domingo, 25 de dezembro de 2016

As Perfeições, Paramitas


  A fim de continuarmos com nosso exame de O Caminho do Bodhisattva, seria bom que refrescássemos nosso entendimento do que seja um Bodhisattva. O termo é sânscrito. Bodhi significa “desperto”, “despertando” ou “sabedoria”. Sattva é “a essência de” ou “um veículo para”. Assim, em síntese, dizemos que um Bodhisattva é “um veículo de sabedoria”. Ao relacionarmos esses ensinamentos com a “Árvore da Vida” (também conhecida como a Kabbalah, a Cabala) sabemos que sabedoria em hebreu é “Chokmah” (que é a segunda esfera na Árvore da Vida). E assim um Bodhisattva, falando especificamente, é um veículo daquela luz.

  Um veículo é um tipo de tecnologia, ou um mecanismo, um meio de transmitir alguma coisa, transportar, carregar. O Bodhisattva ideal está expresso na intenção inegoísta de transportar almas para a libertação, ser um veículo para a sabedoria, o Bodhi que liberta a Consciência do sofrimento. Como tal, o Bodhisattva é meramente um intercessor.

  Isso se torna particularmente vibrante tanto mais compreendamos a verdadeira natureza de nosso ser interior. Em Gnose sempre estudamos os ensinamentos do ponto de vista do Absoluto: o Vazio (o Ain, o Ain Soph, o Ain Soph Aur) o vasto Espaço Abstrato Absoluto, que é um eterno Nada, porém é Algo. É a Luz Incriada. Na sua verdadeira essência é a natureza do Ser, mas não é o Ser. É a essência do Ser, mas não é o Ser. Quando um Bodhisattva torna-se aperfeiçoado ele se torna um veículo Daquilo.

prajnaparamita: the perfection of transcendant wisdom

PRAJNAPARAMITA: A PERFEIÇÃO DA SABEDORIA TRANSCENDENTE

  Aqueles Bodhisattvas que estejam aspirando tornarem-se perfeitos têm de trabalhar no sentido de clarearem-se das obscuridades para aquela luz de modo que possam chegar a veículos mais perfeitos – significando mais perfeitos aquilo por onde aquela luz consiga expressar-se – e por seu turno, os seres possam libertar-se do sofrimento. Eis por que estudamos Bodhichitta, que é a mente desperta, a Consciência desperta (ou o Embrião Áurico dentro do qual o Bodhisattva é formado).

  É-nos importante sempre nos lembrarmos de que Bodhichitta é a união de dois aspectos fundamentais. Não podemos dizer que Bodhichitta seja simplesmente compaixão; isso é inapropriado. Compaixão é somente um aspecto do Bodhichitta. O total e completo Bodhichitta é a união da compaixão com a compreensão do Absoluto. Em outras palavras, um Bodhichitta aperfeiçoado, alguém que tenha se tornado uma expressão perfeita do Bodhichitta, tem dois principais aspectos como natureza de sua mente. O primeiro é a bondade amorosa por todas as criaturas existentes e o segundo é a compreensão da natureza pessoal do Vazio, ou o inerente Vazio da existência. Esses dois componentes são indivisíveis. Então, quando estudamos compaixão, devemos ter sempre em mente que a real compaixão advém da compreensão do Vazio, do Absoluto. A combinação disso é o perfeito Bodhichitta.

  Para nossas mentes isso é de difícil assimilação, motivo pelo qual há um caminho para que ascensionemos. O caminho que estamos estudando nesse curso está especificamente relacionado com o caminho que um Bodhisattva segue. É importante termos isso em mente por que muitos dos aspectos psicológicos que abrangeremos nesse curso estão relacionados com as menores e introdutórias formas do ensinamento. Mas os específicos, as estruturas, os detalhes do que esse curso examina estão todos especialmente relacionados com os Bodhisattvas.

  Como um veículo, como um meio através do qual a luz ou sabedoria é transmitida, precisamos atentar em como a luz brilha através de um Bodhisattva. E isso não é exatamente uma alegoria.

TRANSFORMAÇÃO DE ENERGIA

  Nós como uma pessoa humana somos um transformador de energia. Possuímos um corpo físico, que, como sabemos, está sempre transformando matéria e energia a fim de sustentar-se, e na Árvore da Vida o corpo físico pode ser representado na esfera chamada Malkuth –que significa, “O Reino” – ao pé daquela Árvore.

  A função do corpo físico se torna possível somente por que nele existe interiormente o Corpo Vital, um Corpo Etérico (que em hebreu é chamado Yesod, sendo essa a Nona Esfera). Em outras palavras, todas as funções e atividades do corpo físico tornam-se possíveis por meio deste corpo vital: o Corpo de Energia (que no budismo tibetano é chamado “o Corpo Sutil”, ou lus phra-mo). Assim sendo, são esses realmente dois aspectos de uma só coisa, por que sem um corpo vital não pode haver corpo físico. Ele morreria. E o corpo vital não pode sustentar-se por ele próprio, pois está intimamente relacionado como o corpo físico.

  Porém, do ponto de vista da matéria física, não podemos perceber esse corpo vital diretamente por que ele está na Quarta Dimensão. Podemos perceber suas atividades indiretamente com os sentidos físicos, por que podemos ver que temos a capacidade de digerir. Temos energia que se move através do corpo, todas as formas de metabolismo, etc. Todas essas funções tornam-se possíveis por causa da existência do corpo vital, o corpo de energia. Além disso, temos componentes adicionais que nos dão a capacidade de interagimos, a capacidade de trocarmos energia.
  solar-bodies
Sabemos que possuímos sentimentos. Possuímos emoções. Quando experimentamos emoções ou sentimentos, fisicamente, aqueles tipos de energia estão se manifestando em nosso campo de percepção através de nosso Centro Emocional, relacionado com o coração. No entanto, sua fonte é mais profunda que isso. Localiza-se em um nível de matéria mais sutil que chamamos o Mundo Astral (que está relacionado com a Quinta Dimensão), e essa é a esfera de Hod na Árvore da Vida.

  Essa é chamada por alguns de “o Corpo Astral” ou de o “Corpo de Sonho”. Esse não é o verdadeiro corpo astral, é, ao invés, uma sombra. Mas é o corpo emocional e através dessa forma de matéria que a matéria das emoções levanta-se. Isso se passa em nós fisicamente e então experimentamos as sensações das emoções, de sentimentos de gostar e desgostar, de simpatia e antipatia ou de amor. Todos os nossos sentimentos, aquelas sensações emocionais, nos chegam por que elas detêm suas raízes no corpo astral (ou de preferência, o corpo das emoções: o kama rupa), porém, notamos que se olharmos para a Árvore da Vida, entre os aspectos astral e físico, ali está o Vital.

  O corpo vital desempenha aqui uma importante tarefa que iremos tratar em detalhes um pouco adiante.

  Em seguida ao corpo astral, ou corpo dos desejos, temos o Corpo Mental (a esfera de Netzach) e esse é o que normalmente entendemos como a mente ou a fonte dos pensamentos, a fonte do intelecto. Esse também existe na Quinta Dimensão e é facilmente confundido como a contraparte astral. Quando sonhamos, experimentamos esses reinos na Quinta Dimensão. É assim como pessoalmente podemos experimentar as qualidades de nossos próprios corpos sutis – pela qualidade de nossos sonhos.

  E, então, além desse corpo mental, temos a fonte da Vontade que por último (através do avanço no caminho), torna-se Corpo Causal, estando relacionado com a esfera de Tiphereth.

  Conforme nos lembramos de anteriores palestras, quando algum iniciado tenha elevado o kundalini através desses cinco corpos (do físico até o causal) ele pode fazer a escolha de se tornar um Bodhisattva.

