quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Enigma Eu -Excerto do Capítulo VII


"Tenho mil formas - profetas já me descreveram - carrego todos os males. Derrotei exércitos e crucifiquei deuses dos idólatras. Ninguém me engana, um só dos humanos. Sou terrível, não tenho alma, sou da terra da qual foi feito Adão e sua descendência. Eis quem sou e a quem ousastes chamar para desafiar. Vencei-me ou morrei!"

Cansado de apreciar o panorama que pouco variava, Sorman recostou a cabeça junto ao alisar da janela, na envernizada madeira, e fechou os olhos. Estando os sentidos relaxados, os ruídos externos, em ritmo sempre constante, chegavam-lhe ao cérebro de forma quase hipnótica como numa indução ou num convite ao descanso e ao próprio sono. Vez por outra o apito, o percurso de longa e sinuosa curva, a escalada de um aclive, a largada mais veloz e solta numa descida, a redução na velocidade. Assim ia o trem sob uma cortina de sombras que se acentuava, ora cortando montes, ora rasgando verdes ou inóspitos campos.

Uma forte mão sacudiu-o pelo ombro, fazendo-o acordar assustado: desnecessário ato, pois a estridente voz seria mais do que a conta:
 - Estação, hora de descer! O agente, vendo-o abrir os olhos, deixou-o, desaparecendo através do vão da porta. Sorman, passageiro único naquele vagão, apressou-se em sair.

Da plataforma da estação para a rua foi rápido. Anoitecera, fina e azulada névoa descia se espalhando por tudo e enquanto andava Sorman sentia ter recuado no tempo. Ao lembrar-se de que devia procurar um senhor Germano enfiou a mão no bolso e retirou um pedaço de papel, aproximando-se de um dos postes onde ardia lampião a óleo de mortiça luz, relendo o endereço: Rua Oeste, l33. Procurando orientar-se conseguiu ver pequena e retangular placa de madeira, quase a despencar do liso e fino tronco de pequena árvore marginal, lendo os nomes em letras já escurecidas, sulcados à ponta de algum instrumento de metal: Avenida Saturno.

O ruído de cascos em trote, ecoando dos paralelepípedos, o fez voltar-se e ver saindo das brumas pequena carruagem puxada por único e negro cavalo que se deslocava no mesmo sentido de seus passos, e correu para o meio da rua.
- Senhor!! - gritou para o cocheiro, fazendo sinal com a mão para que parasse. O cocheiro imediatamente puxou as rédeas estancando o carro de súbito, olhando-o com reprovação, o admoestando:
- Quase o atropelo, jovem, que atitude tola!
- Queira desculpar-me, mas necessito de uma informação. Onde fica a Rua Oeste?
O cocheiro olhou-o fixamente, franzindo a testa, enquanto o animal espirrava e repuxava as rédeas, agora mais frouxas às mãos do condutor.
- Rua Oeste? - repetiu como se não houvesse entendido.
- Sim, Rua Oeste! 
- Você não é daqui? - perguntou o óbvio
- Acabo de chegar, procuro um senhor Germano, conhece-o?     
- Germano Matheus, sim o conheço, é no número l33. A Rua Oeste fica a oito quadras daqui. – apontou para adiante.
- Grato senhor; desculpe-me pela inconveniência. Sorman se afastou.
- As quadras aqui são grandes! - ele falou alto, Sorman parou, voltando-se,
- Quanto terei de andar?
- Mil e seiscentos metros, exatamente, até o cruzamento da Rua Oeste, depois mais cento e cinquenta metros até o número l33.
- Grato uma vez mais - falou reiniciando os passos sobre a estreita calçada. Mais adiante a carruagem emparelhava-se a ele e parava.
- Suba, vou levá-lo! - ordenou o homem.
- Não tenho dinheiro para pagá-lo, senhor.
- Dou-lhe uma carona!

O cocheiro pulou da boleia e abriu a porta, fazendo vênia com a cartola à mão, trazida contra o peito, curvando-se e mostrando sua completa calvície. Agora que descera, era possível ver, precisamente, sua grande estatura e o corpo magro, meio desajeitado, vestido de negro dos pés à cabeça. Mediante o convite, Sorman entrou e sentou-se, tendo a sensação de que ingressava num carro fúnebre. A porta foi fechada; o cocheiro retomou o seu lugar e a escura carruagem arrancou, envolta pela névoa que em poucos minutos se tornara mais densa.

Nem bem o veículo iniciava o trajeto, o cocheiro começou a assobiar e a cantar estranha melodia. Era um canto monótono, cujas palavras diziam de uma viagem em solidão e da dor de viver. O animal trotava obedientemente; o ruído provocado por seus cascos no silêncio da escura e deserta avenida casava-se perfeitamente com a rouca voz do cantor, tornando tudo sombrio e quase lúgubre.

 Procurando se desligar da bizarrice, Sorman puxou a cortina abrindo um vão na pequena janela, na tentativa de observar. Não havia vidros e uma porção da névoa penetrou no carro, tocando-lhe o rosto. Apesar do véu, seu olhar alcançava espaços e conseguia enxergar com relativa nitidez, tanto quanto a bruxuleante luz dos lampiões lhe consentia. Mas não via viva alma; somente prédios, sobrados, parecendo inabitados. O cocheiro agora não cantava, murmurava a melodia, não se furtando em emitir prolongados solfejos, como a interpretar lamento e dor.

Ao cabo de alguns minutos, em que o cenário era o mesmo, a carruagem guinou para a direita, entrando por rua estreita. Sorman concluiu que seria a Rua Oeste. Com efeito, logo a carruagem estacionava; o cocheiro abria-lhe a porta com a vênia de há pouco, e ele descia olhando o prédio em frente, procurando o número.
- Do outro lado da rua! Números ímpares são sempre à esquerda! - disse o homem, enfaticamente, esboçando irônico sorriso. Sorman meneou afirmativamente a cabeça atravessando diante do animal, enquanto o cocheiro rapidamente fechava a porta retornando a boleia. Antes mesmo de o jovem atingir a proximidade dos três degraus, antecedentes a entrada do l33, ele de novo tirava a cartola e falava: 
- Espero que encontre o que veio buscar, adeus!
- Adeus e muito obrigado pela ajuda, senhor...?
- Ackreonte!

