sábado, 10 de janeiro de 2015

Ramatís - Seus Conceitos e Críticos em Mensagens do Astral

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                                        Extratos da Obra Mensagens do Astral

  Desde as suas primeiras comunicações, Ramatis nos recomendou que eliminássemos quaisquer receios nas indagações mediúnicas que lhe fizéssemos. Ele sempre nos deixou a liberdade de crítica para que não conservássemos nenhuma dúvida sobre as suas dissertações.

  Explicou-nos que, o intercâmbio de ideias deveria estar liberto dos "tabus", que comumente prejudicam as mensagens mediúnicas, e ele sabe compreender bem a nossa natureza humana.

  Essa disposição benévola e afetuosa induziu-nos às perguntas arrojadas que constituem este capítulo e que bem provam a nossa impertinente disposição de indagar. Para isso, reunimos certos artigos de imprensa, cartas, crônicas, perguntas, julgamentos alheios e censuras severas, com referência às suas mensagens; recordamos palestras e dúvidas sobre o assunto; guardamos apontamentos de rua, para sobre tudo inquirir o Espírito de Ramatis. Algumas vezes a nossa insistência chegou até a ser intolerável mas, se assim procedemos, foi para que se excluísse a maior parte das dúvidas suscitadas até aqui quanto às mensagens já recebidas, permitindo que ficasse bem esclarecido o pensamento do Espírito manifestante.

  Ramatis é Espírito de bom ânimo, sincero e fraterno; costuma nos pedir que não o situemos na galeria dos "santos espíritas", a que alguns confrades desavisados promovem os seus guias espirituais. Nada mais pretende ele do que a singela função de noticiarista desencarnado.

  Reconhece que as suas comunicações hão provocado celeuma e até irritações descabidas, mas assevera que isso é próprio da ansiedade humana na procura da Verdade. Algumas vezes, com graça satirizada, assegura mesmo que o bulício mental que provocam as suas mensagens já está produzindo suave benefício nos seus julgadores, pois elas são, realmente, algo revolucionárias, visto que desmantelam as velhas prateleiras mentais, bastante sobrecarregadas com inúmeros conceitos petrificados pelos séculos findos.

  E é isso mesmo. Os espíritos mais conservadores e ciosos de suas tradições saltam à arena para terçar armas contra a "agitação mental" e defenderem os seus postulados simpáticos. Surgem, então, "pontos de vista" e afirmações doutrinárias ou científicas, de todos os lados; lança-se mão de recursos inteligentes e invoca-se a lógica e o bom-senso para se derribarem as mensagens extemporâneas de Ramatis. As revelações são consideradas exóticas e excêntricas, sendo autopsiadas por alguns até com irreverência; os conceitos que ferem a velha escola são excomungados pelos puristas zelosos de sua linhagem doutrinária. O raciocínio dos leitores é então sacudido entre os dois extremos opostos. Mas, será isso de grande beneficio para a sua elasticidade mental! O exercício dinâmico do espírito, ao pensar, sempre lhe acelera mais o mecanismo da evolução.

  Almas temerosas hão de apontar os perigos "Mefistofélicos" de Ramatis; espíritas neófitos intervirão apressadamente a fim de defender os princípios espíritas que supõem em perigo; alguns, mais severos, hão de requerer a cassação do mandato espiritual da entidade do Além...

  Surgirão providências imediatas que protejam os postulados já consagrados pelo senso comum e batizadas como verdades definitivas! Enquanto isso suceder, a efervescência será contínua, mas no vasilhame do cérebro flutuarão, por fim, resíduos mentais, à superfície da água límpida!

  Entretanto como no-lo afirma o próprio Ramatis - extinta a tempestade de censuras ou de lisonjas, de antipatias ou de simpatias, novas disposições de espírito serão verificadas em todos aqueles que se movimentaram sob o pretexto ramatisiano.

  Está aberto, pois, o cenáculo, para que se verifiquem as brilhantes porfias sobre os equívocos que se atribuam a Ramatis, as quais, além de excêntricos convites à dinâmica do espírito, servirão também para revelar o grau de compreensão evangélica de cada julgador.

  Quanto a defeitos de linguagem ou insuficiência de, expressões que, porventura, possam ser encontrados no transcurso da leitura desta obra, sejam levados à conta da incapacidade do médium e não à de Ramatis. O sensitivo não dispõe de arquivo genial de imagens e de vocabulário suficiente para sintonizar, escorreitamente, o caudal de ideias que lhe flui da entidade comunicante. Esta envida os maiores esforços para se situar no campo espiritual do médium que, por vezes, não encontra figura ou expressão alguma em sua mente, para traduzir a contento aquilo que apenas "sente" em outras dimensões vibratórias. A torrente de pensamentos que tenta ocupar-lhe a pequena área cerebral lembra a figura de um barril de água que se entorne sobre um frágil copo de vidro! No dizer do médium, o acontecimento é como se Toscanini estivesse tentando executar a nona sinfonia de Beethoven pelo cérebro de um maestro zulu!

  Indiscutivelmente, a obra seria de muito maior valia se pudesse fluir pela mediunidade cristalina de um Chico Xavier, de um Fernando de Lacerda ou de um Rev. Owen ou Staint Moses!

  Lembre-se, por isso, o leitor de que, afora as excrescências comuns da forma, há nesta obra uma direção implacável no sentido de objetivações mais altas, e um conteúdo doutrinário crístico que pede a melhoria do espírito, muito antes da fascinação do texto.
                                                         [Hercílio Maes]

                                                   Ramatis e Seus Conceitos

  PERGUNTA: — Gostaríamos de vos ouvir quanto às variadas apreciações que têm despertado as vossas mensagens mediúnicas. Para isso, contamos com o vosso espírito tolerante e isento de susceptibilidades tão comuns à nossa humanidade.

  RAMATIS: — Consideramos de boa ética essa vossa disposição, pois os labores que cumprimos também são inspirados por almas superiores à nossa exigüidade espiritual. Não podemos alimentar susceptibilidades nas indagações justas; tudo faremos, tanto para contentar os que nos censuram, como os que se afinizam com a nossa índole psicológica. Reconhecemos a impossibilidade de satisfazer a todos, coisa que nem o nosso amado Mestre Jesus conseguiu realizar no vosso mundo. A crítica ao nosso labor é um direito com o qual concordamos prontamente, e é justo que cada um procure aquilo que deseja.

  PERGUNTA: — As opiniões, sobre as vossas comunicações mediúnicas variam muito, principalmente quanto a vos situarem num labor doutrinário definido. Uns classificam-vos como entidade espírita kardecista; alguns dizem que sois umbandista; outros vos consideram simpático às sociedades teosóficas ou aos labores esoteristas. Existem, ainda, os que afirmam que sois excentricamente devotado à escolástica hindu. Queixam-se certos confrades do vosso ecletismo embaraçante. Que nos dizeis?

  RAMATIS: — Não procuramos classificação em nenhuma doutrina, mas a compreensão daqueles que consideram as seitas religiosas como verrugas no corpo do Cristo. Nossos propósitos objetivam a aproximação crística entre os valores doutrinários de todos os espiritualistas de boa-vontade. O Cristo é um estado pleno de amor e de associação divina; é radiosa fisionomia espiritual destituída de rugas sectárias. É princípio de nutrição cósmica para todas as almas, amor entre os seres e coesão entre os astros. A verdade crística não pode ser segregada por ninguém; é um estado permanente de procura e de ansiedade espiritual, bem distante dos invólucros estandardizados. Qualquer sistema ou seita religiosa que se considere o melhor pesquisador da Verdade é apenas mais um concorrente presunçoso entre os milhares de credos isolacionistas do mundo. O fanatismo, que é próprio do homem inculto, feroz e destrutivo, também se afidalga nas vestes respeitáveis do cientista, do filósofo ou do intelectual já consagrado no academismo do mundo. A teimosia sistemática, mesmo sob a lógica científica, é sempre um índice de fanatismo, que cria disposição adversa à maturidade dos conceitos novos. O jardineiro progressista estuda e experimenta sempre os novos espécimes, antes de negar-lhes os novos valores estéticos. Em consequência, não vos preocupeis em nos situarem neste ou naquele postulado religioso ou filosófico; preferimos, antes, a condição singela de noticiarista sem compromisso dogmático.

  PERGUNTA: — Acusam-vos alguns espíritas de não serdes entidade exclusivamente devotada aos princípios da doutrina de Kardec.

  RAMATIS: — Apenas evitamos a exclusividade que exalta os caprichos e as teimosias sectaristas e contraria o dinamismo da vida espiritual. É de senso comum que mediunismo difere muito de espiritismo; o primeiro é uma faculdade independente de doutrinas ou de religião; o segundo, doutrina codificada por Allan Kardec, cuja finalidade é a libertação do homem dos dogmas asfixiantes. O Espiritismo é o conjunto de leis morais que disciplina as relações desse mediunismo entre o plano visível e o invisível e coordena também o progresso espiritual dos seus adeptos. Os fenômenos mediúnicos começaram a ocorrer muito antes da doutrina espírita e podem se suceder independentemente de sua existência. A literatura mediúnica é pródiga em vos comprovar a quantidade de sensitivos que recepcionam mensagens daqui, embora não operem diretamente sob a inspiração do Espiritismo codificado por Kardec.

  Podereis encontrá-los nos círculos esotéricos, nas reuniões teosóficas, nas fraternidades rosa-cruz, nas comunidades protestantes e nos próprios agrupamentos católicos. Independentemente da codificação kardeciana, foram recebidas do Espaço as importantes "Cartas de Meditações" e "Luz da Alma", ditadas pelo instrutor tibetano a Alice A. Bailey; as missivas a Helena Blavatsky, dos mestres Mona e K. H.; as "Cartas do Outro Mudo", ditadas a Elza Barker por um magistrado inglês desencarnado; a "Luz no Caminho" a Mabel Collins; as mensagens do Padre Marchai a Ana de G.; o "Mundo Oculto" inspirado a M. Sinnett; a "A Vida Além do Véu", ao pastor protestante Rev. G. Vale Owen. As inéditas experimentações mediúnicas de Eduardo Van Der Naillen, entre os Mayas — que ignoravam o Espiritismo — originaram a "Grande Mensagem", obra admirável como repositório de conhecimentos do Além; C. H. Leadbeater, bispo anglicano e um dos esteios da Sociedade Teosófica, revelou poderosas faculdades de clarividência, sem contacto com o kardecismo. No vosso século, Pietro Ubaldi, Ergos, Ermibuda e outros entregam-vos mensagens de inspiração mediúnica, embora sem o selo da insígnia espírita.

  Os profetas eram médiuns poderosos: Isaías, Daniel, Ezequiel, Jeremias, Jonas, Naum, Habacuc e outros, iluminavam as narrativas bíblicas com os seus poderes mediúnicos: Moisés hipnotizou a serpente e a transformou num bastão, fazendo-a reviver diante do Faraó surpreendido; sabia extrair ectoplasma à luz do dia; praticava levitações, transportes, e produziu chagas no corpo, curando-as rapidamente. Realizando a mais assombrosa hipnose da História, usou o povo egípcio como "suject" e o fez ver o rio Nilo a correr como sangue; atuando nas forças vivas da Natureza, Moisés semeava o fogo em tomo de si, cercando-se da "sarça ardente", e punha em fuga os soldados escolhidos para matá-lo. Na esfera católica, Terezinha via o sublime Senhor nimbado de luz. Francisco de Assis revelava as chagas de Jesus; Antônio de Pádua transportava-se em espírito, de Portugal à Espanha, para salvar o pai inocente; Dom Bosco, em transe psícométrico, revia Jesus na infância; Vicente de Paula extinguia úlceras à simples imposição das mãos e São Roque curava à lepra a força de orações. Tereza Neumann, no vosso século, apresenta os estigmas da crucificação, e alguns sacerdotes católicos se tornam curandeiros milagrosos sob a terapêutica dos benzimentos. Entretanto, nenhum desses consagrados seres da história religiosa era espírita, na acepção do vocábulo, embora todos fossem médiuns, o que ignoravam! Eis pois, o porquê de não carecermos assumir responsabilidade doutrinária exclusivamente kardecista ou, isoladamente, em outra nobre instituição, porquanto esse exclusívismo de modo algum ampliaria as nossas ideias.

  Estas justificar-se-ão por si mesmas, independentemente de qualquer particularismo redutivo.

  PERGUNTA: — Esses confrades temem que a divulgação acentuada de vossas mensagens possa desviar do roteiro progressivo os novos adeptos espíritas. Consideram prematura a preocupação com os conceitos heterogêneos de vossas comunicações, antes que possuam o entendimento puro do espiritismo. Esta concepção esta certa?

  RAMATIS: — Embora não nos situemos na área codificada do kardecismo, reconhecemos este como a doutrina evolutiva que melhor atende às necessidades espirituais da humanidade terrícola, em seu conjunto geral. É a síntese popular da Verdade Oculta e o mais eficiente caminho de ascensão espiritual para a mente ocidentalista. Allan Kardec, corajosamente, ergueu a ponta do "Véu de ísis"; abriu a porta da iniciação em comum e revelou a preliminar do Céu. Após fatigante labor, através de milênios, em contacto com todos os esforços iniciáticos, codificou os valores suficientes para libertar o homem da "roda das reencarnações". A disposição ferrenha de muitos discípulos, que fossilizam os conceitos dinâmicos do Espiritismo e os transformam em sentenças rígidas no "espaço" e no "tempo", é que traça fronteiras separatistas e contrárias à dinâmica evolutiva da doutrina. Muitas desilusões fraternas que os recém-chegados recebem dos "tradicionais" terminam afastando-os para certos erotismos e sincretismos embaraçantes. O Espiritismo é essencialmente evolutivo, mas os seus adeptos, desavisados da realidade funcional dos seus postulados, tornam-no letárgico com o sistema de afirmação dogmática. O Evangelho, que é a verdadeira garantia crística do Espiritismo, ainda não foi bem compreendido pela maioria dos seus discípulos. Raros são os que não confundem o sentido crístico do Evangelho com o sentido espirítico de afirmação doutrinária separatista, firmado nos pontos de vista isolados e contrários à harmonia fraterna. Essa preocupação purista, que invocais, fortifica, realmente, a doutrina como configuração sectarista, mas reduz-Ihe a amplitude evangélica, que deve ser sempre a base da "Terceira Revelação". Muitos espíritas revivem, em modernas sublimações, os dogmas dos velhos credos que esposaram nesta ou em reencarnações passadas. Revelam novamente, no meio espírita, a mesma intolerância religiosa, a sisudez, pessimista e a má disposição para com as idéias e labores que ultrapassam as fronteiras de suas convicções e simpatias. Reproduzem sob novos aspectos doutrinários, embora mais cultos, a mesma excomungação sistemática do passado.

  PERGUNTA: — Afirmam alguns que a dissociação que podeis provocar no seio do kardecismo será devido ao fato de propagardes por via mediúnica os princípios e os conceitos de seitas e instituições adversas ã singeleza do Espiritismo.

  RAMATIS: — O perigo de dissolução doutrinaria ante esses conceitos adversos há de desaparecer, se estiverdes plenamente convictos e integrados nos próprios postulados kardecistas que aceitais. Só a convicção absoluta pode afiançar a "fé que remove montanhas". Se temeis essa dissolução doutrinária, é porque ainda não tendes fé absoluta no que admitistes; se assim não fora, o vosso temor seria infantil. A debilidade de vossas convicções tornará o kardecismo tão desamparado diante de nossas mensagens quanto diante de todas as demais comunicações que nos sucederem. Só a negligência e a incúria dos seus discípulos é que permitirão que seja tisnada a pureza iniciática dos princípios de Kardec. Necessitareis, então, da fé sincera e vigorosa que sempre impediu as dissoluções e as promiscuidades em quaisquer setores altruísticos do vosso mundo. É a fé irredutível dos protestantes que os imuniza contra as infiltrações estranhas às suas congregações; é a fé absoluta dos santos que os livra da sedução da matéria; é a fé nos seus postulados morais que mantém alguns povos europeus em neutralidade pacífica no seio das nações belicosas. Apesar das influências heterogêneas da época, Mozart, Bach e Beethovem conservaram a pureza iniciática de suas composições musicais; embora vicejassem numerosos arremedos de pintores, não se tisnaram a beleza e a pureza da pintura de Rubens, de Da Vinci, deTiciano ou de Rembrandt! Apesar da lubricidade que ainda impera em alguns conventos religiosos, muitos frades e freiras são cópias vivas de um Francisco de Assis, de uma Tereza d'Avila. Mau grado as promiscuidades imorais que pululam na sociedade e a desonestidade que corrói a administração pública, inúmeros caracteres se conservam íntegros no seio dessas influências dissolventes. Naturalmente, só uma fé viva, contínua e forte, sustenta qualquer ideal, e essa espécie de fé é que recomendamos que os espíritas tenham para com a consagrada doutrina codificada por Allan Kardec. Se assim fizerem — não opomos dúvida —serão infantis todos os temores às nossas mensagens dissociativas.

   PERGUNTA: — Alegam outros que as vossas mensagens geram confusão entre os espíritas, porque estes se deixam fascinar pelo exotismo exterior, e se perturbam com o conteúdo, que não se afina com a doutrina espírita.

  RAMATIS: — Tornamos a repetir: Não está em nossas mensagens essa probabilidade perturbadora, mas sim naqueles que ainda estão em condições eletivas para serem perturbados ou vítimas de confusão. O espírito humano é dotado de razão e de sentimento; quando a razão não está suficientemente desenvolvida para protegê-lo da perturbação, que o salve — pelo menos — o sentimento cristão. Se não existe a garantia espiritual de qualquer um desses atributos, como quereis evitar a perturbação? Inegavelmente, ainda sereis os candidatos e as vítimas de todas as influências e sugestões exteriores. Se viverdes em confusão convosco, naturalmente estareis em confusão com tudo o que pesquisardes, quer sejam as nossas mensagens, quer sejam as comunicações de outros Espíritos mais elevados. Não conhecemos doutrina mais pura e santificante do que o Evangelho de Jesus; no entanto, ireis responsabilizar o Divino Mestre pela confusão que os homens fizeram com os seus abençoados ensinamentos? Não foi o seu Evangelho, mas as confusões humanas que assassinaram os infiéis nas impiedosas cruzadas da Idade Média; que armaram odiosas fogueiras e criaram as tenebrosas torturas da Inquisição; que trucidaram indefesos huguenotes na sangrenta Noite de São Bartolomeu. Ainda sob a égide do Evangelho, a confusão humana queimou Joana D'Arc, João Huss, Giordano Bruno, e atualmente ainda consagra os instrumentos de morte para as guerras fratricidas! Lamentamos que as nossas mensagens possam criar confusões à pureza iniciática espírita, do mesmo modo que lamentamos seja culpado o Evangelho pelas atrocidades humanas! A dinamite destinada ao serviço pacífico das edificações humanas ainda a usais, devido à vossa confusão, como agente de morte; a embarcação idealizada para a confraternização entre os povos serve-vos como cruzadores, submarinos e canhoneiras mortíferas; o avião, ideal de fraternidade, a confusão o transformou na terrível ave semeadora de ruínas e crueldades. A energia atômica, pacífica em Marte, é no vosso mundo elemento feito para derreter os corpos nascidos para o amor e para a vida. A confusão, na realidade, depende do destino que derdes às coisas que ledes, que inventais ou que descobris, provando que ainda vos falta o verdadeiro discernimento dos objetivos idealizados por Deus!

  PERGUNTA: — Afirma-se que os "velhos espíritas", conservadores da ética kardecista, são menos simpáticos às vossas mensagens. Que dizeis?

  RAMATIS: — É muito natural que assim suceda. As épocas de renovações artísticas, assim como as de renascimento espiritual, provocam sempre maior relevo na clássica posição de "moços" e "velhos", embora as idéias novas sejam as mesmas ideias velhas sob atraente vestuário moderno. Os moços de hoje, concomitantemente os velhos de amanhã, também hão de oferecer resistência teimosa aos novos valores que surgirem no futuro, sob o império da evolução. Na pintura, na filosofia, na música, na ciência e na própria indústria, sempre se digladiaram essas duas condições distintas: velhos e moços. No entanto, embora se situem em extremos antagônicos, são duas forças que disciplinam a evolução; tanto os moços entusiastas como os velhos ponderados atendem aos imperativos naturais da vida progressista. Os primeiros, idealistas, corajosos, traçam os rumos do futuro, e os segundos, conservadores, prudentes, tolhem seus passos quanto aos excessos prejudiciais. Disciplina-se a imprudência excessiva do moço pela experiência sensata e orientadora do velho. E diante de assuntos como o "Juízo Final" ou o "Fim do Mundo", ainda mais se acentuará o conflito entre as velhas e as novas idéias, instigadas pela afirmação pessoal de cada grupo à parte. Se os velhos espíritas são menos simpáticos às nossas comunicações, deveis concluir que, realmente, não estamos transmitindo mensagens para conjuntos exclusivos ou para adeptos que nos lisonjeiem. O nosso esforço é de caráter geral.

  Estamos ditando para além da efervescência moral que já estais vivendo; só os eletivos à nossa índole espiritual é que nos sentem no momento, sem a exigência férrea de primeiro nos compreenderem.

  PERGUNTA: — Há os que afirmam que as vossas mensagens são destituídas de qualquer proveito; outros há que vêem nelas uma associação de idéias do médium, ou seja puro animismo. Que podeis nos esclarecer?

  RAMATIS: — Se estes relatos forem fruto de puro animismo do médium, independentemente de nossa ação espiritual, cabe-lhe o indiscutível mérito de nos haver interpretado a contento, evocando o sentido crístico em que realmente desejaríamos situar as nossas comunicações. Quanto ao sentido proveitoso, depende, naturalmente, do próprio leitor, a quem cumpre tirar as ilações construtivas ou rejeitar as afirmações que suponha perniciosas. O lavrador inteligente sabe que o mais opulento feixe de trigo pede a separação cuidadosa do joio.

  Recordamos, a propósito, aquele sentimento elevado que Jesus revelou diante do cão putrefato, ante a repugnância dos apóstolos, quando enalteceu a brancura dos dentes do animal e os comparou a pérolas preciosas! A Terra também vos oferece inúmeras mensagens vivas, das quais podereis extrair ilações proveitosas ou destrutivas. O mesmo arsênico que os Bórgias empregavam para assassinar os seus desafetos, a medicina aproveita para o tratamento da amebíase e do sangue. A cicuta, que mata, cura as convulsões rebeldes quando aplicada em doses homeopáticas; o escalpelo do homicida, nas mãos do cirurgião, é instrumento que prolonga a vida.

  Sob o toque da magia divina de Deus, o monturo fétido se transforma em roseiral florido e perfumado. A serventia que dormita no seio de todas as coisas criadas pelo Onipotente exige que a boa intenção a saiba aproveitar no sentido benéfico à vida. Estas mensagens também contêm um sentido oportuno; cabe ao leitor encontrar os objetivos sadios.

  PERGUNTA: — Soubemos, também, que atribuem falta de proveito às vossas mensagens, sob alegação de serem absurdas e fantasistas. Qual a vossa opinião?

  RAMATIS: — Há que distinguir sempre entre o sentido benéfico que pode existir oculto na fantasia e o maléfico disfarçado no cientificismo mais rigoroso. Antigamente, a infância terrícola se deliciava com as histórias da Carochinha, em que os príncipes, as fadas e os gênios bons sempre venciam as feiticeiras, os gigantes maus e os lobos ferozes. Era o triunfo absoluto do Bem sobre o Mal. As narrativas fantásticas limitavam –se a despertar despertar a atenção para a exposição da virtude mural, onde a bondade, a inocência e a honestidade eram fartamente glorificadas. As vovós reinavam, absolutas, nos velhos lares, narrando ao pé do fogo as fantasias que davam sublime direção espiritual ao subconsciente das crianças. No entanto, o espírito científico e positivo do século atômico requer severas exigências ao cérebro do escritor moderno, a um de exterminar o excesso de fantasia da mente infantil. Interveio e impôs a sua lógica matemática; motorizou o tapete voador; considerou absurda a vida do Pinocchio; aposentou Gulliver e liquidou o encantador país de Liliput. O velho gato de botas teve cassada a sua licença de turista inveterado e o chapeuzinho vermelho aguarda a maioridade para enfrentar o lobo mau. O gigante do "pé de feijão" ficou estigmatizado como uma vítima da glândula hipofisária e proibiu-se a velha alquimia dos magos, que transformava príncipes em cisnes e princesas em borboletas. A moderna Branca de Neve, atarefada com refrigeradores, fogões elétricos e assadeiras automáticas, olvidou os sete anões, que passaram a constituir casos excêntricos de distúrbios endócrinos!

  Graças, pois, à meticulosidade científica do século atomizado, foram derrotados os velhos personagens das leituras fantásticas e substituídos por tipos ferozes, homicidas, que acionam metralhadoras eletrônicas e pretendem o domínio continental. Estúpidos fascínoras semeiam a morte nos desertos enluarados e seres diabólicos, interplanetários, comandam esquisitos aparelhos, ameaçando destruir o vosso orbe! O príncipe gentil, respeitoso, foi modernizado no herói de trabuco à cinta, chapéu de aba larga, a fazer farta distribuição de murros; o fascínio moderno é devido à sua brutalidade física e à sua impiedade contra os adversários vencidos. A fada que distribuía o "pólen" dourado das alegrias infantis transformou-se na mulher sem alma, despudorada, viciada com os corrosivos elegantes e sofisticada às banalidades fesceninas. Os gnomos inocentes, da natureza festiva, fugiram diante dos terríveis auxiliares do herói moderno, que são desonestos e semeiam intrigas e ciladas traiçoeiras. Na antiga fantasia infantil, o príncipe generoso e leal ressuscitava Branca de Neve com um beijo de amor puro, e a feiticeira vingativa, símbolo da maldade humana, sumia-se nas furnas dos abismos sem fim. A perversidade e a mistificação eram incondicionalmente justiçadas pelo poder do Bem; a ternura exaltada e o amor glorificado. Na literatura moderna, científica, o galã, como prova de masculinidade, é vítima de histerismo e esbofeteia sua amada! O delinqüente, quando é punido pela justiça, já não compensa o cortejo de crimes que praticou e de vítimas que causou.

  A fantasia, quando firmada no sentido do Bem e da Bondade, exalta as virtudes adormecidas nas criaturas, em lugar de afrouxar os ditames da moral do espírito; estimula à fraternidade e à mansuetude, predispondo o homem ao culto superior. No entanto, o cientificismo da bomba atômica criou as mais bárbaras e dantescas cenas de morte! Aqui, parturientes derretiam-se com o filho, na hora de dá-lo à luz; ali, velhinhos fatigados, na contemplação da natureza, convertiam-se em poças sangrentas, nos bancos das praças públicas; acolá, bandos de crianças transfiguravam-se em pastas albuminoides; alhures, criaturas em retorno aos seus lares deslocavam as carnes diante dos seus familiares! No fragor infernal do impacto homicida, fundiam-se a carne do sacerdote e a da criança, no batismo; derretia-se a mão do cirurgião sobre o enfermo esperançado de viver; diluía-se o lactante no seio da mãe apavorada, e a garota, aterrorizada, revia-se deformada! Cérebros geniais puderam calcular a temperatura máxima que desencadearam essas aplicações científicas subordinadas à matemática dos cálculos nucleares! No entanto, para os 140.000 japoneses que se derreteram no fogo apavorante da explosão atômica seriam incondicionalmente melhores todos os contos fantásticos dos mundos de fadas do que o cientificismo que lhes acarretou morte tão horrorosa!

  Sob a aparente fantasia de nossas mensagens, efetuamos um convite para o reino amoroso de Jesus, assim como as histórias que as vovozinhas contavam, para a infância, mostravam o reino das fadas, dos gnomos e dos príncipes valentes, mas eram sempre leais às virtudes nobres da alma. O convite para o Cristo é o do acatamento aos princípios santificantes do Evangelho, os quais são eternos, acima das formas literárias e das equações científicas. Esses princípios lembram as pérolas verdadeiras, cujo valor não aumenta num escrínio de veludo nem se diminui na pobreza de um envoltório de algodão. Mesmo quando submersas na lama, elas guardam a sua preciosidade.

  PERGUNTA: — Alguns críticos espíritas afirmam que as vossas mensagens, embora entusiasmem pelo assunto profético pelo exotismo das revelações, distraem os discípulos, fazendo esquecerem a mensagem singela do Evangelho. Que nos podeis dizer a respeito?
 
  RAMATIS: — Certos de que Deus sabe o que faz, cingimo-nos às suas diretrizes e não às dos homens. Não opomos dúvida quanto à urgente necessidade da singela evangelização da criatura terráquea, a fim de poder enfrentar galhardamente os momentos dolorosos de que se aproxima o vosso mundo. Inegavelmente, é melhor a purificação do sentimento do que o brilho do raciocínio; que o coração domine primeiro o cérebro. Mas a própria angelitude exige absoluto equilíbrio entre cérebro e coração. A figura do Anjo, revelando-se na harmonia perfeita das suas asas, é o símbolo desse augusto binômio divino, em que a asa direita da sabedoria se ajusta ao completo equilíbrio da asa esquerda, do sentimento purificado. Só a sabedoria e o sentimento, completamente, desenvolvidos, é que facultam à alma o voo incondicional no Cosmo. O espírito pode evolucionar exclusivamente pelos caminhos do coração, se assim preferir, mas não se livra de retornar à vida física, a fim de obter alforria completa na educação do intelecto.

  As mensagens que vos ofertamos estão isentas de ódio, de malícia ou de discórdia; não é o seu conteúdo exótico que produz fascinações extemporâneas; o próprio momento profético e entrevisto no subjetivismo do espírito é que desperta atração para o tema "Os Tempos Chegados".

