quarta-feira, 28 de junho de 2017

Espírito e Matéria

  ESPAÇO – O Espaço que os pseudo sábios, em sua ignorância, têm proclamado como sendo uma ideia abstrata e um vazio, é, em realidade, o Contentor e o Corpo do universo com seus sete Princípios. É um corpo de extensão ilimitada, cujos princípios, segundo a fraseologia oculta – sendo cada um deles a sua vez setenário – manifestam em nosso mundo fenomênico somente a mais grosseira fábrica de suas subdivisões. O Espaço, o Caos, como também o chamam, não é nem o vazio sem limites, nem a plenitude condicionada, senão ambas as coisas a sua vez. Sendo no plano da abstração absoluta a sempre incognoscível Deidade, que é vazia só para as mentes finitas, mas para as mentes de percepção mayávica é o Plenum divino, o Absoluto Contentor de tudo quando existe, tanto manifestado quanto imanifesto e, portanto, é Aquele Todo Absoluto.

  O Espaço sempre foi e sempre será a eterna Causa de tudo, a Deidade incompreensível, cujas invisíveis vestiduras são a raiz mística de toda matéria e do universo. É a única coisa eterna que podemos facilmente imaginar, imóvel em sua abstração e não influenciada pela presença nem pela ausência nela de um universo objetivo. Carece de dimensões em todos os sentidos sendo existente por si mesma.

  O Espaço, e Aquele que em si mesmo está contido sem contemporâneos eternos, infinitos ou sem dimensões, constituindo, ambos, a única excelsa Realidade, são a origem de tudo quanto existe.

  O Espírito é a primeira diferenciação Daquilo, a Causa sem causa do Espírito e da Matéria. O Espaço considerado como uma unidade substancial, a fonte viva da Vida é como a desconhecida Causa sem causa, o mais antigo dogma do ocultismo. Assim são a Força e a Matéria, como Potências do Espaço, inseparáveis e reveladoras desconhecidas do Desconhecido. Parabrahman é como uma realidade [única] sem outro; é o Kosmos que a tudo contém, ou seja, o Espaço Infinito no mais alto sentido espiritual.

  Segundo os ensinamentos esotéricos, o Espaço e o Tempo são uma só coisa; são inomináveis por que são o incognoscível Aquele, que só pode ser percebido pelos seus sete Raios (que são as sete Criações, os sete Mundos, as sete Leis, etc), e ainda no Vishnu Purâna se insiste na identidade de Vishnu com o Tempo e o Espaço.

  ESPÍRITO – A falta de mútuo acordo entre os escritores acerca do emprego desta palavra tem dado origem a uma tremenda confusão. Geralmente o fazem sinônimo de alma, e os lexicógrafos apoiam o seu uso. Nos ensinamentos teosóficos, a voz Espírito se aplica unicamente ao que pertence diretamente à Consciência universal, que é sua emanação homogênea e pura. Assim, a Mente Superior do homem, ou seja, seu Ego (Manas), quando está unido de modo indissolúvel com Buddhi, é um Espirito; ao passo que o termo Alma humana ou até animal (o Manas Inferior, que obra como instinto nos animais), se aplica somente ao Kama-Manas e se qualifica como alma vivente. Esta é a Nephesh, em hebreu, o alento de vida. O Espírito é informe e imaterial e quando está individualizado é a mais elevada substância espiritual – Suddasattva, a essência divina de que está formado o corpo dos mais elevados Dhyânis [seres angélicos] que se manifestam.

  Por conseguinte, os teósofos rechaçam a denominação de Espiritus para aqueles fantasmas que aparecem nas materializações fenomênicas dos espiritistas, e dão a ditos fantasmas o nome de cascões e vários outros. Em breves palavras, o Espírito não é uma entidade no sentido de ter forma, posto que, como declara a filosofia búdica: por onde vai uma forma há uma causa de dor e sofrimento. Porém, a cada espírito individual – entendendo-se que esta individualidade dura somente todo o ciclo manvantárico de vida – se pode descrevê-lo como um centro de consciência, um centro autosenciente e autoconsciente; um estado e não um indivíduo condicionado.

  Isto explica porque há tanta riqueza de palavras em sânscrito para expressar os diferentes estados de Ser, Seres e Entidades, com a particularidade de que cada denominação indica a diferença filosófica, o plano a que pertence tal unidade, e seu grau de espiritualidade ou de materialidade. Infelizmente estes termos são quase intraduzíveis para nossas línguas ocidentais.

  [O Espírito (Âtman) é uno com o Absoluto, como radiação sua – (Chave da Teosofia). Não se deve confundir com a Alma. A Matéria é o veículo para a manifestação da Alma neste plano de existência e a Alma é o veículo, em um plano mais elevado, para a manifestação do Espírito, e os três formam uma trindade sintetizada pela Vida que os impregna a todos. (Doutr. Secr., I,80).
  São Paulo estabelece também claramente a distinção entre Alma e Espírito nas seguintes passagens: E o Deus de paz os santifique em todo para que vosso espírito e alma e corpo seja guardado inteiro... (I Tesalon., V, 23); Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que toda espada de dois fios, e alcança até partir a alma e ainda o espírito... (Hebr., V,12).
  Esta distinção, muitos psicólogos que em nossos dias debocham de católicos, parece terem-na relegado por completo. A palavra Espírito – diz F. Hartmann – é usada muito indistintamente, o que pode dar origem a uma grande confusão. Em seu verdadeiro significado Espírito é uma unidade, um poder vivente universal, a origem de toda a vida; porém, as palavras espírito e espíritus são empregadas assim mesmo com muita frequência para significar coisas invisíveis, porém, apesar disso, substancialmente são: as formas, figuras e essências elementais e elementares, sombras, espectros, aparições, anjos e diabos. Espírito significa vontade consciente e, nesse aspecto, toda coisa é a expressão de seu próprio espírito que reside em seu interior; porém, o espírito sem organização nem substância não tem individualidade, sendo como um sopro. Somente após se ter organizado, o espírito, como ser substancial dentro de uma forma vivente, pode existir como ser individual. (F. Hartmann).]

  MATÉRIA – Espírito e Matéria são dois polos ou aspectos sob os quais o Logos se manifesta. Como Ser absoluto que é a Divindade Suprema é por sua vez Espírito e Matéria. A Matéria é a Mãe do mundo, assim como o Espírito é o Pai. A vida do Logos aparece como Espírito; seu Mâyâ, como Matéria. (A. Besant, Sabedoria Antiga, 364). Em outros termos: a natureza inferior do Logos, a material, é origem ou matriz de todos os seres, enquanto sua natureza superior, a espiritual, é o Elemento vital que os anima e os sustém: Todos os seres que vêm à existência, sejam animados ou inanimados, são produto da união da Matéria com o Espírito. (Bhagavad-Gitã, XIII, 26).

  A Matéria, portanto, é eterna, incriada e indestrutível, ao passo que suas formas que constituem o mundo de Mâyâ, ou da Ilusão, são criadas, transitórias e cambiáveis; não são permanentes nem têm verdadeira realidade. Em um universo manifestado não há matéria morta. A Matéria é viva e assim podemos afirmar que não há força sem matéria nem matéria sem força; uma e outra estão unidas em indissolúvel casamento. Acha-se em movimento contínuo, tomando forma sob cada estremecimento ou vibração de vida e se adaptando a cada transformação ou movimento. (Sabedoria Antiga, 55, 142).

  A atividade essencial da Matéria consiste na sua natureza receptiva. Ao receber impulsos de vida se organiza em formas, e estas se mantêm graças a tais impulsos, ao passo que se desagregam quando cessa dita influência. (Id. 366). A Matéria é também o fator indispensável, a base ou veículo necessário, uma condição sine qua non para a manifestação das forças ou agentes físicos (luz, calor, eletricidade, etc) no plano físico. (Doutr. Secr., I, 536).

  A Matéria oferece diversos graus de densidade segundo seja o plano ou subplano a que corresponda. Seu grau de vitalidade é assim mesmo muito diverso. Desse modo, a matéria do plano mental é muito mais sutil que a do plano astral, e esta, por sua vez, é muito mais que a do plano físico. Por esta razão uma atravessa e penetra facilmente a outra. No plano físico vemos diferentes estados de matéria: sólido, líquido e gasoso, entretanto, investigando mais profundamente, encontramos um quarto estado, o etéreo, que por sua vez existe em quatro estados perfeitamente definidos como os de sólido, líquido e gasoso. (Sabed. Ant., 57-58).

  Segundo a filosofia Sânkhya, Prakriti ou Pradhâna é a Matéria primária, caótica, ou imanifesta, raiz da Matéria e causa material do universo. Opostamente a Purucha (Espírito), que é simples, Prakriti é uma substância composta, constituída pelos três gunas (modos ou qualidades), denominados respectivamente sattva, rajas e tamas, que não são meros acidentes da Matéria, mas que são de sua mesma natureza e entram em sua composição, como os ingredientes que integram um produto. Os três gunas se acham universalmente difundidos na natureza material; existem em todas as criaturas determinando o caráter ou condição individual pela proporção em que se acham reunidos em cada um dos seres.

  Prakriti é um Princípio ilimitado, universal, a matéria cósmica que se apresenta como uma massa sutil, informe, sem diferenciação alguma. Porém, graças a sua incessante atividade e sua potência produtora é a causa material dos diferentes desenvolvimentos, manifestações, formas ou produtos da Matéria. Assim, pois, a Matéria se apresenta em dois estados distintos:

  1º. Matéria indiferenciada, imanifesta, caótica, informe, raiz ou essência da Matéria (Mulaprakriti), eterna causa material do universo físico.
 
2º. Matéria diferenciada ou manifestada, que constitui as inumeráveis formas ou diferenciações materiais acidentais ou transitórias da massa de Matéria caótica ou indiferenciada, formas que, depois de uma existência mais ampla, ou mais breve, destroem-se, desvanecendo-se no oceano de matéria informe ou caótica de onde procederam. Prakriti é inconsciente, e toda a sua atividade é empregada exclusivamente em favor e proveito de Purucha, para sua experiência, e assim conduzi-lo ao conhecimento de si mesma. A associação de Espírito e Matéria comparou-se com a aliança entre um paralítico (o consciente e o par inativo Purucha) e um cego (o inconsciente, porém ativo Prakriti). Se o cego leva em suas costas ao guia paralítico, podem os dois juntos chegar ao final de suas peregrinações. Não se confunda a Matéria com a Substância.

  Os teósofos usam esta palavra – substância – num sentido dual, qualificando a substância como perceptível e imperceptível e fazendo uma distinção entre a substância material, psíquica e espiritual, em substância ideal (isto é, existente nos planos superiores) e em substância real. Algumas vezes, substância é sinônimo de matéria. Para evitar confusão, a palavra matéria deveria aplicar-se ao agregado de objetos de possíveis percepções, e a palavra substância aos noúmenos. (Doutr. Secr., I. 350). Assim, chamaremos Matéria a que corresponde aos planos ou modos inferiores a Anupâdaka, reservando o termo substância para os planos Adi e Anupâdaka. (M. Treviño, Metaquímica.)

  Prakriti, a Natureza em geral; a Natureza em contraposição a Purucha – a natureza espiritual e o Espírito, que juntos são os dois aspectos primitivos da Deidade única desconhecida. (Doutr. Secr., I, 82). Prakriti significa a Natureza ou o mundo material, a Matéria primordial e elemental, a causa ou essência material de todas as coisas; a Matéria no seu mais lato sentido da palavra, desde o mais denso e grosseiro – o mineral – até o mais sutil e etéreo – o éter, a mente, o intelecto – e significa também a natureza espiritual, que não são mais que os primitivos aspectos da Divindade Una e desconhecida. (Doutr. Secr., I, 82). Purucha e Prakriti (Espírito e Matéria) em sua origem são a mesma coisa; porém ao chegarem ao plano de diferenciação, cada um começa seu progresso evolucionário em direção oposta entre si. Assim, Brahma, por sua vez, é essencialmente Espírito e Matéria. (Id., I, 267, 453) Prakriti é dual na metafísica religiosa, porém, segundo as doutrinas esotéricas, é setenária, como todo o universo. (I,39). Prakriti, ou Natureza (a Raiz do todo), é incriada, não é uma produção, mas um produtor. Segundo o Sánkhya-Kârikâ, III, as produções (attvas, formas ou princípios) de Prakriti, chamadas também os sete Prakritis ou Natureza de Prakriti, são: Mahat (ou Mahâ-Budhi), Ahamkâra e os cinco Tanmâtras (I, 227,400).

  Cada partícula ou átomo de Prakriti contem Jiva (vida divina), e é o corpo de Jiva que contem; assim como cada Jiva, por sua vez, é o corpo do Espírito Supremo, posto que Parabrahman impregna a cada Jiva, o mesmo que a cada partícula de Matéria. (I, 569). A rigor, Prakriti e Pradhâna não são vozes sinônimas, pois há alguma diferença entre ambas. Prakriti é um aspecto de Pradhâna; esta última (Prakriti sutil) é a base original, a causa material, sem princípio nem fim, causa não desenvolvida, não evolucionada, a Matéria imanifesta, não modificada, a primeira forma de Prakriti; conquanto esta última não é efeito manifestado, ou seja a Matéria manifestada, a Natureza material visível e invisível. (I, 595, 636).

  Os produtos de Prakriti são, conforme se tem dito, Buddhi, Ahamkâra e outros princípios que, por desempenharem funções tão nobre e elevadas surpreendem a alguns ao vê-los figurar entre os produtos materiais; porém isso resulta muito lógico se considerar-se que Buddhi, o primeiro e mais espiritual, por assim dizer-se, de todos eles, é limitado, ativo, sujeito a câmbios e modificações e distinto em cada indivíduo, diferenciando-se nisso de Purucha (Espírito) que é imperecedouro, imutável e passivo ou mero espectador das operações da Natureza. Prakriti, conforme dito antes, é inconsciente, entretanto adquire uma consciência aparente, uma tinta de consciência, digamos assim, graças a sua união com Purucha que, de igual modo, quando nos parece incolor um cristal vermelho, no qual se reflete um objeto de igual cor.

   Purucha, homem, homem celeste, Espirito; o mesmo que Narâyana sob outro aspecto. O Eu Espiritual. [Na filosofia Sânkhya se designa com este nome ao Espírito em contra posição à Matéria (Prakriti ou Pradhâna)]. É um Princípio elemental, primordial, simples, puro, espiritual, consciente, eterno, incriado, não produtor, imutável, inativo, mero testemunha ou espectador das operações de Prakriti, e que, a maneira de um espelho cósmico, nele se reflete e se revela todo o universo, ou seja, todas as modificações que se operam em Prakriti no curso da evolução. (Schultz).

  Segundo a filosofia secreta, Purucha e Prakriti são os dois primitivos aspectos da Divindade Una e desconhecida. (Doutr. Secr. I,82); Em sua origem são a mesma coisa, porém ao chegarem ao plano de diferenciação, cada um deles evoluciona para uma direção oposta, caindo o Espírito gradualmente na Matéria e ascendendo esta a sua condição original, a de uma pura substância espiritual. Ambos são inseparáveis e não obstante sempre estão separados. Do mesmo que no plano físico dois polos iguais se repelem um ao outro, enquanto dois polos contrários atraem-se mutuamente, assim estão Espírito e Matéria entre si; são os dois polos da mesma substância homogênea, O Princípio radical do Universo. (Doutr. Secr. I, 267,268).

  Em sua condição livre, Purucha se encontra tão distinto de tudo quanto conhecemos e tão acima do alcance de nossa limitada compreensão, que somente pode ser definido por meio de negações, v.gr. não é isso nem aquilo, não é tal nem qual modo. Sem dúvida que se pode afirmar que é Pensamento abstrato, sem objeto, e a Luz que ilumina a vida espiritual. É também o Espírito de Vida que anima a Matéria (Prakriti), e por seu contato imprime-lhe atividade, da qual se originam as sucessivas modificações que ela experimenta e que vão repercutir sobre o mesmo Purucha. A diferença em relação a Prakriti é que é simples, não composto e, portanto, está absolutamente livre dos modos ou qualidades (gunas) que caracteriza a Matéria. Purucha é o sétimo princípio, o Atman, o sujeito, o verdadeiro Eu, e daí que segundo a filosofia Sânkhya, são incontáveis os números de Puruchas, pois cada corpo, cada ser da criação tem seu Purucha particular ou individual.

  Da união de Purucha com Prakriti (ou seja, do Espírito com a Matéria) recebem sua origem todos os seres animados e inanimados. Purucha, como foi dito antes, é inativo, porém toda a atividade de Prakriti se emprega exclusivamente em favor e proveito seu, posto que, apresentando objetos de sensação e conhecimento ao Espírito, este acumula a experiência, chegando assim ao conhecimento de Si mesmo, por conseguinte, à liberação. Opostamente a Purucha múltiplo da filosofia Sânkhya, que, como nos expressamos antes, é ele o Eu, o Espírito individual de cada ser, há o Purucha único da filosofia Yoga, que é Izvara, Deus o Senhor Supremo de nosso universo. Além dos significados de Espírito, Espírito divino, Espírito do universo ou Alma do mundo, Espírito radical ou primordial, detém a palavra Purucha muitas outras acepções: Homem, Homem celeste; varão; Ser ou Princípio masculino; causa ou potência criadora ou geratriz, Criador, Princípio vivificador ou animador; Ser, Princípio, Causa; pessoa, indivíduo, ser humano, herói, servidor, amigo, etc.

  Mûlaprakriti, literalmente: raiz da Natureza (Prakriti) ou da Matéria. A raiz Parabrâhmica, o Princípio deífico abstrato feminino: a substância indiferenciada, Akasa. A matéria cósmica indiferenciada, matéria primordial, essência ou raiz da matéria, eterna causa material e substância imanifesta de todo ser; ou seja, a massa imensa de matéria informe, caótica ou indiferenciada, da qual surgem todas as formas ou manifestações materiais do universo visível ou manifestado, do mesmo modo que da informe massa de barro saem todas as figuras e vasilhas que o oleiro fabrica. Os alquimistas ocidentais lhe dão o nome de Terra de Adão e os vedantinos, de Parabraham; se bem que, a rigor, Mûlaprakriti é somente o véu deitado sobre Parabraham.

Fonte: Glosario Teosófico - H.P. Blavatsky
Tradução Espanhol/Português - Rayom Ra 

                                                                                    Rayom Ra
                                                           http://arcadeouro.blogspot.com.br



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