Ao cruzarem as águas e
adiante se depararem com suas turbulências pelos fortes ventos, os discípulos
se assustaram. A tempestade se avizinhava e o Mestre repousava no barco.
Homens tende fé!
Em tempos de calmaria este imperativo pareceria aos discípulos nova redundância, coisa para lá de conhecida. E até o proclamavam aos seus ouvintes e parentes.
Como são inúteis as teorias em momentos de realidade... Verdadeiramente inócuas se não nos podem dar provas. Meras e vazias palavras! Farisaísmos! Enchem nossas mentes, ocupam a memória, estabelecem bases unicamente na massa cerebral.
Teóricos procuram avidamente pelas teses hipostáticas. Formulam sempre, conceituam, escrevem laudas, publicam livros. Brilhantismo hipócrita!
Homens tende fé!
Inúmeras vezes chega o alerta. As palavras ressoam fáceis aos nossos ouvidos em tempos de nenhuma intempérie.
Mas o que é a fé? Eis a grande questão em que mergulham e se debatem as religiões e filosofias. Questão somente comparável ao enigmático e irrespondível: Por Quê?
Impossível definir a fé de modo pragmático como tantos desejam. Os superficiais, os ateus, os céticos empedernidos - gélidos analistas que pouco ou nada sabem e fingem saber - jogam simples e ofensivas palavras sobre este elemento arraigado à alma. Consideram a fé mais uma morbidez humana, execrando-a nas suas definições e sentenças ao espelho invertido de suas próprias imagens cruéis!
A fé no entanto é algo que pode já nascer conosco e conosco partir. Ou provinda das altas abstrações pode um dia desabrochar na mente objetiva, e acalentá-la!
Há porém vários objetos sobre os quais a fé é distorcida. A fé cega de todos os modos deve ser desmistificada. Possuindo poderes incomuns na psique coletiva este tipo de formação mental-emocional consegue arrastar milhões de mentes sem discernimento, conservando-as na escravidão dos sentidos.
Entretanto retamente praticada a fé constrói sempre para o bem. Quando mente e alma, raciocínio e razão, objetivo e subjetivo se unem numa só e boa direção, temos ali um ser interior coerentemente construído, uma alma adulta e consciente – uma fortaleza inabalável. E nesta fortaleza se revela o que muitos duvidam: a fé se torna explicável!
Este é o estado alcançado por discípulos estudiosos, praticantes da ciência espiritual e forças brancas. A estes, argumento algum materialista virá jamais confundi-los, pois seus avanços estão calcados sobre terreno firme. A estes, cada vez mais são recomendados estudos, meditação e obras no mundo – eixos que se interligam! A fé aqui se transmuta em ciência da mente, remove montes e montanhas, realiza cada dia mais!
A reencarnação existe? Impossível não existir. É lei cósmica. É lógica irrebatível. É argumento lúcido de cuja existência se comprova Deus, Sua soberba Inteligência ao criar os mundos, à natureza, o homem!
Por que Adão comeu da maçã, tomando-a das mãos de Eva? Por que a serpente a instigara? Não, não foi ela, foi a fraqueza de Adão nascida da ignorância. O arbítrio definiu o ato, pois ele desejava conhecer o mundo, as raízes de todas as coisas. A Mônada, o Espírito Imortal, a Chispa do próprio Deus o pressionava para baixo. Era preciso renascer muitas vezes...!
Como então explicar as diferenças gritantes no mundo? Por que alguns possuem desde o berço e outros não? Vontade de um Pai justo? De novo Adão nos mostra a face. Do paraíso insólito decidiu sofrer para conhecer, renascer no mundo para compreendê-lo.
A tempestade agora ameaçava a segurança dos discípulos. Que fazer? Iremos morrer? Acordemos o Mestre, ele acalmará os ventos, fará cessar a tempestade!
Acorda, Mestre, ou morreremos todos. Salva-nos!
O Mestre acordando passou-lhes um pito, chamando-os de homens de pouca fé. Acalmou os ventos, às águas e fez cessar a tempestade.
Seria este um inverossímil capítulo humano, uma extraordinária efeméride do mundo? Quantas vezes teria acontecido ao longo dos séculos e milênios com demais Mestres da Ciência Sagrada? Não sabemos, mas somos inclinados a admitir que com Jesus o fato ocorrido há pouco menos de dois mil anos consegue deter parâmetros humanos. Pois Jesus existiu em carne e osso.
Porém a alusão oculta transcende ao acontecimento físico visível e galga internamente para mais altos ensinamentos. Vejamos:
O barco navega - A personalidade vive.
O vento sopra - A mente é açoitada.
As águas se agitam - As emoções vacilam.
Os discípulos no barco - Valores do ego que formam a personalidade.
O Mestre repousa - O Ego Superior medita.
A fé, principal figurante desta encenação se demonstra vacilante, enfraquecendo com a oscilação das emoções, submergindo ao medo. Eis a diferença fundamental entre a fé nos tempos de paz e nos tempos de provas. Se trabalhada somente com elementos teóricos, não submetida às agruras incontornáveis da vida, furtará ao ego conhecê-la como de fato é, de frutificá-la e nela vivenciar. E dele escapará sempre, se esvairá da mente, cambiará para emoções errantes, abrirá caminho ao medo, ao pânico, à covardia.
Nas horas de provas o ego ainda despreparado e dispersivo se esquece de orar, de concentrar-se, de interiorizar-se para se unir aos poderes da Alma ou Ego Superior – seu Verdadeiro Mestre – que nele mesmo fará cessar não só uma tempestade, mas todas!
Mestre acorda! – brada assim ao vento o discípulo vacilante.
Mestre aqui estou e comigo estás! – sussurra o discípulo unido ao Mestre pela fé irremovível e por uma sólida e enobrecida vida interior.
Por Rayom Ra
Rayom Ra
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