segunda-feira, 30 de junho de 2014

As Sete Virtudes Perfeitas



                                     PRIMEIRA – A CARIDADE COM O PRÓXIMO

  Vista através da mente divina de Cristo nosso Senhor, não é a moeda na mão estendida a nosso passo, nem a túnica nova para quem a leva desgarrada, nem o pão e o vinho sobre a mesa, nem a candeia no lugar. É, antes de tudo, e acima de toda a palavra suave que consola e alenta, a piedade misericordiosa que perdoa e oculta os pecados do irmão, para que o mundo malévolo não lhe lance pedras, nem o leve ao patíbulo; é o abrir o caminho de justiça e retidão iluminado pelo amor e a fé, florescido de esperança e alegria para desenvolver sua vida no marco sagrado e bendito da Eterna Lei.

  É afastar-lhe as pedras do caminho quando as forças não o alcançam para saltar as barreiras que se lhe opõe ao dever; é lançar uma tábua ao mar de sua vida borrascosa, para salvar-lhe do naufrágio; é estender-lhe as mãos para puxá-lo de um abismo sem envergonhá-lo por haver caído nele. É então quando se cumpre a palavra do Santo entre os santos quando disse: “Buscai primeiramente o Reino de Deus e sua justiça, que tudo mais virá por acréscimo.”

  É, em uma palavra, o amor que se dá generosamente em pensamento, palavras e ações sem pedir nada e sem esperar nenhuma recompensa.


           SEGUNDA – A PUREZA DE VIDA EM PENSAMENTO, PALAVRA E OBRA

  Não é, seguramente, o estéril áspero e solitário sem alma vivente que conviva a nosso lado. “Não é bom que o homem esteja só”, diz uma frase de Jehová Criador, no Genesis de Moisés. A Eterna Ideia não mancha jamais o que desenhou uma vez no infinito do tempo e do espaço. A vida pura não é, pois, a solidão absoluta. É a convivência com nossos semelhantes, familiares ou amigos, sem causarmos o menor dano uns aos outros, nem à honra, nem aos bens, nem aos sentimentos ou afetos, e menos ainda à vida que a Eterna Potência reservou à sua única Vontade Soberana.

  É impura a vida daquele que lucra com as forças físicas de seus irmãos sem a justa remuneração, e que lastima, ofende e fere os sentimentos de seus semelhantes com pensamentos, desejos ou atos impúdicos e lascivos; o que espalha com a palavra, o pincel ou a pena, ideias ou costumes corrosivos que atentam contra o pudor e a honestidade; o que abusa de um modo ou de outro da mal chamada Liberdade de direitos, para impor pela força do poder arbitrário, suas tendenciosas vontades que atentam contra a dignidade da criatura humana com uma alma imortal de sublimes destinos:

  “Bem-aventurados os limpos de coração porque eles verão a Deus”, disse um dia o Divino Mestre. Ó, Sim! Os verão, os sentirão e os possuirão na tranquilidade de seus corações, na paz de seus lares, na serena calma de seus dias sempre iluminados pela íris radiante de paz e de amor.


                                                   TERCEIRA – A PACIÊNCIA

  Em todas as circunstâncias da vida é a mansuetude ou paciência, uma virtude que leva em si mesma um poder conquistador invencível. “A paciência a tudo alcança”, era o axioma dos Mestres da antiga sabedoria. Os Flâmines Lêmures de Juno e de Numú a fizeram seiva fecunda de suas vidas de extraordinárias atividades exteriores e de quietude interior.

  O hábito da paciência em todos os momentos da vida é o único que pode irmanar-se com a inalterável harmonia interior, necessária para vencer todas as dificuldades que entorpecem o justo desenvolvimento das energias do espírito, que chegou à vida física em seguimento de um ideal superior.

  A impaciência, a rebeldia interior, os arrebatamentos de cólera, despedaçam e desgarram em um instante os véus sutis dos pensamentos protetores que amigos invisíveis, aliados internos, estendem amorosamente sobre seus irmãos encarnados. E aqui, a maioria dos fracassos espirituais ou materiais que acarretam desastres irremediáveis, dores múltiplas, pessimismo esmagador para a alma, que em seus momentos de lucidez compreende haver sido ela mesma a causadora de todos os seus males.

                                                QUARTA – A PERSEVERANÇA

  No sendeiro eleito, não obstante as opiniões diversas do mundo.

  “O que põe a mão no arado e volta a cabeça atrás, não está apto para o Reino dos Céus.” Dizia o Divino Mestre.

  À coroa do triunfo não conquista o que começa bem, senão o que termina bem a viagem da vida planetária. Os juízos humanos pesam muito e de ordinário marcam rotas equivocadas às almas vacilantes e temerosas. E não é fácil suportar às críticas néscias de tantos inconscientes que jamais se detiveram a pensar no que são eles mesmos, nem em seu gênero divino nem em seus destinos eternos.

  Gozar da vida o mais possível é seu único ideal. Pobre e desgraçado ideal que amarrado aos gozos grosseiros da matéria, conduz às almas a caminhos de perdição, pelos quais descem até o abismo do crime!

  As claridades da Lei Divina desaparecem nesses horizontes onde só resplandece a luz fátua dos prazeres mesquinhos, fugazes, enlouquecedores.

  “Os que servem ao mundo não são meus”, dizia o doce Mestre Nazareno e acrescentava mais: “Não se pode servir a dois senhores, a Deus e ao mundo.” “Eu sou a Luz deste mundo e o que me segue não anda em trevas.”

