Hoje vamos conversar sobre obstáculos
específicos que o iniciante enfrenta na prática da meditação. Há muitos
obstáculos para a meditação e em palestras anteriores destacamos alguns dos
pontos mais fundamentais:
1. Não conhecimento do que seja a consciência
e não conhecimento em como trabalhar com ela. Todos temos ideias sobre
consciência, porém precisamos saber experiencialmente, no momento, o que seja e
como usá-la. Esse foi o motivo daquela palestra: Fundamentos da Meditação (2) –Consciência:(https://arcadeouro.blogspot.com/2019/01/bases-fundamentais-da-meditacao-2.html)
2. Falta de Energia. Normalmente não temos
energia, uma vez que a gastamos, a esbanjamos, por tê-la investido em ações
nocivas. Necessitamos aprender como economizá-la, transformá-la a fim de
nutrirmos a consciência diariamente. Eis porque demos esta palestra Fundamentos
da Meditação (3) – Energia:
3. Cometendo ações que impedem a meditação.
Temos tendência a agir de modo a contradizer nossos objetivos espirituais.
Necessitamos firmar os pré requisitos para boa prática; precisamos de boa
ética, de sabermos como as ações conduzem para consequências quando nos
comportamos de algumas maneiras, e que, de certos resultados, sempre decorrerão
consequências: assim, a ignorância sobre isso é um enorme obstáculo diante de
nós. Eis porque demos a palestra: Fundamentos da Meditação (4) – Ação e
Consequência:
Na
palestra de hoje vamos além daqueles obstáculos preliminares. Estaremos falando
sobre obstáculos que surgem quando de nossa prática ou mesmo quando acontecidos
durante nossos exercícios preliminares, ou ainda, na real prática da meditação.
Anteriormente explicamos que o estado de meditação é um estado preciso da
consciência que viremos acessar quando tivermos aprendido como aproveitar a
concentração e a imaginação juntas – ao mesmo tempo. Para fazermos isso é
requerido treinamento; nesse sentido, a maioria dos iniciantes logo começa com
esse desenvolvimento.
Treinamento Preliminar da Concentração
Nas seis primeiras palestras desse curso
vimos encorajando-lhes a praticar diariamente:
1. Auto-observância
2. Concentração
Auto-observância é atenção plena nas ações
pessoais. Significa estarmos sempre atentos conosco mesmo, presentes no
momento, cônscios de nosso corpo e coração, cônscios de nossa mente e
cognizantes do que estejamos realizando naquele instante. Esse é o primeiro
exercício; aquilo que estabiliza o início de tudo da meditação. Se não o
estivermos fazendo nunca aprenderemos a meditar.
O segundo exercício é para desenvolvermos
nossa concentração diária ao estarmos fazendo as práticas preliminares da
concentração. Uma prática fácil para isso é a observação das sensações da
respiração. Se estivermos seguindo esse curso estaremos fazendo aqueles
exercícios agora, para doze ou catorze semanas.
Entremos agora numa outra fase do trabalho em
que estaremos deixando para trás os exercícios preliminares, algo que seja mais
difícil, porém incrivelmente importante: visualização.
Treinamento Mais Profundo da
Concentração
Concentração, serenidade é um estado de
consciência; é uma ação da consciência onde ela utiliza energia. Vemos esses
fatores aqui?
1. Consciência
2. Energia
3. Ação
Necessitamos estar bem cônscios dessa
trindade. O poder dos três cria e criará de acordo com a ação. Estamos
aprendendo a concentrar nossa consciência pelo uso da energia no modo certo; e
o resultado é serenidade. O resultado do uso daqueles três em harmonia é prontamente começarmos a avançar através dos
nove estágios da serenidade anteriormente explicados. Isso acontece devido a
uma causa e efeito procedidos; e não por crenças, teorias ou por um presente
dos deuses.
Figura 1
Os Nove Estágios da Serenidade Meditativa
Serenidade é o resultado de como colocamos nossa
consciência e energia em ação. Isso é tudo o que determina nosso progresso
através dos estágios da concentração. Significa que se não estivermos
experienciando uma mudança em nossa concentração será simplesmente por não
estarmos ainda produzindo a causa que cria o resultado desejado.
As Definições das Características da
Concentração
Nessa tradição aprendemos que concentração
como um estado da consciência tem dois importantes atributos os quais
necessitamos estar aptos a identificar em nossa experiência prática,
especificamente na prática meditativa. Esses dois distintos atributos são:
1. Vívida intensidade, intensa clareza mental
2. Estabilidade, convergência única na concentração
Estabilidade – convergência única na
concentração – é a habilidade de permanecermos focados em alguma coisa sem
oscilações. Vívida intensidade é visual, imagem, algo perceptível; não sendo
imaginário, não exatamente metafórico. Significa que a concentração real é uma
forma de percepção visual. Daí, para desenvolvermos a concentração real devemos
usar imagem visual. Isso destaca o fato de que a maioria das práticas que as
pessoas chamam “meditação” são exatamente treinamentos preliminares de
exercícios para relaxamento ou início de tudo para os objetivos da
concentração. A concentração real utiliza o poder integral da consciência, cuja
verdadeira natureza e função é a percepção da imagem.
As palavras “clareza” e “vívida” indicam a
habilidade em perceber algo sem qualquer obscuridade. Se eu perguntar-lhes para
lembrar o que tiveram no café da manhã, uma imagem salta em suas memórias e
perceberão aquilo, mesmo que seja somente por um instante. Quão clara será
aquela imagem? Podem sustenta-la sem se distrair? As qualidades dessa
recordação são um reflexo de sua habilidade em concentrar. Se aquela imagem for
fraca, passageira e de difícil percepção então vocês terão muito trabalho a
realizar. Todos temos habilidade em perceber imagens não físicas; chamamos a
isso imaginação ou visualização. Podemos também chamar clarividência; é a mesma
coisa. Isso é simplesmente habilidade em perceber imagens sem os sentidos
físicos. É um poder da consciência, desenvolvido pelo estabelecimento de forte
concentração e serenidade. Quando nossa psique está bem calma essa habilidade em
perceber sem os sentidos físicos é aprimorada, ficando muito mais vibrante.
Quando temos grande quantidade de energia disponível para a percepção
consciente, a imagem resulta muito mais intensa.
Uma vez não tenhamos boa disponibilidade de
energia a visualização se revelará impossível. Muitas pessoas ao procurarem
aprender meditação e não conseguindo após algumas tentativas, desistem,
dizendo: “Impossível, não consigo fazer isso”. Qualquer um consegue.
Visualização e concentração são habilidades naturais da consciência, mas
precisamos restaurar o ambiente no qual possam funcionar adequadamente. Significa primeiramente
precisarmos remover os obstáculos iniciais anteriormente mencionados.
Necessitamos também trabalhar com a consciência, conservar energia, coloca-la
na correta ação e melhorar nossa ética. É através desse processo que a
concentração e a visualização se tornam possíveis florecer e desenvolver
adequadamente
Em nossos exercícios essas são as qualidades
que necessitamos estar buscando na medida em que desenvolvemos a concentração:
1. Vívida intensidade, intensa clareza mental
2. Estabilidade, convergência única na
concentração
Como iniciantes não temos ainda essas
qualidades. Então não esperemos tê-las, mas entendamos que se praticarmos
meditação no modo certo as desenvolveremos. Notemos também que ao estarmos
observando as sensações de nossa respiração ou a algum outro fenômeno físico
não podemos ainda desenvolver a visualização. Eis porque nessa fase do
desenvolvimento da concentração é melhor descartarmos esses tipos de práticas.
É mais efetivo usarmos práticas que aproveitem o poder da consciência para
imaginar. Dessa maneira, como exemplo, observaremos uma imagem e então
fecharemos os olhos e a visualizaremos.
Um Objeto Visual de Concentração
Olhemos essa figura, fechemos os olhos e
imaginemos
Figura 2
Avaliemos nossa clareza mental e convergência
única na concentração. Podemos perceber a imagem em nossa visualização? Se
pudermos, quanto tempo a manteremos até que fiquemos distraídos e ela se
desvaneça, ou antes que outra coisa qualquer apareça? Por quanto tempo
manteremos essa imagem claramente em nossa imaginação, vividamente e
estabilizada? Essa é uma mensuração de nosso poder de concentração e
visualização. Ao termos essa habilidade desenvolvida conseguimos manter essa
imagem por quanto tempo quisermos: clara e vividamente. A consciência tem
natural e espontaneamente esse poder; não é algo sobrenatural. Por que isso é
importante? Porque essa habilidade é que abre as portas para a meditação real.
Explicamos em palestras anteriores que nossa
meta é prajna – sabedoria profunda. Necessitamos da percepção profunda de nosso
sofrimento; precisamos compreender porque sofremos; precisamos compreender
porque as coisas são do modo como são. As causas estão profundas em nossa
psique e está muito difícil percebe-las em nosso estado psicológico atual, mas
se aproveitarmos os poderes da consciência na concentração e visualização
conseguiremos acessar um estado de percepção chamado samadhi, que é o portal
para prajna, a sabedoria.
Samadhi significa êxtase e se refere a um
estado da consciência quando liberado de todos os fatores condicionantes, tais
como o corpo físico, o orgulho, a luxúria. No samadhi a consciência percebe perfeitamente,
claramente, sem filtros, e vê o que seja real; vê a verdade. Se tivermos aquele
poder poderemos observar o que nos estará causando o sofrer, e ao invés de
responder com aversão, medo, lamento, remorso, dor, ressentimento, orgulho,
etc., poderemos observá-lo como ele é e vermos o que é o quê, entendermos nosso
carma, como responder corretamente e como mudá-lo.
Esse é um tremendo poder que permite ao
animal como um de nós tornar-se um ser humano, um deus, um mestre. É o poder de
vermos a verdade, de responder de modo cognizante, conscientemente,
apropriadamente. Essa habilidade em sermos capazes de visualizar algo e vermos
aquilo claramente, sem reação, é o fundamento que nos introduz ao próximo nível
de práticas, que é o nível que necessitamos. Então é uma habilidade muito
importante possuí-la.
