domingo, 30 de outubro de 2016

Cronologias de Personagens Bíblicos

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  As religiões e crenças ocuparam sempre papéis importantes e principais nas culturas das grandes e médias civilizações. Em muitos casos, as divindades mudavam de roupagem e nomes, mas os cultos eram manifestações mais ou menos idênticas aos dos povos conquistados ou conquistadores. O Egito conseguiu aprofundar mais intensamente suas crenças, não somente pelo tempo em que permaneceu como sólido império, mas também porque essa decorrência se deveu à sua organização e administração sócio-econômica. E, principalmente, pela grandiosa cultura esotérico-religiosa que concebeu e praticou. A despeito de sofrer diversas invasões e conquistas, a terra dos faraós se manteria em destaque por muitos milênios.

  Na Europa, o quadro religioso desenhado pelas várias práticas dos povos, tomaria novas e lentas feições durante a ascensão, apogeu e gradual decadência do império romano. A religião cristã se estruturaria de maneira diferente das antigas religiões nascidas no oriente, impondo um pensamento coordenado com base nos escritos monoteístas da tradição judaica. Montaria uma bíblia para representar o sagrado cânon de suas revelações, e com o tempo adotaria o ritual da missa e a prática de sacramentos - herdados das antigas tradições gnósticas orientais - e conceituaria seus dogmas. Elegeria através dos séculos, para autoridade máxima temporal, um primaz que se assentaria num trono. Enviaria missionários em expedições por todo o mundo a fim de fundar núcleos, que mais tarde se chamariam congregações, e lhes determinaria pregar sob um rígido corpo litúrgico doutrinário.

  Embora firmemente sustentado por homens e mulheres de boa vontade, em cujos corações permaneceriam imaculadas as principais mensagens de um iluminado, o avanço do cristianismo ao seu início seria comedido. Mas a estrela que indicara o caminho aos magos viria novamente reverberar para os seguidores desse recente movimento. O cristianismo primitivo então escreveria indelevelmente as mais belas páginas de uma história iniciada com as pregações de um homem simples e muito amado, que nada impusera, mas que um dia dissera que cada um buscasse em si mesmo a alma de uma criança e a inabalável fé no Pai Eterno. E de posse dessas singelas verdades, os primeiros cristãos veriam as portas do céu se abrir e lhes ser oferecidas todas as respostas de que necessitassem para socorrer o mundo com palavras e compaixão.

  Já o islamismo surgiria no oriente no século VII desta mesma era. Alojaria alguns ensinamentos cristãos em suas doutrinas, imprimindo aos povos árabes uma inegável força religiosa que universalizaria um pensamento em torno do profeta Maomé, em Alá - o Deus único - e nas sagradas escrituras do Alcorão reveladas a Maomé.

  As revelações védicas, a religião brahmânica e o induismo, de modo geral, nada tinham em comum com o pensamento europeu tanto ocidental como oriental, embora vestígios de suas tradições se fizessem presentes nas culturas greco-romanas. Os europeus haviam resistido ao budismo que basicamente estancara às margens do Mediterrâneo, transformando-se em cultos gnósticos entre alguns povos do oriente médio e na Grécia. Pouco antes da decadência daquela antiga e brilhante civilização helênica, o gnosticismo lá mesmo tomaria feições teóricas esotéricas e filosóficas. Por outro lado, os essênios -  ramo étnico originário de antigos semitas -  herdariam da nata do budismo as práticas dos segredos ritualísticos e os profundos conhecimentos medicinais da flora que os iniciadores do gnosticismo lhes passariam, e se constituiriam numa seita especialmente pura onde os cristãos primitivos beberiam de suas graças.

  O zoroastrismo tinha se transformado em longínquas lembranças após a conquista do império Persa por Alexandre em 330 a.C., que mandara queimar os originais do Zend-Vesta - a memória doutrinária da religião do fogo. Entretanto, a religião não morreria, e mais tarde com a queda do império macedônio passaria por profundas transformações em grupamentos étnicos persas. Séculos depois chegaria à Índia sob a denominação de Parsis, tornando-se até hoje casta religiosa importante embora somente contando aproximadamente com duas centenas de milhares de seguidores.

