O Velho Testamento
apresenta maior dificuldade de aceitação histórica do que o Novo Testamento. A
suspeitosa cronologia atribuída às suas narrativas não permitiu até agora
reunir elementos concretos para a remontagem de uma linha sequencial crível.
Além da inexistência de provas cabais do que é narrado, há muitos hiatos entre
determinados acontecimentos e um sem número de aparentes incongruências. Nem
dos personagens se tem documentos lídimos e comprobatórios. Praticamente todos
os personagens citados no Pentateuco se tornaram elementos sem perspectivas de
provas, restando tão somente o reconhecimento pela fé religiosa. Do mesmo modo,
conforme vimos, muitos locais, regiões e cidades não batem nas suas localizações
com as recentes comprovações alinhadas pelas descobertas arqueológicas.
Situação diferente vamos
encontrar nas páginas do Novo Testamento que já apresentam possibilidades mais
reais e concretas de aceitação devido a proximidade de seus eventos com a organização
da história recente. Nesse caso, foi possível reunir amostras de provas do
curso dos acontecimentos e assim oferecer maior credibilidade. Ainda assim,
Jesus não teria existido para a história oficial num prolongamento de eventos
perfeitamente comprobatórios. Restam ainda dúvidas de sua existência, exceto
por conta de um pronunciamento do historiador Flavius Josephus do século I ao
referir-se, entre os anos 38 e 39,
a certo profeta de Nazaré numa carta dirigida a Tiberius
pelo senador romano Publius Lentulus, que teria vivido na Galiléia no tempo de
Jesus, descrevendo-o fisicamente e ressaltando sua alta moralidade.
Tanto a existência da
pessoa Publius Lentulus como a autenticidade de sua carta foram negadas ao
longo da história, mas não de forma totalmente convincente. Da mesma maneira, a
declaração de Flavius Josephus é ainda hoje alvo de suspeições, críticas e interpretações,
por existir em todas as épocas motivações políticas ou interesses de outra
natureza. Para o religioso, contudo, Jesus foi incontestavelmente verdadeiro e
quem duvidar desta afirmativa comete apostasia.
Já o esotérico vive num
mundo inúmeras vezes aparte das assertivas da história oficial e dissociado de
uma visão literal-retilínea das religiões mais populares. E embora distante da
objetiva realidade cientifico-acadêmica, as bases do pensamento esotérico emergem
tanto de fontes materiais palpáveis como associadas às revelações de outros
naipes. As escolas tradicionais dos ensinamentos ocultos, com suas obras
escritas ao alcance de todos os estudantes sérios, auxiliam-nos a edificar um
pensamento sobre bases diferentes do oficializado pelas instituições do mundo
contemporâneo. Há no esoterismo outra realidade não ensinada pelo didatismo da
história moderna e ciência oficial quando abordam temas como o nascimento do
universo, a construção do sistema solar, o surgimento do planeta Terra, e a
criação da humanidade e sua endógene. A sabedoria esotérica vem sendo mantida
desde tempos imemoriais, em livros de especiais feituras isentos dos efeitos do
tempo e intempéries, em pergaminhos criteriosamente reescritos, na tradição
oral ou em registros etéricos acima do espaço físico material. O estudante das
ciências ocultas pode ter acesso gradativo a estas fontes fidedignas segundo
seus avanços mentais e espirituais.
Ao contrário das
religiões o esoterismo não é para todos. A prova está no cuidado e resguardo de
suas revelações. Há ainda muitos níveis mentais e espirituais a serem cumpridos
pela maior parte da humanidade, motivo pelo qual muitas revelações se encontram
preservadas pelos mestres do esoterismo. Há luzes superiores não alcançadas
pela ciência material apesar de todos os seus avanços nos campos da astronáutica,
astrofísica, cibernética, dimensões quânticas, eletrônica etc., luzes essas que
somente abrem-se ao esotérico convicto. Não é condição sine qua non possuir diplomação universitária ou grande aptidão
intelectual para se tornar esotérico competente e aprofundado. Numa visão
panorâmica adstrita aos valores mais integradores do homem com seu íntimo, as
qualificações acadêmicas somente valerão a qualquer estudante ou cientista se,
verdadeiramente, houver nele a lealdade com seu espírito, e isso requer uma
visão cosmológica bem mais profunda da realidade da vida do que aquela
manipulada pelos homens de ciência.
E também destaque-se que
um praticante de magia ou um teórico em assuntos do esoterismo não seja na
verdadeira acepção e significado do termo, um iniciado. Para tanto, o estudante necessita
antes de tudo domar seu ego, sublimar seus instintos e avançar interiormente
até conseguir manobrar com energias e forças íntimas incomuns. A
espiritualização da personalidade é essencial para o desenvolvimento de
faculdades que o conduzam conscientemente a estágios mentais cada vez mais
elevados, mas nem por isso isentos de perigos.