  Daí é muito importante que compreendamos esses cinco corpos a fim de entendermos o que seja um Bodhisattva bem como entendermos o que somos. Em suas combinações, esses cinco aspectos psicológicos materiais constituem-nos no que chamamos nossa mente. São o que podemos denominar nossa psique. São todos formas de energia e são todos formas de matéria, porém não limitados à matéria tridimensional. O corpo físico tem tanto aspecto material quanto energético, do mesmo modo o corpo vital, o corpo dos desejos, o corpo da mente e o corpo da vontade. Cada um desses tem matéria em seu respectivo nível e cada um desses tem energia.

  Em hebreu, essa nona esfera relacionada com o corpo vital é chamada Yesod e esse termo significa “Fundação”. No inteiro processo de desenvolvimento do ser humano necessitamos de uma fundação a fim de construirmos. A fundação que encontramos está justamente na nona esfera. Essa é a pedra fundamental sobre a qual nosso templo psicológico é construído. É a qualidade dessa energia vital que determina a qualidade de nossa edificação. Se construirmos algo com a fundação fraca, instável, impura e corrompível, o edifício não se sustentará, e aqui está porque, no evangelho, Mestre Jesus deu-nos o belo exemplo de que temos de construir nosso templo sobre a rocha – não sobre a areia, não sobre a terra fofa.

  A rocha a que Ele se refere é sexual. E o corpo vital está relacionado diretamente com a sexualidade. Quando observamos a Árvore da Vida superposta ao corpo de qualquer pessoa, vemos que o Yesod, a nona esfera, está relacionada com os órgãos sexuais. O corpo vital, relacionado com essa esfera de Yesod, pode ser examinado em detalhes e vê-lo possuir quatro aspectos fundamentais, que são os Quatro Éteres.

  Os dois primeiros, que são os mais baixos, são o éter químico e o éter vital. Por éter, estamos significando níveis de energia, certas vibrações de comprimentos de ondas de energia. O éter vital é a força energética dentro de nós relacionada com a reprodução. É a energia sexual. O éter químico é aquela força energética que nos provê da capacidade de digerir, transformar energias, alimentos e combustíveis relacionados com nossos corpos físicos, mas também relacionados com a mente.

  Os dois éteres superiores são os chamados éter luminoso e éter refletor. Esses dois estão relacionados com: em como transformar impressões. O éter luminoso está relacionado com nossa habilidade da percepção; a palavra luminoso relaciona-se com a luz. Portanto, dentro da verdadeira natureza de nossos corpos vitais encontram-se os meios pelos quais temos percepções, mas que não estão limitadas aos sentidos físicos. Essas os incluem, porém vão bem mais além.

  O outro éter superior é o refletor, e uma superfície refletora é algo que reflete luz. Está relacionado com o éter luminoso, mas é refletor no sentido de que se refere à capacidade da imaginação, a capacidade da clarividência. Essas são as formas de percepção que são mais refinadas, mais sutis – também mais penetrantes.

  Esses quatro éteres, em suas combinações, constituem o corpo vital e são eles que nos dão a habilidade de agirmos fisicamente. É através do corpo etérico, esse corpo vital (os quatro éteres), que nossos próprios pensamentos, sentimentos e vontade inter-relacionam com nossa existência física. Se olharmos para a Árvore da Vida veremos que as três esferas acima (relacionadas com vontade, mente e emoção) passam interior e exteriormente desse corpo etérico ao corpo físico.
FIGURA 3

  Fisicamente, estudamos nossos três cérebros: intelecto, emoção, motor-sexual-instintivo; entretanto, esses três cérebros são exatamente máquinas que recebem e transmitem forças e estão conectados com esses três aspectos internos relacionados com essas três esferas da Vontade, Pensamento e Emoção. Os três cérebros detêm aspectos relacionados com todos os corpos, mas, fundamentalmente, necessitamos estudá-los aqui, fisicamente, por que aqui é onde temos o pouquíssimo da Consciência que de fato temos.
3brains2
  Eis porque enfatizamos a necessidade da auto-observação. Através da auto-observação estudamos nossos três cérebros, observamos nossos pensamentos, nossos sentimentos, emoções e as sensações que crescem em nós, em nosso motor instintivo e centros sexuais.

  A razão porque os observamos é para estudarmos nossas próprias mentes, pois nossas mentes estão pondo aqueles impulsos em nossos três cérebros. Aqueles impulsos estão vindo para os três cérebros por que crescem em nossa sutil psicologia interior que está nesses três corpos  de que estamos tratando, essas três esferas.

  É importante essa razão para que entendamos que o Bodhichitta é elaborado nesse mundo. O Bodhichitta é a mente desperta. É um Embrião Áurico Interno. O Mestre Samael Aun Weor estabelece que o Bodhichitta perfeito é o corpo etérico. Por quê? Porque o corpo etérico desempenha um papel vital na administração da energia. É o corpo da energia. Isso significa que por ele as impressões são recebidas e transformadas, pois temos nossas percepções, nossas forças sexuais e nossas forças calóricas e químicas, todas, dentro desse corpo etérico.

  Desse ponto de vista podemos compreender porque nos é tão importante termos a mente limpa, adquirir castidade. Se nosso corpo energético está impuro, se essa fundação (o corpo vital) está corrompida com o desejo, então o Bodhichitta não pode ser aperfeiçoado. Nossa própria mente não pode despertar, ser aperfeiçoada e elaborada para o grau infinito, na medida em que continuarmos armazenando rancor, luxúria, medo, orgulho, cobiça, etc. O processo de alcançar um corpo etérico aperfeiçoado – e, por conseguinte, Bodhichitta – é iniciático.

  O modo em como podemos alcançar e ter confiança nesse caminho é mantermos nosso pessoal desenvolvimento do Bodhichitta, e sempre estudarmos Bodhichitta, que possui esses dois aspectos: compaixão e compreensão do Vazio.

  Visto de outro ângulo, podemos dizer que o Bodhisattva é aquele cuja Vontade (que é Tiphereth, o corpo causal) uniu-se perfeitamente com o divino, com a Vontade de Deus (em outras palavras com o Vazio, o Nada, o Absoluto).

  Essa união, se olharmos a Árvore da Vida, acontece na coluna central da Árvore. Na base dessa coluna temos o corpo físico e imediatamente acima temos esse corpo vital, e o próximo acima é Tiphereth, do corpo da Vontade. Vemos, então, que entre nossas ações físicas e nossa Vontade está esse corpo vital – ou seja, o veículo da sexualidade e percepção, que pode eventualmente tornar-se o Bodhichitta aperfeiçoado.

  O corpo vital, corpo etérico, tem de estar perfeitamente purificado a fim de receber e entender a Vontade Consciente e agir nela, mas imediatamente acima daquela Vontade (Tiphereth) encontra-se a esfera de Daath, que é a Árvore do Conhecimento (que, de novo, é sexual). E imediatamente além dessa está Kether (a coroa), que é a primeira manifestação do Absoluto (o Dharmanakaya, em resumo).

  Assim, nessa coluna central também vemos uma profunda relação: uma relação energética, uma relação psicológica. Nós, como uma pessoa física, a fim de nos tornarmos unidos com Dharmakaya, com Kether, temos de trabalhar com as forças do corpo etérico (em Yesod) e com as forças da Vontade (em Tiphereth). Essa é a meta do Bodhisattva: unir todos esses. A união perfeita desses aspectos é tornada possível por Bodhichitta. Bodhichitta (o corpo vital) é a porta, a fundação. Sem Bodhichitta, a perfeição é irrealizável.

