
Ao longo de nossa vida diária nossa atitude
psicológica encontra-se fora de controle, onde não estivemos cultivando o
relaxamento e a tranquilidade; então, ao tentarmos meditar não conseguimos
ficar relaxados. Voltando a nossa casa após um dia maluco: ansiosos, zangados,
tristes e querendo meditar – será muito difícil conseguirmos. Podemos nos
sentar e tentar meditar, mas pode nos tomar muito tempo para sairmos daquela
intensidade. Vemos agora como faz sentido termos nossa vida diária cultivada
com a serenidade antes de praticarmos meditação, visto que, ao virmos para a
nossa meditação precisarmos nos ter mantido relaxados o dia inteiro a fim de
que a meditação se tornasse fácil. Então, com essa atitude, já teremos vencido
esse estágio e nosso corpo estará relaxado, nossa mente pronta, e igualmente
pronto estará nosso coração.
Postura Efetiva: Relaxamento & Vigília
Figura 5
Postura
Postura
A efetiva postura significa primeiramente
estarmos relaxados. Essa é a coisa mais significativa. Temos de estar completa
e plenamente relaxados; não unicamente física, mas também mental e
emocionalmente. Na linhagem da meditação tradicional existem posturas
específicas recomendadas, que são muito boas. Há a tradicional postura do lótus
ou a postura meio-lotus que a maioria das pessoas associa com meditação por uma
razão. É um fundamento extremamente efetivo para a prática da meditação,
contudo não seja o único. Podemos nos sentar ao estilo japonês, com as pernas
dobradas debaixo de nós. Podemos nos sentar numa cadeira, com mãos nos joelhos,
pés no chão e costas retas. Essas posturas básicas não são as melhores para
iniciantes terem sua espinha reta, sua cabeça em pé e o corpo relaxado. A razão
de querermos estar empertigados, sendo iniciantes, prende-se a não cairmos no
sono.
Como iniciantes, estamos aprendendo a relaxar
o corpo, a traze-lo daquela intensidade do stress e da busca por desejos, para
um estado de contentamento. Entretanto, o hábito com que estamos hoje em dia
acostumados é de, ao nos sentarmos ou nos largarmos para relaxar, cairmos
diretamente no sono. Na prática meditativa não queremos cair no sono e perder a
consciência. Então, aprendemos a manter uma postura onde possamos relaxar,
embora permaneçamos vigilantes. A vigília significa mantermos nossa consciência
presente ao que estejamos fazendo. Por vezes usamos a palavra sonolência ao
falarmos sobre prática meditativa. Algumas linhagens condenam a sonolência. Dizem
não devermos ficar sonolentos. Estão significando que não devemos cair no sono
perdendo nossa consciência. O que significamos por sonolência é quando o corpo
esteja tão bem relaxado que não tenhamos de prestar-lhe atenção, o que é
idêntico a quando nos preparamos para tirar uma soneca ou dormir. O corpo se
torna exatamente imóvel. Essa é a melhor postura a conseguirmos para a
meditação. O que devemos querer em nossa prática meditativa é estarmos aptos a
esquecer o corpo, colocando-o naquela postura e o deixando ali, parado,
perfeitamente imóvel. Ademais, com a sonolência acessamos facilmente o poder da
imaginação, que é supinamente importante para o acesso ao samadhi. Adiante,
falaremos mais sobre esse assunto
Nosso objetivo, conforme explicado em palestras
anteriores, é retirarmos nossa consciência para fora do corpo físico.
Relembremos: Malkuth representa a fisicalidade. Cada uma daquelas esferas acima
de Malkuth representa outros aspectos de nossas experiências energéticas e
psicológicas: energia, emoção e vontade. Devemos querer relaxar para além
daqueles fatores condicionantes. Não conseguiremos fazer isso se nosso corpo
físico estiver desconfortável, com dores e nos perturbando. Daí necessitarmos
estar aptos a colocarmos o corpo numa postura em que possa descansar, estar
contente e imóvel. Para tanto necessitaremos do relaxamento.
Prática Efetiva
A prática efetiva requer dois componentes:
Atenção plena (corda): atenção é não nos distrairmos do objeto da concentração.
Vigilância (gancho): conscientização de
estarmos distraídos.
Esses dois componentes estão representados
pelos implementos que o monge carrega. Na sua mais básica forma, atenção plena
significa permanecermos atentos ao que estejamos fazendo. Ao estarmos lavando
pratos permanecemos atentos nessa tarefa? Se formos honestos diremos, não. A
maioria de nós lava pratos pensando em qualquer outra coisa. Lavamos
mecanicamente. Não prestamos atenção àquilo; ouvimos o rádio ou pensamos sobre
o trabalho, sobre aquela pessoa atraente que vimos, ou sobre aquele produto que
desejamos comprar na internet. Lembramos dos problemas que tivemos naquele dia
ou dos problemas que iremos tratar amanhã, continuando a lavar os pratos sem
nos conscientizarmos de nosso corpo. Isso é falta de atenção plena, o que será
um obstáculo para a meditação. Para estarmos aptos a meditar necessitamos de
uma atenção bastante forte. Significa nossa atenção não estar distraída sobre o
que estejamos concentrados. Ao iniciarmos o procedimento do desenvolvimento da
serenidade meditativa, aprendemos a colocar nossa consciência num só objeto,
mantendo-a ali, retirando nossa atenção de qualquer outra coisa.
Uma prática comum e básica a usarmos é a
mecânica da respiração. Ao observarmos as sensações da respiração na medida em que
acontecem, e sem muda-las, mantemos nossa atenção naquilo. Atenção plena é como
aquela corda entre o lugar de onde a consciência procede e o objeto que estejamos observando. É uma corda que nos
conecta. Estarmos cônscios sobre o que estejamos fazendo é atenção plena. É
isso o que devemos aperfeiçoar. Podemos desenvolver a atenção o dia inteiro
durante todas as nossas atividades. Ao dirigirmos o carro estejamos
inteiramente atentos à direção. Devemos estar cônscios do que fazemos,
observando a continuidade daquela conscientização. E ao ficarmos distraídos, de
novo trazermos de volta nossa atenção permanecendo atentos continuamente,
cônscios sobre tudo o que estivermos fazendo. Desse modo, estaremos
desenvolvendo nossa prática meditativa mesmo ao volante, andando, lavando
pratos ou enquanto trabalhamos. Nossa vida se fortalecerá para o objetivo do
desenvolvimento espiritual.
O gancho que ele mantém na sua outra mão é a
vigilância. Isso é usado para vigiar quando começarmos a ficar distraídos. Digamos
que estejamos a meditar observando nossa respiração, então estamos vigilantes de
que os pensamentos começam a acontecer sobre o show na tv, e puxa! Foi
engraçado quando tais e tais fizeram isso e aquilo, e quando disseram isso
também, aha aha....[risos]. Então nós nos pegamos: ah, não estou prestando
atenção. Esse é o gancho da vigilância trazendo-nos de volta àquele objeto da
concentração.
Essas
duas ferramentas são significativas.
Quando inicialmente estiverem aprendendo a
meditar se sentirão impossibilitados de executar qualquer delas. Daremos a
instrução para todos relaxarem, vocês tomarão uma postura e diremos: Okay,
agora observem sua respiração, não prestem atenção a nada mais e coloquem 100%
da atenção nas sensações respiratórias”. Começarão na observação por cinco
segundos, dez segundos, quinze segundos, então se lembrarão de um episódio de
algum show na tv quando foram crianças, que foi muito engraçado. Vinte minutos
se irão e eu direi: “Okay, feito”. Vocês dirão: “Espere um minuto. Tudo o que
eu fiz foi pensar sobre tv”. Parecerá frustrante. O que essa experiência
demonstra é quão pouca atenção, quão pouca vigilância detiveram, não unicamente
na meditação, mas pelo dia inteiro. Então terá sido uma boa experiência que
mostrará o quanto de trabalho será necessário realizar. É uma experiência
penosa, mas bela. Esse é o momento inicial e quando conseguirmos realizar
exultaremos: “Uau! Isso é real. Eu posso mudar!”