Existem muitos objetos que podemos usá-los
para a concentração, porém para desenvolver essa habilidade e analisar a
realidade necessitamos do poder da visualização e eis porque para a real
prática, para a real preparação, necessitarmos abandonar a concentração nas
coisas físicas, aprendendo a desenvolver a habilidade em sustentar uma imagem.
É mais árduo, mas o resultado em ordem de grandeza é mais poderoso que a
habilidade em observar nossa respiração. Uma vez tenhamos essa habilidade
estaremos aptos a meditar sobre qualquer coisa e adquirirmos informação
daquilo. Essa é a realidade do porquê desejarmos aprender a meditar: de
recobrarmos o conhecimento em nós mesmos não tendo de nos ligar a nada, unicamente
às nossas próprias habilidades.
Os Primeiros Estágios do Desenvolvimento da
Concentração
Começando o desenvolvimento da concentração
passamos por três estágios
Figura 3
Estágios do Exato Enfoque
1. Fixação da psique. Atingida pela “aceitação”
2. Fixação continuada. Atingida pela “reflexão”
Como iniciantes temos ainda a mente
completamente indômita. Sentamo-nos com nossa postura, relaxamos, tentamos
colocar a atenção no objeto da concentração, mas estamos constantemente
distraídos; a mente e o corpo recusam cooperar. Ficamos distraídos pela dor,
pelo desconforto e agitação; queremos sair, levantar, beber um pouco d’água ou
o que for.
No estágio um, encontramos constantes
batalhas na tentativa de fixar a psique, e isso está ilustrado pelo monge que
persegue os animais. Os animais representam a qualidade da mente constantemente
distraída, sempre buscando coisas, não se fixando em nada. Entretanto, com
alguma força de vontade, com estudo, aprendizado dos ensinamentos podemos
avançar para o segundo estágio. Eis porque esse estágio é chamado “atingido
pela aceitação”. Aceitação significa que realmente começamos a escutar às
instruções sobre como concentrar, refletindo, e durante o esforço para meditar,
nas tantas vezes em que nos pegamos distraídos, mantermo-nos relembrando: “esse
é o caminho; é esse!”.
Não nos frustrarmos, não ficarmos
desencorajados, mas nos mantermos relembrando os ensinamentos: “tenho de
recolocar minha atenção, tenho de recolocar minha atenção!”. É assim, é ouvindo
[aceitando] em nós próprios a instrução. Ao
fazermos isso repetidamente, realizando diariamente aqueles esforços da
prática, dez ou vinte minutos por dia, pouco a pouco, na conformidade do
trabalho com nossa consciência o dia inteiro, na medida em que economizemos
energia, agindo apropriadamente na duração do dia, começamos a nos mover para o
estágio dois, que é “fixação continuada”. Isso significa simplesmente que
agora, ao praticarmos nosso exercício de concentração, nossa atenção
permanecerá estável por um pouco mais de tempo. Mente e coração começam a se
fixar um pouco mais.
Juntos esses dois são chamados “Estágios do
Exato Enfoque” ou “Engajamento Forçado”. Isso significa que tomam muito do
esforço para continuamente retornarmos a atenção ao objeto da concentração.
A segunda fase é alcançada pela “reflexão”,
significando estarmos começando a refletir mais sobre aquele ensinamento e
estaremos realmente começando a digerí-lo, a refletir do que vemos, em como a
concentração estará começando a se fortalecer, pois a mente começa a se fixar e
estaremos sentindo um pequeno benefício. Começamos a refletir do que estejamos
aprendendo.
Esses dois estágios do desenvolvimento são
difíceis, duros, a nada comparável. São exatamente como são. É entrarmos neles
para os conhecermos. É entrarmos preparados, sabedores de que é onde estaremos
face aos obstáculos. Onde seremos desafiados e onde a maioria desiste; um
triste fato. Qualquer um pode desejar aprender a meditar, mas é necessário
educar-se acerca de como fazê-lo, pois é necessária força de vontade para
realizar adequadamente. Estando aptos para compreendermos os ensinamentos e a
reconhecermos os obstáculos, então podemos aplicar-lhes os antídotos.
Falhas que Impedem a Serenidade
Vão aqui as principais falhas que
obstaculizam nessas fases iniciais:
1. Preguiça
2. Esquecimento das instruções
3. Não reconhecimento da agitação e
empedernimento.
4. Não aplicação de antídotos
5. Excessiva aplicação de antídotos
Se pudermos reconhecer esses obstáculos
enquanto estivermos praticando, podemos superá-los. São os únicos obstáculos que
teremos pela frente. É isso. Não são de tanta dificuldade.
Realmente somos sortudos: estando aptos a
aprendermos meditação e praticá-la, e esses sendo os únicos obstáculos com que
teremos que manobrar, somos muito sortudos. A maioria das pessoas do mundo
nesse momento não tem essa oportunidade. Existem pessoas com muita dificuldade,
ou em circunstâncias dolorosas, que desejariam pudessem desenvolver suas vidas
espirituais, mas não têm acesso aos ensinamentos; vivem em lugares que não as
permitem prática-los. Podem estar morando onde hajam guerras ou onde são
duramente perseguidas e não têm liberdade. E aqueles de nós que podemos ouvir desses
tipos de estudos e colocá-los em prática, somos verdadeira e extremamente
afortunados. E se os abandonamos somos tolos.