  Alcançar a auto-perfeição requer uma grande dose de compreensão de nosso Ser, um grande entendimento sobre matéria e energia. No budismo, há uma série de expressivos princípios que nos ajudam a compreendermos como alcançar a perfeição do Bodhichitta, e, nesse caminho, chegarmos ao estado búdico ou da libertação absoluta. Para chegar a isso, o Bodhichitta precisa tornar-se perfeito e, como uma expressão do divino, expressará aquela divina perfeição que sempre a entendemos como “virtude”.

AS PERFEIÇÕES

  As qualidades da consciência que são requeridas a fim de dissolverem-se na divindade são chamadas em sânscrito “Paramitas”. Este termo Para, significa “além de”. Nessa síntese, a palavra Paramita significa “aquele que esta além” ou “Transcendental”. Usualmente, elas são chamadas “as perfeições”, Mas neste curso preferimos chamá-las “atitudes conscientes”.

  Os ensinamentos das Paramitas são muito comuns em todas as formas do budismo – e de fato, são comuns em todas as religiões, mas organizadas em modos ligeiramente diferentes. No budismo elas são normalmente apresentadas com Seis Paramitas ou seis necessárias qualidades.

  Essas seis qualidades não são simplesmente virtudes como normalmente entendemos. São um tanto transcendentais. Estão além das virtudes comuns. E as Paramitas em suas mais elevadas expressões estão relacionadas com os três kayas, os três corpos de Buda. Dessa maneira, podemos compreender que as Paramitas estão além do Samsara, este mundo de sofrimento. Estão além do nirvana, que é o mundo dos deuses; ainda a perfeição das Paramitas está no nirvana não habitado, que é um estado de consciência que somente um Bodhisattva pode ter.

  Então, isso enfatiza que o completo desenvolvimento das Paramitas seja possível unicamente por aqueles no caminho do Bodhisattva. A fim de esquematizar daremos as seis primeiras Paramitas que são explicadas no geral.

  A primeira é a Generosidade, Em pali ou em sânscrito isso é chamado Dana.
  A segunda é chamada Ética ou moralidade ou disciplina.
  A terceira é a Paciência.
  A quarta é a Diligência.
  A quinta é a Concentração.
  E a sexta é a Sabedoria.

  Estas são as Seis Perfeições, as Seis Paramitas e ensinamento religioso que são necessárias para desenvolvermos estas capacidades a fim de avançarmos espiritualmente. Porém, lembremos-nos: nesse Curso estamos tratando especificamente do caminho do Bodhisattva. Daí, nossa ênfase estar direcionada ao transcendente, ou aspecto mais elevado destas qualidades.

  Descobrirão que estas Seis Paramitas ou Perfeições são ensinadas em todos os níveis do caminho, de acordo com as capacidades do instrutor e estudante. Então, podemos examinar ou investigar como a Paramita da generosidade é ensinada em uma escola ou em um ensinamento relacionado com Shravakayana (O Caminho Fundacional), generosidade, é ensinado em relação a, em como doarmos, em como termos amor-bondade ou generosidade com os outros. Fazemos doações. Tentamos prover de bens materiais. Tentamos prover de boas coisas a fim de ajudarmos outras pessoas. E a finalidade naquela prática é de cultivarmos o pessoal desapego. Isso é muito importante, pois a pessoa trabalhando no caminho fundacional faz-se necessário cultivar o desapego a fim de compreender o “Eu”, o ego.

  Assim, para a religião ou para o estudante que avançou um pouco além do Shravakayana e está trabalhando no Mahayana, essa capacidade da generosidade estará mais focada em outras pessoas do que no seu pessoal desenvolvimento; nesse modo, podemos constatar que o caminho da generosidade é ensinado e a explicação tornou-se mais expandida, mais inegoísta, mais focada no auto-sacrifício, na doação aos outros, a fim de querer beneficiá-los e não tanto a si próprio. Então, esse será o segundo nível desta Paramita, a segunda forma de como é comumente ensinada.

  Mas temos um terceiro: em como essa forma é ensinada em relação ao caminho do Bodhisattva. Essa é onde realmente a natureza transcendente da Paramita torna-se evidente. Generosidade nesse nível é uma forma de consciência. Não é meramente ação. Não é meramente intenção. É uma espontaneidade, a qualidade consciente, uma qualidade da mente que tem de ser aperfeiçoada. Entretanto, em um Bodhisattva essa qualidade da mente, a generosidade, é “una” com a compreensão do Vazio. É uma forma de generosidade que provê para o benefício de outra pessoa, mas com o reconhecimento de que nem o doador e nem o recebedor realmente existem. Para nós, com a qualidade da mente que possuímos isso é incompreensível. Não obstante, essa é a natureza de uma Paramita no trabalho de um Bodhisattva.

  Dessa maneira, essas seis Paramitas são dadas em uma ordem definitiva. Estão todas inter-relacionadas. Elas alimentam e se mantêm mutuamente. Não é possível separá-las, não é possível realinhá-las. Elas são qualidades da consciência, qualidades da mente e no caminho do Bodhisattva essas seis são cruciais.

OS TRÊS FATORES

  Podemos sintetizá-los e expressá-los em três passos. Em gnose, sempre falamos sobre os Três Fatores e o budismo tem o mesmo ensinamento. Naturalmente, em seus corações, budismo e gnose são as mesmas religiões.

  Buda ensinou que a primeira coisa que devemos fazer é evitarmos a ação danosa. Essa ação danosa é direcionada contras nós próprios e contra os outros. Relacionado com os três fatores da gnose diríamos que esse é o fator da Morte. Evitando a ação danosa, nossas intenções erradas, nossos próprios desejos caminham para a morte. Aquelas qualidades (“negativas”) da mente precisam morrer. De outro modo, continuarão a estimular o impulso no sentido da ação errada.

  O segundo passo é cultivarmos ou adotarmos a ação virtuosa. Ao invés de seguirmos o impulso de contemplar a escolha errada, conscientemente fazermos a escolha certa. Essa é a forma do Nascimento, o nascimento psicológico consciente.

  O terceiro é trabalharmos em benefício de outros, e esse é o Sacrifício: o sacrifício pelos demais.

  Esses três fatores são inseparáveis um do outro, da mesma forma que as Paramitas são inseparáveis. As Paramitas são um caminho mais detalhado de observarem-se os Três Fatores, no entanto são exatamente a mesma expressão, ajustada em maiores detalhes.

  Entretanto, a fim de nos desempenharmos desse pessoal trabalho, temos de realmente incorporar esses três fatores, precisando fazer isso conscientemente, com a vontade consciente, o que significa fazermos no preciso momento em que a ação seja necessária. Normalmente, absorvemos bem, porém no instante em que temos de agir falhamos em realizar o que seja verdadeiramente correto. Como resultado, mais tarde conseguiremos ou não realizar aquilo.

  Não é suficiente termos boas intenções. Precisamos agir da maneira certa em cada caso. Temos de saber como nos comportarmos para agirmos corretamente naquilo que a circunstância do momento requeira, e nos prepararmos para fazermos aquelas coisas aprendendo sobre nós próprios, sobre o que seja a real virtude.

  Esses três fatores; Morte, Nascimento e Sacrifício – evitando ação danosa, adotando ação virtuosa e trabalhando para o benefício de outros – estão todos enraizados no corpo etérico, o corpo vital, pois é através do veículo de nosso corpo de energia que nossos pensamentos, emoções e vontade interagem com nosso corpo físico, e através do corpo vital temos percepção.

  Nossa consciência, que é realmente nossa vontade, encontra-se enraizada em Tiphereth, e ela é capaz de perceber aqui, fisicamente, uma vez que temos um corpo vital (que é o receptor ou transmissor de luz, de energia) que passa aquelas impressões para dentro de nossa mente. Se não estivermos conscientes, não estivermos prestando atenção, aquelas impressões são recebidas mecanicamente pelos nossos desejos, pelo nosso ego, nosso orgulho – que, então, é como realizamos a ação errada. Motivo pelo qual maltratamos outras pessoas. E isso revela como sustentamos nosso egocentrismo: por estarmos sonolentos.

  Assim, o trabalho do Bodhisattva é inverter: tornar consciente de momento a momento. O estudante aprende isso na real fundação do caminho, no veículo do Shravakayana – a ser atento. O praticante mahayana também aprende a ser atento, com mais atenção em benefício de outros. O Bodhisattva precisa aprender a ser atento com compaixão e consciência do Vazio. E é essa consciência, a qualidade da consciência, que é construída ante as qualidades do corpo etérico.

  Eis por que a castidade, de novo, é tão importante. A mente e nossa energia sexual estão totalmente unidas. Alguém que esteja inclinado à fornicação, à luxúria, possui a mente cheia de paixão, com desejo de auto satisfação. Isso é a antítese do Bodhichitta. É envenenamento do Bodhichitta, pois a luxúria busca compensar-se. O orgulho busca compensar-se. A raiva busca maltratar outra pessoa a fim de compensar-se. E esses são o oposto daqueles três fatores.

  O trabalho começa pela transformação das forças sexuais que possuímos, através da vontade consciente: o auto sacrifício.

  Precisamos compreender que essas seis Paramitas estão inter-relacionadas e que se constroem mutuamente. O Bodhisattva, que entende nele próprio a verdadeira natureza da generosidade, está entendendo como desempenhar a ação para o benefício de outros sem o sentido do ego: o que significa sem auto-interesse. Tal pessoa atua unicamente por que beneficia outra pessoa. Podemos dizer que quando o Bodhisattva age ele o faz em benefício de outro sem importar-se com suas próprias necessidades.

  Agora, essa máxima traz com ela alguma sutileza. Se lermos algumas das histórias de Buda, as histórias Jakata (histórias das vidas pregressas de Buda), leremos sobre como, por exemplo, em uma vida, o Buda Shakyamuni foi um coelho, e um mendigo estava morrendo de fome. Então, o Buda, como um coelho, atirou-se sobre o fogo a fim de alimentá-lo.

  Esta é uma histórica simbólica de auto sacrifício em que ele estava disposto até mesmo em oferecer sua vida física em benefício daquela pessoa que se encontrava faminta. A história é simbólica. Isso não significa que um Bodhisattva busque sempre caminhos para morrer. Aquele momento vem com a Ressurreição, que está exemplificada na vida de Jesus de Nazaré. Porém, o Bodhisattva realmente tem de aprender como agir de modo certo, na hora certa, no lugar certo. E isso é muito desafiador. O carma desses momentos é tão profundo, tão pesado, tão complexo que é difícil saber como comportar-se na via certa. Entretanto, devemos refletir sobre a história, considerando o seguinte: se todos aqueles que aspiram ao Bodhisattva ideal fossem cometer atos suicidas de auto sacrifício, quem restaria para ajudar o número daqueles que sofrem?

  Generosidade – quando desenvolvida em um Bodhisattva – é a qualidade consciente de dar para o benefício de outros, e que esteja harmonizada com o entendimento do Absoluto, e que naturalmente se dê ao crescimento da ética, e uma vez sabendo o que se quer, o que seja certo ou errado, é uma questão de ética.

  Dessa maneira, a ação da generosidade proporciona elevação à consciente ética e compreensão ao que seja o tempo e o lugar certos, e então dá crescimento à paciência, que é a habilidade de resistir às circunstâncias com alegria – não com ressentimentos, não com desânimo – mas com otimismo. E quando temos a capacidade de resistirmos às dificuldades (essa virtude, essa qualidade de transcendente paciência), então desenvolvemos a capacidade de nos mantermos operativamente – que é o Empenho, a quarta Paramita – não nos importando com nada. Consciente empenho é a persistência de manter-se perene e essa qualidade da persistência, da continuidade, de constantemente nos guiarmos em direção à meta sem desistirmos, desenvolve a qualidade da Concentração, que é a quinta Paramita. Da concentração, estando habilitado a aplicar-se sem falha, sem oscilação, sem distração, naturalmente cresce a sabedoria. Sabedoria, naturalmente, como uma Paramita, é a sabedoria do Absoluto, a compreensão do Vazio, do Shunyata.

  Desse modo, podemos ver que essas Paramitas –quando as estudamos – têm duas fundamentais funções. Elas são qualidades da consciência que necessitamos desenvolver, e então descrevemos as Paramitas como estados da mente em desenvolvimento, porém elas são também objetivos a serem alcançados. A Paramita da generosidade é algo que desenvolvemos em nós próprios e que se torna, afinal, aperfeiçoada. É como eu disse: isso tem níveis.

BHUMIS, BASES OU NÍVEIS

  No budismo, as seis Paramitas formam as primeiras seis “bases” dos primeiros seis níveis do caminho do Bodhisattva. O Bodhisattva que tenha entrado no Caminho Direto recebe uma iniciação especial chamada a iniciação de Tiphereth e entra em um novo e completo nível de trabalho sobre si próprio que não está disponível, nem acessível aos budas Pratyeka ou caminhantes da trilha Shravaka.

  O caminho Bodhisattva é muito sofisticado. Está baseado na perfeição completa de nossas mentes que, conforme sabemos, são bastante complexas. Os conteúdos de nossas mentes são muito confusos. O Bodhisattva tem de limpar sua mente inteira, e na mitologia grega isso está simbolizado através dos Trabalhos de Hércules. Esses trabalhos são doze e se relacionam com as detalhadas tarefas psicológicas que um Bodhisattva precisa realizar. Eis por que na tradição do Kalachakra, do budismo tibetano, há doze bhumis, doze níveis e doze bases pelas quais o Bodhisattva tem de mover-se a fim de alcançar a perfeição absoluta. Em outras formas do budismo é ensinado que elas são dez; há muitos caminhos para ver-se essa sabedoria, mas a trilha é a mesma. Há muitas condições estritas para nos ajudar a desenvolvermos alguma compreensão e preparar-nos; assim, não necessitamos ficar embaraçados em todos os detalhes das respectivas correspondências.

  Em síntese, os dez bhumis, ou níveis, são constituídos pelas primeiras seis – as seis Paramitas – e as próximas quatro são qualidades mais além das Paramitas. Discutiremos aquelas em uma próxima palestra, mas todos os bhumis, as Paramitas, são qualidades que alimentam um profundo entendimento do Absoluto. Nenhuma delas está isenta daquilo. O Bodhisattva, em sua verdadeira situação, é um veículo da energia do Absoluto; por conseguinte, deve ter uma compreensão muito profunda daquela energia.

  Generosidade constitui a fundação de todas aquelas Paramitas. Todas as Paramitas, a qualidade inteira de Bodhisattva (de sua mente) tem sua base na generosidade. O Bodhichitta por si mesmo é uma forma de generosidade, de agir sem ego. Eis por que nos é tão importante compreendermos a natureza de nossos próprios corpos internos. A fim de que a sabedoria de Cristo, a sabedoria de Chokmah, Avalokiteshavara, se expresse através do veículo do Bodhisattva, os capacitores têm de estar lá: o bulbo de luz – a tecnologia para receber e transmitir aquela luz. Aquela tecnologia é nossa própria mente que é feita dessas cinco partes fundamentais que estamos aqui demonstrando. São o físico, o vital, o emocional, o mental e a vontade consciente. Esses proporcionam os meios através dos quais aquela luz possa se expressar.

  A Paramita da generosidade proporciona essa fundação e o Bhodisattva que entra no caminho trabalha primeiramente no bhumi, o nível da generosidade. A razão para isso é muito clara. Exatamente porque um Iniciado, uma pessoa como um de nós, criou os corpos solares – aqueles veículos transmissores de luz – o que não significa que tenha eliminado o ego. O desejo é ainda muito vivo na pessoa. Ele – o iniciado – encontra-se numa posição muito perigosa. O caminho do Bodhisattva é extremamente perigoso. Como assim ele é este caminho tem sido sempre ensinado unicamente para Iniciados que hajam provado suas capacidades de compreendê-lo.

  A generosidade é ensinada no começo. É dito ser o primeiro bhumi uma vez que os Bodhisattva, enquanto ainda tendo ego, estão presos, têm orgulho, egoísmo, apego às próprias ideias acerca deles mesmos. Terão de ter desenvolvido alguma capacidade de Bodhichitta, caso contrário não podem entrar no caminho do Bodhisattva. Terão desenvolvido aqueles corpos solares: astral, mental e causal que podem atuar como transmissores daquela luz. Então, eles passam a ensinar, a transmitir a sabedoria, porém o ego ainda está vivo o que significa que eles têm imperfeições.

  A generosidade é o primeiro bhumi por isso eles necessitam desenvolver mais aquele Bodhichitta, focarem-se mais e mais em benefício de outros. A meta do caminho do Bodhisattva é beneficiar outros seres; daí a generosidade ser o primeiro bhumi.

  Essa qualidade de auto sacrifício está presente em todas as religiões. Está presente em todo ensinamento, mas de novo precisamos prestar atenção nas condições dos três yanas (os níveis de ensinamentos). Todos sabemos como é importante sermos generosos. Quando estamos trabalhando no caminho da fundação, aprendemos como sermos generosos naquele nível a fim de entendermos a ética e o carma em nós próprios – e nos doarmos aos outros por que é uma boa coisa a fazermos. Porém, nosso interesse pessoal está lá no coração. A generosidade no ensinamento mahayana está mais focada em outra pessoa, e para o Bodhisattva está muito mais.

  Auto-sacrifício é a ênfase e, naturalmente, essa é a vida do Bodhisattva: o sacrifício do ego. Mestre Jesus é um belo exemplo disso em sua história de vida, nas suas ações; sua vida foi a tipificação do caminho do Bodhisattva. Ele se doou completamente e tudo para o benefício de outros. E todos os outros grandes Bodhisattvas fizeram o mesmo em seus caminhos, mas nenhum deles fez isso como Jesus, por que ele tinha uma especial missão, que iremos abordar nessas palestras.

FORMAS DE GENEROSIDADE

  A generosidade vem em três formas primárias. A forma mais elevada é dar o Dharma, professar os ensinamentos, ofertar a gnose. O dharma, a sabedoria de Cristo, é a ciência através da qual cada um pode se libertar do sofrimento. Esse é o grande presente que de fato podemos receber e é o grande presente que de fato podemos dar. Entretanto, tem de ser dado com sutileza: sabendo-se o que dar e quando.

  Alguém que ensine gnose ou dharma é como um médico. E como um médico ele necessita saber muito bem os efeitos da medicina e as doenças dos pacientes. Se dermos a eles demasiado remédio, morrerão. Se dermos a eles muito pouco remédio, morrerão. Então, para adequadamente dar-lhes dharma, ensinar-lhes adequadamente gnose, isso requer mais e mais desenvolvimento do Bodhichitta, que compreende ambas as necessidades dos seres e a natureza do Vazio. É essa sabedoria, essa unificação, que nos guia com espontânea intuição e direto acesso ao nosso próprio Ser e é esse Ser que nos pode dar a direção de que necessitamos.

  A segunda forma de generosidade é dar proteção, e, em verdade, isso significa prover do destemor. Se pensarmos sobre isso em nossas próprias vidas, o sentimento de estarmos a salvo é algo de extraordinário valor. Viver em um estado de temor é miserável: medo de nossas vidas, medo de nossa saúde, medo de nosso bem-estar. Isso é um miserável estado de existência. Assim, prover alguém de o senso do destemor, dar-lhe proteção, é um enorme presente e novamente isso advém em níveis.

  Há pessoas que ensinam sobre religião, porém ensinam manipulando o medo, passando temor às pessoas e isso está errado. Isso é o oposto ao caminho da Lei de Cristo; onde a luz está sendo expressa. É errado espalhar o temor. Ainda, como um médico, precisamos dar o remédio e temos de dar a medicina. Algumas pessoas têm questionado: “Por que os profetas nos deram alertas sobre calamidades que viriam?”. “Por que os profetas disseram que o Dia do Juízo está chegando?”. “Isso faz as pessoas terem medo; isso assusta todos”. Ou, “Por que os ensinamentos enfatizam o carma e a punição?” “Por que sempre esses ensinamentos críticos fazem todos se sentirem culpados?”.

  Temos de compreender algo acerca dos ensinamentos. A gnose expressa a natureza da Lei. Gnose, em seu âmago, não condena nem julga. Gnose, Sabedoria, a Luz de Cristo, IS – e quando desrespeitamos a Lei, quando nos opomos ao vigente, sofremos. Por conseguinte, quando ouvimos de nossos erros, ficamos deprimidos. Infelizmente, algumas pessoas ensinarão o dharma, a religião, mas num sentido crítico, na base do medo, dizendo: “O Dia do Julgamento está chegando, é melhor arrepender-se agora!”. A fim de estimular o medo.

  As profecias são dadas por que são verdades. Estamos em dias muito escuros, e sim, as coisas ficarão piores. Essa é a natureza da análise do doutor. Se tivermos câncer, necessitamos saber sobre isso. E se temos medo dele é devido a nossa própria mente. É melhor que saibamos da doença do que nos mantermos na ignorância. Se a ignorarmos não podemos nos curar e morreremos – isso é verdade da mente. Isso é verdade do carma. Temos de saber a verdade.

  A gnose assusta as pessoas, as deprime, as faz ficarem zangadas – e isso é uma infelicidade. Eis porque é tão importante aprender caminhos sutis de ensinamentos, de como nos expressarmos, aprender a falar de modo condutivo à mentalidade do receptor – falar de modo que sejamos compreendidos, aprender como um instrutor em como navegar na frágil psique do estudante. Isso é uma grande forma de arte. Vemos professores como Buda, Jesus e Krishna que foram experts. É muito vantajoso estudarmos seus ensinamentos, uma vez que se aspirarmos palmilhar esse caminho, em algum ponto seremos professores também e tanto mais aprendamos desses Mestres melhor será, pois mais habilidades viremos adquirir.

  A terceira forma de generosidade está relacionada com bens materiais. Todas as três formas têm seu valor. Cada uma tem sua importância. As três são utilizadas pelo caminhante a fim de beneficiar outros. Porém, é óbvio que a terceira forma de generosidade é a mais fácil. É atitude muito fácil dar a alguém alguma posse do que tenhamos. Há um nível ou um grau de sacrifício darem-se presentes nesse critério. Entretanto, a medida é: como o presente estará relacionado com nossa mente.

  No desenvolvimento do Bodhichitta, a perfeição da generosidade é dar-se completamente, sem qualquer sentimento de ego, e essa é a sabedoria do Absoluto. Não chegamos lá ainda. Conseguimos ver isso particularmente ao olharmos para nossa cultura. Nesse prisma, observando a cultura mundial, o que veríamos em reflexão sobre a Paramita da generosidade? Veríamos essa perfeição integralmente? Ao assistirmos TV por umas poucas horas veríamos a Paramita da generosidade em algum lugar? Penso que não a veríamos; acho que todos veem o oposto – o que seja a cobiça.

  Nossa cultura, nossa psique, nossa mente estão saturadas com cobiça, com apegos, anexações. Alguns de nós nos tornamos tão consumidores por nossas dependências às coisas materiais que acumulamos centavos e trocados. Acumulamos pedaços de papel. Acumulamos qualquer coisa que possamos ter em mãos e enchemos nossas casas com todos os tipos de coisas que nunca usamos, mas nos agarramos a essas coisas desesperadamente. Isso reflete a qualidade da mente que produz sofrimento.

  A fim de cultivar a generosidade, o caminhante do shravakayana aprende como começar doando pequenas coisas, coisas materiais, tornando-as presentes, doações. Assim, em igrejas e templos ouvimos do dízimo, Dhana, isso é um tipo de valor moral que é ensinado ao praticante leigo, monges e monjas a fim de darem-se um pouco deles mesmos e ensinarem conscientemente como fazerem isso. Na maioria das vezes isso é difícil. As pessoas realmente lutam para doarem umas poucas moedas. O povo tem medo, preocupações. Elas não doam de coração. E nos evangelhos, Jesus oferece uma bela história, uma bela e pequena cena sobre isso, conforme o livro de Marcos, 12:41-44, que diz:

  E estando Jesus assentado defronte a arca do tesouro, observava como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos deitavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas que valiam um quadrante. E chegando os seus discípulos, disse-lhes: em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro. Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo seu sustento”.

  Isto é um exemplo ou uma ilustração daquela Paramita da generosidade no nível shravakayana, o princípio de todos os estágios da doação. Aquela viúva tinha entendido isso. Ela representa a qualidade, o Bodhichitta que necessitamos desenvolver, que é a qualidade de dar-se de si inteiramente, de tudo o que temos em benefício de outros.

  Observemos nossas próprias mentes em nossos dia-a-dia e como elas estão sempre procurando adquirir novas coisas. Queremos uma televisão melhor. Queremos um carro mais interessante, ou queremos ir ao shopping comprar novas roupas. Ou pensamos que estamos precisando de um novo par de sapatos, mas na realidade desejamos um novo par. Ou, por exemplo, podemos já ter um refrigerador cheio de alimentos, mas queremos outro para mais ainda enchê-lo.

  É-nos importante analisarmos essa qualidade que possuímos de acumular coisas. Nossa cultura a isso estimula em cada oportunidade, e dizem que se comprarmos esta coisa nova seremos felizes. Se adquirirmos o grande carro novo que está sendo lançado nesse momento, seremos felizes. Isso é uma ilusão e está em direta oposição ao desenvolvimento da Paramita de dar-se, da generosidade.

  Sempre que nos confrontarmos com um desses anúncios: com uma grande venda no shopping, com qualquer tipo de revista ou livro que nos esteja estimulando a comprá-los ou a conseguirmos algo, observemos-nos. Observemos aqueles impulsos, aqueles desejos em nossos três cérebros. Como uma sensação – fisicamente – sentiremos aquela urgência de nos apressarmos e imediatamente sairmos a comprar. Sentiremos aquele desejo emocional de que gostamos daquela coisa; talvez um novo telefone celular que esteja em lançamento e realmente gostamos dele. E sentimos os pensamentos, vemos aqueles pensamentos em nossas mentes: “Bem, se faço isso e aquilo, então posso consegui-lo!”.

  Observemos todas aquelas qualidades de nossas mentes, e nos perguntemos: “isso me beneficiará ou beneficiará a outros?” “De quem será esse benefício?”.

  Bem, ao nos fazermos essas inquirições, naturalmente temos necessidades. Naturalmente, precisamos comer, termos roupas, termos um lugar protegido e aquecido para vivermos. Porém, necessidades e vontades são diferentes. Buda ensinou o Caminho do Meio, estarmos em meio à riqueza e à pobreza. Lembremos-nos: na sua história de vida ele começou como um rico príncipe que tinha absolutamente de tudo. Ele renunciou a tudo para tornar-se um asceta com absolutamente nada. E então renunciou a ambos os caminhos, dizendo: “É melhor andar no Meio”. Isso é estar no equilíbrio – termos o que necessitarmos e nada mais.

COMO E ONDE DAR

  De fato, o caminho do Bodhisattva é o caminho em que tomamos o que temos e tornamos utilizável a outros. Mesmo aquelas coisas de que necessitamos, as utilizamos para outros. E isso é uma transformação da mente. Precisamos desempenhar essa transformação em nós próprios, conscientemente, aprender em como dar em benefício de outras pessoas.

  Quanto a essa qualidade da generosidade que estejamos a trabalhar em nós próprios a fim de reduzir os apegos e a ambição, todas as demais Paramitas entram em cena para realmente sabermos como dar algo a mais alguém; então precisamos ter alguma compreensão de ética: do que seja certo e errado, do tempo e lugar certos de estabelecermos isso. Por exemplo: se vivemos em uma cidade grande veremos a todo o momento pessoas sem teto que têm necessidades, sendo assim triste os vermos sofrendo. Mas temos de saber como ajudá-los. Se formos a qualquer mendigo em particular ou a um sem teto e ofertarmos-lhes dinheiro, estaremos cometendo uma ação errada, pois eles podem pegar aquele dinheiro e comprar drogas ou álcool, o que é pernicioso. O melhor é comprar alguma coisa para eles comerem. Então, saberemos que lhes teremos ofertado realmente algo de auxílio.

  Esse exemplo se aplica a tudo na vida. Quando queremos desempenhar uma boa ação, precisamos medir o tempo e o lugar, para sermos eficientes. Também temos de avaliar isso em condições de efeito final. Quando estivermos desenvolvendo a capacidade da generosidade, precisaremos compreender que qualquer coisa que ofertemos em condições menores, possa ser nociva em condições maiores, assim não será um bom presente. Precisamos pensar claramente, cuidadosamente, e analisarmos nossas ações, os impulsos e as circunstâncias. Eis porque quando falamos sobre auto-observação sempre falamos sobre os três cérebros (o estado interior), mas também temos de estudar os acontecimentos (as circusntãncias externas), por que ambas as coisas relacionadas produzem um dado fenômeno. Não podemos isolar um do outro, temos de observar a ambos.

  Em síntese, a Paramita da generosidade requer que desenvolvamos uma grande dose de autoconsciência. Nos evangelhos (essa escritura aparece em numerosos livros nos evangelhos) Jesus disse que “se alguém vier após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”.

  Negarmos-nos é negar ao ego, negar nossos próprios desejos, negar nossos apegos; nossa busca por prazeres ou por segurança, por auto-satisfação; sentir-se bem consigo próprio, sentir-se orgulhoso; ser admirado. Precisamos renunciar a tudo isso. Isso, naturalmente, é Morte, o primeiro dos três fatores.

  Tomar a cruz é simbólico da alquimia: o cruzamento de dois feixes, macho e fêmea, que transforma energia. Eis como galgamos para o Nascimento. Quando cruzamos macho e fêmea, a capacidade de criar está ali; dar à luz, e isso é ação virtuosa.

  Seguir Jesus, seguir após ele, é viver como ele fez, unicamente para o benefício de outros e, naturalmente, isso é sacrifício.

  Cada um desses fatores aplica-se a cada ação que desempenhamos. Ao nos movermos em nossas vidas diárias aplicamos esses três fatores. Quando estamos face a uma decisão, olhamos essa decisão do ponto de vista desses três fatores. Analisemos-nos e a situação. Procuremos ver acalmando a mente, acalmando nossos corações e olhando a situação sem desejo, sem auto-interesse; tentemos ver isso objetivamente como se estivéssemos olhando para a vida de outro alguém, como se fôssemos exatamente um ator e analisemos aquela situação, vendo: “Onde está a Morte nessa situação? O que irá morrer se eu agir nesse modo particular? O que nascerá? E a quem isso beneficiará?”.

  Para sobrevivermos nesses dias e época, necessitamos de dinheiro a fim de prover-nos e pagar nossas dívidas. Portanto, necessitamos de alguma forma de renda. Exatamente porque tenhamos um emprego não nos fará egoístas, ainda que certos tipos de empregos ou certos tipos de metas em que estejamos envolvidos em nossos trabalhos possam tornar-se muito egoístas. Se estivermos tomando decisões relacionadas com nossas carreiras, com o trabalho, analisemos desse ponto de vista.  Estamos buscando somente para nosso benefício, ou consideramos também o benefício de outros?

  Por exemplo: o que faríamos se amanhã tivéssemos um chamado telefônico e nos estivessem oferecendo um emprego, nos pagando três vezes mais o salário que recebemos agora, mas para vendermos armas? Poderíamos achar que seria de fácil decisão, porém nossas mentes começariam a ruminar sobre o dinheiro e começariam dizendo: “Oh, eu posso ganhar todo aquele dinheiro! E poderia usá-lo em benefício de outras pessoas! Poderia doar todo aquele dinheiro para a gnose”.

  Não sejamos enganados. A mente é muito astuta. Lembremos-nos: olhemos a condição menor e a condição maior. Analisemos nossas decisões, nossas ações à luz desses três fatores. Aprendamos como aplicar todas essas Paramitas em nossos esforços, porém entendamos uma coisa muito claramente – para realmente compreendermos, realmente sabermos, devemos meditar.

  Em nossos corpos físicos, com nossos sentidos, somente podemos perceber um tanto. Podemos perceber somente o que nossos cinco sentidos nos mostrarão, o que é limitado. Para irmos além disso é verdadeiramente aplicando as Paramitas à situação, por que veremos tanta generosidade quanto nos tenhamos aplicado a fim de fazermos a coisa certa a outros; o quanto tenhamos em ética a fim de tentarmos fazer o que seja certo, e tanto quanto tenhamos de paciência para resistirmos e suportarmos as dificuldades de nossas vidas, e tanto quanto de insistência para nos mantermos tentando e também necessitando concentração e concentração nessa Paramita, e não mera concentração do  modo como pensamos que seja. É realmente Dhyana (em sânscrito), que é Shamatha (tibetano: Shinay): uma mente uni direcionada, Samadhi. Isso é a capacidade de perceber sem o ego, de perceber conscientemente, livre do desejo. E é aquela percepção que proporciona o crescimento da sabedoria. Sabedoria é realmente como sabermos o que fazer.

  Digamos que somos um instrutor gnóstico. Alguém vem e diz: “Estou doando-lhe um milhão de dólares”. É tudo o que diz. Sendo um Instrutor gnóstico eu diria: “Uau, isso é grande! Posso fazer uma porção de coisas com isso”. E como pessoas físicas nosso impulso seria: “Vou aceitá-lo!” Porém, se estivermos mais cautelosos, se meditarmos, poderemos descobrir que há muito mais coisas naquela oferta do que esteja visível na superfície. Podemos ver a verdade da situação: que nada vem de graça. Nada. Todas as coisas têm um preço. Então, fisicamente, a oferta pode estar lá, e fisicamente é tudo o que podemos ver, mas interiormente acontece uma compensação. Algo precisa ser dado em troca e pode ser na forma de um compromisso, o que não é aceitável.

  Eis por que não podemos nos ligar somente na percepção física. O mesmo se aplica a uma oferta de emprego. O mesmo é verdadeiro para qualquer outra situação similar. Há mais coisas nisso do que na parte física. Lembremos-nos de que temos o corpo físico. Também temos o corpo etérico. Também temos o corpo das emoções, o corpo do pensamento e o corpo da vontade – e em cada um desses mundos há câmbios ocorrendo, interações, transformações. Se não tivermos consciência ou percepção daquelas esferas, então precisaremos ter muita cautela, tentando agir de modo certo todas às vezes.

  Isso se torna especialmente importante para o Bodhisattva. A pessoa que entra no caminho do Bodhisattva enfrenta imenso perigo, por que esse caminho é uma revolução que vai cem por cento contra a mente dela, a pessoa, e vai cem por cento contra o caminho do mundo – o que significa que há enormes forças contra o Bodhisattva.

  O que torna isso difícil é que o Iniciado que é o primeiro a trabalhar no fundacional e caminhos mahayana desenvolve esses cinco corpos solares através das primeiras cinco iniciações dos Mistérios Maiores (a Serpente de Fogo que está relacionada com o kundalini de cada corpo), e no processo de realização daqueles trabalhos ao iniciado é dada muita ajuda. Através de cada iniciação há a ação provinda de seres conscientes a quem são atribuídas responsabilidades em assisti-lo, em ajudá-lo. Em outras palavras, ao Iniciado é dada luz, é dada orientação, apoio. Mas quando a pessoa escolhe entrar no caminho do Bodhisattva, ir pelo caminho da revolução, toda aquela ajuda é retirada. O iniciado está então consigo próprio, em si mesmo para enfrentar seu carma, enfrentar os deuses invejosos, enfrentar os demônios e diabos, tanto dentro quanto fora.

  Eis por que é tão importante fazermos um forte e rigoroso desenvolvimento do Bodhichitta. Eis porque as Paramitas são tão essenciais. A fim de enfrentarmos aquelas forças e vencê-las, requer-se uma grande soma de sabedoria.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

  1. Como pode alguém estar sacrificando tudo pelos outros e fazendo tudo isso ainda ter egos dentro dele?

  R. Bem, esse é o desafio. Todos temos alguma coisa a dar, todos. Cada pessoa tem algo a dar. Cada um de nós é um transformador de energia, e cada um tem experiências, um nível de entendimento que pode ajudar a alguém mais. Assim, se temos essa capacidade não precisa ser em um grande caminho. Pode ser em caminhos menores. O que é essencial para nós é aprendermos a discriminar como dar e quando. E temos de fazer de acordo com nossas próprias circunstâncias. É diferente para cada pessoa.

  Mas em geral, a fim de que continuemos e desenvolvamos todas as capacidades que possuímos, todas elas são desenvolvidas através da generosidade, pela doação. Se olharmos as condições da vida, observaremos que qualquer verdadeira felicidade acontece pela generosidade. Pensemos sobre isso. Todas as coisas verdadeiramente de felicidade, os verdadeiros momentos felizes veem-nos por que temos dado alguma coisa a alguém, e isso nos dá um sentimento de alegria. E nos traz a inspiração de desenvolvermos mais ainda essa capacidade. Outro modo de observarmos isso é que quando feita habilmente a generosidade sempre beneficia. A ambição nunca.

  2. Comentário: É isso que eu estava dizendo. Muitas pessoas são felizes, mas elas estão satisfazendo a ambição, a raiva e a inveja. Estão andando junto com a felicidade durante todo o tempo.

  R. Bem, estou falando sobre a verdadeira felicidade. Não estou falando sobre felicidade condicionada. Por felicidade condicionada quero dizer, felicidade que está subjugada a condições impermanentes. Por exemplo, se estamos felizes por que estamos ricos, essa felicidade tem vida curta, por que não seremos sempre ricos. De fato, quando morrermos vamos perder aquilo tudo. Estaremos ainda felizes? Se formos felizes por que somos ricos, isso tem também vida curta por que ficaremos doentes e morreremos. Porém, isso não é a verdadeira felicidade; a verdadeira felicidade é incondicionada, não está submetida a condições ou circunstâncias.

