[Reedição]
Buddha
Siddhârtha, nome dado a Gautama, príncipe de Kapilavastu, em seu
nascimento. Dito término é uma abreviação de Sarvârthasiddha, e
significa “realização de todos os desejos”. Gautama – ou Gotama – que
significa “o mais vitorioso (tama) na Terra (gau)”, era o nome
sacerdotal da família Zâkya, régio nome patronímico da dinastia a que
pertencia o pai de Gautama, o rei Zuddhodana de Kapilavastu, uma cidade
antiga, solo nativo do Grande Reformador, que foi destruída durante o
tempo em que ele viveu.
Do
título Zâkyamuni, o último componente, muni, é interpretado no sentido
de “poderoso na caridade, isolamento e silêncio”, e o primeiro nome
Zâkya, é o nome de família. Não há orientalista nem pandita
(sábio) que não saiba de cór a história de Gautama, o Buddha, o mais
perfeito dos mortais que o mundo jamais tenha visto, porém, nenhum deles
parece suspeitar sequer do significado esotérico que há no fundo de sua
biografia pré-natal, isto é o significado da história popular.
Em Lalita-vistara (1) há dela o relato, no entanto se abstém de insinuar a verdade. Os cinco mil Jâtakas (2) ou sucessos de anteriores nascimentos (reencarnações) são considerados, ao pé da letra, em lugar de sê-los esotericamente.
(1) Lalita-vistara (sânscrito), célebre biografia de Zâkyamuni, o Senhor Buddha, composta por Dharmarakcha, no ano 308 de nossa era.
(2) Jâtakas
(sânsc.), tratados búdicos relativos aos nascimentos dos Budas e
Bodhisattvas. A parte do tratado de astrologia referente aos
nascimentos.
Gautama, o Buddha, não teria sido um homem mortal senão houvesse passado por centenas e milhares de nascimentos antes do último de todos os seus. Sem dúvida, a relação neles detalhada, e a assertiva de que durante os mesmos renascimentos ele foi abrindo caminho para cima através de cada grau de transmigração, desde o mais ínfimo átomo animado e inanimado e desde o inseto até a criatura mais elevada, ou seja, o homem encerra simplesmente o tal conhecido aforismo oculto: “a pedra se converte em planta, a planta em animal, e o animal em homem”.
Gautama, o Buddha, não teria sido um homem mortal senão houvesse passado por centenas e milhares de nascimentos antes do último de todos os seus. Sem dúvida, a relação neles detalhada, e a assertiva de que durante os mesmos renascimentos ele foi abrindo caminho para cima através de cada grau de transmigração, desde o mais ínfimo átomo animado e inanimado e desde o inseto até a criatura mais elevada, ou seja, o homem encerra simplesmente o tal conhecido aforismo oculto: “a pedra se converte em planta, a planta em animal, e o animal em homem”.
Todo
o ser humano que tenha existido terá passado pela mesma evolução.
Porém, o simbolismo oculto nesta série de renascimentos inclui uma
perfeita história da evolução nesta terra, pré e pós
humana, e é uma exposição científica de fatos naturais. Uma verdade não
velada, senão desnuda e patente, se encontra em que, mal havia Gautama
alcançado a forma humana, começou a mostrar em cada uma de suas
personalidades, a maior abnegação, caridade e sacrifício de si mesmo.
Buddha Gautama, o quarto dos Sete (Sapta) Buddhas e Sapta Tathâgatas (3)
nasceu, segundo a cronologia chinesa, no ano de 1024 a.C, porém,
segundo as crônicas senegalesas, nasceu no oitavo dia da segunda (ou
quarta) lua do ano 621, antes de nossa era.
(3) Sapta
Tathâgata (sansc.), os sete principais Nirmânakâyas, entre os
inumeráveis e antigos guardiões do mundo. Seus nomes se acham inscritos
num pilar heptagonal existente numa câmara secreta em quase todos os
templos búdicos da China e do Tibet. Os orientalistas recaem no erro de
pensar que estes são “os sete substitutos budistas para os Richis dos
brahamanes”.
Fugiu do palácio de seu pai para abraçar a vida ascética, na noite do oitavo dia da segunda lua do ano 597 a.C.,
e depois de passar seis anos em Gaya, entregue em meditações e
conhecendo que a tortura física de si mesmo era inútil para aportar a
iluminação, decidiu seguir uma nova via até chegar ao estado de Bodhi
(ou Sambhodi: inteligência receptiva oposta a Buddhi que é a
potencialidade da inteligência). Na noite do oitavo dia da duodécima lua
do ano 592 chegou a ser um Buddha Perfeito, e por fim entrou no Nirvana
no ano 543, segundo o Budismo do Sul. Os orientalistas, sem dúvida, se
atêm a outras e variadas datas. Todo o restante é alegórico.
Gautama alcançou o estado de Bodhisattva na Terra, quando em sua personalidade se chamava Prabhâpala. Tuchita significa um lugar neste globo e não um paraíso nas regiões invisíveis. (4)
(4) Tuchita
(Tushita-Sansc.), uma classe de deuses de grande pureza que figuram no
panteão indu. No budismo do Norte, exotérico ou popular, é um Deva-loka,
uma região celeste no plano material, onde todos os Bodhisattvas
renascem antes de descer a esta Terra como futuros Buddhas.
