sábado, 12 de agosto de 2017

Sobre a Iniciação e Iniciados

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  Sempre existiram templos, mistérios e lugares sagrados, onde o verdadeiro aspirante podia achar o que buscava e a necessária instrução do caminho que doravante devia seguir. Um velho profeta disse:

  E ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo: o imundo não passará por ele, senão que estará com eles; quem quer que por ele caminhe não se extraviará” ´Is. 35:8.

  Este é um caminho que além de tudo leva para dentro. Revela, passo a passo, a vida oculta velada por cada forma e símbolo. Assinala ao aspirante certas tarefas que o conduzem à compreensão, produzindo-lhe inclusividade e sabedoria que o preenchem das mais ansiadas necessidades. O aspirante passa pela etapa da busca, ao que os tibetanos chamam de “o conhecimento direto”. Nessa senda, a visão e a esperança cedem lugar ao conhecimento. Recebe-se uma iniciação após outra, cada uma levando o iniciado mais perto da meta onde a realização é a unidade integral. Os que trabalharam, sofreram e realizaram isso no passado, constituem uma larga cadeia que se estende desde o passado mais remoto ao presente, uma vez que os iniciados estão conosco e a porta permanece ainda aberta de par em par.

  Por intermédio dessa hierarquia de realizações os homens ascendem etapa após etapa por uma larga escala que vai da terra ao céu a fim de, oportunamente, estarem diante do Iniciador para, nesse transcendente momento, descobrirem que é o próprio Cristo que lhes dá as boas vindas – esse Amigo familiar que os havendo preparado com exemplo e preceito os introduz a presença de Deus.

  Tal tem sido a experiência, a experiência uniforme através das idades, de todos os buscadores. Rebelando-se no Oriente contra a roda de renascimento, com seu constante e reiterado sofrimento e dor, ou no Ocidente contra a aparente e monstruosa injustiça de uma vida dolorosa a que o cristão se adjudica, por isso os homens se têm dirigido para o seu interior a fim de descobrir a luz, a paz e a liberação tão ardentemente desejadas. Kenneth Sauders diz:

  Na Grécia e na Ásia Menor bem como na Índia, a consciência e o coração humanos protestaram contra o monstruoso pesadelo do renascimento, e as religiões dos mistérios são, como as religiões da Índia, uma promessa de salvação. Ensinam que o iniciado ‘se salva’, ‘nasce de novo para a vida eterna’, ‘se ilumina’ ou ‘glorifica’, por que o Logos ou Divina Razão penetra nele, dando-lhe poder sobre a natureza, voltando a criar, de modo que já não é mais um boneco impotente a mercê de demônios caprichosos e de inexorável destino, senão que em certo sentido é Deus. Grandes e imponentes sacramentos... simbolizam esse novo nascimento para a Vida Eterna, pois ‘os homens estavam sedentos de crença e adoração’ ”.

  A mesma verdade e idêntica meta surgem dos postulados cristãos, com a diferença de que Cristo nos dá um quadro definido de todo o processo na própria história de sua vida, construída sobre as iniciações maiores que constituem nossa herança universal e glória e, para muitos, vem a ser a oportunidade imediata. Essas iniciações são:

  1. O Nascimento em Belém, no qual Cristo disse a Nicodemos: “aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus”. João 3:3.

  2. O Batismo no Jordão. Esse é o batismo a que se referia João, o Batista, agregando que o Batismo do Espírito Santo e do fogo devia ser administrado por Cristo. Mateus 3:2

  3. A Transfiguração. Ali, pela primeira vez se manifesta a perfeição, e se comunica aos discípulos a divina possibilidade de tal perfeição. Surge o mandato: “portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”. Mateus 5:48.

  4. A Crucificação. No Oriente se a designa como a Grande Renúncia, com sua lição de sacrifício e seu chamamento à morte da natureza inferior. “Cada dia morro”, dizia o apóstolo, por que só na prática de sobrelevar a morte de cada dia se pode enfrentar e resistir à Morte final. I Co. 15:31.

  5. A Ressurreição e Ascensão, o triunfo final que capacita ao iniciado quando enuncia e sabe o significado das palavras: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”. I Co. 15:55.

  Tais são os cinco grandes e dramáticos acontecimentos dos mistérios. Tais são as iniciações pelas quais todos os homens deverão passar algum dia. A humanidade se encontra hoje na senda da provação. O caminho da purificação é percorrido pelas massas, e estamos em processo de purificação do mal e do materialismo. Quando se tenha completado esse processo, muitos estarão preparados para receber a primeira das iniciações e passar pelo novo Nascimento. (1) Os discípulos do mundo estão se preparando para a segunda iniciação, o Batismo, e para isso devem purificar-se da natureza emocional dos desejos e se dedicarem à vida da alma. Os iniciados do mundo enfrentam a iniciação da Transfiguração. O controle da mente e a correta orientação em direção à alma, com a completa transmutação da personalidade integrada é o que os espera.

  (1) Nota do tradutor: Isso já vem acontecendo, provavelmente desde o final do século 20 e continua em ritmo constante. Milhões de aspirantes já passaram espiritualmente da Câmara do Aprendizado para a Iniciação, sejam conscientes ou inconscientes disto. A expectativa é de que muitos outros milhões de irmãos aspirantes [projetamos] alcancem em breve tempo este primeiro grande desiderato, estejam eles em qualquer ramo de atividades profissionais ou de lides espirituais. É o que nos tem passado Mestre D.K.

  Diz-se hoje muita bobagem com respeito à iniciação, e no mundo há muitas pessoas que pretendem ser já iniciadas. Esquecem-se de que nenhum iniciado faz tal proclamação ou fala de si mesmo. Quem se proclama ser iniciado se nega a isso justamente ao proclamar-se. Aos discípulos e iniciados lhes é ensinado serem inclusivos em seus pensamentos e não separatistas em suas atitudes. Nunca se apartam do restante da humanidade afirmando suas condições, pondo-se automaticamente sobre um pedestal. Tão pouco os requisitos, conforme estabelecidos em muitos livros esotéricos, são tão singelos como se apresentam. Pela leitura poderia crer-se que haja o aspirante logrado certa tolerância, bondade, devoção, simpatia, idealismo, paciência, perseverança e tenha, assim, chegado aos principais requisitos. Essas coisas são, na verdade, as essencialidades primordiais, porém a essas qualidades se devem somar uma compreensão lúcida e um despertar mental que levem a uma sensata e inteligente colaboração aos planos destinados à humanidade.

  O que se requer é o equilíbrio da cabeça e do coração; o intelecto deve ter seu complemento e expressão no amor, e por intermédio deste. Isso requer uma proclamação sumamente cuidadosa. Amor, sentimento e devoção amiúde os confunde. O amor puro é um atributo da alma e é “omnincludente”, e precisamente nesse amor puro reside nossa relação com Deus e com nossos semelhantes. “Porque o amor de Deus é mais amplo que a mente do homem e o coração do Eterno maravilhosamente bondoso”, diz o antigo hino – e assim se expressa esse amor que é atributo da Deidade e também é atributo oculto de todo filho de Deus.

  O sentimento é emocional e instável; a devoção pode ser fanática e cruel, porém o amor ata e mescla, compreende, interpreta e sintetiza toda forma e expressão – a todas as causas e as raças num ardente coração amoroso que nada sabe de separações, divisões nem desarmonias. A realização desta divina expressão em nossa vida cotidiana nos exige ao máximo. Ser um iniciado exige todo o poder de cada um dos aspectos de nossa natureza. Não é uma tarefa fácil. Afrontar as provas inevitáveis que enfrentaremos ao trilhar a senda que Cristo recorreu, requer um excepcional valor. Para colaborar sábia e sensatamente com o Plano de Deus e atar nossa vontade a Vontade divina, devemos pôr em atividade não só o mais profundo amor de nosso coração, mas também as mais agudas decisões da mente.

  A iniciação deve contemplar-se como um grande experimento. Houve uma época, talvez quando se instituiu esse processo de desenvolvimento, que foi possível restabelecer na Terra certos processos internos até então somente conhecidos por uns poucos. Logo, o interno podia apresentar-se em forma simbólica para ensinar “aos pequenos” e mais adiante o mesmo pôde ser realizado abertamente e expressado na Terra pelo Filho de Deus, o Cristo. A iniciação é um processo vivente, mediante o qual todos os que se disciplinam devidamente e cumprem voluntariamente, possam ser aceitos, analisados e ajudados por esse grupo de iniciados e conhecedores que são os guias da raça, conhecidos por muitos e diversos nomes em diferentes partes do mundo e em distintas épocas.

  No Ocidente os chamam Cristo e Sua Igreja aos Irmãos Maiores da Humanidade. A iniciação é, portanto, uma realidade e não uma bela visão facilmente alcançável, como parece estabelecê-la tantos livros esotéricos e ocultistas. A iniciação não é um processo que alcança um indivíduo quando ele ingressa em certas organizações e que só pode ser compreendido em tais grupos.

  A iniciação não tem nada a ver com sociedades, escolas esotéricas ou organizações. Tudo o que podem fazer é ensinar ao aspirante certas bem conhecidas e fundamentadas “regras do caminho”, e deixa-lo que  compreenda ou não, segundo permitam sua ânsia e desabrochar, e que atravesse o portal se seu equipamento e seu destino assim o contemplem.

  Os Instrutores da raça e Cristo “o Mestre dos Mestres e Instrutor dos anjos e dos homens” não se interessam por essas organizações nem por nenhum outro movimento no mundo que leve atualmente iluminação e verdade aos homens. Os iniciados do mundo se encontram em toda nação, igreja e grupo, onde haja homens de ativa boa vontade e onde se preste um serviço mundial. Os grupos esotéricos modernos não são os custódios dos ensinamentos da iniciação nem é sua prerrogativa preparar ao indivíduo para esse desabrochar. O melhor ensinamento somente pode preparar os homens para a etapa do processo evolutivo denominado discipulado.

  A razão pela qual é lamentavelmente assim é porque a iniciação parece estar distante dos membros da maioria dos grupos, que afirmam possuir uma visão interna dos processos iniciáticos, mas que nisso esses grupos, na verdade, não têm posto a necessária ênfase na iluminação mental, que forçosamente ilumina o caminho até o portal que conduz ao “Lugar Secreto do Altíssimo”. Em seu lugar, fizeram, teimosamente, pessoal devoção aos Mestres da Sabedoria e aos condutores de sua própria organização; recalcaram a adesão para um ensinamento autoritário e a certas regras da vida, não dando um impulso fundamental de anelo a ainda pequena voz da alma.

  O caminho para o lugar da iniciação e ao Centro onde se encontra Cristo é o caminho da alma, o caminho solitário do próprio desenvolvimento, despercebimento e disciplina. É o caminho da iluminação mental e da percepção intuitiva. Isso foi bem explicado em uma revista publicada há muitos anos:

  Não há dúvida, a verdade é que o homem inteligente faz do mundo sua própria câmara de iniciação e da vida mesmo o umbral dos mistérios. Se um homem pode manejar-se a si mesmo com perfeição, pode manejar a todos os demais. Possui a força. O modo exato de emprega-la é uma mera questão de detalhe. Devemos fazer uso de cada oportunidade que se nos apresenta, e quando nada ocorre tratemos de proporcionar-nos nossa própria oportunidade.

  Os que aspiram a um verdadeiro progresso devem considerar tudo o que lhes sucede na vida como uma prova iniciática, e ser, por assim dizer, seus próprios iniciadores". ” Teosofista, T. IX, pág. 364.

  A iniciação é a revelação do amor, o segundo grande aspecto da divindade que se expressa em sabedoria. Esta expressão se encontra em toda a sua plenitude, na vida de Cristo, que nos revelou a natureza do amor essencial e nos disse qua amássemos. Demonstrou o que é a divindade e, logo, expressou que vivêssemos divinamente. O Novo Testamento apresenta de três maneiras, cada vez mais progressivas em sua definição da experiência, esta vida de desenvolvimento do vivente amor divino, dando-nos a sequência da revelação de Cristo no coração humano. Temos antes de tudo a frase: “Cristo em nós esperança é de glória” Co. 1:27. Esta é a etapa que precede e segue ao novo nascimento, o Nascimento em Belém, etapa que se constitui lenta, porém constantemente, na afluência hoje para a meta imediata da maioria dos aspirantes do mundo.

  Em um segundo termo vem a etapa denominada do homem maduro em Cristo, com o que se indica a acrescentada experiência da vida divina a um desenvolvimento mais profundo da consciência crística no ser humano. Para esse fim estão agora orientados os discípulos do mundo. Em seguida temos a etapa da realização a que se refere São Paulo nos seguintes termos:

  Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”. Ef. 4:13.

  Fonte: “De Belém ao Calvário” – A.A. Bailey, pág.29 a 34.
 Tradução Espanhol/Português: Rayom Ra

                                                                                  Rayom Ra
                                                           http://arcadeouro.blogspot.com.br

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