Preguiça
A tendência para evitar a prática. Causada
por:
1. Derrotismo
2. Apegos com ações nocivas
3. Falta de vontade
Antídoto: cultivar a fé: contemplar
as vantagens da serenidade e as desvantagens da distração.
A primeira falha e a mais comum é a preguiça.
Essa é simplesmente de evitar a prática da meditação ou de evitar práticas
espirituais em geral. Temos todos os tipos de desculpas, mas realmente a
preguiça é exatamente isso.
A primeira causa para a preguiça é o
derrotismo; acontece quando dizemos a nós próprios: “não posso fazer isso, não
sou capaz, minha mente é muito louca, meu carma é também muito pesado, minhas
circunstâncias são terríveis. Não tenho esposa, professor, escola, amigos
espiritualistas, etc.”. Temos um monte de desculpas, mas nenhuma delas é
verdadeira. Todas as desculpas são o ego lutando para se preservar.
Nosso ego não quer desistir do controle sobre
nossa energia e consciência e usa esse tipo de processo mental para enfraquecer
a consciência, enfraquecer a alma. Como uma alma, uma consciência, precisamos
reconhecer a preguiça que é principalmente derrotista – o derrotismo é veneno.
Não devemos nunca permitir o derrotismo em nossos pensamentos, sentimentos ou
ações mesmo com piada, mesmo estando a falar com outra pessoa a dizermos coisas
assim: “não sou capaz de meditar, não consigo fazer isso”. Isso é muito
negativo e infeccioso.
A segunda causa para a preguiça é o apego com
ações nocivas. Possamos saber muito sobre os ensinamentos, possamos amar a
espiritualidade, o dharma, possamos estudar tudo, mas continuando viciados na
fofoca, na tv negativa, no álcool, nas drogas, no cigarro, na masturbação ou em
outros tipos de ações: essas coisas estarão diretamente contraditórias aos
objetivos espirituais. Em outras palavras: tendo vício ou embaraço com ações
eles nos impedem praticar no modo correto.
Havendo lutas contra a meditação existirá uma
causa. Estando com dificuldades, com resistência às práticas, achando aquilo
impossível, a causa não será a prática ou o
ensinamento, mas a nossa psique: há algo em nossa mente. Quando alguém
se sente negativa acerca da prática da meditação é devido a estar fazendo algo
errado. Ao sentir isso, precisa identificar a causa. Algumas vezes prende-se à
falta de vontade que é a terceira causa. Ter falta de vontade significa que
mesmo estando interessada nos ensinamentos e em seus valores, a pessoa não detém o mesmo necessário zelo para realmente coloca-los em prática. Falta-lhe
melhor compreensão da realidade. Ao compreender a realidade, imediatamente
acompanha-a grande zelo e força de vontade. É como alguém que subitamente
entende estar numa casa que está pegando fogo no porão, e esse reconhecimento
da verdade provoca-lhe imediata ação.
Todas essas formas da preguiça podem ser
manobradas no mesmo modo, entretanto a primeira coisa a se fazer é
reconhece-las e imediatamente aplicar-lhes o correto antídoto.
Em geral, a preguiça é vencida pelo cultivo
da fé que é multifacetada. Não significamos fé como crença; a entendemos em seu
original significado que é confiança através da experiência. A fé real tem seu conhecimento
pela experiência, pela confiança, uma vez tenhamos provado que os ensinamentos
funcionam. O modo de cultivarmos a fé nesses ensinamentos é colocando-os em
prática e medindo seus resultados. Tendo adquirido resultados saberemos por nós
próprios que funciona; precisamos refletir naquilo, nos tornarmos cônscios
daquilo e reconhecermos: “Fiz isso e aquilo e obtive esses resultados, e de
fato funciona”. Isso edifica a fé. O que acontece quando edificamos a fé?
Edificamos confiança. Ao edificarmos confiança, edificamos diligência;
estaremos animados a trabalhar duramente uma vez que isso funciona. Eis como
superar a preguiça, é simples.
Outra coisa sobre superarmos a preguiça é
contemplarmos as vantagens da serenidade ou concentração. Ao notarmos que não
estamos inclinados a praticar meditação, necessitamos nos sentar e realmente conversarmos
conosco, falar com nossa mente, e saindo da caixa, dizer: “Okay, você não quer
meditar? Vamos contemplar o que acontecerá se nunca mais meditarmos. Qual será
o resultado se evitarmos a prática?”. Utilizemos nossa imaginação e sigamos a
lógica, a realística causa e efeito do que acontecerá. Então comparemos isso
com o oposto; mostremos à nossa mente: “Okay, se eu realmente praticar qual
será o resultado, quais serão as vantagens em manter-me responsável nesse
caminho?”. Numa realidade mostremos à mente os dois lados. Ensinemo-nos sobre
isso. Esse é outro caminho para vencermos a preguiça: não é complicado, não é
difícil: é um simples antídoto a ser aplicado, mas importante. Todas as vezes
em que sentirmos resistência para meditarmos trabalhemos isso imediatamente,
não deixando a resistência grassar, do contrário se tornará pior.