  As religiões raciais ou mundiais e primitivas crenças, normalmente apresentam personagens e heróis com genealogias extremamente simples ou excessivamente complicadas, onde fatos possíveis se misturam ao impossível ou a realidade com a irrealidade. Vemos hoje uma grande crise abertamente discutida por historiadores, arqueólogos, paleontólogos, exegetas e eruditos de diferentes segmentos, acerca da real existência dos personagens bíblicos e consequentemente sobre a autenticidade da Bíblia. Da década de 70 para cá, pesquisas arqueológicas vêm municiando os investigadores com elementos objetivos que obrigatoriamente determinaram uma nova visão acerca dos fatos e narrações bíblicos. O império israelita fundado por Davi e continuado por Salomão, é fortemente questionado devido à ausência de um suporte cabal da linha descritiva histórica. Os questionamentos não param por aí, mas remetem ao início de tudo, conduzindo procedentes dúvidas à autoria do primeiro livro do Pentateuco, ao próprio Pentateuco e ao Velho Testamento como um todo. A falta de provas sobre a vida do personagem e herói Moisés no Egito, onde outros fatos contemporâneos puderam ser atestados pelos achados arqueológicos e pergaminhos traduzidos, menos sobre Moisés, e a igual certeza da inexistência dos patriarcas Noé, Abraão e Jacob, já formam consenso numa frente de pesquisadores dissidentes.

  Autoridades mundiais do campo investigativo teriam hipoteticamente discutido a Bíblia como entidade confiável, sob o prisma histórico e o religioso, concluindo que o livro mais famoso do mundo fora: codificador de textos ricos sobre o antigo comportamento social judaico; guia geográfico pictórico dos territórios semíticos e judeus; norteador de estudos do antigo oriente médio; fusionista sociológico dos povos estrangeiros inter-relacionados com os judeus; depositário da memória de incontáveis manobras de guerra, de ocupações imigratórias aos territórios palestinos e mesopotâmios ou de ondas migratórias de ramos “etno-raciais” semíticos em situações sócio-econômicas diversas; exaltador de escolhida “linhagem-tronco” patriarcal repovoadora do mundo após o anunciado dilúvio; relator de um processo doutrinário instado por leis divinas outorgadas a Moisés, mais tarde confirmadas por profetas e homens iluminados de todos os tempos; testemunho de punições impostas por Deus aos homens não convertidos, ou que mesmo convertidos O desobedeceram, e às cidades pecadoras impenitentes adoradoras dos politeísmos; retransmissor de uma retórica propositalmente matizada para bênçãos e louvações ao Altíssimo, estabelecida, via de regra, nos textos dos livros e crônicas e, finalmente, arauto e exortador de uma nova e mais recente visão espiritual universalista, minuciosa e subliminarmente formatada etapa após etapa desde Adão e Eva, concretizada milênios após pelas supernais mensagens e milagres realizados por Cristo.

  Entretanto, essa visão da Bíblia colocada por nós não mais seria completamente aceita e nem confirmada pelos estudiosos de sua sociologia histórico-religiosa, pois conforme ressaltado anteriormente, e mesmo sem ateísmos, se levantam enormes controvérsias quanto à veracidade e autenticidade de seus escritos.

  Sabe-se que a igreja católica sempre procurou despistar nas suas exegeses uma interpretação racional do Gênesis. Nem jamais admitiu questionamentos acerca dos trinta e nove principais livros que compõem o sagrado cânon bíblico. Foi preciso que protestos iniciados por Marinho Lutero e Calvino, exigindo reformas, forçassem a igreja católica reagir e mudar de posição. Martinho Lutero criticara abertamente noventa e cinco teses da igreja e aos abusos do papado, o que lhe custaria à excomunhão pelo papa Leão X e constantes perseguições. Em 1521, refugiando-se em Wartburg em Eisenach, Turingia, Alemanha, esse ex-monge agostiniano iniciaria a tradução da Bíblia para o alemão, sendo o trabalho impresso em setembro de 1522. Para essa tradução, Martinho Lutero, por ser erudito, tomaria textos em hebraico e grego bem como a Vulgata de São Jerônimo traduzida do hebraico para o latim.
      
  Daí em diante se desencadearia um efeito cascata que os ansiosos por reformas conduziriam em vários movimentos protestantes, questionando principalmente a interpretação dos textos bíblicos. Em decorrência destes vivos e permanentes protestos começariam a surgir congregações dissidentes na Alemanha, Holanda, França, Suíça, Hungria, Polônia e Inglaterra bem como dissensões entre os próprios protestantes e guerras entre católicos e protestantes. Por outro lado, a rejeição à autoridade de Roma criaria personificações nas interpretações bíblicas e consequentes mudanças no comportamento reformista, dentre as quais o casamento de chefes de congregações.

  Tratemos agora diretamente da cronologia envolvendo alguns personagens bíblicos. Segundo o Velho Testamento, o homem estaria povoando a terra a partir dos descendentes de Adão. A descendência adâmica se iniciaria com Caim, o primogênito de Adão; depois nasceria Abel -  assassinado por Caim -  vindo mais tarde Sete. A lista dos descendentes de Caim é menor; a de Abel não é mencionada; a de Sete é extensa e destaca Noé na décima geração. De Noé uma nova descendência repovoaria a terra, visto o dilúvio ter afogado todos os povos e seres vivos.

  Achamos interessante recalcular o tempo de existência do homem sobre a terra a partir da geração de Sete, o terceiro filho de Adão, cuja relação de nomes é mais específica quanto às datas de nascimento e morte de cada personagem. Iniciaremos com Adão, estabelecendo o ano zero anterior a ele, e o ano um a partir do seu nascimento. Temos então o seguinte:
                                                                                                                     
PERSONAGEM            NASCIMENTO           ANOS DE VIDA     ANO DE MORTE
                                                                                                       (de Adão ao Egito)
  1.ADÃO                               01                              930                               930
  2.SETE                              130                              912                             1042
  3.ENOS                             235                              905                             1140
  4.CAINà                           325                              910                             1235
  5.MAALELEL                   395                              895                             1290
  6.JEREDE                         460                              962                             1422
  7.ENOQUE                        622                              365                             (987)
  8.MATUSALÉM                687                              969                             1656
  9.LAMEQUE                     874                              777                            (1651)
10.NOÉ                              1056                              950                             2006     
        
  Comentemos agora sobre relações de fatos e datas durante o dilúvio e logo após ele.

  1. Diz o Gen. 07.6 “Tinha Noé seiscentos anos de idade, quando as águas do dilúvio inundaram a terra.”
  Se Noé nasceu em 1056, seria, portanto, 1656 o ano do dilúvio, coincidentemente com o ano da morte de Matusalém.

  2. Diz o Gen. 07.11.12  “No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo e as comportas dos céus se abriram.”
   “E houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites.”

  3. Diz o Gen. 08.2.3.4.5 “ Fecharam-se as fontes do abismo e também as comportas dos céus e a copiosa chuva dos céus se deteve.”
  “As águas iam se escoando continuamente de sobre a terra e minguaram ao cabo de cento e cinquenta dias.”
  “No dia dezessete do sétimo mês, a arca repousou sobre as montanhas de Ararate.”
  “E a águas foram minguando até ao décimo mês, em cujo primeiro dia apareceram os cumes dos montes.”
       
  Temos aqui o seguinte resumo:
   a.   40 dias de chuva, de 17/02/1656 (ano bissexto) à 28/03/1656.
   b. 150 dias de água se escoando, de 28/03/1656 à 25/08/1656.
   c.   37 dias de águas minguando,  de 25/08/1656 à 01/10/1656.
       227 dias

  4. Diz Gen. 08.6.10.12.  “Ao cabo de quarenta dias abriu Noé a janela que fizera na arca.”
  “Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba fora da arca.” (Já a tinha soltado antes e ela retornara no mesmo dia).
  “Então esperou mais sete dias e soltou a pomba; ela, porém, já não tornou a ele.”
     
  Nesta nova contagem temos então:
  a. 40 dias - até abrir a janela em 10/11/1656.
  b. 07 dias - até soltar a pomba em 17/11/1656.
  c. 07 dias - até soltar novamente a pomba em 24/11/1656.
      54 dias

  5. Diz o Gen. 08.13.14.15.16  “ Sucedeu que, no primeiro dia do primeiro mês do ano seiscentos e um, as águas se secaram de sobre a terra. Então Noé removeu a cobertura da arca, e olhou, e eis que o solo estava enxuto.”
  “E aos vinte e sete dias do segundo mês, a terra estava seca.”
  “Então disse Deus a Noé: saia da arca e, contigo, tua mulher, e teus filhos, e as mulheres de teus filhos.”
     
  Prosseguindo nos cálculos, temos:
  a.  38 dias até Noé remover a cobertura da arca, em 01/01/1657.
  b.  57  dias para Deus ordenar que saíssem da arca, em 27/02/1657.  
       95 dias

  Todos os dias da permanência de Noé e os ocupantes a bordo da arca (exceção da pomba que não voltou) foram, portanto:
  De 17/02/1656 à 17/02/1657 = 365 dias + 1 dia do ano bissexto = 366 dias
  E até 27/02/1657 foram mais 10 dias, perfazendo o total de 376 dias, ou:
  um ano bissexto e dez dias.

  Há fatos, no entanto, em que não pudemos nos basear devido a encontrarmos aparentes incongruências. Um desses fatos se refere aos três filhos de Noé: Sem, Cão e Jafé que teriam sido gerados quando Noé contava 500 anos de idade. Se os três nasceram no mesmo ano teriam sido trigêmeos, ou Noé teria três esposas ou concubinas. Mas nenhuma referência sobre essas possibilidades foi encontrada por nós nos textos do Gênesis. Outro fato vem do Gen. 07.6., onde é dito que Noé tinha 600 anos de idade quando as águas do dilúvio inundaram a terra. E como o dilúvio tivera início por nossos cálculos em 17/02/1656, em 27/02/1657, data em que saíram da arca, Noé já estaria com 601 anos.

  Ora, é também dito no Gen 11.10 que Arfaxade, filho de Sem, nasceria dois anos após o dilúvio quando Sem tinha 100 anos. Pelos nossos cálculos, Arfaxade teria nascido em 1656, que seria o ano do dilúvio, e o ano 600 de vida de Noé. E se o ano do dilúvio foi o ano 600 de Noé, 2 anos depois sua idade seria 602; logo Sem já teria 102 anos. Assim, Arfaxade nasceria em 1658 e não em 1656 de nossos cálculos.
      
  Muito embora povos antigos já dividissem o dia em vinte e quatro horas, fizessem contagens de semanas, meses e ano de 365 dias, certamente o ano bissexto não seria computado por eles. A diferença de seis horas cumulativas, gerando mais vinte e quatro horas a cada quatro anos, só seria oficialmente ajustada em 1582 pelo Papa Gregório XIII, ficando o calendário oficial a partir daí conhecido por gregoriano em homenagem àquele Papa. Assim, há a possibilidade de a diferença de dois anos aqui consignada estar ligada a alguma data pretérita de nossos cálculos onde o ano bissexto não seria computado. Se isto for relevante para conclusões outras, agradeceríamos aos investigadores realizar possíveis correções ou novas interpretações.

  Finalmente, os personagens bíblicos de quem tratamos, tendo vivido acima dos 100 anos, alguns mais de 200 e muitos tendo ultrapassado 600, 700 ou atingido 969 anos como Matusalém, é algo para nós incrível, mesmo sendo eles homens bíblicos.
    
        Continuando com as gerações a partir de Noé, teríamos:

PERSONAGEM            NASCIMENTO                ANOS DE VIDA        ANO DE MORTE
                                                                                                                  (de Adão ao Egito)

01. SEM                                1556                              600                                      2156
02. ARFAXADE                     1656                              438                                      2094
03. SALÁ                               1691                              433                                      2124
04. EBER                              1721                             464                                       2185
05. PELEGUE                      1755                              239                                     (1994)
06. REÚ                                1785                              239                                     (2024)
07. SERUGUE                     1817                              230                                     (2047)
08. NAOR                             1847                              148                                     (1995)
09. TERÁ                              1876                              205                                     (2081)
10. ABRÃO                           1946                              175                                     (2121)

  Verificamos que mais dez gerações decorreriam até 2185, ano da morte de Eber. Abrão teria morrido 64 anos antes e surgiriam mais três importantes personagens após este patriarca:

 PERSONAGEM     NASCIMENTO           ANOS DE VIDA                  ANO EM QUE MORREU
                                                                                                                 (de Adão ao Egito)
11. ISAQUE                        2046                           180                                         2226
12. JACOB                         2106                           147                                         2253    
13. JOSÉ                            2197                           110                                         2307
                                                                               (+) Cativeiro do Egito           430
                                                                                                                          
                                                       ÊXODO – (2307 + 430) = Ano de 2737                                                   

  De Abrão a José haveria novas conotações na vida e tradição judaicas. Se contarmos Adão como o primeiro patriarca, Noé seria o segundo, Abrão o terceiro e Jacob o quarto. Jacob geraria doze filhos que constituiriam mais tarde as doze tribos de Israel. José, o décimo primeiro filho de Jacob, protagonizaria interessante história no Egito para onde teria sido vendido como escravo pelos seus irmãos. Jacob, todos os seus demais filhos, e famílias, acabariam viajando para o Egito anos mais tarde, chamados por José que se tornara chanceler do faraó, e lá eles permaneceriam.

  De acordo com nossa cronologia, de Adão até o êxodo teriam se passado 2737 anos. Os historiadores informam que o êxodo teria ocorrido nos anos 1490 a.C., 1440 a.C., 1400 a.C., 1300 a.C., 1290 a.C. 1200 a.C., ou próximo a essas datas. Considerando que José teria vivido no Egito dos 17 aos 110 anos, portanto 93 anos, e teria 30 anos quando interpretou os sonhos do faraó, teriam se passado 13 anos até aquele instante. Os 7 anos de fartura se passaram e entraram nos 7 anos de fome; os irmãos de José teriam chegado ao Egito 2 anos após a fome se ter alastrado. Temos então aqui o seguinte cálculo:

  a. Da chegada de José ao Egito até ser recebido pelo faraó  = 13 anos
  b. Primeira etapa das previsões de José se passaram           =  07 anos
  c. A família de José chega ao Egito quando ainda teriam
      mais 5 dos 7 anos de fome                                                         = 02 anos
                                                                                                             ______                                     
                                                                                                                22 anos

  Daí teríamos José com 39 anos. Se José morreu com 110 anos, sua família teria permanecido livre no Egito por 71 anos, pois não há referências que de lá tenha saído antes da morte de José.

  Diz o Ex. 01.8.9.11.14. “Entrementes se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José.”
  “Ele disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós.”
  “E puseram sobre eles feitores de obras, para os afligirem com suas cargas. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés.”
  “E lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o serviço em que na tirania os serviam.”

  Consideremos agora a cronologia tomada oficialmente pela história, apesar de não haver consenso exato sobre datas, e que caminha em sentido inverso a partir do nascimento de Jesus Cristo (para muitos Jesus Cristo teria nascido em 3 d.C.), e optemos por 1300 a.C. (séc.XIV a.C.) o ano do êxodo do Egito liderado por Moisés. Desta forma, temos o seguinte, desde Adão:
   
    a. De Adão ao êxodo de Moisés  =                  2737 anos
    b. Do êxodo de Moisés à Cristo   =                 1300 anos
    c. De Cristo aos nossos dias        =                 2009 anos
                                                                                6046 anos, sendo essa, portanto, a resultante histórico-religiosa desde Adão até o século XXI de nossa era.

  Se os judeus comemoraram em 2009 o 5769 aniversário da criação do mundo, temos uma diferença em nossos cálculos de 277 anos que poderia ser absorvida na idade de Adão, sobrando-lhe ainda 653 anos, pois segundo o Velho Testamento Adão teria vivido 930 anos. Por outro lado, as cifras 6046 e 5769 são, sem a menor dúvida, inexpressivas para conter todo o período da criação do mundo, qualquer que seja a dimensão tencionada, quer seja da Via Láctea onde se encontra o nosso sistema solar, quer do macro-universo onde tudo mais existe, ou simplesmente do planeta.

  Historicamente as divergências são enormes; talvez o pensamento cronológico judeu pudesse ser explicado de outra maneira, uma vez que a arqueologia rastreia a civilização suméria na Mesopotâmia encontrando vestígios de sua existência já na era do Bronze Antigo. Admitindo esses fatos, poderíamos situar aleatoriamente em 8000 a.C. uma faixa de existência da civilização suméria, que também ultrapassaria o cálculo judaico da fundação do mundo. 

  Se a criação do mundo tivesse acontecido há somente 6046 anos, por exemplo, e Adão e Eva existiram de fato conforme a Bíblia relata, por que então não admitir uma época mais remota onde a existência teria se originado? Ou melhor organizar os argumentos da criação do universo e do homem em fatores-grupos separados e distintos, não exatamente consequentes como estão sob cronologia confusa, apertada e conflitante?

  Se nossos cálculos estiverem aproximados, poderíamos considerar também nos 6046 anos oferecidos pelas histórias bíblicas que os anos bissextos fossem todos levados em conta e computados os seus dias extras. Assim fizemos preliminarmente por mera curiosidade, e atingimos à soma adicional de 4 anos 2 meses e 22 dias. Se computássemos esse adicional teríamos 6050 anos decorridos na história da criação. Já antes mencionáramos possibilidade semelhante ao abordarmos o dilúvio, e não cremos também nesse caso ser necessário este detalhamento por que a data da libertação dos judeus do cativeiro egípcio está longe de atingir um consenso, pois existindo tantas divergências entre historiadores e religiosos, surgiram grandes diferenças numéricas.

[Capítulo III do Livro "O Monoteísmo Bíblico e os Deuses da Criação" por Rayom Ra] - Texto revisto em 29-10-2016.

                                                                  Rayom Ra
                                               http://arcadeouro.blogspot.com.br 

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