segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Antakarana IV

“Do luminoso oceano de Atma se desprende um fino cordão de luz, separado do resto por uma película de matéria búdica; desta emerge uma chispa que se encerra numa envoltura em forma de ovo, de matéria pertencente aos subplanos sem forma do plano mental (1). A chispa destacada da Chama pelo fio mais fino de Fohat (2).” (O Livro de Dzyan)

(1) A citação não deve ser entendida unicamente em relação ao Plano Mental Superior, ou Manas Superior, onde não haveria corpos de manifestação, pois é sabido que nos mundos superiores à Manas, as vidas chamadas Arhat e Asekha, por exemplo, os organizam com as mentes. A designação Arupa é oposta a Rupa que subentende esta última, um veículo, um revestimento ou corpo. (Rayom Ra)

(2) Fohat foi o primeiro princípio do qual o Logos se utilizou para estabelecer condições apropriadas à matéria pregenética. Todos os demais princípios que vieram após e adicionaram particularidades à matéria, derivaram-se de fohat. Fohat é o fogo elétrico que produziu dois outros fogos que se entranharam na matéria e que passaram a participar indissociavelmente de sua natureza. Não há matéria que não conduza a presença ígnea de fohat. Assim, o fogo (a luz) foi o primeiro elemento a surgir do caos para vir participar da construção dos mundos. Fohat, na realidade, não é somente um princípio, como são os sete princípios cósmicos que o Logos introduziu na matéria do universo, pois neste caso, fohat seria um oitavo princípio. Fohat é mais do que isto. É, em síntese, a raiz de todos os demais princípios emanados do Logos, pois fohat realiza na matéria cósmica diferenciada a sua verdadeira alma energética, através do eterno fogo que faz a matéria fusionar. (Considerações Sobre a Criação – Rayom Ra)

Conforme vimos, sutratma é o fio da vida que se estende desde o plano de Atma, pela irradiação da mônada em Anupadaka, até ao mundo físico. Como a mônada possui três aspectos que são: vontade-sabedoria-atividade, eles serão trabalhados na matéria dos três planos imediatamente inferiores ao Anupadaka, pelas hierarquias criadoras.

Desse modo, a hierarquia operante em Atma aprisionará um átomo deste plano, magnetizando-o e o anexando ao fio sutratma, imprimindo neste átomo os atributos do aspecto vontade da mônada. O mesmo acontecerá em Buddhi sob a influência do aspecto sabedoria e em Manas Superior em relação ao aspecto atividade irradiado pela mônada. Daí virá se formar a tríade superior, Atma-Buddhi-Manas, em sentido de descenso do fio sutratma.

Devemos assinalar que os átomos respectivos aos três planos citados em nada se parecem com os átomos químicos estudados e trabalhados pela ciência acadêmica material, uma vez que aqueles são de contexturas superiores, têm diferentes movimentos e se caracterizam por sua enorme facilidade nos seus trânsitos, em agregar-se ou desagregar.

Os átomos anexados ao sutratma conformadores da tríade superior são chamados no esoterismo moderno de átomos permanentes, átomos vidas, átomos principais, átomos mestres, etc. A energia com que foram magnetizados, através da alta ciência empregada pelas hierarquias criadoras, deixou em suas contexturas a memória de um protótipo universal que dará formação aos corpos que as vidas possam futuramente utilizar. E uma vez magnetizados, aqueles átomos têm o poder de atrair outros átomos de seus respectivos planos para formar os corpos com cujas aparências as vidas desejem se manifestar.

                                                               0 -- Átomo de Atma    
                           | -  Sutratma
                          O   -- Átomo de Buddhi
                           | -   Sutratma
                          O   -- Átomo de Manas
          
                                                  Esquema Simplificado da Tríade superior

Ao exemplificarmos a tríade superior e adentrarmos em algumas informações a respeito desses planos mais elevados, pouca utilidade teremos para nosso estudo uma vez que a maioria dos esotéricos e pesquisadores da ciência oculta está ainda centrada na personalidade. Entretanto, como veremos mais adiante, noutra parte deste trabalho, o sutratma e o antakarana estão interligados, tanto nos aspectos inferiores, onde se constrói a ponte entre o mental inferior, o superior e a alma, como numa ligação direta entre o que está acima e o que está abaixo, entre a mônada e a personalidade.

Até certo estágio da evolução do ser humano os três setores que o estruturam no espaço-tempo não estão em direta comunicação e simultânea atividade, senão através dos mecanismos do subconsciente ou não. A personalidade vai se tornando uma estrutura bastante poderosa durante seus percursos no mundo através dos milênios, até que se aproxime de um novo momento cíclico, quando perderá grande soma de poder em prol da Alma. As leis da natureza que se refletem em todas as coisas criadas para evoluir obrigam as mônadas a avançar sempre com suas criações. Isso acontece também com a personalidade humana. Algumas mônadas, no entanto, perdem o controle temporário quando as personalidades permanecem empedernidas, vindo se tornar necessário a articulação de artifícios extras – quando conseguem - para novamente trazê-las de volta ao adestramento e alinhamento com suas potencialidades espirituais.

