terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Fundamentos da Meditação (2) - Consciência


Figura 1

  "Uma consciência incondicionada está representada por uma luz no topo da Árvore da Vida, em hebreu chamada Ain Soph Aur. Aquela presença significa “luz ilimitada”, que em sânscrito é Amitabha. É a luz de todos os Buddhas, a mais alta luz da divindade que se projeta e dá vida a todas as coisas. E trazemos esse potencial de luz em nós. Cada coisa viva pode se tornar numa incorporação daquela luz".
 
EXISTEM INFINITOS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA

  Estivemos conversando com um homem há poucos dias, que nos disse: “meditação é a coisa mais difícil que podemos fazer”. Essa é uma perspectiva compartilhada por muitas pessoas. E não é exatamente acurada.

  A meditação real é um estado de consciência. Na verdade, o estado de meditação é o estado natural da consciência quando incondicionada. O estado de meditação não se encontra separado de nossa verdadeira identidade. Quando acessamos o estado de meditação estamos acessando o que realmente somos. O estado de meditação nele mesmo não é “difícil” ou “árduo” – seria como se disséssemos que é difícil para a água ela ser molhada, ou para o fogo ele ser quente.

  A consciência em seu incondicionado estado original é feliz, serena, sábia, amorosa, diligente, interiorizada, alegre e capaz de enxergar a realidade. Esse estado fundamental de consciência é o que chamamos “o estado de meditação”. Uma vez que a consciência originalmente é incondicionada, ela existe exatamente agora daquele modo, dentro de cada um, porém, infelizmente, se encontra nublada, velada, condicionada, obscurecida.

  Imaginemos um copo com água em que a água esteja suja, cheia de impurezas. A água pode parecer escura, mas a água limpa original está ainda lá: está exatamente nublada, obscurecida. Todos sabemos que é possível remover as impurezas e a original e prístina água perfeita venha ser recuperada e revelada. É esse, exatamente, o caso com nossa consciência.

  Então, a dificuldade reside em recuperarmos aquele estado original de consciência uma vez que precisamos mudar e, conforme sabemos, ninguém quer mudar.

  Nós nos tornamos de tal modo condicionados por fatores psicológicos que perdemos o acesso àquele estado natural. Temos demasiada raiva, luxúria, ganância, gula, inveja, preguiça; demasiado orgulho e muitas outras condições psicológicas que filtram nossa consciência: e aquelas qualidades [negativas] nos impedem do acesso ao estado de meditação. O que é de fato árduo é mudar aquelas qualidades. A meditação nos parece difícil por causa desses condicionamentos que nos impedem acessá-la. 

  A meditação nela mesma não é o que seja difícil, mas nossos condicionamentos é que nos fornecem as dificuldades. É essa verdadeiramente a principal diferença.

  Isso fica mais evidente quando sabemos que a consciência não é um ponto de vista de teorias nem de crenças ou de expressões que lemos num dicionário ou, ainda, do que pessoas nos disseram, mas vem de nossa própria experiência.

CONFIRMANDO OS FATOS SOBRE A CONSCIÊNCIA

  Em termos de fatos e experiência pessoal: o que é a consciência? Respondendo a essa pergunta: é o ponto inicial para uma efetiva vida espiritual. Espiritualmente, pessoalmente, pela experiência, necessitamos saber: quais são os fatos? O que podemos observar? O que podemos confirmar? O que podemos repetir?

  Aqui entramos numa conjetura científica. Não estamos procurando alguma coisa simples em que acreditar ou aspirar; algo a nos envolver como um cobertor seguro a fim de nos protegermos dos terrores do mundo. Ao invés disso, procuramos por algo que seja confirmável, que seja real, que possa ser experienciado e conhecido, não em futuro, mas hoje, agora.

  O estado de meditação é uma realidade que pode ser experienciada. A consciência é uma realidade que pode ser experienciada.

  Começamos de nossa imediata experiência, observando os fatos que dela nos advém e aprendemos como muda-la; e da mudança aprendemos novos fatos. Se não houvesse a possibilidade da mudança não haveria esperança. Porém, sabemos que podemos mudar. Temos esse poder. Então, começamos da posição do conhecimento dos fatos sabendo que podemos mudar, operando sobre uma via fundamental, em direção a objetivos realizáveis, objetivos realísticos.

  Se ao invés começarmos com mentiras que contamos a nós próprios, com mentiras que ouvimos de outros, mas acreditando nelas assim mesmo, acreditando em coisas que não podem ser provadas, então não temos a menor ideia para onde nos estarão levando. Não temos a menor ideia do que resultará de nossas ações.

  Este é um ponto de vista fundamental que enfatizamos repetidas vezes: crenças não importam. Realmente, não nos preocupamos com o que vocês acreditam. Acreditem no que quiserem. Falemos de fatos experienciados, confirmáveis, prováveis.

  Primeiramente, um fato deve ser observado.

  Observação é uma percepção, não uma ideia, interpretação, pensamento, julgamento ou análise. É simplesmente observação, a percepção de algo, de alguma coisa que seja real. É aqui onde devemos começar se quisermos aprender a real meditação e termos de fato uma verdadeira e efetiva vida espiritual.

  Percepção é uma ação da consciência. A consciência provê o poder da percepção.

  Se podemos perceber, então temos consciência de alguma coisa.

  Aqui temos o que vários dicionários dizem sobre consciência:

  1. O estado de sermos conscientes; conhecimento de nossa própria existência, condições, sensações, operações mentais, atos, etc.
  2. Imediato conhecimento ou percepção da presença de qualquer objeto, estado ou sensação.
  3. Um estado de alerta cognitivo no qual somos conscientes de nós próprios e nossa situação.

  Estas três definições descrevem alguma coisa ativa, em movimento, algo que está se movendo e mudando.

  Consciência é a base da vida. Cada coisa viva tem consciência ao seu nível.

  Nós, como seres humanos, temos a consciência de um ser humano. Animais têm consciência ao nível de um animal. Eles percebem, têm alguma consciência ou cognição de estarem vivos, e respondem a outros seres conscientes. Eles possuem inteligência aos seus níveis. Plantas também percebem. Elas respondem ao seu meio ambiente, respondem às condições. Elas têm consciência aos seus níveis. A consciência existe em todas as coisas vivas: moléculas, células, mesmo abaixo do nível atômico.

  Os cientistas têm provado que mesmo os quanta – partículas de luz – têm consciência. Elas fazem escolhas, tomam decisões, elas respondem ao seu meio ambiente, aos seus níveis.

  Consciência também pode ser encontrada em níveis mais elevados que os nossos. Pensamos de alguma forma que somos o pináculo de todas as coisas conscientes. De algum modo, a humanidade desenvolveu a arrogância de pensar que somos o maior desenvolvimento na natureza, o pináculo, o pico de todas as coisas vivas. Estamos absolutamente errados sobre isso, pois exatamente como existem seres conscientes em níveis abaixo do nosso, também existem os mais desenvolvidos que nós. Muita gente têm crenças sobre “seres superiores”, porém não estamos aqui tratando de crenças.

  O nível humanoide está realmente muito abaixo na escala de seres existentes, pois nossa consciência é de tal modo limitada e condicionada que não percebemos este fato. No passado, antes de nos tornarmos tão degenerados quanto somos hoje, podíamos perceber seres com mais desenvolvimento que nós, sendo por isso que temos tradições que nos descrevem deuses, deusas, grandes mestres e profetas; lembremos de Adão e Eva andando e falando com a divindade. Perdemos isso devido ao nosso condicionamento mental. Agora o que temos são exatamente crenças.

  Os círculos que vemos no mapa abaixo representam dimensões, mundos, níveis de sutileza na natureza.
Tree of Life 2.0 plain
Figura 2
A ÁRVORE DA VIDA (Cabala) - (Obtenha o pôster Get the poster.)

  O mundo físico em hebreu é chamado Malkuth, que significa o reino. É a esfera mais baixa. É nela que vivemos. Todos os demais mundos acima são de níveis mais sutis que interpenetram este. Eles não estão sobre as nossas cabeças, não estão fora em algum lugar do espaço. Eles estão aqui, justamente agora, porém são mais sutis que nosso reino físico. São todos populosos. Todos eles são habitados por seres que vibram naqueles níveis na natureza.

  Ao mesmo tempo há níveis mais densos de vida. São chamados reinos do inferno. Eles estão exatamente aqui, no exato agora, e os experienciamos segundo o estado de nossa mente. A maioria da humanidade já está psicologicamente no inferno.

  Nosso corpo físico é verdadeiramente um navio para nossa experiência psicológica, ela está mapeada aqui neste gráfico. Nossa experiência psicológica muda na medida da condição de nossa psique.

  Algumas pessoas vivem suas vidas que são um verdadeiro inferno. Quantas pessoas neste planeta estão em constante sofrimento, aflitas com constante raiva, luxúria, vício, desejo insatisfeito, inveja e medo? Consideremos a dimensão do sofrimento psicológico não exatamente sofrimento físico. Isso é o inferno que estamos experienciando através de nossos corpos físicos. Esse inferno está representado nessa sombra mais baixa da Árvore, chamado Klipoth, que em hebreu significa “concha vazia”. Esse inferno não está em outro lugar qualquer, mas aqui. É um reflexo de nossa psique.

  Alguém que não tenha consciência está numa “concha vazia”. A consciência é aquela última fração remanescente da Consciência que é incondicionada, inalterada, capaz de reconhecer o bem do mal. Uma “concha vazia” não tem consciência nem humanidade, somente defeitos, vícios, desejos, crueldade, etc. Vemos inúmeros desses tipos de pessoas por todo o mundo. Basta olharmos as notícias diárias. Podemos facilmente localizar pessoas que não têm consciência. São facilmente inclinadas a matar, estuprar, roubar, aleijar, mentir. São conchas vazias. Elas têm corpos físicos, mas psicologicamente são demônios. Não são humanas porque não têm consciência. Assim sendo, demônios não são seres fantásticos: parecem-se conosco, comem como nós, falam como nós, mas não têm consciência. Não podemos dizer quem seja um demônio por sua aparência ou maneiras. E demônios amam parecer doces, bondosos, inteligentes, belos. Essas pessoas não sabem que são demônios. Acreditam-se boas pessoas. Estão em todos os lugares entre nós, aguardando o momento de fazerem o mal, e se divertem com isso.

  Inversamente, há seres com altíssimas e muito puras qualidades caminhando junto a nós, ainda que não consigamos perceber tais qualidades nessas pessoas, devido ao condicionamento de nossa consciência.  E assim nós, tão aflitos com desejos e traumas, somente vemos o mundo através de nosso condicionamento.

  Todas essas coisas, anjos e demônios, mestres e diabos, não importa do que os queiramos chamar, têm eles consciência aos seus níveis, possam ter ou não corpos físicos. E todos esses compartilham com a consciência. Isso é universal entre todas as coisas vivas. O que é importante em tudo é que temos isso também, o que significa termos o potencial em nossa consciência para nos elevarmos ou decrescermos. Isso é feito simplesmente pelas vias onde nos comportamos, como agimos, como usamos a consciência

  O problema é que, de modo geral, não somos conscientes em como usar isso. De modo geral somos o exato auto-piloto, seguimos automaticamente através dos movimentos de nossa vida, perseguindo nossos desejos, vivendo o dia a dia até que finalmente morremos. Não utilizamos os poderes de nossa própria consciência. Não estamos despertos do estado de nosso Ser, não somos perceptíveis de possuir um estado de alerta cognitivo. Assim, seguimos exatamente de um momento a outro, dia após dia, fazendo o que achamos necessário fazer, sem estarmos conscientes daquilo, sem sabermos como aquela energia está sendo usada por nós. É precisamente por isso que estamos cercados por nossos problemas. Para mudarmos esse estado de coisas necessitamos aprender sobre a consciência, o que fazer. A consciência tem alguns poderes básicos que são universais a todas as coisas vivas.

  Os seguintes termos são muito técnicos, mas não os usamos leve ou vagamente, então é importante sabermos exatamente o que significam.

PODERES BÁSICOS DA CONSCIÊNCIA

  1. Conscientização: Larga percepção de espaço
  2. Atenção: Percepção especificamente focalizada
  3. Observância: Reconhecida continuidade
  4. Visualização: Imaginário não-físico

1. CONSCIENTIZAÇÃO

O primeiro poder da consciência é simplesmente conhecimento. Atualmente muitos falam sobre conhecimento. Todas as conversas mostram que estão falando do conhecimento como se fosse algo novo. Conhecimento é o portal para a maioria dos níveis de jardim de infância da espiritualidade.

  Conhecimento é simplesmente a percepção de que é grande e largo aquilo que se expande em torno de nós. Conhecimento é como a luz solar: espalha-se por tudo. Quando chegamos a um novo lugar, podemos ser conscientes de tudo quanto nos cerca através da visão, do olfato, do toque e da audição. Todas as coisas vivas têm conhecimento em diferentes graus.

2. ATENÇÃO

  Toda atenção é direcionada e específica. Está focada em alguma coisa. Conhecimento e atenção se complementam, mas diferem. Conhecimento é como uma luz radiante que se espalha para todas as direções. Atenção é como um projetor ou laser iluminando uma só coisa. Ambos funcionam ao mesmo tempo independentes um do outro. Isso é realmente importante para entendermos como a meditação trabalha. Precisamos compreender a diferença entre elas e como usá-las. Por exemplo: vocês podem estar conscientes desta sala, da cadeira na qual se sentam, da temperatura, de como estão se sentindo no geral, porém sua atenção está na audição, naquilo que estou explanando. Esta é a diferença. É simples, mas precisa ser claramente entendida.

3. OBSERVÂNCIA

  Observância é outra palavra lançada muitas vezes a esmo, de modo vago, e as pessoas ficam confusas sobre seu real significado. Observância é estar cognizante da continuidade da consciência. Observância é estar consciente do que se está fazendo a todo o momento.

  Quando estamos atentos ao que fazemos somos plenamente conscientes de nossas ações. Infelizmente, não aprendemos como usar essa habilidade da maneira como devíamos.

