sábado, 16 de março de 2019

Fundamentos da Meditação (4) - Ação e Consequência


  “(...) Elas [pessoas praticantes de meditação] podem aprender como sentarem-se apropriadamente, aprender um mantra, uma postura e certos tipos de técnicas a que trabalharão rigorosamente em si mesmas, porém, por não terem modificado o uso de suas consciências e energias, durante as outras vinte e três horas do dia em suas vidas, elas não conseguem acessar o estado de meditação pela vontade, exceto ocasionalmente por acidente”.

  Meditação é um estado de consciência; é um estado do ser. Nesse sentido é algo natural e inerente a todas as coisas vivas. É o estado de consciência quando não filtrado, não condicionado, sendo o estado natural sem qualquer interferência na habilidade de perceber e compreender. Essa é a real natureza da consciência.

  Conforme nos encontramos agora, nossa percepção e nosso entendimento estão filtrados. Estão condicionados por muitos fatores. A fim de que possamos experienciar o estado de meditação precisamos remover a consciência de seu condicionamento, e quando pudermos fazer isso sucessivamente, então experienciaremos natural e espontaneamente o estado de meditação. Por conseguinte, poderíamos dizer que a atitude correta para desenvolver a habilidade de meditar é não focalizar a atenção na tentativa justamente de alcançar o estado de meditação, mas ao invés disso focalizar na remoção dos obstáculos que impedem àquilo. Isso faz uma diferença bastante significativa.

  A maioria das pessoas que estuda meditação está buscando o estado de meditação. Pessoas há que estão buscando por uma experiência ou uma sensação. Querem sentir algo ou não sentir nada. Algumas vão para estudar ou praticar meditação a fim de escapar de suas vidas, delas próprias. As que estão atrás de uma sensação ou de uma experiência sempre ficarão desapontadas porque, verdadeiramente, a meditação real não trabalha daquela maneira. Nas primeiras poucas palestras explicamos sobre isso. Hoje estamos entrando um pouco mais nesses princípios.

  Vamos falar em como e através de nossa constante ação a cada instante, criamos uma trajetória ou um movimento ao interior e inteireza de nossa vida. Se nos mantivermos cônscios de nossas ações a cada instante, podemos nos tornar bem hábeis ao acessar o estado de meditação. Isso precisa ser apropriado nessa via, uma vez que o estado de meditação não pode ser simplesmente acessado a menos que nos devotemos em todas as coisas a ele. Pode soar como extremo, mas nesse modo realmente funciona. Meditação é um modo de vida que requer uma mudança fundamental em nosso comportamento a cada instante; em como engajamos a consciência a cada instante; em como utilizamos nossa energia e percepção a cada instante. Todas essas coisas unidas e trabalhando juntas é o que faz nossas circunstâncias mudarem de tal monta que acessar o estado de meditação se tornará mais fácil e mais facilmente experienciável.

  Se não procedermos a essas mudanças fundamentais a cada instante, nunca estaremos habilitados a entrar no estado de meditação pela vontade. Se estivermos fazendo regularmente, de qualquer maneira, tentativas para entrar em meditação, podemos estar aptos ocasionalmente ou por acidente para aquele estado, e isso é o que acontece com a maioria das pessoas que aprende práticas de meditação. Assim, pessoas podem aprender como sentarem-se apropriadamente, aprender um mantra, uma postura e certos tipos de técnicas a que trabalharão rigorosamente em si mesmas, porém, por não terem modificado o uso de suas consciências e energias, durante as outras vinte e três horas do dia em suas vidas, elas não conseguem acessar o estado de meditação pela vontade, exceto ocasionalmente por acidente. Podem passar meses ou anos na tentativa de meditar, mesmo diariamente, mas falham em acessar aquele estado. Como resultado, podem ficar frustradas e abandonam suas práticas. Isso é extremamente comum, entretanto não precisa ser desse modo.

 Se elas aprendem a treinar sua atenção para o restante tempo do dia em que não estejam ativamente sentadas ou não praticando meditação, então quando elas realmente sentarem-se para a prática, esta se tornará fácil porque elas já terão treinado o dia e a noite inteiras na preparação. Eis porque a palestra de hoje é chamada “Ação”.

  A fim de compreenderem o que significamos por ação, vamos dar uma olhada nesta imagem do budismo tibetano, acerca dos estágios da concentração meditativa.

OS ESTÁGIOS DA CONCENTRAÇÃO MEDITATIVA

  Esta imagem expõe um processo gradual através do qual aquele que deseja acessar o estado de meditação, trabalha na mudança do relacionamento da consciência (atenção) com o psiquismo (mente, emoção, corpo). Esse ensinamento dos estágios da concentração meditativa foi dado pelo Buda Maitréia sendo, portanto, confiável. É um ensinamento bastante profundo e ao mesmo tempo um nível introdutório.

 É algo que estabelece princípios básicos que são realmente muito úteis para qualquer pessoa que esteja tentando entender o que seja meditação, e onde se encontra a relação entre alcançar aquela experiência pela vontade e manter-se capacitado a sustenta-la.
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Figura 1
Os Nove Estágios da Estabilidade Meditativa [ Get a poster of this image.]

  A porção mais inferior representa a experiência da mais selvagem qualidade da mente, e a mente dos animais (o elefante e o macaco) corre livremente, a esmo, sem controle. O monge (nossa consciência) corre em perseguição a ela na expectativa de obter o controle. Isso representa claramente a condição psicológica de alguém que não aprendeu ainda a meditar: tal pessoa tem a mente fora de controle, estando a mente caótica e dolorosa. Aquele que vai avançando firmemente em seus esforços de se estabilizar psicologicamente, progride ao subir esse caminho sinuoso. E podemos ver a mente, ali representada pelos animais, a se render gradativamente ao controle do monge, e os animais se tornando estáveis e manipuláveis. Bem acima, vemos o monge agora com uma psique que pode vir a servir-lhe aos seus próprios interesses de meditante, e a mente não sendo mais sua oponente. Ao invés de um animal selvagem a mente tornou-se sua amiga leal.

  Essa progressão de animal selvagem para amigo leal é algo bastante científico. Não acontece por acidente, desejo ou crença. Acontece por uma ação bem específica. O valor desse ensinamento norteia a nos desempenharmos com ações corretas nos estágios certos, em sequência. E de tal modo, que a resultante chega-nos naturalmente, através de uma calma firme e psique serena. De maneira geral, quando procuramos compreender a meditação, estamos tentando transformar nosso atual estado caótico – de não conhecermos e de sofrimento e dor – em um estado em que possamos acessar a íntima e profunda visão para o interior de nossos problemas fundamentais.

OS TRÊS TREINAMENTOS

  Esse processo está delineado no budismo como tendo três estágios essenciais. São chamados os três treinamentos, que são:

  1. Sila: Ética
  2. Samadhi: Êxtase
  3. Prajna: Sabedoria Profunda

  Em linguagem simples, esses três termos são: Ética, Êxtase e Sabedoria Profunda, mas todas as palavras em nossos outros idiomas não convergem ao pleno significado das palavras sânscritas.

  O objetivo é prajna, que significa “sabedoria profunda”. Essa não é a sabedoria que possamos adquirir em livros. Prajna é uma ativa e vivente inteligência. É uma força viva. Na cabala é chamada Binah, Chokmah e Kether, tendo três aspectos representados pelos três supernais em três sefirotes no topo da Árvore da Vida. Em grego são os três Logoi ou Logos, sobre os quais há descrições na Bíblia (João 1:1). Aqueles três aspectos formam uma trindade representada em todas as religiões. No budismo é chamada de trikaya, constituída de corpos fundamentais ou estados de experiência de qualquer ser desperto.

  Nos níveis mais elevados da natureza há uma inteligência, um tipo de sabedoria, de entendimento, que está muito além de qualquer coisa que nosso intelecto possa conceber. É isso referido por prajna. É um tipo de penetrante sabedoria que pode adentrar ao coração substancial de qualquer coisa. É a “mente-sabedoria” de um Buda ou do mais elevado mestre que possamos imaginar.

  Meditação é o processo através do qual aprendemos a acessar aquela profunda sabedoria em nós. Obviamente, trata-se de alguma coisa de um poder muito transformativo que não pode acontecer por mero acidente. Acontece através de ações específicas, ações científicas. Para alcançar isso uma pessoa deve saber como acessar o segundo dos treinamentos, que é samadhi.

  Em Inglês samadhi está traduzido por “ecstasy” (êxtase). Não é um êxtase físico, nem qualquer tipo de sensação relacionada com os sentidos físicos. Samadhi é um estado de consciência no qual a nossa verdadeira essência, o mais puro âmago do que somos, encontra-se liberto de seu condicionamento, resplandecendo em seu estado fundamental, que é de alegria e radiante felicidade.

  Eis porque traduzimos samadhi por êxtase: porque é o êxtase da alma, da consciência. Não sentimos aquilo nesse momento por nossa consciência estar armadilhada, condicionada. Quando a consciência escapa do condicionamento da caixa – mesmo por um instante – ficando fora do inferno onde se encontra confinada, ela sente êxtase, liberdade, felicidade e alegria.

  Samadhi é um perceptivo e ativo estado vivente do ser. Não é vago ou vaporoso nem elusivo ou insubstancial. A experiência do samadhi é mais real do que nossa vida física. É uma experiência de nosso verdadeiro ser ou real natureza. Motivo pelo qual é chamada de êxtase.

  Contudo, podemos compreender por simples lógica que, unicamente naquele estado de samadhi – completamente liberto do ódio, luxúria, orgulho, medo, trauma, qualquer desejo – pode a essência de nossa vida, a consciência, então perceber claramente e possuir prajna, sabedoria profunda, observância do íntimo, o verdadeiro significado, o verdadeiro entendimento e a verdadeira causa das coisas.

  É um tanto óbvio quando olhamos para aquilo. Faz sentido... Se nos encontrarmos armadilhados em ódio e orgulho, então tudo o que vermos estará filtrado pelo ódio e orgulho. Se estivermos armadilhados em nossa dor, em sofrimento, em luxúria, em inveja não conseguiremos ver a verdade. Poderemos somente ver através dos filtros daqueles desejos.

  Pela libertação da consciência desses desejos, através da ética (o primeiro treinamento) tendo já chegado ao estado de êxtase (o segundo treinamento), então podemos acessar o terceiro treinamento que é prajna.

O PRIMEIRO TREINAMENTO

  Somente poderemos alcançar o segundo treinamento, samadhi, através do primeiro treinamento – sila – ética. É claro que todo aquele que estuda meditação quer pular sobre a ética. Ele pensa: “sou bem inteligente e posso pular essa parte indo diretamente ao samadhi, estou meio frustrado, então vou realmente pular essa parte fazendo do meu próprio jeito”. Assim, pessoas que estudam os livros e as tradições, já pensando em fazer as coisas à sua própria maneira, inevitavelmente fracassarão. Elas eventualmente desistem (o fato mais comum) ou se envolvem com grupos que as encorajam usar drogas, sexo, álcool ou outros tipos de estimulantes a fim de propiciar-lhes entrar por elas mesmas no “estado de êxtase”. No que falham realizar é exatamente naquilo que estão quebrando do primeiro treinamento. Não estão sedimentados pela ética. Ao invés de se libertar dos condicionamentos estão exatamente reforçando-os. Tornam-se dependentes do álcool, do sexo; indultam-se a si próprias de todos os seus desejos, e agindo nessa auto indulgência, entendem estar se libertando de seus condicionamentos. Essas pessoas estão erradas e a prova disso está nos seus sofrimentos.

  A prática da meditação tradicional em cada país, em cada tradição pelo mundo, começa pela ética. Não podemos pular a ética. Se realmente queremos aprender meditação não podemos pular o primeiro estágio. Há uma razão para a ética ser o primeiro estágio. 

  Ética não significa: “faça o que eu mando fazer”. Esse não é o significado da ética. Isso é moralidade, que é totalmente separada. Não falamos de moralidade. Moralidade é subjetivo, cultural, temporal. Ética não é cultural; é científica e baseada em causa e efeito.

  Estando treinados na ética permanecemos ligados com as ações que desempenhamos perante nossa consciência e com as consequências de tais ações.

  A fim de desenvolvermos o primeiro treinamento, passamos a observar nossas ações e suas consequências. Se as ações que realizarmos física, emocional e mentalmente produzirem condicionamentos na consciência, então essas ações precisam ser abandonadas, uma vez que estarão contradizendo nossa meta em alcançar o samadhi e prajna. Isso tudo é ética: o reconhecimento da causa e a consciente escolha em abandonar as ações que resultem nos condicionamentos e sofrimentos, adicionados pela adoção de ações que conduzam ao samadhi e ao êxtase.

  Colocado de outra forma no painel, vemos aquele monge, de início perseguindo ao elefante e ao macaco. O elefante e o macaco representam aspectos de nossa mente selvagem. Se deixarmos aquela mente selvagem fazer o que ela quer: buscar sua luxúria, seus interesses nas sensações, tais como alimentos, álcool, drogas, dinheiro, violência, sexo, TV, vídeos games, comprar e vender coisas, o que seja que nos deixe excitados e fascinados, então aquele animal se manterá exatamente correndo, porque estará tomando toda a nossa energia. E em troca estaremos permitindo isso. Eis porque é essencial começar o caminho com a ética.

  É através de nossa ética, pelo conhecimento em como ação e consequência trabalham em nós é que começamos com acalmar a energia selvagem dominadora de nossas vidas. Para tal, temos de compreender o que sejam ação e consequência.

  1. A Certeza da Causa e Efeito

  Ação e Consequência é uma imutável e infalível lei da natureza. É a base da existência em todos os níveis da natureza, sem qualquer exceção.

  Muitas pessoas na atualidade pensam que podem fazer o que queiram e que devam fazer o que queiram, uma vez que irão mesmo morrer, então por que não fazer? Muitos pensam também poder fazer o que queiram antes de morrer, pois acreditam que a morte é o fim para todos nós. Essas pessoas são profundamente ignorantes da verdade. Elas não conseguem entender que a morte não é nosso fim, mas unicamente uma transformação da matéria em energia. A consciência não morre.

  Toda ação desempenhada traz-nos uma consequência que nos afeta. Isso é verdade não importando em qual nível da natureza estejamos vivendo. Naturalmente que neste momento em que vivemos no mundo físico, onde na Árvore da Vida vemos mostrada a mais baixa de suas dez esferas, observamos que tal esfera encontra-se entre os céus – acima dela, e os infernos – abaixo dela. Isso é algo ensinado em todas as religiões e tradições místicas do mundo. E estamos localizados exatamente no entremeio desse local. Todas as religiões nos dizem que, segundo nossas ações, receberemos ou passaremos a devedores. A Bíblia diz: daquilo que semearmos daquilo colheremos. Na filosofia asiática todos sabem sobre o carma.

  A palavra carma não significa punição, porém “ação”. Entende-se que qualquer ação traz uma consequência. Esta é a primeira verdade fundamental sobre ação e consequência de que necessitamos entender. É uma lei. Não é opcional. Não é algo somente aplicada se Deus estiver observando, mas sim, aplicada a todas as coisas a todo instante. Cada movimento de nossos corpo produz uma consequência.

  Atualmente os físicos estudiosos da mecânica quântica chegaram ao entendimento de que mesmo o menor movimento, parecendo insignificante, pode produzir consequências para o restante do universo. Isso está espremendo as mentes de físicos e matemáticos; e há uma famosa colocação sobre o bater das asas de uma borboleta a causar uma catástrofe no outro lado do mundo. Matemática e cientificamente isso já está demonstrado e ainda nos recusamos ouvir. Persistimos nessa ideia de que não importa o que façamos porque não haverão consequências.