  “A Divina Sabedoria abre a senda da retidão e da justiça segundo sua Lei Eterna, de acordo com as necessidades do coração humano; de modo que não estão reunidas com ela, nem as doces ternuras da família, nem as belezas da amizade, nem a fortuna inefável do amor correspondido.

  Em meio a um mundo onde prevalece o egoísmo, a corrupção e o vício em todas as formas da degradação humana, se necessita de um grande valor para resistir à maligna corrente que avassala tudo, e para [também] chegar a essa perseverança que resiste a todas as sugestões e falsos pretextos que tendem a iludir a retidão e a honestidade no obrar.
                                        QUINTA – A CONCENTRAÇÃO ESPIRITUAL

  Buscando o próprio conhecimento e a energia da Eterna Potência.

  Para trabalhar em algo é indispensável o conhecimento a fundo desse algo em que se quer ocupar tempo e esforço.

  Assim sendo, para o cultivo de um jardim, o polir de uma pedra, o cinzelar de um metal, o pintar de um lenço, ou o arrancar belas melodias de um instrumento musical, é necessário antes de tudo conhecer a fundo aquilo ao que nos dedicamos.

  Quando queremos entregar-nos a cultivar nosso eu íntimo, nosso espírito a essa força impulsora de nossa vida, devemos tratar de estudá-lo e conhecê-lo em todos os seus aspectos bons e maus, agradáveis e desagradáveis, elevados e ruins, generosos e mesquinhos. Este conhecimento, só podemos adquiri-lo mediante a concentração em nós mesmos, ou seja – a meditação.

  Deve-se ter em conta que meditar não é rezar: pronunciar orações, súplicas em pedidos de saúde, de ajuda e proteção em qualquer ordem que seja. Meditar é penetrar no santuário íntimo de nossa consciência, onde descobrimos quais impulsos para o bem ou para o mal nos dominam com maior frequência; que debilidades, gostos ou inclinações aparecem mais definidos e fortes em nós, a fim de prestar-lhes mais atenção, tal como faz o bom jardineiro com uma amada planta de seu jardim, em que observa dia após dia se um sol abrasador ou chuvas excessivas, ou os ventos gelados a prejudicam e a flagelam.

  E assim como o bom jardineiro que com amor e só por amor à sua plantinha ele a quer ver embelezada em abundante floração, e a poda, a rega e até lava sua raiz, assim também com igual amor piedoso por nossa alma cativa na matéria, temos que apartar tudo aquilo que prejudica seu crescimento, seu progresso e perfeita atuação no plano da evolução em que, por lei divina, está colocada.

  Grande coisa é na verdade o adquirir o hábito da concentração espiritual ou meditação, porque ela significa acender uma potente luz nas trevas entre as quais veremos claramente os perigos e tropeços que podem interromper a evolução e romper as alianças e pactos que tenhamos feito, em colaboração com os grandes apóstolos da redenção humana.


                                           SEXTA – CONSAGRAÇÃO À CIÊNCIA

  Que nos descobre as obras e leis de Deus e nos faz úteis à humanidade.

  A vida espiritual não está renhida com a aquisição de conhecimentos superiores mediante o estudo da Natureza, que é o grande livro do Eterno Invisível que se nos manifesta a cada instante na estupenda grandeza de suas obras, de seus elementos, de suas múltiplas criações.

  “Os céus e a terra proclamam tua grandeza, Ó, Jehová! Soberano criador de mundos e de seres” exclama a palavra augusta das mais velhas e Sagradas Escrituras.”

  Consagrar vontade e tempo a estudar a ciência de Deus e de suas obras, é fazer o espírito capaz de ser mestre e guia das porções da humanidade que a Eterna Lei nos designe, para conduzi-las pelos caminhos da justiça, da paz e do amor, onde todos encontraremos a felicidade buscada.


                                                  SÉTIMA – O DESINTERESSE

  Temos chegado ao cume da Montanha Santa; ali onde chegam as almas generosas, heróicas e sublimes que depois de realizarem toda uma vida cheia de merecimentos, de obras de bem e justiça, de obras coroadas de beleza e de amor, se acercam à Eterna Potência, e seu pensamento feito raio de luz lhes diz prosternado em profunda humilhação: “Eterna Majestade do Infinito: aqui tens tua insignificante criatura que só pode trazer-te em oferenda o pequeno vaso de seu coração ardendo em amor a Ti para sempre!”

  Que pede essa alma?
  A continuar servindo a Deus e a todos seus semelhantes.
  Que quer para si mesma?
  Amar e ser amada até o infinito!...

  Ó, eterna grandeza da alma, que penetrou os portais da vida espiritual sem pensar nada mais de que em dar-se em oferenda permanente ao Supremo Poder, sem buscar nem pedir compensação alguma na terra, porque teve a luz para compreender que se fez dona dos tesouros divinos e que em completo desinteresse se entrega ao cumprimento da Divina Vontade.

  É o desinteresse, a virtude por excelência dos heróis e dos santos, que sacrificam quanto têm e quanto são em bem para seus semelhantes. Que fará a Suprema Majestade em sua generosa magnitude com semelhantes almas? As olhará com indiferença, as relegará ao esquecimento, as confundirá com a multidão que julga, ri e perde tempo em fugazes veleidades?...

  Ó, eterna grandeza da alma humana entregue por amor ao Divino Serviço... Os anjos do Senhor baixam dos céus a contemplar tua beleza, e soltam a todos os ventos seus cânticos de glória e de amor: “Glória a Deus nos céus infinitos e paz e amor às almas de boa vontade!”

Josefa Rosalía Luque Alvarez

Tradução Espanhol/Português: Rayom Ra

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