Esquecendo as Instruções
Distração: Perda do objeto da concentração
Antídoto: Atenção plena
O obstáculo seguinte é o esquecimento das
instruções. Refere-se a enquanto estivermos praticando. Durante a meditação se
nossa atenção vagueia do objeto da concentração e nunca voltamos a ele, deve-se
ao nosso esquecimento das instruções. Por conseguinte, estaremos perdendo nosso
tempo. Enquanto estivermos distraídos não realizaremos nada. Há pessoas que se
mantêm praticando dessa forma: sentam-se para meditar, mas se tornam distraídas
e nunca superam esse estado de distração. Óbvio que eventualmente desistirão e
faz sentido – por que nos mantermos tentando meditar se não estamos avançando
em nada?
O antídoto é estarmos atentos. Atenção plena
é a habilidade em permanecermos côncios de tudo o que estejamos fazendo.
Fazermos uma coisa a cada vez
Estarmos plenamente cônscios do que estejamos
fazendo
Tornar a atenção plena continuada de momento
a momento
Não se permitir ficar distraído
Ao dirigirmos nosso carro é nada mais que
estarmos dirigindo nosso carro: desligamos o rádio e o telefone. Somente
dirigirmos prestando atenção ao que estejamos fazendo e ao que estará
acontecendo em redor. Existirão muitas coisas diante de nós as quais
necessitamos observar. Não é somente mais seguro dirigir desse modo – estarmos
salvando e protegendo nossa própria vida e as vidas de outros – mas também
estarmos desenvolvendo nossas habilidades na meditação. Quando estivermos
trabalhando, façamos exatamente nossa tarefa sem nos distrairmos; ao lavarmos
pratos, lavemos exatamente pratos com integral e plena atenção em todos os
momentos em que ali estivermos. Ao terminarmos de lavar e ao caminharmos a fim
de cruzar o ambiente observemo-nos enquanto fazemos isso. Concentremos:
coloquemos nossa atenção sobre o que estejamos fazendo, observando-nos a cada
momento, nunca permitindo à atenção ir-se. Isso é perfeita atenção plena.
Fazendo assim o dia inteiro entraremos bem rápido pelos primeiros níveis da
estabilidade meditativa. Então, atenção plena é o antídoto; auto- observância é
o antídoto contra o esquecimento das instruções.
Excitamento / Agitação
Inquieto estado da mente
1. Atraído por objetos prazerosos, memórias,
pensamentos, sentimentos, sensações
2. Causas psíquicas a serem dispersas, busca
externa com sentido de prazer
3. Resultado: impede a estabilidade da psique
e o desenvolvimento da concentração
Antídotos:
Introspecção. Refletir na impermanência e nas falhas das distrações
Excitamento, agitação é quando a mente não se
encontra fixa; os pensamentos permanecem vindo e nos mantemos pensando em
outras coisas: memórias, sonhos de dia, imaginário, conversas, pensamentos sobre
o que temos a fazer na próxima semana, sobre a conversa que tivemos na semana
anterior, etc. Esse constante fluxo de distrações é o que chamamos excitamento
ou agitação. Simplesmente colocado é um estado de inquietação da mente.
A fim de compreendermos a agitação
necessitamos ver o que ela seja, como funciona. O estado agitado da mente é um
tipo de desejo, um tipo de fixação; estar sempre a procura de objetos de
prazer, memórias, pensamentos, sentimentos e sensações. É a mente procurando
pelos seus desejos. A situação é representada pelo macaco naquelas imagens. O
macaco ilustra aquela agitação – o aspecto distraído de nossa psique – sempre
pulando daqui para lá, de galho em galho, buscando frutas e coisas de paladar.
O problema é que quando deixamos a mente assim proceder o resultado é o estado
inquieto da mente; isso impede nossa possibilidade em concentrar.
O antídoto é muito simples: necessitamos da
introspecção, de trazermos a atenção para o nosso interior não permitindo às
distrações levar-nos de volta; ao invés disso nos mantermos voltados sempre
para o nosso interior. Ou seja: nos tornarmos cientes de nós próprios,
cônscios.
Podemos nos aplicar a isso
durante o dia inteiro; não somente durante a prática da meditação, mas sempre.
A mente indômita busca por sensação, distração, então a trazemos continuamente
de volta para estar ciente aqui e agora. Ainda mais que ela se reflete na
natureza das distrações que nos afligem. Observemos nossa mente como se ela não
fosse nossa, como se fôssemos um cientista que estuda alguma criatura estranha.
Consideremos as falhas do estado de distração. Consideremos a impermanência
daquelas distrações, desejos, etc.
A mente está sempre sofrendo: “aquele novo
show está chegando, mal posso esperar. É como estar na tv, estou tão excitado”.
O estado da mente é sofrer aquela experiência; é um estado de agitação.
Observemos aquela agitação e reflitamos sobre ele: “aquele show está chegando e
vou assisti-lo, então terminará. E daí? O que levarei daquilo? Uns poucos minutos
a ficar distraído de meus sofrimentos? Uns poucos momentos identificado com um
grupo de atores? Não ganharei nada com isso, perderei meu tempo e minha
energia. Por que ficar tão agitado? Por que perder a consciência sobre mim e
desperdiçar tanta energia pensando, fantasiando e falando sobre aquilo? Não é
importante”.
