Livro III
38. "Para libertação das causas da escravidão através do seu enfraquecimento e por uma compreensão do modo de transferência (retirada ou admissão), a substância mental (ou chitta) pode entrar em outro corpo".
38. "Para libertação das causas da escravidão através do seu enfraquecimento e por uma compreensão do modo de transferência (retirada ou admissão), a substância mental (ou chitta) pode entrar em outro corpo".
Toda esta ciência da Raja Yoga se baseia numa compreensão da natureza, propósito e funcionamento da mente. A lei básica desta ciência pode ser resumida nas palavras "a energia segue o pensamento" e a sequência de atividade pode ser apresentada como se segue:
"O pensador, em seu próprio plano, formula um pensamento corporificando algum propósito ou desejo. A mente vibra em resposta a esta idéia e produz simultaneamente uma reação correspondente no corpo dos desejos - kâmico ou emocional. O corpo de energia, o envólucro etérico, vibra em sincronia e assim o cérebro responde e alimenta o sistema nervoso através do corpo físico denso a que o impulso do pensador se traduza em atividade no plano físico."
Há uma íntima relação entre a mente e o sistema nervoso de modo que temos uma interessante triplicidade: 1. A Mente; 2. O Cérebro; 3. O Sistema Nervoso. E esta triplicidade deve ser cuidadosamente lembrada pelo estudante de Raja Yoga no estágio inicial de seu trabalho.
Posteriormente, uma segunda triplicidade atrairá sua atenção: 1. O Pensador; 2. A Mente; 3. O Cérebro, mas isto será durante o lado demonstrativo de seu trabalho. É através de uma compreensão do método pelo qual os nervos são tonificados que o pensador pode galvanizar seu instrumento em atividade durante a encarnação e, de modo semelhante, produzir transe, samadhi (1) ou morte. O mesmo conhecimento básico habilita um adepto a levantar um corpo morto, como o Cristo fez na Palestina, ou ocupar o veículo de um discípulo para fins de serviço, tal como o corpo do discípulo Jesus foi ocupado pelo Cristo. Este conhecimento e sua utilização, dizem-nos, estão sujeitos à Grande Lei do Carma, de causa e efeito, e nem mesmo o próprio Cristo pode deixá-la de lado, a não ser que exista um "adequado" enfraquecimento da causa que produz a vinculação.
(1) Samâdhi é um estado de arroubo estático e completo. Dita palavra deriva das vozes sam-âdha, "posse de si mesmo". Quem possui tal poder é capaz de exercer um absoluto domínio sobre todas as suas faculdades, tanto físicas quanto mentais. É o supremo grau do Yoga. Samâdhi, contemplação estática ou supra consciência, é aquele estado em que a concentração mental chega a um ponto tão extremo que a mente assim fixada se unifica com o objeto em que se acha concentrada - ou seja o Espírito - cessando ou suspendendo-se todas as suas transformações, e o asceta perde a consciência de toda individualidade, incluindo a sua própria, convertendo-se no Todo.
Samâdhi é um estado em que a consciência se acha tão dissociadaa do corpo que este permanece insensível. É um estado de alienação ou de êxtase, em que a mente permanece, por completo, consciente dela mesma, e com o qual volta ao corpo com os conhecimentos ou experiências que tenha adquirido naquele estado superfísico, recordando-os, uma vez que haja de novo assumido o cérebro físico [A.Besant - Introdução ao Yoga] (Rayom Ra).
39. "Pela subjugação da vida para o alto (udana) tem-se a libertação da água, do caminho espinhoso e do atoleiro, e se obtém o poder da ascensão"
Permeando o corpo está a totalidade da força nervosa, que o indu chama de prâna. Ela é controlada pela mente, através do cérebro; é a vitalidaade que põe em atividade os órgãos sensoriais e produz a vida externa do homem; seu meio de distribuição é o sistema nervoso, através de determinados centros chamados plexos ou lotus. Os gânglios nervosos, conhecidos pela medicina ortodoxa, são os reflexos ou sombras dos plexos mais vitais. O estudante não estará muito errado se considerar a totalidade de prâna no corpo humano, como constituindo o corpo etérico ou vital. Este corpo etérico é inteiramente formado por correntes de energia, e é o substrato da substância viva que está por traz da forma física densa.
Um dos termos aplicados a esta energia é "ares vitais". O prâna é quíntuplo em sua manifestação, correspondendo assim aos cinco estados mentais, ao quinto princípio e às cinco modificações do princípio pensante. No sistema solar o prâna se traduz como os cinco grandes estados de energia a que chamamos planos, o meio da consciência. São eles: 1. O Plano Átmico ou Espiritual; 2. O Plano Búdico ou Intuicional; 3. O Plano Mental; 4. O Plano Kâmico, Emocional ou Astral; 5. O Plano Físico.
As cinco diferenciações do prâna no corpo humano são:
1. Prâna, estendendo-se do nariz ao coração e tendo uma relação especial com a boca e a voz, o coração e os pulmões.
2. Samana, estendendo-se do coração ao plexo solar. Diz respeito ao alimento e à alimentação do corpo por meio da comida e da bebida e tem uma relação especial com o estômago.
3. Apana, controla desde o plexo solar até a sola dos pés. Diz respeito aos órgãos de eliminação, de rejeição e do nascimento, tendo assim uma especial relação com os órgãos genitais e de eliminação.
4. Udana, encontra-se entre o nariz e o alto da cabeça. Tem uma relação especial com o cérebro, o nariz e os olhos, e, quando corretamente controlado, produz a coordenação dos ares vitais e sua correta manipulação.
5. Vyana é o termo aplicado à totalidade da energia prânica do ser, uniformemente distribuída por todo o corpo. Seus instrumentos são os milhares de nadis, ou nervos encontrados no corpo, e tem uma conecção definida e peculiar com os canais sanguíneos, veias e artérias.
Neste aforismo nos é dito que pelo domínio do quarto destes ares vitais, pode-se obter certos e definidos resultados e será interessante verificar quais são eles. Este domínio só se torna possível à medida que se compreende e domina o sistema Raja Yoga, pois envolve a capacidade de se funcionar na cabeça e de se controlar a natureza inteira, a partir do ponto no interior do cérebro. Quando um homem se torna polarizado nesse ponto, então a força nervosa ou energia encontrada no alto da cabeça se torna ativa e por seu correto controle e domínio se torna possível obter a correta direção dos prânas do corpo, e o homem alcança a libertação, e, através dela consegue-se o não contato com os três mundos.(2) A linguagem empregada é necessariamente simbólica e não se deve perder seu sentido pela materialização de seu real significado. A levitação, o poder de andar sobre a água e a capacidade para opor-se à atração gravitacional da Terra são os seus menores importantes significados.
1. A Libertação da Água é um modo simbólico de dizer que a natureza astral foi subjugada e que as grandes águas da ilusão não mais podem manter prisioneira a alma emancipada. As energias do plexo solar não são mais dominantes. (3)
2. A Libertação do Caminho Espinhoso, refere-se ao caminho físico e não há, em lugar algum, referência mais bela que a do Cristo em Sua párabola dos Semeadores, onde algumas das sementes cairam entre espinhos. Dá-se a explicação de que os espinhos são as preocupações e problemas da vida na Terra que conseguem estrangular a vida espiritual e encobrir o homem verdadeiro por tanto tempo. O caminho espinhoso deve levar ao caminho do norte e este, por sua vez, ao Caminho da Iniciação. Num dos antigos livros nos Arquivos da Loja, encontram-se as seguintes palavras: "Que o que procura a verdade escape do afogamento e suba as margens do rio. Que ele se volte para a Estrela Polar e permaneça em solo firme com sua face voltada para a luz. Que a estrela então guie".
3. A Libertação do Atoleiro, refere-se à natureza mixta de kama-manas, desejo e mente inferior, que provoca o problema único da humanidade. É também a maneira simbólica de se referir à grande ilusão que aprisiona o peregrino durante tanto tempo. Quando o aspirante pode caminhar na luz, tendo encontrado a luz (Shekinah) dentro de si mesmo, no Santo dos Santos, dissipa-se, então, a ilusão. É de valia para o estudante traçar a analogia entre as três partes do Templo de Salomão e as do Templo do Espírito Santo, o arcabouço humano.
"A Corte Externa corresponde às energias e aos respectivos órgãos encontrados abaixo do diafragma. O Santo Lugar são os centros e órgãos da parte superior do corpo, da garganta e do diafragma. O Santo dos Santos é a cabeça onde está O Trono de Deus, A Cadeira do Perdão e A Glória que tudo cobre".
Quando estes três aspectos da libertação tiverem sido alcançados e o homem não mais for dominado pela água, pela vida no plano físico e pelo atoleiro, ele conquistará o "poder da ascensão" e poderá ascender aos céus à sua vontade. O Cristo ou o homem espiritual pode permanecer no cimo da montanha da ascenção, tendo ultrapassado as quatro crises ou pontos de controle desde o nascimento até a crucificação. Assim a "udana" ou vida para o alto se torna o fator de controle, e a vida para baixo não mais o domina.
(2)Os três mundos, de modo geral, são referidos por uma divisão fictícia das dimensões de nosso sistema solar, numa necessária planificação para o entendimento de nossos cérebros, sendo análogos no espaço-tempo segundo a máxima "como é em cima é embaixo e vice-versa", repetida esta máxima nas comparações que fazemos ao analisarmos o geral e o particular nas suas diferentes escalas e situações.
Entende-se o mundo mais inferior aquele representado pelos planos físico-etérico, astral e mental concreto, que sob a mesma analogia acima mencionada, representam os três mundos do ego humano em que as oposições se alternam num plano de relatividades e consciência física das formas. Neste mundo, as respectivas vidas planetárias vibram nos quatro reinos através de seus veículos de manifestação num trabalho perene de transformações e identidades. Para o homem é o mundo da chamada personalidade ou ego inferior cuja maior polarização de seus pensamentos e desejos nesta quarta ronda, repercute no plano astral.
O mundo seguinte ocupa posição intermediária. Nele o homem vibra, basicamente, por meio da alma ou ego superior onde se edifica o corpo causal entre o mental superior e o corpo intuicional-búdico. A intra-relação e amálgamas entre as energias do corpo mental superior, o causal, o búdico e o átmico, transformam e resultam, adiante, na individualidade Alma Espiritual. E esta, no estágio seguinte de seu planejamento evolutivo, "dilui-se" para permitir a livre expressão do Espírito ou Mônada - do terceiro mundo - através de Atma enquanto Atma ainda representar o extremo superior da ponte arco-íris ou Antakarana.
Temos, assim, simbolicamente, a idéia de os três mundos construídos da matéria universal, onde o homem vem, gradativamente, tecer suas vestiduras nos caminhos da ascenção para a condição super-humana, e que se caracterizam, em síntese, por Físico, Mental e Espiritual. (Rayom Ra)
Livro IV
01. "Os Siddhis (ou poderes) superiores e inferiores são alcançados pela encarnação, ou por drogas, palavras de poder, desejo intenso ou pela meditação".
No quarto livro, os poderes e os resultados obtidos pela prática da Raja Yoga são levados adiante até a realização grupal e se vê que eles produzem a consciência universal e não apenas a autoconsciência. Parece ser parte da sabedoria protestar aqui contra o emprego das palavras "consciência cósmica" por não serem verdadeiras e darem uma idéia falsa, pois mesmo o mais elevado adepto (prestem bastante atenção a este termo) só é agraciado com a consciência solar e não tem contato com o que está fora de nosso sistema solar. Os Logos Planetários (os Sete Espíritos ante o Trono) e os Senhores do Carma (as "quatro rodas" de Ezequiel) têm uma conscientização que ultrapassa nosso sistema solar. Existências menores podem pressentí-la como uma probabilidade, mas ainda não é parte de sua experiência.
Os poderes obtidos se enquadram em dois grupos principais, assim chamados: 1. Poderes psíquicos inferiores - os siddhis inferiores; 2. Poderes espirituais ou siddhis superiores. Os poderes inferiores são resultantes de estar a consciência da alma animal humana em relação com a anima mundi ou alma do mundo, o lado subjetivo de todas as formas nos três mundos, de todos os corpos nos quatro reinos da natureza. Os poderes superiores são o resultado do desenvolvimento da consciência grupal, do segundo aspecto da divindade. Eles não somente incluem os poderes inferiores, mas também o homem em relação com aquelas existências e formas de vida que são encontradas nos reinos espirituais, ou, como diria o ocultista, naqueles dois planos que estão além dos três mundos, e que abrangem toda a escala da evolução, humana e supra-humana.
A meta do verdadeiro aspirante é o desabrochar destes poderes superiores que podem ser cobertos pelos termos conhecimento direto, percepção intuitiva, percepção espiritual, visão pura, a obtenção da sabedoria. Eles são diferentes dos poderes inferiores, pois os abolem. Estes últimos são descritos com precisão no Livro III, Aforismo 37:
"Estes poderes são obstáculos à mais alta realização espiritual, mas servem como poderes mágicos nos mundos objetivos".
Estes poderes superiores são inclusivos e distinguem-se por sua precisão e infalibilidade quando empregados corretamente. Seu funcionamento é tão instantâneo como um lampejo da luz. Os poderes inferiores são falíveis, o elemento tempo está presente em seu sentido sequencial e eles são limtados em seu funcionamento. Eles forma parte da grande ilusão e constituem uma limitação para o verdadeiro aspirante. É interessante notar-se aqui que a primeira causa que provoca o desenvolvimento dos poderes da alma, quer superiores ou inferiores, é a grande roda dos renacimentos. Isto deve ser sempre levado em consideração. Nem todos estão ainda no estágio em que lhes seja possível desenvolver os poderes da alma. Em muitos, o aspecto alma está ainda adormecido porque não passaram por toda a experiência e desenvolvimento da natureza inferior.
Os quarenta anos de peregrinação pelas regiões selvagens carregando o Tabernáculo e a conquista de Canã tiveram que preceder o governo dos reis e a construção do Templo de Salomão. Deve-se passar por diversas vidas antes que o corpo ou aspecto Materno, seja tão aperfeiçoado que o Cristo Menino possa se formar dentro do veículo preparado. Deve também ser lembrado que a possessão dos poderes psíquicos inferiores é, em muitos casos, um sintoma de um baixo estado evolutivo e da íntima associação de seu possuidor com a natureza animal. Isto tem que ser ultrapassado antes que os poderes superiores possam chegar à floração.
Desnecessário dizer que o uso do álcool e de drogas (3) pode libertar e liberta a consciência astral, como também o faz a prática da magia sexual, mas isto é puro e simples astralismo, com o qual o verdadeiro estudante de Raja Yoga nada tem a ver. É parte do desenvolvimento no Caminho da esquerda.
(3) A questão do uso de drogas pelos yogues e místicos é muito mal interpretada pelos estudantes ocidentais e mais ainda debochada pelos céticos de objetivos destrutivos e sistemáticos. As drogas não são usadas aleatoriamente, como fazem certos e desavisados praticantes que buscam justificar nas práticas místicas os seus vícios com o uso da maconha, cocaína, ópio e outras substâncias entorpecentes ou excitantes que somente causam o envolvimento com bruxos e magos do baixo astral e entidades obcessoras. Os videntes e gurus verdadeiros, tais como faziam os magos do Antigo Egito, Caldéia e mesmo certos segmentos budistas, extraem de plantas sagradas suas essências e preparam criteriosamente as poções, licores ou queimam ervas cujas presenças e emanações atuam nos corpos astrais dos praticantes. São doses ou porções científicas com efeitos calculados para finalidades específicas e controladas.
Para aqueles que buscam desmoralizar as virtudes dos místicos, gurus, magistas e yogues, atribuindo-lhes o vício das drogas em seus encontros e rituais, alertamos que os remédios e medicamentos alopatas são também drogas que podem curar, piorar, tornar populações mundiais dependentes e viciadas de suas doses cada vez maiores, ou mesmo matam com seus efeitos colaterais. (Rayom Ra)
Rayom Ra
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