Caminho a passos cada vez mais lentos,
Seguindo assim, solitariamente,
Sem jamais me voltar: olhos atentos,
Por uma estreita trilha, unicamente!
Silêncio acolhe ao meu ser contrito,
Densa névoa como em manto envolve,
Nada ouço sigo ao meu próprio rito,
Onde minh'alma dentro em mim revolve!
E nessa névoa consigo entrever,
Pequenos espaços que logo os alcanço,
E após cada passo e sem me deter,
No trajeto me vou e aos poucos avanço!
Inspiro anima que por mim adentra,
Trazendo a presença que me socorre,
Como se fora um alentador mantra,
Que o devoto evoca e nele recorre!
E de súbito um pensamento voa,
A descer onde no meu ser se instala,
Suave e transparente qual garoa,
Do modo como a natureza fala!
E quando mais de meio mundo dorme,
Eu acordado e já bem desperto agora,
Busco ouvir daquela presença informe,
O que ignoto existe nesta mesma hora!
E aos sussurros em doce voz escuto,
Inesperada ode que na alma adentra,
Como de um bálsamo no ser produto,
Que tão bem acorre, alivia e encentra!
E aquela presença com voz serena,
Que se tanto bela penetrante era,
Em clara nuvem e figura amena,
Suave se abria como em primavera:
"Venho dos templos longínquos ardentes,
Nas asas do tempo ao nascer da aurora,
Às nuvens dissolvo e clareio às mentes,
Mesma alma inda sou como fora outrora."
Por Rayom Ra
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