Outro exemplo em que sofremos por possuir
algo, por querermos comprar alguma coisa, conhecer certa pessoa. Novamente
reflitamos na impermanência: “se eu conseguir aquele objeto ou aquela pessoa,
então que mais? Não me tornarei fundamentalmente diferente. Se eu conseguir
aquele carro ou um computador novo, então que mais? Continuarei sendo a mesma
pessoa; unicamente terei essa coisa nova. Estarei dentro da mesma condição
psicológica que tinha antes de obter o objeto. Não só isso, porque ao ter essa
nova posse terei medo de perdê-la; estarei sofrendo, daí um dia a perderei
mesmo, pois tudo é impermanente. Então estarei sofrendo por não tê-la e estarei
sofrendo por tê-la e ainda sofrendo por perdê-la. Estarei sofrendo por todo o
processo! Por que me aborrecer com tudo isso? Por que não dissolver os apegos
agora e evitar estar perdendo tanto tempo e energia?”.
Esse ciclo que estamos constantemente
repetindo ocorre porque os apegos da psique e aqueles apegos, desejos por
sensações, querem repetição. O objeto em si não é relevante. Ao conseguirmos o
que desejamos ainda não ficamos satisfeitos. Nosso desejo sempre quer mais. O
objeto que havíamos ambicionado é deixado de lado e ambicionamos algo mais. Os
objetos não causam o problema, mas nossa atitude psicológica é que cria a mente
instável. Não importa um modo ou o outro espiritual, sejamos ricos ou pobres, se
temos belas roupas ou não; podemos tê-las mas isso não importa. O que importa é
nossa relação psicológica com elas, com as coisas. Se nossa mente é instável,
distraída, então reflete na impermanência, reflete na inevitabilidade da morte.
Observemos quanto de tempo e energia são gastos focalizados em posses e
circunstâncias externas, nenhuma delas confiável ou duradoura.
Estamos sempre aborrecidos com o que nossos
amigos pensam de nós, o que a sociedade pensa, quanto de dinheiro temos, o
quanto tenhamos avançado em nossa carreira. Nunca paramos de pensar sobre isso
até o momento em que morremos e nada daquilo importará em nada. Deixaremos tudo
para trás. Por que ficarmos tão aborrecidos sobre todas essas coisas quando a
morte é inevitável?
Status social e posses não nos ajudam com a
morte. Mas se mudarmos nosso estado do ser, experienciaremos a morte de modo
completamente diferente, não com medo, mas abordando-a cognizantes e
habilitados a usarmos isso com vantagem. Essa é uma possibilidade, mas não
enquanto a mente seja inquieta. Necessitaremos de habilidades para estarmos
conscientemente diante da morte; excitamento e agitação são severos obstáculos
nesse sentido. Necessitamos reconhecer quando a mente esteja naquele estado e
aprendermos a manobrar com isso na prática de nossa meditação.
Laxismo / Estupidez
Falta de clareza
Antídotos: expandir a
consciência evocando algo que nos afete como água fria na face: visualizar uma
luz brilhante ou sol ou refletir sobre algo realmente aturdente, tal como uma
experiência pessoal com uma divindade, a compaixão dos grandes mestres, etc.
Estupidez, laxismo, significando falta de
clareza
Primeiramente, relacionado a quando estamos
tentando visualizar uma imagem e não conseguimos vê-la. Ocorre porque a
consciência é fraca, não está treinada, não tem qualquer energia e devido a
isso temos um monte de maus hábitos. Falta de clareza para nós parece normal pelo
que experienciamos o tempo todo, mas não é normal.
Algumas vezes experienciamos falta de
clareza; tentamos visualizar, mas nos sentimos como nos arrastando pela lama. Não nos é possível percebermos a
imagem, a mente não está agitada, mas não conseguimos exatamente visualizar;
sentimo-nos como se uma nuvem estivesse a nos envolver.
Estranhamente algumas pessoas pensam que
aquele estado seja meditação; sentem que uma vez esteja a mente “quieta”
estejam “meditando". Isso não é meditação, é um estado de rigidez. O antídoto é
expandir a consciência por evocações de algo que nos afete como água fria no
rosto. Imaginemos um sol de extrema luz brilhante. Esse sol estimulará a
consciência. Visualizemos ou reflitamos sobre alguns fatos aturdentes; de
alguma experiência espiritual que tenhamos tido ou de alguma verdade sobre a
espiritualidade que realmente nos impressione, como a grande compaixão dos
deuses. Podemos igualmente trazer à mente o impressionante sofrimento no mundo:
visualizemos todos esses que sofrem e passemos a expandir nossa visualização ao
mundo inteiro enquanto imaginamos estarmos irradiando uma intensa luz de amor a
todos aqueles em dores. Façamos sinceramente com toda a nossa força de vontade
e desfaremos a rigidez.
Usando Antídotos
Tanto quanto sejam úteis esses antídotos,
podem ser também superutilizados ou mesmo ignorados. Eis porque os obstáculos
quatro e cinco são:
Não aplicando antídotos
Super aplicando antídotos
Todos sabemos da necessidade de comer alimentos saudáveis, porém muitas pessoas
continuam a comer alimentos não saudáveis. Similarmente, em nossa prática da
meditação, escapamos para os maus hábitos não saudáveis ou nos mantemos com
práticas inócuas exatamente porque estamos familiarizados com elas. Também,
usando ou não usando antídotos podem do mesmo modo as práticas tornarem-se mecânicas
ou equivocadas. A saída para evitar tudo isso é revisarmos continuamente nossa
prática, olhá-la objetivamente, como faria imparcialmente um cientista, sem
orgulho ou apego. Nesse sentido podemos descobrir onde devemos incrementar. O
diário espiritual é uma grande ferramenta para essa intenção: através da
recordação do que estejamos fazendo criamos um arquivo que ajuda a nos
mantermos com olhos imparciais sobre nossa própria pessoa.
Exercícios
1. Ao correr do dia desenvolver a
auto-observância
2.Diariamente pelo menos por 10-20 minutos
desenvolver a concentração meditativa pela visualização da imagem.
3. Continuar com o diário espiritual.
Continuar desenvolvendo a atenção plena o dia
todo expandindo a consciência na extensão da quantidade do tempo em que
permanecer cônscio de si próprio. Em outras palavras: tornar-se cônscio da
continuidade da consciência. Quando estiver na lavanderia estar cônscio do que
estiver fazendo; notar também se precisar continuar cônscio de momento a
momento. É algo para tornar-se cônscio do momento e algo a mais para continuar
cônscio. Então desenvolver a continuidade da consciência.
Daí, todos os dias fazer essa prática da
concentração meditativa. Ao invés da prática que demos anteriormente, da
observância das sensações da respiração, agora, de início, tomar uma “foto
mental” dessa imagem.
Figura 4
Então, fechar os olhos e visualizá-la. Quando
inicialmente olhar para a imagem, ficar bem cônscio dela; não é necessário
analisá-la mentalmente, nem precisar investiga-la, medi-la, olhar o interior
dela, o que representa todo o seu simbolismo; assim esquecer toda essa informação
intelectual. Fazer uma fotografia mental e então fechar os olhos e imprimir
aquela figura na mente. É tudo o que estará fazendo com essa prática: reviver
na memória o que viu. Assim, não especular, não analizar e descartar crenças,
nomes e simbolismos. Nada além que tomar a foto mental e então fechar os olhos
projetando essa imagem na mente. Por dez, quinze ou vinte minutos visualizar
aquele quadro.
Se eventualmente a imagem assustar ou
aborrecer, pegar outra imagem sagrada ou de divindade, porém verificar que seja
algo com que você não tenha já associação mental com ela.
Com relação a visualização não filtrá-la.
Você já tem a habilidade de visualizar; pode provar isso agora. Com o que um
macaco se parece? Você vê a figura pular em sua cabeça? O que é uma banana?
Você pode ver a figura na mente, certo? Ela pula sem esforço. É tudo o que você
precisa nesse exercício. Não filtrar para visualizar. Não mover os olhos ao
redor, não contrair a face ou o cérebro. Você não precisa de qualquer tensão ou
esforço. Somente recordar em memória e deixar a imagem pular por ela própria,
espontaneamente. Se ela se for, relaxar e recorda-la novamente, não forçar nada,
não exercer nada, não comandar: unicamente relaxar. Relaxar e recordar a imagem
repetidamente. Ela aparecerá por ela mesma, sem esforço, e não acontecendo será
porque sua concentração estará fraca ou você estará agitado. Se sua consciência
não tiver a energia ou força para sustentar fixamente a imagem, desistir por
instantes, depois tentar novamente e manter-se fazendo isso.
Pouco a pouco, com persistência e
relaxamento, algum dia você subitamente acusará que aquela imagem está
permanecendo sem esforço, e isso é bonito. É nesse modo que deve ser
desenvolvida. Ela justamente aparecerá lá e será sem esforço da mesma maneira
com que você sonha. Você estará se utilizando da mesma e exata habilidade que
quando sonha não faz esforço: unicamente fecha os olhos, relaxa e então as
imagens simplesmente acontecem. Queremos que use a mesma e exata abordagem de
quando desenvolveu esse poder. Deve relaxar completamente e atrair a imagem; se
ela não surgir, permanecer paciente; unicamente recordar aquela imagem
completamente relaxado. O terceiro exercício é continuar com o diário
espiritual.
Perguntas e Respostas
1. P – Pode
lembrar-nos qual a intenção da retenção daquela imagem?
R. – Imagine que ao final de um longo e duro
dia tenhamos a habilidade de nos sentarmos em nossa postura de meditação,
fechar os olhos e visualizar alguma coisa que nos tenha acontecido naquele dia
cheio de confusão, tormento ou de dificuldade, e que a cena nos apareça em
mente sem o menor esforço, e estejamos aptos a observar exatamente o que
aconteceu. E agora observamos uma nova informação que aparece em tela da mente:
uma memória de nossa infância ou alguma outra visão que nos pareça familiar, e que
não estejamos certos, mas em nosso coração sintamos uma compreensão e comecemos
a compreender coisas que nunca havíamos compreendido antes. Isso é uma simples
descrição do que chamamos meditação psicanalítica, que é a real intenção da
meditação. O poder de visualizar nos conduz ao entendimento.
Para estarmos aptos a fazer isso,
necessitamos desses poderes que expliquei hoje. Necessitamos da habilidade para
que a nossa concentração obtenha uma vívida intensidade e uma convergência
única. Caso não a tenhamos, então chamaremos aquela imagem ou o que nos tenha
acontecido hoje, daí que nossa mente imediatamente começará dizendo: “bem, eu
não desprezo isso. Eu estava certa e eles errados. E eles aí a culpar: fizeram
isso e aquilo”. E nossa mente exatamente continuará, continuará e continuará
justificando-se e nunca chegaremos a lugar algum.
O que queremos é compreensão, sabedoria e
entendimento. E para termos isso necessitamos que a mente esteja estável,
fixada; necessitamos da atenção que possa ser colocada sem distração;
necessitamos da habilidade dela em sustentar-se e nada mais que isso. Quando estivermos observando
determinado evento – digamos um trauma, ou alguma coisa terrivelmente
acontecida – teremos a habilidade em permanecer sem reagirmos emocionalmente?
Provavelmente não. Porém, ao desenvolvermos essa habilidade, sim teremos.
Estaremos aptos a visualizar e imaginar coisas que sejam dolorosas,
perturbadoras e difíceis e não estarmos distraídos em nossas reações emocionais,
por nada, mas capazes de ver a realidade daquilo, a verdade; é isso que
precisamos a fim nos desconectarmos das ilusões – ilusões da nossa mente, de
nosso coração, ilusões que nos obstruem a vermos a verdade. Eis porque isso é
importante. Estarmos treinando nossa consciência para ter a habilidade da
percepção de uma realidade. O que pode ser mais importante que isso?
2. P- Gostaria
de saber se podemos usar uma imagem mais simples?
R. – A imagem que estamos usando é sofisticada
por uma razão: nossa consciência tem a habilidade de projetar detalhes
incrivelmente sofisticados. Aqui temos um fácil exemplo: nossa memória. Não
fazemos qualquer esforço para armazenar fatos. Lembramos como conseguimos
chegar aqui: podemos lembrar uma porção de informações detalhadas, certo? Por
onde andamos, por onde estejamos dirigindo, como fizemos coisas antes de
chegarmos até aqui, e como não fazemos qualquer esforço para armazenarmos todos
os dados ou para nos recordarmos. Então a imagem que estamos visualizando nesse
exercício é muito simples comparada com todos aqueles dados que podemos
relembrar de nosso dia. Essa imagem é unicamente um campo plano de informação
visual que armazenamos em nossa memória ao olharmos para ela por um momento.
Porém, em nossa memória do dia não temos somente o dado visual e sim informação
de todos os outros sentidos. E ainda assim está tudo lá em nossa memória sem o
mínimo esforço.
Então de fato esse exercício de visualização
é fácil: é darmos uma olhada por um momento e já teremos o quadro, como num
instantâneo de uma câmera; tiramos a foto, fechamos os olhos e a imagem está lá
em nossa memória. O problema é que nossa mente interfere. A psique interfere
porque ela é agitada: é inquieta, quer distrações e a coisa principal é: ela
não quer fazer o que nós queremos que ela faça. Não temos ainda prudência. Não
temos força de vontade estabelecida sobre mente e corpo. A mente que possuímos
é mimada, um animal indômito. Ela quer fazer suas próprias coisas, não quer
dobrar-se ante nossa vontade; se fizesse, ficaria quieta quando a quiséssemos
quieta; estaria focalizada quando a quiséssemos focalizada, mas ela não quer
aquilo. Fica lutando contra nós o tempo inteiro porque a fizemos desse modo.
Não tem de ser desse modo. Com treino, aquela psique inconstante torna-se esse
elefante branco, um suporte da vontade e total ajuda no caminho.
Vemos no começo que o elefante encontra-se
fora de controle e dando voltas – essa é aquela mente doida que somente deseja
fazer suas próprias coisas, mas quando vamos para o procedimento desse
treinamento a mente se torna calma, serena, estabilizada. É quando se
transforma numa amiga leal da consciência. Então ela fará o que lhe dissermos
para fazer e sem o mínimo de esforço. Nesse estágio – realmente na maioria
desses estágios mais elevados – ao visualizarmos tipos de imagens se tornará
bem fácil: somente escolhemos a figura, fechamos os olhos e lá estará ela
suavemente uma vez que já teremos a habilidade. Bastará recordar qualquer
memória que tenhamos e aquela memória estará permanentemente gravada em nossa
psique: certas coisas que tenhamos visto ou que nos tenham acontecido nunca
mais esqueceremos, e não faremos nenhum esforço para trazê-las à memória,
certo?
Por tudo, recomendo fazerem o esforço para
tentar aprender a usar sua memória e visualização nesse modo. Vale a pena.
Pensamento do Dia
“Os mais tranquilos
momentos da vida são precisamente os menos favoráveis para o trabalho sobre si
mesmo”.
Samael Aun Weor, Tratado
de Psicologia Revolucionária
POR UM INSTRUTOR
GNÓSTICO
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