Não raro o estudante se complica e se atrasa
na caminhada evolutiva justamente por não desejar obedecer às orientações
disciplinadoras de seus superiores do mundo espiritual. Por conta das
desobediências, desatenções, ambições pessoais, orgulho e imaturidade abrem-se
janelas no íntimo do praticante mal formado, e ele recebe energias e projeções
astrais e mentais prejudiciais a sua integridade, não conseguindo absorvê-las,
sublimá-las ou rechaçá-las. Comumente, engolfado por essas invasões, tal
estudante decresce em sua frequência vibratória e assim cai por terra.
O esotérico que avança em
determinados estágios e situações de sua vida interior não é ainda e
necessariamente um intelectual, mas sim um seguidor das lições que as aprende
duramente, passo a passo, pela experienciação. Com o tempo poderá despertar a
intelectualidade e até falar ou discursar sabiamente. Há muitos exemplos no
mundo de homens e mulheres que mais tarde atingiram status mental superior às
suas iniciais categorias de pessoas comuns.
Já o intelectual do mundo, por mais brilhante ou altiloquente
que possa revelar-se, conforme citamos, não entenderá jamais o esoterismo e nem
a espiritualidade como de fato devam ser praticados. A menos que deixe a
vaidade e o orgulho intelectual de lado e aceite a humildade perante o espírito.
O intelecto desenvolvido e somente polarizador de valores mentais – portanto
relativos – é o grande empecilho e o principal responsável por afastar o homem
de sua natureza espiritual jogando-o ao ateísmo impronunciado, travestido de
conhecimentos sólidos. Não é pelo fato de se ter tornado intelectual que o
homem terá aprendido a dominar o orgulho, a vaidade, a avareza, o egoísmo, o
racismo, as taras, a crueldade e demais defeitos da personalidade. E nem a anexar
as forças que o embalam para cima e para o mundo dos homens cegos pela
materialidade. Pois, não sendo uma luz verdadeira a mostrar o seu generoso brilho
polarizador e espiritual, será mais um envolto pelo caos da terra. Assim, ao
contrário do desejável, é justamente pelo fator intelectivo mais desenvolvido e
irresponsavelmente aplicado que virá intensificar ainda mais os elementos
negativos e ultrajantes para a alma.
Tão pouco o religioso
dedicado às liturgias será um realizado se não trabalhar duramente a
espiritualidade. O grande erro das religiões é passar em seus dogmas a ideia de
que unicamente as práticas religiosas conduzirão à salvação. Não há paraíso e
nem inferno fora de nós. Criamos em nosso íntimo o próprio destino. As
dimensões fora desse mundo em que hoje vivemos, onde almas de semelhantes
inclinações se encontrarão após o desenlace de seus corpos físicos, representam
os prolongamentos de suas consciências no espaço-tempo.
Práticas religiosas são
meramente credos; qualquer pessoa pode exercê-las mecânica e organizadamente ou
com perfeita técnica, no entanto não cumprindo de fato os preceitos e
mandamentos morais no cotidiano pouco terá de fato realizado. A ortodoxia
pode também conduzir ao engessamento do racional e do caritativo, quando normas
e disciplinas são impostas com tal energia e firmeza que não permitam aberturas
para reflexões. Neste tipo de interpretação e aplicação do “espírito da letra”,
coração e mente são tiranizados, portanto a própria alma, deixando assim que o
pensamento religioso concreto se materialize duramente sobre a razão e
consciência da espiritualidade. Esse é um dos principais e nefastos fatores conducentes
ao fanatismo e às ideias religiosas obsessivas.
Grandes homens que
falaram e obraram em nome de Deus estavam libertos da ortodoxia religiosa.
Fizeram-se senhores de si mesmos por terem transcendido normas aprisionantes e
dogmatismos, e ao iluminarem-se deixaram definitivamente as discrepâncias e
preconceitos para trás. Alguns realizaram voluntariamente disciplinas
religiosas, mas para seus objetivos maiores de libertação comprovaram a sua
total inutilidade e as largaram, partindo para insólitos desafios. E por terem
emergido livres e conscientemente para a liberdade – unicamente por isto – não
escaparam à condenação da estreiteza sacerdotal e nem dos manietadores
dogmáticos. Assim se passou com Manes, Francisco de Assis, Buda, Jesus e outros
luminares.
As religiões não são
absolutamente o caminho reto para a verdadeira vida. As salvações estão justamente
acima das religiões, pois as estruturas e edificações religiosas tiveram a mão
e o cérebro limitados do homem. Portanto, somente conduzem até onde o entendimento
do homem alcança. As religiões são sustentáculos de energias que se ancoram de
maneira tecnicamente possível, atraídas por fórmulas recitativas, rituais,
pregações ou práticas que necessitam estar todos os dias ativados. Essas energias
em movimento se dão e se recebem através das mentes de seus praticantes, e cada
religioso se torna responsável pelo teor-qualidade externado por sua religião.
As religiões abrigaram
através dos séculos e milênios justamente estágios necessariamente estipulados
para a humanidade, que foram aos poucos desenvolvidos e aplicados a nações e
grupos raciais idiossincráticos. E essas multidões foram e são nutridas por
campos vibratórios de energias especialmente qualificadas. Assim foi possível
manobrar um aumento da capacidade de absorção e retenção das energias a cada um
dos praticantes. Por aparente paradoxo, essa ideia, para melhor entendimento e
aceitação, precisou ser trabalhada em níveis acima do entendimento comum. As
tradições religiosas foram e ainda são fases ou faces de um todo, cuja
perspectiva real desse todo, incabível no pensamento humano primário, é mais
ampla e completa do que supuseram até mesmo sacerdotes e mentores responsáveis,
uns por tocar as religiões adiante e outros por mantê-las vivas e ativas.
A humanidade evolui em
ciclos e espirais cíclicas. As religiões, por si sós, não conseguem entender o
que seja a verdadeira marcha evolutiva humana por se ocupar de um só momento
sobre a esteira de revelações mensuradas para efeitos definidos. Há religiões
que nasceram de crenças e práticas primitivas. Não foram e nem são religiões
organizadas para uma finalidade produtiva dentro de um organograma mundial. Por
isso, muitas não sobreviveram e outras se tornaram arremedos de culturas em
vias de extinção, e cujos resquícios de memória teriam permanecido no atavismo
de grupamentos étnicos. As primitivas religiões de adoração ao Sol, à Lua, ao
vento, fogo, água, terra, céu, estrelas e aos fenômenos gerais da natureza,
estão nesse enquadramento de uma minoria, veiculadas a raízes mais profundas e
distantes.
Houve um tempo do
existir uma religião natural e espontânea, embora orientada nos seus
fundamentos básicos segundo as leis da natureza. Mas o ciclo dessa devoção
terminaria quando os primeiros ramos raciais deixaram o estágio infantil e
mergulharam noutra fase do conhecimento. Esse novo ciclo, contudo, traria
conflitos que até hoje se procuram solucionar para a grande massa humana. As limitações das religiões e o mau emprego
das interpretações doutrinárias estão longe ainda de conduzir o homem a uma
síntese universal com seu Criador. Por
outro lado, os avanços da ciência concreta iludem e seduzem milhões a uma
realidade unicamente material.
Embora o vocábulo
religião advenha do latim “religiõ” ou “religo”, ou seja, significando mais
amplamente ligar de novo o homem a sua divina origem, essa origem para milhões
ainda não foi sequer vislumbrada e nem demonstrada convincentemente por
qualquer das religiões não esotéricas. O que se observou do passado foram evoluções
parciais da consciência humana relativas às manifestações e disciplinas da
personalidade. Sabem os esotéricos da formação sétupla das unidades de
consciência em estágios evolutivos na Terra. Unidades de consciência somos nós
e o processo do aprendizado torna necessário adquirirmos o conhecimento de
sermos possuidores de outros veículos além de um corpo sólido material.
Em resumo: o ser em
evolução é uma unidade de consciência denominada também de espírito, possuidora
de uma alma bem mais complexa do que é ensinado nas religiões. Manifesta-se na
Terra, por um conjunto de veículos chamado na sua integral contextura de
personalidade. Portanto, a tríplice edificação espírito-alma-personalidade,
estrutura cada unidade de consciência inserida num plano evolutivo. O grande
objetivo, a verdadeira meta, a realização transcendental em nossa vida
planetária, num primeiro e grande estágio, é elevarmos de tal forma a
totalidade de nossa consciência a fim de que possamos exercer a triplicidade
desta estrutura pelo conhecimento e sabedoria de algumas leis superiores. E até
onde sabemos, esse sistema solar nos deterá somente por um determinado tempo,
sendo necessário mais adiante, no curso dessa evolução, nos ancorarmos noutro
sistema solar, talvez até de outra galáxia, para ulteriores aprendizados.
Esse pensamento,
entretanto, precisa transcender a concepção da existência de vida inteligente
unicamente no espaço físico onde movemos nossos corpos biológicos. A dimensão
física do sistema solar é concretamente circunscrita por uma quantidade de
matéria apropriada pelo Criador para esse tipo de manifestação. Elevando a consciência
sobre essa visão a humanidade pode considerar verdadeiras outras dimensões
formadas de matéria mais sutil, porém tão real e tangível naquelas dimensões
quanto é tangível a matéria do mundo físico, onde, para a maioria, os sentidos aqui
estão subjugados. E uma vez entendida essa realidade, e em se trabalhando conscientemente
essa idéia, acaba-se por despertar a intuição plena destacada do instinto intelectual,
e a visão mental de outras dimensões.
Capítulo IX do Livro "O Monoteísmo Bíblico e os Deuses da Criação", por Rayom Ra disponível para
leitura em:
https://arcadeouro.blogspot.com/2017/12/o-monoteismo-biblico-e-os-deuses-da_25.html
O conteúdo deste texto pode ser copiado e repassado, mas favor mencionar os créditos do autor.
https://arcadeouro.blogspot.com/2017/12/o-monoteismo-biblico-e-os-deuses-da_25.html
Texto revisto, modificado e reeditado em 05/10/2016.
Rayom Ra
http://arcadeouro.blogspot.com.br
O conteúdo deste texto pode ser copiado e repassado, mas favor mencionar os créditos do autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário