domingo, 24 de novembro de 2019

Bhavachakra a Roda do Tornar-se - [A Roda do Samsara]

   Mudar nossa atitude significa mudar o modo como recebemos percepções. Ao invés de respondê-las mecanicamente reagindo com nossos egos ou desejos, com nossos medos, ao invés disso, reagimos conscientemente com sabedoria a fim de vermos a verdade – a realidade num dado momento – então ao mantermos um cognizante ponto de vista ou uma consciente atitude, causamos a cessação do sofrimento. O sofrimento não é produzido”.

  Hoje estaremos falando sobre um dos mais importantes símbolos da história asiática, um símbolo mais conhecido das tradições budistas que tem alguma relevância em toda a filosofia asiática. Está até mesmo presente nas tradições ocidentais com diferentes faces e nomes. Comumente, publicamente, este símbolo é chamado de a Roda do Samsara, a Roda da Vida, a Roda do Sofrimento, A Roda do Destino, etc. Detém muitos nomes, porém seu verdadeiro nome é भावचक्र Bhavachakra. É importante a todos os que tratam seriamente de seu progresso espiritual entender do significado verdadeiro desse nome e o que ele implica, porque dizermos “a roda do samsara” ou “a roda da existência cíclica” ou “a roda do sofrimento”, é realmente inadequado. Esses nomes falham ao destacar a mensagem primordial desse importante símbolo.
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 Figura 1

  Muitas pessoas dizem que Buddha Shakyamuni, ao redor de 2.500 anos atrás, inventou esses símbolos como parte de seus ensinamentos. Ele ainda ressaltou: “Eu vi um caminho antigo, uma estrada antiga atravessada pelos corretamente iluminados dos tempos antigos”. – Budismo. Samyutta Nikaya ii.106

  Vemos assim que o Buddha Shakyamuni não inventou nada. Ele somente retransmitiu o que tinha estado perdido e esquecido. Contudo, o ensinamento do Bhavachakra é muito mais antigo do que mesmo o próprio “budismo” e tem grande significado para nós. Nessa tradição a que chamamos tradição gnóstica estudamos as raízes das antigas religiões e podemos ver que todas as religiões correspondem a esse símbolo universal. Nele expressam-se verdades universais, não doutrinas religiosas, mas verdades, realidade. De fato o nome Bhavachakra detem uma importante sustentação no conceito ou entendimento do que seja a realidade.

  A primeira parte da palavra é भाव bhava, significando “atitude, estado. natureza”, não a natureza externa com árvores, plantas e animais, mas a natureza de uma coisa inata, intrínseca, natureza inerente. A palavra Bhava vem de भू bhū, “tornar-se”. Então Bhava implica em atitude ou estado do ser: naquilo em que se está tornando ou naquilo que está em constante mudança.

  A segunda parte de Bhavachakra é चक्र chakra, significando “roda”. Por conseguinte Bhavachakra significa “Roda do Tornar-se”. Este símbolo pode ser encontrado dentro das antecâmaras ou casas de templos do budismo tibetano pelo mundo e em muitos outros templos, especialmente templos mayanas, tais como na China, Japão, Coreia e países como esses. Podemos encontrar variações desse ensinamento em todas as partes. É comumente pintado em paredes muito grandes – tão grandes quanto haja nas dependências – com objetivo de lembrar ao público dos fundamentos da doutrina psicológica e filosófica que Buda ensinou.

  Em outras palavras: este símbolo não está lá para fazer as pessoas acreditarem em algo; não está lá para assustar as pessoas. Está para mostrar do seu significado prático como um caminho para o público leigo que ainda não atenta aos aspectos mais elevados dos ensinamentos; e alerta-lhes sobre o que está ensinando e como afeta suas vidas pessoais. Não é para acreditar e prosseguir ou fazê-los leais a seguirem os mandamentos dados pelos instrutores. Ao invés é mesmo para lembrar-lhes dos princípios fundamentais que afetam suas vidas diárias.

  Yama

  A maior parte das representações do Bhavachakra mostra um ser irado, uma criatura feroz e de meter medo, que mantém segura a grande roda. A palavra chakra é sânscrito para “roda”, algo que gira, que se repete: um ciclo, um fluxo, um movimento de forças. Ele tem uma aparência terrificante, mas não é um deus nem um demônio. Diferentes religiões explicam essa criatura de vários modos. Comumente é chamada यम Yama, significando o deus da morte, aquele aspecto da divindade que manobra o processo de completude dos ciclos. Quando da morte de nosso corpo surgem divindades responsáveis por manipular todo aquele processo para nós. Elas não são diabos nem demônios. São divindades.
Yama
Figura 2

  Yama parece irado, intenso, em virtude da imensidade na qual tem de estar focado e ali trabalhar; em seus braços há todos os tipos de seres. Imaginemos a responsabilidade de manter em nossas mãos todos os tipos existentes de vidas. O quanto de intensidade feroz teríamos em nossa concentração, em nossa presença e compaixão por todos os seres a nós confiados? Eis o que ele representa. Seus olhos abertos veem tudo; ademais ele tem um terceiro olho que representa sua introspecção espiritual, a visão da verdadeira natureza da existência. Ele compreende a natureza da realidade. Seus cinco cérebros sobre sua cabeça revelam que todas as coisas são impermanentes. A filosofia budista nos dá conta de que somos a combinação de cinco agregados (skandhas), cinco aspectos de matéria e energia que nos permitem sermos. Esses cinco agregados estão vazios de existência inerente. Eis porque são mostrados aqui como crânios. Estão sujeitos à morte, que é seu domínio. Bem acima de sua cabeça existe uma nuvem preenchida com Bodhisattvas. Essas imagens apresentam variações, porém sempre vemos Bodhisattvas em nuvens e paraísos, e aparecendo uma lua.

  No budismo a lua representa o potencial para a libertação. A lua é um símbolo positivo. É um corpo celestial que reflete a luz do sol e provê luz na escuridão. Esse símbolo representa o poder de Cristo (para usarmos um termo grego), o poder de Chenresig, Avalokiresvara, Quan Yin. A lua representa o poder de uma divindade celestial que está trazendo luz para a escuridão a fim de iluminar o caminho daqueles que desejam escapar do sofrimento. Os Bodhisattvas são aqueles que apontam o caminho.

  A Roda

  O círculo ou roda, o principal ponto da imagem, tem muitas partes. Explicarei brevemente os significados comumente conhecidos desses aspectos, mas não é esse o objetivo da palestra de hoje. Primeiramente vamos explicar o nível comum, o nível público para aqueles que não estão familiarizados com isso. Faremos assim a fim de prepará-los mais profundamente devido a que a real importância dos símbolos é somente encontrada quando vamos além dos significados superficiais.

  O anel mais exterior dessa roda tem doze partes que são chamadas निदान Nidanas (literalmente “causas”). Existem somente doze Nidanas. Essas representam as causalidades da ação. Cada ação coloca em movimento uma corrente de eventos. Esse anel de doze Nidanas representa a corrente da causalidade e explica porque estamos armadilhados no sofrimento. Nos ensinamentos búdicos isso é chamado Pratityasamutpada, de difícil tradução para o Inglês; atualmente não possuímos palavras para converter em seu preciso significado, mas a palavra mais comumente usada é interdependência, ou origem dependente, que basicamente estabelece: “Isso é porque aquilo é o que isso não é, porque aquilo não é. Isso cessa de ser porque aquilo cessa de ser”.

  Está basicamente ressaltando que tudo é interdependente; nada existe separadamente. Todas as coisas dependem de outras coisas e como tal isso é a causa de ambos: do sofrimento e da libertação. Os doze Nidanas explicam a interconectividade das ações e suas consequências. Explicamos sobre as doze Nidanas num livro chamado O Carma é Inegociável. Quem desejar aprender mais sobre este assunto pode ler o livro. Pratityasamutpada é um ensinamento muito profundo. Tão profundo que o Buddha disse: “Quem assim compreende o Pratityasamutpada compreende o Dharma e quem assim compreende o Dharma compreende o Pratityasamutpada”. A maioria das pessoas não compreende os doze Nidanas significando nada conhecer do Dharma, uma palavra sânscrita.

  Dharma: “Lei ou justiça personificada, dever, mérito, estado, prática, religião, observância, relacionado com justiça ou virtude, lei, coisa, cerimônia, bons trabalhos, caráter, conduta própria, moralidade ou ética, virtude”.

  Em síntese: Dharma refere-se ao ensinamento que conduz para fora do sofrimento. Necessitamos estudar o Pratityasamutpada se ainda não soubermos nada sobre os doze Nidanas. A palestra de hoje não trata de nada disso. Estaremos falando sobre o interior das doze ligações que formam o anel externo da roda.

  As Regiões do Samsara

No interior do anel externo existem seis seções.
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Figura 3

  Exotericamente, publicamente, esses seis setores são chamados reinos ou regiões do Samsara. São ditos serem mundos, regiões literais onde vivem várias classes de seres. No terceiro topo podemos chamar céus ou tipos superiores de mundos e embaixo a maior parte das regiões é chamada infernos. Em sentido estrito a maioria das regiões de baixo é chamada inferno. Ao observamos conteúdos psicológicos interiores provavelmente admitiremos que sejam todos infernos. No interior das seis regiões do Samsara está delineado outro anel, tendo também setores. Metade desse anel é luz, a outra metade é treva. O anel representa Carma: ação e consequência. Simplesmente apresenta o que a Bíblia diz: “tudo o que o homem semear de tudo ele colherá” – Gálatas 6:7. Ações que produzem benefícios criam benefícios a todos. Ações que produzem males criam males a todos.

  Chegamos então à parte mais central, axial, naquilo que causa à roda inteira girar. Nessa parte central vemos três animais. São ditos serem um galo, um porco (ou cão) e uma cobra. Ao nível público de ensinamentos são ditos significar a ignorância, o ódio e a paixão/desejo. Conforme mencionado a maioria das pessoas estuda todas essas coisas como algo exteriormente primário relacionado com outros seres e dimensões. Entretanto o real significado é psicológico. Tudo isso representa o estado de nossa mente, nosso próprio Bhava [estado do ser].

  Estudamo-las de diferentes formas como na Árvore da Vida. Na cabala as estudamos como uma série de esferas arranjadas em modos de triângulos. Os círculos são chamados sefirotes. Representam também mundos e aspectos de nossa psique, uma importante sustentação no conceito ou entendimento do que seja a realidade.
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Figura 4

O Absoluto

  Nesta particular representação da Árvore da Vida existem três vastos espaços expansivos que podemos chamar o Absoluto. Em hebreu são chamados o Ain, o Ain Soph e o Ain Soph Aur. Em sânscrito é chamado Shunyata (शून्यता, “nada”), Brahma, etc. Essa é a raiz Bhava ou estado de ser de todas as coisas. É a absoluta essência de todas as coisas. A natureza inerente de tudo o que existe é “vazia”. É um tipo de oco, mas é nada. É um vazio de características, de definição, de identidade; é um vazio de medida de calor, frio, temperatura. É um vazio de conceito ainda que seja um tipo de entidade além do que possamos conceituar.

“O espaço abstrato é a causa causarum [causa das causas] de tudo o que é, foi e será. O profundo e alegre espaço é certamente a incompreensível “Seidade”, que é a inefável raiz mística dos sete cosmos. É a origem misteriosa de tudo quanto sabemos do espírito, matéria, universos, sóis, mundos, etc.

  “Aquele”, o Divino, o espaço da felicidade, é uma tremenda realidade para além do universo e deuses.

  “Aquele” que não tem qualquer dimensão e verdadeiramente é ainda o que sempre será e tem sido. É a vida que palpita intensamente dentro de cada átomo e dentro de cada sol.

  Falemos agora sobre o “Oceano do Espírito”. Como pode ser definido? Certamente o Oceano do Espírito é Brahma, que é o primeiro diferencial ou modificação “Daquele” ante o qual deuses e humanos tremem.

  “Aquele” é Espírito? Verdadeiramente digo-lhes que não. É “Aquele” matéria? Certamente digo-lhes que não.

  “Aquele” é a raiz do Espírito e da matéria, mas não é nem Espírito nem matéria.

  “Aquele” está além das leis do número, medida, peso, ambos os lados, quantidade, frente, atrás, acima, abaixo, etc.

  “Aquele” é o imutável em profunda abstração divinal. Luz que jamais foi criada por qualquer Deus, nem por qualquer ser humano.

  “Aquele” detém a realidade além do pensamento, palavra e ação.

  “Aquele” não está no tempo e está além do silêncio e som, mesmo além da percepção dos ouvidos.

  “Aquele não tem nome”.

  “Brahma é Espírito; ainda que “Aquele” não seja Espírito. O Absoluto, o Não Manifestado é a luz incriada”. – Samael Aun Weor, “Ensinamentos Cósmicos de um Lama”.

  O entendimento do Shunyata ou Absoluto não pode ser alcançado pelo intelecto. Isso é impossível. A fim de se compreender a natureza do Absoluto ou da existência em si mesma isso é somente possível com a consciência desperta e a pessoa estar a perceber por si própria. Para alcançar esse tipo de estado temos de nos libertar de todas as coisas que nos cegam através da percepção ilusória, ou seja, nosso sentido do ser, nosso sentido de que sejamos o nosso corpo; nosso nome, nossos pensamentos, nossos desejos, nossas aspirações, nossos medos; todas essas coisas enfim têm de ser abandonadas. É voltarmos ao nosso início, para a nossa parte mais interior que nos faz sermos uma criatura: um ente, uma forma de pura percepção totalmente incondicionada e liberta de qualquer forma ou tipo de limitação, e a partir dessa perspectiva possamos então ver o Absoluto.

  Por que isso é importante?

  “O Espaço Abstrato Absoluto, o Espírito da Vida Universal é absoluta felicidade, suprema paz e abundância”. – Samael Aun Weor

  “O Absoluto é a vida livre em seu movimento; é a Realidade Suprema, o Espaço Abstrato que expressa somente a si próprio como o Movimento Abstrato Absoluto; felicidade sem limites, onisciência completa. O Absoluto é Luz Incriada e plenitude perfeita, felicidade absoluta, vida liberta do movimento, vida sem condicionantes, sem limites...

  “Deuses e humanos estão submetidos ao sofrimento ou vida condicionante. Porém no Absoluto vamos além do carma e dos deuses, além da lei. A mente e a consciência individual são somente boas para entorpecer nossas vidas. No Absoluto não temos uma mente ou consciência individuais; Nele somos incondicionados, livres e absolutamente Seres felizes. O Absoluto é vida livre em seu movimento, sem condicionamentos, sem limites, sem medo mortificante da lei; vida além do espírito e matéria, além do carma e do sofrimento, além do pensamento, palavra e ação, além do silêncio e ruído, além das formas. O Absoluto é abstrato, espaço absoluto, movimento abstrato absoluto, liberdade absoluta, incondicionada, irrestrita, onisciência absoluta e felicidade absoluta”. – Samael Aun Weor, “Os Mistérios Maiores”.

  Permitam-me dizer-lhes algo. O conhecimento da realidade – o Absoluto – e a experiência disso são terrificantes ao ego, à personalidade, ao nosso sentido do eu. Isso é parcialmente assim e eis porque Yama, a criatura que segura a roda tem aspecto de ferocidade, pois ela sabe o que seja a realidade, o seu conhecimento é representado pelos cinco crânios, uma demonstração da impermanência das coisas compostas.

  A Árvore da Vida mostra-nos níveis da existência. Na porção mais alta deste gráfico vemos o Absoluto, o vazio do qual a existência emerge. Na Árvore da Vida a existência manifestada está mostrada com uma série de sefirotes disposta em triângulos. Há um triângulo acima, um triângulo no meio, um triângulo abaixo e uma única e solitária esfera, e então abaixo há um reflexo de toda a estrutura. Essa única e solitária esfera é o mundo físico. Na parte mais inferior, abaixo, pendida, são os infernos, os mundos inferiores.
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Figura 5

  Por entre todos esses níveis habitam, na sua totalidade, os seres sencientes, cada vida de reino que corresponde ao seu nível do ser: o seu nível espiritual, psicológico. Os deuses vivem nos céus por serem todos puros demais para existirem aqui. Os demônios estão nos infernos uma vez que o peso de suas psiques os mantém por lá. Nós estamos nesses mundos, agarrados no meio, devido ao nosso estado psicológico: nosso nível do Ser, nosso Bhava. O Bhavachakra representa isso por seis “mundos” simbólicos.
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Figura 6

  1. Deuses (em sânscrito: devas).
  2. Semideuses (em sânscrito: asuras).
  3. Humanos (em sânscrito: manusya).
  4. Animais (em sânscrito: tiryagyon).
  5. Fantasmas Famintos (em sânscrito: preta).
  6. Infernos (em sânscrito: naraka).

  Algumas vezes os reinos dos deuses e semideuses são considerados um só reino.

  Portanto aquelas duas imagens, aqueles dois símbolos – o Bhavachakra e a Árvore da Vida – representam os muitos níveis do Ser e o simbolismo disso pode ser interpretado de muitas maneiras. São muito significativos e profundos não meramente físicos, literais.

  O Significado Externo

  O primeiro nível do significado é público: do que ouvimos sobre céus e infernos; o que seja exterior a nós de onde nos situamos dentro do universo. Esse é o mais superficial e básico ensinamento dado nas religiões. Cada religião diz que lá está o céu e lá está o inferno; nós estamos no meio, e o que fazemos é o que nos determina para onde iremos após a morte. Essa é uma estrutura filosófica prática e consistente entre as religiões. Aqueles símbolos representam essa estrutura. Nesse nível de significado, céus e infernos estão noutra dimensão onde as almas existem. Não podemos vê-las com o nosso sentido físico da visão, porém ao aprendermos a usar outros sentidos podemos estar cônscios delas. Entretanto o Bhavachakra consegue representar os sistemas e dimensões do mundo, no interior dos quais existem muitos tipos de seres.

  A alguém mesmo estando num nível básico de suas funções sociais aqui desenvolvidas nesse mundo físico, é possível serem aplicadas a estrutura e o simbolismo dos seis reinos. Ou seja: as diferentes classes de seres de outras dimensões detêm por aqui um tipo de “reflexo”. Podemos ver aqueles seis reinos espelhados na sociedade. Há pessoas neste planeta que têm uma vida muito bela que poderíamos dizer “paradisíaca”. Elas têm tudo o que querem e tudo mais o que queiramos e que não temos. Podemos identifica-los como a viverem no reino dos “deuses”. Sim, nessa sociedade materialista são “deuses”. São pessoas que têm tudo o que a humanidade deseja: dinheiro, poder, fama, lazer, saúde, beleza, respeito, admiração. As demais pessoas não têm aquelas coisas e as querem. Então desse ponto de vista as pessoas entendem a riqueza e as celebridades como “deuses”.

  Não estamos dizendo que aquelas pessoas sejam deuses espirituais ou que seus seres interiores sejam deuses – não. Estamos dizendo que do ponto de vista da sociedade, a humanidade vê a riqueza e as celebridades como “deuses” e como tais os venera. Como um fato, em determinada ocasião, uma mulher “altamente educada”, disse-me com toda a seriedade que a maioria das celebridades são “grandes Bodhisattvas, anjos” que aqui estão para ajudar a humanidade. Obviamente aquela mulher não tem ideia do que em realidade sejam um anjo e um Bodhisattva, nem ela tem qualquer conhecimento do nível do ser de qualquer um no planeta, mesmo do nível dela próprio. Igualmente há também neste planeta pessoas que podemos chama-las “demônios”.

  Aquelas são pessoas que não têm consciência. Pessoas que sofrem inacreditáveis dores e seus únicos interesses estão na violência, assalto, mentira, roubo, tirar vantagens sobre os outros, fazerem os demais sofrer etc. Este planeta está gerando a cada dia mais e mais tipos assim de pessoas. Espalham-se como uma doença, superlotam as prisões, lotam os escritórios governamentais, os escritórios empresariais e centros de produções da mídia. Nas tradições gnósticas nosso interesse não está nos significados externos. Sabermos sobre seres de outras dimensões não contribui em nada diretamente para nossa situação pessoal. Temos a necessidade de uma intensa mudança, daí precisarmos estudar esses símbolos no modo mais profundo.

  O Significado Interno

  Na Árvore da Vida aquela meia sefirote nela mesma (Malkuth) é o mundo físico: abaixo dela são os infernos e acima dela são os céus. Como nos comportamos, como agimos; o conteúdo da mente, do coração e alma são todos determinantes para onde iremos após a morte. Essa estrutura filosófica também existe no Bhavachakra. Os seis reinos representam os locais potenciais para onde iremos após a morte. Isso está determinado pela parte do núcleo central da roda, pela ação: como agimos, como nos comportamos. As consequências do que fazemos de momento a momento nos guiam em nossa progressão vida após vida. Assim por nosso Bhava interno fica criado nosso lugar externo. Por conseguinte essa roda também deve ser aplicada ao nosso estado do ser interior, psicológico. Esse é o segundo nível de significado, o mais profundo. O Bhavachakra representa o que existe de psicológico dentro de nós. Esses seis mundos são um reflexo de nossa própria psicologia.

  O significado mais íntimo é que tudo desses mundos, tudo desses seres existentes nesses mundos, está também dentro de nós. Detemos muitas partes em nossa psique. Não somos uma só pessoa. Contradizemos a nós próprios. Temos muitos desejos crescentes, pensamentos, interesses, vontades, aspirações e dores. Cada um desses é uma entidade psicológica simbolizada de muitos modos através de religiões e mitologias, ainda que possamos verifica-las por nós próprios pela simples auto-observância.

  Em hebreu a esfera na Árvore da Vida entre o céu e o inferno é chamada Malkuth, significando “o reino”. Esse reino, Malkuth, representa o mundo exterior a nós sendo também representado por nosso corpo físico. Nosso corpo é também um reino. Nossa mente é um reino. Nos mundos ao nosso redor vemos existir muitos tipos de pessoas vivendo nesse reino bem como muitos tipos de seres, animais, plantas e minerais. Há, portanto, nesse reino muitos seres sutis bem como outras classes de seres noutras dimensões mais acima de nossos sentidos comuns que não os vemos com nossos olhos. Também em nosso pessoal Malkuth há muitas classes de seres. Na cultura popular do ocidente vemos algumas vezes aquela representação do anjo sobre um ombro e o diabo sobre o outro ombro, com o anjo dizendo: “faça a coisa certa, faça as boas coisas”, e o diabo dizendo: “Não, você merece a realização dos seus desejos, realize-os”.

 Realize-os. Quem se importa com o que as outras pessoas dizem ninguém saberá. É possível escaparmos disso. Bem, não há exatamente um anjo e um diabo em nós, há milhões dentro de cada um de nós e estão constantemente lutando pelo controle “do reino”. Há uma permanente batalha que se mantém dentro de nossa cabeça, de nosso coração e alma a fim de controlar o nosso reino. Por quê? Porque não há rei ou rainha em definitivo! Não somos consistentes. Um dia estamos compenetrados sobre nossa espiritualidade, então um desejo diferente emerge, qualquer que seja ele, que nos seduz. “Amanhã renunciarei a esse desejo; amanhã darei um fim nessa coisa que não deveria estar fazendo”. Podemos ter muito disso porque somos uma grande contradição. Esse é o nível do significado que necessitamos estudar: em como o Bhavachakra ensina sobre nossa mente.

  Bhava

  A palavra भाव Bhava vem da palavra sânscrita  Bhu, significando “tornar-se, ser”. Pode ser interpretada de muitos modos diferentes dependendo em como esteja sendo utilizada. No induísmo muitas das escrituras descrevem Bhava como sendo exemplo, pois realmente ao que ela direciona é sobre atitude. Isso é especialmente importante na relação com Bhakti Yoga que é um dos principais ensinamentos do Bhagavad Gita. O Bhagavad Gita é um grande ensinamento de Krishna sobre atitude, sobre o Bhava do discípulo do Senhor. A atitude que Krishna ensina a Arjuna é:

  “Aquele que contente, diligentemente se desempenhou,
  Do trabalho a ele dispensado, qualquer que fosse,
  Permanece na perfeição!
  Ouça como um homem,
  Que encontrando a perfeição está tão feliz:
  Ele a encontrou através da devoção,
  Envolta em seu trabalho:
  DELE é que vem a fonte de todas as vidas,
  DELE, através de Quem o universo foi manifestado’”.

  “Melhor é o teu próprio trabalho sem desleixos,
  Do que estar fazendo o trabalho de outros,
  Mesmo de forma excelente.
  Esse que toma seu próprio trabalho não cairá em pecados,
  Deixa-se conduzir pelas mãos da Natureza!
  Não deve o homem deixar seu natural trabalho, Príncipe!
  Mesmo que se culpe!
  Pois todo trabalho traz esse sentimento,
  Como toda chama vem encoberta na fumaça!
  Somente aquele homem que atém,
  Perfeita condução do trabalho,
  Cujo trabalho, envolto por sua mente sem distrações,
  A alma totalmente domada e seus desejos para sempre mortos,
  Terá resultado dessa renúncia”. - Bhagavad Gita cap.18
    
  O que façamos desempenhemo-nos sem pessoal interesse, sem desejo pessoal, sem satisfazer ou contemplar nosso orgulho. Façamos todas as coisas como num serviço para a humanidade e para a divindade. Retiremo-nos de dentro dessa equação. Isso é o Bhava ou atitude de alguém muito prestimoso nos seus postulados religiosos. Não é a atitude externa ou a face que usaríamos para nos mostrar aos outros. Trata-se de atitude interior. Um modo de realizar cada ação seja física, emocional ou mental. Atitude de humildade e devoção a Deus. Bhava pode também significar um estado do ser. Poderia significar um tipo de mudança que esteja emergindo, crescendo ou nos tornando novos. Pode significar um estado de nossa mente.

  Esta palavra é realmente importante e mesmo que nos possa parecer simples neste contexto e a tenhamos apreendido dentro da filosofia da meditação ela se torna bastante desafiadora. Daí começarmos a trabalhar com: “Quem é este em mim que tem este Bhava?”.

  Ao compreendermos o Bhava da existência, a verdade inata tornando-se todas as coisas, então nosso relacionamento em tudo aquilo passa a ser bastante questionável. Se todas as coisas estão emergindo do Absoluto que sendo o nada é, porém, a raiz de todas as coisas, então, Quem sou eu? O que de mim é real?. Especialmente se durante o dia a dia de minha vida estou constantemente tropeçando em meus próprios pés, ferindo-me o tempo todo e ferindo as pessoas ao meu redor, quem é esse? Quem está agindo? Quem está pensando? Quem está sofrendo?

  Bhava é crítico: a atitude, o estado do ser. Por quê? Porque toda ação desempenhada traz uma consequência. Isso cria um fluxo de energia na natureza. Nossas ações, sentimentos e pensamentos são ilusórios, enganadores. Criamos uma continuidade da existência que é flácida e assim sofremos. “... o nascimento é sofrimento, a velhice é sofrimento, a morte é sofrimento, a convivência com coisas desagradáveis é sofrimento, a separação das coisas agradáveis é sofrimento, não conseguirmos o que desejamos é sofrimento; em resumo: os cinco agregados da existência são sofrimentos”. – Buddha.

  Existirá alguém sem sofrimentos? Terá alguém encontrado outro que não esteja sofrendo? Olhemos seriamente a esta questão uma vez que nossa mente nos diz que ninguém sofre como nós. Certo? Não é verdade que a mente está a dizer: “veja o que ele tem e eu quero aquilo?”. Estamos sempre a desejar algo que não temos e ficamos ressentidos quando alguém o tenha. Sofrimento não é exatamente dor física ou angústia emocional que nos causem derramamentos de lágrimas. Sofrimento é um estado do ser no exatamente agora por estarmos desligados da verdade, da verdadeira natureza da realidade; de nosso próprio Ser que está unido com o Absoluto.

  O Absoluto é incondicionado não atrelado ao carma. Significa que é um puro estado do Ser; que é o perfeito estado da felicidade: Paranishpanna, um estado de êxtase, semelhante ao que não podemos ao menos imaginar por não estar apoiado em qualquer tipo de sensação. Não se apoia em sensação física, emocional ou mental. É um estado de pura e incondicionada existência ilimitada. É a pureza do ponto de vista do Bhava de Deus, da Divindade. Naquele estado do Ser (Bhava) não há dor, carma ou limitação, ainda que haja conhecimento absoluto.

  Não possuímos aquilo e mesmo nada que dali esteja próximo. Podemos possuir nesse momento segurança física no mundo e ainda assim permanecermos num estado de sofrimento porque inevitavelmente perderemos nossas posses e status social, não sabendo quando e nem o que acontecerá depois disso. Nem mesmo sabemos o que acontecerá hoje mais tarde.

  Estamos num estado de ignorância relativamente ao que nos acontecerá. E relativamente a qualquer coisa nada sabemos. Temos conceitos de Deus, embora jamais o tenhamos visto. Temos conceitos de Buddha, embora jamais o tenhamos visto. Temos crenças e ideias de religião; sobre misticismo, sobre outras dimensões e outros mundos, mas não os experienciamos ainda. Não temos conhecimento real (Jna, Gnose, Da’ath), mas uma quantidade enorme de ignorância. Devido a isso estamos presos numa existência cíclica: Samsara.

  Existência Cíclica

  Samsara em sânscrito é um mundo. Literalmente Samsara significa “fluir”. O que flui? Energia que é impulsionada pela ação.

  Nossa consciência agora mesmo está sendo impulsionada pelo que exatamente antes fizemos. Nosso estado do ser experienciado neste exato instante é a direta consequência de nosso estado do ser anterior. O modo como nos sentiremos no próximo momento está determinado pelo como nos sentimos agora. Ou seja: se estamos sonolentos, inconscientes, nossa experiência de vida está determinada por aquilo; da mesma maneira que a experiência de uma folha ao vento está determinada por ter sido excluída da árvore. Conscientemente não dirigimos nosso “fluxo”. Somos conduzidos por forças que nem mesmo sabemos existir.

  “O mal feito por alguém;
  Desse mal ele está contaminado.
  O mal abandonado por alguém;
  Esse mesmo alguém do mal se purifica.
  Pureza e impureza dependem de cada um;
  “Ninguém pode purificar a outro” – Dhamapada.

  A quem estamos culpando de como nos sentimos quando em realidade nós criamos a nossa vida, nossa experiência? Criamos nossas próprias coisas através de atitude. Pais seguidamente criticam e corrigem as crianças, dizendo: “você tem má atitude! Se você está indo para a escola, para a vida, precisa ter atitude melhor”. É verdade. Espiritualmente isso é ainda mais importante. Nosso Bhava, o estado do ser, a atitude, determina todas as coisas.

  Se realmente quisermos compreender porque sofremos não será difícil sabermos. Será muito fácil. Tudo que teremos a fazer é abrir nossos olhos e olharmos para nós próprios. Qual é nossa atitude, o nosso Bhava de momento a momento? É ódio, crítica, estresse, ânsia, temor, arrogância, orgulho, passionalidade, indiferença, letargia, preguiça; tudo isso depende da hora do dia? Depende se já tomamos um café ou ainda não? Na verdade adentramos todos esses estados sem força de vontade. Coisas acontecem e reagimos. De novo coisas acontecem e reagimos. Coisas continuam acontecendo e reagimos. E assim nos mantemos sem exercitarmos psicologicamente o domínio sobre nosso reino. Não tomamos posse de nossa perspectiva ou atitude. Devido a isso estamos agora armadilhados num fluxo de energia em que estivemos cultivando há séculos. Não somente há poucos dias ou há poucas horas, mas há séculos... Nascemos, crescemos, nos repetimos, morremos...não é coisa fácil de mudar, mas pode ser feita.

  “Cego está o mundo;
  Aqui somente uns poucos possuem percepção.
  Somente uns poucos,
  Qual pássaros fugindo do ninho,
  Indo para os reinos da felicidade”. – Dhammapada 13

  Cessação do Ciclo

  Cessação é o significado do mundo Nirvana. Vimos explicando que o Bhavachakra retrata os seis reinos do Samsara, sendo um daqueles chamado reino dos deuses. Muitos dizem que aquele é o Nirvana. Bem, de modo geral podemos dizer que os céus são Nirvanas, ainda que esse não seja o significado verdadeiro da palavra. Nirvana significa “cessação”. De quê? Do ciclo. Cessação do fluxo que produz o Samsara.

  Nirvana é também um estado do ser. Vemos que ambos são Bhava. Samsara é o Bhava condicionado pelo desejo. Não exatamente desejo por chocolate ou hamburgers, desejo de ir para a Tailândia ou o que mais o nosso desejo possa ser. Temos também desejo por segurança, apreciação ou por amor. Algumas vezes são egoísticos outras vezes não. Esses tipos de desejo criam o fluxo da satisfação ou da dor e os mais complicados problemas como das doenças que também estão enraizadas na nossa psicologia.

  Mudar nossas atitudes significa mudar o modo como recebemos percepções. Ao invés de respondê-las mecanicamente reagindo com nossos egos ou desejos, com nossos medos, ao invés disso, reagimos conscientemente com sabedoria a fim de vermos a verdade – a realidade num dado momento – então ao mantermos um cognizante ponto de vista ou uma consciente atitude causamos a cessação do  sofrimento. O sofrimento não é produzido.

  Por exemplo, se uma pessoa nos está dizendo: “eu odeio você, eu odeio você, eu odeio você”. Como responder? Estando normalmente como somos (ou seja: adormecidos, num estado de quase transe), ficaremos doidos tentando nos defender verbal ou fisicamente. Porém, estando realmente a prestar atenção, estando cônscios e cognizantes da pessoa, entenderemos que ela está dizendo isso porque está em sofrimento. Pessoas assim estão sofrendo, temos de ter compaixão, e suas palavras não nos irão ferir, então seremos capazes de manobrar com amor e paciência. Tenhamos habilidade de trabalhar com a causa de seus sofrimentos e ajuda-los. Isso é cessação. Está perfeitamente acurada ao uso da palavra “Nirvana”. É a cessação do sofrimento em nós e noutra pessoa.

  Agora naturalmente necessitamos dessa cessação em todas as coisas de nossas vidas. Necessitamos eliminar as causas de todo o nosso sofrimento de modo que a roda pare. Vimos explicando por essa vertente uma vez que temos tido o treinamento típico da religião onde nos foi dito que há um céu e há um inferno e o que estamos fazendo é o determinante ao que faremos ao morrer. O fato, porém, é que céu e inferno estão aqui exatamente agora. Não estão no futuro. Samsara e Nirvana são o nosso Bhava, nosso estado do ser. Nosso estado da consciência determina se estamos no Samsara ou Nirvana. Então em qual estado do ser você está imerso?

  “Aqueles que estão sofrendo e quem teme o sofrimento pensam do Nirvana como uma escapatória ou uma recompensa. Imaginam que o Nirvana consiste de uma futura aniquilação dos sentidos e dos sentidos da mente. Não entendem que a mente universal e o Nirvana são um e esse mundo de vida-e-morte e o Nirvana não devem ser entendidos como estando separados. Os que ignoram isso, ao invés de meditar na imagem de uma eternidade do Nirvana: que conversem sobre as diferentes vias da emancipação. Ao ignorar ou não compreender os ensinamentos do Tathagatas eles agarram-se à noção de que o Nirvana é algo fora daquilo visto pela mente, e, por conseguinte, vão girando ao longo da roda da vida e da morte”. – Buddha Shakyamuni, Lankavatara Sutra.

  São nossa atitude e presença conscientes que determinam com a força de vontade como recebermos tudo o que vemos dentro e fora. Se tivermos atitude de uma consciência desperta a estar recebendo impressões e as transformando a fim de nos beneficiar e a outros, então experienciaremos num momento, diretamente em nós próprios, a realidade do Nirvana. Não em futuro, mas agora mesmo. Isso é o que chamamos “céu”. É uma cessação na consciência. É uma perspectiva, um ponto de vista. O que estamos explanando foi afirmado de um belo modo por esse mestre Padmasambhava (notaram o final de seu nome? – Bhava). Ele disse:

  “Não há diferenças entre Samsara e Nirvana como não há entre o momento de estarmos inconscientes e conscientes, uma vez não estejamos iludidos pela percepção, mas consistentes”. – Padmasambhava, Liberation Through Seeing With Naked Awareness. 

  Samsara e Nirvana são experiências diferenciadas por nossa atitude (Bhava). A atitude do desejo de nosso ego, nosso ódio, luxúria, orgulho e medo é algo que se encontra justaposto àquela qualidade psicológica. Quando a luxúria está comandando nosso reino ela quer unicamente fruir de seus desejos a qualquer custo. Então estaremos no Samsara. Ao nos tornarmos cientes disso e nossa percepção esteja liberta dessa fixação naquela luxúria, podemos finalmente compreender que cada desejo só pode produzir sofrimento e depende unicamente de nós nos libertarmos dos desejos. Então o nirvana – a cessação – emerge. Essa conscientização não resolve nada imediatamente, mas é o começo.

  “A libertação ocorre naturalmente quando reconhecemos que pensamentos agregados são somente aderências mentais em suas próprias manifestações vazias” – Padmasambhava, Liberation Through Seeing With Naked Awareness.

  O que pensamos, o que fantasiamos ao projetarmos de nós mesmos e de outras pessoas na tela de nossa mente é tudo vazio, irreal. Não realizamos aquilo. Mesmo ao termos estudado essas filosofias continuamos com as projeções, imaginando que sabemos do que verdadeiramente não sabemos. Achamos que aquilo que projetamos de nossa mente seja real. Eis porque estamos em estado de sono. Somos sonhadores diurnos, sonâmbulos. Fantasiamos, não estamos vendo a realidade. Quando despertarmos a consciência poderemos então constatar que as projeções da mente, as histórias que contamos a nós próprios, as imagens que vemos umas sobre outras são exatamente ilusões – essas coisas não existem. No conhecimento limpo das projeções retiramos a consciência e a nós próprios do estado cíclico de percepções, que a isto podemos chamar “libertação”.

  A consciência vê a realidade. Ela diz: “o que estou fazendo? Estou repetindo essa cena do trabalho outra vez, outra e mais outra e tudo o que eu faço é gerar mais ressentimentos; tudo o que estou fazendo é estar gerando mais culpas de outros, mais justificativas para mim. É exato a minha mente...”.

  Infelizmente somos sonâmbulos. Ficamos ausentes por meio de nossa ilusão autogerada. Não nos damos conta de estarmos parados pela rua, sem calças, que de tão distraídos nem ao menos as vestimos. Ou como tendo estacionado o carro a 20 quadras onde supúnhamos seria ali que deveríamos estar. Ou termos tomado o ônibus errado. Fazemos coisas assim durante todo o tempo e pensamos que são engraçadas e sem importância: “eu não estava prestando atenção”. Não percebemos quão sérias essas coisas são. São extremamente sérias. A falta do vivermos o aqui e agora é precisamente o porquê de estarmos com tantos problemas neste planeta. Cada pessoa ao nosso redor anda também distraída. Todas. Não podemos puxá-las, não podemos nem mesmo trazer-nos a nós próprios à consciência exatamente porque não tentamos.

  Necessitamos dessa experiência, ou seja, vivermos em nós próprios a diferença entre Samsara e Nirvana. Vivermos o agora nesse momento pelo aprendizado, vendo as projeções através da mente naquilo que elas de fato sejam. E essa é a importância do Bhavachakra, desse ensinamento. Esse é o significado interior. Não importa que ao acreditarmos em céu seja para sempre, que o inferno seja para sempre, ou que existam demônios e anjos, ou não haja anjos, ou haja o bem e o não bem. 

  As crenças são irrelevantes. O que vale é nossas atitude de momento a momento, o como manobrar com a realidade – nossas perspectivas, o Bhava e o que a ele envolve. Nessa tradição não nos importamos sobre vocês acreditarem ou não em Deus. Queremos encorajá-los a acreditar em vocês mesmos, a acreditar em suas pessoais experiências e aprenderem a muda-las para melhor.

  “O homem livre da fé cega,
  Conhecedor do Incriado (Absoluto),
  Havendo se libertado de todas as amarras,
  Destruído a todas as causas (Nidanas),
  E lançado fora todos os seus desejos –
  Este, verdadeiramente,
  É um homem da melhor excelência”. – Dhammapada
Arcanum Ten
                                                                                            Figura 7

  Este símbolo do Bhavachakra está também presente noutras tradições. Uma referência interessante dele está no décimo Arcano do tarô; muitas pessoas conhecem o tarô, mas poucas entendem que o tarô codifica as mesmas leis encontradas em todas as tradições do mundo, especialmente no tantra.

  O décimo Arcano é chamado a roda do destino, retribuição... tem muitos nomes. Essa particular imagem mostra uma representação egípcia do ciclo de transmigração. O termo transmigração refere-se a como seres guiados pelo fluxo de suas ações e consequências daquelas ações, migram de mundo a mundo. Conseguimos experienciar isso em nossa própria vida bem como através de pessoas que conhecemos e nas coisas observadas. Pessoas a desempenhar ações nocivas inevitavelmente receberão as consequências daquelas ações e suas vidas se tornarão difíceis. Dependem de seus carmas e das condições presentes em suas vidas.

  Essa roda se movimenta em cada nível e em cada aspecto das coisas existentes. Ações benéficas produzem uma elevação, uma subida na roda, e ações nocivas causam a descida na roda. Nesta imagem do tarô vemos um ser a monitorar o lado que sobe e outro ser a monitorar o lado que desce. Isso é um grande ciclo da natureza que podemos chamar evolução e involução. É bastante simples o que observamos em toda parte na natureza. Tudo o que nasce, cresce e se desenvolve, atinge um auge, sustenta-se brevemente então decai e morre. Toda a natureza repete isso constantemente. Nossas ações não são diferentes. Tudo o que fazemos, tudo o que experienciamos está sujeito a esse ciclo. A diferença está em que na parte difícil para uma pessoa ali apreender, a roda não permanece naquele lugar.

  A roda é uma espiral. Por exemplo; nascemos e vivemos um pouco, então morremos. Não permanecemos num só lugar. Estamos em constante movimento. De um momento a outro nossas circunstâncias podem mudar dramaticamente. Se todas as nossas ações desempenhadas numa vida anterior estejam em rotação num determinado nível da natureza, a soma daquilo pode levar-nos a subir com a roda para outro nível ou a descer para outro nível. 

  Ao imaginarmos aquela roda girando como uma espiral e se elevando, são as nossas [boas] ações que nos causam elevar-nos cada vez mais alto. Se começarmos a nos desempenhar com ações nocivas começamos a descer. Daí a pensarmos: “não estou realizando nenhuma ação, estou fazendo todo o tipo de coisas o tempo inteiro. Fisicamente, emocionalmente e mentalmente estou fazendo coisas diferentes...”. Então precisamos fazer um balanço matemático de todo aquele material – das boas e más ações – e o resultado de tudo aquilo é o que conduz as ações para cima e para baixo. Começa então a complicar. Precisaremos adicionar aquilo a todas as pessoas com quem interagimos. A todos os grupos dos quais participamos: a família, lugares onde convivemos. As experiências precisam ser coletadas com eles... daí podermos ver como esta roda se torna tão complexa.

  Essas duas imagens nos dão mostras da vida. Sei parecerem simples. Usem de suas imaginações e tentem entender como aquilo representado nessa roda abrange cada ser existente... em como todos transmigraram de corpo para corpo por incontáveis eons... alguns subindo outros caindo...

  “Assim os enganados por ignorância, confusos por muitas fantasias, envoltos pelas malhas da ilusão, aprisionados pela gratificante luxúria, caem no interior do imundo inferno.

  “Presunção, arrogância, plenitude do orgulho, intoxicação por riquezas eles realizam sacrifícios em nome daquilo pela ostentação, ignorando a ordem.

  “Possuídos do egoísmo, poder, insolência, luxúria e ira – esses odeiam-Me (O Ser interior) em seus próprios corpos e aqueles em corpos alheios.

  “Esses maliciosos e cruéis adoradores do mal, os mais degradados dos homens, eu os arremesso diretamente ao interior do ventre dos Asuras [demônios], naqueles seus mundos.

  “Obtendo ventres Asurika e iludidos vidas após vidas, não se ligando a Mim, eles então decaem, Ó filho de Kunti, dentro de uma condição ainda mais inferior.

  “Triplo é aquele portal do inferno destruidor do ser: luxúria, ódio e ganância; assim uma pessoa deve desprezar a esses três.

  “O homem que permaneceu distante desses três portais da escuridão, Ó filho de Kunti, pratica o que é bom para ele próprio e vai em direção da Meta Suprema.

  “Esse que, se mantendo distante das orientações de Shâstra, agindo sob os impulsos do desejo, não se atém à perfeição, nem à felicidade, nem à Meta Suprema.

  “Então permita a Shâstra a autoridade no que deva ser exercido e no que não deva ser exercido. Entendido o que foi dito pelas orientações de Shâstra, deves atuar aqui”. – Krishna, O Bhagavad Gita.

  Vemos assim que fazendo as coisas direito podemos nos elevar para nos tornarmos buddhas, mestres. Ao fazermos coisas perniciosas nos tornamos demônios, diabos. Isso é verdadeiro em cada existência do ser.

  Interessante observarmos aqui que tudo disso é dependente do pequeno eixo no meio da roda. Tudo o que existe desdobra-se de três causas.

  As Três Forças

  Com frequência falamos sobre uma trindade na natureza. A maioria das religiões representa uma trindade para nós.

  - Cristianismo: Pai, Filho, Espírito Santo.
  - Induismo: Brahma, Vishnu, Shiva.
  - Budismo: Dharmakaya, Sambhogakaya, Nirmanakaya.       

  Entre as muitas religiões encontramos trindades. Na tradição gnóstica falamos do Logos, que tem três aspectos. Em hebreu é Kether, Chokmah e Binah.

  Há três triângulos na Árvore da Vida. O triângulo superior representa as três forças criadoras. Em todos os níveis das dimensões superiores junto ao Absoluto, por todo o caminho descendo aos infernos, todas as ações são produzidas pela união das três forças. Qualquer coisa que aconteça é decorrente da união das três forças a produzirem energia e uma consequência. Podem ser postos juntos uma mulher e um homem e nada será criado a menos que haja um terceiro fator: sexo. Podemos colocar combustível e ignição juntos, mas nada acontecerá a menos que as condições estejam certas: fósforos, madeira, papel. Necessitamos das três forças.

  - Positivo, força projetiva.
  - Receptivo, força negativa.
  - Conciliante, força equilibrante.

  Se quisermos criar ou destruir algo serão sempre requeridas três forças, três fatores. Essas três forças são usadas pelos deuses a fim de criar. Contrariamente essas mesmas forças são usadas pelos demônios a fim de destruir. Toda ação em qualquer nível requer a utilização das três forças. No centro do Bhavachakra vemos três animais. Publicamente, tradicionalmente, isso é explicado da seguinte forma:
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Figura 8

  - Um porco ou cachorro que representa a ignorância.
  - Uma serpente que representa a aversão.
  - Um pássaro que representa o desejo.

  Essas são as três forças modificadas por nossa perceptiva ilusão. Assim as forças combinadas criam o sofrimento.

  Conceitualmente é bastante simples e permitam-me ainda lembra-los de que a imagem anterior mostrou-nos cada coisa existente: cada ser, mundo, planeta, animal, universo, anjo, deus, planta, animal, micróbio, átomo... que giram nessa roda em função do eixo. Contudo essa roda não é simples. Mesmo os deuses estão sujeitos a ela.

  Quando entramos mais fundo podemos ver essas três forças constantemente influenciando tudo o que fazemos e de que não temos a percepção, sendo assim a causa do nosso sofrimento. Não somente pela falta da percepção, mas também como controlarmos algo que não vemos? Não podemos. Como realizarmos uma cirurgia se não conseguirmos ver o que estamos fazendo? Como salvarmos a vida de uma pessoa que esteja morrendo se não conseguirmos ver o mal ou a causa de seu sofrimento? Não podemos e se tentarmos provavelmente a mataremos ou tornaremos pior seu sofrimento. Esse é o nosso câncer, a nossa doença: esses três animais simbólicos. Para nos curarmos precisamos abrir os olhos.

  Na base de nossa psique o porco representa a ignorância fundamental, a falta do conhecimento de nossa verdadeira natureza. O porco foi escolhido para representar isso porque um porco é estúpido. Sabemos que hoje em dia as pessoas pensam que os porcos são espertos e podem fazer artimanhas, etc., mas porcos dormem nos lugares mais sujos e comem qualquer coisa que lhes seja dada. Se lhes dermos pneus eles os comerão. Comem refugos, lixo, coisas poluídas. Se cairmos em seu curral eles nos comerão (sim, tem acontecido). Eles não se importam. Razão pela qual porcos representam a ignorância. Possuímos isso como base de nossa iludida psique; trazemos muito lixo ao interior de nossa mente sem qualquer tipo de discernimento. Psicologicamente somos porcos.

  Essa ignorância é da falta de um conhecimento de nossa mais profunda divindade – a falta do saber de que trazemos em nosso íntimo uma natureza búdica, um bhava, uma natureza interior que pode tornar-se num buddha, num deus, numa divindade. Nós possuímos essa natureza interior, mas a estamos enterrando no lixo, no vômito e em toda a sujeira desse mundo e alegremente os ingerimos, incluindo a sujeira de nossa mente sem qualquer discernimento. Estamos sonambúlicos e não conhecemos o que possuímos.

  A serpente representa a característica da aversão, também chamada ódio. Se observarmos o ódio veremos que é algo que afasta, uma forma de aversão. Em realidade não é uma aversão contra outros, mas contra coisas que a ignorância não quer. Por exemplo: há pessoas que ao escutar essa palestra terão uma série de aversões às coisas que estamos dizendo. Elas não querem ouvir. Não queremos ouvir a verdade. Queremos pensar que todas as coisas estão indo bem e Deus estará descendo das nuvens para dizer-nos: “bênçãos a vocês todos minhas crianças, tudo o que vocês têm feito será perdoado, venham para o paraíso comigo e estaremos vivendo um grande momento”.

  A vida não funciona dessa maneira. Nunca foi assim nem jamais será. Não queremos ouvir isso porque temos grande aversão pela verdade. Temos aversão em ter de limpar nossa bagunça. Queremos que alguém faça isso para nós, que alguma divindade a descarte. Não queremos limpar nossos vômitos e sujeiras. Queremos exatamente ignorar todas essas coisas. Vejam como ignorância e aversão andam de mãos dadas.

  A terceira é o pássaro que representa o desejo, a sede, o apego. Esse apego é no sentido de todas as projeções que detemos em nós próprios. “Sou assim e assim” e “eu estava errado, mas se justifica pela maneira como sou”. São todas mentiras. Tudo são ânsias por uma falsa identidade. É nossa cantilena psicológica que cantamos para nós próprios sobre quanto sofrimento e quantas dores temos. “Ninguém me entende”. É nesse patamar que se encontra o desejo.

  Disse o Abençoado: “E qual desejo é o mais fascinante que fluiu, se espalhou e pegou, com o qual este mundo é sufocado e envolvido como um novelo emaranhado, uma bola atada, como juncos e juncos emaranhados e que não vai além da transmigração, além dos planos de privações, angústias e maus destinos? Essas dezoito coisas consideradas pelo desejo, dependem do que seja interior e dezoito coisas consideradas pelo desejo dependem do que seja exterior.

  “E quais são as dezoito coisas consideradas pelo desejo dependentes do que seja interior?

  1.  Havendo o Eu sou, segue-se o,
  2.  Eu estou aqui,
  3.  Eu sou assim,
  4.  Eu sou diferente,
  5.  Eu sou mau,
  6.  Eu sou bom,
  7.  Eu posso ser,
  8.  Eu posso estar aqui,
  9.  Eu posso ser assim,
 10.Eu posso estar, no entanto,
 11.Possa eu estar,
 12.Possa eu estar aqui,
 13.Possa eu ser assim,
 14.Possa eu ser diferente,
 15.Eu serei,
 16.Eu estarei aqui,
 17.Eu serei assim,
 18.Eu serei, no entanto.

  Essas são, portanto, as dezoito coisas consideradas pelo desejo dependentes do que seja interior”.

  “E quais são as dezoito coisas consideradas pelo desejo dependentes do que seja exterior?

  1. Eu sou devido a isto (ou por meio disto), então vem:
  2. Eu estou aqui devido a isto,
  3. Eu sou assim devido a isto,
  4. Eu sou diferente devido a isto,
  5. Eu sou mau devido a isto,
  6. Eu sou bom devido a isto,
  7. Eu posso estar devido a isto,
  8. Eu posso estar aqui devido a isto,
  9. Eu posso estar assim devido a isto,
 10.Eu posso estar, no entanto, devido a isto,
 11.Possa eu estar devido a isto,
 12.Possa eu estar aqui devido a isto,
 13.Possa eu ser assim devido a isto,
 14.Possa eu ser, no entanto, devido a isto,
 15.Eu serei devido a isto,
 16.Eu estarei aqui devido a isto,
 17.Eu serei assim devido a isto,
 18.Eu serei, no entanto, devido a isto”.
Buddha Shakyamuni, Tanha Sutta.

  Nessa base todo desejo está sob nosso falso sentido do eu. Aqueles três fatores afetam cada simples instinto uma vez não sejamos cônscios disso. Estamos sempre a desejar e a buscar coisas que nos façam sentir seguros e bem, e a evitar coisas que nos façam sentir mal, vacilantes e envergonhados de nós próprios – e dessas – duas dependem daquela ignorância fundamental da verdade.

  “Monges, essas três são as causas originantes das ações. Quais três? Desejo é uma causa originante das ações. Aversão é uma causa originante das ações. Ignorância é uma causa originante das ações.

  “Qualquer ação desempenhada com desejo – nascida do desejo, causada pelo desejo, originada do desejo: onde quer o indivíduo a exteriorize – aquela ação ali frutificará. Onde a ação amadureça ali o homem experienciará de seu fruto, seja no exato momento em que aquilo aconteça ou mais adiante na sua sequência.

  “Qualquer ação desempenhada com aversão – nascida da aversão, causada pela aversão, originada da aversão: onde quer o indivíduo a exteriorize – aquela ação ali frutificará. Onde a ação amadureça ali o homem experienciará de seu fruto, seja no exato momento em que aquilo aconteça ou mais adiante na sua sequência.

  “Qualquer ação desempenhada com ignorância – nascida da ilusão, causada pela ignorância, originada da ignorância: onde quer o indivíduo a exteriorize – aquela ação ali frutificará. Onde a ação amadureça ali o homem experienciará de seu fruto, seja no exato momento em que aquilo aconteça ou mais adiante na sua sequência.

  “Exatamente quando as sementes não se partem, não apodrecem, não se prejudicam pelo vento e calor, estando capazes de brotar, estando bem cobertas na terra, plantadas em solos bem preparados, é onde a deusa-chuva oferece boas corredeiras da água. Essas sementes virão então a crescer e a produzir-se em abundância. Do mesmo modo, qualquer ação desempenhada com desejo, desempenhada com aversão, desempenhada com ignorância – nascida da ignorância, causada da ignorância, originada da ignorância onde quer o indivíduo a exteriorize, ali o homem experienciará de seu fruto, seja no exato momento em que aquilo aconteça ou mais adiante na sua sequência.

  “Estas são as três causas originantes das ações...” – Bhudda Shakyamni, Nidana Sutta.

  Esse é o ensinamento dado publicamente, profundo e difícil de apreender: sentir o desejo, a aversão e a ignorância a cada momento em cada ação, e estancar a facilidade em produzirmos nosso sofrimento. Se quisermos ir mais fundo nisso então podemos também olhar e ver que essas três causas estão relacionadas com os três cérebros, com o corpo protoplasmático, etc. E em nível ainda mais profundo estão relacionadas com as três gunas. Mesmo alguém que sendo um deus, que tenha eliminado grande percentagem do ego, que tenha edificado a alma e que viva nos nirvanas, sofre, uma vez que essas três raízes estão ainda presentes nele. Não pensemos que por estarmos estudando a gnose há umas poucas semanas ou anos a tenhamos sob total controle, pois mesmo os deuses no Nirvana não a tem sob total controle. É importante compreendermos isso porque as três forças criam.
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  Figura 9

  O triângulo mais abaixo está relacionado conosco no aqui e agora. Aqui estamos em corpo físico, que nele temos:

  - Energia (o corpo vital) Yesod.
  - Emoções (o aspecto astral) Hod
  - Pensamentos (o aspecto mental) Netzach.

  Energia, pensamentos, emoções (três forças), ponhamo-los juntos e podemos mudar o mundo para o bem ou para o mal. A diferença é determinada pelo Bhava. Energia, emoções e pensamentos, Gandhi uniu essas três forças nele mesmo e mudou um continente. Hitler fez o mesmo. Cada um pôs energia em movimento: a força dos três. Como usarmos isso? Em que resultará do uso dessas três forças em nós próprios?

  Falando espiritualmente há:

  - O corpo causal (força de vontade) Tiphereth.
  - O corpo búdico (consciência, corpo espiritual) Geburah.
  - O corpo átmico (espírito) Geburah / Chesed.

  Se esses três estiverem unidos nos tornamos um Cristo, um ser cristificado, um mestre muito elevado. A partir desse Bhava podemos mudar mundos mesmo em níveis superiores.

  Além desses há:

  - Kether: Darmakaya.
  - Chokmah: Sambhogakaya.
  - Binah: Nirmanakaya.

  Com esses três nos tornamos um mestre ressurrecto autorrealizado, um dos mais elevados tipos de seres existentes, como Jesus, um ser tão puro que se torna incompreensível a nós. Com esse Bhava alguém pode criar universos. Um só poder pode influenciar incontáveis seres. Cada um desses níveis do Ser, níveis do Bhava, depende das três forças.

  Aquelas forças em nós que agem de modo nocivo devem ser convertidas em forças benéficas. Pensemos sobre isso. Pensemos no que ocorrerá se transformarmos nossa ignorância em conhecimento. Por conhecimento não significamos literatura, mas gnose que em sânscrito é chamada Jna. Em tibetano é chamada Rigpa. É a luz deste momento. É conhecimento experiencial de uma consciência desperta aqui e agora que vê a realidade, que não está confusa, que não está num estado de ignorância, mas num estado de conhecimento de onde vê a verdade.

  No exemplo dado da pessoa com ódio podemos depreender que seu ódio se encontra num estado de sofrimento. Por que seríamos malucos a ponto de respondermos com ódio a uma pessoa em estado de sofrimento? Isso seria realmente maluquice. Se alguém está em sofrimento devemos respondê-la com doçura, bondade, gentileza e com atitude de aliviá-la. Toma-nos conhecimento fazermos assim. Seria como este porco em nós tornar-se convertido a algo que não fosse animal, porém humano.

  Do mesmo modo ao invés de aversão a coisas, e a desejo de coisas, tenhamos equanimidade. Devemos ver as coisas conforme elas são, nem com desejo nem com aversão, mas com equilíbrio; sermos capazes de agir quando necessário agirmos e de pausar quando necessário pausarmos.

  “Numa pessoa sem conhecimento as ações por ela desempenhadas nascidas do desejo, nascidas da aversão e nascidas da ignorância, sejam muitas ou poucas, são experienciadas exatamente aqui; não em outro lugar.

  “Assim uma pessoa desviando-se dos desejos, aversões e ignorância; crescendo no claro conhecimento, ela lança fora todas as más destinações” – Buddha Shakyamuni, Nidana Sutta.

  As três forças são psicológicas. Quando libertadas do desejo, aversão e ignorância são as qualidades que Buddha tem. Ao invés da ignorância da natureza própria, um buddha detém conhecimento da natureza própria de Buddha Shakyamuni, Nidana Sutta e como tal pode ver a verdade. Esse estado proporciona conhecimento até mesmo de pequenas coisas, como saber quando falar e quando não falar. Soa simples, porém fazer isso não é tão simples para nós uma vez que somos sonâmbulos.

  Eis porque necessitamos ver o círculo exatamente fora daquele eixo mais interior da roda – o círculo do carma. No centro estão aquelas três forças: desejo, aversão e ignorância. Uma vez estejam as três prevalecendo em nossa psique de momento a momento, ao comando de nosso reino, então ali estão os três traidores de nosso reino psicológico:

  - O demônio da mente: Pilatos.
  - O demônio do coração: Caifás.
  - O demônio do desejo: Judas.

  Esses três traidores fazem parecer que todas as ações de que nos desempenhamos nos beneficiam. Esses três filhos de Mara iludem-nos enaltecendo os sentidos do ego, gratificando-nos em nossos desejos. À medida que bem os servimos, nossas ações nos criam mais e mais sofrimentos. Samsara.

  Por outro lado se convertermos aquelas três forças de momento a momento em consciente conhecimento e sabendo quando agir e quando não agir, então aquelas ações, sejam físicas, mentais ou emocionais causarão benefícios e cresceremos elevando nosso nível do ser, nos tornando mais e mais puros, mais e mais instruídos, mais e mais socorristas. Um ótimo ser. Tudo isso está sintetizado ou delineado para ver-se aqui no Bhavachakra nesses seis reinos.
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Figuras 10 e 11

  Esta é a runa Hagal. Demos um curso sobre as runas. A runa Hagal é runa raiz, a raiz símbolo de todas as demais runas. Para lembrá-los, as runas não provieram exatamente dos nórdicos. Essa runa em particular pode ser encontrada em todas as partes do mundo. Está oculta nos caracteres chineses e japoneses, no calendário asteca, em todos os lugares. A runa Hagel é haaaaaaa, a respiração primordial que emerge do Absoluto. É o começo da criação.

  O que vemos nessa Hagal? Claramente define e organiza seis espaços. Não se vê que aqueles seis espaços estão definidos por três linhas, três forças que estão cruzadas? São as três forças: projetiva, receptiva, harmonizante. É um símbolo muito profundo ali oculto em plena vista.

                                                                                       Indecisão.
Arcanum Six
                                                                                         Figura 12

  Esses seis reinos também se relacionam com o sexto Arcano no tarô. No sexto Arcano vemos uma alma parada diante de duas mulheres. A pessoa representa vocês e eu. Metade de seu corpo está nas águas escuras, significando estar no Samsara. Seus pés estão submersos. Ela está entre dois mundos. Está confusa uma vez que seu corpo está virado para um caminho e sua cabeça está virada para outro caminho. Ela não é consistente e está se contradizendo. Pior, está olhando para trás, para uma mulher sedutora. Na Bíblia a sedutora é chamada a grande prostituta, Babilonia, Jezebel, Lilith, Dalila, a meretriz que oferece muitas promessas de prazeres sensuais, satisfação, segurança, tecnologia, todas as coisas que queiramos. Visto a pessoa estar confusa por aquela imagem ela não vê uma direção diante dela, que é sua própria Mãe Divina, a natureza, a realidade da natureza.

  No induismo e budismo a Mãe tem muitos nomes, mas aquele mais importante é मय Maia. A maioria das pessoas no oeste que teve maus ensinamentos sobre o antigo misticismo foi ensinada que Maia significa unicamente “ilusão”. Pode significar isso, porém literalmente o termo Maia significa “não é”. Por quê? Ela não é as doze Nidanas. Lembrem-se que eu expliquei sobre as doze Nidanas dizendo:

  Este é porque aquele é. Este não é porque aquele não é. Este cessa de ser porque aquele cessa de ser”. Ela é “não é”. Ela não está limitada pelas doze Nidanas. Ela não é limitada pelos seis reinos. Ela não é limitada pelas três forças, porque ela é as três forças. Ela é as três Gunas. Ela é Prakriti. Ela é Svabhava, a derradeira natureza inerente de todas as coisas”. Notemos que Maia मय é a exata oposição de Yama यम. Ela é o Absoluto. Ele é a manifestação que emerge dela. Eles são duas partes do mesmo fenômeno.

  O homem representado no sexto Arcano não A vê. Ele é “nós”. Queremos ir em direção da luz, mas queremos levar nosso iPod. Queremos levar nossa TV, nosso carro, esposa e filhos. Queremos levar aquele equipamento novíssimo acabado de comprar e todas as coisas de que estamos seduzidos materialmente, fisicamente, intelectualmente e emocionalmente. Temos um monte de apegos às coisas que nos causam sofrimento, porque elas sustentam nossa ignorância da realidade. Eis porque os seres sentam-se sobre a seta do carma.

  Na maioria dos casos ao estudar a roda, as pessoas pensam unicamente nas relações com as coisas externas. Pensam nos deuses nos mundos dos deuses, nos semideuses nos mundos dos semideuses e nelas próprias no seu reino humano. É tudo verdade falando relativamente, mas aquele ponto de vista é superficial. Há mais acerca disso. Agora é tempo de adentrarmos mais profundamente a fim de entendermos que desse modo há mais importância e maior significado no que precisamos abraçar, compreender e meditar.

  Os Seis Reinos:

  - Deuses (no sânscrito: Devas).
  - Semideuses (no sânscrito: Asura).
  - Humanos (no sânscrito: Manusya).
  - Animais (no sânscrito: Tiryagyoni).
  - Hungry Ghosts (no sânscrito: Fantasmas Famintos).
  - Infernos (no sânscrito: Naraka).

  Todos os que estudam isso imediatamente pensam: “Eu estou no reino humano então não preciso me preocupar. Estou bem”. Revisemos isso olhando a partir de nossa própria experiência. Vamos refletir sobre aquilo que conhecemos e sobre o que conseguimos ver.

  Pode ser verdade que existam deuses no mundo dos deuses, e dai? Pode ser verdade que se eu fizer coisas boas talvez eu vá para o mundo dos deuses. Okay, talvez. Falemos do que está acontecendo exatamente agora naquilo que agora podemos ver; então iremos mais fundo.

  Quem são os deuses? Se tomarmos esse ensinamento e o aplicarmos naquilo que saibamos perceber, poderemos ver quem são os deuses. Tradicionalmente deuses e devas são descritos como uma classe de seres que tem tudo o que alguém possa querer: beleza, poder, admiração e respeito. Podem ter qualquer coisa material que possam desejar. Eles têm de todo alimento, de toda riqueza; controlam vastas economias; têm pessoas que os veneram e os servem; têm qualquer coisa que queiram com o estalar dos dedos, e tudo o que fazem com todas essas coisas é perseguir distrações sem sentido durante todo o tempo. Realmente estão sempre aborrecidos. Só fazem procurar coisas estúpidas: jogos, colecionar coisas; possuem valiosas e belas joias, fábricas; e conseguem quaisquer tipos de prazeres sensuais que busquem.

  Quem são os semideuses? Tradicionalmente são mencionados como menos poderosos que os deuses: não com tantas riquezas e poderes. Assim os semideuses são muito invejosos e querem o que os deuses possuem. Os semideuses na mitologia grega são chamados Titans. Por ciúmes e invejas os semideuses querem o que os deuses têm, estando sempre a declarar-lhes guerras. Se por um lado tentam ser amigos dos deuses por outro lado fazem-lhes guerras. Estão sempre a jogar uns contra os outros, criando conflitos e muitas outras coisas confusas, porém saem sempre perdendo. Com suas arrogâncias acham repetidamente poderem conquistar os deuses.

  Quem são os humanos? Tradicionalmente humanos são ditos aqueles que sofrem nascimento, doença, frio, calor, fraqueza e inabilidade por estar sob seu próprio e pessoal comando. Sofrem muito de fome e sede, mas detêm relativo grau de liberdade. Podem ouvir sobre ensinamentos e anseiam realizar os ensinamentos sobre libertação. Os humanos se dizem estar em melhor situação que os deuses e semideuses, os quais não querem ser libertados. Os seres humanos têm sofrimentos, porém não possuem potencial para mudar isso. Os deuses não se incomodam sobre libertação. Afinal por que haveriam de querer libertar-se? Eles possuem tudo o que querem. Libertar-se de quê? De suas pedras preciosas, joias e palácios? Por quê? Não têm interesse. E os semideuses somente querem o que os deuses possuem.

  Animais é dita aquela classe que sofre nas mãos de humanos. Animais são aqueles ignorantes, estúpidos, sempre sofrendo mais que os humanos pela fome, sede, intempérie e sendo comidos não somente pelos humanos, mas também pelos outros animais.

  Estão sujeitos aos males e doenças e não podem fazer nada em seu favor. Os humanos os escravizam e os forçam a labores pelo resto de suas vidas. Os humanos os colocam em lugares que são cultivados exatamente para serem comidos. Os animais passam por inacreditáveis sofrimentos não podendo fazer nada contra isso e sem poderem praticar o Dharma. Sofrem, sofrem, sofrem e morrem. Nascem novamente e sofrem bem mais.

  Fantasmas Famintos sofrem mais que animais. Estão sempre com desejos, sempre com medos e sempre fugindo. São famintos porque nunca estão satisfeitos. Veem a coisa que desejam e estando com muita fome e sede se lançam para comê-la, mas dolorosamente descobrem ser a coisa exatamente uma ilusão, uma miragem daquilo que não estava ali. Então veem um buffet de comida a disposição, lançando-se na sua direção com a fome crescendo e a boca salivando, mas chegando lá nada existe. Fizeram grande esforço para alcança-lo e não havia nada, e na ocasião ao conseguirem segurar algo para beber e se refrescar, aquilo termina ardendo-os e nunca conseguem satisfazer suas sedes. Sofrem mais que todos os outros seres.

  Abaixo daqueles estão os infernos. Nos infernos encontramos todos esses tipos de seres que exauriram as causas que antes os levaram aos reinos mais elevados. A energia que estava armazenada naqueles reinos foi exaurida e devido àqueles seres não terem se esforçado para se libertar da roda, foram então trazidos de volta para baixo, atraídos pelas ações nocivas que ainda não haviam sido resgatadas. Ali sofrem as consequências de suas más ações. Dizem existir dezoito infernos segundo a filosofia budista, e diferentes números segundo outras tradições; algumas dizem nove, outras dizem centenas. Os infernos representam lugares para onde vão os seres que não fizeram nada de bom e precisam pagar seus débitos com sofrimento pelas consequências de suas más ações.

  Os Seis Reinos em Malkuth

  Externamente, no mundo físico, não estamos a ver agora esses seres em nossas vidas? De minha perspectiva os deuses são celebridades, políticos e pessoas ricas que possuem tudo fisicamente, terrenamente e não têm interesse no Dharma. São a menor fração da população deste planeta, porém detêm controle das riquezas e poder.

  Abaixo deles estão os semideuses, aquelas pessoas que têm algum dinheiro ou status, mas são de tal modo invejosos das pessoas ricas que os colocam em constantes ações judiciais ou guerras nas tentativas de obter mais riquezas e poder. Não se importam pelos seus Dharmas nem por ninguém, exceto por eles próprios. Existem mais semideuses que deuses, porém são ainda muito poucos em número.

  Que mais sobre os humanos? Nessa tradição temos explicado que um humano real é alguém que criou a sua alma. Alguém que não é um animal. São muito poucos neste planeta. Verdadeiros seres humanos são aqueles que se encontram aprisionados entre os mundos superior e inferior, mas que trabalham a fim de se libertar de tudo isso.

  A maioria dos “seres humanos” neste planeta não sabe nada sobre libertação. Realmente somos todos animais. Na verdade quando olhamos para nossas vidas podemos ver que somos animais controlados por forças que não podemos muda-las, sejam: culturais, políticas, econômicas; forças que nos empurram de um lugar para outro. Temos de trabalhar constantemente e estamos escravizados pelos seres que detêm poder. Não possuímos liberdade. Ao invés tudo o que fazemos é ajuda-los a obter mais dinheiro e poder. Eles nos controlam para trabalharmos mais e mais e no final não ganhamos nada. O que em geral comemos está envenenado e nos faz mal. Não podemos mais obter alimento puro neste planeta. Não podemos conseguir água ou ar limpos. Está tudo poluído por causa das guerras entre deuses e semideuses. Pior, somos enviados a lutar naquelas guerras, morrendo por ideais e conceitos que ocultam a verdade: guerras são sobre dinheiro e poder e nada disso jamais é dado aos animais. Nós somos os animais. Somos guiados por nossos instintos.

  Está estabelecido na tradição que:

  - Os deuses são governados por apegos.
  - Os semideuses por invejas.
  - Os humanos por paixões e luxúria.
  - Os animais por agressões, instinto e medo.
  - Os fantasmas famintos por sede e gula.
  - Os infernos por tudo o que seja negativo.

  Sem dúvida que estamos entre essas classes mais baixas. Estamos todos ao nível animal. Desculpem-me eu não disse isso como um insulto, mas realmente, se analisarmos nossas mentes e ao modo em como as pessoas se comportam agora neste planeta, nos comportamos feito animais. Não nos comportamos como seres humanos. Seres humanos são gentis, bondosos e alguns que se lembram de Deus agem em benefício de todos. Animais somente procuram sobreviver. Os animais são governados pelos instintos, luxúria, raiva e inveja. Essa população humana ainda não é humana. Ainda mais as pessoas que são fantasmas famintos. Essas são pessoas que estão sofrendo bem mais que meros animais.

  Fantasmas famintos em verdade não têm nada. Esses seres são em média 90-95% da população mundial. Aqueles de nós que vivem em países do primeiro mundo que têm certa quantia de dinheiro no banco são a pequena minoria que compra muito mais coisas agradáveis do que alimentos e necessidades básicas. Outros que forem capazes de obter as coisas que basicamente necessitam, estão na exceção. A maioria das pessoas neste planeta não pode e tem de viver diariamente sem obtê-las. A maioria está na categoria de fantasmas famintos; vai dormir com fome e acorda com fome. Pessoas que querem algo para comer se lançam para obter, mas aquilo não lhe vem. É caro demais. Está envenenado. Não conseguem água limpa, alimento limpo; tudo está envenenado e sem ter conseguido roupas têm de continuar sem as coisas. A maioria deles tem uma camisa, um par de calças e um par de sapatos. Não tem um armário cheio, essa maioria das pessoas. Eles realmente não têm tempo ou interesse no Dharma, na gnose, pois unicamente pensam em sobreviver e ter mais um dia de vida. Muitos deles desistem de tudo. Grande percentagem dessa população terrena está incluída nesse nível. São chamados fantasmas famintos. São fantasmas porque nada despertaram intimamente. São fantasmas. Em hebreu são chamados klipa, “conchas vazias”.

  Finalmente há os seres nos infernos mais profundos. É doloroso falarmos sobre isso uma vez que a maioria das pessoas neste planeta já está submersa no inferno. Elas já estão diariamente sob a ameaça da morte. Parecem estar cada vez piores. Vão a ondas, levantam-se e decaem intensificando-se, parecendo piorar ao decurso das décadas e anos. Há mais lugares no mundo sob ameaça da violência do que havia antes, não sendo violência leve, porém extrema violência e não somente entre uns e outros, mas também da natureza. Todas as pessoas testemunham a violência da natureza. Isso é cármico. Os cientistas recusam-se admitir uma vez que querem colocar tudo em termos que nos isentem de qualquer responsabilidade. Não obstante tudo o que acontece tem uma causa e todas as causas têm lugar em nossa psique.

  Mais e mais pessoas estão sendo objeto dos níveis do inferno onde o carma deve ser resgatado. Estamos resgatando. Cada ser está sujeito a isso e todos os seres são afetados.

  Os Seis Reinos Em Nós Próprios

  O modo mais eloquente de compreendermos o Bhavachakra é vermos que tudo disso está em nossa mente. Todos nós em algum momento de nossa pessoal caminhada experienciaremos esses aspectos da existência. Talvez não seja num modo muito dramático, mas de algum outro modo. Podemos subitamente nos encontrar em alguma situação em que sejamos tratados como um deus. Todos nos respeitando, cada um fazendo o que queiramos e tenhamos tudo o que desejarmos. Isso talvez não dure muito tempo, mas sem dúvida iremos adorar e iremos querer que continue, e quando acabar sofreremos incrivelmente. É muito comum experienciarmos a posição de um semideus em que tenhamos algum grau de poder e conforto, onde lutaremos, mentiremos e trapacearemos para obter mais. Também podemos experienciar tempos em nossas vidas em que nos sentiremos como um animal e outros tempos como um fantasma faminto.

  Esses elementos estão presentes não somente na continuidade de nossas experiências, mas também no conteúdo de nossa psique. Possuímos também elementos psicológicos que correspondem a todos aqueles aspectos. Cada um de nós tem egos de orgulho que nos fazem considerar sermos um deus. Todos nós os temos. Todos temos egos que estão com atitude do Bhava dos semideuses; egos de densas invejas que querem o que é dos outros e cometerão crimes para consegui-lo. Temos tudo isso. Todos temos egos que são chamados humanos que desejam obter e querem alguma forma de religião mesmo que seja para dar-nos conforto; queremos alguma segurança e algum sentido que nos direcione para aquilo que, no final, estejamos bem. Naturalmente todos temos os animais da luxúria, do orgulho, do ódio, do medo, da inveja, da preguiça e temos o ego do fantasma faminto, mas todos eles estão nos infernos. Para ser franco necessitamos mudar. O modo como fazer isso é aprendendo a dar a volta nesse fluxo. Conforme vimos explanando, as três forças que operam através de nós, através dos três cérebros – o corpo, o coração e a mente – e através dos sistemas nervosos e de nossos três corpos internos, podem ser utilizados para criar a cessação do sofrimento. O modo de fazermos isso é estarmos presentes aqui e agora por todo o tempo e transformar o nosso Bhava.

  “Evitar todo mal, cultivar o bem e clarear a mente – esse é o ensinamento dos Buddhas”. Dhammapada

  Vemos que Samsara significa “fluir”. Os fluxos através dessa roda onde todos nós estamos circulando entre uma vida e outra são constantemente dirigidos pelas forças que nós próprios pomos em movimento, e tais fluxos podem ser desfeitos se no eixo convertermos essas três forças numa energia benéfica. Sintetizamos isso da seguinte forma:

  - Nascimento
  - Morte
  - Sacrifício

  Eis como essas três forças no centro do anel podem, contrariamente, causar a essa roda mudar o sentido do giro para cima, numa espiral direcionada a níveis mais elevados do ser. É muito simples. Shantideva apontou para Bodhicharyavatara:

  “Todo sofrimento vem de servirmos a nós próprios e toda a felicidade vem de servirmos a outros”. Isso é Bhava. Essa é a atitude de um Bodhisattva.

  Os Bodhisattvas

  Na pintura do Bhavachakra, os Bodhisattvas são mostrados sobre a roda, no espaço. Notaram que daquelas seis classes de seres não falamos sobre os Bodhisattvas? Isso porque os Bodhisattvas escaparam da roda. Eles experienciaram o Nirvana, a cessação. Por Bodhisattvas significamos aqueles que eliminaram completamente o ego. Eles são os mais elevados mestres. Podemos chama-los deuses, mas não são deuses que vivem nos níveis nirvânicos, no Samsara. Esses, os deuses que vivem nos seis reinos são comandados. Eles são deuses tentadores possuidores de grandes poderes e grande beleza. A qualquer um que deseje escapar da roda eles dizem: “Por que você quer partir? Olhe tudo o que você tem. Venha juntar-se a nós, é muito compensador. Todos o amarão e você terá tudo o que realmente quis. Será completamente feliz. Por que desejar subir ao Absoluto? Não há nada lá. É vazio...” Verdadeiramente é vazio. Vazio de sofrimento. Pleno de liberdade. Vazio de dominação. Vazio de ignorância. Vazio de dor.

  Então os Bodhisattvas que superaram a tentação dos deuses e buscaram aquelas alturas, sabem o que eles fizeram? Renunciaram àquilo. Escaparam da roda, eliminaram todos os seus desejos, mas converteram aquelas três forças puramente para benefício de outros. Eles não mais produzem sofrimentos a si próprios e nem aos outros. Não estão mais acorrentados pelos doze Nidanas. Não estão mais ao alcance de Yama; escaparam completamente da roda e indo ao Absoluto dizem: “sim, é muito bom aqui, mas olhe para aqueles que sofrem...”. Então renunciam e voltam para ajudar todos aqueles que estão em sofrimento na ignorância.

  Eis porque ao olharmos os muitos gráficos nos templos veremos Bodhisattvas em cada um dos seis reinos a ensinar o Dharma. Como pode alguém fazer isso? A nós é inconcebível que um ser possa escapar de todo o sofrimento da existência e então de boa vontade retorne para ser cercado por ele. Alguém tem uma ideia por que fazem isso? Amor.

  Pode alguém pensar em algo melhor do que estar naquele nível do ser? Ser aquilo puro, ter aquilo como seu Bhava, seu modo de ser? Puro amor. Sem ego. Ser puro amor para outros seres e auto sacrificar-se, sacrificar tudo para ajuda-los a sair do sofrimento, para verem a realidade, a transformarem-se? Eis o que os Bodhisattvas fazem. E eis porque eu penso que esta palestra seria boa para conversarmos.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

  1. P. – Há deuses, e o que constituem seus níveis do ser?

  R. – Sim, há deuses. Os deuses que vivem naqueles níveis não se importam nem um pouco conosco. Pelo termo deuses essa é uma palavra relativa. Significa não estarmos nos referindo a um Deus, ao qual traduzimos como o Absoluto. Não nos referimos a Brahma, Vishnu e Shiva. Não é ao que estamos nos referindo. Por “deuses” aqui, colocando termos ocidentais, podemos dizê-los anjos, arcanjos, a exemplo de deuses menores de outras tradições e mitologias juntamente com muitos outros deuses. Seriam os deuses menores e não os deuses maiores. Os deuses maiores em qualquer tipo hierárquico de religiões representam arquétipos, aspectos de nosso próprio Ser. Por exemplo: Jesus é um mestre, um deus. Ele representa Cristo, que é um arquétipo em nós ao qual precisamos desenvolvê-lo. Moisés é isso também. Odin é isso, Buda nele mesmo é isso. Ele é um grande deus, porém não é um desses deuses nesse reino. Os deuses, dos quais aqui estamos falando possuem muitos níveis. Eis porque eu mostrei a imagem da Árvore da Vida. Ela entra em mais detalhes do que faz o Bhavachakra.

  Na Árvore da Vida vemos que os céus ali representados têm nove níveis, alguns dizem sete, alguns dizem nove, alguns dizem mais que nove. Em todos aqueles níveis há diferentes patamares e classes de deuses: Pratyekabuddhas, Shravakayanas... há Buddhas elementais e diferentes tipos de anjos em todos os níveis, desde os mais simples que não estão bem desenvolvidos aos deuses altamente desenvolvidos, porém de forma alguma eles permanecem escravizados ou subordinados a comandos.

  Os deuses são necessários. Eles formam a hierarquia celestial e desempenham papel importante na presente existência. Vemos que da boca de Yama emergem os mundos e o primeiro que aqui emerge são os céus. Da mesma maneira a Árvore da Vida, pois do Absoluto emerge Kether, Chokmah e Binah. Esses são o Atziluth. Dai que aqueles arquétipos (Atziluth) se tornam Briah, Yetzirah e Assiah. Esse desdobramento é um processo no qual os deuses fazem tudo aquilo acontecer e a tudo sustentam. Os deuses são necessários. Entretanto eles não estão plenamente desenvolvidos. Há deuses em diferentes níveis que estão a desempenhar suas tarefas e permanecem ligados àquelas circunstâncias.

  Lá pode existir Buddhas elementais que são puros, mas que não têm corpos solares. Eles podem ter corpos astral, mental e causal; e podem ter esses corpos desenvolvidos. E uma vez tenham corpo causal são chamados Pratyekas. Há seres que desenvolveram a alma, mas não eliminaram todo o ego, não entraram no caminho do Bodhisattva, estando na via da espiral desenvolvendo-se por milênios, apenas cumprindo seus papéis na natureza. Podem ser grandes soberanos de muito poder e riqueza sobre certas regiões.
 
  Eles existem, são muito belos e com tamanho conhecimento que podem beneficiar àqueles que palmilham o caminho, porém são também deuses de tentações. Pois quando alguém esteja entrando no caminho do Bodhisattva eles não gostam disso. Se estudarmos a Pistis Sophia ou o Mahabharata ou outra classe de escritura, neles os ensinamentos explicam bem claramente que o caminho do Absoluto tem dois aspectos. A maioria das pessoas pensa que há muitas regiões diferentes, mas que todas praticamente voltam-se para Deus. E não é exatamente assim. Todas essas classes de deuses e semideuses estão nessas regiões da natureza e a vasta maioria está na via da espiral em lenta e gradual subida, através de muitas encarnações.

  Há um caminho mais rápido, um caminho direto, que é bem mais difícil e que absolutamente não corresponde àquela via da espiral. É o caminho do meio, o caminho direto, o caminho reto, o caminho do Bodhisattva. Os demônios que estão no caminho da esquerda e os santos que estão no caminho da direita não entendem aqueles que percorrem o caminho do meio. Ambas as classes de seres causam problemas para aqueles que estão nesse caminho.

  Se estudarmos o Mahabharata encontraremos ali um belo exemplo disso uma vez que veremos que os irmãos Pandava estavam armadilhados entre os Asuras (demônios), os semideuses e os santos, havendo entre eles uma grande guerra, mas os Pandavas continuaram pelo caminho do meio, diretos a Deus, servindo a Krishna e ninguém os compreendia.

  2. P. – [Inaudível]

  R. – Ele é ambos. Primeiramente, Yama é simbólico.  O principal a apreender dele é que é negro; em sânscrito negro é Kala, que é o negro masculino, que é o nome de Shiva, que em hebreu é chamado Jah. Sua esposa ou contraparte feminina é Kali que em hebreu é chamada Chavah. Juntos eles são Kala Kali, ou em hebreu, Jah-Chavah (Jehovah). Agora, alguém que tenha estudado budismo a uma determinada profundidade imediatamente recordará o Kalachakra que é um dos mais elevados tantras no budismo tibetano. É a mesma coisa que vemos aqui, porém diferentemente organizado. Kala pode significar “escuridão”, e pode também significar “tempo”. Ele representa Iod Havah, Kala Kali, Shiva Shakti. É o corpo de forças que emerge do Absoluto, do amanhecer.

  O Absoluto está além. É aquele espaço que não vemos – o espaço em redor. O carma residual do eon anterior deve expressar-se quando a nova era emerge; é aquele HAAAAA, o Hagal, aquela runa que se expressa fora de Sua boca. Vejamos o Hagal, as seis regiões formadas pelas três linhas das três forças. É aquela respiração de Deus que está vindo através dele. Isso é o IOD Havah. Eis como as forças no Absoluto emergem dentro de Atziluth dentro de Briah e causam formação.

  O que é realmente importante entender é o que está acontecendo dentro de nós. Eis porque estamos aqui. Necessitamos nos tornar cognizantes disso por nós próprios e aprendermos como atrelar essas forças a fim de propiciar à roda do tornar-se vir a ser o tornar-se de um Mestre ou de um Buddha e não o tornar-se de um demônio. Estejamos certos do abismo, dessa humanidade, de um real e grande erro, de um enorme problema, uma vez que o desejo tem levado essas coisas fora de controle e o carma decorrente é por demais pesado.

  3. P. – Isso não é um instantâneo do passado?

  R. – Isso não é um instantâneo do passado. Essa roda esta se movendo. Está sempre se movendo. O que a está causando mover-se são as energias que fluem através de nós por todo o tempo. Essa é a essência do genuíno ensinamento que diz: aprender a estar aqui e usarmos nossa energia com sabedoria e amor pelos outros.

  Impeçamos nossas ações nocivas no corpo, coração e mente. Matemo-las e voltemos aquelas energias para as boas ações em benefícios de outros. Servir outros, dar nascimento às virtudes. Eis porque “a roda do tornar-se” é um nome melhor. No que se torna: Samsara ou Nirvana. A única diferença entre os dois está no que Padmasambhava disse: “prestando atenção, prestando atenção e enxergando as ilusões das mentes”.

  Deixem-me dizer-lhes mais uma coisa rapidamente. Os demônios, diabos, magos negros e feiticeiros sabem também como estar presentes. Eles sabem como usar a consciência. Sabem como usar a energia para compensar os desejos, para ter sensações e experienciar coisas as quais queiram experienciar. Eles querem ter poderes, ter quaisquer coisas que queiram. Eles esquecem Deus.

  4. P. – Os deuses estão vinculados ao carma?

  R. – Tudo o que existe é causado pelo carma e nele está vinculado. Existe somente um lugar onde causa e efeito não se aplica – é no Absoluto. A razão existente que emerge do Absoluto é devida ao carma residual que não foi ainda completado. Eis porque temos nascimentos de dias e noites cósmicos bem como de dias e noites neste planeta. Os universos, os infinitos também caminham através de dias e noites e fazem isso nesse grande ciclo do Samsara devido ao carma irresolvido. Quando as noites cósmicas terminam tudo entra em repouso e nesse reino não há ações, por assim dizer. Os resíduos estão lá. O que causa um desequilíbrio e novos dias cósmicos e aquela respiração de Hagel emerge e tudo mais está de volta, inclusive os deuses.

  Pensem nisso desse modo. Quem pode criar mais impacto? Quem tem mais responsabilidade por suas ações? Uma criança ou um adulto? A quem a lei dirá ser mais responsável: a uma criança ou a um adulto? Obviamente um adulto terá maior responsabilidade. Assim nesse contexto podemos dizer que os deuses são os “adultos”. Eles devem saber mais. Somos assim, dizendo-nos comparativamente a crianças a bebês. Somos ignorantes.

  5. P. – É possível se estar numa emancipação coletiva de sofrimento ou é individualmente obrigatório?

  R. – Ambos, no sentido de que o carma trabalha em muitos níveis. Carma é uma obrigação individual uma vez que cada energia que pomos em movimento é energia que pomos em movimento. Somente nós podemos responder por isso. A menos que desempenhemos uma ação superior àquela primeira, então responderemos pela primeira ação.

  Em termos de emancipação coletiva é possível para certos tipos de carma sermos ignorados ou esquecidos, e isso pode acontecer num modo coletivo, como da mesma forma pode acontecer num contexto individual. Depende da natureza da situação e do carma. Se a questão for: pode a humanidade ser libertada coletivamente ou perdoada? A resposta é não, não pode. A humanidade tem acumulado um débito demasiadamente grande e a lei já validou o julgamento que está sendo cumprido. Algum carma já foi perdoado e há outros tipos de carma que estão sendo perdoados. Posto dessa forma, se neste momento a lei demandasse que devêssemos pagar todo o nosso carma, de modo algum estaríamos aqui.

  A coisa mais importante é encontrarmos a natureza do carma em nossas experiências momento a momento, observando em como funciona, percebendo as suas consequências e aprendendo. Não ignorar as coisas. Vermos como as coisas que fazemos causam as consequências em nós próprios, em nossa família, em nosso local de trabalho, em nossa escola, em todos os lugares onde vamos. É olharmos mais de perto. Algumas vezes torna-se difícil vermos porque realmente colocamos blindagem naquilo, não querendo ver, mesmo que estejamos a olhar diretamente para a coisa. Necessitamos abrir os olhos e olharmos para as coisas que dizemos, para as coisas que fazemos e para aquelas coisas que não dizemos.

  Por exemplo, algo importante entendermos sobre essa roda é que se trata de um ciclo repetitivo e realizamos isso. É parte de nossa fundamental ignorância. Construímos psicológica, emocional e mentalmente os hábitos que repetimos em nós mesmos. Desenvolvemos um modo de ser e fazer coisas e pensamos que nos esteja protegendo e ajudando, mas na verdade está nos enredando à roda. Desenvolvemos modos em manobrar com cada coisa. Por exemplo: alguns de nós quando andam, falam alto. Temos esse hábito de sempre estar falando alto. Outros de nós quando andam falam tão baixo que ninguém consegue ouvir-nos. Falam tão discretamente que os outros dizem: “quê?”. Não parece ser, mas é muito significativo, uma vez que podemos mudar o sentido de uma simples conversa pelo modo com que falamos.

  Conheço uma pessoa por demais hábil e talentosa, mas por sua habitual tendência em falar tão discretamente isso leva outros a pensar que ela não sabe sequer falar no seu próprio idioma. Pela decorrência daquele simples hábito pessoas pensam que ela não sabe nada. Conheço outra pessoa que fala em voz tão alta que alguns detêm todas aquelas contrárias impressões, o que não é verdade.

  Hábitos. Alguns de nós quando ocorre um conflito, fogem, pensando que em havendo o conflito não iremos querer provocar coisas piores contra os outros. Preferimos permanecer ausentes quando realmente deveríamos ser aqueles que podem resolvê-lo, ou que tenham habilidade para solucionar o problema, no entanto ficando de fora as coisas se tornam piores.

  Outro hábito: vemos um problema e pensamos “posso dar um jeito nisso” e quando vamos ali ao problema tornamos as coisas piores.

  Temos todos esses diferentes hábitos e tendências e precisamos entendê-los. Repetimo-nos estando sempre a buscar as mesmas experiências: repetimos prazeres e padrões. Eis porque sofremos.

  Algumas de nossas instruções nos têm proporcionado um pouco de aconselhamento pelo que nos alerta a fazermos coisas diferentes a cada dia. Quando nos dirigirmos ao trabalho façamos por outro caminho. Ao andarmos pelo comércio façamos por outras vias. Quando tivermos de fazer isso ou aquilo mudemos, façamos diferentemente. É superficial, mas nos causa olharmos as coisas sem estarmos no hábito piloto; ou seja, o que quer façamos, no que mexamos com nossas percepções, então comecemos a ver o aqui e agora como se nunca o tivéssemos visto antes.

  Os comportamentos habituais são os porquês de sofrermos. Precisamos achar nossos próprios e habituais comportamentos e quebra-los. Escovamos os dentes sempre da mesma maneira, penteamos os cabelos da mesma maneira, tomamos banhos sob o chuveiro da mesma maneira, nos secamos da mesma maneira e da mesma maneira nos vestimos. Mudemos isso. Comecemos agora a nos encorajar em que se mantivermos esses hábitos superficialmente que tipo de hábito viremos ter mais profundamente? Como estamos interpretando nossas percepções familiares, da esposa e filhos? Ao estarmos interpretando nossas percepções nos modos habituais e não vendo a realidade, eis porque sofremos. Mudar esses paradigmas significa olharmos para as coisas que se repetem e quebrarmos as repetições.

  Quebremo-las, mudemo-las e não nos repitamos. Olhemos sempre buscando maneiras de mudar repetições. Mestre Samael fazia isso todo o tempo. Ele mudava os seus comportamentos; andava em diferentes modos; dirigia em diferentes modos a fim de evitar-se no desenvolvimento daqueles comportamentos animalescos. Notem como os animais formam trilhas porque precisam ir à mesma direção. Todos temos aquelas trilhas em nossa mente.

  6. P. – Você falou de diferentes níveis de infernos, dezoito, dezenove etc. É dito que temos cento e oito vidas; isso está relacionado? Também eles todos se reduzem a nove, Yesod. Pode falar-nos sobre aquilo em relação com os níveis de infernos?

  R. – Os níveis de infernos dados em cada religião são simbólicos. Inferno é um estado psicológico e passamos a ter experiências segundo o estado de nossa psique de acordo com nosso Bhava. Todos somos diferentes, mas todos temos orgulho, ódio e luxúria. É individual, nosso carma é individual segundo as ações que desempenhamos. Eis porque ao estudarmos os infernos falamos em geral sobre nove deles demonstrados na Árvore da Vida, enquanto o budismo fala sobre dezoito e diferentes números, e dependendo de qual escola estudemos os números são também simbólicos. Usamos o número nove aqui devido a sua importância na tradição. Ele tem uma significação profunda numerológica e cabalisticamente.

  Conforme a questão colocada, Yesod é a nona esfera. A nona esfera está exatamente sobre Malkuth na Árvore da Vida. Yesod é Eden. Em hebreu significa “felicidade”. Esse é o nível da energia que está em nós, que é uma forma de felicidade plena da energia da raiz da criação. Se superpusermos a Árvore da Vida sobre o corpo físico, Yesod se relaciona com os órgãos sexuais que são os veículos de criar vidas.

  Eis como essas três forças criam através de nós, mais dramaticamente através do sexo. Criamos vidas. As pessoas que usam mal o sexo adquirem incríveis sofrimentos para elas próprias e para os outros, sofrendo aquilo de que não temos ideia ainda, por estarmos tão adormecidos. Cada manifestação psicológica em nós está empoderada por Yesod. É aquela energia que está sendo utilizada na psique. A libertação também depende de Yesod. A cessação do sofrimento depende de como usarmos aquelas energias para benefícios de outros. É o motivo de quando dizemos “descer para a nona esfera”. O número nove é simbólico. Nossa psique é tão profunda quanto seja gordo nosso ego. Cada um de nós precisa ver isso pessoalmente a fim de compreender seu significado. Falamos do mesmo modo sobre quarenta e nove níveis da mente. Isso é também simbólico. Sete corpos x sete chakras igual a quarenta e nove faces psicológicas da mesma coisa.

  Com relação às cento e oito vidas, esse número é também simbólico. Ele representa nove ciclos de doze. Vejam que o número nove aparece bastante. O número nove sempre aponta para o sexo. 108 (1 + 0 + 8 = 9), a nona esfera, todos apontando de volta para a sexualidade que é a raiz e o cerne do tantra: atrelar a energia vital e transformá-la em algo para benefício, não luxúria. Isso se torna mais significativo e traz-nos maior sentido se explanado nas doze Nidanas. Vemos que as cento e oito vidas estão relacionadas com a repetição do doze. Repetindo aquele doze de novo e de novo... chegaremos ao número cento e oito. Olhando para essas doze nidanas as vemos sexuais. Os símbolos que estão ocultos ali são sexuais. São devido a que, novamente, naquelas forças raízes da natureza conforme já explicado: masculino e feminino cruzados através do sexo, criam. Isso é o Hagal – aquela runa que se encontra escondida nessas barras que formam os seis reinos. É a natureza de Kala-Kali, Yab-Yum, IOD-Havah, Adão-Eva, macho-fêmea unidos em um. Sexo, tantra, transmutação, a roda inteira depende disso.

  Por que sofremos? Porque Adão e Eva foram seduzidos pelo fruto proibido e o comeram, sendo lançados fora do Nirvana entrando no Samsara. Para retornarmos ao Éden, “felicidade”, temos de corrigir o erro. Esse é um processo sexual; é um processo de tornar a nossa sexualidade pura, divina, uma forma de êxtase dos deuses. Não animal, mas algo que responda com amor imaculado pelo desejo, aversão ou ignorância. Ao invés disso é uma reflexão da virtude e sacrifício.

  7. P. – Não estavam os anjos mandados por Deus para servir o homem e se isso for verdade, o homem não estaria acima dos anjos?

  R. – Certas tradições afirmam que os anjos foram criados para servir o homem. Necessário compreendermos o contexto dessa escritura. O que encontramos aqui é que os Anjos foram criados para servir Adão. Nós não somos Adão. O Adão primordial é nosso original Bhava interior, nosso Ser, nosso Atman, nosso Buddha ou em terminologia tibetana nosso Yidam. É a fonte de nosso Ser diante do ego, antes da queda do Éden, antes do pecado. Os “Anjos” naquele contexto representam todas as doze hierarquias que manobram com as forças da natureza a fim de criar a existência que, naquele tempo era Edênica, o estado de felicidade. Adão foi ali colocado a fim de criar sua alma. Infelizmente sua alma cometeu um erro, comendo do fruto proibido e caiu. Vemos aqui dois níveis de Adão: o celestial e o terrestre. É isso que Paulo destacava em seus escritos. Temos o homem natural, que é o homem celestial, o Adão celestial, e temos o homem animal que é o Adão pecador. Se nos redimirmos do pecado os anjos nos servirão. Os deuses nos servirão no sentido de que manobrarão com a natureza e a natureza estará aqui num ambiente onde possamos alcançar grandes níveis de desenvolvimento.

  8. P. – Os anjos são malévolos ou benévolos?

  R. – Bem, depende. Há diferentes classes de anjos. Geralmente falamos sobre duas classes deles. Há anjos inocentes que são os elementais da natureza. São anjos simples. São puros e divinos, mas não são bem desenvolvidos, então seus níveis do ser está mais ou menos no nível dos animais. Há também os anjos virtuosos que desenvolveram em algum grau o nível do ser. Esses despertaram a consciência em algum particular caminho na natureza e podem ter desenvolvido algum nível da alma. Não são exatamente elementais, mas seres humanos. Esses tipos de anjos são benévolos. Estão aqui para nos ajudar segundo o nosso carma. Precisamos merecer tal ajuda, temos de merecê-la.

  Há também seres ligados aos níveis mais baixos que tentam impedir nosso processo. Podemos chama-los magos negros. Não são anjos, mas demônios e existem muitos deles. Eles fazem o máximo que podem a fim de impedir nosso progresso. Geralmente operam manipulando com anjos inocentes, colocando-os contra nós. Por exemplo, usam plantas e animais através de procedimentos mágicos a fim de causarem malefícios, influências ou seguem os seus desejos. A chave é não estarmos identificados com eles e trata-los bem da mesma maneira como tratamos outros seres. Tratá-los com respeito e prudência, mas com amor.

  9. P. – Termos disciplina em nossas práticas espirituais versus termos hábitos?

  R. – Necessitamos de disciplina para fazermos nossas práticas. Fora de questão acerca disso. Naquilo em que nossas afirmações estão direcionadas são sobre os hábitos de nossa mente a fim de não nos repetirmos mecanicamente. Se estabelecermos a nossa disciplina sobre o que vamos meditar diariamente a certa hora e fizermos conscientemente é bom. Façamos assim. Necessitamos dessa disciplina, não há dúvida acerca disso, pois somos todos muito preguiçosos. Se fizermos a meditação mecanicamente porque temos de fazê-la e enquanto meditarmos estejamos pensando no show da TV, olhando o relógio ou pensando sobre esse ou aquele problema, então estaremos perdendo o nosso tempo. Estaremos realizando um hábito mecânico que de modo algum nos beneficiará. Aqui está a diferença. O que devemos quebrar é a tendência mecânica de nos repetirmos. Cada pessoa é diferente nesse particular sentido. Precisamos descobrir nossos padrões mecânicos e muda-los. Os de maior ação são aqueles mais difíceis de descobri-los.

  Se escovamos os dentes diariamente às sete horas e mudamos para às sete e quinze não estaremos realizando nada com esse tipo de mudança. É muito superficial. Se começarmos a entender que existe uma pessoa em nosso trabalho com quem sempre nos ligamos para as mesmas coisas e onde haja uma dinâmica no conjunto de nossas relações, mas que não estejam boas e façamos esforços no sentido de mudarmos pela adoção de melhor atitude, isso será muito benéfico porque estaremos quebrando um padrão mecânico de comportamento no que respeita ao nosso relacionamento com outros.

  Isso é significativo, muito significativo. Temos também padrões mecânicos de atitudes diante de nossa divindade. Isso também deve mudar. Muitos de nós não acreditam em Deus; podemos gostar de religião, podemos gostar de espiritualidade e a estudarmos, mas fundamental e verdadeiramente, de fato, não acreditarmos. De todos os modos quem pode nos censurar? Nunca experienciamos Deus, não temos conhecimento consciente de Deus, muito menos o conhecimento de havermos despertado a visão da realidade. Como acreditarmos em algo que nunca experienciamos? É compreensível, contudo, essa tendência mecânica da dúvida, da desilusão, do modo como pensamos criticamente ao externarmos o “não acredito nisso” ou “de modo algum acontecerá comigo” ou “não mereço isso” ou “Deus não me ouve”; é tudo muito negativo e muito nocivo.

  Necessitamos cultivar uma atitude de esperança com a mente aberta para o despertar. Se trabalharem honestamente com as técnicas que ensinamos, idem com as práticas, mais especificamente com o despertar do momento a momento, será inevitável a visão da realidade quando as condições e o carma permitirem. Está em seus esforços, comparativamente aos seus carmas, alcançar isso. Alguns alcançam no primeiro dia, outros levam 20-30 anos e a maioria está no meio. Levará tempo para o desenvolvimento do equilíbrio até o dia em que tenham a experiência; então a partir dali terão um novo surto de entusiasmo. É uma experiência bastante proveitosa.

  10. P. – O que o prefixo sa- representa em samsara, sambhogakaya e como isso se relaciona com sambhava provindo do nome Padmasambhava?

  R. – Existe uma variedade de diferentes letras em sânscrito com aquele som Sa e todos eles diferem entre si. Mais atrás na palestra eu mencionei brevemente o termo Svabhava. Este termo foi mal traduzido pela pessoa que transcreveu a palestra dada por Samael Aun Weor, faz muitos anos na Espanha. Alguém anotou a palestra, mas não escreveu a palavra corretamente e isso aconteceu há cerca de 20-30 anos. A palavra foi escrita como se fosse hebraica, porém não existe no vocabulário hebreu. Estivemos sempre a procurando, “o que ele disse?”. Finalmente encontramos a palavra svabhava, que aparece em muitas escrituras relacionadas com o budismo mahayana, particularmente com colégios que trabalham com a filosofia do vazio e Śūnyatā. Ela também aparece em algumas escrituras sânscritas. O termo significa nossa “natureza inata”.  Sva स्व significa “próprio”.

  “As” pode ser or , e significa muitas coisas dependendo do contexto: “excelente, doação, igualdade, similaridade, sono, mamilo, pássaro, cobra, paraíso, destruição, professor, homem erudito, fim, perda, resto, vento, perda de conhecimento, ar, meditação, embrião, cerca, conhecimento...”

  11. P. – O que é Sambhava?

   R. – Padmasambhava significa literalmente “nascido do lótus”. Bha, Bhava é “tornando-se”. Padme é o lótus e sa é do embrião, nascido de.

  12. P. – Eu quero incomodá-lo sobre algo que você repetiu várias vezes. Você sustentou que o carma não funciona no Absoluto, ou não se aplica ao Absoluto, e ainda que o Absoluto não exatamente se auto magiasse por sua própria e pessoal consciência. Ele tem de ir para dentro de seu “tornar-se” a fim de fazer tal acontecer. É como se aquilo que você esteve sustentando antes e o que outro palestrante anterior dissesse, fosse que esse dia cósmico veio à manifestação porque houve um tipo de contaminação da atmosfera que causou às coisas se precipitarem, parecendo haver uma lei, uma causa e efeito que se aplica ao Absoluto, que não esteja independente da Lei de Causa em efeito.

  R. – A diferença em si mesma por esse carma no nível da manifestação está na dualidade da causa e efeito. No Absoluto é unidade. O efeito está sempre presente dentro da causa. No Absoluto não estão separados. Conforme ele explicou e como Gurdjieff disse sobre isso, há uma corrupção que é um ponto muito profundo e filosófico. Na minha perspectiva é parte do conflito básico entre certas escolas que debatem a natureza do vazio. Eles não conseguem concordar e me parece que seja devido àquela corrupção acontecida. É muito difícil apreender.

  13. – Penso que você pode estar aludindo à causa das causas, a primeira causa de todas as coisas.

   R. – A causa das causas, sim. Está citado em certos tratados que se o universo está num estado de repouso, ou num estado de manifestação, três coisas estão sempre ali:

  - Carma
  - Espaço
  - Nirvana

  O que não está explicado, contudo, é que há o estado daqueles três, porque tudo muda. Num estado está imanifesto, noutro estado está manifestado. Essa é a diferença. Eles estão sempre existindo, mas num estado de não existência, num estado de unidade. O Único, o Absoluto são as mesmas coisas.

  14. P. – Gostaria de voltar aos seis estados dos seres samsaric e à discussão sobre anjos. Na Doutrina Secreta por H.P.B. que está baseada em texto budista tibetano, existe uma doutrina a que ela se refere em que num certo tempo éramos todos anjos e ali havia dois grupos. Um dos grupos estava totalmente afinado com o estado em que eles se encontravam e o outro grupo queria caminhar adiante, e o único caminho de adiantarem-se era virem para este mundo tridimensional de Malkuth, a fim de se submeterem a todas as experiências e manipular a matéria. Daí que a força primária daquilo é essa ambição de se mover adiante. Como é então essa ambição diferente do desejo que estamos tentando matar?

  R. – Importante para nós esclarecer o que significamos por desejo. No budismo, no hebreu e nas tradições cristãs temos diferentes palavras que descrevem diversas qualidades psicológicas. Em inglês chamamos isso de desejo. A palavra inglesa é terrível porque para nós implica de forma mais ampla em sexo. Ouvimos a palavra “desejo” e pensamos unicamente em sexo. Esse fato é parcialmente devido à natureza de nossa psique, uma vez que a psique está com aquele Bhava, aquela tendência animalesca de que tudo é sexual. Em filosofia, por desejo, não damos o significado meramente de sexo, pois há diferentes classes de desejo desdobradas em vários grupos. Em geral o que precisamos compreender é que: há diferenças nas necessidades da alma para alcançar sua natural unidade com o Absoluto, que podemos chamar um desejo por Deus. Em inglês isso é ótimo, mas não é do que estamos falando sobre desejo na forma de corrupção.

  Desejo na forma de corrupção é o que em hebreu é chamado rah, significando conspurcação, pecado, mal. O desejo de unificar-se com Deus é tob, mansidão. Esses são dois aspectos da mesma força: Daath, conhecimento. Daí que o centro de forças da Bhavachakra manifesta-se de diferentes modos. Quando Adão e Eva caíram estavam seduzidos pelo desejo de conhecer Deus que está na Árvore do Conhecimento de Tob ve Rah: mansidão e impureza. Foram-lhes dadas as instruções. Aquele desejo de tomar a fruta, de cheirá-la; é aquela aspiração da alma de experienciar alguma coisa além do ser, de crescer, de saber, de ter conhecimento.

  Eis porque isso é chamado a Árvore do Conhecimento, Daath. Infelizmente, por causa de Lúcifer, a tentação através da sensação, Eva (os órgãos sexuais) abusou daquela experiência da energia, da matéria, da consciência e aquela força do conhecimento foi convertida em rah (impureza), desejo, tornando-se egoística. Se eles tivessem seguido as regras – que são as regras dadas no tantra e noutras tradições – eles teriam obtido aquela energia, mas não a transformado num modo egoístico, não com ignorância: teria sido a força de Bhava, do tornar-se como o Elohim, de conhecerem os dois, mas não serem vitimizados e não serem corrompidos. Em cada tradição o mesmo é apresentado de diferentes maneiras. Buddha, ele próprio, também usou diferentes termos técnicos a fim de exemplificar os vários tipos de desejo. A maioria das pessoas não consegue adentrar nisso a essa profundidade a fim de conhecer os termos técnicos. Encontramos isso também no induismo.

  15. P. – Você então diz infelizmente, mas na verdade não é felizmente para nós que Lúcifer fez aquilo?

  R. – A tentação é necessária, porém a fraqueza em superar, não. Infelizmente caímos todos os dias diante de uma tentação. Isso de novo, como você destacou antes, não é uma fotografia do passado: está acontecendo exatamente agora com todos nós, diariamente. Tudo o que percebemos é um momento em que necessitamos transformar e suplantar a tentação, que nos chega de várias formas. Nosso orgulho é tentado, nossa luxúria, nosso medo, inveja, ciúme, preguiça, gula – estão sempre sendo tentados. Somos sempre tentados. Precisamos escolher: esperança, bondade, virtude ou nos poluirmos. Nossas ações psicológicas determinam se cresceremos ou afundaremos. Unicamente o indivíduo pode escolher. Isso é Daath, conhecimento. Vemos os três nos animais?

  - Daath, conhecimento.
  - Tob, bondade.
  - Rah, impureza.

  Pensamento do Dia

  “Aquele que imita não aprende; o que imita se torna num autômato, eis tudo... A mente que somente sabe imitar é mecânica; é uma máquina que funciona, mas é incapaz de criar, não sabe como verdadeiramente pensar, pois unicamente repete, é tudo” - Samael Aun Weor, Fundamentos de Educação Gnóstica.

POR UM INSTRUTOR GNÓSTICO

   Tradução Inglês / Português: Rayom Ra

PROIBIDA A REPRODUÇÃO PARA: Barriestership10.rssing.com/chan.

                                                        Rayom Ra
                                      http://arcadeouro.blogspot.com.br

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