Desde as suas primeiras comunicações, Ramatis
nos recomendou que eliminássemos quaisquer receios nas indagações mediúnicas
que lhe fizéssemos. Ele sempre nos deixou a liberdade de crítica para que não
conservássemos nenhuma dúvida sobre as suas dissertações.
Explicou-nos que, o intercâmbio de ideias
deveria estar liberto dos "tabus", que comumente prejudicam as
mensagens mediúnicas, e ele sabe compreender bem a nossa natureza humana.
Essa disposição benévola e afetuosa
induziu-nos às perguntas arrojadas que constituem este capítulo e que bem
provam a nossa impertinente disposição de indagar. Para isso, reunimos certos
artigos de imprensa, cartas, crônicas, perguntas, julgamentos alheios e
censuras severas, com referência às suas mensagens; recordamos palestras e dúvidas
sobre o assunto; guardamos apontamentos de rua, para sobre tudo inquirir o
Espírito de Ramatis. Algumas vezes a nossa insistência chegou até a ser
intolerável mas, se assim procedemos, foi para que se excluísse a maior parte
das dúvidas suscitadas até aqui quanto às mensagens já recebidas, permitindo
que ficasse bem esclarecido o pensamento do Espírito manifestante.
Ramatis é Espírito de bom ânimo, sincero e
fraterno; costuma nos pedir que não o situemos na galeria dos "santos
espíritas", a que alguns confrades desavisados promovem os seus guias
espirituais. Nada mais pretende ele do que a singela função de noticiarista
desencarnado.
Reconhece que as suas comunicações hão
provocado celeuma e até irritações descabidas, mas assevera que isso é próprio
da ansiedade humana na procura da Verdade. Algumas vezes, com graça satirizada,
assegura mesmo que o bulício mental que provocam as suas mensagens já está produzindo
suave benefício nos seus julgadores, pois elas são, realmente, algo
revolucionárias, visto que desmantelam as velhas prateleiras mentais, bastante
sobrecarregadas com inúmeros conceitos petrificados pelos séculos findos.
E é isso mesmo. Os espíritos mais
conservadores e ciosos de suas tradições saltam à arena para terçar armas
contra a "agitação mental" e defenderem os seus postulados
simpáticos. Surgem, então, "pontos de vista" e afirmações
doutrinárias ou científicas, de todos os lados; lança-se mão de recursos
inteligentes e invoca-se a lógica e o bom-senso para se derribarem as mensagens
extemporâneas de Ramatis. As revelações são consideradas exóticas e
excêntricas, sendo autopsiadas por alguns até com irreverência; os conceitos
que ferem a velha escola são excomungados pelos puristas zelosos de sua
linhagem doutrinária. O raciocínio dos leitores é então sacudido entre os dois
extremos opostos. Mas, será isso de grande beneficio para a sua elasticidade
mental! O exercício dinâmico do espírito, ao pensar, sempre lhe acelera mais o
mecanismo da evolução.
Almas temerosas hão de apontar os perigos "Mefistofélicos" de Ramatis; espíritas neófitos intervirão apressadamente a fim de defender os princípios espíritas que supõem em perigo; alguns, mais severos, hão de requerer a cassação do mandato espiritual da entidade do Além...
Almas temerosas hão de apontar os perigos "Mefistofélicos" de Ramatis; espíritas neófitos intervirão apressadamente a fim de defender os princípios espíritas que supõem em perigo; alguns, mais severos, hão de requerer a cassação do mandato espiritual da entidade do Além...
Surgirão
providências imediatas que protejam os postulados já consagrados pelo senso
comum e batizadas como verdades definitivas! Enquanto isso suceder, a efervescência
será contínua, mas no vasilhame do cérebro flutuarão, por fim, resíduos
mentais, à superfície da água límpida!
Entretanto
como no-lo afirma o próprio Ramatis - extinta a tempestade de censuras ou de
lisonjas, de antipatias ou de simpatias, novas disposições de espírito serão
verificadas em todos aqueles que se movimentaram sob o pretexto ramatisiano.
Está
aberto, pois, o cenáculo, para que se verifiquem as brilhantes porfias sobre os
equívocos que se atribuam a Ramatis, as quais, além de excêntricos convites à
dinâmica do espírito, servirão também para revelar o grau de compreensão
evangélica de cada julgador.
Quanto
a defeitos de linguagem ou insuficiência de, expressões que, porventura, possam
ser encontrados no transcurso da leitura desta obra, sejam levados à conta da
incapacidade do médium e não à de Ramatis. O sensitivo não dispõe de arquivo
genial de imagens e de vocabulário suficiente para sintonizar, escorreitamente,
o caudal de ideias que lhe flui da entidade comunicante. Esta envida os maiores
esforços para se situar no campo espiritual do médium que, por vezes, não
encontra figura ou expressão alguma em sua mente, para traduzir a contento aquilo
que apenas "sente" em outras dimensões vibratórias. A torrente de
pensamentos que tenta ocupar-lhe a pequena área cerebral lembra a figura de um
barril de água que se entorne sobre um frágil copo de vidro! No dizer do
médium, o acontecimento é como se Toscanini estivesse tentando executar a nona
sinfonia de Beethoven pelo cérebro de um maestro zulu!
Indiscutivelmente,
a obra seria de muito maior valia se pudesse fluir pela mediunidade cristalina
de um Chico Xavier, de um Fernando de Lacerda ou de um Rev. Owen ou Staint
Moses!
Lembre-se,
por isso, o leitor de que, afora as excrescências comuns da forma, há nesta obra
uma direção implacável no sentido de objetivações mais altas, e um conteúdo
doutrinário crístico que pede a melhoria do espírito, muito antes da fascinação
do texto.
[Hercílio Maes]
[Hercílio Maes]
Ramatis e Seus Conceitos
PERGUNTA:
— Gostaríamos de vos ouvir quanto às variadas apreciações que têm despertado as
vossas mensagens mediúnicas. Para isso, contamos com o vosso espírito tolerante
e isento de susceptibilidades tão comuns à nossa humanidade.
RAMATIS:
— Consideramos de boa ética essa vossa disposição, pois os labores que cumprimos
também são inspirados por almas superiores à nossa exigüidade espiritual. Não podemos
alimentar susceptibilidades nas indagações justas; tudo faremos, tanto para
contentar os que nos censuram, como os que se afinizam com a nossa índole
psicológica. Reconhecemos a impossibilidade de satisfazer a todos, coisa que
nem o nosso amado Mestre Jesus conseguiu realizar no vosso mundo. A crítica ao
nosso labor é um direito com o qual concordamos prontamente, e é justo que cada
um procure aquilo que deseja.
PERGUNTA:
— As opiniões, sobre as vossas comunicações mediúnicas variam muito,
principalmente quanto a vos situarem num labor doutrinário definido. Uns
classificam-vos como entidade espírita kardecista; alguns dizem que sois
umbandista; outros vos consideram simpático às sociedades teosóficas ou aos
labores esoteristas. Existem, ainda, os que afirmam que sois excentricamente
devotado à escolástica hindu. Queixam-se certos confrades do vosso ecletismo
embaraçante. Que nos dizeis?
RAMATIS:
— Não procuramos classificação em nenhuma doutrina, mas a compreensão daqueles
que consideram as seitas religiosas como verrugas no corpo do Cristo. Nossos
propósitos objetivam a aproximação crística entre os valores doutrinários de todos
os espiritualistas de boa-vontade. O Cristo é um estado pleno de amor e de
associação divina; é radiosa fisionomia espiritual destituída de rugas
sectárias. É princípio de nutrição cósmica para todas as almas, amor entre os
seres e coesão entre os astros. A verdade crística não pode ser segregada por
ninguém; é um estado permanente de procura e de ansiedade espiritual, bem distante
dos invólucros estandardizados. Qualquer sistema ou seita religiosa que se
considere o melhor pesquisador da Verdade é apenas mais um concorrente presunçoso
entre os milhares de credos isolacionistas do mundo. O fanatismo, que é próprio
do homem inculto, feroz e destrutivo, também se afidalga nas vestes
respeitáveis do cientista, do filósofo ou do intelectual já consagrado no
academismo do mundo. A teimosia sistemática, mesmo sob a lógica científica, é
sempre um índice de fanatismo, que cria disposição adversa à maturidade dos
conceitos novos. O jardineiro progressista estuda e experimenta sempre os novos
espécimes, antes de negar-lhes os novos valores estéticos. Em consequência, não
vos preocupeis em nos situarem neste ou naquele postulado religioso ou
filosófico; preferimos, antes, a condição singela de noticiarista sem
compromisso dogmático.
PERGUNTA:
— Acusam-vos alguns espíritas de não serdes entidade exclusivamente devotada
aos princípios da doutrina de Kardec.
RAMATIS:
— Apenas evitamos a exclusividade que exalta os caprichos e as teimosias
sectaristas e contraria o dinamismo da vida espiritual. É de senso comum que mediunismo
difere muito de espiritismo; o primeiro é uma faculdade independente de
doutrinas ou de religião; o segundo, doutrina codificada por Allan Kardec, cuja
finalidade é a libertação do homem dos dogmas asfixiantes. O Espiritismo é o
conjunto de leis morais que disciplina as relações desse mediunismo entre o
plano visível e o invisível e coordena também o progresso espiritual dos seus
adeptos. Os fenômenos mediúnicos começaram a ocorrer muito antes da doutrina
espírita e podem se suceder independentemente de sua existência. A literatura
mediúnica é pródiga em vos comprovar a quantidade de sensitivos que recepcionam
mensagens daqui, embora não operem diretamente sob a inspiração do Espiritismo
codificado por Kardec.
Podereis
encontrá-los nos círculos esotéricos, nas reuniões teosóficas, nas
fraternidades rosa-cruz, nas comunidades protestantes e nos próprios
agrupamentos católicos. Independentemente da codificação kardeciana, foram
recebidas do Espaço as importantes "Cartas de Meditações" e "Luz
da Alma", ditadas pelo instrutor tibetano a Alice A. Bailey; as missivas a
Helena Blavatsky, dos mestres Mona e K. H.; as "Cartas do Outro
Mudo", ditadas a Elza Barker por um magistrado inglês desencarnado; a
"Luz no Caminho" a Mabel Collins; as mensagens do Padre Marchai a Ana
de G.; o "Mundo Oculto" inspirado a M. Sinnett; a "A Vida Além
do Véu", ao pastor protestante Rev. G. Vale Owen. As inéditas
experimentações mediúnicas de Eduardo Van Der Naillen, entre os Mayas — que
ignoravam o Espiritismo — originaram a "Grande Mensagem", obra
admirável como repositório de conhecimentos do Além; C. H. Leadbeater, bispo
anglicano e um dos esteios da Sociedade Teosófica, revelou poderosas faculdades
de clarividência, sem contacto com o kardecismo. No vosso século, Pietro Ubaldi,
Ergos, Ermibuda e outros entregam-vos mensagens de inspiração mediúnica, embora
sem o selo da insígnia espírita.
Os
profetas eram médiuns poderosos: Isaías, Daniel, Ezequiel, Jeremias, Jonas,
Naum, Habacuc e outros, iluminavam as narrativas bíblicas com os seus poderes
mediúnicos: Moisés hipnotizou a serpente e a transformou num bastão, fazendo-a
reviver diante do Faraó surpreendido; sabia extrair ectoplasma à luz do dia;
praticava levitações, transportes, e produziu chagas no corpo, curando-as rapidamente.
Realizando a mais assombrosa hipnose da História, usou o povo egípcio como "suject"
e o fez ver o rio Nilo a correr como sangue; atuando nas forças vivas da
Natureza, Moisés semeava o fogo em tomo de si, cercando-se da "sarça
ardente", e punha em fuga os soldados escolhidos para matá-lo. Na esfera
católica, Terezinha via o sublime Senhor nimbado de luz. Francisco de Assis
revelava as chagas de Jesus; Antônio de Pádua transportava-se em espírito, de Portugal
à Espanha, para salvar o pai inocente; Dom Bosco, em transe psícométrico, revia
Jesus na infância; Vicente de Paula extinguia úlceras à simples imposição das mãos
e São Roque curava à lepra a força de orações. Tereza Neumann, no vosso século,
apresenta os estigmas da crucificação, e alguns sacerdotes católicos se tornam
curandeiros milagrosos sob a terapêutica dos benzimentos. Entretanto, nenhum
desses consagrados seres da história religiosa era espírita, na acepção do
vocábulo, embora todos fossem médiuns, o que ignoravam! Eis pois, o porquê de não
carecermos assumir responsabilidade doutrinária exclusivamente kardecista ou,
isoladamente, em outra nobre instituição, porquanto esse exclusívismo de modo
algum ampliaria as nossas ideias.
Estas
justificar-se-ão por si mesmas, independentemente de qualquer particularismo
redutivo.
PERGUNTA:
— Esses confrades temem que a divulgação acentuada de vossas mensagens possa
desviar do roteiro progressivo os novos adeptos espíritas. Consideram prematura
a preocupação com os conceitos heterogêneos de vossas comunicações, antes que
possuam o entendimento puro do espiritismo. Esta concepção esta certa?
RAMATIS:
— Embora não nos situemos na área codificada do kardecismo, reconhecemos este
como a doutrina evolutiva que melhor atende às necessidades espirituais da humanidade
terrícola, em seu conjunto geral. É a síntese popular da Verdade Oculta e o
mais eficiente caminho de ascensão espiritual para a mente ocidentalista. Allan
Kardec, corajosamente, ergueu a ponta do "Véu de ísis"; abriu a porta
da iniciação em comum e revelou a preliminar do Céu. Após fatigante labor,
através de milênios, em contacto com todos os esforços iniciáticos, codificou
os valores suficientes para libertar o homem da "roda das
reencarnações". A disposição ferrenha de muitos discípulos, que fossilizam
os conceitos dinâmicos do Espiritismo e os transformam em sentenças rígidas no
"espaço" e no "tempo", é que traça fronteiras separatistas
e contrárias à dinâmica evolutiva da doutrina. Muitas desilusões fraternas que
os recém-chegados recebem dos "tradicionais" terminam afastando-os
para certos erotismos e sincretismos embaraçantes. O Espiritismo é
essencialmente evolutivo, mas os seus adeptos, desavisados da realidade
funcional dos seus postulados, tornam-no letárgico com o sistema de afirmação dogmática.
O Evangelho, que é a verdadeira garantia crística do Espiritismo, ainda não foi
bem compreendido pela maioria dos seus discípulos. Raros são os que não
confundem o sentido crístico do Evangelho com o sentido espirítico de afirmação
doutrinária separatista, firmado nos pontos de vista isolados e contrários à
harmonia fraterna. Essa preocupação purista, que invocais, fortifica,
realmente, a doutrina como configuração sectarista, mas reduz-Ihe a amplitude evangélica,
que deve ser sempre a base da "Terceira Revelação". Muitos espíritas
revivem, em modernas sublimações, os dogmas dos velhos credos que esposaram
nesta ou em reencarnações passadas. Revelam novamente, no meio espírita, a
mesma intolerância religiosa, a sisudez, pessimista e a má disposição para com
as idéias e labores que ultrapassam as fronteiras de suas convicções e
simpatias. Reproduzem sob novos aspectos doutrinários, embora mais cultos, a mesma
excomungação sistemática do passado.
PERGUNTA:
— Afirmam alguns que a dissociação que podeis provocar no seio do kardecismo
será devido ao fato de propagardes por via mediúnica os princípios e os
conceitos de seitas e instituições adversas ã singeleza do Espiritismo.
RAMATIS:
— O perigo de dissolução doutrinaria ante esses conceitos adversos há de
desaparecer, se estiverdes plenamente convictos e integrados nos próprios
postulados kardecistas que aceitais. Só a convicção absoluta pode afiançar a
"fé que remove montanhas". Se temeis essa dissolução doutrinária, é
porque ainda não tendes fé absoluta no que admitistes; se assim não fora, o
vosso temor seria infantil. A debilidade de vossas convicções tornará o kardecismo
tão desamparado diante de nossas mensagens quanto diante de todas as demais comunicações
que nos sucederem. Só a negligência e a incúria dos seus discípulos é que permitirão
que seja tisnada a pureza iniciática dos princípios de Kardec. Necessitareis,
então, da fé sincera e vigorosa que sempre impediu as dissoluções e as
promiscuidades em quaisquer setores altruísticos do vosso mundo. É a fé
irredutível dos protestantes que os imuniza contra as infiltrações estranhas às
suas congregações; é a fé absoluta dos santos que os livra da sedução da matéria;
é a fé nos seus postulados morais que mantém alguns povos europeus em
neutralidade pacífica no seio das nações belicosas. Apesar das influências heterogêneas
da época, Mozart, Bach e Beethovem conservaram a pureza iniciática de suas
composições musicais; embora vicejassem numerosos arremedos de pintores, não se
tisnaram a beleza e a pureza da pintura de Rubens, de Da Vinci, deTiciano ou de
Rembrandt! Apesar da lubricidade que ainda impera em alguns conventos
religiosos, muitos frades e freiras são cópias vivas de um Francisco de Assis,
de uma Tereza d'Avila. Mau grado as promiscuidades imorais que pululam na
sociedade e a desonestidade que corrói a administração pública, inúmeros caracteres
se conservam íntegros no seio dessas influências dissolventes. Naturalmente, só
uma fé viva, contínua e forte, sustenta qualquer ideal, e essa espécie de fé é
que recomendamos que os espíritas tenham para com a consagrada doutrina
codificada por Allan Kardec. Se assim fizerem — não opomos dúvida —serão
infantis todos os temores às nossas mensagens dissociativas.
PERGUNTA:
— Alegam outros que as vossas mensagens geram confusão entre os espíritas,
porque estes se deixam fascinar pelo exotismo exterior, e se perturbam com o
conteúdo, que não se afina com a doutrina espírita.
RAMATIS:
— Tornamos a repetir: Não está em nossas mensagens essa probabilidade perturbadora,
mas sim naqueles que ainda estão em condições eletivas para serem perturbados
ou vítimas de confusão. O espírito humano é dotado de razão e de sentimento; quando
a razão não está suficientemente desenvolvida para protegê-lo da perturbação,
que o salve — pelo menos — o sentimento cristão. Se não existe a garantia
espiritual de qualquer um desses atributos, como quereis evitar a perturbação?
Inegavelmente, ainda sereis os candidatos e as vítimas de todas as influências
e sugestões exteriores. Se viverdes em confusão convosco, naturalmente estareis
em confusão com tudo o que pesquisardes, quer sejam as nossas mensagens, quer
sejam as comunicações de outros Espíritos mais elevados. Não conhecemos
doutrina mais pura e santificante do que o Evangelho de Jesus; no entanto,
ireis responsabilizar o Divino Mestre pela confusão que os homens fizeram com
os seus abençoados ensinamentos? Não foi o seu Evangelho, mas as confusões
humanas que assassinaram os infiéis nas impiedosas cruzadas da Idade Média; que
armaram odiosas fogueiras e criaram as tenebrosas torturas da Inquisição; que trucidaram
indefesos huguenotes na sangrenta Noite de São Bartolomeu. Ainda sob a égide do
Evangelho, a confusão humana queimou Joana D'Arc, João Huss, Giordano Bruno, e
atualmente ainda consagra os instrumentos de morte para as guerras fratricidas!