  Há que compreenderdes também que a mensagem singela do Evangelho não exige o retorno do homem ao primitivismo das cavernas; Jesus não veio destruir a Lei, mas cumpri-la. Não vos pede que troqueis o terno de casimira pela tanga do selvagem ou o veículo motorizado pelo carro de bois; nem vos ordena que excomungueis o conhecimento e que vos dediqueis exclusivamente às compungidas orações. Oxalá fósseis realmente sábios como Jesus o é! Justamente a sua sabedoria é que o tornava tão compreensível, e o seu extraordinário conhecimento psicológico é que o fazia tão terno. Na Terra, o ermitão fanático, que foge do mundo e se recolhe às grutas das florestas, também é capaz de abrir o coração do infiel que lhe rejeite a cartilha de devoção; no entanto, muitos sábios, trajando a rigor social, renunciam à vida para o bem da ciência humana. Francisco de Assis, quer vestindo-se com o hábito de frade ou pelo último figurino da moda, portador de um anel de grau ou simples operário na limpeza das cidades, nunca se distanciaria da singeleza do Evangelho! Só a perturbação íntima é que distrai do Evangelho, e muitos há que se perturbam até mesmo no exercício dos ensinos de Jesus.

  PERGUNTA: — Alguns espíritas lamentam que as vossas comunicações não sigam a mesma linha de exortação evangélica, sem complexidades proféticas, a que já se consagraram inúmeras entidades nas obras mediúnicas tradicionais do Espiritismo. Referem-se a Espíritos que transmitem apenas mensagens doutrinárias que não provocam celeumas, dúvidas, nem contêm predições prematuras, mas se mantêm dentro da manifestação purista dos preceitos kardecistas.

  RAMATIS: — As manifestações espirituais, na vossa vida, podem obedecer a múltiplos aspectos. Assim como Buda veio para os seus eletivos, na Ásia, e Jesus para os seus afins, no Ocidente, há profetas que só servem a grupos simpáticos à sua psicologia, como há determinados trabalhadores desencarnados que só atendem aos adeptos da doutrina espírita.

  "Grande é a seara de meu Pai e há nela muitos lugares para todos os trabalhadores" — afirmava o grande líder oriental. Por que motivo deverão todos os instrutores pregar sob um mesmo e exclusivo aspecto? Uma vez que já existem no vosso meio entidades espirituais capacitadas e integradas na esfera da pura exortarão evangélica, por que motivo deveríamos repetir as mesmas coisas, talvez com menor êxito? Se compreendeis realmente que Deus está em tudo que criou, não podeis separar nada dentro da sua orientação divina. Que é que interpretais como manifestação "purista", em doutrina? O que concorda com a vossa mentalidade? Aquilo que o vosso espírito agasalha com simpatia, olvidando que o que detestais pode ser motivo de atenção e de prazer de outrem? Essa exclusiva preocupação purista, na vida em comum, é um capricho que pode concorrer para o separatismo, que nada tem de evangélico. Quando sentimos realmente a magnificência da vida que nos foi dada por Deus, sentimos também que devemos ampliar os limites de nossos purismos; folgamos, tanto com o progresso do verme no seio da terra, quanto folgamos em que a borboleta ascensione para espécies mais encantadoras. O servidor do Pai, inspirado pelo Evangelho, tanto admira a urtiga que fere quanto a violeta que perfuma; tanto tolera a serpente rastejante, que atende ao sagrado direito de viver, quanto admira a andorinha que corta os espaços. Sabe que Deus não cometeu distrações na contextura dos mundos; que não criou "coisas ruins ou impuras" e que não cabe ao homem o direito de criticar supostos equívocos do Pai! O bálsamo, que alivia a dor, tem o seu correspondente no ácido, que cauteriza a gangrena. Eis porque não podemos nos cingir a um sistema único de comunicações mediúnicas, de modo a vos entregarmos mensagens confeccionadas especialmente para o cabide do vosso comodismo mental.

  Não deveis criar a separação, exigindo preferência exclusiva para o que vos é simpático, pois, não existindo coisa alguma absolutamente impura, à medida que realmente evoluirdes descobrireis os valores que se acham ocultos nas coisas consideradas inúteis ou daninhas.

  PERGUNTA: — Podeis nos dar alguns exemplos desses valores existentes nas coisas "inúteis" ou "daninhas"?

  RAMATIS: — O capim, tão vilipendiado, a ponto de servir de figura de retórica para simbolizar a inutilidade, é considerado atualmente, pela vossa ciência, como uma das plantas que possui todas as vitaminas conhecidas, o que tem constituído o segredo da vigorosa nutrição dos animais. Na impureza do charco nasce o lírio, e no monturo nauseante esconde-se a energia que, em divino quimismo, transforma detritos em roseira perfumado! Os detestados vermes intestinais assinalam à criança a sua carência mineralógica e lhe indicam o alimento exato; o batráquio repulsivo é que sustenta a vida na lavoura; as feias lagartas geram delicadas borboletas; as minhocas são os humildes mineiros que abrem as galerias que servem para a renovação do ar destinado às reações químicas da seiva vegetal no subsolo. O mofo, ou bolor, considerado resíduo anti-higiênico, é a virtuosíssima penicilina. Em nenhuma ferida em que se assenta a mosca varejeira há perigo de gangrena. Milhares de criaturas devem a sua cura aos tóxicos das aranhas, das cobras e dos insetos venenosos, e outras ao aproveitamento médico do arsênico, da cicuta ou do curare. Há um sentido oculto, de utilidade, mesmo naquilo que vos parece revolta da Natureza: a tempestade furiosa é a limpeza da atmosfera carregada de impurezas, e os temidos vulcões são as válvulas de segurança do vosso globo, para que se equilibre a pressão interna na saída gradual dos gases.

  Só o homem — separatista por índole — é que atribui efeitos daninhos às coisas que não lhe despertam simpatias. O derrotismo da alma egocêntrica não lhe permite avaliar merecimentos nas experimentações alheias, e então se entrega sistematicamente a uma censura viva e acre. Em qualquer latitude do Cosmo, seja na região celestial, seja na vida física ou nas regiões infernais do Além, há um contínuo processo de mais embelezamento e utilidade espiritual. Jesus, o espírito sem deformidade mental, que reconhecia sempre o valor oculto que há em todas as coisas, considerou a prostituta como a infeliz esposa, mãe e irmã distante dos bens da paz e da alegria verdadeira. O homem honesto e compreensivo, viajante comum da vida física, quando não lhe agradam as ofertas ou as experimentações dos companheiros da mesma viagem evolutiva, segue o seu caminho e os deixa em paz. Se não vibra com os raciocínios novos dos companheiros, prossegue evolucionando através dos seus valores familiares, que lhe despertam inteira confiança.

  As nossas mensagens não são imposições, mas ofertas de boa-vontade; cada um que as prefira conforme a sua capacidade mental e o seu diapasão espiritual, sem, entretanto, subestimar as experiências naturais de outros seres. O homem não cumpre os mandamentos do Pai quando cultua só aquilo que lhe agrada e hostiliza sempre o que lhe é antipático. Que seria do vosso orbe se os "cientistas puros", inimigos do misticismo e dos compungimentos religiosos, resolvessem destruir todos os templos e agrupamentos espiritualistas, exterminando sacerdotes e doutrinadores? Ou, então, se os mandatários religiosos, fanáticos, inimigos da ciência e remanescentes da Idade Média, decidissem aniquilar completamente o labor científico? Qual dos grupos teria mais direito e razão para agir? O vosso globo, em lugar de escola educativa do espírito, tomar-se-ia um árido deserto de idéias e de liberdade!

  PERGUNTA: — Há os que afirmam que as vossas mensagens perturbam os sistemas já consagrados pela tradição espírita, principalmente no tocante à extensa quantidade de obras doutrinárias, já produzidas por médiuns de merecimento, podendo-se, pois, dispensar vossas comunicações, consideradas dissociativas. Que nos dizeis a respeito?

  RAMATIS: — Qual o sentido dos "sistemas" de que falais, na tradição espírita? Podereis, porventura, provar que os sistemas criados pelos homens, embora espiritualistas ou religiosos, podem superar o sistema do Amor que ainda falta à humanidade? Examinai e comparai a natureza dos múltiplos sistemas que pululam no vosso mundo, em todas as esferas da experimentação humana, inclusive os religiosos, e vereis a sua fragilidade. Vós achais, por exemplo, que é muito acertado o sistema de destruirdes os ratos, as baratas ou as serpentes, como animais daninhos, mas isso é porque não os apreciais como quitutes em vossas mesas. Sob esse esperto pretexto, criais então rigorosos "sistemas" científicos e industriais, para com extremado carinho engordardes suínos, bois, carneiros, vitelas e aves para o cemitério do vosso estômago.

  Considerais impuro o "sistema" de criardes ratos ou escorpiões, mas achais higiênico e puro o de criardes galinhas, porcos e cabritos para o embelezamento nauseante de vossas mesas. No primeiro caso, é porque detestais o rato como alimento e, no segundo, porque apreciais o porco como petisco. No entanto, se comparardes os vossos sistemas civilizados, de alimentação, com os de outros povos, será provável que emitais acres censuras ao saberdes de raças cuja alimentação se firma na criação de ratos e de serpes! A utilidade, portanto, das coisas criadas por Deus fica subordinada à simpatia e preferência de cada homem, de cada grupo, seita ou raça. Gostais de porcos e de bois, ou de galinhas cozidas em moderno vasilhame de pressão; recomendais, então, que se ampliem os frigoríficos, que se higienizem os açougues e que se desenvolvam as indústrias de conservas de carnes em latas! Isto "é bom", porque gostais de comer, mas aquilo "não é bom", porque não gostais; que se destruam incondicionalmente, então, os ratos, as baratas, os escorpiões ou as cobras e tudo que vos é antipático, pois que é ruim e impuro, visto que não serve ao vosso paladar nem pode ornar as vossas mesas! O que apreciais está certo; o que detestais está errado.

  Que vos importa o sofrimento do suíno na engorda albumínica ou a tortura do ganso com o fígado hipertrofiado, arrastando-se pelo solo! Isto são apenas insignificantes detalhes de um "bom sistema" que concebestes na esperteza egocêntrica; que é muito bom para as vossas alegrias e prazeres, embora horripilante para o porco, para o ganso e para outros animais que sacrificais.

  Assim raciocinais, também, quanto às crenças e aos sistemas religiosos ou espiritualistas; cultuais e defendeis severamente o sistema que agrada ao próprio paladar psíquico, mas achais impuro ou dissociativo o sistema ou o labor que não é de vossa simpatia. Aquilo que não se afina ao vosso modo de pensar desperta-vos antipatia e quereis eliminar; o que agrada ao vosso raciocínio, erigis em "sistema" e a ele aderis com entusiasmo. Que se divulge, amplie e se dissemine pelo mundo aquilo que julgais bom, que julgais puro, que julgais certo ou verdadeiro, mas seja censurado, julgado e exterminado aquilo que julgais mau, exótico ou errado! Destruam-se as igrejas católicas — gritam os protestantes; derrubem-se os templos reformistas — bradam os clericais; quebrem-se os ídolos inúteis e as imagens gélidas — exclamam os espiritistas; encarcerem-se os diabólicos — retrucam os católicos e os protestantes, aludindo aos espiritualistas. Combata-se o esoterismo, a maçonaria, os teosofismos complexos ou os exotismos da Umbanda — clamam espíritas kardecistas; acabe-se com o perigo do intercâmbio espírita com as larvas, com os elementais e os ilusórios cascões, de desencarnados pontificam os teosofistas e rosa-cruzes nos seus compêndios doutrinários! Defendem o seu "sistema" os umbandistas, afirmando que, no kardecismo, Jesus apenas faz discursos, enquanto, que na Umbanda o Mestre realmente trabalha! Ergam-se fogueiras para os positivistas, espécie de "São Tomes", que só creem naquilo que apalpam; acendam-se fogueiras para os espiritualistas, que só doutrinam sob conjecturas — gritam outros! Os sistemas que se julgam certos estão em luta com os sistemas que julgam errados, e a confusão aumenta, porque todos apregoam que o seu sistema é o melhor e o único detentor da última verdade, quando não da Verdade integral!

  É óbvio que a nossa presença pode ser dissociativa no seio de tantos "sistemas", porquanto não estamos interessados em valorizar tradições ou agrupamentos simpáticos, mas apenas em insistir quanto à urgente necessidade da adoção do sistema crístico, do Amor e da Bondade, que deve reunir as simpatias gerais de todo o Universo. Esse sistema universalista, sob a égide do Cristo, não exige definições nem se torna dissociativo, porque não prega a união pelos caminhos da separação, nem fala de amor sob a confusão da discórdia.

  Embora a maioria das instituições religiosas e espiritualistas do vosso mundo esteja de posse de extensa bibliografia doutrinária, obtida no esforço santificado do Bem, cremos que seu conteúdo só é valioso quando vivido praticamente no "amai-vos uns aos outros". Apenas por pregardes esta máxima de mil modos diferentes e sobre ela tecerdes mil historietas poéticas, não provareis que vos entrosastes com o sistema Crístico, mas apenas que procurais a garantia do sistema religioso particular, que adotais.

  PERGUNTA: — Em certa crítica de escritor espírita, muito credenciado na seara, fostes comparado a um Mefistófeles com o falso aparato de um anjo, a fim de enganar os incautos. Afirma-se que as vossas mensagens possuem sutilezas tais que hão de provocar, no futuro, muita separação entre os espíritas. Em face da continuidade de vossas comunicações, gostaríamos de conhecer o vosso pensamento a esse respeito.

  RAMATIS: — Como não há privilégio na indesviável ascensão espiritual, e todos os filhos de Deus evolucionam para a angelitude, os anjos já foram os diabos de ontem; e, o que é mais importante: o pior diabo será um dia o melhor anjo. Deus, o Absoluto Criador Incriado, está em tudo o que criou. Em consequência disso, ninguém se perde em seu seio, e os Mefistófeles sobem, também, a infinita escadaria para a Perfeição. Havendo um só Deus eterno e bom, que prove, imparcialmente, a felicidade de todos os seus filhos, os Mefistófeles e os diabos não passam de "fases" letivas na escolha educacional do espírito divino. São períodos experimentais em que se forjam os futuros habitantes do céu; significam degraus entre o animal e o anjo.

  Mefistófeles, na realidade, é o curso pré-angelical que fica entre a consciência primária e a cósmica do anjo. Admitir o contrário seria retornar à crença na velha fábula do inferno eterno e do seu esquizofrênico Satã às voltas com os caldeirões bíblicos. E como os espíritas —principalmente — não esposam essa teoria, que ainda faz sucesso entre os religiosos infantilizados, é óbvio que "Mefistófeles" lhes significará sempre o irmão desajustado, o velho companheiro que saiu de casa e que, quando retornar aos seus pagos divinos, também será o "filho pródigo", da parábola, a merecer o melhor carneiro.

  Supondo que somos um Mefistófeles — no engraçado dizer do escritor atemorizado —que se disfarça na pele de anjo para enganar os incautos, quer isso dizer que no vosso mundo existem muitos potenciais, sob idêntico disfarce, pelo que deveis tomar muito cuidado e exercer severa vigilância em roda de vós, pois ser-vos-á difícil identificá-los no seio das paixões comuns da humanidade. E tomam-se muitíssimo perigosas as sutilezas dos Mefistófeles reencarnados, quando eles encontram afinidades entre os irmãos incautos. Lembram gotas d'água na terra ressequida da separação humana.

  PERGUNTA: — Outra crítica insistente classifica-vos de lobo vestido de ovelha; diz que sois um dos "falsos Profetas" anunciados pela Bíblia; um dos "Espíritos iníquos" mencionados por Jesus. Qual a vossa resposta?

  RAMATIS: — Na figura desse lobo vestido de ovelha ou do falso profeta bíblico, queremos deixar-vos, então, a seguinte mensagem Mefistofélica: — Antes de irdes ao vosso centro, loja, cenáculo, igreja, templo, terreiro ou instituição iniciática, reconciliai-vos com os vossos inimigos; antes da prece recitada em público, lamuriosa e poética, dedicai-vos tão abnegadamente aos vossos irmãos necessitados, de modo tal que nem vos sobeje tempo para orardes. Não julgueis a embriaguez do irmão sem lar e sem ânimo para viver, mas estendei-lhe as mãos fraternalmente; abandonai o vosso veículo caríssimo e luxuoso, até que o infeliz aleijado do vosso caminho tenha o seu carrinho de rodas. Reduzi a quantidade excessiva de ternos, que possuis, para que possais vestir alguns maltrapilhos da vizinhança; diminuí o uísque e as compotas da vossa adega, para que sobre pão ao faminto e vitaminas para a criança anêmica; economizai no gasto da boate, para socorrerdes a infeliz lavadeira que precisa de descanso, a parturiente que pede fortificante ou o operário desvalido que não cobre com o seu salário as suas despesas mensais. Buscai colocação para o desamparado e para a jovem doméstica que luta com dificuldades financeiras; providencial medicamento para o doente deserdado e livro para o estudante pobre. Não temais a abóbada da igreja católica, as colunas do templo protestante, o esforço do esoterista, a reunião do teosofista, o experimento do umbandista, as lições da Yoga ou a cantoria dos salvacionistas. Concorrei à lista para os pobres de todas as religiões, sem exclusivismo para com a vossa seita; atendei ao esforço do irmão que vos oferece a Bíblia em lugar do livro fescenino e auxiliai a divulgação da revista religiosa que vos recorda Jesus; rejubilai-vos diante do labor doutrinário adverso ao vosso modo de entender, mas que coopera para a melhoria do homem.

  Aprendei que a doutrina é sempre um "meio" e não um "fim". O Espiritismo é maravilhosa revelação da imortalidade da alma; convite divino para que o homem modifique a sua conduta desregrada e assuma a responsabilidade da vida espiritual; mas, acima de tudo, que se cumpra a universalidade do Cristo, antes que o separatismo de seitas. E que "vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" seja o compromisso incessante a que deveis atender, porque nunca podereis pregar a união sob a exclusividade religiosa. Podeis afirmar que estais com a melhor doutrina, mas isto é apenas uma opinião humana, com a qual pode discordar a opinião crística. A melhor doutrina é, ainda, o amor pregado por Jesus, doutrina que não possui postulados ou diretrizes tipografadas fora do coração!

  Se assim fizerdes, asseguramos-vos que estareis livres do imenso perigo dos "lobos vestidos de ovelhas", dos "falsos profetas", dos Mefistófeles com aparência evangélica ou dos "espíritos iníquos" preditos na Bíblia. Se eles vos conduzem ao erro e à iniquidade, tornar-se-ão inofensivos, em virtude de não encontrarem em vós próprios as condições favoráveis para implantarem em vós a iniquidade e o separatismo.

LEITURA COMPLETA DE MENSAGENS DO ASTRAL:
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Rayom Ra
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