Mudamos isso através de nossas atividades
diárias, praticando diariamente. Pouco a pouco nossas ferramentas vão ficando
melhores. Ficamos mais fortes. Tornamo-nos capazes de manter a vigilância em
tudo o que estivermos fazendo em longos períodos. Nossa vigilância desenvolverá
de um modo a estarmos sempre ali, aguardando para ver se nos distraímos e nos
pegar para trazer-nos de volta ao foco do objeto da meditação.
Isso é fundamentalmente como começamos a
caminhada ao longo da trilha da serenidade.
Primeiro Estágio da Serenidade Meditativa
Figura 6
Fixamo-nos na psique pela retirada da atenção
de qualquer outra coisa e a conduzimos diretamente para um único foco.
O primeiro estágio mostra um monge
perseguindo um elefante e um macaco. O elefante representa a dureza e o peso da
mente que se encontra fora de controle. A mente está sendo ao longo conduzida
pelo macaco, que está sempre distraído e curioso, sempre navegando na internet,
indo ao facebook, indo aqui e ali, interessado nisso, naquilo, sempre escapando
da verdade. Nós, como pessoas espiritualizadas, a consciência que deseja mudar,
temos de perseguir esses animais em nossa mente. Para fazermos isso,
necessitamos da corda e do gancho.
Então, através de nossa vida diária e também
através de nossa prática diária da concentração, necessitamos aprender a fixar
a psique pela retirada da atenção de qualquer outra coisa e a conduzirmos
diretamente para um único foco.
Esse é o estágio um. Cada buda, anjo e mestre
que por certo aprenderam a se tornar naquilo o que são, começaram aqui. O
começo não é fácil. É o que o fogo a esquerda representa, ou seja: a
intensidade de esforços que isso exige, a quantidade de energia que nos toma
para nos mantermos cônscios de nós próprios, muitas e muitas vezes. O Buddha
Shakyamuni disse que em nossa prática a mente vagueia milhares de vezes e a
retornamos para a vigília milhares de vezes e que isso era uma bela meditação.
A chave é mantê-la quando estivermos
distraídos e trazer de volta nossa atenção ao objeto da observação. Isso tem de
ser um esforço diário e continuado, todos os dias sem exceção. É isso que
inicia o processo de mudança. Se fizermos assim uma vez na semana nunca
chegaremos a lugar algum. Desistiremos. Entretanto, se trabalhamos nisso
diariamente, fazendo o máximo esforço que possamos, então chegaremos na mudança.
Chegaremos. É inevitável. É científico.
Esse esforço tem dois componentes:
Concentração diária: nessa experiência diária,
o dia inteiro, é estarmos vigilantes, presentes e relaxando, observando o que
estejamos fazendo, não ficando distraídos, e quando começarmos a nos distrair,
retornamos a atenção à completa conscientização naquilo ao que estejamos
fazendo no momento.
Prática de concentração diária: todos os dias
tomando dez ou vinte minutos sentados, fechando todos os nossos sentidos e
focalizando a concentração numa só coisa. Essa coisa pode ser o que desejarmos,
mas não mudando isso. A observância ao
fluxo natural da respiração é a mais simples: temos sempre ela conosco. É
justamente observar as sensações da respiração por nossas narinas. Não mudemos
nossa respiração, não a modifiquemos, somente a observemos: existem pequenas e
constantes mudanças naquelas sensações, assim unicamente as observemos e
vejamos não somente o quanto detalhada e focada nossa concentração pode ser,
mas também o quanto contínua.
Se quisermos realmente levar a concentração a sério precisaremos
fazer isso duramente, porém com mais efetivos exercícios: primeiramente,
observarmos um objeto sagrado, como uma estátua ou imagem de divindade.
Digamos, uma imagem de Jesus ou Buddha ou alguma divindade. Memorizarmos o que
vemos. Em outras palavras, trazermos o quadro mental daquilo. Depois usarmos
aquele quadro mental como nosso objeto de foco. Fechamos os olhos e o visualizamos.
Isso é bem mais difícil que observarmos a respiração, mas proporciona mais
frutos.
Faz-se necessária a prática da concentração nesse
mesmo modo pelo dia inteiro. Para iniciantes é eficiente fazerem isso em
pequenas sessões a fim de não se exaurirem: façam por dez minutos, deem uma parada
e se desejarem façam outra sessão por mais dez minutos, deem outra parada, etc.
