Sigo em sombras que me enlaçam,
Não
há luzes, ruídos, memórias, nada,
Elas
me atraem, carregam-me, estou solitário,
Mergulho outra vez: impotente, dominado,
Brumas, densos véus, espaços vazios, escuridão,
Quero parar, estancar, dar meia volta, retornar a mim,
Elas
vão comigo, e voo, e não consigo, e não posso,
Faltam-me forças, volição, comando; estou à deriva.
Eu
sei, eu sei tudo; e sei-o em todos os detalhes,
Somos
conhecidos, mil vezes andamos,
Velho
patife, sempre a me reclamar, comigo estar,
São
inúmeras as suas faces: são dezenas, centenas,
Sempre elas: mecânicas, vagantes, vigilantes,
Conheço-as
todas, querem-me por perto,
Gênero hipnótico a me perseguir, a me induzir,
Macabro
gênio; impiedoso colecionador de histórias.
Penso
odiá-lo profundamente, ele me repugna,
Quero mata-lo, sair-me vencedor numa batalha heroica,
Um
Ulisses voraz, um César triunfante, um Teseu matador,
Ei-lo, e vejo-me aplaudido por meu público imaginário,
Aqui está sua cabeça horrenda; jogo-a estupidamente ao chão,
Audacioso, piso-a: hidra magnífica, adversário feroz,
Sou
fantástico, um guerreiro, um semideus dourado,
Orgulho-me, quero a comenda, o cetro, a coroa de louros!
Desnudo-me. O manto aos pedaços lanço-o aos cães infiéis,
Permito-me um olhar superior aos traidores, os pervertidos,
Malignos infiltrados, conspiradores, desprezíveis vendilhões!
Suado, elevo a cerviz, a tez lavada prova-lhes a tremenda luta,
Retiro da cabeça altiva a coroa de espinhos, não mais ela,
Caminho nu entre os meus, nos abraçamos em lágrimas,
Está
terminada: venci a legião, ao inimigo tenaz – a ele!
Sou
agora um Cristo real, um homem-Deus, um libertador!
Devaneios, devaneios, por que me torturais assim?
Pétrea
esfinge de mim: ao poço de Jacó jamais sentei,
Nunca vi à samaritana, não subi a montanha e nem sei do Graal,
Nas alturas me inspiro, mas na cruz do
suplício não me deitei,
Caminho errático; angústia; grito abafado; solidão que apavora.
Não Ele – ainda! Mas tu em mim sempre em quimera de sonhos,
A hora
Dele não é chegada; porém tu me satirizas, pérfido,
Tiras-me de meus enlevos, afundas-me no louco entono!
Alcanço o mais profundo de mim; abandona-me Luci,
Um
frio mortal vara-me o ser, brumas mais negras sufocam-me,
Estou
no chão, morada dos andrajosos, vale solitário.
O mesmo
cenário lúgubre, toscas habitações, silêncio sepulcral,
Quero voltar; minha casa, meu quarto, meu corpo cataléptico,
Impedem-me os passos e quedado retorno a este extremo,
Sim,
sim, repito, fiz isso tantas vezes onde vou,
Sei
com quem me entrevistarei, sei o que ele quer, sei, sei!
Por
Rayom Ra
[Direitos Reservados]
Rayom Ra http://arcadeouro.blogspot.com.br
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