segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O Chico Verdadeiro


   "Não existindo ainda o menor respeito pela obra e vida missionária de Francisco Cândido Xavier, por parte de espíritos congelados no ceticismo, viciados na crítica cega e atormentados por seus íntimos e irresolvíveis dramas, que, diariamente, com avassalador ódio, torpedeiam gratuitamente a memória de Chico, abusando das palavras – suas únicas e limitadas armas – resolvo reeditar um artigo singelo sobre essa insigne alma de estatura imensa no plano das realizações espirituais, que pelos belos e sacrificantes exemplos erigiu indeléveis marcos nas difíceis trilhas por onde palmilhou" 

   Lendo o artigo “Chico Xavier Charlatão”, em “Textos para Reflexão”, do meu amigo Raphael Arrais, lembrei-me de um texto de pessoa amiga que viveu uma experiência diante do Chico, que nos serve para termos uma dimensão da figura do conhecido médium, e que resolvi reproduzi-lo:

    “Fora convidado por Jorge, cardecista dos mais entusiastas, a ir ver o Chico Xavier num clube de um subúrbio do Rio de Janeiro. Era sábado, Jorge soubera que ele recepcionaria as pessoas que o procurassem, assim fomos.

   Em lá chegando a fila era imensa, mas aguardávamos, não tinha outro jeito. Ao cabo de algum tempo alcançamos o portão que distava ainda alguns metros da porta que dava acesso as dependências internas do clube onde Chico estaria. Houve confusão na porta e Jorge reconheceu o amigo que o informara sobre a visita do Chico, e coordenava a entrada das visitas. As pessoas ansiosas reclamavam de muitas coisas e o rapaz ficara nervoso. Falei então ao ouvido de Jorge que precisávamos nos concentrar e enviar energia para seu amigo. Ensinei-o rapidamente como fazer uso de uma técnica de sintonia com correntes esotéricas e assim juntos nos concentramos. Quase de imediato o tumulto cessou, Jorge olhou-me enigmaticamente, e o rapaz o vislumbrou chamando-o.

   Atravessamos o pequeno pátio e nos chegamos. Fomos apresentados e após algumas palavras ele disse aos nossos ouvidos para perguntar-lhe se podíamos ir ao banheiro. Assim fizemos, e ele abriu a porta para nos mostrar onde seria o banheiro, fazendo sinal pelo lado de dentro para que seguíssemos na direção onde Chico se encontrava. Pensei comigo: quem tem padrinho não morre pagão, mas esperaria por minha vez, entretanto não recusei aquela carona.

   Entramos. Lá estava Chico no fundo de um salão, diante de pequena mesa onde recebia uma a uma as pessoas que dele se aproximavam, apertando-lhes as mãos e dizendo-lhes qualquer coisa com o carinho que o distinguia. Há alguns metros de Chico se achava Divaldo Franco que antes recebia as pessoas que haviam adquirido seu recente livro, carimbava seu nome na primeira página e assinava seu autógrafo. Jorge e eu estávamos a mais ou menos oito metros de Chico e uma aura de suave energia tomava todo o ambiente. Incrível, pensei eu, como se estendia até aqui a energia vinda do Chico. Além dessa aura energética pairava no ar um suave perfume que jamais houvera antes sentido.

   Jorge mandou que eu fosse à frente e caminhei em direção do Divaldo uma vez que tinha comprado o livro. Com aparente indiferença, diante de mesa semelhante a do Chico, falando qualquer coisa com alguém ao lado, ele mecanicamente carimbou, assinou e sem ao menos olhar-me devolveu-me o livro dizendo qualquer coisa como Deus o abençoe. Tudo bem, consideremos que ficar ali horas carimbando e recebendo pessoas estranhas deve mesmo ser qualquer coisa interminável, e se nada senti diante desse outro médium pouco me importei, o alvo era o Chico e lá fui a sua direção. Na medida em que me aproximava, mais a energia me tomava e sentia-me leve... e feliz!

   Parei diante daquela figura tão querida e respeitada pelo mundo espírita, e mesmo não sendo seguidor do cardecismo fui tomado de emoção. Estava diante de um gigante, o maior pilar moderno de toda a doutrina espírita, aquele que para ouvi-lo ou simplesmente vê-lo, pessoas viajavam muitos quilômetros, muitas horas ou dias, vindas até de outros países. Ele representava a esperança de tantas vidas, o consolo a quem ansiosamente perdera parentes, pois estariam diante de um mensageiro de Deus. Sim, foi o que pensei naquele momento. Ele elevou o olhar e pousou-o no meu rosto. Nova emoção, Chico contemplava-me! Não, não era o Chico, era alguém mais, era Emmanuel, era André Luiz, eram tantos outros que deixavam suas ocupações para simplesmente olhar-me, a mim pobre mortal, alguém somente estudioso das ciências ocultas, sem nada de especial para dar ao próximo, ao contrário deles arautos de tantas lições ao mundo de soberba sabedoria!

   Alheio àqueles pensamentos, ele com suavidade estendeu suas mãos e aconchegou a minha. As suas pareciam seda, eram mornas, e lembrei que Jorge me houvera dito que as mãos de Chico pareciam não possuir ossos. Para mim eram feitas de seda e ele abençoou-me em nome de nossa Mãe Divina. Então dobrou a cerviz com sua peculiar delicadeza e beijou minha mão.

   Desabei. Desejei que se abrisse uma cratera sob meus pés e nela afundasse. Se o Chico soubesse como aquele beijo naquele momento me fizera mal certamente não me teria beijado. Nada deixando transparecer e ainda alheio à minha luta íntima, Chico despediu-me com novas e carinhosas palavras, aguardando por um novo admirador. Sequer olhei para traz a fim de localizar Jorge, torcendo para que ele não tivesse visto o que Chico não deveria me ter feito. Não me importava a quantos ele igualmente houvesse presenteado com seu humilde e sincero beijo. Mas eu não o merecera! Hoje já penso diferente e aquele ato serve-me de recordação de um homem fantástico que andou por nossas terras e a quem todos os espíritas tanto devem!

   Contado por seu amigo, soubera dia seguinte por Jorge, que por conta de um homem que dele se aproximara Chico houvera deixado a esperar por quase duas horas a uma equipe de televisão que pretendia entrevistá-lo. O homem era um desatinado, desejava suicidar-se, e Chico dedicara todo esse tempo a convencê-lo a não cometer esse ato, sem ao menos se importar com a reportagem!”

                                              [ Publicado em 04 de maio de 2009 ] 

Rayom Ra
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