domingo, 15 de outubro de 2017

A Missão da Umbanda - Ramatís


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  [Capítulo 1 da obra A Missão da Umbanda, por Ramatís, pela mediunidade de Norberto Peixoto, e elucidações finais]

Preconceitos Racistas contra os Espíritos

  Assim, foi delineada a doutrina que se conhece por umbanda, despida de preconceitos racistas por sua origem africana, no sentido de agrupar em suas atividades escravos, senhores, pretos, brancos, nativos, exilados, imigrantes descendentes, enfim, todos os povos do mundo, sediados em solo brasileiro.
- Ramatís: A Missão do Espiritismo.

  PERGUNTA: - O que acontecerá com as práticas mágicas populares, que nos indicais misturadas aos mais diversos sortilégios, tudo sendo entendido como umbanda pelos leigos? Não temos de ser eletivos, excluindo-as?

  RAMATÍS: - Ocorre um conflito entre dois caminhos. Um é a integração dos cidadãos hodiernos à práxis, bem informados, o que redunda, senão na renúncia total às tradições que não se encaixam mais na sociedade, no mínimo na sua reinterpretação de acordo com valores da consciência coletiva. O outro é a exclusão dos ritos populares, o que não contribui em nada e denota comportamento sectário. Há ainda os que preferem fazer ritos ditos "puros", de preferência só com estudo e sem atender os reclames dos consulentes.

  Exatamente por não ter codificação doutrinária que a engesse, a umbanda se mostra solução original: dedicada tecelã, movimenta os fios num liame de continuidade para as práticas mágicas populares, inserindo-as na dominância filo-religiosa negro-ameríndia, amalgamada com a prática cristã-espírita-mediúnica. A umbanda é inclusiva, não sectária, sem proselitismo, tecelã de uma colcha viva do Pai Maior, que é toda luz e se faz com a costura de muitos retalhos, divina agulha que pacientemente alfineta as almas rumo ao amor, dando o tempo necessário a cada consciência para a unificação cósmica; daí a diversificação que cada vez mais se fará unidade. Assim, os sortilégios e os fetichismos serão amainados qual tenaz camelo que atravessa um deserto causticante.

  Refleti que a eleição do ser é de foro íntimo e deveis procurar agremiação que vos conduza a um estado psicológico condizente com vossos anseios espirituais. Quando transferis para os outros valores e crenças internos, exteriorizando-os na forma de padrões de conduta que excluem, como faziam aos banidos hereges do pretérito, contrariais o amor que nada impõe, uma vez que orienta e esclarece sem estabelecer julgamentos, dando a cada consciência a oportunidade sublime de usar a razão, fundamentando a amorosidade que unifica, não a que separa a coletividade umbandista.

  PERGUNTA: - Mas, se "os 'caboclos', 'pretos velhos' e 'crianças' são o canal de representatividade com os orixás, formando as sete linhas vibratórias da umbanda", conforme vossos dizeres, concluiremos que os persas, etíopes, marroquinos, indianos, árabes, egípcios, indochineses, povos nômades do deserto (ciganos), entre outras formas de apresentação dos espíritos que caracterizam o agrupamento do Oriente, são entidades excluídas da umbanda, não fazendo parte dela?

  RAMATÍS: - As entidades estruturais, que plasmam o triângulo fluídico mantenedor da umbanda, do Espaço para a Terra, são os caboclos, pretos velhos e crianças. Além deles, aglutinam-se "à volta" do movimento umbandista, fortalecendo a mensagem libertadora do Cristo Cósmico e as leis universais, equânimes para todos como o raio do Sol que não distingue telhado em dia inverna!, todas as formas que servem de veículo da consciência para os espíritos nas diversas latitudes siderais.

  Desde seu surgimento numa sessão de mesa, [1] quando foi verbalizado pela primeira vez o vocábulo "umbanda", com toda a sua sonoridade mântrica associada ao mediunismo, seus mentores do Espaço foram insurgentes contra a exclusão, na época, dos negros e silvícolas, proibidos que eram pelos dirigentes encarnados de se manifestarem, além de não autorizarem a passividade dos médiuns para espíritos que se apresentassem como dessas raças, taxados por eles de inferiores e primitivos. Assim, suas bases são alicerces evolutivos que incluem, sem preconceitos raciais espiritistas, todas as etnias excluídas por outras religiões: negros, escravos, brancos, amarelos, nativos e imigrantes na pátria brasileira, descendentes de todos os povos do orbe terrícola.

  [1] Após a reunião mediúnica na Federação Espírita do município de Niterói, quando foi anunciada a criação da umbanda, em sua primeira manifestação por intermédio de Zélio Fernandino de Moraes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, entre outras normas do culto nascente, ditou as seguintes diretrizes para a umbanda e para a fundação da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade: "Assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, a Tenda acolherá os que recorrerem a ela nas horas de aflição... Todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com os espíritos que souberem mais e ensinaremos àqueles que souberem menos; a nenhum viraremos as costas nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai". [Maiores detalhes em Umbanda e sua História, de Diamantino F. Trindade, 2ª edição, publicação da Editora Ícone, p. 62.]

  PERGUNTA: - O trabalho mediúnico com pretos velhos, caboclos e crianças, formas de apresentação das entidades estruturais da umbanda no Espaço, pode ser caracterizado, por si só, como umbandista?

  RAMATÍS: - Alguns irmãos médiuns, ao serem apresentados como "aparelhos" pela umbanda, ficam tão entusiasmados com o caboclo ou o preto velho que se comportam qual um menino que vai à feira comprar um curió cantador e volta com um pardal de chilreado rouco, disfarçado, com o abdome vermelho. Assim, não adianta a mais linda gaiola para abrigá-lo se sua natureza é outra, que não a de pássaro, não tendo o cântico que encanta os ouvidos. Está claro que a simples forma de apresentação dos espíritos não significa a essência umbandista, que é fazer a caridade em nome do Cristo. Nesses casos, nos dias atuais, mais vale a história, a procedência e a seriedade do terreiro do que o trabalho das entidades em lugares menos afeitos às diretrizes de segurança mediúnica, como o são as garagens de residências e salas improvisadas, sem os imprescindíveis preceitos e descargas fluídicas que existem nos locais consagrados e unicamente utilizados regularmente para o exercício da mediunidade caritativa.

  PERGUNTA: - É necessário o sacerdócio para poder firmar-se em uma casa de umbanda, e até mesmo conduzi-Ia?

  RAMATÍS: - Não. São necessárias a mediunidade, a humildade e a simplicidade, as quais imantam a cobertura de entidades da verdadeira umbanda. Os sacerdotes ministram rituais e não precisam ser médiuns. Zélio Fernandino de Moraes era simples cidadão, jovem, e possuía mediunidade inequívoca, que aflorou naturalmente, sem depender de títulos honoríficos, graus sacerdotais ou iniciações conduzidas na Terra. Aliás, o preparo espiritual de um medianeiro na umbanda começa muito antes de sua atual encarnação, sendo precedido de intensa sensibilização energética em seus chacras e em seu corpo astral, que deverão vibrar muito próximo das vibrações das entidades que o assistirão. Isso é o que representa a cobertura e a outorga do plano espiritual superior, e tudo o mais feito na Terra, se não antecedido da sensibilidade psicoastral potencializada pelos técnicos do "lado de cá", será improfícuo. Obviamente que, existindo verdadeiramente a sensibilidade mediúnica, os ritos aplicados em centros de umbanda sérios servem de roteiro seguro ao médium, que se vê apoiado por seus irmãos umbandistas e tem o reconhecimento da comunidade que o cerca, aumentando-lhe a segurança para a sintonia com o outro lado.

  PERGUNTA: - E quanto às personagens que se apresentam em alguns terreiros, um tanto folclóricas, carismáticas, até rudes e violentas, mais parecendo do mal, emotivamente incentivadas pelo imaginário popular, os boiadeiros, baianos e marinheiros, trata-se de espíritos da umbanda?

  RAMATÍS: - Há um aforismo popular, uma generalização positiva, muito repassado pelos pretos velhos que diz: "Todos os filhos são gente do Cristo, mesmo sem o saberem". Não deveis confiar em conceituações negativas, como se todos os espíritos que se apresentam nessas antigas personalidades fossem ovelhas perdidas do rebanho do Bom Pastor. Jesus, o Senhor da luz crística, deixou o paraíso para habitar as trevas eivadas de pecadores. O amado Mestre ensinava usando parábolas simples, permitindo que todos se aproximassem d'Ele em suas preleções. É evidente que todos vós, em determinado momento da vida pregressa de vossos espíritos, já fostes entidades "malfeitoras". Manifestados na Terra sob as formas mais simples, como a de um cavaleiro boiadeiro, estivador baiano ou intrépido viajante dos mares, existem anjos latentes que ainda não germinaram.

  Em vez de classificarem esses espíritos, que estão desabrochando o Cristo interno, de meros malfeitores, como se a luz em sua refulgência fosse cegá-los, as entidades estruturais da umbanda fraternalmente aceitam e monitoram suas participações, como auxiliares nos terreiros que têm essa afinidade, em prol da caridade desinteressada, pelo natural efeito cármico de vidas passadas que os enreda numa exigência evolutiva recíproca, num agrupamento de médiuns e consulentes.

  Em vez de impor virtudes, excluindo os que ainda não as possuem, deveis modificar o próximo pelos atos fraternos, acolhedores, imprimindo confiança e amizade. Lembrai-vos da renúncia e abnegação dos espíritos luminares que impõem sobre si pesado rebaixamento vibratório para assistir aos retidos no ciclo carnal, plasmando corpos de ilusão nas formas astrais de caboclos, pretos velhos e crianças, seguindo o exemplo do Divino Mestre que encarnou entre vós em missão sacrificial.

  Os guias da umbanda acolhem amorosamente todos os encarnados e desencarnados que adentram os terreiros, difundindo a Divina Luz nas frontes aflitas, mesmo na escuridão, oferecendo oportunidade de retificação espiritual aos que a aceitam em seus fundamentos doutrinários.
   
  PERGUNTA: - Existem alguns guias, mentores espirituais, que acham absurdas essas infiltrações de espíritos sem luz misturando-se às falanges de umbanda, afora a possibilidade de fascinarem os médiuns. Isso existe?

  RAMATÍS: - Há de se distinguir a forma da essência, além das peculiaridades das agremiações mediúnicas terrenas para as quais essas orientações são válidas. Sem dúvida, existem terreiros que não se relacionam com a umbanda, mesmo que, embora deturpado, esteja grafado em sua fachada o nome "umbanda". São agremiações amparadas pelo mediunismo que exaltam a estética apoteótica dos ritos exteriores: entidades "incorporadas" com paramentos coloridos e longos penachos, vestidos de "orixás", como se fossem entrar na avenida carnavalesca, tudo com muita dança, fumo, bebidas, atabaques ensurdecedores para impressionar a assistência hipnotizada pela "força" (axé), materializada nos transes vistosos e no cerimonial barulhento. Ao fundo, longe dos olhos profanos, o "sagrado" é invocado com o corte ritualístico, em triste matança sanguinária dos irmãos menores do orbe: cabritos, bodes e galináceos. Ao término dos cultos festivos, a parte menor da comida de cada "santo" serve para "fortalecer" os médiuns: vísceras finamente temperadas são saboreadas com bebidas alcoólicas para "reforçar" a sintonia com os aparelhos; o quinhão maior é despachado na madrugada nos cruzamentos urbanos e nas portas de cemitérios, o que dá muito trabalho para os guardiões espirituais de vossas moradas sepulcrais, uma vez que enxameiam dementados do além-túmulo diante das entregas cadavéricas ainda recheadas de fluido vital.

  Por outro lado, observai em vossa vida cotidiana: médicos incentivadores do aborto diante de jovens moçoilas desavisadas; contadores sonegadores de impostos; engenheiros corruptos que aceitam propinas de empreiteiros; advogados enganadores que se apossam dos proventos das sentenças dos clientes desatentos. Esses desvios comportamentais dos cidadãos não devem, no entanto, deixar-vos em estado de ânimo afeito às "adjetivações" generalistas excludentes, como se todos os profissionais médicos, contadores, engenheiros e advogados fossem assim, todos iguais. Da mesma forma, não transfirais para o "lado de cá" vossas disposições parciais, como o fazeis ao imputardes defeitos à totalidade de certas formas espirituais, que são aceitas em alguns centros de umbanda como dedicados auxiliares: "os povos nômades são de venalidade ignóbil, os baianos safados, os boiadeiros bêbados e os marinheiros mulherengos". Sabeis que, na abundância de terreiros e na miscelânea de práticas mágicas populares que se associam com o mediunismo, também existem espíritos de "caboclos" que recomendam despachos sanguinolentos, e entidades que se apresentam como "pretos velhos" que amarram namorados e separam casais e que nada têm a ver com a essência da umbanda. No entanto, também usam as formas estruturais dos guias que regem a Divina Luz do Espaço para a Terra.

  Para clarear-vos um pouco mais as ideias, importa comentar que a fascinação mediúnica não se relaciona diretamente com as formas de apresentação dos espíritos nem com a densidade vibratória dos irmãos do além-túmulo, e sim com a falta de moral evangélica. Os médiuns devem vigiar as interpretações estandardizadas que interferem nas comunicações com o outro lado: o hipopótamo que sacode o pescoço e se banha na lama não é mais impuro em suas entranhas do que o tigre que lambe os pelos na planície. O homem pérfido fala com erudição, traja-se com refinados tecidos, banha-se em espumas odorantes e enfeita-se com ourivesarias cravadas de diamantes, sem conseguir a pureza d' alma do rústico lavrador analfabeto de mãos calejadas que nas horas vagas é dedicado benzedor na comunidade desprovida de assistência.

  Mais uma vez repetimos: não transfirais vossos atavismos milenares ao julgar as aparências transitórias dos espíritos do outro lado. Porventura, quando estais mediunizado, "incorporado" com os caboclos e pretos velhos em dia de passes e consultas no terreiro da verdadeira umbanda, recusais-vos a acolher os malfeitores, os assaltantes, as prostitutas, os alcoolistas, os viciados em drogas e outros desavisados trôpegos e perturbados, que, sedentos, achegam-se das ruas procurando auxílio espiritual? Nunca é demais lembrar-nos de Jesus, que saiu dos templos assépticos para socorrer os impedidos de entrar: as prostitutas apedrejadas, os leprosos fétidos, os marginais e incultos, conhecendo-lhes em cada alma a chama acesa do Cristo interno que jaz nas profundezas de cada criatura.

  PERGUNTA: - Existem chefes de terreiro que são contra a manifestação de espíritos sofredores, mesmo em sessão mediúnica específica, justificando que podem "danificar" a sutil estrutura dos chacras dos médiuns que estão vibrados para "receber" os guias e protetores da umbanda. Alegam também serem arriscadas tais "passagens", em razão da baixa moralidade desses "estropiados", pois fazem de tudo para "colar" nos aparelhos, que devem ser preservados. Devemos proceder assim?

  RAMATÍS: - É uma ilusão querer poupar os médiuns dessas manifestações, pois o contato com espíritos sofredores de baixa moralidade poderá ocorrer pelo desdobramento natural do sono, por afinidade e "peso" vibratório correspondente, demonstrando que as atrações estão latentes no espírito, prontas para aflorar tão logo as condições propícias se apresentem. Portanto, o que de fato os atrai é a falta de controle do próprio sensitivo sobre o apego inconsciente aos desejos carnais.

  Se a atração é sentida, mesmo que o médium não sucumba a ela, não terá ele dominado completamente o desejo pelo prazer sensório. Ao ficar isolado, e não exposto às tentações de toda a espécie pelos dedicados diretores terrenos, deixando de passar pelas provações que o exercício da mediunidade oferece no intercâmbio com os espíritos sofredores, não sairá triunfante nem terá garantia de que não sucumbirá e será completamente dominado pelos prazeres da vida material, pois os guias e protetores, com suas vibrações superiores, não poderão estar todo o tempo com seus pupilos, como fazem as babás zelosas com os bebês em vossas praças e parques.

  Constatai que ao serdes isolados dos sofredores que enxameiam no mundo do além não sois ajudados na verdadeira libertação, embora isso seja necessário para os viciados das sensações do corpo físico nos primeiros estágios de recuperação. A manutenção da condição vibratória de vossos chacras e dos corpos sutis à "altura" dos guias e protetores se efetivará pela vivência, que fortalece o discernimento que faz refulgir vossa luz interna. São a razão e o bom-senso, atuando na transformação incessante dos maus hábitos e apegos irracionais que sustentam a "purificação" de vossos corpos e mentes, tornando-vos livres dos desejos mais grosseiros, refinando vossa mediunidade, desbastando as ilusões temporárias que vos fascinam diante da perenidade do espírito, sustentando com firmeza o intercâmbio com espíritos sublimados do outro lado, ao contrário de proibições simplórias, como desmerecer o trabalho socorrista com a mediunidade, como se assim vossa pureza como instrumento fosse mantida.

  É por intermédio da renúncia diária diante das oportunidades de gozos sensórios que se efetiva a destruição progressiva das ilusões e dos apegos, causa primária da escravidão dos homens ao ciclo "prazeroso" das reencarnações, que resultará na libertação da consciência dos grilhões que a prendem aos mundos inferiores.

  Podeis afastar-vos dos objetos dos sentidos, distanciando-vos de um boêmio, bebedor ou prostituta do além-túmulo, mas isso não vos dará a segurança que o Cristo tinha quando andava entre eles e os socorria, pois o Divino Mestre não tinha gosto e afinidade por esse tipo de comportamento e d' Ele irradiava a claridade que fazia indicar o. caminho reto a todos aqueles que O procuravam, indistintamente, como o Sol que diariamente ilumina vossas cabeças.

  PERGUNTA: - Qual o motivo de o desenvolvimento mediúnico ser tão demorado e de tantos médiuns começarem na umbanda e não conseguirem se manter nos trabalhos?

  RAMATÍS: - São raros hoje em dia os casos em que a mediunidade irrompe inequívoca e os sensitivos fornecem precisas comunicações dos guias do outro lado. A inconsciência não mais se verifica e exige-se uma mudança gradual de comportamento para que os médiuns consigam realizar as consultas, por várias horas "incorporados" com o caboclo ou preto velho.

  O trabalho na umbanda impõe mudanças profundas nos pensamentos, que precisam de tempo para serem consistentes e interiorizados no modo de vida do médium em aprendizado. Ele, conscientemente, deve livrar-se das emoções e dos sentimentos do ego inferior que atingem os corpos mental e astral. Com a sutilização desses envoltórios do espírito imortal, por meio da repercussão vibratória ocasionada pela substituição definitiva da matéria densa que os forma, [2] propiciada por novos pensamentos constantes e mais elevados, esses veículos da consciência acabam "refinados", e os chacras serão ajustados naturalmente às emanações fluídicas superiores dos guias e protetores.

  [2] A matéria ou substância que compõe os veículos da personalidade - corpos etérico, astral e mental - provém de seus respectivos planos, que englobam diversas frequências vibratórias, das mais densas às mais sutis. De acordo com os sentimentos e pensamentos vibrados pelo espírito - que constituem outras tantas "ações" (ação emocional e ação mental) -, o combustível ou energia requerida para alimentar essas ações se agrega no correspondente veículo. As "ações" de elevada freqüência vibratória (os chamados "pensamentos e sentimentos bons") utilizam a energia sutil e de alta frequência respectiva e imediatamente agregam ao corpo em questão a matéria sutilizada; as de baixa freqüência ("sentimentos e pensamentos maus") precisam utilizar matéria astral e mental de baixa categoria, que se incorpora ao veículo e lhe baixa o nível vibratório e o peso específico. A evolução interna da criatura se efetiva com a substituição gradativa da composição energética ou matéria de seus veículos, ao influxo das ações mentais e emocionais superiores.

  A umbanda, por ser um canal aberto de entrechoque vibratório com o Astral inferior, implica maiores obstáculos aos médiuns. A prática mediúnica umbandista tem de ser continuada por longo tempo, sem interrupções, e trilhada com reverência e devoção esmeradas. A lide umbandista parece fascinante a princípio, e o neófito anseia por ter logo o "seu" caboclo ou preto velho. Na verdade, da multidão que ingressa constantemente nas frentes de trabalho da Divina Luz, apenas uma microscópica minoria está apta a perseverar e progredir. A grande maioria dos aspirantes logo enjoa do ritual, não se motiva mais a colocar o uniforme branco e se impacienta com a demora para ser aceita como médium "pronto". Muitos acabam desistindo por completo ou mantendo as aparências, com o objetivo de só se beneficiar dos trabalhos, almejando a melhora milagreira das condições de existência diante da difícil e "injusta" vida. Fora uns poucos, a grande maioria não apresenta maturidade espiritual para continuar na verdadeira umbanda, e muitos acabam por buscar locais em que o mediunismo apresenta resultados mais rápidos, como o são os das práticas mágicas populares, com seus cortes ritualísticos sanguinolentos e despachos com animais sacrificados. O mundo e os objetivos pessoais por que esses cidadãos são movidos bloqueiam a vontade de servir ao próximo, que é o sacrifício altruístico que a umbanda impõe a todos.

Refletindo sobre a umbanda

  Refletir sobre a umbanda, compartilhando conceitos com os prosélitos umbandistas, torna-se algo complexo porque, no universo ritualístico externo, e no mais das vezes no interno, dada a diversidade do mundo espiritual, a legitimidade daquele que fala ou escreve sempre é questionada.

  Essa situação leva a uma inibição de muitas lideranças que poderiam participar mais ativamente da porta de entrada dos terreiros para fora, para a sociedade, unindo-se a outros terreiros, não somente para dentro, para o público assistente e corpo mediúnico.

  Atualmente, nem mesmo nas comunidades internas de cada agremiação, é possível um consenso. Ao perguntarmos para cada médium manifestado (incorporado) com uma entidade o que é umbanda, cada uma terá um conceito e uma orientação diferente.

  Talvez essa situação pudesse mudar se quebrássemos o tabu de não falar em consciência mediúnica, o que nos traria muito mais responsabilidade como instrumentos dos espíritos no sentido de que seríamos artífices ativos, em vez de passivos, do que falamos e orientamos. A manutenção do tabu da inconsciência, um dogma em alguns terreiros, talvez ainda a maioria, faz-nos ficar acomodados, pois o que é dito e orientado é "culpa" das entidades, liberando-nos de maiores esforços, lamentavelmente também de estudar, pois "o guia faz tudo". Conclui-se, assim, que pouco se estuda no meio umbandista.

  As discussões bizantinas nos terreiros sobre a "verdadeira" maneira de fazer as coisas, em que sempre se encontram detalhes ritualísticos, ditos fundamentos, que permitem a diferenciação e dão ênfase à interpretação pessoal de cada líder-chefe, inclusive dos médiuns "incorporados" em que a entidade dá a sua opinião, não raras vezes questionando diretamente a chefia dos trabalhos, só fazem demonstrar a extrema dificuldade de um campo muito fragmentado em sua relação com o mundo dos espíritos.

  É impossível uma uniformidade na diversidade da umbanda pelo fato de sua natural convergência não significar unidade ritualística. Outro aspecto é que a fala dos espíritos pode ser questionada a qualquer momento pelos chefes de terreiros quando contrariados pela orientação de um guia "subalterno" na hierarquia do espaço sagrado. Dessa forma, são muito difíceis quaisquer mudanças na maioria dos terreiros que contrariem o interesse do dirigente encarnado.

  Logo, quando se trata de prática ritualística e fundamento de cada terreiro, conclui-se que dificilmente haverá uma unidade em toda a diversidade existente. Diante dessa constatação, infere-se que o movimento de convergência está, antes, ligado a preceitos mais genéricos.

  É consenso fazer a caridade desinteressada, o maior ponto convergente na umbanda.

  Há de se refletir sobre como surgiu na umbanda a vinculação com sua essência: fazer a caridade. Pode haver críticas, contrariedades, mas não há como negar que o apelo caritativo da umbanda, assim como sua ligação com Jesus Cristo, foi instituído pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas pela inequívoca mediunidade de Zélio de Moraes.

  Esse canal, desobstruído, natural, simples, não teve nenhuma iniciação na Terra, não fez raspagens e nunca precisou de sangue ou corte ritualístico para reforçar seu tônus mediúnico.

  O apelo iniciático é dispensado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, que preparou seu médium em muitas encarnações antes da atual personalidade ocupada. Pensemos sobre isto: o Caboclo praticou uma umbanda mediúnica, não iniciática.

  O excesso de ritos de iniciação e a ênfase sacerdotal criam uma casta hierárquica rígida e podem estar sinalizando ausência de mediunidade em muitos centros de umbanda. As complexidades exteriores de métodos que somente uns poucos dominam emboloram a simplicidade dos médiuns, que, em vez de se interiorizarem para perceber o mundo espiritual, são condicionados a prestar atenção e a decorar incontáveis procedimentos externos, bloqueando a natureza da manifestação mediúnica que ocorre e principia dentro da mente, não fora.

  Eis um ponto de contrariedade de muitas lideranças dos terreiros: a vinculação a Jesus e à caridade desinteressada. O "mal-estar" não está ligado propriamente a Jesus nas tentativas de dessincretizar a umbanda, mas ao fato de que a moral contida em Seu Evangelho contraria muitos interesses. Como excluir. Jesus e continuar com o sincretismo?
  O que se está tentando dizer é que o movimento de reafricanização no meio umbandista, dispensando a umbanda da imagem de Jesus e da caridade desinteressada, libera os adeptos para que cobrem pelas consultas e pelos trabalhos, para que realizem tranqüilamente os sacrifícios dos animais, que dessa forma não se confrontariam com a caridade, já que matar nunca poderá ser considerado um ato de amor; logo, caritativo.

  Esse é o fulcro de toda a desarmonia existente nas tentativas de se criar uma unidade de preceitos, de fundamentos, uma mínima ortodoxia doutrinária (é obvio que isso não significa cartilha dogmática) no seio da umbanda.

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Exu, O grande paradoxo na caridade umbandística

  Seria possível aprofundar essa questão, polêmica por si, como, por exemplo, refletindo sobre as múltiplas facetas de exu e a diversidade de interpretações existentes nos cultos.

  Desde os idos da antiga África que exu deixa estupefatos os circunstantes. Para alguns umbandistas, mais ligados à tendência católico-espirítica, é um grande incômodo, e não são permitidas suas manifestações. Para outros, liberados de constrições culposas, exu ainda é vestido pelo inconsciente do imaginário popular com capa vermelha, tridente, pé-de-bode, sorridente entre labaredas. Há ainda os que "despacham" exu para não incomodar o culto aos "orixás".

  "Exu, sendo considerado entidade, não deve entrar", dizem os ortodoxos que preconizam a pureza de algumas nações, pois ali não há lugar para egun, espírito de morto.

  Existem os mais entendidos nos fundamentos da natureza oculta que compreendem exu como o movimento dinâmico de comunicação entre os planos de vida. Entendem que o axé (asé) impulsiona a prática litúrgica, que, por sua vez, realimenta-o, pondo todo o sistema em movimento. Exu, vibração indiferenciada, não manifestada na forma transitória de um corpo astral ou outro veículo do plano concreto, é o que põe em movimento a forma do axé, por meio da qual se estabelece a relação de intercâmbio da dimensão física (concreta) com a rarefeita, a dimensão espiritual.

  Em conformidade com essa conceituação, exu passa a ser indispensável, além de o elemento de ligação mais importante em toda a liturgia e a prática mágica umbandista.

  Sendo exu o transportador, o que leva e traz, abre e fecha, para os africanistas ligados às tradições antigas, como concebê-lo sem o sacrifício animal para a realimentação da força vital (o asé), diante do preceito de que o sangue é o perfeito e indispensável condensador energético com essa finalidade?

  Quando nos referimos a africanista, não queremos dizer negro. Para ser africanista, no sentido de preconizar a retomada dos antigos ritos tribais, pode-se ter qualquer cor de pele. Existem muito negros que têm verdadeira ojeriza a qualquer sacrifício, assim como há muitos brancos a postos com faca afiada.

  Pedimos muita reflexão sobre as próximas afirmações.

  Reduzir toda a movimentação das forças cósmicas e seu ciclo retro-vitalizador ao derramamento de sangue pelo corte sacrificial é uma visão estreita e fetichista da Divindade. É uma posição reducionista, que demonstra dependência psicológica. Na atualidade, verifica-se que essa "práxis" extrapolou os limites de fé dos antigos clãs tribais e objetiva a manutenção financeira de cultos religiosos e o prestígio de seus chefes, dado que o sangue está ligado equivocadamente à força, ao poder, à resolução de problemas e à abertura dos caminhos. Saber manipulá-lo, ter cabeça feita, ser iniciado no santo, tudo isso simboliza esse poder. Esse apelo mágico divino atrai, pelo natural imediatismo das pessoas. em resolver seus problemas.

  Afirmamos que é plenamente possível movimentar todo o axé, harmonicamente integrado com a natureza de amor cósmico e natureza crística da umbanda, equilibrado com sua essência, que é fazer a caridade desinteressada e gratuita, sem ceifar vidas e derramar sangue.

  O próprio aparelho mediúnico é o maior e mais importante vitalizador do ciclo cósmico de movimentação do axé. Ele é o "fornecedor", a cada batida de seu coração, do sangue que circula em todo o seu corpo denso, repercutindo energeticamente nos corpos mais sutis e volatilizando-se no plano etérico. Dessa forma, os espíritos mentores que não produzem essas energias mais densas e telúricas valem-se de seus médiuns que fornecem a vitalidade necessária aos trabalhos caritativos aos necessitados. Há os espíritos que vampirizam esses fluidos. São dignos de amor, amparo e socorro os que fazem as falanges de umbanda.

Apelo mágico da iniciação: raspar a cabeça e deitar para o santo

  Vamos levantar algumas questões para reflexão. No entanto, não visamos ao julgamento de quem quer que seja, pois o respeito ao livre-arbítrio é soberano.

  Por outro lado, muitos ritos das nações se contrapõem à umbanda pelo lado estético, exterior: o luxo e a criatividade das roupas usadas contrastam violentamente com a simplicidade e austeridade umbandista.     Assim, embora o caráter festivo das cerimônias das nações seja confrontado com a utilidade do trabalho "simplório" da umbanda, são justamente o luxo e as apoteoses que agem como ímã sobre os médiuns que estão na umbanda.

  Mesmo com o custo excessivo das iniciações e dos adereços, muitos umbandistas acabam se interessando pelas raspagens e por deitar-se para o santo, por quê?

  Seguem algumas constatações dos motivos:

  1º - Na umbanda, os médiuns incorporam espíritos simples para fazer a caridade anonimamente, identificando-se por nomes simbólicos. Nas nações, os iniciados se transformam em deuses poderosos que controlam os trovões e ventos, em que a presença do santo no "cavalo" é motivo de veneração coletiva. A combinação de música dança, luxo, decoração, comida gera uma fascinação irresistível sobre os espectadores.

  2° - Tornar-se iniciado significa prestigio, e brilhar nas cerimônias confere autenticidade à manifestação do santo.

  3° - Os que são iniciados e continuam em seus terreiros de umbanda, chefes espirituais, aos olhos da assistência e dos clientes, se tornam mais "poderosos", com um axé "mais forte", aumentando a procura por seus serviços mágicos, o que oportuniza maior ganho financeiro, status e prestigio no mercado religioso.

  4° - Muitos acham que "reforçando" sua mediunidade, fazendo o corte ritual no alto do crânio, assentando o "orixá", terão mediunidade mais inconsciente, o que tornará seu tônus mediúnico mais forte.

  Cada vez mais se vê terreiros que se rendem ao apelo mágico desse tipo de iniciação, introduzindo raspagens, camarinhas, cortes ritualísticos. Numa segunda etapa, preconizam "libertar" a umbanda, dessincretizando-a, "africanizando-a" nas tradições antigas, para dispensar o atrito desses ritos com a essência umbandista: a caridade desinteressada.

Está faltando mediunidade na Umbanda?

  Pensemos sobre a umbanda. Relembremos o Caboclo das Sete Encruzilhadas e o canal mediunidade, a manifestação mediúnica cristalina, inequívoca, num jovem de 17 anos. Reflitamos sobre a essência da umbanda com o Cristo Cósmico, em sua maior representação que foi Jesus na Terra.

  Qual o motivo de o Caboclo das Sete Encruzilhadas ter associado o movimento nascente, que era preexistente no Astral muito antes, à caridade, à disciplina, à austeridade do branco, à igualdade entre todos, à simplicidade sem ritos complexos e sacrificiais?
  Na verdade, pensemos que para ser médium "basta" manifestarem-se os guias, pois nasce-se com eles. Ninguém na Terra poderá botar ou tirar os espíritos que estão destinados a trabalhar com os médiuns. Quem tem mediunidade, quem tem coroa para trabalhar, já vem com ela antes de encarnar, não precisa pagar para ninguém firmar seu santo, assentá-lo em sua glândula pineal.

  A mediunidade é um dom de Deus, de Olurum, dos orixás.
  A umbanda é mediúnica.
  Reflitamos sem julgamentos, fundamentados em fatos.
  Somos umbandistas.
  O que é ser umbandista?

  Fraternalmente,

            Yutomi[3]
O Caravaneiro do Umbral

  [3] Espírito indochinês que outrora atuou muito como guia batedor, pelo fato de ser profundo conhecedor da "geografia" das zonas trevosas Umbralinas. Auxiliava as falanges da umbanda a se movimentarem nessas regiões em suas incursões de resgate, o que o credenciou a trabalhar nos terreiros da crosta elaborando roteiros de incursões a esses locais.

 Fonte: Do Livro: A Missão da Umbanda, por Ramatís,
              Pela mediunidade de Norberto Peixoto.        

                                                                                    Rayom Ra
                                                           http://arcadeouro.blogspot.com.br  

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