A carruagem desapareceu sob o nevoeiro.  Sorman subindo dois degraus segurou a aldrava de cobre esmaecido e bateu três vezes. Após instantes, uma tênue claridade crescia debaixo da porta e o abafado ruído de passos aumentava. Finalmente a porta abriu-se, surgindo um homem. 
- Senhor Germano?
- Sim, que deseja?
- Meu nome é Sorman, indicaram-me para que o procurasse.
- Quem?
- Não sei, exatamente, entregaram-me este bilhete.
Sorman sacou-o do bolso e o estendeu. Germano examinou-o rapidamente, parecendo reconhecer a caligrafia, devolvendo-o e abrindo largo sorriso.
- Sorman..., disse?
- Sim, senhor!
- Entre, esteja à vontade!

Germano não era muito alto. Um tanto gordo, de rosto claro e simpático, cabelos quase completamente encanecidos, cheios como os de certos poetas, vestia calças negras justas com largo cinto, camisa branca folgada de punhos longos, e botas pretas de meio cano afiveladas nas laterais com peças prateadas. Trazia dependurado em torno do pescoço corrente de ouro que sustentava largo medalhão, também de ouro, que lhe pendia na altura do peito e em cuja face viam-se gravados signos cabalísticos. Neste instante, levantava o lampião pouco abaixo do rosto, buscando atrair melhor iluminação.

Sorman adentrou, parando a dois passos. Após fechar a porta, Germano veio em sua direção puxando da perna esquerda endurecida, e o conduziu da antessala para um salão, até ampla mesa cercada por meia dúzia de cadeiras. Sentando-se numa das cabeceiras, ofereceu-lhe a cadeira mais próxima, colocando o lampião sobre a mesa, estendendo os braços à frente, entrelaçando suavemente as pontas dos dedos. O também largo anel de ouro, tendo na sua coroa bela safira e novas inscrições cabalísticas, foi pela primeira vez notado pelo jovem.
- Você, certamente, jamais ouviu falar de mim?
- Não, senhor!
- Sou o que chamam um cabalista prático e não costumo aceitar discípulos.
- Eu... - Sorman desejou falar, mas ele fez sinal com a mão aberta, pedindo-lhe aguardar, prosseguindo:
- No entanto, honra-me muito atender pedidos de meus superiores no que concerne aos desafios que os candidatos se proponham vencer. Isto, ultimamente, vem se tornando cada vez mais raro. A mim me parece faltarem novos talentos no mundo; neófitos preferem filosofar e meditar a aterem-se ao conhecimento concreto dos elementos, provando-se senhores. Reconheço, contudo, tratar-se de situações realmente difíceis que, nesta segunda opção, exigirão tenaz vontade e muita coragem, coisas que ninguém obtém gratuitamente, a não ser extraindo-as do próprio íntimo sob grande tensão. Você não deve saber conscientemente o que lhe espera, nem ao certo como aqui chegou. Mas é direito seu ser informado neste momento, em certa medida, daquilo com o que se haverá - ele parou como a aguardar qualquer comentário, que não aconteceu, completando - é hora de se decidir; desejando desistir, faça-o antes do início! - ele ajeitou-se na cadeira encostando-se no grande espaldar e o medalhão em seu peito rebrilhou sob a luz. Após rápido silêncio, Sorman perguntou:

- Em que nível estas provas se darão, o que precisarei vencer?
- O termo provas, para mim, não é adequado nesta situação. O que acontece com o candidato à iniciação neste teor não é exatamente um exame, como você já deve ter conhecimento após haver passado por outras experiências. Evidentemente não lhe posso adiantar o que enfrentará, nem quanto precisará ousar, pois o futuro não é tão previsível, tão claro ou óbvio que antecipadamente já o saibamos. Todavia, tanto mais haja o candidato se superado no passado, as situações presentes tenderão a se apresentar mais sutis. Argúcia, rapidez de raciocínio, coragem, fé, vontade, etc., serão necessariamente armas, embora, permita-me enfatizar, situações concretas e palpáveis se apresentarão em que o tato, a reflexão, a sensatez devam se evidenciar. Uma coisa, porém, posso adiantar-lhe: o passado retornará!

Sorman que já tivera a impressão de estar retrocedendo no tempo, não se impressionou com esta última afirmativa. Ademais, nada o assustara até o instante e as palavras de seu interlocutor não conseguiam motivar-lhe ou produzir excitação mental. Entretanto, sentia que seu corpo vinha se tornado mais sólido, pois os movimentos estavam mais pesados, diferentes em muito da leveza experimentada nos planos onde estivera antes. Não tendo mais nada a perguntar, calou-se e aguardou. Germano, então, retomou a palavra:
- Bem, entendo que você de fato pretende se submeter ao que falamos?
- Sim, pretendo!
- Muito bem. Deixe-me então levá-lo inicialmente ao seu aposento, onde poderá descansar. Sorman não estava cansado, mas não quis mudar a rotina de seu anfitrião; assim nada falou, aceitando a hospedagem.

O quarto era pequeno; havia cama, armário, secretária e uma cadeira. A janela encontrava-se fechada; Germano acendeu o lampião na parede, ali o deixando, retirando-se em seguida. Sentado na cama Sorman não sabia o que fazer. Inquieto, levantou-se, resolvendo abrir a janela. Como fosse noite e o nevoeiro continuasse denso, quase nada conseguia enxergar. Assim, buscou o lampião, trazendo-o para o parapeito, procurando divisar através das brumas. Mas sob a fraca luz, sombras se projetavam e podia somente discernir uma árvore mais próxima. O quarto era de fundo. Um sopro frio veio tocar-lhe o corpo; ele fechou a janela, colocando o lampião na secretária, espichando-se na cama. Quando começava a cochilar, acordou de súbito com três fortes pancadas na porta que o sacudiram.
- Entre! - ordenou sentando-se, imaginando tratar-se de Germano. Mas Germano não entrou e ele se levantou indo abrir a porta.

Não havia ninguém; após verificar com mais atenção retornou para a cama em dúvida se houvera escutado ou se sonhara. Deitou-se novamente e mal colocava a cabeça no travesseiro ouviu novas e fortes pancadas, pondo-se de pé, alcançando a porta num abrir e fechar de olhos. De novo não havia ninguém e fechou a porta, deixando a mão na maçaneta em posição de abri-la imediatamente. Novas pancadas aconteceram, mas percebeu-as no próprio quarto, dentro do armário, a dois passos de onde se encontrava. Aproximando-se, posicionou-se diante de ambas as portas, abrindo-as num só tempo. Nova surpresa: o armário estava completamente vazio, não existindo nem cabides, prateleiras ou gavetas; era um grande caixote sem absolutamente nada no seu interior.

Aquilo não era normal e voltou para buscar o lampião a fim de obter melhor claridade; após, pisou levemente a base do armário, mantendo um pé fora, temendo que fosse um alçapão. Aos poucos foi se sentindo mais confiante, acabando por entrar com os dois pés sem que nada acontecesse, passando, assim, a examinar tudo detidamente. Ao bater com os nós dos dedos contra a madeira do fundo percebeu um som diferente que se perdia no vazio, tendo a certeza do que suspeitava. Colocando o lampião no chão forçou a madeira, vendo-a mover-se e abrir uma porta, entrevendo, dentre sombras, uma escadaria em descenso. Novamente lançando mão do lampião resolveu descer.

À medida que descia foi vendo candeeiros presos às paredes -  três ao todo - acendendo-os, até que chegou num patamar onde encontrou uma porta, abrindo-a cuidadosamente. Deparou-se, então, com uma espécie de porão. O baixo teto mostrava as vigas paralelas de sustentação, em espaços exatamente iguais. As vigas, apesar de velhas e descoloridas, eram sólidas; Sorman contou-as dando a cifra de sete. Um pensamento fluiu-lhe ao cérebro enquanto contava: “sete vigas de sustentação, sete vias sob alas; a solidez da matéria cujas leis são imutáveis. O homem sobrepondo-se aos elementos; um sobre quatro, sete sob cinco - o reinado no mundo; o reflexo cósmico aprisionado e operativo. A justeza, a razão, a coroa, os limites do horizonte”

Nada havia no lugar, o mofo ressentia; após a última viga, o porão até então quadrangular, afunilava; as paredes terminavam obliquamente, encontrando-se numa aresta onde um vão estreito e alto indicava a saída. Neste ponto, a geometria do desenho convergia suas linhas para a configuração de um pentágono. Sem hesitar, ele entrou pelo vão, vindo se colocar num estreito corredor de altas e lisas paredes, por onde somente era possível passar um corpo de cada vez. Pouco adiante, uma cortina de vento o surpreendeu, apagando a chama do lampião; ele o largou prosseguindo na escuridão. Esse fato evocou-lhe a lembrança de sua primeira experiência, quando ingressara também por escuro corredor. Após caminhar retamente por vários minutos, sem que nada acontecesse, notou ao longe lampejos de luz seguidos de fracos reflexos, apressando-se com maior ânimo. Logo verificou tratar-se de uma tocha presa numa das paredes ante um portal. Encimando o portal e em torno dele, como numa moldura, havia inscrições cabalísticas feitas em peças de ouro que rebrilhavam. Sorman retirou a tocha do suporte, aproximando-a, mas reconheceu a impossibilidade de traduzir as inscrições, resolvendo cruzar logo o portal. Ao transpô-lo, um instinto o fez olhar para trás, vendo neste lado novas inscrições, dizendo em palavras: “águia, touro, leão, homem - viajante, liberte-se pelo saber!”
- Dogmáticas ou instigantes? - inquiriu-se o jovem, referindo-se naturalmente às palavras.

Prosseguindo, notou que o corredor por onde ingressara tornava-se mais estreito. Poucos metros à frente, viu novas palavras na parede esquerda e conduziu a tocha diante delas, lendo-as. Diziam: “Jamais permita a Luz se extinguir. Caminhe no mais árido deserto, afunde no mais horrível pântano, rasteje na mais ressequida terra; a Luz é sua única salvação!”.

Mais adiante sentiu que andava sobre uma espécie de rampa; a medida que avançava, ela se inclinava cada vez mais e procurou se apoiar numa das paredes, mas acabou escorregando, quase caiu, e terminou com os pés mergulhados em água. Ante o inesperado, baixou a tocha e examinou o local, vendo que estava no interior de um canal. O canal era a única opção de passagem, assim foi em frente. A água que batia em seus tornozelos chegou às canelas; de repente, numa depressão, atingiu os joelhos. Ele hesitou e parou para pensar. Jamais voltara em caminhos de provas, mas admitia precisar redobrar a atenção e ter muita cautela, pois não tinha a menor ideia do que agora encontraria, resolvendo, assim, continuar. E não poderia mesmo tomar outra decisão porque, escutando atrás um ruído, voltou-se e estendeu o braço alumiando o trecho, horrorizando-se com o que viu.
- Meu Deus! - exclamou se virando e procurando fugir de enorme crocodilo que se aproximava. Mas como num pesadelo de perseguição, a água provocava resistência e seus pés pareciam estar presos. O crocodilo, ao contrário, nadava com desenvoltura, vindo rapidamente ao seu encalço. E tanto mais se esforçava por escapar, tanto mais o crocodilo se aproximava. Então, o horrível réptil abriu sua enorme boca a fim de apanhá-lo e ele anteviu o inevitável.

Todavia, ao dar um passo a mais afundou num lodo, ficando imerso até a altura do coração, tendo, por reflexo, a ideia de manter os braços levantados, conservando assim a tocha acesa. O lodo era fino, o que lhe proporcionava poder movimentar-se com relativo desembaraço e ele girou a tocha de um lado para o outro, a fim de orientar-se. Mas, desolado, somente via o negro lodo, como um pântano sem fim, e procurou afastar-se dali, preocupado ainda com o crocodilo, ouvindo quase de imediato um mergulho, denotando o deslocamento do lodo.

Poucos passos conseguira dar notou adiante, a dois metros de onde estava, o lodo mover-se, ondular e provocar pequenas borbulhas. Aterrorizado, ficou imóvel, imaginando que caso o réptil subisse, enfiaria a tocha no lodo buscando escapar na escuridão. Com sorte não seria esbarrado, assim também não localizado.
“A Luz é sua única salvação!”, veio-lhe à mente este tipo de alerta.
- Jamais permita a Luz se extinguir! - murmurou como a desejar apoiar-se nesta oportuna afirmativa e ver-se livre do perigo.
Mas não houve mais tempo para outras ilações, pois o crocodilo emergiu à sua frente e avançou. Sorman procurou recuar e assustá-lo, movendo a tocha em sua direção, porém inutilmente. Ele chegou mais abrindo sua voraz boca. Sorman decidiu enfiar-lhe a tocha boca adentro e lutar como pudesse. Morreria sem se entregar, heroicamente, até onde fosse possível. E preparou-se para este desfecho.

 Extraído da Obra, Enigma Eu, por Rayom Ra 
                                            http://arcadeouro.blogspot.com                                                   

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Jesus de Nazaré e o Cristo Planetário

 01. Pergunta: - Conforme deduzimos de vossas palavras, então Jesus é uma entidade e o Cristo outra. Porventura tal concepção não traz mais confusão entre os católicos, protestantes e espíritas, já convictos de que Jesus e o Cristo são a mesma pessoa?