Isso é o começo do treinamento da atenção.
Segundo Estágio da Serenidade Meditativa
A continuada fixação envolve a atenção que
foi inicialmente direcionada para o contínuo foco sem ficar distraída por
qualquer outra coisa.
Ao trabalharmos seriamente com aquelas duas
áreas de práticas alcançaremos o segundo estágio. Aquele estágio que mais estaremos
mirando a fim de diretamente desenvolvermos a maior continuidade da atenção.
No primeiro estágio aprendemos a colocar a
atenção numa só coisa. No segundo estágio estaremos constantemente trazendo
isso de volta. Eles nos soam muito familiares. A diferença está em que no
segundo estágio já existe um pouco mais de atenção e vigilância, significando
determos alguma conscientização de que devemos nos concentrar naquilo que
estejamos fazendo. No gráfico podemos ver agora que existe um pouco de branco
nos animais. Aquele branco é claridade, serenidade, concentração, fixação, etc.
Ilustra como a psique começa a se tornar um pouco diferente. Ao invés de
estarmos indômitos durante todo o tempo temos esses momentos em que
experienciamos paz. Podem acontecer a qualquer hora. Podem ser durante o dia ou
durante nossa prática de meditação, entretanto começamos a perceber o fato.
Podem acontecer assim: “Uau! Realmente me sinto relaxado, sinto-me vigilante e
um pouco mais concentrado”. É algo muito bonito começarmos a ver esse fruto. Se
realmente estivermos fazendo o esforço a fim de desenvolver esses dois aspectos
da concentração – diariamente com atenção plena e diariamente com práticas
concentradas – então estaremos iniciando uma mudança dinâmica em nossa
experiência de vida e os resultados emergirão inevitavelmente. É simplesmente
causa e efeito: produzimos as causas e os efeitos chegarão.
Os efeitos dessas práticas começam
primeiramente com momentos de serenidade, paz, calma, contentamento simples. Do
mesmo modo em que estejamos praticando atenção plena durante todo o tempo,
esses efeitos podem emergir a qualquer hora. Então, sejamos pacientes,
persistentes, e confiemos na inevitabilidade da causa e efeito.
Exercícios
Todos os dias para desenvolver a todo momento
a auto-observância. Também para ampliar a atenção plena: o espaço de tempo em
que estejam cônscios de vocês mesmos.
Todos os dias desenvolver a concentração
meditativa. Adotar uma postura de meditação, relaxar completamente e então
focalizar 100% da atenção sobre um objeto escolhido.
Escrever os fatos de seu dia em seu Diário
Espiritual
Ao desejar serenidade e a possibilidade de
eventualmente acessar a meditação, colocar essas ideias em prática na vida
diária: observar-se todos os dias, realizar a concentração meditativa todos os
dias, e reportar aos fatos de sua experiência num diário espiritual. É assim
que se torna responsável a si mesmo e honesto consigo próprio. O diário não é
para qualquer um estar olhando. É só seu. Pode ser simples ou implementado como
cada um o queira. Começar a reportar pelo mínimo: “hoje fiz esforço, hoje
aprendi isso e hoje pratiquei por dez ou vinte minutos”.
Começar recordando esses fatos sobre seu
trabalho espiritual e pouco a pouco começará a ver que produzem percepção;
muita percepção. Algumas dessas serão dolorosas. Se, entretanto, reconhecer
aqueles locais de dor é possível trabalhar neles e eles se desfarão. Se não
vê-los e não manobrar com eles a dor ainda continuará ali. Melhor aprender
sobre eles e a manobra-los.
POR UM
INSTRUTOR GNÓSTICO
Fonte:https://gnosticteachings.org/courses/meditation-essentials/3786-meditation-essentials-06-preparation-for-serenity.html
Anterior:
https://arcadeouro.blogspot.com/2019/04/fundamentos-da-meditacao-5-o-caminho-da.html
Tradução Inglês / Português: Rayom Ra
Anterior:
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Tradução Inglês / Português: Rayom Ra
Rayom Ra
http://arcadeouro.blogspot.com.br