Lamentamos que as nossas mensagens possam criar confusões à pureza iniciática
espírita, do mesmo modo que lamentamos seja culpado o Evangelho pelas
atrocidades humanas! A dinamite destinada ao serviço pacífico das edificações
humanas ainda a usais, devido à vossa confusão, como agente de morte; a embarcação
idealizada para a confraternização entre os povos serve-vos como cruzadores, submarinos
e canhoneiras mortíferas; o avião, ideal de fraternidade, a confusão o
transformou na terrível ave semeadora de ruínas e crueldades. A energia
atômica, pacífica em Marte, é no vosso mundo elemento feito para derreter os
corpos nascidos para o amor e para a vida. A confusão, na realidade, depende do
destino que derdes às coisas que ledes, que inventais ou que descobris, provando
que ainda vos falta o verdadeiro discernimento dos objetivos idealizados por
Deus!
PERGUNTA:
— Afirma-se que os "velhos espíritas", conservadores da ética kardecista,
são menos simpáticos às vossas mensagens. Que dizeis?
RAMATIS:
— É muito natural que assim suceda. As épocas de renovações artísticas, assim
como as de renascimento espiritual, provocam sempre maior relevo na clássica
posição de "moços" e "velhos", embora as idéias novas sejam
as mesmas ideias velhas sob atraente vestuário moderno. Os moços de hoje,
concomitantemente os velhos de amanhã, também hão de oferecer resistência
teimosa aos novos valores que surgirem no futuro, sob o império da evolução. Na
pintura, na filosofia, na música, na ciência e na própria indústria, sempre se
digladiaram essas duas condições distintas: velhos e moços. No entanto, embora
se situem em extremos antagônicos, são duas forças que disciplinam a evolução;
tanto os moços entusiastas como os velhos ponderados atendem aos imperativos
naturais da vida progressista. Os primeiros, idealistas, corajosos, traçam os
rumos do futuro, e os segundos, conservadores, prudentes, tolhem seus passos
quanto aos excessos prejudiciais. Disciplina-se a imprudência excessiva do moço
pela experiência sensata e orientadora do velho. E diante de assuntos como o
"Juízo Final" ou o "Fim do Mundo", ainda mais se acentuará
o conflito entre as velhas e as novas idéias, instigadas pela afirmação pessoal
de cada grupo à parte. Se os velhos espíritas são menos simpáticos às nossas comunicações,
deveis concluir que, realmente, não estamos transmitindo mensagens para conjuntos
exclusivos ou para adeptos que nos lisonjeiem. O nosso esforço é de caráter
geral.
Estamos
ditando para além da efervescência moral que já estais vivendo; só os eletivos
à nossa índole espiritual é que nos sentem no momento, sem a exigência férrea
de primeiro nos compreenderem.
PERGUNTA:
— Há os que afirmam que as vossas mensagens são destituídas de qualquer
proveito; outros há que vêem nelas uma associação de idéias do médium, ou seja
puro animismo. Que podeis nos esclarecer?
RAMATIS:
— Se estes relatos forem fruto de puro animismo do médium, independentemente de
nossa ação espiritual, cabe-lhe o indiscutível mérito de nos haver interpretado
a contento, evocando o sentido crístico em que realmente desejaríamos situar as
nossas comunicações. Quanto ao sentido proveitoso, depende, naturalmente, do
próprio leitor, a quem cumpre tirar as ilações construtivas ou rejeitar as
afirmações que suponha perniciosas. O lavrador inteligente sabe que o mais
opulento feixe de trigo pede a separação cuidadosa do joio.
Recordamos,
a propósito, aquele sentimento elevado que Jesus revelou diante do cão
putrefato, ante a
repugnância dos apóstolos, quando enalteceu a brancura dos dentes do animal e
os comparou a pérolas preciosas! A Terra também vos oferece inúmeras mensagens
vivas, das quais podereis extrair ilações proveitosas ou destrutivas. O mesmo
arsênico que os Bórgias empregavam para assassinar os seus desafetos, a
medicina aproveita para o tratamento da amebíase e do sangue. A cicuta, que
mata, cura as convulsões rebeldes quando aplicada em doses homeopáticas; o
escalpelo do homicida, nas mãos do cirurgião, é instrumento que prolonga a
vida.
Sob o
toque da magia divina de Deus, o monturo fétido se transforma em roseiral
florido e perfumado. A serventia que dormita no seio de todas as coisas criadas
pelo Onipotente exige que a boa intenção a saiba aproveitar no sentido benéfico
à vida. Estas mensagens também contêm um sentido oportuno; cabe ao leitor
encontrar os objetivos sadios.
PERGUNTA:
— Soubemos, também, que atribuem falta de proveito às vossas mensagens, sob
alegação de serem absurdas e fantasistas. Qual a vossa opinião?
RAMATIS:
— Há que distinguir sempre entre o sentido benéfico que pode existir oculto na
fantasia e o maléfico disfarçado no cientificismo mais rigoroso. Antigamente, a
infância terrícola se deliciava com as histórias da Carochinha, em que os
príncipes, as fadas e os gênios bons sempre venciam as feiticeiras, os gigantes
maus e os lobos ferozes. Era o triunfo absoluto do Bem sobre o Mal. As
narrativas fantásticas limitavam –se a despertar despertar a atenção para a exposição
da virtude mural, onde a bondade, a inocência e a honestidade eram fartamente
glorificadas. As vovós reinavam, absolutas, nos velhos lares, narrando ao pé do
fogo as fantasias que davam sublime direção espiritual ao subconsciente das crianças.
No entanto, o espírito científico e positivo do século atômico requer severas
exigências ao cérebro do escritor moderno, a um de exterminar o excesso de
fantasia da mente infantil. Interveio e impôs a sua lógica matemática;
motorizou o tapete voador; considerou absurda a vida do Pinocchio; aposentou Gulliver
e liquidou o encantador país de Liliput. O velho gato de botas teve cassada a
sua licença de turista inveterado e o chapeuzinho vermelho aguarda a maioridade
para enfrentar o lobo mau. O gigante do "pé de feijão" ficou
estigmatizado como uma vítima da glândula hipofisária e proibiu-se a velha
alquimia dos magos, que transformava príncipes em cisnes e princesas em
borboletas. A moderna Branca de Neve, atarefada com refrigeradores, fogões
elétricos e assadeiras automáticas, olvidou os sete anões, que passaram a
constituir casos excêntricos de distúrbios endócrinos!
