Chegamos
agora à segunda fase dos nossos estudos das palavras finais da Regra XI.
Lidamos com a salvação dos perigos incidentes à criação dos pensamentos-forma
por um ser humano que aprendeu, ou está aprendendo, a criar no plano mental.
Muito poderia ter sido dito do ponto de vista da incapacidade da maioria dos
estudantes para pensar com clareza. O pensador claro envolve a capacidade de se
dissociar, pelo menos temporariamente, de todas as reações e atividades de uma
natureza emocional. Enquanto o corpo astral estiver em movimentação incessante
e seus estados de ânimo e sentimentos, seus desejos e emoções forem poderosos
bastante para atrair a atenção, os processos de pensamentos positivos puros não
serão possíveis. Até que venha o tempo em que haja uma apreciação mais geral do
valor da concentração e meditação, e até que a natureza da mente e suas
modificações sejam mais universalmente compreendidas, qualquer ulterior
instrução sobre o assunto será fútil.
Nestas
instruções procurei dar uma indicação dos primeiros passos na psicologia
esotérica e lidamos primariamente com a natureza e modo de treinamento do corpo
astral. Mais tarde, neste século (séc. XX), a psicologia da mente, sua natureza
e modificações poderão ser manejadas com mais detalhes. Mas ainda não é chegado
o tempo. Nosso assunto agora é a salvação da natureza corporal através do
processo da morte.
Duas
coisas precisam ser mantidas na mente ao procurarmos estudar os meios desta
salvação:
Primeiro,
pela natureza corporal eu penso na personalidade integrada, ou no equipamento
humano do corpo físico, veículo vital ou etérico, a substância (ou modo de ser)
da natureza do desejo, e a matéria mental. Estas constituem os invólucros ou
formas exteriores da alma encarnada. O aspecto consciência é algumas vezes
focalizado numa e algumas vezes noutra, ou se identifica com a forma ou com
alma.
O homem
comum trabalha com facilidade e autoconsciência nos corpos físico e astral. O
homem inteligente e altamente evoluído acrescentou a estes dois o controle
consciente de seu equipamento mental, embora somente em alguns de seus
aspectos, tais como a faculdade de memorizar e analisar. Ele também em alguns casos foi bem sucedido
na unificação destes três numa personalidade funcionando conscientemente.
O
aspirante começa a compreender algo do princípio da vida que anima a
personalidade, ao passo que o discípulo já utiliza todos os três, porque ele
coordenou ou alinhou a alma, a mente e o cérebro, e está, portanto, começando a
trabalhar com aspectos do equipamento subjetivo, ou de energia.
Em
segundo lugar, esta salvação é alcançada através de uma compreensão correta da
experiência mística à qual chamamos de morte.
Este
deve ser nosso tema e o assunto é tão imenso que eu posso somente indicar
algumas linhas, segundo as quais o aspirante pode pensar e colocar certas
premissas que poderá mais tarde elaborar. Nós nos limitaremos também,
primeiramente, à morte do corpo físico.
Vamos,
antes de tudo, definir este misterioso processo ao qual todas as formas estão
sujeitas e que é o temido fim – frequentemente temido porque não é
compreendido. A mente do homem é tão pouco desenvolvida que o medo do
desconhecido, o terror do não familiar e o apego à forma criaram uma situação
onde uma das mais benéficas ocorrências no ciclo de vida de um Filho de Deus
encarnado é considerada como algo a ser evitado e adiado por tanto tempo quanto
possível.
O
Terror Pela Morte
A
morte, se pudéssemos conscientizá-lo, é uma de nossas atividades mais
praticadas. Nós temos morrido muitas vezes e morreremos muitas outras vezes. A
morte é essencialmente um assunto de consciência. Nós estamos conscientes num
momento do plano físico, e instante depois nos retiramos para outro plano, onde
lá ficamos ativamente conscientes. Na medida em que nossa consciência estiver
identificada com o aspecto forma, a morte conservará para nós o seu antigo
terror. Tão logo nos conheçamos como almas e descubramos que somos capazes de
focalizar nossa consciência, ou sentido de consciência, em qualquer forma ou em
qualquer plano, voluntariamente, ou em qualquer direção dentro da forma de
Deus, não mais conheceremos a morte.
A
morte, para o homem comum é o cataclísmico fim, envolvendo o término de todas
as relações humanas, a cessação de toda a atividade física, a rotura de todos
os sinais de amor e afeição e a passagem (não desejada e sob protesto) para o
desconhecido e o temido. Ela é análoga ao deixar-se um aposento iluminado e aquecido
– amigo e familiar – onde nossos bem-amados estão reunidos, e sair para a noite
fria e escura, sozinho e tomado pelo terror, esperando pelo melhor, sem ter
certeza de coisa alguma.
Mas as
pessoas conseguem esquecer que toda noite, nas horas de sono, nós morremos para
o plano físico e estamos vivos e ativos nos demais. Esquecem que já alcançaram
a facilidade em deixar o corpo físico; porque não podem por enquanto trazer de
volta para a consciência do cérebro físico, a lembrança daquela saída e do subsequente
intervalo de vida ativa; não conseguem relacionar a morte com o sono.
A
morte, afinal de contas, é somente um intervalo mais longo na vida do
funcionamento do plano físico; a pessoa terá apenas “saído” por um período mais
longo. Mas o processo do sono diário e o processo da morte ocasional são
idênticos, com a única diferença de que, no sono, o fio magnético ou corrente
de energia pelo qual a força da vida circula, é preservado intacto e constitui
o caminho de volta para o corpo. Na morte este fio se parte ou rompe. Quando
isto acontece, a entidade consciente não pode voltar ao corpo físico denso e
aquele corpo, por falta de princípio de coesão, então se desintegra.
Deve-se
lembrar de que o propósito e a vontade da alma, a determinação espiritual de ser
e fazer, utiliza o fio da alma, o sutratma, a corrente da vida, como seu meio
de expressão na forma. Esta corrente de vida se diferencia em duas correntes ou
dois fios quando alcança o corpo e “ancora”, se assim posso expressá-lo, em
duas localizações naquele corpo. Isto é simbólico das diferenciações de Atma ou
Espírito, em seus dois reflexos, alma e corpo.
A alma,
ou aspecto consciência, aquele que torna um ser humano numa entidade pensante,
racional, é “ancorada” por um aspecto deste fio da alma num “assento” no
cérebro, encontrado na região da glândula pineal. O outro aspecto da vida que
anima todo átomo do corpo e que constitui o princípio da coesão ou da
integração, encontra seu caminho no coração e é focalizado ou “ancorado” ali.
Destes dois pontos, o homem espiritual procura controlar o mecanismo. Assim se
torna possível funcionar no plano físico e a existência objetiva se torna um
modo temporário de expressão. A alma, assente no cérebro, torna o homem uma
entidade racional, inteligente, autoconsciente e autodiretora; ele fica
consciente numa gradação variável, do modo no qual vive, de acordo com o ponto
de evolução e consequente desenvolvimento do mecanismo.
Aquele
mecanismo é tríplice em expressão. Há, antes de tudo, os nadis e os sete centros
de força; depois o sistema nervoso em suas três divisões: cérebro espinhal,
autônomo e periférico; então há o sistema endócrino, que poderia ser
considerado como o aspecto mais denso ou exteriorização dos outros dois.
A alma,
assente no coração, é o princípio vital, o princípio da autodeterminação, o
núcleo central da energia positiva, através da qual os átomos do corpo são
conservados em seus lugares certos e subordinados à “vontade-de-ser” da alma.
Este princípio da vida utiliza a corrente sanguínea como seu modo expressão e
sua agência controladora, e através da íntima relação do sistema endócrino com
a corrente sanguínea, nós temos os dois aspectos da atividade da alma reunidos,
para fazer do homem uma entidade viva, consciente e funcionante, governado pela
alma e expressando o propósito da alma em todas as atividades da vida diária.
A
morte, portanto, é literalmente a retirada do coração e da cabeça destas duas
correntes de energia, produzindo, consequentemente, a completa perda de
consciência e a desintegração do corpo. A morte difere do sono, nisso em que as
correntes de energia são retiradas. No sono somente o fio da energia, que está
assente no cérebro, é retirado e quando isto acontece o homem se torna
inconsciente. Por isto queremos dizer que sua consciência ou senso de percepção
está localizado em alguma parte. Sua atenção não está mais dirigida para as
coisas tangíveis e físicas, mas está voltada para outro mundo de existência, e
se torna centrada noutro equipamento ou mecanismo.
Na
morte, ambos os fios são retirados ou unificados no fio da vida. A vitalidade
cessa de penetrar através da corrente sanguínea, e o coração para de funcionar,
assim como o cérebro para de registrar, e assim se instala o silêncio. A casa
fica vazia, a atividade cessa, exceto aquela interessante e imediata que é a
prerrogativa da própria matéria e que se expressa no processo da decomposição.
De certos aspectos, por conseguinte, aquele processo indica a unidade do homem
com tudo que é material; ela demonstra que ele é parte da própria natureza, e
por natureza queremos dizer o corpo da vida uma em quem “nós vivemos, nos
movemos e temos nosso ser”. Naquelas três palavras – viver, mover-se e ser –
temos a história inteira.
Ser é percepção, autoconsciência e auto-expressão, e disto a cabeça
e o cérebro do homem são os símbolos esotéricos. Viver é energia, desejo na forma, coesão e adesão a uma idéia, e
disto o coração e o sangue são os símbolos exotéricos. Mover indica a integração e resposta da entidade existente, consciente,
viva, a uma atividade universal e disto o estômago, o pâncreas e o fígado são
os símbolos.
É interessante,
embora acidental em nosso assunto, ter em mente que nos casos de imbecilidade e
idiotia, e naquela etapa da velhice que nós chamamos degeneração senil, o fio
que está assente no cérebro é retirado, ao passo que o que leva o impulso ou
necessidade de vida ainda está aplicado ao coração. Há vida, mas não
inteligente percepção; há movimento, mas não direção inteligente; no caso da
senilidade, quando tiver havido um equipamento de alto grau utilizado na vida,
pode haver aparência de um funcionamento inteligente, mas isso é uma ilusão
devida ao velho hábito e a um ritmo antigo estabelecido, mas não a um propósito
coerente coordenado.
Deve-se
observar também que a morte é, portanto, adotada sob a direção do ego, pouco
importando quão inconsciente um ser humano possa estar daquela direção. O
processo se opera automaticamente com a maioria, pois quando a alma retira sua
atenção, a inevitável reação no plano físico é a morte, seja pela abstração dos
fios duais da vida e da energia da razão, seja pela abstração do fio de energia
que é qualificado pela mentalidade, deixando a corrente da vida ainda
funcionando através do coração, mas sem a consciência inteligente. A alma
estará voltada para algum outro lugar e ocupada com seu próprio plano e
próprios assuntos.
No caso
dos seres humanos altamente evoluídos, muitas vezes encontramos um sentido de
previsão quanto ao período da morte; isto é o resultado do contato e
consciência egóicos dos desejos do ego. Envolve algumas vezes um conhecimento
do próprio dia da morte, acompanhado de uma preservação da determinação
própria, até o momento final da retirada. No caso de iniciados, há muito mais que
isto. Há uma compreensão inteligente das leis da abstração que capacita àquele
que está fazendo a transição a retirar-se conscientemente em plena vigília
consciente do corpo físico, e assim funcionar no plano astral. Isto envolve a
preservação da continuidade de consciência, de modo que nenhum hiato ocorra
entre o senso da consciência do plano físico e aquele do estado pós mortem.
O homem
se reconhece como sendo como era antes, embora sem um equipamento pelo qual
possa entrar em contato com o plano físico. Ele se mantem consciente dos
estados de ânimo e dos pensamentos daqueles que ele ama, embora não possa
perceber nem contatar o veículo físico denso. Ele pode comunicar-se com eles no
plano astral ou telepaticamente, através da mente se estiverem em relação
recíproca, mas a comunicação que envolve o uso dos cinco sentidos físicos da
percepção está necessariamente fora do seu alcance.
É útil
lembrar, todavia, que astral e mentalmente, o intercâmbio pode ser mais íntimo
e mais sensível do que jamais antes, pois ele está livre da desvantagem do
corpo físico. Duas coisas, todavia, militam contra este intercâmbio: uma, é o
sofrimento e violenta perturbação emocional daqueles deixados atrás e, no caso
do ser humano comum, a outra, é a própria ignorância e confusão do homem quando
ele se depara com o que são para ele novas condições, não obstante elas sejam
realmente condições velhas, se ele pudesse dar-se conta disso.
Uma vez
que os homens tenham perdido o medo da morte e estabelecido uma compreensão do
mundo pós mortem, que não seja baseada na alucinação, nem na histeria, ou nas
conclusões – muitas vezes não inteligentes – do médium comum, que fala sob o
controle de seu próprio pensamento-forma – construído por si e pelo círculo de assistentes
– teremos o processo da morte propriamente controlado. A condição daqueles
deixados para trás será cuidadosamente apreciada de modo a não haver nenhuma
perda de relação e nenhum falso gasto de energia.
[Segue Parte IV]
[Um tratado Sobre Magia Branca]
Rayom Ra
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