  Todos os níveis da natureza, do mais denso em todos os aspectos ao mais sutil, existem em virtude de causa e efeito. Somos nada mais que percevejos da poeira, vagando através de um inacreditavelmente belo e complexo universo. Universos e átomos são ambos ligados por causa e efeito. Somos também sujeitos a ação e consequência, mas ignoramos isso. Eis porque sofremos.

  Ao entrarmos em qualquer genuína tradição no mais básico dos níveis é essa a primeira coisa que aprendemos: ação e consequência. Todas as religiões têm regras básicas: não roubar, não matar, não dormir por aí, etc. Essas regras são uma tentativa de codificar a ética. Neófitos aprendem a seguir essas regras de modo a estabilizar seu psicológico. Aqueles que não as seguem permanecem com seu psicológico em caos. Infelizmente, devido a que as pessoas sempre procuram maneiras de escapar das regras ou da moralidade a fim de satisfazerem seus desejos, elas não desejam entender porque essas regras existem. As pessoas veem unicamente tais regras como algo negativo, limitante e confinador. As pessoas não entendem que aquelas regras são realmente o início da libertação do sofrimento.

  A coisa mais fundamental a compreendermos sobre nossa vida é que tudo o que fazemos tem consequências. Porque exatamente não conseguimos ver as consequências, não significa que não existam. Existem consequências para cada ação. Essa é uma lei imutável e infalível da natureza.

  2. Os Efeitos de Qualquer Ação são Sempre Maiores que a Ação que os Produziu

  As pessoas ignoram completamente ou ficam realmente confusas sobre esse fato, que não é difícil de ser demonstrado. Eis aqui um modo simples de testar isso.

  Quando estiverem com outras pessoas façam a experiência com sua entonação, seu comportamento e atitudes e observem como seu tom as afetam. Notem quando estiverem a sorrir felizes, como essa simples escolha afeta a todos os demais. Aquele pequeno sorriso, aquele ato de bondade repercutem bem mais nas pessoas do que a energia utilizada para produzir o sorriso e o ato de bondade. O mesmo é verdadeiro se estiverem explodindo em ódio. Os efeitos daquele ódio afetarão as pessoas e repercutirão como um eco em caminhos por onde não será possível percebe-los. Afetará a todos de vários e profundos modos. Uma simples palavra de bondade consegue imenso impacto nas pessoas assim como consegue uma simples palavra de crueldade. Mesmo o olhar em nossa face pode mudar o curso de vida de alguém. Os efeitos [da energia] que irradiamos quer físicos, emocionais ou mentais são imensamente maiores que [a energia] das ações que empregamos para a partida de nossas atitudes ou palavras.

  Podemos relacionar isso com o simples fato de pegarmos uma pedra e lança-la a um lago onde aquela pequena ação não nos consumirá tanta energia. Entretanto, a pedra chocando-se com a água criará ondulações que irão a milhas de distância. Isso consegue afetar coisas vivas no lago que podem ser ouvidas por outras criaturas por milhas e milhas. É um simples exemplo, porém ilustra o que acontece com coisas que fazemos e que repercutem em níveis onde não conseguimos ter percepções com nossos sentidos físicos. Os efeitos são maiores que as causas.

  3. Não Podemos Receber a Consequência sem Termos Cometido sua Correspondente Ação

  Cada um acha que estará indo para o paraíso. Pensa que quando morrer, Deus no céu lhe dará as boas vindas com braços abertos e todos os amados da família o estarão esperando e tudo será fantástico. Falhamos ao entender que os níveis dos céus, dos nirvanas são os níveis dos deuses e anjos. Aqueles seres não têm luxúria, nem raiva, nem inveja, nem ciúme, nem medo, nem orgulho como nós temos. Eles têm seus próprios aspectos, mas não a bestialidade animal, a crueldade, a violência e o potencial de ferir a outros e a si próprios como nós. Não mentem como nós, nem assassinam, estupram, matam ou roubam. Todas essas qualidades [negativas] que possuímos não podem subir aos mundos superiores: não são de lá. Essas qualidades são demoníacas. Elas residem nos reinos inferiores. Tudo o que seja pesado afunda, tudo o que seja leve sobe. É isso que acontece ao morrermos. Somos direcionados pela trajetória de nosso nível do ser, pela qualidade do fluxo de nossa consciência. Se em nossa mente estão fluindo e nos influenciando todos os nossos desejos, medos, raivas, orgulhos e luxúrias – todas essas qualidades – então ao morrermos o que nos irá conduzir ao longo e através dos mundos interiores serão essas qualidades. A morte física não mata nossos defeitos, somente faz retornar o corpo físico para a natureza. Nossa psique continua a existir como era.

  Recebemos particularmente as consequências de nossa condição porque estamos sempre agindo exatamente naquela condição. Agimos sob o ódio que em nós se encrespa. Não o controlamos, não o destruímos. Somos indulgentes com ele. Sentimo-nos justificados ao termos raiva. A luxúria sobe e a satisfazemos. Nós a deixamos governar nosso corpo, coração e mente. E sobre invejar? Julgamos pertinente quando outra pessoa possui e a desprezemos; então agimos com nossa inveja. Não compreendemos que a inveja seja demoníaca e que receberemos as consequências por termos inveja.

  Do mesmo modo não podemos acessar a felicidade, o êxtase, o samadhi se não nos desempenharmos com as ações que criam esses resultados.