  Quando nos sentamos para assistir TV podemos estar cônscios de termos adentrado a sala, estarmos sentados no sofá, ligado a televisão. Podemos estar cônscios de termos feito todas essas coisas. E nossa atenção estará direcionada para a TV. Então nos absorvemos na história ou no que esteja acontecendo na televisão e perdemos a consciência da sala e da televisão, permanecendo “ligados” no programa. Esquecemo-nos de nós próprios. Isso não é uma experiência universal? E queremos essa “imersão”, certo? Queremos esquecer nossos problemas e de nós próprios.

  Porém, na verdade, isso é um estado negativo da consciência, uma vez que não estando atentos a nós próprios adentramos num estado de hipnose, num estado de sono, de sonho. Hipnotizados pela história, envoltos pelas emoções, pelo drama, esquecemos a realidade. Nos tornamos absortos pela ilusão e esquecemos a realidade. A maioria de nós acha que não há nada de errado nisso. Mas, na verdade, isso nos cria um monte de problemas.

4. VISUALIZAÇÃO

  O quarto poder da consciência é visualização, que é a habilidade em perceber o imaginário não físico. Esse é um poder da consciência muito importante que nos dias de hoje muitos grupos de meditação descartam completamente; na realidade, dizem-nos para evita-la.

  A percepção do imaginário não físico é um poder básico da consciência. É natural, é normal e necessário. Na verdade é impossível sem ele o desenvolvimento espiritual.

  Falaremos mais sobre esses quatro poderes através de palestras. Estamos exatamente introduzindo esse assunto.

DESPERTANDO O POTENCIAL DA CONSCIÊNCIA

  A chave para compreendermos isso é assim: “...A consciência tem o potencial para incrementar a um grau infinito”. – O 14º Dalai Lama.

  É isso o que a Árvore da Vida representa: o potencial infinito da consciência. O potencial infinito da consciência depende de sua condição. Ter o potencial para fazer algo não é a mesma coisa de faze-lo. Somente acreditar naquilo não faz sentido.

  Em nossa moderna sociedade todos falam em possuir sonhos acerca do futuro, e encorajamos nossas crianças a terem sonhos, a perseguirem seus sonhos. O que não percebemos é que sonhos são ilusões. Na medida em que os vamos deixando de lado como meros sonhos eles não representam mais nada. Verdadeiramente, não são nada. Se temos um sonho de nos tornarmos um Buda, um mestre ou um anjo: um sonho de irmos para o paraíso pode ser um belo sonho, porém nada significa.

  A real experiência no desenvolvimento espiritual é completamente diferente em relação aos nossos “sonhos”. Se hoje, em fatos e eventos mensuráveis, não estivermos experienciando o progresso da alma em direção aos reinos superiores, então não estaremos acessando como deveríamos e não conseguiremos fazê-lo se continuarmos a nos comportar como agora.

  O avanço espiritual não pode estar acontecendo por estarmos sonhando com ele. Esqueçamos os sonhos. Descartemos crenças e teorias.

  O desenvolvimento da consciência não ocorre em futuro. Ocorre aqui e agora, no momento.

  A consciência se encontra no momento presente. O futuro não existe, nem o passado. Porém, vemos quanto do nosso tempo e energia são gastos ao nos projetarmos para as imagens do passado, e em sonhos para as imagens do futuro, e quão raro, ativamente, é percebermos o momento presente. Isso significa vivermos nossas vidas em estado de sonho, sonhando sobre o passado, sonhando sobre o futuro, sonhando sobre o que queremos e o que não queremos. Enquanto isso não fazemos nada, unicamente existimos. Isso é realmente triste. Mas esses são os fatos do estado da humanidade. Estamos aqui falando sobre fatos. Todos sonhamos em irmos para o paraíso. Entretanto, quem estará realizando mudanças no condicionamento da consciência a fim de alcançar isso?

  O desenvolvimento espiritual proporciona um resultado mensurável. Não produz um resultado futuro. Não podemos medir o futuro uma vez que o futuro não existe. O desenvolvimento espiritual é medido na observância de fatos. Que são os fatos de nosso nível espiritual, exatamente agora?

  No budismo tibetano é dito que se quisermos saber o que acontecerá quando morrermos, devemos olhar para o que nos acontece ao cairmos em sono noturno, uma vez que no reino em que entrarmos quando morrermos será exatamente o mesmo reino em que entramos quando sonhamos. Assim, se esta noite quando formos dormir não tivermos a noção de quando caímos no sono, entrando naquele mundo, e nem tivermos a noção do que acontece quando estamos lá, o mesmo irá suceder ao morrermos. Não teremos consciência disso. Então, nosso renascimento será como acordar pela manhã, conscientes de estarmos num corpo e desejando saber onde nos encontramos. Isso é mensurável, experiência fatual que milhares, dezenas de milhares dentre centenas de milhares de praticantes confirmaram como fato. E podemos confirmar esse fato. Podemos desenvolver a habilidade de deixar o corpo físico cair em sono – que é a sefira Malkuth – para a consciência sair do corpo e sonhar na quinta dimensão, que está ao nível das sefirotes Hod e Netzach na Árvore da Vida. Podemos fazer isso despertos, com consciência, e confirmar – é real. Algumas pessoas chamam a isso de sonho lúcido, sonho Yoga, projeção astral; existem muitos nomes para identificar.

  Transferimo-nos para aquele mundo a cada simples momento em que caímos em sono fisicamente. A consciência sai do corpo e vagueia em torno, mas não se dá conta de que está lá, uma vez que estamos sonhando do mesmo modo que sonhamos quando estamos em corpo físico. Entretanto, se começarmos acordar em nosso corpo físico, estando conscientes de nós próprios a cada momento durante todo o tempo, começaremos a fazer aquilo na vida exterior de nosso corpo todas as noites. Começaremos a lembrar mais de nossos sonhos, a estarmos cientes deles, a confirmamos a realidade de que não estaremos em nosso corpo físico.

  Somos a consciência. Saímos do nosso corpo todas as noites. Há outra vida inteira fora do corpo físico, que sem dúvida é mais real que esta vida no mundo denso. É mais vibrante, mais viva e isso pode ser confirmado por qualquer um.

  O que estamos explicando aqui é que há graus de consciência. O Dalai Lama disse haver infinitos graus de consciência. É difícil falar sobre infinidade, então vamos diminuir a escala um pouco de modo a entendermos o que isso significa.

DESPERTO OU ADORMECIDO?

  Mais importante de tudo é precisamos entender a diferença entre estarmos despertos e adormecidos.

  Pessoas espiritualistas sempre espalham essa noção de “estar desperto”. Alguém está “desperto”, eles dizem, porém poucas pessoas sabem o que isso significa.

  Estar desperto não é algo extraordinário ou supernal. Primeiro, é simplesmente estarmos aqui e agora e cônscios disso. É termos a consciência totalmente engajada no momento presente, na completa capacidade que tenhamos. E realmente usarmos isso.