  3. Comentário: Mas temos de ser agradecidos pelo nosso corpo físico.

  R. Naturalmente, temos de ter gratidão, de todas as formas. O que estou indicando, contudo, é que a generosidade tem a capacidade de prover a felicidade de forma não usual, de um modo diferente. Pode prover uma influencia ou uma energia ou uma força que esteja além das coisas materiais. Se pensarmos sobre os presentes que recebemos de nossos pais, eles naturalmente nos proveram com qualquer coisa material que podiam, quando estávamos crescendo, certo? Mas quando nos tornamos mais velhos começamos a entender mais sobre o que os pais podiam nos ter dado, que seria disciplina, amor, ajuda nos problemas, apoio nos casos quando eles realmente não nos queriam ajudar. E esses tipos de presentes podem começar a nos mostrar algo sobre a capacidade de dar. Mas dar-se alguma coisa que seja especial.

  Então, desenvolver a Paramita da generosidade significa compreendermos como dar, da maneira certa, na hora certa. E todos têm essa capacidade.

  4. O éter luminoso é também utilizado para a percepção uma vez no plano astral, ou é exatamente para o mundo físico?

  R. O éter luminoso e o éter refletor são aspectos de nosso corpo etérico, que está relacionado com a quarta dimensão. Esse é um plano de existência que distribui energias e forma um tipo de interface entre dimensões. Mas o corpo vital, o corpo etérico, esses éteres não são a raiz da percepção. Eles são somente veículos da percepção. Temos olhos em nossos corpos físicos que através dos quais percebemos fisicamente. Mas esses olhos funcionam por que temos o corpo etérico que tem esse éter luminoso, que permite que a energia da luz seja transmitida para nossas mentes.

  O corpo astral tem seus próprios caminhos da percepção. O corpo mental também tem seus próprios sentidos, e esses sentidos são chamados chackras. Todos os corpos que possuímos somente percebem por que temos consciência. Então, a consciência é a raiz da percepção. Porém a consciência não é dependente de qualquer corpo: fisicamente, na quarta, quinta ou sexta dimensões. A consciência pode perceber sem veículos de qualquer tipo, mas qualquer veículo sem a consciência não pode perceber.

  A consciência é a luz que preenche o bulbo e se a luz não está ali não há percepção. Faz sentido?

  5. Comentário: E se acusamos que uma vez esses quatro éteres sejam a fundação de Yesod e a origem do corpo físico, obviamente eles atuam dentro de seus próprios níveis, os quatro éteres, em cada esfera, por que eles são o resultado de Yesod em diferentes oitavas.

  R.-: O comentário é feito de modo que os éteres do corpo vital atuarão em seus próprios modos relacionados com cada esfera, por que eles são a fundação. Eles se relacionam com a natureza interpenetrante de todas as esferas. Essas esferas estão isoladas e separadas na estrutura, e de tal modo que nossas débeis mentes consigam captá-las. Porém, a realidade é que todas elas interpenetram-se e a verdade é que a estrutura da Árvore da Vida é grandemente simplificada. Quando observamos essa simples estrutura, temos de nos lembrar disso. Há relações íntimas entre todos os corpos, entre como os corpos astrais e mentais se relacionam e como o corpo vital está relacionado com eles.

  Nessa observação é importante enfatizar mais uma vez que o cultivo e realização desse caminho vêm através do auto-desenvolvimento, através do aperfeiçoamento e limpeza desses corpos, que são, em síntese, a mente que temos. O caminho preliminar que realizamos é através da meditação, O mecanismo primário, a força que usamos para limpar a mente está enraizada no corpo etérico. É a energia sexual, a força que dá crescimento à vida. A energia sexual é a mesma luz de Chokmah, o mesmo fogo do Espírito Santo, a mesma Sabedoria de Kether, que provê todos os elementos para criar, mas a qual também provê todos os elementos para destruir. A distribuição daquela energia está enraizada em nossas mentes, em nossas vontades, em nossos pensamentos e sentimentos, e em como usamos a energia. O corpo etérico, com os quatro éteres, é o mecanismo através do qual aquela energia flui. A energia em nossa total psique é distribuída lá, atrás e adiante, dentro e fora, transformada de acordo com o estado daquele veículo.

  Quando aquela energia, a força sexual, é utilizada para limpar a mente, a real virtude pode nascer naturalmente em nós. Em outras palavras, podemos aspirar tudo o que quisermos para ser uma pessoa virtuosa, ser uma boa pessoa, generosa, mas não seremos nunca tanto maiores como é a ambição viva em nós e é por isso que a gnose coloca muita ênfase na morte do ego. Eis porque quando lemos os livros de Samael Aun Weor há um constante martelamento nesse mesmo ponto: compreende o “Eu”, o meditar, compreende nosso ego. A intenção atrás disso é da generosidade. É uma intenção do Bodhichitta. É uma sabedoria que sabe que quando há morte então novas coisas emergem. Mas se não há morte, qualquer coisa que emerja será corrupta, por que estará corrompida pelas impurezas que ali permaneceram. Esse é o grande perigo para o Bodhisattva.

  Por mais estranho que possa soar, um Iniciado pode criar todos os corpos solares, pode mesmo desenvolver Bodhichitta, esse generoso espírito para outras pessoas, e a compreensão da sabedoria, e estando então no caminho do Bodhisattva, ainda assim não eliminar o ego. Soa estranho, mas acontece, e é devido a que não há suficiente atenção prestada na morte, morte psicológica, simbolizada nos evangelhos por João, o Batista, em sua decapitação, e pela crucificação de Cristo.

  Se a morte não ocorre, então o nascimento que está acontecendo estará corrompido. O Bodhisattva e a energia sexual formam a energia que dá crescimento às Paramitas, mas a morte não está ocorrendo por que a meditação não está o suficiente profunda. Não há suficiente atenção focalizada na morte do ego. O resultado é um aborto da natureza, chamado Hasnamuss, um Marut, um demônio.

  Há um grande perigo nesse tipo de prática, nesse tipo de estudo, no caminho do Bodhisattva. Quando começamos aproveitar a energia sexual, necessitamos estar inteirados que todos os dias estamos usando energia, energia muito potente. Então estejamos certos de usá-la sabiamente. Estejamos certos de usá-la conscientemente e estejamos certos de analisarmos nossos egos e resolver mudar. Meditemos no ego todos os dias. Nunca esqueçamos disso. A morte do ego espontaneamente dá crescimento a novas virtudes.

  É importante também enfatizar que não devemos também simplesmente meditar unicamente no ego. Precisamos equilibrar. Estou colocando desse modo por que há grupos de estudantes que meditam exclusivamente no ego, que analisam o ego, mas nunca tentam compreender as virtudes. Nunca tentam cultivar as Paramitas. Temos de fazer ambas as coisas. A consciência precisa compreender a distinção entre as duas.

  Então, se tivermos um evento que aconteça hoje, que sintamos que seja importante para nossa compreensão, meditemos naquele evento e o analisemos do ponto de vista desses três fatores. Quando atuamos; o que nasceu; o que morreu e a quem beneficiou? Quando meditamos numa cena ou em um evento em que realmente acreditamos seja um caminho pernicioso, bem – meditemos profundamente naquilo, o compreendamos – mas também gastemos um pouco de tempo permitindo a nossa consciência mostrar como nos comportamos, a fim de permitir à nossa consciência estabelecer a ação certa. Então, teremos realizado os dois lados, sempre do ponto de vista de quem se beneficia.

POR UM INSTRUTOR GNÓSTICO

Fonte:http://gnosticteachings.org/courses/path-of-the-bodhisattva/620-the-perfections-paramitas.html

Tradução Inglês/Português: Rayom Ra

Rayom Ra
  http://arcadeouro.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário