A tradição Gnóstica encontra-se firmemente
enraizada nas mais antigas formas do conhecimento apresentado para a humanidade
através de eras. É um conhecimento que é uniforme. Ou seja, a Gnose estuda
todos os aspectos da vida e vivência. Nós não repartimos nossas abordagens
perante a vida, da maneira como os sistemas da moderna educação tendem a fazer.
Na Gnose, estudamos, simultaneamente, os quatro grandes pilares do
conhecimento: a arte, a ciência, a religião e a filosofia.
Estes quatro pilares sustentam o templo da
sabedoria e nos permitem o entendimento compreensivo de nosso lugar no universo
e de nosso lugar em relação a Deus: o que significa viver.
As mais recentes tradições seguidas pela
humanidade – tais como, a tradição que se auto proclamou “religião”, ou aquela
que se auto proclamou “ciência” – provaram-se por si mesmas muito limitadas em
suas capacidades de nos oferecer respostas consistentes a “por que temos vida”
e a outras inquietantes questões. Aqueles que por vontade própria se dedicaram
a seguir uma única linha do conhecimento enquanto excluíam outras, viram-se,
inevitavelmente, com lacunas em áreas críticas do entendimento sobre a vida.
Os que se dedicaram à religião e excluíram a
ciência, a arte e a filosofia restringiram o seu pessoal alicerçamento sobre a
totalidade da vida e o que a vida significa. Do mesmo modo, os que seguiram os
caminhos da ciência, rejeitando a religião, fizeram a escolha de limitarem o
seu entendimento. Na tradição Gnóstica estudamos os quatro pilares. Neste
acercamento podemos assim penetrar os mistérios interiores e exteriores de nós
mesmos.
É muito importante ter em mente esses quatro aspectos, uma vez
que todos nós temos limitações em nossos conhecimentos. Viemos de diferentes
experiências, tradições, países e culturas em que coisas destes naipes não
receberam maiores atenções. Possamos ter tido alguma educação sobre ciência,
mas não sobre religião; alternativamente, possamos ter grande soma de
conhecimento sobre religião, mas não sobre ciência. Possamos saber muito sobre
arte, mas nada de ciência ou filosofia. Isto precisa ser esclarecido no sentido
de que venhamos compreender o que seja realmente Gnose.
Gnose não é qualquer coisa encontrada num
livro, escola ou em palestra. A Gnose Real está em seu coração; é alguma coisa
que emerge de seu auto-conhecimento.
Isto é o postulado básico das abordagens Gnósticas, a ideia fundamental;
todo o conhecimento que existe na totalidade do universo também existe dentro
de nós. Eis porque o Oráculo de Delphos proclamava: “Gnōthi seautón”, ou em
latim: “Homo, nosce te ipsum”. O que geralmente se traduz como: “Homem,
conhece-te a ti mesmo, então conhecerás o universo e os deuses!”
Tudo e cada nível da existência na natureza
está dentro de nós, refletido como num espelho. Nosso corpo físico reflete
todas as leis e estruturas do cosmos. Nosso corpo físico é um microcosmo –
noutras palavras, um espelho – que reflete todas as leis existentes além de
nós. Estudando a nós mesmos estamos também estudando a natureza. Eis porque
Gnose é uma ciência e não uma crença. Como ciência buscamos na Gnose o
experimento, a experiência, comprovar por nós mesmos – saber! É isto realmente
o que significa Gnose. Obter conhecimento, saber não só mental ou
intelectualmente, não como crença, como hábito, por algum comportamento que
adotamos, mas por termos experimentado, termos visto, conhecido, verificado.
Isto é Gnose!
Seu método de verificação, do conhecimento, é
também algo distinto e diferente daquilo que possamos ter aprendido em nossas
vivências escolares ou em igrejas. O método Gnóstico do conhecimento não é o
mesmo método através de conceitos, ideias, teorias, ou crenças; ao invés disto
é algo cognitivo, consciente.
Como exemplo, todos nós podemos tirar um
momento para estarmos conscientes do corpo físico. Podemos alcançá-lo com nossa
consciência, senti-lo, faze-lo estabilizado e estarmos presente em seu
interior. Esta é uma experiência da Gnose. Isto é tornar-se cognitivo, ver,
verificar, saber no momento presente. Isto não é um exercício intelectual. É um
exercício de atenção. Nesse caminho você vê, conhece e experimenta. “Sim, eu
vejo, eu experimento, eu sinto; eu tenho a experiência do que é estar num
corpo.” Isto é Gnose. Esta é somente uma semente; é unicamente uma pequena
amostra do que a consciência pode experimentar.
Este corpo é uma máquina maravilhosa, uma
máquina com enorme soma de energia, com muitos tipos de grandes complexidades e
grandes poderes; energia que pode influenciar tanto os mundos internos quanto
os externos, energia da qual ignoramos. Nós todos podemos concordar: “Sim, eu
experimento o pensamento” e “sim, eu experimentei o que chamamos emoções” e “sim,
eu experimentei o que chamamos sensações”, no entanto, ao acontecerem, quantos
de nós podemos discriminá-los e corretamente identificá-los, em sendo
exatamente o que são? Quantos de nós podemos discernir claramente entre uma
emoção negativa e uma emoção positiva? Quantos de nós podemos controlar um
pensamento? Ou seja, vocês podem estancar o pensamento? Vocês podem concentrar
o pensamento num único objeto, durante o tempo que desejarem?
Ver meramente a energia, experimentá-la,
senti-la, saber que a energia está lá é uma coisa, porém controlá-la é outra
coisa. Então, podemos dizer, “sim, eu tenho um corpo físico,” e “sim, eu tenho
certo grau de controle sobre ele”, mas quase todos nós – honestamente –
teríamos de concordar que nosso controle é muito limitado. Não podemos
controlar a dor, a doença, a fome, a sede. Não podemos controlar muitos dos
processos que ocorrem continuamente no interior de nossos corpos, tais como,
digestão, respiração, batimento cardíaco, metabolismo, fluxo sanguíneo, o
sistema endócrino. Todos estes processos ocorrem constantemente em nossos
corpos, e ainda assim dependemos desta máquina para nos mantermos vivos e
experimentarmos tudo o que conseguirmos.
De algum modo, parece-nos um pouco contraditório
que nos proclamemos mestres do universo, reis e rainhas da natureza e ainda
assim uma simples dor de cabeça consiga acabar com nosso dia. Uma ponta de mau
humor possa fazer ruir nosso estado emocional, tornando-nos irritáveis e
zangados. Uma ferida mínima ou irritação do corpo possa causar-nos um
comportamento um tanto irracional e a perda do controle da mente. Um ligeiro
desconforto físico ou incômodo possa levar-nos a um comportamento
desorganizado. Nenhum de nós pode negar isto: todos já experimentamos coisas
assim.
O reconhecimento do nível em que realmente
estamos é a base fundamental onde a Gnose começa. Esta base revela-nos que não
somos aquilo que presumíamos ser. Acreditávamos ser grandes vidas, entretanto
as evidências provam coisas bem ao contrário; que somos terrivelmente fracos e
possuímos uma grande dose de ignorância sobre nós próprios. Eis porque
estudamos os ensinamentos Gnósticos: para mudarmos este estado de coisas. Não
estudamos meramente teorias; estamos estudando estruturas, leis – arte,
ciência, religião, filosofia – os quatro pilares que nos dão a base fundamental
sobre a qual mudamos.
Podemos trabalhar a nós próprios e alterar
fundamentalmente nossa situação. Podemos todos concordar sobre isto. Nosso
objetivo é a mudança. Ninguém está satisfeito com a direção em que as coisas
estão caminhando, do contrário não estaríamos interessados nestes tipos de
estudos. Todos temos aquela insatisfação, a sensibilidade de sentir que as
coisas podiam ser melhores.
Assemelha-se a que a maioria tenha tentado
muitas técnicas. Tentamos arte, ciência, religião, filosofia. Podemos ter
investigado muitas diferentes religiões ou ciências; ainda assim nenhuma se
tenha provado capaz de remediar os problemas que temos. Não exatamente nossos
problemas pessoais, porém nossos problemas como uma sociedade, um planeta, uma
cultura, uma raça, no âmago de nossas famílias e comunidades. Assim é porque
estes quatro pilares, quando isolados, não podem agir.
Ciência sem religião é impotente. Ciência sem religião é
destrutiva. Se vocês desejam provas vejam quanto de nosso dinheiro é gasto em
ciência e o simples fato de que a maior parte de nossos gastos científicos é
destinada às armas. Preferimos pensar que nossas despesas científicas são
destinadas às coisas tais como ir ao espaço, às pesquisas médicas, a resolver
assuntos globais como poluição, aquecimento, melhoria da cadeia alimentar ou
cuidados da saúde. Não, estes gastos são todos estatisticamente bastante
insignificantes; a vasta maioria de nosso dinheiro gasto com ciência é para o
avanço militar. No mundo inteiro os maiores investimentos financeiros
realizados tomam o caminho para a violência. Este é um fato estatístico. Esta
percentagem tem crescido década após década. Mais e mais dinheiro vem sendo
gasto em armamentos. Esta é a nossa ciência. Não são telefones celulares ou
computadores a nossa grande “ciência” desta civilização; são isto sim armamentos.
Não gostamos de admitir isto, mas é um fato.
“Ciência sem religião é aleijada, religião
sem ciência é cega” – Albert Einstein.
E acerca da religião? Religião sem ciência é
também impotente para mudar nossos problemas fundamentais. Religião sem ciência
se torna cega, estúpida. Eu digo estúpida no sentido de não possuir
conhecimento, de ser ignorante, de acreditar em coisas que são basicamente
inverdades. Encontramos este exemplo especialmente agora quando a ciência vem
penetrando em alguns mistérios e tem revelado algumas coisas. Porém, muito
destas coisas está ainda atrelado às prontas recusas religiosas em aceitar os
modernos aprofundamentos da ciência. Isto é rampante entre seguidores da nova
era, daqueles que estão se tornando crescentemente distantes da realidade.
E acerca da arte? Arte sem religião é
estupidez. O que chamamos arte hoje em dia? Nossa “arte moderna” – a grande
“criativa expressão” desta era – são celebrações da violência e luxúria.
Pinturas e esculturas não são arte moderna e ninguém hoje se importa com elas.
Para apreciar arte moderna em ação, temos que buscar os meios pelos quais as
ideias são comunicadas (uma vez que é este o significado da arte: um meio de
comunicação).
Nossas artes modernas são: cinema, televisão,
fotografia, publicações, internet, etc. A maioria das expressões criativas ou
“arte” neste planeta hoje em dia, celebra o assassinato, o sarcasmo, a
crueldade em relação aos outros. Nossos “artistas” são narcisistas, egos
maníacos, sociopatas que amam dinheiro, sexo, e poder.
Onde está neste planeta a nova arte que
celebra o divino, que celebra as virtudes do espírito? Qual arte está ensinando
os valores da alma? Qual arte está informando por outros pilares no sentido de
guiarmo-nos através de elevados níveis do ser? O fato é que toda arte moderna
está procurando tragar-nos para o fundo dos níveis inferiores da alma; para
tornar-nos mais e mais indulgentes com a violência, a luxúria, a inveja, etc.
E acerca da filosofia? É a mesma coisa;
filosofia divorciada da religião, da ciência e arte, torna-se niilismo ou
“eternalismo” [“eternalism” – palavra inglesa = coexistente em dimensões de
tempo e espaço = “annihilationism” = “aniquilacionismo”], estas formas de
filosofia que são apartadas da realidade. A moderna filosofia (que pode ser
vista em ciência moderna, arte e religião) encoraja a vida para o prazer que
resulta somente em vazio emocional e espiritual e divorcia o homem e a mulher
de suas inatas e fundamentais divindades. Na atualidade, é festejante ser
ateísta ou hedonista – mesmo sendo odioso, maligno e arrogante – mas é ridicularizante
ser espiritualista ou religioso.
Por conseguinte, nos é necessários estudarmos
estes quatro pilares equilibradamente, compreendê-los neste mesmo horizonte e
trabalhar com eles intimamente. Quando, finalmente, os harmonizarmos
começaremos então a adquirir o conhecimento unificado da realidade, que nos
pode conduzir a uma radical transformação.
A ciência tem tradicionalmente focalizado
seus estudos na matéria e energia. Vemos que isto é verdade, pois as grandes
revelações que a ciência nos trouxe no último século, ou mais, estão
relacionadas com modificações e manipulações de ambas. Tudo o que desfrutamos que
resulta do desenvolvimento da ciência relaciona-se com estes dois fenômenos:
matéria e energia.
Por
outro lado, arte tradicional, religião e filosofia sempre estiveram associadas
com consciência, nosso mais profundo espírito, aquilo que, verdadeiramente,
somos como pessoas. Mas, infelizmente, nos recentes séculos, arte, filosofia e
religião foram completamente abandonadas nas investigações da consciência e
estiveram somente associadas com matéria e energia, afastadas totalmente das
qualidades do espírito e mente.
O fato é que hoje em nossa sociedade se
estabelece grande confusão. Fazem-se acreditar que somos o corpo e que isto é
tudo. Nossas filosofias dizem-nos que não há vida após a morte; o mesmo nos diz
a ciência, e nossas religiões nos dizem que há alguma coisa que chamam “vida”,
mas está restrita às suas crenças. Então vocês veem que, nos seus isolamentos
uma da outra, todas estas tradições chegaram a conclusões que conflitam com leis
fundamentais da natureza.
O que diz a ciência? Ciência e muitas de
nossas formas de arte e filosofia dizem-nos que quando você morre é o fim;
dizem-nos que “temos somente uma vida para vivermos”; então devemos viver também
ao máximo indulgentes a todos os prazeres que possamos ter. Este é o caminho da
vida, especialmente na cultura ocidental: “viva às pressas, morra jovem”. Não é
esta a base da cultura ocidental? “Obtenha tudo o que puder antes de morrer,
sejam bens materiais ou experienciais, porque quando você morrer tudo acabará;
não há mais nada após a morte.” É nisto que nossa sociedade acredita e assim
discorda da mais simples e fundamental lei descrita pela moderna ciência. A
mais básica e fundamental das leis da física discorda disto e não obstante a
ciência, ela própria, não admite a discordância; é muito esquisito!
A mais fundamental lei da física está calcada
no primeiro princípio da termodinâmica (a lei da conservação da energia); isto
é física básica. Se você tem filhos, eles estão aprendendo isto na escola. A
lei diz que tudo o que acontece está baseado nas transformações da energia.
Esta lei diz que em um dado sistema a quantidade total de energia permanece a
mesma. Esta mesma lei estabelece que a energia não pode nem ser criada e nem
destruída, mas unicamente modificada. A energia muda a forma, mas você não pode
destruí-la. Se a energia não pode ser destruída o que acontece com a energia de
sua mente? O que acontece com a energia de seu coração? O que acontece com a
energia de sua alma? Simples, ela não pode “deixar de existir” da maneira
suposta por nossa flácida “filosofia.” Energia não pode morrer; ela
simplesmente muda. Esta é uma lei fundamental da física.
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Parte II ]
Energy, Matter and Consciousness
Fonte:
Tradução
Inglês/Português: Rayom Ra
Rayom Ra
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