  Lembram-se dos quatro poderes da consciência?
  1. Conscientização: Larga percepção de espaço
  2. Atenção: Percepção especificamente focalizada
  3. Observância: Reconhecida continuidade dessas percepções
  4. Visualização: Imaginário não-físico

  Juntos, eles formam a experiência do estar aqui e agora, despertos de onde estamos em nosso corpo, observando-o ativamente, sentindo-o, percebendo-o através de todos os sentidos, engajados no momento, realmente cônscios do que estamos fazendo.

  Atenção é aquela parte da consciência que realmente está olhando para o que estamos realizando. Então somos cônscios de andarmos por aí, mas prestando atenção no que estamos dizendo. Há também a percepção sequencial, que é estarmos atentos na continuidade momento a momento, não deixando que nada nos escape. Alguns de nós prestam atenção e se mantêm concentrados por um, cinco ou dez segundos. Então se distraem por pensamentos, sentimentos, memórias, aborrecimentos ou preocupações caindo em sono outra vez. Essa é a distinção: desperto x adormecido. Estar desperto é estar aqui e agora, estar presente. Mas nossa capacidade de estarmos despertos é completamente diferente da capacidade que tem um mestre.

  Alguém como Jesus, por exemplo, é extremamente desperto. São assim pessoas como Buda, Krishna, Moisés. Há muitos exemplos de grandes mestres que têm grande despertar, significando possuir um poder de consciência que é como comparar nossa pequena chama de vela com um Sol. Para nós é assim inimaginável o quanto de poder flui através de suas consciências – de suas habilidades em perceber. Pois eles não veem onde estejam fisicamente do modo como nós fazemos.

  Conforme vemos, nossa consciência mal pode perceber o corpo físico. Fazemos esforços para estarmos presentes no momento, tentando observar coisas. Todavia, isso nos requer esforços e nossa amplitude é muito limitada, mesmo quando realizamos imensos esforços. E assim mesmo não conseguimos manter uma continuidade, a completa atenção naquilo que estamos realizando em momentos sequenciados.

  Desse modo, talvez no aqui e agora da classe, estudando, possam vocês por breves períodos estarem atentos, como agora quando dou-lhes uma palestra. Porém, provavelmente, vocês se encontrarão distraídos em determinados momentos perdendo a continuidade daquilo que eu esteja falando. E quando vocês se darem conta da falta de atenção, pensarão novamente: “Oh, espere, do que mesmo ele está falando agora?”. Passarão cinco ou dez minutos e não estarão exatamente conscientes de quanto tempo estiveram novamente distraídos. Em outras palavras, vocês não estiveram mesmo por aqui. “Estiveram em algum outro lugar”. Então, para nós há períodos em que estamos ligados e períodos em que estamos desligados. Isso se demonstra por fatos em que nossa completa atenção não é forte.

  Ademais, a escala de nossa percepção é limitada. Mal percebemos o corpo físico e pelos nossos sentidos muito menos qualquer coisa noutras dimensões. Um mestre pode perceber múltiplas dimensões não só fisicamente. Não faz diferença acreditarmos nisso ou não. Pode ser feito. Se trabalharmos no despertar do aqui e agora podemos confirmar isso.

  Assim, a consciência pode estar desperta ou adormecida, ativa ou passiva

  Esses são estados gerais, mas cada um detém muitos níveis. É como uma luz que pode estar acesa ou apagada. Ademais, conforme sabemos, a luz pode ser branda ou incrivelmente brilhosa. Do mesmo modo, o escuro pode ser suave ou tão negro de tirar a respiração. Com o estado de nossa consciência dá-se o mesmo.

CONDICIONADA OU INCONDICIONADA?

  Se ativa ou passiva, a consciência é também condicionada ou incondicionada. O mesmo com a luz que pode ser pura ou filtrada- colorida.

  Quando a consciência está condicionada significa que nossas percepções estão filtradas. Quer dizer: não enxergamos a realidade.

  Se usarmos lentes coloridas tudo o que vermos estará filtrado por aquelas cores. Não veremos o que realmente está ali. É isso que nos está acontecendo psicologicamente: nossas percepções estão filtradas por muitas condições.

  No nível mais fundamental, nossa consciência se encontra filtrada por estar num corpo físico. Estamos percebendo através dos sentidos do corpo e esses sentidos se estabelecem numa escala limitada. Os olhos podem somente ver a luz que os olhos físicos conseguem ver. Sabemos cientificamente que existe muito mais luz que a luz visível; na verdade, a luz visível é somente uma fração da luz que nos cerca durante todo o tempo. Porém, nossos olhos físicos não conseguem ver mais daquilo que conseguem ver. A mesma coisa é verdadeira com nossa audição, com o sentido do toque, com o sentido do olfato. Mesmo cães podem cheirar mais que nós. Há tanta coisa ao nosso redor em cada nível que não fazemos ideia. Pensamos que vemos tudo e sabemos tudo – na realidade pensamos que somos incríveis – porém, mal percebemos qualquer coisa de maneira completa, mesmo que seja fisicamente. O que captamos é de uma escala muito limitada. E isso é simplesmente uma sujeição ao condicionamento do plano físico, mas que não é o mais fundamental nem o mais importante condicionamento de que sofremos.

  Nossa mente, nossa psique, nossa percepção estão condicionadas por nossas experiências passadas, por nossos traumas, desejos, medos, ressentimentos, ansiedades, por todo o nosso estresse – por toda essa bagagem coletada – resultado de nossas anteriores ações. Nossas percepções estão filtradas por tudo aquilo e não temos qualquer conhecimento daqueles fatos.

  Quando vemos outra pessoa estamos sempre traduzindo nossas percepções segundo nosso condicionamento. Quando vemos algo fora de nós, interpretamos aquelas percepções segundo nosso condicionamento, tudo sem o conhecimento real.

  Por exemplo: se saímos e encontramos um cachorro, cada um de nós reagirá de modo diferente com o mesmo animal, devido às experiências que tivemos no passado. Não perceberemos os fatos do cachorro como realmente são. Ao invés disso, experimentaremos tão somente as reações psicológicas que ressurgem em nós. Eu conheço uma pessoa que quando criança foi mordida por um cachorro. Ela agora fica terrificada na presença de cachorros. Conheço outra que ama cachorros, que cresceu com cachorros e teve vários deles domésticos. Ela também foi mordida, mas isso não lhe foi traumático. Essas duas pessoas tiveram experiências totalmente diferentes: diferentes bases, condicionamentos, reações, e diferentes respostas. Uma vê um cachorro agora e sofre emocionalmente. Outra vê um cachorro agora e fica emocionalmente alegre. Ambas as respostas são devidas aos seus únicos condicionamentos. Nenhuma vê o cachorro pelo que ele verdadeiramente é; ao invés, o veem através do condicionamento da psique. Elas não estão vendo a realidade do cachorro. Não veem a alma do cachorro, mas veem suas memórias em relação aos cachorros e suas respostas emocionais. Há aqui enorme diferença.

  Fazemos isso com nossas percepções de absolutamente tudo. Não vemos outras pessoas pelo que elas absolutamente são; vemos somente as percepções filtradas através de nossos condicionamentos. Fazemos isso conosco mesmo. Nenhum de nós se vê da realidade: de como verdadeiramente somos. Vemos-nos a partir de nossos condicionamentos.

  Ninguém no planeta Terra se vê a si próprio.

  Então, o que é a realidade? Ninguém sabe. Nossas percepções do mundo exterior e do mundo interior são completamente filtradas, não acuradas e não temos qualquer consciência disso devido a estarmos totalmente condicionados.

  Por que isso é importante? Porque sofremos. Estamos sofrendo. Cada ser está sofrendo devido a isso. Porque não vemos a realidade. Quanto mais tentamos mudar nossas condições exteriores elas nunca mudam porquanto a causa fundamental de nossos problemas é nosso condicionamento psicológico.

  Acreditamos que comprando aquela coisa nova estaremos felizes, ou se nos mudarmos para uma nova cidade, se conseguirmos um carro novo ou um novo namorado ou namorada, ou irmos daqui para ali. Essas ações nunca nos trazem a felicidade que buscamos. E ainda continuamos tentando, acreditando em nossos “sonhos”, correndo atrás de ilusões, passando dia após dia num estado de sonho, nunca entendendo que o problema não está nas circunstâncias exteriores, mas sim em nosso condicionamento interior. Não entendemos que não nos encontramos num perfeito estado de consciência, mas num estado condicionado.

CONSCIÊNCIA INCONDICIONADA: NOUS

  Em grego, o estado de perfeita consciência é chamado Nous. Esta palavra tem muito de profundidade e sutileza.

  Um perfeito estado de consciência é aquele completamente incondicionado. Para usar um termo popular ou frase podemos dizer: liberto ou autorrealizado. Nous descreve uma consciência que se conhece completamente; que é plenamente cognizante de sua realidade, sua verdadeira natureza; que é absolutamente liberta de todo condicionamento e totalmente feliz. É uma sabedoria amorosa, radiante, brilhante, bela. É um reflexo de tudo o que seja o mais divino, que vê a realidade, que não vê tão somente a aparência física de uma determinada coisa. Ela também vê a quarta, quinta, sexta e sétima dimensões ao mesmo tempo. Vê simultaneamente a aparente e última realidade sem esforço.

  Esse é o estado de consciência daqueles grandes mestres como Jesus, Buda, Moisés, Krishna, Padmasambhava, Milarepa, etc.

  Uma consciência incondicionada está representada por uma luz no topo da Árvore da Vida, que em hebreu é chamada Ain Soph Aur. Aquela presença significa “luz ilimitada”, que em sânscrito é Amitabha. É a luz de todos os Buddhas, a mais alta luz da divindade que se projeta e dá vida a todas as coisas. E trazemos esse potencial de luz em nós. Cada coisa viva pode tornar-se numa incorporação daquela luz.

  A perfeição daquilo em sânscrito é chamada Paramarthasatya, que é a incorporação do absoluto conhecimento, absoluta felicidade e cognição. Um ser perfeito. Existem muitos seres semelhantes, porém mal podemos compreende-los, uma vez que nos encontramos muito aquém daquele estado. Mas sabendo que é possível, que aquilo existe e que podemos nos tornar iguais, isso é muito importante. Dá nos esperança.

REVOLUÇÃO CONSCIENTE: DIANOIA

  Precisamos incorporar um estado de ser que passe a trabalhar para aquela meta. Em grego isso é chamado Dianoia. Essa é também uma palavra bastante sutil com diversos e profundos significados. Chamamos a isso de “o terceiro estado de consciência”. É o estado de alguém que esteja constantemente trabalhando a cada momento a fim de ser consciente dele próprio, usando cada grama de seu poder, quer físico, emocional, mental ou espiritual. Pessoas assim trabalham para mudar, libertar-se de seus condicionamentos, eliminar deles toda a sua raiva, orgulho, medo, ganância, inveja, gula, preguiça. Tudo isso.

  Em outras palavras, essas pessoas estarão desistindo do egoísta “eu”, procurando somente servir ao bem maior. Aspiram libertar-se de todo o condicionamento para se tornarem num ser humano real, incorporando do amor, do zelo, da generosidade, da ação heroica para outros e de todas as demais perfeições da alma. Ou seja, essas são pessoas que estão regenerando a si próprias, buscando matar a todas as impurezas íntimas e a darem nascimento a divindade. É uma bela meta. Difícil de ser alcançada, mas que pode ser realizada.

  O mais importante: aqueles que estejam trabalhando nesse nível não estarão exatamente pensando ou lendo sobre isso, mas sim despertando. Esses estarão experienciando; suas consciências estarão sendo libertadas e se expandindo. Estarão percebendo mais, vendo e experienciando mais. E isso inclui estarem despertando em outras dimensões.

HUMANIDADE SONHADORA: PISTIS

  Agora temos Pistis, termo também grego de várias sutilezas e profundidades. Aqui o estamos utilizamos para nos referirmos ao nível de consciência das pessoas comuns, de todas as pessoas do mundo que pensam estar despertas e serem boas, achando que estarão indo para o paraíso ou nirvana, mas que, em verdade, estão profundamente adormecidas. Elas vivem num estado de sonho, cheias de vícios, defeitos e perversidades, entretanto convencidas de que são “pequenos anjos”.

  Pistis é o nível de consciência de uma pessoa comum completamente adormecida, querendo ser boa, mas unicamente ocupada em ajudar-se a si mesma em primeiro lugar. Todas as pessoas querem estar amando, mas inevitavelmente carregam raiva, ódio, ressentimento, ciúme, parecendo não desejar mudanças em si próprias. Esse é o nível de consciência denominado Pistis: da pessoa mediana, adormecida, sonhando estar desperta.

HUMANIDADE EGOÍSTA E BRUTAL: EIKASIA

  Então existe o nível de consciência de pessoas degeneradas: Eikasia. O nível Eikasia está ligado às pessoas que são basicamente animais em corpos humanoides. Tais pessoas são bestiais, instintivas, dominadas por desejo, raiva, orgulho, libido. Elas não têm interesse em nada exceto na satisfação de seus desejos, não se importando o quanto isso lhes custará ou o quanto fazem outras pessoas sofrerem.

  Nesse momento, há pessoas deste tipo em demasia no mundo, e parecem estar crescendo em número. Elas parecem controlar a mídia, políticas, negócios, religiões. São pessoas que se apossam de qualquer coisa que consigam, a qualquer momento possível, não se importando com as consequências. Nada lhes abala sobre nada, desde que satisfaçam seus desejos, não lhes importando o custo.

  Podemos incluir nesse nível aqueles negativamente despertos, que tiveram a consciência desperta enquanto ainda condicionados pelo orgulho, luxúria, raiva, inveja, etc. Noutras palavras: são diabos, demônios, bruxos, feiticeiros e outros. Parecem pessoas corriqueiras, porém suas consciências estão despertas dentro do condicionamento de seus defeitos e impurezas. São bastante perigosos e criam muito sofrimento a si próprios e a outros.

QUAL É NOSSO NÍVEL?

  Detemos o potencial de termos nossa consciência em qualquer desses níveis, sem que nada tenha a ver com crenças. Nem tendo a ver com nosso estado de ser a cada momento. Então, como nos comportarmos? Como agir? Como usarmos nossa energia? Pois naquilo que acreditamos, em que pensamos, no que sonhamos, nada significam. Somos provados por nossas ações, através dos fatos.

  As imagens da Árvore da Vida e o Bhavachakra representam níveis, níveis e mais níveis de consciência. Aqueles níveis são experiências de vida determinadas pelo condicionamento de nossa alma, nossa consciência.

  A Árvore da Vida é a base de todas as tradições ocidentais, apesar de as pessoas se terem esquecido disso. Todos aqueles termos escritos na Árvore da Vida estão em sentido dissimulado, em hebraico, espalhados por toda a Bíblia; e se não soubermos em hebraico os significados das letras e palavras da Bíblia, então nunca poderemos entender a Bíblia.

bhavachakra nepal

Figura 3

  O Bhavachakra é um símbolo fundamental das tradições orientais. Representa não somente os seis reinos de diferentes seres, mas também Pratityasamutpada, que está no anel exterior como a corrente de causalidade de todas as coisas. O anel central representa a transmigração da consciência através de níveis de existência. O próprio coração mostra as três causas do sofrimento: ignorância, desejo e aversão.

  Ambos os mapas exprimem sobre a exata mesma coisa com um pequeno ângulo de diferença. Ambos são mapas de nossa alma. Também refletem o mundo exterior, todos os seres que migram através da natureza: anjos e demônios, espíritos, deuses e semideuses. Tudo isso está aqui representado. Entretanto, não significam nada para nós. O que deve significar alguma coisa para nós é quem somos, para onde estamos indo, como podemos mudar para melhor. Esses mapas refletem isso. Podem nos ensinar isso. Representam mais significativamente o potencial a mudar.

  Nada permanece o mesmo. Todas as coisas dependem de causa e efeito. Se desejamos crescer a um nível de Ser precisamos somente agir na direção que cria esse resultado.

A RODA DO TORNAR-SE

  As pessoas chamam a este símbolo de A Roda do Samsara ou Roda da Vida, mas o verdadeiro nome é Bhavachakra, que significa a “Roda do Tornar-se”. Esta roda é o móvel de nossas próprias ações a cada momento. O movimento é o que determina aquilo no que nos tornaremos. Também significa que aquilo que somos agora foi originado do que fizemos antes. Nossos pais não nos conduziram para esta via. Nem nosso patrão, marido, esposa, namorado, namorada, amigos ou irmãos. Não foram também nosso país ou cidade, nem nossa educação. Fizemos por nós mesmos, uma vez que aqui entramos por decorrência de nossas próprias escolhas. E não exatamente pelo colégio que escolhemos estudar, pelos tipos de roupas que decidimos usar – essas nossas escolhas de cada momento. Mas sim, ao modo como respondemos à vida é o que nos determina quem somos.

  A roda estabelece seis reinos gerais de experiência.  
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Figura 4

  No topo são os “deuses”, aqueles seres que parecem possuir tudo: poder, alimento, água, roupas finas. Eles têm de tudo o que possivelmente possam querer, porém não são felizes porque querem ainda mais, enquanto outros estão tentando tomar-lhes o que têm. Quanto mais eles comem e bebem nunca estão satisfeitos. Precisam de mais e mais. Entretanto, a qualquer instante podem perder tudo. A maioria das pessoas que estuda budismo acha que “deuses” são como Zeus, Krishna, ou outros deuses de diferentes panteões, e isso pode significar-lhes que, o mais importante é também destacar pessoas ricas deste planeta. Comparados com o restante de nós, as pessoas mais ricas realmente vivem como “deuses” e ainda que se lhes devocionem querem tomar-lhes o que têm.

  Falando toda a verdade, se olharmos a humanidade como um todo observando os fatos, a maioria das pessoas, em lugares como os Estados Unidos e Europa, poderiam ser consideradas como “deuses”, porquanto possam não ser super ricos, mas têm acesso ao melhor dos alimentos em todo o planeta, à melhor água, às coisas excelentes, às ótimas roupas. Americanos e europeus podem conseguir o que quiserem, sempre que quiserem, uma vez que nunca estão felizes; ao invés disso, estão sempre buscando mais, mais, mais e nunca se acham contentes com as coisas exteriores.

  Há uma estatística que informa que se nossa família ganha mais de $50,000 ao ano estamos no patamar dos 5% mais ricos da população planetária. Nenhum dos ocidentais se conscientiza disso. Cada um acha-se muito pobre e não tendo o suficiente. E mesmo o muito rico sente-se assim desse modo.

  Cada um, em cada reino, também representa, no exatamente agora, pessoas em torno de nós.

  Os semideuses são aqueles que detêm maiores poderes e saúde, comparativamente aos outros, ainda que sejam conduzidos a se tornarem deuses e a obterem ainda mais. Eles são orgulhosos, arrogantes, normalmente belos em aparência, porém dominados pela ganância e competição

  Os seres humanos são aqueles da média, os que estão no meio, nem no inferno nem no céu, sobrevivem, mas também são vítimas de circunstâncias: dormem e sonham tornarem-se deuses ou semideuses, estando preocupados em não descerem aos reinos mais inferiores. A maioria desses, nasce, cresce, dá nascimentos, cria filhos, fica doente e morre, sem mesmo saber porquê.

  Espíritos famintos são aqueles que dia após dia estão sempre esfaimados, viciados, envoltos pela pobreza e com hábitos autodestrutivos, mesmo quando obtêm aquilo que querem. Isso os machuca e os faz sofrer mais. A esses incluem-se alcoolismo, vícios sexuais e de drogas e jogos; a outros, os vícios por dinheiro, propriedades, posses, etc.

  Os animalizados são aqueles que vivem intensamente dominados pelos instintos: medo, luxúria, fome, o desejo de dominar os outros. A eles incluem-se os que são fascinados pelos seus próprios corpos ou corpos de outros, os que vivem somente para comer, ter sexo e dormir.

  Os reinos do inferno são para aqueles que sofrem muito mais: aqueles que vivem em escravidão, em zonas de guerra, sob ditaduras ou tiranos, que estão completamente armadilhados e sem meios de escapar desse sofrimento, exceto pela morte. Nos dias de hoje seus números são incontáveis. Sem exceção, todos esses seres migram de reino a reino segundo suas ações.

  A roda gira em torno de um eixo: ao centro da roda estão os fatores ao redor dos quais giram todas as existências condicionadas: desejo, aversão e ignorância da realidade. 
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Figura 5

  Tudo isso descreve nosso estado condicionado: estamos sempre desejando, sempre evitando nossos medos e na mais completa ignorância sobre a realidade. É só vermos o Bhavachakra a mapear nossa mente.

A REALIDADE DO SOFRIMENTO

  O que mantém este ciclo em movimento é a ignorância de quem realmente somos. Pensamos que somos essa pessoa com esse nome e esse corpo, com nosso “look” específico e estilo, e pelo nosso gosto por músicas, roupas e políticas.

  São todas mentiras, coisas aleatórias, que sem dúvida reunimos ao longo do caminho, e que em verdade não significam nada. Não sabemos quem somos como uma alma. Não sabemos de nosso nível de ser, ou que acontecerá quando morrermos. Nem mesmo percebemos que caminhamos para a morte. Não sabemos onde estávamos antes de nascermos nesse corpo e nem para onde iremos quando esse corpo morrer. Ademais, não nos damos conta de que tudo o que acumulamos nessa vida se perderá. Ainda assim, incansavelmente, queremos mais! Por que, se vamos perder tudo? Por que investir em mais problemas? Não temos a menor consciência de nada disso.

  Então não importa a qual reino daquela roda pertençamos, estamos mesmo é sofrendo! Todas as pessoas em todos aqueles reinos da roda sofrem: os deuses, os semideuses, os seres humanos, os animais, os espíritos famintos e os demônios. Todos sofrem segundo seus condicionamentos. Ninguém está satisfeito, em paz, com conhecimento.

  Nos inclinamos pensar do sofrimento com sendo unicamente físico, porém isso não é a totalidade do sofrimento. Não é o real significado da palavra sofrimento. Isso é na verdade o primeiro tipo, o sofrimento óbvio: o sofrimento do sofrimento que inclui, dor, nascimento, doença, ir ficando velho e ir morrendo. São óbvios, e cada um de nós tem de encará-los. São inevitáveis, ainda que acreditemos que podemos evita-los. Detemos muita aversão a eles e sofremos por causa dessa aversão. Fazemos o possível para evitar a realidade da velhice. Fazemos cirurgias para parecermos mais jovens. Temos todos os tipos de maquiagens a fim de esconder nossa idade; tentamos de todos os modos evitar a idade e ao fato da inevitabilidade da morte. Não desejamos estar face a ela, e sofremos por causa disso.

  Se realmente encararmos a realidade e a compreendermos não sofreremos, especialmente ao estarmos diariamente preparados para a morte. Voltemos à frase que eu disse há pouco: “se quisermos saber o que acontece quando morremos, vejamos o que acontece quando caímos no sono a noite”. Isso não é de modo algum para assustá-los. Esta frase é dada a fim de que compreendamos que “se pudermos entender o que acontece quando morremos, podemos estar preparados para morrer sem sentirmos medo”. Entao, pessoalmente, não estaremos com medo da morte. Se estivermos com medo da dor é porque não estamos acima dela. Então, se não estivermos com medo de morrer é porque sabemos o que acontecerá.

  Podemos também treinar diariamente a fim de que compreendamos e entendamos o que seja o processo da morte e não fiquemos com medo dela. Daí, sofreremos menos. Então estaremos em condição de ajudar outros a não sofrer. Que melhor coisa haveria em reduzirmos nosso sofrimento e o sofrimento de outros?

QUÃO PROFUNDO É O SOFRIMENTO DA MUDANÇA

  Todos temos essa ansiedade ou estresse de tentarmos segurar as coisas que estão constantemente em mudanças. Ficamos presos nessa ilusão. Todos queremos reter nossa juventude. Não vemos como pessoas ficam desesperadas a fim de reter a juventude? Elas querem parecer jovens. Vemos pessoas idosas se vestindo como adolescentes, fazendo todos aqueles procedimentos cirúrgicos para tentar parecer jovens, visto estarem aprisionadas nessa ilusão. Elas estão sofrendo o sofrimento da mudança e não querem aceitar a realidade de estar envelhecendo.

  Por que as pessoas tentam ignorar a velhice? Porquanto ao verem pessoas mais velhas têm de encarar o fato de que elas também ficarão velhas. E, tristemente, as pessoas não querem aceitar essa realidade. Então, as pessoas mais velhas sofrem ao serem esquecidas, isoladas, ignoradas, etc.

  E o que mais? Não queremos aceitar a realidade que nossas crianças crescerão e partirão. Que elas ficarão doentes, morrerão.  Não queremos aceitar a realidade de que a vasta maioria das circunstâncias externas estão completamente fora de nosso controle.

  Estamos sempre pensando e tentando descobrir “como posso controlar minha vida?”. “Como posso controlar o que está acontecendo de forma que eu tenha segurança e conforto?”. 

  Nunca teremos condições de fazer isso. Despenderemos a vida inteira na busca dessa ilusão. A vasta maioria das pessoas neste planeta sofre dessa ansiedade ou estresse sempre que tenta manipular, mudar ou estancar coisas que não podem ser dominadas. Isso é um sofrimento muito profundo. Se realmente observarmos, veremos que isso é a raiz da maioria dos problemas que encaramos nesse planeta.

  Queremos a identidade com aquilo que vemos nos anúncios, como aqueles jovens que são tão belos e atraentes com todas aquelas belas roupas, belos carros e belas casas; crianças espertas que estão a caminho de se tornarem doutores. Aquela vida perfeita que nossa mídia sustenta diante de nós como uma cenoura que os faz ricos. E todos seguimos aquilo cegamente não percebendo seus 100% de mentira.

  A vida não funciona como aquilo que nos é mostrado na TV. Entretanto, estamos tão condicionados pela mídia programadora que não percebemos.

  É muito profundo e duro entender que o sofrimento é devido a uma existência condicionada. É muito difícil absorver o que seja isso. É algo sutil, uma insatisfação generalizada. Não importa o que façamos, ao que chegamos, o que ganhamos ou recolhemos. Nunca estamos satisfeitos.

  A razão disso é que temos uma percepção errada do que seja nosso Ser. Não vemos a realidade. Achamos que se conseguirmos aquele emprego, aquela educação, se vivermos naquele lugar, se casarmos, termos crianças, se fizermos todas as coisas que a sociedade nos diz para fazer, seremos felizes. Mas isso não é verdade, porque nenhuma dessas coisas nos basta. Elas são fugazes como uma miragem.

  E o tempo todo ignoramos aquilo que nos pode trazer alegria. O que nos fará saber quem realmente somos, e que está mapeado nesta imagem. Isso está dentro de nós e não fora de nós. O que é a nossa realidade? O que é nosso Ser? Alguns o chamam Deus. Porém, este termo tem muito de bagagem. Então o termo Ser é melhor porque está num estado ativo.

  O que é então nosso verdadeiro Ser? Nós não o vemos, não o conhecemos. Então sofremos. E todas essas coisas são devidas àquilo.

  Na roda, bem ao centro, tem três criaturas e a raiz um é a ignorância. Essa é a ignorância da verdadeira natureza de uma pessoa. É devida a não se conhecer a realidade do indivíduo. E o centro da roda inteira é que gira em torno da ignorância fundamental.

  Eis porque meditamos. E o porquê é: aprender pela experiência através da realidade. É cortar todas as ilusões em nossas percepções. “Estaremos libertos da ilusão e do condicionamento quando nossas desilusões e ações cármicas contaminadas estiverem esgotadas”.

  Esse destaque vem de Nagarjuna que é um grande mestre do budismo. A libertação do sofrimento não é um assunto de crenças. Bilhões de pessoas acreditam em bilhões de coisas e todas continuam a sofrer. Não importa no que acreditemos, não muda em nada o nosso sofrimento, os fatos fundamentais. Crenças não nos ajudam em nada.

  O que nos ajuda a manobrar com a desilusão? Não vemos quão próxima esta palavra é da palavra ilusão? É uma imagem. Uma desilusão é uma imagem. Mas é psicológica. Não é exterior. A desilusão é o que temos dentro de nossa cabeça. Não tem nada a ver com ninguém mais. É sobre nós mesmos. 

  Estaremos libertos quando nossas desilusões estiverem esgotadas, quando conseguirmos ver as ilusões do que seja. Quando vermos e percebermos que alguma coisa em que pensamos seja irreal e, portanto, não real, esse algo perde seu poder. Se alguém chega e nos faz um terrível xingamento, isso fere nosso orgulho. Sentimos a dor. Se nosso melhor amigo diz-nos isso, ou nosso irmão, ou professor, ou alguém que respeitamos – doí-nos muito. Porém, se um criança nos diz, não nos machuca. Olhamos a criança e dizemos “ Ora, seu pirralho”, e sorrimos. Mesmo se uma pessoa doente nos xinga, alguém que esteja realmente doente, e nos ataca, sabemos a isso dever entender não como um caso pessoal e procuramos ajuda-lo. Mesmo que nos ataque e xingue não nos dói, pois compreendemos que ele está sofrendo.

  Vemos então, em cada caso, que a palavra é a mesma, mas a recebemos de maneira completamente diferente. Não que a palavra seja diferente, mas sim a conotação que damos a palavra, psicologicamente, dentro de nós. O valor que damos a ela é que faz a diferença.

  Podemos aprender esse mesmo fenômeno com tudo o que percebamos. Quando aprendemos como perceber as coisas do modo como elas de fato são, reduzimos o nosso sofrimento.

  Quando, verdadeiramente, entendemos que a grande e gorda conta bancária e o grande e gordo anel em nosso dedo, ou todas as coisas que a sociedade nos diria que supomos possuir, realmente não tenham o significado que supúnhamos ter, sofremos menos.

  Quando entendemos que nossa idade seja irrelevante, que nossa beleza seja irrelevante, sofremos menos.

  Quando entendemos que realmente não nos importamos com o que as pessoas pensam sobre como nos vestimos ou falamos, sofremos menos.

  Sofremos devido aos valores que atribuímos às ilusões.

AÇÕES CÁRMICAS CONTAMINADAS

  A palavra karma simplesmente significa “fazer”. A Bíblia diz em várias passagens que recebemos de nossas ações. Colhemos o que semeamos. Assim como fazemos, recebemos. É tudo o que o carma significa: causa e efeito.

  Estamos no interior das circunstâncias, estamos dentro delas devido às nossas anteriores ações. Se quisermos melhores circunstâncias precisamos desempenhar ações superiores, melhores ações. Isso é tudo.

  Ao renunciarmos a um desejo inferior, a uma ação inferior em favor de outra superior, recebemos resultado superior. É muito simples.

  A dificuldade é deixar os desejos irem-se, reconhecendo que o resultado de um desejo é a compensação do que realmente queiramos dele, não venha ser  tão bom quanto seja a nos desempenharmos de uma ação do tipo superior. Desse modo, essas duas ações sendo comparáveis a estarem em união uma com a outra, desfazem em nós a desilusão e nos encaminham ao desempenho de ação superior, que leva a nos libertarmos das condições. Eis como mudamos nosso nível do Ser. É assim que mudamos nossas relações com essa roda do tornar-se. É como mudamos nossa relação com a Árvore da Vida, elevando nosso nível do Ser.

  Conhecem a história de Jacó na Bíblia, que caiu no sono com sua cabeça apoiada na pedra e teve a visão de anjos subindo e descendo a escada? Essa é a escada. Vai para cima e para baixo, dos mundos superiores aos inferiores. Ela está em nós e não fora de nós. Então como procedermos com a mudança? Trabalhando com fatos.

COMO MUDAR

  Meditação começa neste momento. Meditação não é algo que somente fazemos uma vez na semana ou uma vez a cada duas semanas por dez minutos. Se realmente querem aprender a meditar, comecem agora.

  Meditação começa em como aprendemos a usar a consciência durante todo o tempo em que estejamos fazendo qualquer coisa. É sermos conscientes de nós próprios. Trabalharmos com fatos, com a realidade. Deixarmos de lado as crenças. Desapegar-nos das ilusões. É assim que a meditação real nasce. É um estado do Ser.

  É estarmos cônscios de nossa própria existência, nossa própria condição, sensações e mente. Não exatamente pensando sobre isso, mas observando isso, observando a nós próprios. Meditação começa isso com isso: a cada momento estarmos cônscios de nós próprios, prestando atenção a nós próprios. Estarmos concentrados em momentos de continuidade, percebendo ativamente.

  Meditação é um estado de consciência e este estado resulta em termos a consciência muito alerta e no presente momento.

  Não podemos alcançar isso somente tentando dez minutos por dia, ou a cada duas semanas. Precisa ser um esforço continuado, constante.

  Quando entramos naquele ritmo de sempre estarmos no momento atual, sempre trazendo nossa atenção para o aqui e agora, começamos a nos treinar e desenvolver a habilidade. Nos tornamos mais fortes.

  É o mesmo de quando vamos à academia e tentamos fazer exercícios. Se nos exercitarmos unicamente por um mês, não chegaremos a lugar algum. Certo? Todos sabemos disso. O mesmo com uma dieta. Se fizermos a dieta num único dia do mês não estaremos no caminho da mudança. Precisa ser um estilo de vida. Com meditação é a mesma coisa, ainda que seja muito mais que um estilo de vida. É um caminho do Ser. Constante.

  Assim, deste ponto de vista, meditação parece-nos difícil de início. Isso está representado na imagem dos estágios da concentração meditativa.
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Figura 6

  Este mapa revela estágios do desenvolvimento da concentração, que é a atenção. Como estamos trabalhando para desenvolver a atenção, começamos lá embaixo, no início, como a pessoa que está praticando, correndo atrás de dois animais: o elefante e o macaco.
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Figura 7
  Eles representam a mente selvagem que todos possuímos. Quando buscamos meditar observamos que ao sentarmos para tal a mente sai exatamente correndo. É selvagem. É difícil controla-la. Aqui na figura vemos um fogo ardente representando o esforço que desenvolvemos de início, que nos toma muita energia, muito do esforço. Porém, ao olharmos acima desse caminho, no modo como aquele monge se mantém firme ganhando o controle dos animais, o fogo decresce. E vai declinando até desaparecer.

  De início, o fogo nos exige muito esforço e energia para aprendermos isso, mas com experiência e na medida em que o músculo consciente se torna mais forte, isso vai se tornando mais fácil até não haver mais esforço.

  Meditação nela mesma não é esforço. O estado de meditação não requer qualquer esforço. Simplesmente acontece. Se desenvolvermos esforço pessoal a fim de meditar estaremos fazendo de maneira errada.

FONTE:https://gnosticteachings.org/courses/meditation-essentials/3686-consciousness.html

Tradução Inglês / Português: Rayom Ra
                                                      Rayom Ra                                                                                                        http://arcadeouro.blogspot.com.br 

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