Graças,
pois, à meticulosidade científica do século atomizado, foram derrotados os
velhos personagens das leituras fantásticas e substituídos por tipos ferozes,
homicidas, que acionam metralhadoras eletrônicas e pretendem o domínio
continental. Estúpidos fascínoras semeiam a morte nos desertos enluarados e
seres diabólicos, interplanetários, comandam esquisitos aparelhos, ameaçando
destruir o vosso orbe! O príncipe gentil, respeitoso, foi modernizado no herói
de trabuco à cinta, chapéu de aba larga, a fazer farta distribuição de murros;
o fascínio moderno é devido à sua brutalidade física e à sua impiedade contra
os adversários vencidos. A fada que distribuía o "pólen" dourado das
alegrias infantis transformou-se na mulher sem alma, despudorada, viciada com
os corrosivos elegantes e sofisticada às banalidades fesceninas. Os gnomos
inocentes, da natureza festiva, fugiram diante dos terríveis auxiliares do
herói moderno, que são desonestos e semeiam intrigas e ciladas traiçoeiras. Na
antiga fantasia infantil, o príncipe generoso e leal ressuscitava Branca de
Neve com um beijo de amor puro, e a feiticeira vingativa, símbolo da maldade
humana, sumia-se nas furnas dos abismos sem fim. A perversidade e a mistificação
eram incondicionalmente justiçadas pelo poder do Bem; a ternura exaltada e o
amor glorificado. Na literatura moderna, científica, o galã, como prova de
masculinidade, é vítima de histerismo e esbofeteia sua amada! O delinqüente,
quando é punido pela justiça, já não compensa o cortejo de crimes que praticou
e de vítimas que causou.
A
fantasia, quando firmada no sentido do Bem e da Bondade, exalta as virtudes adormecidas
nas criaturas, em lugar de afrouxar os ditames da moral do espírito; estimula à
fraternidade e à mansuetude, predispondo o homem ao culto superior. No entanto,
o cientificismo da bomba atômica criou as mais bárbaras e dantescas cenas de
morte! Aqui, parturientes derretiam-se com o filho, na hora de dá-lo à luz;
ali, velhinhos fatigados, na contemplação da natureza, convertiam-se em poças
sangrentas, nos bancos das praças públicas; acolá, bandos de crianças transfiguravam-se
em pastas albuminoides; alhures, criaturas em retorno aos seus lares deslocavam
as carnes diante dos seus familiares! No fragor infernal do impacto homicida, fundiam-se
a carne do sacerdote e a da criança, no batismo; derretia-se a mão do cirurgião
sobre o enfermo esperançado de viver; diluía-se o lactante no seio da mãe
apavorada, e a garota, aterrorizada, revia-se deformada! Cérebros geniais
puderam calcular a temperatura máxima que desencadearam essas aplicações
científicas subordinadas à matemática dos cálculos nucleares! No entanto, para
os 140.000 japoneses que se derreteram no fogo apavorante da explosão atômica seriam
incondicionalmente melhores todos os contos fantásticos dos mundos de fadas do
que o cientificismo que lhes acarretou morte tão horrorosa!
Sob a
aparente fantasia de nossas mensagens, efetuamos um convite para o reino amoroso
de Jesus, assim como as histórias que as vovozinhas contavam, para a infância,
mostravam o reino das fadas, dos gnomos e dos príncipes valentes, mas eram sempre
leais às virtudes nobres da alma. O convite para o Cristo é o do acatamento aos
princípios santificantes do Evangelho, os quais são eternos, acima das formas
literárias e das equações científicas. Esses princípios lembram as pérolas
verdadeiras, cujo valor não aumenta num escrínio de veludo nem se diminui na
pobreza de um envoltório de algodão. Mesmo quando submersas na lama, elas
guardam a sua preciosidade.
PERGUNTA:
— Alguns críticos espíritas afirmam que as vossas mensagens, embora entusiasmem
pelo assunto profético pelo exotismo das revelações, distraem os discípulos,
fazendo esquecerem a mensagem singela do Evangelho. Que nos podeis dizer a respeito?
RAMATIS:
— Certos de que Deus sabe o que faz, cingimo-nos às suas diretrizes e não às
dos homens. Não opomos dúvida quanto à urgente necessidade da singela
evangelização da criatura terráquea, a fim de poder enfrentar galhardamente os
momentos dolorosos de que se aproxima o vosso mundo. Inegavelmente, é melhor a
purificação do sentimento do que o brilho do raciocínio; que o coração domine
primeiro o cérebro. Mas a própria angelitude exige absoluto equilíbrio entre
cérebro e coração. A figura do Anjo, revelando-se na harmonia perfeita das suas
asas, é o símbolo desse augusto binômio divino, em que a asa direita da
sabedoria se ajusta ao completo equilíbrio da asa esquerda, do sentimento purificado.
Só a sabedoria e o sentimento, completamente, desenvolvidos, é que facultam à
alma o voo incondicional no Cosmo. O espírito pode evolucionar exclusivamente
pelos caminhos do coração, se assim preferir, mas não se livra de retornar à
vida física, a fim de obter alforria completa na educação do intelecto.
As
mensagens que vos ofertamos estão isentas de ódio, de malícia ou de discórdia;
não é o seu conteúdo exótico que produz fascinações extemporâneas; o próprio
momento profético e entrevisto no subjetivismo do espírito é que desperta
atração para o tema "Os Tempos Chegados".
Há que
compreenderdes também que a mensagem singela do Evangelho não exige o retorno
do homem ao primitivismo das cavernas; Jesus não veio destruir a Lei, mas
cumpri-la. Não vos pede que troqueis o terno de casimira pela tanga do selvagem
ou o veículo motorizado pelo carro de bois; nem vos ordena que excomungueis o
conhecimento e que vos dediqueis exclusivamente às compungidas orações. Oxalá
fósseis realmente sábios como Jesus o é! Justamente a sua sabedoria é que o
tornava tão compreensível, e o seu extraordinário conhecimento psicológico é
que o fazia tão terno. Na Terra, o ermitão fanático, que foge do mundo e se
recolhe às grutas das florestas, também é capaz de abrir o coração do infiel
que lhe rejeite a cartilha de devoção; no entanto, muitos sábios, trajando a
rigor social, renunciam à vida para o bem da ciência humana. Francisco de
Assis, quer vestindo-se com o hábito de frade ou pelo último figurino da moda,
portador de um anel de grau ou simples operário na limpeza das cidades, nunca se
distanciaria da singeleza do Evangelho! Só a perturbação íntima é que distrai
do Evangelho, e muitos há que se perturbam até mesmo no exercício dos ensinos
de Jesus.
PERGUNTA:
— Alguns espíritas lamentam que as vossas comunicações não sigam a mesma linha
de exortação evangélica, sem complexidades proféticas, a que já se consagraram
inúmeras entidades nas obras mediúnicas tradicionais do Espiritismo. Referem-se
a Espíritos que transmitem apenas mensagens doutrinárias que não provocam
celeumas, dúvidas,
nem contêm predições prematuras, mas se mantêm dentro da manifestação purista
dos preceitos kardecistas.
RAMATIS:
— As manifestações espirituais, na vossa vida, podem obedecer a múltiplos aspectos.
Assim como Buda veio para os seus eletivos, na Ásia, e Jesus para os seus afins,
no Ocidente, há profetas que só servem a grupos simpáticos à sua psicologia,
como há determinados trabalhadores desencarnados que só atendem aos adeptos da
doutrina espírita.
"Grande
é a seara de meu Pai e há nela muitos lugares para todos os trabalhadores"
— afirmava o grande líder oriental. Por que motivo deverão todos os instrutores
pregar sob um mesmo e exclusivo aspecto? Uma vez que já existem no vosso meio
entidades espirituais capacitadas e integradas na esfera da pura exortarão
evangélica, por que motivo deveríamos repetir as mesmas coisas, talvez com
menor êxito? Se compreendeis realmente que Deus está em tudo que criou, não
podeis separar nada dentro da sua orientação divina. Que é que interpretais
como manifestação "purista", em doutrina? O que concorda com a vossa
mentalidade? Aquilo que o vosso espírito agasalha com simpatia, olvidando que o
que detestais pode ser motivo de atenção e de prazer de outrem? Essa exclusiva
preocupação purista, na vida em comum, é um capricho que pode concorrer para o
separatismo, que nada tem de evangélico. Quando sentimos realmente a
magnificência da vida que nos foi dada por Deus, sentimos também que devemos
ampliar os limites de nossos purismos; folgamos, tanto com o progresso do verme
no seio da terra, quanto folgamos em que a borboleta ascensione para espécies
mais encantadoras. O servidor do Pai, inspirado pelo Evangelho, tanto admira a
urtiga que fere quanto a violeta que perfuma; tanto tolera a serpente
rastejante, que atende ao sagrado direito de viver, quanto admira a andorinha
que corta os espaços. Sabe que Deus não cometeu distrações na contextura dos
mundos; que não criou "coisas ruins ou impuras" e que não cabe ao
homem o direito de criticar supostos equívocos do Pai! O bálsamo, que alivia a
dor, tem o seu correspondente no ácido, que cauteriza a gangrena. Eis porque
não podemos nos cingir a um sistema único de comunicações mediúnicas, de modo a
vos entregarmos mensagens confeccionadas especialmente para o cabide do vosso
comodismo mental.
Não
deveis criar a separação, exigindo preferência exclusiva para o que vos é
simpático, pois, não existindo coisa alguma absolutamente impura, à medida que
realmente evoluirdes descobrireis os valores que se acham ocultos nas coisas
consideradas inúteis ou daninhas.
PERGUNTA:
— Podeis nos dar alguns exemplos desses valores existentes nas coisas
"inúteis" ou "daninhas"?
RAMATIS:
— O capim, tão vilipendiado, a ponto de servir de figura de retórica para simbolizar
a inutilidade, é considerado atualmente, pela vossa ciência, como uma das
plantas que possui todas as vitaminas conhecidas, o que tem constituído o segredo
da vigorosa nutrição dos animais. Na impureza do charco nasce o lírio, e no
monturo nauseante esconde-se a energia que, em divino quimismo, transforma
detritos em roseira perfumado! Os detestados vermes intestinais assinalam à
criança a sua carência mineralógica e lhe indicam o alimento exato; o batráquio
repulsivo é que sustenta a vida na lavoura; as feias lagartas geram delicadas
borboletas; as minhocas são os humildes mineiros que abrem as galerias que
servem para a renovação do ar destinado às reações químicas da seiva vegetal no
subsolo. O mofo, ou bolor, considerado resíduo anti-higiênico, é a
virtuosíssima penicilina. Em nenhuma ferida em que se assenta a mosca varejeira
há perigo de gangrena. Milhares de criaturas devem a sua cura aos tóxicos das aranhas,
das cobras e dos insetos venenosos, e outras ao aproveitamento médico do
arsênico, da cicuta ou do curare. Há um sentido oculto, de utilidade, mesmo naquilo
que vos parece revolta da Natureza: a tempestade furiosa é a limpeza da
atmosfera carregada de impurezas, e os temidos vulcões são as válvulas de
segurança do vosso globo, para que se equilibre a pressão interna na saída
gradual dos gases.
Só o
homem — separatista por índole — é que atribui efeitos daninhos às coisas que
não lhe despertam simpatias. O derrotismo da alma egocêntrica não lhe permite
avaliar merecimentos nas experimentações alheias, e então se entrega
sistematicamente a uma censura viva e acre. Em qualquer latitude do Cosmo, seja
na região celestial, seja na vida física ou nas regiões infernais do Além, há
um contínuo processo de mais embelezamento e utilidade espiritual. Jesus, o
espírito sem deformidade mental, que reconhecia sempre o valor oculto que há em
todas as coisas, considerou a prostituta como a infeliz esposa, mãe e irmã
distante dos bens da paz e da alegria verdadeira. O homem honesto e compreensivo,
viajante comum da vida física, quando não lhe agradam as ofertas ou as
experimentações dos companheiros da mesma viagem evolutiva, segue o seu caminho
e os deixa em paz. Se não vibra com os raciocínios novos dos companheiros, prossegue
evolucionando através dos seus valores familiares, que lhe despertam inteira
confiança.
As
nossas mensagens não são imposições, mas ofertas de boa-vontade; cada um que as
prefira conforme a sua capacidade mental e o seu diapasão espiritual, sem,
entretanto, subestimar as experiências naturais de outros seres. O homem não
cumpre os mandamentos do Pai quando cultua só aquilo que lhe agrada e hostiliza
sempre o que lhe é antipático. Que seria do vosso orbe se os "cientistas
puros", inimigos do misticismo e dos compungimentos religiosos,
resolvessem destruir todos os templos e agrupamentos espiritualistas,
exterminando sacerdotes e doutrinadores? Ou, então, se os mandatários
religiosos, fanáticos, inimigos da ciência e remanescentes da Idade Média,
decidissem aniquilar completamente o labor científico? Qual dos grupos teria
mais direito e razão para agir? O vosso globo, em lugar de escola educativa do espírito,
tomar-se-ia um árido deserto de idéias e de liberdade!
PERGUNTA:
— Há os que afirmam que as vossas mensagens perturbam os sistemas já
consagrados pela tradição espírita, principalmente no tocante à extensa
quantidade de obras doutrinárias, já produzidas por médiuns de merecimento,
podendo-se, pois, dispensar vossas comunicações, consideradas dissociativas.
Que nos dizeis a respeito?
RAMATIS:
— Qual o sentido dos "sistemas" de que falais, na tradição espírita? Podereis,
porventura, provar que os sistemas criados pelos homens, embora espiritualistas
ou religiosos, podem superar o sistema do Amor que ainda falta à humanidade?
Examinai e comparai a natureza dos múltiplos sistemas que pululam no vosso
mundo, em todas as esferas da experimentação humana, inclusive os religiosos, e
vereis a sua fragilidade. Vós achais, por exemplo, que é muito acertado o
sistema de destruirdes os ratos, as baratas ou as serpentes, como animais
daninhos, mas isso é porque não os apreciais como quitutes em vossas mesas. Sob
esse esperto pretexto, criais então rigorosos "sistemas" científicos
e industriais, para com extremado carinho engordardes suínos, bois, carneiros,
vitelas e aves para o cemitério do vosso estômago.
Considerais
impuro o "sistema" de criardes ratos ou escorpiões, mas achais
higiênico e puro o de criardes galinhas, porcos e cabritos para o embelezamento
nauseante de vossas mesas. No primeiro caso, é porque detestais o rato como
alimento e, no segundo, porque apreciais o porco como petisco. No entanto, se
comparardes os vossos sistemas civilizados, de alimentação, com os de outros
povos, será provável que emitais acres censuras ao saberdes de raças cuja
alimentação se firma na criação de ratos e de serpes! A utilidade, portanto, das
coisas criadas por Deus fica subordinada à simpatia e preferência de cada
homem, de cada grupo, seita ou raça. Gostais de porcos e de bois, ou de
galinhas cozidas em moderno vasilhame de pressão; recomendais, então, que se
ampliem os frigoríficos, que se higienizem os açougues e que se desenvolvam as
indústrias de conservas de carnes em latas! Isto "é bom", porque
gostais de comer, mas aquilo "não é bom", porque não gostais; que se
destruam incondicionalmente, então, os ratos, as baratas, os escorpiões ou as
cobras e tudo que vos é antipático, pois que é ruim e impuro, visto que não
serve ao vosso paladar nem pode ornar as vossas mesas! O que apreciais está
certo; o que detestais está errado.
Que vos
importa o sofrimento do suíno na engorda albumínica ou a tortura do ganso com o
fígado hipertrofiado, arrastando-se pelo solo! Isto são apenas insignificantes
detalhes de um "bom sistema" que concebestes na esperteza
egocêntrica; que é muito bom para as vossas alegrias e prazeres, embora
horripilante para o porco, para o ganso e para outros animais que sacrificais.
Assim
raciocinais, também, quanto às crenças e aos sistemas religiosos ou espiritualistas;
cultuais e defendeis severamente o sistema que agrada ao próprio paladar
psíquico, mas achais impuro ou dissociativo o sistema ou o labor que não é de
vossa simpatia. Aquilo que não se afina ao vosso modo de pensar desperta-vos
antipatia e quereis eliminar; o que agrada ao vosso raciocínio, erigis em
"sistema" e a ele aderis com entusiasmo. Que se divulge, amplie e se dissemine
pelo mundo aquilo que julgais bom, que julgais puro, que julgais certo ou
verdadeiro, mas seja censurado, julgado e exterminado aquilo que julgais mau,
exótico ou errado! Destruam-se as igrejas católicas — gritam os protestantes;
derrubem-se os templos reformistas — bradam os clericais; quebrem-se os ídolos
inúteis e as imagens gélidas — exclamam os espiritistas; encarcerem-se os
diabólicos — retrucam os católicos e os protestantes, aludindo aos espiritualistas.
Combata-se o esoterismo, a maçonaria, os teosofismos complexos ou os exotismos
da Umbanda — clamam espíritas kardecistas; acabe-se com o perigo do intercâmbio
espírita com as larvas, com os elementais e os ilusórios cascões, de
desencarnados pontificam os teosofistas e rosa-cruzes nos seus compêndios
doutrinários! Defendem o seu "sistema" os umbandistas, afirmando que,
no kardecismo, Jesus apenas faz discursos, enquanto, que na Umbanda o Mestre realmente
trabalha! Ergam-se fogueiras para os positivistas, espécie de "São
Tomes", que só creem naquilo que apalpam; acendam-se fogueiras para os
espiritualistas, que só doutrinam sob conjecturas — gritam outros! Os sistemas
que se julgam certos estão em luta com os sistemas que julgam errados, e a
confusão aumenta, porque todos apregoam que o seu sistema é o melhor e o único
detentor da última verdade, quando não da Verdade integral!
É óbvio
que a nossa presença pode ser dissociativa no seio de tantos
"sistemas", porquanto não estamos interessados em valorizar tradições
ou agrupamentos simpáticos, mas apenas em insistir quanto à urgente necessidade
da adoção do sistema crístico, do Amor e da Bondade, que deve reunir as
simpatias gerais de todo o Universo. Esse sistema universalista, sob a égide do
Cristo, não exige definições nem se torna dissociativo, porque não prega a
união pelos caminhos da separação, nem fala de amor sob a confusão da
discórdia.
Embora
a maioria das instituições religiosas e espiritualistas do vosso mundo esteja
de posse de extensa bibliografia doutrinária, obtida no esforço santificado do
Bem, cremos que seu conteúdo só é valioso quando vivido praticamente no
"amai-vos uns aos outros". Apenas por pregardes esta máxima de mil
modos diferentes e sobre ela tecerdes mil historietas poéticas, não provareis
que vos entrosastes com o sistema Crístico, mas apenas que procurais a garantia
do sistema religioso particular, que adotais.
PERGUNTA:
— Em certa crítica de escritor espírita, muito credenciado na seara, fostes
comparado a um Mefistófeles com o falso aparato de um anjo, a fim de enganar os
incautos. Afirma-se que as vossas mensagens possuem sutilezas tais que hão de
provocar, no futuro, muita separação entre os espíritas. Em face da continuidade
de vossas comunicações, gostaríamos de conhecer o vosso pensamento a esse
respeito.
RAMATIS:
— Como não há privilégio na indesviável ascensão espiritual, e todos os filhos
de Deus evolucionam para a angelitude, os anjos já foram os diabos de ontem; e,
o que é mais importante: o pior diabo será um dia o melhor anjo. Deus, o Absoluto
Criador Incriado, está em tudo o que criou. Em consequência disso, ninguém se
perde em seu seio, e os Mefistófeles sobem, também, a infinita escadaria para a
Perfeição. Havendo um só Deus eterno e bom, que prove, imparcialmente, a
felicidade de todos os seus filhos, os Mefistófeles e os diabos não passam de
"fases" letivas na escolha educacional do espírito divino. São
períodos experimentais em que se forjam os futuros habitantes do céu;
significam degraus entre o animal e o anjo.
Mefistófeles,
na realidade, é o curso pré-angelical que fica entre a consciência primária e a
cósmica do anjo. Admitir o contrário seria retornar à crença na velha fábula do
inferno eterno e do seu esquizofrênico Satã às voltas com os caldeirões bíblicos.
E como os espíritas —principalmente — não esposam essa teoria, que ainda faz
sucesso entre os religiosos infantilizados, é óbvio que
"Mefistófeles" lhes significará sempre o irmão desajustado, o velho companheiro
que saiu de casa e que, quando retornar aos seus pagos divinos, também será o
"filho pródigo", da parábola, a merecer o melhor carneiro.
Supondo
que somos um Mefistófeles — no engraçado dizer do escritor atemorizado —que se
disfarça na pele de anjo para enganar os incautos, quer isso dizer que no vosso
mundo existem muitos potenciais, sob idêntico disfarce, pelo que deveis tomar
muito cuidado e exercer severa vigilância em roda de vós, pois ser-vos-á
difícil identificá-los no seio das paixões comuns da humanidade. E tomam-se
muitíssimo perigosas as sutilezas dos Mefistófeles reencarnados, quando eles
encontram afinidades entre os irmãos incautos. Lembram gotas d'água na terra ressequida
da separação humana.
PERGUNTA:
— Outra crítica insistente classifica-vos de lobo vestido de ovelha; diz que
sois um dos "falsos Profetas" anunciados pela Bíblia; um dos
"Espíritos iníquos" mencionados por Jesus. Qual a vossa resposta?
RAMATIS:
— Na figura desse lobo vestido de ovelha ou do falso profeta bíblico, queremos
deixar-vos, então, a seguinte mensagem Mefistofélica: — Antes de irdes ao vosso
centro, loja, cenáculo, igreja, templo, terreiro ou instituição iniciática,
reconciliai-vos com os vossos inimigos; antes da prece recitada em público,
lamuriosa e poética, dedicai-vos tão abnegadamente aos vossos irmãos
necessitados, de modo tal que nem vos sobeje tempo para orardes. Não julgueis a
embriaguez do irmão sem lar e sem ânimo para viver, mas estendei-lhe as mãos
fraternalmente; abandonai o vosso veículo caríssimo e luxuoso, até que o
infeliz aleijado do vosso caminho tenha o seu carrinho de rodas. Reduzi a quantidade
excessiva de ternos, que possuis, para que possais vestir alguns maltrapilhos
da vizinhança; diminuí o uísque e as compotas da vossa adega, para que sobre
pão ao faminto e vitaminas para a criança anêmica; economizai no gasto da
boate, para socorrerdes a infeliz lavadeira que precisa de descanso, a parturiente
que pede fortificante ou o operário desvalido que não cobre com o seu salário
as suas despesas mensais. Buscai colocação para o desamparado e para a jovem
doméstica que luta com dificuldades financeiras; providencial medicamento para
o doente deserdado e livro para o estudante pobre. Não temais a abóbada da
igreja católica, as colunas do templo protestante, o esforço do esoterista, a
reunião do teosofista, o experimento do umbandista, as lições da Yoga ou a cantoria
dos salvacionistas. Concorrei à lista para os pobres de todas as religiões, sem
exclusivismo para com a vossa seita; atendei ao esforço do irmão que vos
oferece a Bíblia em lugar do livro fescenino e auxiliai a divulgação da revista
religiosa que vos recorda Jesus; rejubilai-vos diante do labor doutrinário
adverso ao vosso modo de entender, mas que coopera para a melhoria do homem.
Aprendei
que a doutrina é sempre um "meio" e não um "fim". O
Espiritismo é maravilhosa revelação da imortalidade da alma; convite divino
para que o homem modifique a sua conduta desregrada e assuma a responsabilidade
da vida espiritual; mas, acima de tudo, que se cumpra a universalidade do
Cristo, antes que o separatismo de seitas. E que "vos ameis uns aos
outros, assim como eu vos amei" seja o compromisso incessante a que deveis
atender, porque nunca podereis pregar a união sob a exclusividade religiosa.
Podeis afirmar que estais com a melhor doutrina, mas isto é apenas uma opinião
humana, com a qual pode discordar a opinião crística. A melhor doutrina é,
ainda, o amor pregado por Jesus, doutrina que não possui postulados ou diretrizes
tipografadas fora do coração!
Se
assim fizerdes, asseguramos-vos que estareis livres do imenso perigo dos
"lobos vestidos de ovelhas", dos "falsos profetas", dos Mefistófeles
com aparência evangélica ou dos "espíritos iníquos" preditos na
Bíblia. Se eles vos conduzem ao erro e à iniquidade, tornar-se-ão inofensivos,
em virtude de não encontrarem em vós próprios as condições favoráveis para implantarem
em vós a iniquidade e o separatismo.
LEITURA COMPLETA DE MENSAGENS DO ASTRAL:
https://grupodeestudospaibeneditodearuanda.wordpress.com/2013/06/04/novos-livros-para-download-2/
Rayom
Ra
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