O adepto que vive na solidão está sempre
seguro, mas o que cai no domínio público está sempre em perigo. Corre o perigo
de ser mal compreendido. Um errante adepto galileu foi tão mal compreendido que
aqueles que ele procurara salvar, O mataram. Tentemos obter melhor compreensão
de Jesus Cristo.
Decorreram quase dois mil anos desde que Ele
partiu, e são numerosos os relatos e interpretações que temos de Sua vida.
Atualmente nossa compreensão sobre Ele mais diminuiu do que aumentou. Se ledes
os escritos correntes acerca Dele e de Sua linguagem deparai com distorções e
ambiguidades e, acima de tudo, más compreensões.
Ao ler um livro como o Novo Testamento,
tendes de compreender que todos os seus trechos não são iguais em inspiração e
valor. É que durante o tempo decorrido desde que foram compilados, notamos ali
interpretações, adições, traduções truncadas e até deturpações.
Tendo em vista estes fatos, compreendereis
que cada palavra incorporada a uma escritura, não é necessariamente sagrada;
deveis, portanto, usar vossa intuição e faculdade crítica para extrair o
efetivamente válido daquilo que não vale.
Quando considerais que foi alguns séculos
depois da morte de Jesus que certos livros foram coligidos por um concílio auto
eleito e compilados como sendo o Novo Testamento, e que outros livros foram
arbitrariamente rejeitados por esse concílio, não é de admirar que hoje existam
tantas más compreensões.
Havia grande controvérsia quanto à
autenticidade dos livros e suas asserções. Naquele concílio houve alguns que
defenderam até o fim a inclusão da reencarnação na doutrina do cristianismo.
Não teriam feito isso se não se sentissem justificados por alguns dos
pensamentos e ditos de Jesus. Contudo eles estavam em minoria, e a doutrina da
reencarnação foi rejeitada. Hoje ela desapareceu por completo da religião
cristã. Suponhamos que essa minoria tivesse triunfado! Então a reencarnação
estaria incluída na doutrina cristã de hoje.
Examinai os livros do Novo Testamento. Ali
encontrareis muito pouco acerca da personalidade de Jesus. Quando considerais a
importância assinalada a Ele e a Seu lugar na história da religião daquele
tempo é de se estranhar quão pouco se escreveu sobre a Sua personalidade. Isto
vos indicaria quão pouco se conheceu realmente a Seu respeito; que Sua fama foi
completamente local e limitada a uma pequena esfera; que se espalhou só depois
de Sua morte.
Há os que duvidam que Jesus tenha existido.
Eles apontam a escassez de provas históricas como testemunho convincente da
natureza fictícia do relato de Sua vida. Só posso responder-lhes que a escassez
indica quão obscuro Ele foi, porém que nenhum movimento sacode o mundo, como o
fez o cristianismo, sem que tenha a inspiração e o ímpeto de uma grande pessoa
atrás dele. Nada vem do nada. O algo provém de algo. A religião cristã veio
originariamente de Jesus “O Cristo”. Sustento vigorosamente que Jesus existiu,
que foi um homem vivo e um ser divino; que proferiu altas verdades,
misericordiosamente, e que pagou o preço de sua coragem com o sangue da cruz.
Existem no Ocidente as mais grosseiras
incompreensões acerca dos seres, quer históricos ou conhecidos, aos quais
chamamos diversamente: Mestres, Adeptos, Instrutores, Sábios, e mesmo Messias.
No Oriente se diz que somente um Adepto pode compreender outro Adepto, o que é
uma verdade. A razão disso é que não temos um padrão pela qual possamos
julgá-lo. Os únicos Adeptos que conhecemos são os que pereceram, mas pertencem
à pré-história. Não sabemos de nenhum deles no nosso meio, e por isso nos falta
um critério objetivo. Alguns imaginam que Adepto é aquele que se recolheu a uma
caverna, floresta, ou mosteiro, onde vive em êxtase perpétuo. Outros conjeturam
que seja alguém capaz de fazer os mais espantosos milagres, e por um simples
toque possa converter água em vinho, chumbo em ouro, ou curar doentes. Outros
ainda creem, como no Oriente, que é uma espécie de adivinho do futuro. Tudo
isso são meras opiniões, não o real conhecimento.
O mesmo se dá com aqueles que alegam provar
que Jesus nunca viveu. Falam em vão porque toda a matéria se acha fora do
alcance de suas limitadas experiências. Podem oferecer teorias, mas nenhuma
certeza.
Os historiadores modernos, que nada aceitam
em confiança, têm focalizado com a luz de seus holofotes esse período remoto de
mito e escuridão, mas tudo em vão. Diz-se-nos que as ideias governam o mundo.
Mas as ideias hão de ter um foco, devem estar vividamente representadas na vida
e pessoa de um homem que se torna seu
progenitor entre os seus seguidores. O símile cediço dos raios do sol que
perdem sua força, mas tornam-se eficazes quando concentrados numa lente
ustórica, está bem aplicado aqui.
As correntes espirituais do Super Eu circulam
ao nosso redor, mas só nos apercebemos de sua existência quando subitamente as
encontramos na vida de um homem ou na página de um livro, tão exatamente como
não podemos perceber os raios de luz que atravessam o espaço invisivelmente
enquanto não encontram um objeto.
A imagem usual de Jesus Cristo é puramente
fantástica, pois se baseia no que as pessoas gostariam que Jesus fosse e não no
que Ele realmente foi. O mesmo ocorre com qualquer outro grande sábio. Tive a
boa fortuna de entrar em contato com alguns desses sábios e observei o quão mal
compreendidos eles eram por diversos adeptos seus. Se durante a sua vida eles tecem
lindos contos de fábulas a seu respeito, o que não acontece após a sua partida?
Se os que privam com sábios formam tantas ideias errôneas, quanto mais não é isto
verdadeiro depois deles haverem desaparecido há trezentos ou quatrocentos anos?
Reconheçamos primeiramente que Jesus veio de
uma ascendência humilde. Isto basta para justificar o pouco que se conhece de
Sua meninice e juventude. O quadro corrente e convencional que Dele se pinta é
o de um homem a quem Deus ordenou cumprir uma missão especial, e que, com
efeito, manteve com Deus relações tais como ninguém antes ou depois tivera, nem
outro mais poderá ter. É por isso que Ele é chamado o Filho de Deus.
Crê-se que sua mãe, Maria, O concebeu
enquanto ainda virgem. Tal crença não é desconhecida em outras partes. Ocorreu
em outros países, em antigos tempos. Os egípcios acreditavam que mais de uma de
suas antigas divindades, como Osires, haviam nascido em circunstâncias
similares. Na Índia também se recordam nascimentos desse gênero. Em outras
partes do mundo encontrareis igualmente o mesmo relato de um homem divino
nascido de uma virgem e tendo por pai, ou Deus, o sol.
Tudo isto vos deve tornar muito cautelosos
para aceitar esta lenda. Apareceu em outras partes do mundo, antes e depois da
época de Jesus. Reconheci que nesta lenda há algo de significado mais universal
do que meramente local. E quando compreendeis que as tradições mitológicas e
religiosas estão repletas de contos esotéricos, simbólicos e supersticiosos
deste tipo, deveis então ser desconfiadamente cautelosos na investigação dos
chamados relatos históricos, se quereis saber a verdade.
Fisiologicamente, é impossível o nascimento
por meio de uma virgem. Contudo se nos diz ser isso possível por milagres de
Deus. Isto suscita a questão quanto ao que se entende por Deus, e quando
começais a compreendê-Lo, percebeis não ser este o modo como Deus trabalha.
Deus opera com leis estabelecidas, leis universais. De outro modo o universo não
poderia propriamente existir, seria espúrio e excêntrico.
Houve algo pouco usual com a personalidade de
Jesus, e uma das maneiras que um de seus biógrafos poderem expressá-lo, era
repetir narrativas fantásticas e maravilhosas visando ressaltá-Lo. Disto não se
deduz que estas narrativas sejam completamente inverídicas e inexatas. São
indicativas de que havia algo de notável relativo à natureza deste homem.
Muitos dos acontecimentos narrados na escritura são alegóricos e têm de ser
interpretados sob este prisma. Certo número de informes atribuídos ao Messias
são interpolações; ao passo que muitas das palavras reais do Mestre foram mal
entendidas por seus escribas e daí terem sido erradamente anotadas.
É com pesar que vos desiludo, mas quando
conhecerdes o significado esotérico da lenda do nascimento virgem, sabereis as
razões espirituais, inteiramente à parte o senso comum, porque Jesus não
poderia ter sido concebido daquela maneira miraculosa. Todavia, isso não importa.
A coisa essencial é saber quem ou o que foi Jesus e o que Ele fez. Tal qual
alguns outros grandes seres que desceram para ensinar nosso mundo, Ele não
pertencia ao nosso planeta.
Se à noite observais o firmamento, vereis que
existem outros planetas além do nosso, e uma vez que o nosso é habitado,
nenhuma razão há para que outros também não o sejam. Por que só nossa Terra
deve ser habitada? Por que devemos só nós ter esse privilégio? Os outros
planetas são também habitados, e os planetas que estão mais próximos do sol – o
sol físico – têm seres que são mais evoluídos do que os nossos. Os planetas
mais distantes do sol têm seres menos evoluídos, e o sol, para todos os fins,
pode ser tomado como o coração do Supremo Criador.
As inteligências em alguns planetas – assim as
chamo porque não são seres humanos em nosso sentido; contudo sejam indivíduos –
estão muito mais adiantados que nós na compreensão da vida e do que chamaríeis espiritualidade.
Naturalmente tais seres possuem poder e compreensão maiores, e por terem este
poder, para eles é possível comunicarem-se às vezes com outras regiões do
universo e observar a exata condição espiritual dessas regiões. Eles podem
sentir grande compaixão pelos que poderiam ser encarados como planetas
atrasados. Nesse caso, podem oferecer-se ao Super Eu para serem utilizados como
instrumentos a serem enviados para ajudar as regiões menos evoluídas do
universo.
Dos planetas superiores, alguns desses seres
têm se apiedado dos seres humanos e têm vindo voluntariamente a esta Terra para
ajudar a humanidade. Vieram a fim de fazer aquilo que o homem não poderia fazer
por si mesmo. Foi o Super Eu que os enviou, utilizando-os para auxiliar o
homem. A comunicação telepática em todo o universo é tão maravilhosa, que na
Mente Cósmica não há distância nem separação. Daí a necessidade e a falta de
recursos que aqui havia determinaram um suprimento provindo de planetas
infinitamente distantes, dos quais vieram grandes instrutores. Foi um eco
respondendo a uma vibração. O Super Eu os trouxe para aqui da maneira mais
bela, fazendo-os sentir nossas necessidades, despertando-lhes a piedade de
sorte que eles se dispusessem a vir.
Tais seres, pois, vieram de planetas
superiores para se encarnarem no nosso. Fizeram isto antes que Jesus fosse nascido.
Buda e Osiris foram Messias. Este é o real significado do nascimento virgem.
Indica que há algo pouco usual, super humano, em torno desta pessoa particular.
Não se trata de seres humanos comuns. Vieram de planetas onde habitam os super
humanos. Para realçar e simbolizar este fato circulam lendas sobre a sua origem
divina. “Nascimento virgem” é uma doutrina salutar pela qual as mentes simples
podem apreender a origem superior de tais seres espirituais. Mas nós que temos
maturidade devemos descobrir os fatos em sua plenitude. O século vinte não é
época para exposições simbólicas quando as inteligências podem alcançar as
realidades.
Jesus desceu de um desses planetas e aqui se
encarnou. Isto é, Seu Espírito se encarnou num corpo humano neste planeta
Terra. Ele voluntariamente o fez porque desejava ajudar nossa humanidade.
Jesus não pertence a nossa Terra. Ele veio de
uma estrela onde os homens vivem uma vida infinitamente superior, uma vida que
está mais próxima da beleza, dignidade, verdade e da realidade do Super Eu.
Mas lembrai-vos que a vinda de tais Seres até
aqui é uma forma de auto sacrifício. Eles têm que descer a uma vibração
inferior em cada plano: físico, mental e espiritual; e isto só pode significar
intenso sofrimento. Jesus fora crucificado antes mesmo de ter sido colocado na
cruz. Fora crucificado mental e espiritualmente. Ele sabia que Sua crucificação
física teria de vir, mas isso para Ele era o menos. Mesmo antes de Jesus
encarnar-se, os grandes Seres que vigiam e controlam a evolução espiritual e o
destino material da humanidade neste planeta, bem como o governo da Terra,
mostravam-Lhe um quadro do que Ele teria de fazer aqui, do que Ele teria de
experimentar, e qual seria o Seu fim.
Estes misteriosos Seres espirituais são
quatro em número. Eles são os reais executores das leis que Deus estabeleceu
para certos departamentos deste planeta. Sua obra consiste em zelarem para que
o planeta como um todo evolua através de todas as suas várias experiências em direção
à meta que lhe foi fixada. Além disso, eles têm a cargo a vida e destino da
humanidade em massa. Jesus aceitou a tarefa que Lhe mostraram estes quatro
poderosos Arcanjos. Em profunda visão Ele viu o trabalho essencial que dele se
requeria, e o negro destino que seria o Seu.
Pouco se pode dizer destas Inteligências.
Sofrem por dedicar-se ao bem estar das espécies inferiores – o homem. Desceram
dos reinos superiores para beneficiar a humanidade. A suprema Sabedoria
espiritual está sob a sua guarda e proteção, e do auxílio geral que nos é
enviado, todos os videntes recebem inspiração em sua busca.
Jesus se ofereceu para a tarefa auto
sacrificadora de plantar a paz nos corações dos homens. Ele foi realmente um
instrumento nas mãos dos Quatro Sagrados. Ele conhecia a tarefa que havia
empreendido, porém tinha de pagar a penalidade da encarnação e passar pela
lerda da memória divina que tais encarnações impõem à mente. Mas esta perda foi
temporária, sem dúvida, no Seu caso.
O que Ele foi na Sua infância não nos
concerne, porque isso não representa o Jesus que veio dar uma mensagem. Foi
apenas o começo. Jesus tinha de Se
encontrar da mesma forma que tendes vós de vos encontrardes.
Nenhum Deus, nenhuma divindade pode
encarnar-se, tomar um corpo humano como um bebê sem deixar de sofrer as
limitações de um bebê; sem deixar de aprender a fazer operar sua consciência
gradativamente através da infância, até a maturidade, como qualquer ser humano.
As leis da natureza são inexoráveis. A única maneira de poder ele evitar isso é
tomar o corpo já crescido de um adulto, o que pode ser feito sob certas
circunstâncias, onde tiver sido preparado um bebê, por alguma alma altamente
adiantada.
Os Cristos têm que crescer; não nascem em
corpos prontos. São simplesmente As Flores Perfeitas da Humanidade. Mesmo o ser
humano comum tem de passar rudemente os primeiro vinte anos de sua vida preparando-se
para sua existência matura. É, pois, de se estranhar que Cristo não Se tivesse
anunciado antes de completar os trinta anos de idade? Ele teve de preparar o
homem espiritual e de levar bastante tempo nisso.
Um homem como Jesus, que veio para uma missão
especial, que envolvia a ajuda à humanidade, particularmente às massas, não
poderia ter feito senão o que fez. Ele teve de conhecer como era a vida humana.
Teve de conhecer o que era ser criança e ser jovem para poder ajudar as pessoas
comuns. Teve de compreender que espécie de vida viviam as massas. E teve de
nascer entre elas.
Assim ele veio de maneira natural, e passou
pelas privações da consciência humana, por toda a limitação daquilo que ele Era,
sofrendo para nascer de maneira humana comum, crescer de maneira humana comum,
e gradual e lentamente despertar para a Sua luz interior.
Despertou um pouco mais rapidamente do que os
demais. Tanto assim que pela fase da puberdade Ele havia começado a pensar, a
refletir, a procurar e a compreender algo do significado espiritual da vida.
Jesus, o menino inexperiente, pode confundir os doutores do templo judaico. Mas
ele não havia ainda se encontrado.
Não foi senão na idade de treze anos e meio que
Ele compreendeu que devia pôr-se conscientemente a descobrir-se e a
reconquistar Sua consciência superior. Para muita gente, parece que Ele
desapareceu completamente entre as idades de doze e trinta anos, quando
reapareceu de novo, subitamente, no país onde havia nascido. Por indicação intuitiva
deixou a casa de Seus pais e foi para o Egito. Ali trabalhou e estudou sob
condições as mais diferentes. Nas escolas era um estudante a imbuir-se da
antiga ciência. Foi um jovem operário que pelo árduo trabalho de Suas mãos
emprega parte do tempo em manter Sua própria subsistência.
Pouco sabe o mundo destes anos de juventude. Os
livros que dão fragmentos que o mundo conhece da história de Jesus, não foram
escritos durante Sua época. Portanto, não se trata de documentos históricos
contemporâneos, escritos na mesma ocasião em que se desenrolaram os
acontecimentos. Depois da morte de Jesus, os autores escreveram o que eles
acreditaram ser a Sua história.
Uma vez estive debaixo da árvore em que
estivera o menino Jesus enquanto sua mãe descansava em sua fuga para o Egito. E
pus-me a refletir no milagre do tempo. A República de Roma e o reino da Caldéia
adejam através da história como borboletas já extintas; o império da Babilônia
e a civilização da Suméria não são senão poeira ressecada. Daqui a um século o
maior conflito do mundo nada mais significará do que hoje para nós significa a
descrição que os compêndios de história fazem das guerras napoleônicas.
O Egito, seu vizinho, tinha uma cultura muito
mais antiga. Os judeus tinham ligado seu país àquele. Um capítulo e meio do
Livro de provérbios do Antigo Testamento foi copiado palavra por palavra do
texto do sábio egípcio Amenemope. Entrai em qualquer sinagoga de hoje e vereis
ali símbolos geométricos e outros, que poderíeis ver em qualquer templo egípcio
do passado. É um pensamento chocante, mas verdadeiro, o de que a religião que
Moisés deu aos judeus foi uma das ramificações da religião de Osíris, que por
sua vez veio dos Atlantes para a África. Assisti, se puderdes, a uma reunião
numa Loja maçônica, e ali encontrareis a mesma herança espiritual.
O primeiro mosteiro cristão foi fundado no
Egito. Foi inevitável que Jesus enfrentasse a Esfinge. Ele se dirigiu para o
Egito porque aquela nação ainda tinha naquela época a tradição de cultura
espiritual e instrução secreta numa vasta escala e de remota antiguidade, o que
Ele não poderia encontrar em seu próprio país. Mas o Egito havia decaído muito,
em comparação com a grandeza de seu passado. Da perdida grandeza pouco restava
para alimentar a alma.
Ele estudou e praticou os exercícios que Lhe
foram ensinados. Viajou por várias províncias. Parte do tempo trabalhava em
serviços subalternos e trabalhos manuais. Deixou o trabalho manual com a idade
de dezoito anos e se entregou a estudos puramente intelectuais. Os patéticos
remanescentes das escolas de mistérios e templos egípcios abriram as portas ao
jovem estrangeiro.
Na costa do Mediterrâneo ele encontrou um
grupo de místicos, filósofos, estudantes e instrutores reunidos na cidade de
Alexandria, em busca da Verdade. Uma das comunidades místicas a que Ele aderiu
em Alexandria, praticava a meditação duas vezes por dia, ao amanhecer e ao
entardecer. Quando o sol se erguia, eles oravam à luz solar para que suas
mentes se enchessem de luz espiritual. Quando o sol se punha, oravam para que
suas mentes se recolhessem em suas próprias profundezas, concentrando-se na
Verdade.
Naquela época, a cidade não era apenas um
centro de cultura muito cosmopolita, mas também um porto de muito comércio.
Constantemente chegavam e saiam navios carregados de cereais e outras
mercadorias. Esses navios mantinham comunicações com Roma, Grécia e outras
zonas da Europa mediterrânea. A intervalos chegavam comboios de navios no ponto
mais próximo de Alexandria, no lado sul do Istmo de Suez, os navios eram árabes
ou indianos, mais especialmente sul-indianos. Naquele tempo havia um comércio
regular de sedas e outras espécies procedentes da Índia, que eram descarregadas
ao longo do Istmo e depois baldeadas para Alexandria.
Em Mênfis foram desenterrados retratos de
tipos indianos de mulheres e homens. Os egípcios usavam comerciar com Musiris,
a moderna Crangamore, o porto marítimo do sul da Índia. Moisés referiu-se ao
cinamomo e acácia usados no culto. Estes são produtos peculiares à costa de
Malabar, onde mais tarde aportou São Tomás. A Deusa Mãe era adorada primitivamente,
no Egito, na forma de uma vaca. A vaca sempre foi um animal sagrado para os
dravidianos. O touro sagrado do Egito tem analogia com o touro de Shiva. As
instituições sociais dos naiaras, um proeminente ramo dravidiano, foram
calcadas nas que a literatura egípcia descrevia como existindo ali primitivamente.
As folhas de palmeira e as penas de ferro eram comuns no Egito e Índia do Sul.
O culto ancestral do Egito é comparado ao culto ancestral dos dravidianos de
Malabar.
Os navios às vezes traziam passageiros. De
quando em quando chegavam comerciantes indianos que tinham aprendido algo de
suas escrituras ouvindo os Brâmanes, a casta dos instrutores espirituais da
Índia. Os Brâmanes mesmos nunca vieram, pois estavam proibidos de viajar. Mas
os comerciantes, ouvindo aos sacerdotes nos templos locais e seus guias familiares,
aprendiam algo de sua própria religião, e em contato com os filósofos de
Alexandria trocariam experiências.
Os anos se passaram, e depois de haver
completado Seu treinamento e sido iniciado na mais elevada doutrina esotérica,
Jesus regressou ao seu país natal. Então e só então Ele se encontrou a si
mesmo.
Por então ele estava com os seus vinte e oito
anos. Lembrou-se então de Sua missão sagrada de servir e despertar, e
preparou-se para dar Sua Mensagem aos que estavam preparados para recebê-la. Os
grandes Instrutores apareceram tão só para ajudar a abençoar a todos. Nada
reservavam para uns poucos privilegiados. Seu amor e conhecimentos fluem para
todos. Dão a todos, igualmente, o mesmo ensinamento essencial de devoção ao
Divino. Cristo ensinava a cada um que solicitava Seu auxílio. Suas pérolas Ele
as dava aos pobres e incultos como aos de alta posição.
Antes de iniciar Sua missão pública, Ele teve
de passar pelo teste que todos Seus semelhantes têm a provar. Satã, a voz da
sociedade convencional, ofereceu-se para fazer de Jesus um Rei. Mas Deus, a voz
dos lugares solitários, destinou Jesus para algo superior – um peregrino
revelador a ensinar verdades amargas e não solicitadas.
Desde o momento em que entrou nas vilas da chamada Terra Santa, Ele começou Sua missão. Assim quebrou Jesus o Seu grande silêncio e voltou a conversar com os homens. A misteriosa magia que estivera acesa dentro Dele durante anos de silêncio, cintilava daí em diante em cada uma de Suas palavras e provavam ao coração do homem a divina verdade de cada frase e cada sentença. Como é costume no Oriente, que sempre reverenciou os verdadeiros místicos, tão profundamente como nós reverenciamos as estrelas de cinema, as notícias se espalharam lentamente de boca em boca acerca da existência de alguém que realizara Deus.
Desde o momento em que entrou nas vilas da chamada Terra Santa, Ele começou Sua missão. Assim quebrou Jesus o Seu grande silêncio e voltou a conversar com os homens. A misteriosa magia que estivera acesa dentro Dele durante anos de silêncio, cintilava daí em diante em cada uma de Suas palavras e provavam ao coração do homem a divina verdade de cada frase e cada sentença. Como é costume no Oriente, que sempre reverenciou os verdadeiros místicos, tão profundamente como nós reverenciamos as estrelas de cinema, as notícias se espalharam lentamente de boca em boca acerca da existência de alguém que realizara Deus.
Devotos e peregrinos começaram a fluir para
Ele, a pedir sua bênção ou ajuda, e a alguns se permitiu tornarem-se Seus discípulos.
Ainda que Seu ensinamento se destinasse a espalhar-se por todos os países e
pela maioria dos continentes, Sua missão, contudo, não era universal. Não
haverá um mundo cristão, porque não se visava destinar o cristianismo a todo o
mundo, mas especialmente ao ocidente, O Carpinteiro de Nazaré veio
aparentemente para converter uma pequena seita da Palestina; Ele conseguiu
converter todo o mundo ocidental.
Contudo, Jesus sabia onde se espalharia Sua
doutrina, e sabia que não se espalharia senão depois de Sua morte. Jesus
permaneceu numa relação geográfica particular com Seu século e também com os
séculos futuros. Quando Krishna falou, Sua mensagem fluiu para o oriente da
Índia, para Java, Sumatra, Camboja, e mesmo para o Ceilão, no sul. Quando Buda
falou, sua mensagem fluiu até o extremo oriente, para a China e Japão, para o
norte até o Tibete, e para o sul até o Ceilão. Mas em nenhum caso essas
mensagens fluíram em direção ocidental. Moisés falou, mas sua mensagem não
fluiu em nenhuma direção; os judeus a conservaram para si mesmos, pois em seu
arrogante orgulho o resto da humanidade não pertencia á raça escolhida.
Não era desejo de Jesus trabalhar para determinado
povo, porque simplesmente estava cooperando com a lei do destino. Internamente
Ele não tinha nenhuma consciência de ser hebreu, e suas palavras foram ouvidas
por todo o Ocidente. Jesus não limitou Sua simpatia a nenhum povo ou país em
particular. Não pretendeu salvar particularmente a Grécia ou Roma. Ele sabia
que durante o Seu período de vida seriam relativamente poucos os que aceitariam
Suas palavras de Verdade. Ele procurou esses poucos. Estes O guardavam
ardentemente. Pois é muito difícil encontrar um verdadeiro sábio, porque o
sábio nunca se anuncia, nem se rotula como tal. Jamais ele diria quem é e o que
ele é, exceto quando os deuses lhe deem uma missão especial no mundo, como no
caso de Jesus. Para Jesus estava muito certo proclamar-se publicamente: “Eu e
meu Pai somos um”. Mas, a não ser que uma tal missão pública tenha de ser
levada a cabo, o sábio nunca o dirá, mas deixará que os homens o descubram. Todos
os que tiveram uma mensagem a dar, nunca converteram nem quiseram converter
ninguém. Mas para descobrir os poucos, Jesus teve de falar a muitos. E assim
ele apareceu entre as multidões.
Não necessitamos não apenas de um instrutor,
mas também de um inspirador. Nós necessitamos, na expressão de Emerson, “Alguém
para nos fazer o melhor que está em nós”. Que apareça o homem e nós o
seguiremos. Que nos traga, não apenas as velhas mensagens cônicas de Deus, mas
o fogo divino que nos inflame.
Desde o começo sabia Jesus o que Lhe sucederia.
Ele sabia quanta oposição e perseguição teria de suportar. Uma cruel
perspectiva! Ou antes, que o destino havia ordenado um tal evento. Todavia – tal
é o poder do amor divino! – Ele teve de encontrar os Seus eleitos, aqueles
poucos que eram para serem os portadores de Seu espírito e mantenedores de Sua
obra depois que Ele partisse.
Ao encontrar-se a si, o que encontrou Jesus?
Encontrou o Super Eu, encontrou o Seu mais recôndito ser. E como há apenas um
Super Eu, apenas um espírito Universal, Ele encontrou em Si aquela mesma
condição que vós também podereis encontrar dentro de vós. Não existem dois
Super Eu; tão só um.
É uma existência universal, não um ser
pessoal, algo que não pode ser dividido e separado em duas pessoas diferentes.
Não é um estado mental nem um estado físico, mas algo sem limitação, nem forma.
Quando, com a idade de vinte e oito anos, Jesus se encontrou e conheceu como
AQUELE, Ele encontrou a Sua missão na vida. Porque, enquanto não vos
encontrardes a vós mesmos, ou pelo menos enquanto não houverdes começado
parcialmente encontrar e conhecer o vosso Eu Real, não podereis encontrar vosso
trabalho real na vida. Até então, estareis simplesmente tateando.
O sentido da identidade com o eu universal
substitui o ego. Portanto, o homem que compreende quem e o que ele é não pode
deixar de desejar o bem estar de todas as criaturas, e não se satisfará com o
mero desejo, mas fará algo nesse sentido em sua vida diária. Este é o teste
final para sua realização, o serviço do mundo seja secreto ou público, e por
isto Jesus se movimentou e ensinou incessantemente entre aqueles que Ele sabia
um dia O premiariam com a cruz. Mas cada cravo pregado nessa cruz, também era
pregado no negro destino deles.
Qual foi sua obra? Durante os três anos que
precederam a Sua chamada morte, Jesus pôde realizar aquilo para o que viera.
Isto não é o que pensa a maioria dos cristãos. Ele não veio para fundar uma
nova organização ou estabelecer uma nova igreja. Mas veio para plantar uma
semente invisível nos corações dos homens, uma semente que cresceria até a
máxima altura, porém, tal qual todas as outras árvores e plantas, o crescimento
estava destinado a florescer por algum tempo e depois finalmente decairia.
Jesus não fundou nenhuma organização religiosa, nenhuma igreja, Ele aconselhou
Seus seguidores a orarem em segredo, não em igrejas. Não nomeou nenhum clérigo,
nem sacerdotes. Toda a superestrutura da organização humana foi iniciada por
outros.
Aquilo que Jesus trouxe ao mundo está agora
em processo de decadência. Homens como Lenin e Hitler foram projetados por sua
época, porque são meramente instrumentos do destino, tal como um Messias como Jesus
foi projetado em Sua época. Ele deu o que viera dar. Foi algo intangível,
invisível. Nos corações dos homens Ele plantou algo que só podemos chamar de
espírito. Ele trouxe uma nova dispensação do Espírito para este planeta. Tudo o
que vedes do cristianismo é a manifestação fragmentária daquele espírito
lutando por expressar-se neste mundo.
O mundo acreditava, como sempre, na força.
Sempre estava pronto a vergar ou quebrar um homem, quando procurava sujeita-lo
à sua vontade. Daí o esperar ele – se esperava alguém – por um salvador que
surgisse e o compelisse à salvação, mesmo contrariando-o. O mundo se
desapontou. Jesus nunca interferiu no livre arbítrio de outra pessoa. Estimulou
as almas para a verdade; deu um ímpeto para a auto descoberta; mostrou aos
homens o que realmente prometia a vida espiritual, mas nunca compeliu ninguém a
adotá-la.
O que, pois, Jesus fez. Foi algo que não era
para ser medido como realização externa, em Seu próprio tempo ou em tempos
futuros, porque foi algo que vive dentro dos corações por todo o sempre. É
profundo e sem preço.
O Novo Testamento transmite algo do perfume
deste homem divino. As páginas dos quatro evangelhos são inspiradas; brilham
como lâmpadas. Embora tenha desdenhado dar ao mundo qualquer filosofia
sistemática e fabricada, Jesus lhe deu algo melhor; Seu próprio atingimento
interno daquilo que transcende toda a filosofia, Aqueles terços parágrafos
resplandecem de iluminação. Ele diz a última palavra e nada deixa para dizer. Os
penetrantes pensamentos de Jesus são apanhados e aglutinados em concisas
sentenças, que não são facilmente esquecidas. Não é necessário tecer estes
pensamentos num fio de lógica, porque cada um deles é soberbamente
autossuficiente, incontestável, divinamente convincente.
A ideia do próximo advento de um Messias tem
produzido a habitual safra de falsos instrutores e fanáticos profetas
correlatos. Pois estes criam consciente ou inconscientemente fúteis desvios, em
que os investigadores sinceros desperdiçam suas energias e perdem suas
aspirações.
Há no momento, à vista do público, diversos “Messias”
autoproclamados, e deve haver muitos outros menores, pouco conhecidos. O efeito
resultante de seus trabalhos é mistificar os que pensam, e desencaminham os que
não pensam. Mas quando a verdade é conhecida, todos os iludidos e
mistificadores se desvanecem em suas insignificâncias e não mais nos interessam.
As estultícias que desencaminham a humanidade e os sofismas que a iludem, não
durarão para sempre.
Estes homens nada têm a dizer-nos embora o
digam. Que podem eles dizer que se compare à cintilante asserção do Mestre, “O
reino do céu está dentro de vós”? Essa verdade que ele deu aos admirados
ouvintes é uma abridora de mentes. Sua lucidez é de uma clareza meridiana. Pois
a maioria de nós perdeu a cabeça e tornou o caminho que trilhamos, os ritos que
observamos, os dogmas que acalentamos, mais importantes do que a salvação que
queremos alcançar.
O único homem que posso cultuar como um
Messias é aquele que tem o Poder. Dele se pode adquirir um novo impulso. Só ele
é digno de receber minha mais elevada oblação. O ensinamento não me afeta, mas
aquele que me pode dar uma nova orientação em caráter, ou afastar minha vontade
das loucuras mundanas, ou abrir as janelas de minha mente para que a
consciência superior possa brilhar – eu o reverenciarei.
A vinda de Jesus foi uma bênção para o mundo.
Ele instruiu e inspirou homens. Ele lhes ensinou o segredo mais profundo da
vida e incitou-os a seguir o caminho divino. Em Sua própria existência diária
Ele exemplificou uma santidade que lança na sombra a nossa vida comum.
Quando contemplo os quadros da história do
passado e vejo Sua figura desfilar diante de mim, trazendo em sua fronte a alta
dignidade da marca apostólica, recebo renovado conforto e segurança. Não
estamos abandonados. Deus ainda envia companheiros para nossos trôpegos pés e
apóstolos do Infinito para nossas mentes ainda tateantes.
Fonte:
A Realidade Interna - Paul Brunton.
Rayom Ra http://arcadeouro.blogspot.com.br
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