Ramatís: - Em nossas singelas atividades espirituais, nós transmitimos mensagens baseadas em instruções recebidas dos altos mentores do orbe. Portanto, já é tempo de vos afirmar que o Cristo Planetário é uma entidade arcangélica, enquanto Jesus de Nazaré, espírito sublime e angélico, foi o seu médium mais perfeito na Terra!

O excessivo apego aos ídolos e às fórmulas religiosas do vosso mundo acabam por cristalizar a crença humana, sob a algema dos dogmas impermeáveis a raciocínios novos e para não chocar o sentimentalismo da tradição. As criaturas estratificam no subconsciente uma crença religiosa, simpática, cômoda ou tradicional, e, obviamente, terão de sofrer quando, sob o imperativo do programa espiritual, têm de substituir sua devoção primitiva e saudosista por outras revelações mais avançadas sobre a Divindade!

Os religiosos de tradição, herdeiros e repetidores da crença dos seus avoengos e preferida pela família, habituados a "adorar" e jamais "pensar", sentem-se amargurados quando têm de abandonar as imagens preferidas de sua devoção, e substituí-las por outras mais estranhas!

Assim, correspondendo à assimilação progressiva humana, Deus, primeiramente foi devocionado pelos homens primitivos, através dos fenômenos principais da Natureza, como o trovão, o vento, a chuva, o mar e o Sol! Em seguida, evoluíam para a figura dos múltiplos deusinhos do culto pagão. Mais tarde, as pequenas divindades fundiram-se, convergindo para a ideia unitária de Deus. Na Índia, honrava-se Brahma, e Osíris no Egito; e Júpiter na Olímpia: enquanto os Druídas, no seu culto à Natureza, cultuavam também uma só unidade!

Moisés expressa em Jeová a unidade de Deus, embora ainda o fizesse bastante humanizado e temperamental, pois todos os sentimentos e emoções dos hebreus, no culto religioso, fundiam-se com as próprias atividades do mundo profano! Com o aparecimento de Jesus, a mesma ideia unitária de Deus evoluiu então para um Pai transbordante de Amor e Sabedoria, que pontificava acima das quizílias humanas, embora os homens ainda o considerassem um doador de "graças" para os seus simpatizantes e um juiz inexorável para os seus contrários!

Tais ideias expressam-se de acordo com a psicologia, o sentimento e a cultura de cada povo. Osíris, no Egito, inspirou o culto da morte, enquanto Brahma, na Índia, recebia homenagens fabulosos como a primeira da Trindade Divina do credo indu. Mas, também, havia Moloc, a exigir o sacrifício de tenras crianças, e, finalmente, Jeová, entre os  hebreus, louvado com o holocausto de animais e aves, além de receber valiosos presentes dos seus devotos.

Mais tarde, o Catolicismo definiu-se pela ideia do Criador na figura de um velhinho de barbas brancas, responsável pela criação dos mundos em seis dias, pontificando-se nos céus, atrás das nuvens, mas ainda sensível à oferenda de velas, flores, incenso, relíquias e auxílios necessários à manutenção do serviço divino no mundo terreno. Atualmente, a doutrina espírita ensina que "Deus é a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas", descentralizando a Divindade do antropoformismo, para ser entendida animando todos os acontecimentos da vida.

Não há dúvida: já é bem grande a diferença entre a concepção espírita e os deuses mitológicos que presidiam os fenômenos da Natureza na vida de seus devotos; no entanto, ainda existe diversidade da própria fórmula espiritista, em confronto com outras explicações iniciáticas do ocultismo oriental. Em verdade, essa ideia da pluralidade divina foi-se atenuando com a própria evolução do homem na esfera da Filosofia e no campo da Ciência; porém se isto lhe facultou maior assimilação da Realidade do Criador, aumentou-lhe, no entanto, a sua responsabilidade espiritual.

Quando o religiosos  tradicional tem de abandonar o seu velho mito ou modificar sua ideia formal da Divindade, acariciada há tanto tempo e infantilmente sob a proteção do sacerdócio organizado, ele então sofre na sua alma; e da mesma forma, sofrem os adeptos de doutrina como o Espiritismo, ante a concepção de que Jesus é uma entidade à parte; e o Cristo, o Logos ou Espírito planetário da Terra. 

Todavia, o mais importante não reside, propriamente, nas convicções da crença de cada um, na caminhada de sua evolução mental e espiritual, mas no seu comportamento humano, quando o homem atinge um discernimento mais exato e real quanto às suas responsabilidades e às formas de se conduzir perante o Deus único, cuja Lei Divina abençoa os que praticam o Bem e condena os que praticam o Mal.

Os homens mais se aproximam da Realidade à medida que também se libertam das crenças, pois estas, quer sejam políticas, nacionais ou religiosas, separam os homens e os deixam intolerantes tanto quanto se digladiam os torcedores pelo demasiado apego a uma determinada associação desportiva. Vale o homem pelo que é, o que faz e o que pensa, pois a crença, em geral, é mais uma fuga da realidade.(1)
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(1) Transcrevemos da obra de Krishnamurti, "A Primeira e Última Liberdade", em seu capítulo XVI, "Sobre a Crença em Deus", o seguinte trecho que coincide bastante com o pensamento de Ramatís: "Há muitas pessoas que creem; milhões creem em Deus e encontram consolo nisso. Em primeiro lugar, por que creem? Credes porque isso vos dá satisfação, consolo e esperança  dizeis que essas coisas dão sentido à vida. Atualmente vossa crença tem muito pouca significação, porque credes e explorais, credes e matais, credes em um Deus universal e assassinai-vos uns aos outros. O rico também crê em Deus; explora impiedosamente, acumula dinheiro e depois manda construir uma igreja e se torna filantropo. Os homens que lançaram a bomba atômica sobre Hiroshima disseram que Deus os acompanhava; os que voavam da Inglaterra para destruir a Alemanha, diziam que Deus era seu copiloto. Os ditadores, os primeiros-ministros, os generais, os presidentes, todos falam em Deus. Estão prestando algum serviço, estão tornando melhor a vida do homemAs mesmas pessoas que dizem crer em Deus devastaram a metade do mundo, e o deixaram em completa miséria. A intolerância religiosa, dividindo os homens em fiéis e infiéis conduz às guerras religiosas. Isso mostra o nosso estranho senso político.

Os próprios espíritas, em sua maioria, embora já possuam noções mais avançadas da realidade espiritual, ainda se confrangem, quando se lhes diz que o Cristo é um Arcanjo Planetário e Jesus o Anjo governador da Terra. O anjo é entidade ainda capaz de atuar no mundo material, cuja possibilidade a própria Bíblia simboliza pelos sete degraus da escada de Jacó; mas o arcanjo não pode mais deixar o seu mundo divino e efetuar qualquer ligação direta com a matéria, pois já abandonou, em definitivo, todos os veículos intermediários que lhe facultariam tal possibilidade. O próprio Jesus, Espírito ainda passível de atuar nas formas físicas, teve de reconstruir as matrizes perispirituais usadas noutros mundos materiais extintos, a fim de poder encarnar-se na Terra.

02. Pergunta: - Em face dessa distinção de Jesus ser o intermediário do Cristo Planetário da Terra, gostaríamos que nos désseis maiores esclarecimentos sobre o assunto

Ramatís: - Jesus, como dissemos, não é o Cristo, mas a consciência angélica mais capacitada para recepcionar e cumprir a Sua vontade em cada plano descendente do reino angélico até a Terra. Em Sua missão sublime, Jesus foi a "janela viva" aberta para o mundo material, recebendo do Cristo as sugestões e inspirações elevadas para atender à salvação das almas, em educação na crosta terráquea.

No entanto, Jesus também ascensiona ininterruptamente pela expansão ilimitada de sua Consciência e libertação definitiva das formas dos mundos planetários transitórios. É provável, portanto, que no próximo "Manvantara" ou Grande Plano ele também já se gradue na escala arcangélica; e então participará diretamente da criação dos mundos sob a inspiração do Arcanjo, do Logos ou do Cristo do vosso sistema solar.

É o Arcanjo, o Logos ou Cristo Planetário da Terra, cuja Lua e Essência Vital, em perfeita sintonia com a vontade e o plano de Deus, então alimenta a alma da humanidade terrícola. Os homens vivem embebidos de Sua essência sublime, e, por isso, sentem no âmago de suas almas uma direção que os orienta, necessariamente, para as melhores aquisições espirituais no mundo educativo da matéria. 

As criaturas mais sensíveis, os intuitivos e os inspirados, às vezes identificam essa "voz oculta" a lhes falar silenciosa e ternamente nas belezas edênicas, que os aguardam após o desenlace do corpo carnal. Assim, o Logos, o Verbo ou o Cristo do planeta Terra, em determinado momento passou a atuar diretamente pelo seu intermediário Jesus, anjo corporificado na figura humana, transmitindo à humanidade a Luz redentora do Evangelho.  

No entanto, o Cristo planetário não podia reduzir-se ao ponto de vibrar ao nível da mentalidade humana ou habitar a precariedade de um corpo de carne. Alguém poderá colocar toda a luz do Sol dentro de uma garrafa?

03. Pergunta: - Os teosofistas dizem que os Arcanjos são entidades oriundas de uma linhagem à parte e jamais viveram na face da matéria, cuja evolução ainda segue diretrizes diferentes dos homens. Isso é exato? (2)

Ramatís: - Jamais existem duas medidas diferentes no Plano da Criação e da manifestação do Espírito em peregrinação, para adquirir sua consciência individual. A centelha espiritual surge simples e ignorante em todas as latitudes do Cosmo, adquire o seu limite consciencial situando-se nas formas efêmeras dos mundos planetários e depois evolui através do transformismo das espécies.

O esquema evolutivo é absolutamente um só; sensação através do animal, emoção através do homem, sabedoria através do anjo e o poder e a glória através do arcanjo! São condições inerentes a todos os espíritos, porquanto Deus não modifica o processo de Sua criação fora do tempo e do espaço.

Não existem duas espécies de processos evolutivos, em que uma parte dos espíritos progride exclusivamente no "mundo interno" e a outra inicia-se  pelo "mundo externo". A matéria, conforme prova a ciência moderna, é apenas "energia condensada"; em consequência, não há mérito para o ser evoluir apenas no seio da "energia livre", ou qualquer demérito em submeter-se somente à disciplina letárgica da "energia condensada".

A evolução é fruto de uma operação espontânea, um impulso ascendente, que existe no seio da própria centelha por força de sua origem divinal! A medida que se consolida o núcleo consciencial, ainda no mundo do Espírito, a tendência expansiva dessa consciência primária é de abranger todas as coisas e formas, por cujo motivo ela não estaciona, num dado momento, no limiar das formas físicas, mas impregna-as impelidas pelo impulso criador de Deus!

Assim, o mais insignificante átomo de consciência espiritual criado no seio do Cosmo, jamais poderá cercear o ímpeto divino que o aciona para a angelitude, e, consequentemente, para a própria condição arcangélica! Isso comprova-nos a Justiça, a Bondade e a Sabedoria de Deus, sem quaisquer privilégios ou diferenciações na escalonada do espírito em busca de sua eterna ventura! Todo Arcanjo já foi homem; todo homem será Arcanjo - essa é a Lei!
(2) Vide a obra "A Fraternidade dos Anjos e dos Homens", de George Hogdson. Obra editada pela "Livraria Editora O Pensamento".

Aliás, a importância da vida do Espírito não é quanto à contextura da instrumentação provisória usada para despertar a consciência provisória; mas, sim, aquilo que desperta, acumula e desenvolve em si mesmo, habitando a Terra ou somente o espaço. Não há milagres nem subterfúgios da parte de Deus; nenhuma entidade espiritual, malgrado ser um Logos Solar, poderá ensinar, orientar e alimentar humanidades encarnadas, caso não se trate de uma consciência absolutamente experimentada naquilo que pretende realizar. Não havendo "graças" imerecidas, nem privilégios divinos, obviamente os arcanjos também fizeram sua escalonada sideral sob o mesmo processo extensível a todas as almas ou espíritos impelidos para o seu aperfeiçoamento.

Se um Arcanjo ou Logos Planetário pode ligar-se ao Espírito de um medianeiro, como o Cristo uniu-se a Jesus, e sendo incessante o progresso espiritual, mais cedo ou mais tarde, o próprio Jesus alcançará a mesma frequência e graduação arcangélica. E quando o espirito do homem alcança a condição beatífica de Arcanjo, então ele é chamado o "Filho Sideral"; é um Cristo, cujo estado espiritual absoluto é o Amor, como a "Segunda Manifestação de Deus" ou a "Segunda Pessoa da Santíssima Trindade", ainda tão mal compreendida entre os católicos e os protestantes e injustamente criticada pelos espíritas ortodoxos!

Assim, o Logos ou Cristo Planetário da Terra é realmente a Entidade Espiritual que, atuando na consciência global de toda a humanidade terrícola, alimenta e atende a todos os sonhos e ideais dos homens. É a Fonte Sublime, o Legado Sideral de Deus doando a Luz da Vida, o "Caminho, a Verdade e a Vida", em ação incessante através da "via interna" de nossa alma.

Não é evidente que a lâmpada elétrica de vosso lar busca sua luz e força no transformador mais próximo, em vez de solicitá-la à Usina distante?  Deus, como "Usina Cósmica" e alimentador do Universo, legou aos Seus Arcanjos, transformadores divinos de Luz e Vida, o direito e a capacidade de atenderem às necessidades humanas nas crostas terráqueas, doando-lhes a energia devidamente dosada para a suportação e benefício espiritual a cada ser. Não há desperdício energético no Cosmo; jamais a Divindade oferece um tonel de água para quem só pode suportar o conteúdo de um copo!

Os homens perdem-se pelos escaninhos dos raciocínios obscuros, buscando a Verdade e a Glória através de processos complexos e escravizando a Razão às formas transitórias, enquanto junto de si, continua o copo de água refrescante do Evangelho, capaz de saciar toda a sede humana! Mal sabem eles que Jesus codificou, em linguagem simples e de execução fácil, o Pensamento e a Glória do próprio Cristo Planetário!

04. Pergunta: - Existe alguma referência bíblica indicando-nos que o Cristo é realmente um Espírito Planetário, e não o próprio Jesus de Nazaré?

Ramatís: - Conforme já temos dito, cada orbe tem o seu Logos ou Cristo Planetário, seja a Terra, Marte, Júpiter, Saturno ou Vênus. De acordo com a graduação espiritual de suas humanidades, também há maior ou menor absorvência da aura do seu Cristo, o que, às vezes, é assinalado com acerto pelos astrólogos, no estudo de suas cartas zodiacais coletivas. Quanto mais evolvida é a humanidade de um orbe, ela também é mais sensível ou receptível à vibração espiritual do seu Arcanjo Planetário; sente mais intimamente a sua influência benfeitora e pende para as realizações superiores.

No entanto, quando chega a época tradicional de "Fim de Tempos" ou de seleção espiritual nos planetas promovidos a melhor padrão educativo, é feita a separação no simbolismo dos lobos, das ovelhas, do joio e do trigo. Então os espíritos reprovados são considerados à esquerda do seu Cristo Planetário, ou seja, à esquerda do Amor!

Em seguida, são exilados para orbes inferiores, cuja vida inóspita afiniza-se com o conteúdo espiritual violento, agressivo e despótico, que é próprio da sua gradação inferior. Essa imigração incessante de orbe para orbe, então gerou a lenda bíblica da "queda dos anjos", ou seja, espíritos talentosos, astutos e orgulhosos que subvertem as atividades do Bem, pelo abuso do poder e de privilégios em suas existências planetárias.

Mas é João Evangelista, no Apocalipse, quem deixa entrever de modo sibilino e sem duplicidade que o Cristo é uma entidade e Jesus outra, quando assim ele diz: "E eu ouvi uma grande voz no céu que dizia: agora foi estabelecida a salvação, e a fortaleza, e o reino de nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que os acusava dia e noite diante de nosso Deus" (XXII - 10)

João se refere, indiretamente, ao Cristo Planetário do vosso orbe, de onde é enxotado Satanás, após a profética seleção espiritual, ou seja, simbolizado na comunidade de espíritos rebeldes ao Amor do seu Cristo

Quando chega a época de "Fim de Tempo", ou de limpeza astralina de um orbe, então emigram os espíritos rebeldes que lhe infestam a aura e reduzem a frequência vibratória da luz crística provinda do interior. Depois de afastados da aura do orbe higienizado, é óbvio que este também se mostra menos denso na sua contextura astralina e por isso aflora maior quantidade de Luz de seu Cristo Planetário ao ambiente selecionado.

Essa operação de técnica sideral, João enuncia no Apocalipse, ao dizer que "o poder do seu Cristo foi restabelecido após a expulsão de Satanás". Usando de exemplo rudimentar, diríamos a simples providência de se espanar uma lâmpada obscurecida pelo pó, permiti-lhe maior projeção de sua luz em torno. É por isso que a "Segunda Vinda do Cristo" será exclusivamente pela via interna do espírito do homem, e não conforme descreve a mitologia religiosa, pois quanto mais se sensibiliza o ser, mais ele poderá oferecer a luz espiritual do seu Cristo!

Em consequência, o divino Logos ou Cristo já atuou através de Moisés, Krishna, Isaías, Zaratrusta, Zoroastro, Buda, Maomé, Confúcio, Fo-Hi, Anfion, Numu e muitos outros instrumentos humanos Mas Jesus foi o mais fiel interprete do Cristo Planetário, na Terra; ao completar  30 anos de idade física, quando lhe baixa sobre a cabeça a pomba simbólica do Espírito Santo. Durante o batismo efetuado por João Batista, Jesus passou a viver, minuto a minuto, as fases messiânicas do plano espiritual, traçado pelo seu elevado mentor, o Cristo ou Arcanjo do orbe.

05. Pergunta: - Poderíeis apontar-nos alguma passagem bíblica cuja clareza nos dispensa de interpretações dúbias, distinguindo o Cristo de Jesus?

Ramatís: - É muito significativo o diálogo que ocorre entre Jesus e Simão Pedro e os demais apóstolos, quando se lhe indaga: "E vós que dizeis que eu sou?" E Pedro responde-lhe: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo". Finalmente, depois de certa reflexão, Jesus então mandou seus discípulos que a ninguém dissessem que ele era Jesus Cristo. - Lucas, IX - 20 e 21; Mateus XVI - 15, 16 e 20.

Nesse relato, Jesus admitiu representar outro Ser, o Cristo, além de si, e que há muito tempo o inspirava e fora percebido intuitivamente por Simão Pedro. Falando mais tarde às turbas e aos apóstolos, o Mestre Jesus esclarece a sua condição excepcional de medianeiro do Cristo, não deixando qualquer dúvida ao se expressar do seguinte modo: "Mas vós não queirais ser chamado de Mestre, porque um só é vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. Nem vos intituleis Mestres, porque um só é o vosso Mestre - o Cristo - (Mateus XIII - 8 e 10).

É evidente que Jesus, falando na primeira pessoa e referindo-se ao Cristo na segunda pessoa, tinha o propósito de destacá-lo completamente de sua própria identidade, porque, em face de sua reconhecida humildade, jamais ele se intitularia um Mestre. Aliás, inúmeras passagens do "Novo Testamento" fazem referência a Jesus e o chamam o Cristo (Mateus XXVII - 17 e 22) , pressupondo-nos que mais tarde ele chegou a admitir-se como o Cristo, o "Ungido" ou "Enviado".

E se Jesus não esclareceu melhor o assunto, assim o fez em virtude dos apóstolos não poderem especular sobre a realidade de que ele pudesse ser uma entidade, e o Cristo outra; assim como a falta de cultura própria da época, não lhes permitia raciocínios tão profundos como a ideia de arcanjo planetário.
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 (3) Recomendamos a leitura do capítulo "Os Engenheiros Siderais e o Plano da Criação", da obra "Mensagens do Astral", de Ramatís que explica minuciosamente as particularidades dos Cristos Planetários e Constelatórios, e, em particular, a excelente obra "Assim dizia Jesus", de Huberto Rohden, quanto ao capítulo "Ninguém vai ao Pai a não ser por mim", em que o autor faz proficiente estudo sobre a diferença entre Cristo e Jesus.

Capítulo V extraído da Obra "O Sublime Peregrino", por Ramatís, da editora Livraria Freitas Bastos.                           
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sábado, 20 de setembro de 2025

A Descida Angélica e a Queda Angélica

                     Capítulo III - A Descida Angélica e a Queda Angélica

 O1. Pergunta: Poderíeis esclarecer-nos qual é a diferença entre a "descida angélica" e "queda angélica", a fim de compreendermos melhor a descida vibratória de Jesus ao nosso mundo físico?

Ramatís: - A descida angélica é quando o Espírito de Deus desce vibratoriamente até ao extremo convencional da Matéria, cujo acontecimento é conhecido pelos hindus como "O Dia de Brahma" e distingue o fenômeno da criação no seio do próprio Criador. É uma operação que abrange todo o Cosmo, ainda incompreensível para o homem finito e escravo das formas transitórias. A queda angélica, no entanto, refere-se especificamente à precipitação ou exílio de espíritos rebeldes, que depois de reprovados na tradicional seleção espiritual de "Fim dos Tempos" ou de "Juízos Finais", transladam-se do orbe de sua moradia para outros mundos inferiores.

Os reprovados colocam-se simbolicamente à esquerda do Cristo - que é o Amor - e emigram para outros planos em afinidades com suas índoles revoltosas e más, a fim de repetirem as lições espirituais negligenciadas, e então recuperarem o tempo perdido, mediante um labor educativo mais rigoroso.

Daí a lenda da "queda dos anjos", que se revoltaram contra Deus: e depois de expulsos do Céu transformaram-se em "diabos" decididos a atormentar os homens. Aliás, tais "anjos" são espíritos de inteligência algo desenvolvida, que lideraram movimentos de realce e foram prepotentes nos mundos transitórios da carne, onde se impuseram por um excesso intelectivo, causando sérios prejuízos ao próximo!

Maquiavélicos cruéis ou astutos, renegam-se à retificação espiritual espontânea e opõem-se veementemente contra quaisquer diretrizes redentoras que lhes façam sofrer ou lhes exijam a renúncia, o perdão e a prática do amor ensinados pelo Cristo-Jesus! São obstinados, argutos e arrojados, mas profundamente egotistas; jamais cedem no seu orgulho e recusam-se a aderir a qualquer princípio crístico do mundo angélico! O seu conceito radical e obstinado é o seguinte: "O mundo mundo material pertence aos homens e o Céu aos anjos"!

Então eles caem nas suas posições prestigiosas e perdem-se pelo despotismo, pois a razão lhes dá a medida exata do mundo de formas, infelizmente isso lhes aniquila o senso intuitivo da realidade espiritual. Os "anjos" decaídos são espíritos rebeldes a qualquer insinuação redentora que lhes fira o orgulho ou lhes enfraqueça a personalidade humana!

Quando encarnados, mobilizam seu talento incomum para demolir às instituições e os movimentos que exaltem as virtudes da alma e fortaleçam o comando angélico; quando desencarnados, filiam-se à qualquer empreitada satânica do mundo astral, desde que tenha por objetivo combater às hostes de Cristo. Aviltam-se pela obstinação furiosa contra os poderes angélicos e se endurecem no sentimento, ante a recusa de aceitar o processo cármico redentor através do sofrimento ou da humildade. Em verdade, eles se envergonham de aderir à ternura, à tolerância e ao amor pregados por Jesus!

Mas depois de exilados para os orbes inferiores, submetidos ao tradicional processo seletivo de "Fim de Tempos" ou "Juízo Final", esses "anjos" decaídos terminam cedendo em sua estrutura personal orgulhosa, quer enfraquecidos pelos vícios incontroláveis, como destroçados pelas paixões devoradoras! Destruído o paredão granítico de sua vaidade e orgulho, então lhes reponta a fulgência da luz angélica que palpita no âmago de toda criatura!

Sem dúvida, essa emigração de anjos decaídos ou de espíritos rebeldes, de um orbe superior para outro inferior, evita o perigo da saturação satânica no ambiente astralino das humanidades, porque a carga nociva alijada faz desafogar a vida espiritual superior, tal qual as flores repontam mais vivas e belas nos jardins que se livram das ervas malignas!

Em consequência, tem fundamento a lenda bíblica da "queda dos anjos", embora, às vezes, alguns a confundam com o processo de "decida angélica", o que é bem diferente e refere-se a quando Deus cria os mundos planetários e se manifesta exteriormente, no ciclo de um novo Grande Plano Criador! 
(1) Parece-nos que o consagrado professor Pietro Ubaldi, autor da "Grande Síntese", confundia a queda angélica com a descida angélica, em sua obra "Deus e o Universo" (Cap. V, pág. 64, 1a. edição). Pois, conforme diz Ramatís, na descida angélica, "Deus desce até a fase-matéria e cria o Universo exterior das formas; porém, na queda angélica, os espíritos reprovados na seleção espiritual dos seus mundos eletivos, precisam repetir as mesmas lições noutros orbes inferiores, para onde são exilados". Acreditamos que o conhecimento espiritista da reencarnação seria suficiente para Pietro Ubaldi ajustar a sua tese. Aconselhamos os leitores a examinaremos excelentes artigos de Henrique Rodrigues, na "Revista Internacional do Espiritismo", ns. 7 a 10, de 15 de julho a 15 de novembro de 1956, assim como a análise de Edgard Armond, inserida no "O Semeador", no. 140, de junho de 1956, órgão da Federação Espírita de São Paulo, que abordam o assunto da queda dos anjos, na obra "Deus e o Universo", de Pietro Ubaldi.

02. Pergunta: - Considerando-se a descida dificultosa de Jesus à Terra, qual seria, então, o processo de retorno ao seu mundo angélico, depois de sua desencarnação na cruz do término de sua heróica missão?

Ramatís: - Enquanto o Espírito superior, na sua descida, algema-se à carne pela redução de sua energia perispiritual, então ele se liberta quando retorna aos seus páramos de luz, num processo oposto, que é a aceleração energética. No primeiro caso é o aprisionamento opressivo na forma, e, no segundo, a libertação para reassumir a sua condição natural superior. Jamais se pode comparar a ascensão ou retorno espontâneo de Jesus em direção ao seu mundo angélico, operação mais fácil e libertativa, com sua descida vibratória tão difícil e tormentosa! Ascensionando, ele abandonou a matéria em fuga energética natural acelerada, mas a descida reduziu-lhe a função normal de sua delicada contextura perispiritual e a própria memória sideral se obscureceu, para poder se ajustar aos limites acanhados do cérebro humano!

Como a Técnica Sideral não consegue elevar a frequência vibratória dos planos inferiores até ao nível energético de um espírito do tipo de um Jesus, ela precisa processar-lhe, gradualmente, a redução perispiritual de plano superior para plano inferior, até ajustá-lo ao casulo carnal. Essa operação sideral redutora implica na incorporação sucessiva de energias cada vez mais inferiores e letárgicas na vestimenta resplandecente da entidade em descenço!

Embora seja um exemplo incorreto, lembramos que o mergulhador, além de vestir o escafandro pesado e opressivo, ainda fica circunscrito à natureza da fauna e à densidade dificultosa no meio líquido onde opera. Sem dúvida, é bem grande a diferença do escafandrista oprimido no seio da água, com o homem em liberdade no ambiente gasoso da superfície terrena, onde o oxigênio dispensa aparelhamentos especiais para ser absorvido.

Mas apesar de todas as dificuldades e óbices à sua elevada natureza espiritual, Jesus, o Sublime Amigo do homem, não hesitou em aceitar o sacrifício sideral de deixar o seu mundo de Luz, para submeter-se heroicamente às leis e às formas escravizantes do planeta Terra.

03. Pergunta: - Consoante vossa descrição, deduzimos que Jesus ainda continua a sofrer os impactos vibratórios hostis do mundo material, caso um estado angélico não imunize o Espírito contra as reações dos planos inferiores?

Ramatís: - É óbvio que no seu excelso "habitat", Jesus não sofre o impacto das forças inferiores, pois estas só o afetaram enquanto ele precisou atuar-se no seio da matéria. O seu padrão angélico o torna imune às frequências vibratórias mais grosseiras, assim como o pó não afeta a luz do Sol e as ondas hertzianas não se deformam de encontro ao charco. No entanto, se o Sol precisasse habitar o banhado, é óbvio que ele também sofreria as suas emanações fétidas.

Quando em liberdade espiritual, o imenso campo áurico de luz e a emanação crística de Jesus ainda alentam e purificam os seres mais ínfimos que lhes tomam contato, mas não o hostilizam como seria na Terra. Porém, na sua descida espiritual até a matéria, ele teve de nivelar-se às vibrações contundentes das faixas retardadas e próprias de cada plano inferior em que se manifestava.

Extraído de "O Sublime Peregrino", por Ramatís, Livraria Freitas Bastos
                                                        Rayom Ra
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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

O Caminho do Discipulado

 Caminho ou Sendeiro - Lemos em A Voz do Silêncio: "Não podes recorrer ao Caminho antes que tu mesmo te hajas convertido no próprio Caminho".

Este Caminho - diz o comentário - acha-se mencionado em todos os Tratados Místicos. Conforme declara Krishna no Dhyaneswari: "Quando alguém se apercebe deste Caminho....., já parte para as magnificências do Oriente ou em direção das Câmaras do Ocidente, sem se mover....., está o viajante nesse caminho.

Neste caminho, para qualquer lugar onde alguém se dirija, aquele lugar se converte no próprio eu dele mesmo. "Tu és o caminho terão dito ao adepto guru, e este dirá ao discípulo após a iniciação deste. "Eu sou o caminho e a via", diz outro Mestre [Jesus].

Este enigma se explica tendo em conta que a palavra "Caminho" alude aos graus do progresso íntimo individual ao curso do discipulado, ao desabrochar progressivo do indivíduo na via ascendente da espiritualidade.

Os graus ou etapas desta evolução se acham divididos em dois grupos, constituindo-se, os do primeiro, em o Caminho Probacionário, e os do segundo, no Caminho propriamente dito ou o Caminho do Discipulado, que se descreverão em seus respectivos lugares.

Temos os seguintes significados:
Caminho de Ação: Karma-Yoga ou Karma-Mârga.
Caminho do Conhecimento: Jñana-Yoga ou Jñana-Mârga.
Caminho de Devoção: Bhakti-Yoga ou Bhakti-Mârga.

                                  O Caminho do Discipulado

É precedido do Caminho Probacionário, entra pela porta da Iniciação quando o homem está preparado para recebê-la. Está constituído por quatro etapas ou graus distintos, e a entrada de cada um deles é guardada por uma iniciação.

O primeiro grau é chamado Párivrâjaka [o de religioso mendicante, que leva uma vida errante, sem lugar, porque não considera a terra como sua morada]. Os budista a este grau o nome de zrotâpatti : "aquele que entrou na corrente"; e o segundo grau é denominado Kutîchaka, ou seja, o homem que construiu uma cabana e alcança um lugar de paz; entre os budistas se lhe dá o nome de Sakridâgâmin [aquele que só renascerá uma vez mais]; o terceiro grau é o Hamsa ["Cisne"], (o que compreende bem "Eu Sou Aquele": em términos búdicos é Anâgâmin, ou seja, o estado daqueles que se hajam levado ao domínio de si mesmos até um ponto tal não vira mais renascer neste mundo; e por fim, o quarto grau, Paramahamsa [aquele que está mais além da Individualidade ou do Eu". Os budistas dão a este grau o nome de Arhat, o Digno, o Santo, o Venerável, que se tem condicionado para auferir da perfeita sabedoria, a mostrar compaixão infinita pelos ignorantes e afligidos, assim como a um amor imenso a todos os seres. [A. Besant, Sabed. Antig., cap. XI, y Olcott, Catec. Búd. Quest. 189]

Fonte: Glossário Teosófico - H.P. Blavatsky
                   
                                                Rayom Ra
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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Vem, ó Borboleta e Voa!


                                    Vem, ó borboleta e voa!
                                    Com tuas asas multicores,
                                    Que se batem em louvores,
                                    Sob um céu de anil e flores!

                                    Inaudível é tua voz,
                                    Nas quebradas do acalanto,
                                    Mas vestida como em manto,
                                    Alegre és por todo o canto!
                                
                                    Vem, ó borboleta e voa! 
                                    Aos teus lindos esplendores,
                                    Pois além quando tu fores,
                                    Viverás sem teus amores!
                                    
                                                                  Rayom Ra
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