A
seleção da família Zâkya e sua mãe Mâyâ, como “a mais pura da Terra”,
está em harmonia com o modelo da natividade de cada Salvador, Deus o
Reformador divinizado. A lenda de ele haver entrado no seio de sua mãe
em forma de elefante branco, é uma alusão a sua inata sabedoria, por ser
o elefante de dita cor um símbolo de cada Bodhisattva. Os relatos de
que, ao nascer Gautama, a criança recém-nascida deu sete passos em
quatro direções, que uma flor de Udumbara (fícus glomerata) se abriu em toda sua beleza peregrina e que os reis Nâgas
procederam sem demora a batizá-lo, são todas estas e tantas outras,
alegorias da fraseologia dos iniciados, bem compreendidas de todo
ocultista oriental.
Todos
os acontecimentos de sua nobre vida se expressam em números ocultos, e
cada sucesso chamado milagroso – tão deplorado pelos orientalistas por
que confunde o relato - tornando impossível separar a verdade da ficção –
é simplesmente o disfarce ou véu alegórico da verdade. Isto é tão
compreensivo para um ocultista versado em simbolismo, como é de difícil
compreensão para um sábio europeu que desconheça o Ocultismo.
Cada
detalhe da narração depois da morte do Gautama, o Buddha, e antes de
sua cremação, é um capítulo de fatos escritos numa linguagem que deve
ser estudado para ser bem compreendido, pois de outro modo sua letra
morta conduziria a contradições absurdas. Por exemplo, havendo recordado
a seus discípulos da imortalidade Dharmakâya (o corpo espiritual
glorificado, conhecido com o nome de “Vestidura” de bem-aventurança),
Buddha, segundo se diz, passou ao estado de Samâdhi (o supremo grau do
yoga – contemplação estática ou supraconsciência) e se perdeu no Nirvâna, do qual nada pode voltar.
E apesar disto, apresentam Buddha abrindo com violência a tampa do
féretro e saindo para saudar com mãos juntas a sua mãe Mâyâ que havia
aparecido de repente no ar, ainda que ela houvesse morrido sete dias
depois do nascimento do Gautama, etc., etc. Como Buddha era um Chacravartin
(aquele que faz girar a roda da Lei), seu corpo, no ato da cremação,
não podia ser consumido pelo fogo ordinário. E o que sucedeu? De
improviso um jorro de envolvente fogo brotou da Suástica que tinha no peito e reduziu seu corpo a cinzas. O pouco espaço de que dispomos nos impede de oferecer mais exemplos.
No
tocante a ser ele um dos verdadeiros e inegáveis Salvadores do Mundo,
basta dizer ao mais fanático missionário ortodoxo, a menos de estar
irremediavelmente louco de não ter o mínimo respeito à verdadeira
história, não poder encontrar a mais leve acusação contra a vida e o
caráter pessoal de Gautama o Buddha. Sem pretensão alguma à divindade,
desejando que seus prosélitos caíssem no ateísmo antes que se fundissem
na degradante superstição do culto de Deva
ou da idolatria, sua vida, desde o princípio até o fim, foi santa e
divina. Durante os quarenta e cinco anos de sua missão, sua vida como um
deus, é pura e inatacável – ou como deveria ser a deste último. É o
perfeito exemplo de um homem divinizado.
Alcançou
a condição de Buddha – isto é a Iluminação completa – inteiramente por
seus próprios méritos e graças a seus esforços individuais, porquanto
não se crê que nenhum deus tenha o menor mérito pessoal no exercício da
virtude e santidade. Os ensinamentos esotéricos pretendem que Gautama
renunciou ao Nirvana e abandonou a vestidura Dharmakâya para continuar a ser um “Buddha de Compaixão”
(5) sujeito às penalidades e misérias deste mundo. E a filosofia
religiosa que deixou para a humanidade tem produzido durante mais de
dois mil anos gerações de homens virtuosos e desinteressados. Sua
religião é a única absolutamente livre de mancha de sangue
dentre todas as religiões existentes: tolerante e generosa, incutindo a
caridade e a compaixão universal, o amor e o sacrifício de si mesmo, a
pobreza e o contentamento com a sorte de cada um, se esta é o que seja.
Perseguição alguma nem imposição da fé por meio do fogo ou da espada
nunca a houveram coberto do opróbrio. Nenhum deus que vomite trovões e
raios imiscuiu-se em seus puros preceitos.
E se o sensível, filosófico e humano código de vida diária, que nos
deixou o maior Homem-Reformador conhecido, chegará um dia ser adotado
pela humanidade em geral e seguramente, principiará para a espécie
humana uma era de paz e bem-aventurança.
(5)
Buddhas de Compaixão, com este nome se designam aqueles Bodhisattvas
que, havendo alcançado a categoria de Arhat (Mestres Ascensos, Adeptos
ao nível búdico), recusam-se a passar ao estado nirvânico ou “envergar a
vestidura Dharmakâya e passar para outra condição”, pois então não
estaria em seu poder ajudar a humanidade, mesmo no pouco que o Carma
permita. Preferem permanecer invisíveis (em espírito, por assim dizer)
no mundo e contribuir para a salvação dos homens, exercendo sobre eles
seu influxo para que sigam a boa Lei, ou que eles mesmos, guiem-se pelo
Sendero de Justiça.
[Helena Petrovna Blavatsky]Tradução Espanhol / Português: Rayom Ra [Glosario Teosofico]
Rayom Ra http://arcadeouro.blogspot.com.br
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