O grande perigo acontece quando a personalidade desenvolve em demasia seus próprios conceitos sobre o materialismo, trancafiando-se em valores pessoais, criando uma verdadeira carapaça com a matéria mental inferior, impenetrável pela luz da alma em níveis conscientes ou subconscientes. Então nada é possível se fazer em termos de avanços ao antakarana enquanto esses obstáculos não sejam removidos. Essas personalidades de poderosos intelectos, por livre arbítrio adernadas ao processo evolucionário espiritual, constituem as grandes obstaculizadoras dos avanços da luz da alma entre os povos, pois devido sua desenvolvida inteligência transitam com facilidade por todos os setores dos organismos e estruturas sociais. E é no setor do ensino que se dá sua maior contribuição destrutiva, pois convencem as mentes jovens com teorias e elocuções pragmáticas que exaltam o concretismo da ciência e a lógica da filosofia materialista. E por aparente paradoxo, as religiões e organizações ocultistas demonstram também existir em suas hostes, percentuais consideráveis desses tipos mentais obsessivos que materializam o espírito.

O processo evolucionário vem acontecendo para toda a humanidade em todas as nações ou raças indistintamente. Quando um ego já percorreu 2\3 de sua caminhada ele está habilitado a entrar no estágio mais inferior do conhecimento oculto dos mistérios da vida e vir a entender sobre sua pessoal existência como entidade humana. Esse é na realidade um pré estágio de sua aspiração consciente e despenderá algumas vidas para sedimentar os conhecimentos básicos em atividades correlatas, trilhando ao mesmo tempo um caminho paralelo de provações, agora sob o amparo e orientação da hierarquia dos adeptos que vela pela humanidade. Tendo constância, o iniciante começará a encurtar a necessidade de outras experiências através de cansativas encarnações uma vez que passa a trabalhar de maneira mais direta e disciplinada, lapidando conscientemente o ego e reunindo melhores qualidades.

A humanidade avançada segue atrás em seus lentos processos do conhecimento limitado da alma. A ciência com suas conotações materialistas atrai imensos coletivos e os exercita mentalmente para seus desempenhos profissionais. No entanto, não é tudo o que a humanidade necessita para verdadeiramente evoluir como alma conscientizada num mundo de personalidades. Pois com pragmatismo científico, descobertas e facilidades tecnológicas, essas introduções modernas não suprem ao grande vazio que se instala no íntimo das multidões clamantes por uma realidade interna verdadeira.

Nesses tempos atuais em que os valores se chocam e se debatem e mediante as claras necessidades de muitos milhões, a ciência materialista por sua incapacidade de atenuar os sofrimentos da alma mundial, e não conseguindo deter a pressão recorrente e orientada por um processo evolucionário que não compreende, vem deixando grandes brechas para a entrada de alguns segmentos da ciência de antigos ocultistas e iniciados, principalmente orientais. Isto representa um grande avanço para o entendimento da humanidade sobre as curas de certos males físicos, emocionais e mentais conectados com a realidade da alma, quer os mais arrogantes e ortodoxos da ciência materialista admitam ou não.

Quando o entendimento da construção do antakarana ou “ponte arco-íris” é administrada e visualizada pelos estudantes conscientes, há reações bem mais intensas nas suas linhas de comunicação, pois o antakarana precisa ser trabalhado pela personalidade nos vários segmentos que conduzem os fluxos de energias para os três principais setores que edificam o homem total. A orientação para a construção consciente da ponte entre o mental inferior e o mental superior, precisará, no entanto, vir precedida da desobstrução dos condutos que se espalham nos corpos etérico, astral e mental da personalidade. Em determinados pontos esses condutos se ligam ou se transpassam, levando energias de um para outro corpo, conforme já fizemos referência noutra parte desse trabalho. Como se sabe, a personalidade é constituída de quatro corpos ou veículos: o corpo físico, o etérico, o astral e o mental, ou como são estes veículos chamados noutras filosofias de corpo denso, corpo vital, corpo emocional e corpo mental concreto.

Por longos milênios os aspirantes e neófitos, os iniciados menores e os mais graduados, vêm exercitando os fluxos de energias através do emaranhado desses condutos. Isso se dá com métodos de acordo com cada escola, com meditações esotéricas dirigidas e orientadas para os plexos sensíveis, por vocalizações de mantras, por rituais ou trabalhos concretos de magia. São muitos milhões desde um passado distante que resistem e insistem em palmilhar conscientemente esses caminhos, conseguindo realmente avançar quando não enganam a si mesmos. Hoje, no entanto, em fraternidades ocultistas, grupos esotéricos ou por divulgadores independentes, criou-se o falso conceito ou presunção de que o conhecimento teórico de lições do ocultismo abre os portais das iniciações.

A teoria para alguns estudantes mexe com a reflexão, estimulando cada vez mais às ardentes pesquisas para o verdadeiro aprendizado, mas quando não se observam as regras simples das práticas diárias, e das realizações objetivas no mundo, as montanhas da teoria não servem para nada. O orgulho e a ilusão do “saber” abrirão as portas unicamente para o indesejável hóspede do infortúnio que levará o estudante cada vez mais para fora da habitação natural da alma - a sua própria casa - a fonte verdadeira e abrigo espiritual. Devemos sempre nos lembrar, e se possível repetir muitas vezes, que jamais alguém galgou as montanhas da glória alcançando os reinos superiores unicamente pela teoria.

Devemos considerar também que o antakarana representa, juntamente com o sutratma, o caminho de volta ao Pai, como representou o sutratma o caminho de descida da mônada aos mundos inferiores. O antakarana pode ser considerado a trilha de retorno do peregrino no mundo quando o buscador constrói a ponte entre o mental inferior e o mental superior. Nas suas linhas superiores o antakarana leva à realização do homem total, depois de cumpridas as cinco grandes iniciações. Buda foi o primeiro produto de nossa humanidade no planeta a desbravar esse caminho. O “Caminho do Meio” experimentado e palmilhado mentalmente pelo Gautama trouxe ao discipulado, e à humanidade em geral, a verdade interna que nem todos viam ou vislumbravam, mas que todos precisavam vivenciar para cumprir o ciclo das experiências da mônada neste segundo sistema solar onde a nota do amor-sabedoria vibra e entoa por todo o nosso cosmos.

Já Cristo absorveu a parte mais difícil da missão de vivenciar e mostrar aos seguidores presentes e futuros como trabalhar no sentido de construir em si mesmos uma personalidade integrada conducente à ponte do antakarana. Devemos também ressaltar que o cristianismo religioso e o cristianismo esotérico lançam a personalidade até a região limítrofe da ponte. Daí em diante o aluno individual atravessa por meio de seus próprios esforços, voltamos a isso enfatizar. Jesus ensinou à humanidade como tratar o mundo para que o mundo entendesse a mensagem de Cristo, porém ensinou aos seus diversos grupos de discípulos como exercitar os fundamentos ocultos para edificar a ponte. E esses ensinamentos ele os recebeu dos monges budistas quando de suas peregrinações e passagens pelos mosteiros do oriente, principalmente do Tibet.

Note-se aqui a integração de Buda com Cristo, pois é sabido que ambos trabalharam em conjunto nos planos espirituais para que a mensagem conducente ao caminho da libertação pudesse ser praticada em duas etapas distintas sob dois ciclos astrológicos diferentes, segundo as energias propícias para os eventos. Tem-se no ocultismo que Cristo assistiu Buda em seu período de trabalho e realização pela meditação e Buda assistiria Cristo quando da vinda de Jesus-Cristo na Galiléia com a missão de continuar o projeto iniciado por ele – Buda - no distante oriente.

De todas as formas, a revelação do antakarana vem dissolver a ilusão de que unicamente por seguir as regras da educação, da bondade e da caridade religiosa se chega à realização total. Esses elementos são importantes e necessários, mas representam ainda alavancas para se chegar aos umbrais da verdade num quadro de harmonia e amor, pois se não se os cultivam, trabalha-se com a força integral ou mista de polaridades opostas, o que conduz à rudeza e às vias da magia negativa. Desse modo, essas revelações iniciadas com as pregações de Buda sobre as quatro nobres verdades, os oito nobres caminhos do discipulado e o método da meditação sistemática, foram continuadas com Cristo nos seus ensinamentos sobre a preparação e trabalho dos discípulos no mundo. E após o recebimento das duas primeiras iniciações, vêm à luz toda a profundidade do antakarana como o real caminho e o próprio caminhante.

“Eu sou o Caminho A Verdade e a Vida e Ninguém Vai ao Pai a Não Ser por Mim”. Com essa máxima Cristo sintetizou toda a realidade da preparação interna do discipulado para a identidade com sua alma – o Cristo Interno em cada um – e ao objetivo final da peregrinação humana no retorno à mônada.

Prosseguiremos.

Rayom Ra

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[ Os textos do Arca de Ouro, de autoria de Rayom Ra, podem ser reproduzidos parcial ou totalmente, desde que citadas as origens ]

Um comentário:

  1. Bom dia Amigo, sou de muita gratidão pelo seu gesto. E fico muito esperançoso em podermos nos aprimorar na sabedoria infinita que Deus nos consedeu .
    Continue a nos elucidar-nos, eu estou no meu nicio de aprendizado " neófito " são de extrema importancia a sua explicação.
    Deus continue a iluminar sues pensamentos.
    Ass. Ricardo L.Gorgueira

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