  Todos queremos ser livres do sofrimento, significando que queremos experienciar completamente o samadhi. Essa é a “consequência” que ansiamos experienciar. Porém, nada é de graça. Tudo tem um custo. E o custo é a ação que produz a consequência. Se quisermos viver precisamos nascer e então respirar, comer, beber. Se quisermos a experiência do samadhi precisamos nos pautar pela ética que produz o samadhi.

  Samadhi, êxtase, é o estado da experiência que acontece naturalmente quando a consciência não se encontra condicionada pelo desejo, luxúria, ódio, inveja, orgulho, etc. Para experienciarmos o samadhi precisamos produzir a ação que conduz a isso: precisamos libertar a consciência de sua condição limitadora. Não há outro meio de acessar o samadhi.

  Samadhi, o segundo treinamento, é um resultado da ação. Produza-se a correspondente ação (ética, o primeiro treinamento) e o samadhi acontecerá: é uma lei da natureza. Não pode ser de outra forma.

  Contudo, não produzindo a correspondente ação, que é ética, o primeiro treinamento, então não experienciaremos o samadhi seja aqui e agora, seja após a morte.

  4. Uma Vez a Ação Realizada não Pode ser Apagada

  Pessoas acreditam que conforme não sejamos vistos ao realizarmos uma ação podemos atender ao que queiramos, ou mesmo que sejamos vistos, ninguém se importa. E continuamos a fazer tudo o que queiramos porque ninguém se importa. Podemos pensar que, exatamente antes da morte, ao implorarmos a Deus pelo perdão e ao aceitarmos Jesus como nosso salvador, sem a menor dúvida que iremos para o paraíso. Possamos fazer de tudo até o momento da nossa morte e no exato último minuto o padre vem e dirá: “Eu o perdoo meu filho e você pode subir ao paraíso agora”. Sem dúvida que as coisas não funcionam desse modo. A verdade é que toda ação traz consequências (#1) e as consequências são severas porque os efeitos são maiores que as causas (#2), e tudo o que fazemos está feito: não podemos desfazer ou apagar. Podemos nos desculpar ou tentar amenizar, porém nenhuma ação pode de fato ser apagada da natureza.

  Cada ação realizada tem um alcance profundo. A realidade não é o modo como os nossos desejos queiram que seja. Quando as pessoas ouvem acerca dessas leis da natureza elas se sentem muito desconfortáveis e não querem ouvir mais nada, pois desejam continuar indo onde vão para se sentirem melhor, entretanto a verdade está nessas quatro ações fundamentais que são leis da natureza. Elas não são boas nem más; elas são exatamente o que são. Uma pessoa que tenha treinado essas quatro leis pode aplica-las para o seu pessoal proveito.

  A lei da ação e consequência é que torna a libertação possível. Ao invés de indultarmos nossos maus comportamentos, desejos, ódios, luxúrias e todas as outras qualidades que causam sofrimentos, devemos adotar o modo superior do ser para obtermos proveitos dessas leis.

  Ações superiores produzem consequências (#1), criam efeitos maiores que as suas causas (#2), trazem as consequências que queiramos (#3) e uma vez seja a ação realizada não pode ser apagada (#4). Eis como pender a balança da justiça a nosso favor. Eis como podemos negociar com nosso carma: pelas ações superiores constantemente realizadas.

  Essas quatro qualidades da ação estão explicadas no Lam Rim (O Grande Tratado Sobre os Estágios do Caminho da Iluminação: O Lamrim Chenmo) por Tsongkhapa, um incrivelmente importante mestre da tradição budista.

  O que não foi explicitamente demonstrado é como atua uma das qualidades do carma, a quinta, que é:

  5. Uma lei superior sempre se impõe a uma lei inferior.

  Isso está implícito em todas as religiões. É a esperança e a fé da humanidade: que o mal pode ser vencido, o sofrimento pode ser vencido, a felicidade pode ser alcançada, uma vez que uma lei superior submete a lei inferior. Por conseguinte: necessitamos conhecer quais são as leis superiores. Necessitamos realizar ações superiores.

  Na medida em que realizamos ações superiores conseguimos suplantar nossos erros. Podemos escolher em adotar um caminho mais elevado do ser, entrando por uma trilha mais ascendente, renunciando às ações causadoras de sofrimentos e começando a realizar às ações que trazem felicidade, que produzem libertação. Precisaremos estudar como aquilo acontece em nossas experiências de cada momento.

AS DUAS LINHAS

  A linha da vida descreve nossa experiência do nascimento à morte. Não podemos dizer que esta é a linha do tempo, uma vez que se aplica a nós enquanto estivermos encarnados num corpo. Entretanto, dentro de uma visão mais ampla e compreensível também se aplica a nós de uma existência a outra. Podemos considera-la como o curso de nossa consciência dentro de todas as suas experiências através de muitos nascimentos e mortes. Nesta perspectiva, podemos afirmar que aquela é a medida das experiências de nossa existência, a despeito da condição de nossa matéria e energia (se num corpo ou fora dele). Uma vez fisicamente vivos ou fisicamente mortos a energia de nossas ações estará ainda em modo de propulsão. Fisicamente mortos não se acaba o movimento de nossas ações que geram consequências. A morte é somente uma transformação e não um final. A energia ainda estará em movimento.
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Figura 2

  Albert Einstein explicou que a energia não morre, simplesmente muda de forma. Logo, relativamente a totalidade da energia que já colocamos em movimento, através de ações em nossa vida inteira, para onde ela irá quando morrermos? O corpo físico morre, mas a totalidade daquela energia ainda continua se movimentando, e é isso que produz a nossa próxima existência (Pode-se aprender mais sobre o assunto no curso Morte, e nos livros Além da Morte, e Inferno, o Demônio e Carma).

  O fator chave é que estamos agora num corpo físico. Temos essa incrível máquina que tem incrível poder, e se estivermos espertos podemos utilizar essa matéria física a fim de transformarmos a energia de um jeito muito poderoso para produzir incrível troca. A cada momento estamos nos encaminhando para mais perto da morte. Não sabemos quando. Pode ser hoje ou amanhã. Isso nos é desconhecido, mas a cada momento, a cada instante, a distância entre o agora e nossa morte está diminuindo. Cada gasto de nossa energia faz avançar-nos em direção da morte, mas para nossa desgraça não sabemos se o uso da energia está elevando o nível  de nosso ser ou baixando-o. Logo, precisamos estudar uma linha adicional, a linha do ser. A linha do ser é vertical e intersecta a linha da vida nesse exato momento. O ponto no qual essas duas linhas se cruzam é o real instante do exatamente agora.
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Figura 3

  A cada momento, psicologicamente segundo nossa condição, temos um “nível do ser”. Esse nível do ser é a linha vertical da Árvore da Vida: os céus e os infernos. Sim, estamos num corpo físico que corresponde à sefira Malkuth, e sim, e todo o restante das sefirotes da Árvore da Vida está em nós, mas onde é nosso centro de gravidade? Onde, na Árvore da Vida, estamos enraizados a cada momento? Quais são as qualidades factuais de nossa mente e coração?

  Deixemos de lado a crença acalentada de que somos um pequeno anjo. Ao invés disso, olhemos os fatos do que está acontecendo a todo momento em nossa mente, em nossos sonhos, em nossas reações aos acontecimentos. Sentimos ódio, luxúria, orgulho, medo? Somos despertos em nossos sonhos, capazes de conscientemente viajarmos aos mundos internos conforme nossos desejos? Podemos ir e vir aos céus a falar com os seres que lá vivem? Ou nos sentimos muito mais em casa num bar, num bordel, num campo de batalha?

  Se nossa mente está caracterizada pela dúvida, medo, ressentimento, raiva, sensualidade, inveja e todos os tipos de qualidades, então nosso nível do ser está muito baixo. Está nos níveis demoníacos, nos níveis animais. Essas qualidades pertencem aos demônios e a todos os seres que estão nos infernos. Honestamente, sempre que somos sinceros conosco vemos que é o caso da humanidade. A humanidade não é uma civilização avançada. É grandemente animalesca, muito cruel, uma civilização muito violenta que não tem nenhum interesse em desenvolver profundamente a generosidade, a castidade, a paciência ou a consciência do amor. A sociedade não tem interesse na virtude, na ética. Nossa sociedade quer sexo, dinheiro, e dominar outros. Isso é só animal. É demoníaco e todos temos disso. Nosso nível do ser como um mundo e como individualidades é muito baixo na escala das coisas.
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Figura 4

  Contudo, podemos nos beneficiar da ação e escolhermos adotar comportamentos positivos. Podemos escolher avançarmos a todo o momento observando tipos superiores de ações físicas, emocionais e mentais. Podemos elevar nosso nível do ser, pouco a pouco, degrau a degrau, momento a momento.

  Podemos conscientemente tomar o controle de nossa mente animal, dominar aquele animal, treina-lo e converte-lo de um adversário para um auxiliar. Esse é um processo difícil, porém pode ser levado a termo, já foi feito e será feito por qualquer um que conduza isso seriamente.

  Quando meditamos é porque queremos experienciar níveis superiores. Para fazermos isso, precisamos produzir as ações que nos conduzam para aquelas consequências. A experiência do Nirvana, do Samadhi, de entrarmos nos domínios paradisíacos, de sairmos do corpo físico e determos experiências espirituais são as consequências das ações. Isso é científico. Experiências não acontecem por acidentes. Acontecem pela causa e efeito. Se nosso interesse é alcançar o samadhi (o segundo treinamento), podemos fazer isso, mas devemos produzir as ações que criem aquele resultado. Conforme já explicado, isso significa necessitarmos trabalhar em sila / ética, o primeiro treinamento.

  O primeiro treinamento, ética, deve ser aplicado por todo o tempo, especialmente em nossa vida diária, mas também em nossa prática meditativa. Se estivermos aflitos com sofrimento, ódio, ressentimento, dúvida, medo, essas qualidades podem unicamente nos lançar ao inferno, uma vez que pertencem ao inferno. Se quisermos ser livres do sofrimento, então precisaremos nos libertar das qualidades dos reinos inferiores. Para fazermos isso temos de discernir dentre aquelas factuais qualidades em modos de causa e efeito. Angústias somente podem criar dores. Invejas também. Luxúrias somente criam mais luxúrias e mais sofrimentos. A cada caso, pela observância dos fatos daquelas qualidades, vendo-as pelo que elas são, somente então poderemos extrai-las de nós. Somente então poderemos adotar ações superiores.
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Figura 5

  Ao nos sentarmos para meditar estaremos em nosso corpo físico (Malkuth). A maioria das pessoas que pratica meditação permanece em seu corpo físico pelo tempo de duração de sua prática, porque não sabe que deve deixar o corpo solto, de modo que a consciência possa estar livre de seu próprio condicionamento. Assim, elas podem ter música tocando, incenso queimando, podem ter alguém falando na vizinhança ao lado, ou um cão latindo nas proximidades, e se sentam como se realmente estivessem meditando, mas na realidade estarão ouvindo a todos aqueles sons, estarão cheirando àquele incenso, sentindo a dor nas costas, nos joelhos ou nas pernas e sua atenção estará 100% adstrita às sensações físicas. Eis porque elas nunca experienciam o estado de meditação, uma vez que estarão produzindo a ação que resulta na sua permanência em corpo físico. Ligadas e focadas na fisicalidade, não podem nunca deixa-la. Elas não estarão adotando a ação superior.

  Há pessoas que permanecem em suficiente relax para retirar a atenção dos sentidos físicos; elas começam a sentir outros tipos de sensações. Podem sentir-se como se começassem a explodir feito um balão, ou como se estivessem extremamente pesadas ou extremamente leves. Ou mesmo estando a sentir o corpo físico sentem-se também inclinar de um lado a outro de modo estranho. Essas pessoas começam a retirar a atenção da fisicalidade, tornando-se côncias da energia daquele corpo, que na cabala é chamado Yesod, a fundação. Isso é a fundação do corpo físico. É o corpo vital, da energia Chi.

  Alguém que melhor consiga relaxar torna-se então mais conectada com o que está acontecendo emocionalmente. Pode começar a ver imagens, ter visões e isso está relacionado com o domínio astral, o mundo dos sonhos (Hod).

  Mais sutil é o pensamento (Netzach), mais sutil é a vontade (Tiphereth), mais sutil é a consciência (Geburah), e mais ainda sutil que tudo é o espírito (Chesed). Existe uma progressão. O meditante que seja muito cuidadoso no uso de sua atenção, que queira adentrar aos mundos superiores, faz isso simplesmente desse modo: retirando a atenção de cada nível e centralizando-a cada vez mais profundamente nele próprio, dentro da própria consciência. Em síntese: deixemos o corpo físico, deixemo-lo sozinho, descansando, e nos esqueçamos dele. Conduzamos toda a atenção para o nosso íntimo fechando os sentidos inferiores. Em outras palavras: retiremos nossa consciência do corpo físico. Procedamos da mesma forma com todos os fenômenos perceptíveis em nós: energia, emoção, pensamento, memória, análise, visão, etc.

  Esse processo de retirada da atenção é o mesmo processo de entrada nos mundos paradisíacos em níveis, níveis e mais níveis. Tanto mais consigamos retirar a consciência de nossa fascinação pelo que percebamos, mais alto conseguiremos ir em nossos estados de absorções, em nosso samadhi, e, consequentemente, maior sabedoria poderemos obter. Qualquer um pode fazer isso. É exatamente um modo de produzir a ação. Aqui e agora começamos com o trabalho de experienciarmos cada momento.


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Figura 6

OS CINCO CENTROS

  Temos cinco centros de atividade psicológica. É no intelecto onde experienciamos o pensamento, estando o intelecto relacionado com nosso cérebro físico. O centro emocional está relacionado com nosso coração no centro de nosso tórax, onde sentimos emoções.

  Os centros instintual e sexual – o motor – são mais sutis, porém nos observando conseguimos entender como cada centro se comporta. O centro motor é onde aprendemos comportamentos, tais como movermos o corpo, como dirigirmos um carro, como andarmos, corrermos, como usarmos um teclado e um mouse, um computador e como realizarmos nosso trabalho. Essas são habilidades motoras. O centro instintual localiza-se na base da coluna espinhal, onde nossos comportamentos instintuais são controlados. Existe ali um centro de inteligência que manobra com todos os tipos de comportamentos animais instintuais, como preservação da vida. Finalmente, o mais poderoso e difícil de trabalhar é o centro sexual, que é aquele que cria a todos esses outros. Nascemos através do sexo e somos controlados, enfim, constantemente, de todos os modos, pela energia sexual.

  A maneira como administramos os cinco centros produz consequências a cada instante; assim, precisamos permanecer sempre cônscios deles e estarmos no controle. As duas linhas se intersectam nesse momento, exatamente agora. Se quisermos elevar agora o nosso nível do ser e continuar elevando-o, então precisamos saber: o que está acontecendo no intelecto? O que está acontecendo no centro emocional? O que está acontecendo no corpo?

  Observarmos a nós próprios é uma ação. Controlarmos a nos próprios é uma ação. Escolhermos um pensamento é uma ação. Escolhermos uma emoção é uma ação. O modo como usamos a energia através desses cinco centros cria nossa vida.

  Tudo sobre nossa pessoa em cada nível existe em sua consecutiva condição, na consequência de como foram usados esses cinco centros através de todas as nossas vidas anteriores até o momento presente. É um indicativo muito profundo e convido-lhes a refletirem sobre isso muito seriamente.
                      
  Nossas experiências imediatas – o estado de nossa vida – é o resultado de todas as nossas anteriores ações, não somente através de nosso corpo físico, mas também através de nossas emoções e pensamentos.

  Tudo isso – nossas ações físicas, emocionais e mentais – são todas produzidas pela força de vontade. Quisemos fazer o que fizemos. Essa vontade é Tiphereth, aqui no centro da Árvore da Vida. Essa é a Alma Humana na Cabala. A vontade (Tiphereth) toma-nos a energia e a usa através do pensamento, da emoção, da energia e fisicalidade. O que dá à vontade habilidade de agir? É a consciência que flui através dela e essa consciência na Árvore da Vida é Geburah. O que dá a consciente existência é o Ser, o Espírito, Atman, nosso mais profundo Buda, que é Chesed na Árvore da Vida. Chesed existe por causa das três sefirotes acima dele. Então vemos a interdependência das partes da Árvore e como a energia se move através de nós dos níveis mais sutis ao mais denso.

  Tudo isso está se manifestando aqui em nossos cinco centros, exatamente agora. O potencial para a libertação não é para o futuro. É para o presente sendo o indicativo de como usar a energia que está fluindo em nossos cinco centros a cada momento. É alternativa de escolha de ações superiores ao invés de ações inferiores. E para tanto, precisamos logo prestar atenção. Precisamos estar observando o fenômeno e não o segurando em pensamentos, emoções ou sensações físicas, mas observando a todo ele conscientemente. Isso não acontece automaticamente nem mecanicamente ou no auto piloto conforme temos ouvido por aí. É uma ação de observância; é um uso ativo da energia a cada momento; é observar ativamente o modo como pensamos ou sentimos e como nos comportamos fisicamente. Se aprendermos a fazer isso conseguiremos mudar a trajetória de nossas experiências.


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  Figura 7

  Se quisermos ser o que não somos, primeiramente temos de não ser o que somos. Isso significa que se quisermos elevar nosso nível do ser, se quisermos subir para não sermos um demônio ou um animal, mas nos tornarmos um ser humano real ou mais ainda, precisamos primeiro parar de sermos um animal e parar de sermos um demônio. Temos de renunciar às maneiras e comportamentos nocivos e escolhermos melhores. A fim de fazermos isso temos alguns exercícios que podemos utilizar.

EXERCÍCIOS

  Primeiro observe-se. Leve isso seriamente. Comprometa-se a realmente desenvolver o sentido de auto observância. É um sentido e não uma crença. Não é uma teoria. Não é exatamente algo de que gostamos e concordamos. É uma ação que precisa ser continuadamente realizada. Não é fácil, especialmente no início. É bastante difícil uma vez que não temos esse sentido treinado. Eis porque a imagem mais abaixo [da Árvore da Vida] mostra o monge bem atrás a perseguir os animais, a olhar em direção dos animais na intenção de observá-los. Mas também vemos logo acima o fogo furioso e esse fogo representa quanto de energia isso nos toma de início. Então o iniciante sempre nos diz: “Estou tentando observar-me, mas estou tão cansado, é tão difícil”. E pensa: “estou fazendo errado”. Entretanto, realmente ele está fazendo certo, pois inicialmente é exaustivo.

  É como quando começamos pela primeira vez na academia ou iniciamos uma dieta pela primeira vez, ou começamos num novo emprego; algo totalmente novo com que não estejamos ainda familiarizados. E nos toma muito de energia para aprendermos. A auto observância nos toma muito mais energia do que qualquer tipo de esforço mundano uma vez que não estaremos exatamente aplicando nossos sentidos físicos, porém aprendendo como usá-los conscientemente. Isso requer energia que seja muito mais sutil e não estaremos treinados com ela. Nossa sociedade de modo algum nos encoraja a esse comportamento. De todos os modos a sociedade quer que permaneçamos hipnotizados, mecânicos. Ela não nos quer na auto observância. Esse é o primeiro exercício: realizar esforços para desenvolver a auto observância.

  O segundo é começar uma revisão diária do que tivermos observado durante o dia. Todas as noites, ao final do dia, sentemos e relaxemos fechando todos os sentidos inferiores e revendo por nosso olho mental os fatos de tudo que foi observado naquele dia. Será como estarmos reconstituindo uma fita de filme ou um filme, como cameras que gravaram todas as coisas que fizemos o dia inteiro. Nossa câmera de segurança é nossa auto observância. Estaremos gravando os exatos fatos. Tentemos relembrar tudo o que pudermos. Sem análises, unicamente pela observância dos fatos. Não os interpretemos ou especulemos sobre eles; unicamente os reunamos

  Finalmente, o terceiro exercício é começar um diário espiritual:
  Download: Espiritualidade Prática 02 – PDF Diário Espiritual. Preparamos uma lista. É lista pequena de perguntas que devem começar a usar a fim de estimularem-se a se tornar mais cônscios de suas vidas espirituais.

  Muito embora possa parecer-lhes tolice, mas se realmente usarem o diário espiritual isso mudará suas vidas. Ele mostrará o que vocês não querem ver sobre si mesmos e aqui está precisamente seu valor: mostrar-lhes o que vigorosamente ignoram. Naturalmente que, primeiramente precisam usá-lo, e em segundo lugar precisam ser honestos.

  Vocês podem usar o diário espiritual da maneira que melhor lhes aprouver. Se quiserem tentar isso somente por uma semana para verem como se sairão, ótimo. Se não quiserem se reportar a todas as questões listadas, ótimo também. O diário é um recurso que podem usar designado a provocar observações. Por quanto tempo o terão é com cada um de vocês.

  Tradução Inglês / Português: Rayom Ra

                                                         Rayom Ra                                                                                                        http://arcadeouro.blogspot.com.br    

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