quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Após a Crucificação

  Segundo fontes persas quando Jesus vivia em Damasco recebeu uma carta do rei de Nisibis, região próxima a Edessa, hoje Nusabyn, no lado turco da fronteira com a Síria, pedindo-lhe que fosse curá-lo de uma doença. Jesus ao que consta, enviou em seu lugar, com a promessa de que não tardaria, um discípulo querido, Tomás. Parece que logo depois, Jesus em companhia de sua mãe, seguiu para lá. No Jamit-ut-Tawarik, o grande erudito persa Faquir Muhammed relata que, quando Jesus chegou com sua comitiva a Nisibis, o rei já havia sido curado por Tomás.

  Iman Abu Jafar Muhammed, na sua famosa obra intitulada Tafsir-ibn-i-Jarir at-Tabri, conta que se tornou perigosa a estada do Nazareno em Nisibis, pois se expondo publicamente corria perigo de vida.

  Em Leh conheci um etnólogo de Luxemburgo que passara muitos anos entre tribos curdas, na Anatólia oriental. Ele contou-me que circulam por aqueles lados inúmeras histórias que contam que Jesus, após a ressurreição, habitou na região que hoje é a Turquia oriental. Esse fato, no entanto, nunca despertou muito interesse. Ao deixar Nisibis, Jesus partiu em direção ao noroeste. O apócrifo Atos de Tomé afirma que Jesus compareceu inesperadamente aos esponsais da filha do rei de Andrapa. Andrapólis ficava na Paflagônia e desde 7 a.C. pertenceu à província romana da Galácia. O apóstolo Tomás e seu Mestre reencontraram-se nessa ocasião.

  Tomás foi incumbido por Jesus de ir á Índia. “Mas ele não queria ir e alegou não poder viajar por falta de condições físicas, e mais ainda ‘Como posso eu, um hebreu, viajar e pregar a verdade aos indianos?’ Diante disso o Mestre apareceu-lhe à noite e disse: ‘Tomás, não tenha medo de ir à Índia e de lá pregar a palavra, porque minha graça estará contigo’. Tomás, porém, não de convenceu e retrucou: ‘manda-me para onde quiseres, menos para lá, porque não irei para a Índia’”.

  Segundo os Atos de Tomás, Jesus vendeu o relutante discípulo como escravo ao mercador indiano Abban, que havia sido encarregado por seu rei, Gondapharos, de lhe encontrar um carpinteiro. Velhas moedas confirmam que Gondapharos, no século I da era cristã, reinou sobre a Índia e sobre a Pártia. Jesus assinou um contrato com Abban, recebendo em troca mais de um quilo de prata pura, assegurando-se de que, graças a esse subterfúgio, Tomás chegaria à índia.

  Os Atos de Tomás, assim como o evangelho apócrifo de Tomás, ambos de origem síria, datam do tempo em que o próprio Tomás trabalhou em Edessa, em obras missionárias. O falecimento do apóstolo ocorreu nas proximidades de Madras ao sul da índia, e no século 4 d. C. seus restos mortais foram enviados a Edessa.

  Existe uma íntima relação entre os Atos de Tomás e o Evangelho de Tomás. Ambos são escritos gnósticos de cunho esotérico, adotados em princípio do século III pelos maniqueus (Mani nasceu em 217). Um evangelho de Tomás foi citado pela primeira vez, por Hipólito, em seus relatórios sobre os “Naassenos” de aproximadamente 230 d.C.

  O nome do apóstolo Dídimo Judas Tomás, significa “Judas o Gêmeo” em aramaico, e isso sugere um íntimo relacionamento com Jesus. Em textos coptos a palavra “gêmeo” é geralmente substituída pela expressão “amigo e companheiro”. Os Atos de Tomás são um testemunho de seus estreitos laços com Jesus. Como confidente do Mestre, gozou do privilégio de conhecer os seus mais recônditos segredos. No capítulo 39 dos Atos de Tomás, ele se apresenta como “irmão gêmeo de Cristo, apóstolo das Alturas; partícipe da palavra oculta de Cristo, receptáculo de seus secretos pronunciamentos”.

  Noutro trecho: “Vós, que partilhastes da palavra secreta do Dispensador da Vida e receptáculo dos mistérios ocultos do Filho de Deus”. Tomás é, pois, o guardião (=Nazareno) das palavras esotéricas mais secretas de Jesus, reveladas somente a ele. No evangelho de Tomás, numa das descobertas de Nag Hammadi, lemos o seguinte: “Jesus disse aos seus discípulos; comparem-me com alguém e digam-me com quem me pareço’. Simão Pedro adiantou-se: ‘Pareceis com um anjo justo’. A seguir, Mateus disse: ‘Pareceis um filósofo muito sábio’. Depois Tomás: ‘Mestre, minha boca é incapaz de dizer com que pareceis’. Jesus então se dirigiu a ele com estas palavras: Não sou teu Mestre, porque bebeste e te embriagaste com água viva que eu te dei’. E tomando-o pelo braço afastou-se com ele e disse-lhe três coisas. Quando Tomás retornou para junto dos outros discípulos, eles lhe perguntaram: ‘o que Jesus te disse?’ E Tomás lhes respondeu: ‘se eu disser a vós apenas uma das coisas que ele me falou, vós me apedrejareis, e essas pedras se transformarão em fogo e vos queimarão”’. Tomás, evidentemente, atingiu um profundo estado de consciência parecendo ser alguém muito semelhante a Jesus.

  Fonte: “Jesus Viveu na Índia”, por Holger Kersten.

Rayom Ra 
 

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