domingo, 14 de julho de 2019

Fundamentos da Meditação (9) - Imaginação

The Buddha Maitreya
  Figura 1
  O Buda Maitreya

“O mais significativo nisso é que a imaginação é o que está fazendo tudo acontecer. Se realmente queremos acessar o estado da meditação, que é o estado da consciência liberta do condicionamento, devemos trabalhar com a imaginação. Não há outro meio de acesso. E é essa a mais profunda diferença encontrada entre as tradições da meditação. Muitas somente ensinam a concentração”.

  Meditação é um estado da consciência; não é um comportamento para ser imitado; não é uma postura; não é algo que possa ser comprado. Meditação é um estado de experiência; um estado de percepção; um estado do ser no qual a real essência do que somos como criaturas vivas está liberta do seu condicionamento, estando então apta a perceber a realidade como ela é. Em outras palavras: meditação é a consciência em seu natural estado.

  Entendermos isso é supinamente significante ao desejarmos compreender a vida, o sofrimento e a felicidade. Experienciamos de tudo através da percepção, porém não entendemos que nossa percepção encontra-se modificada e substancialmente condicionada por camadas e circunstâncias das camadas. Em nível superficial a percepção se encontra modificada pelo corpo, pelos sentidos – podemos ter olhos que sejam imperfeitos, ouvidos imperfeitos, o sentido do tato ou toque imperfeitos; podemos ter o cérebro imperfeito, o sistema nervoso imperfeito e todos esses fatores residem meramente no nível físico, o mais superficial nível de experiência. E que mais das imperfeições que psicologicamente também tenhamos, modificadoras e influenciadoras de nossas percepções? Aquelas modificações são muito mais importantes e profundas que as físicas citadas. Influenciam-nos bem mais em muitas e profundas formas do que fazem as físicas. Desse modo para compreendermos a meditação precisamos nos tornar cônscios de todos aqueles fatores condicionantes. Temos de aprender sobre eles; aprendermos a vê-los claramente e conhecê-los como são a despeito de tudo deles.
 
  Os fundamentos da meditação começam com a compreensão do que seja consciência. Todas as coisas vivas têm consciência – é isso que define a vida. Embora a ciência moderna esteja lutando para explicar a consciência, a compreendê-la, são muitos os seres humanos que a entenderam perfeitamente e têm ensinado muito bem sobre ela, porém infelizmente seus ensinamentos têm sido confundidos e mal aplicados.

  Ao estudarmos os ensinamentos de Jesus, Buda, Krishna, Moisés, Padmasambhava, Milarepa e de muitos outros professores conhecedores da consciência, que ensinaram como usá-la, podemos aprender da melhor forma. Felizmente a moderna ciência está agora tentando aprender sobre a consciência e até inclina-se a ouvir dos mensageiros daquelas antigas tradições. Temos visto diálogos abertos entre físicos e meditantes ou entre doutores e meditantes, estando a reconhecer que a meditação é uma experiência científica válida para o que seja a consciência.  

  Consciência é uma coisa viva: é o que nos dá vida e a qualquer coisa existente; que tem certas qualidades as quais necessitamos compreender com clareza explícita se quisermos entender as religiões, os sonhos, a meditação e cada ciência. A ciência tem reconhecido que a consciência afeta a ciência. Se estivermos estudando física quântica, qualquer nova matemática, dimensionalidade, qualquer coisa que tenha sido recentemente trabalhada cientificamente, veremos que finalmente admitem que a observância (consciência) de um experimento muda o experimento.

  Consciência

  Como definimos consciência?
  1. O estado de ser cônscio; conhecimento da própria existência, condição, sensações, operações mentais, etc.
  2. Imediato conhecimento ou percepção da presença de qualquer objeto, estado ou sensação.
  3. Um estado de alerta cognitivo em que estejamos cônscios de nós e de  nossa situação.
  Resumo: um estado de ser algo experiencial. A percepção é experienciada no momento presente.

  Somos percipientes, uma consciência que percebe a experiência do ser. A situação por si mesma é fácil de compreender, porém nos esquecemos disso o tempo inteiro. Esquecemos de que somos uma consciência. Sermos cônscios é estarmos aqui e agora, é estarmos conscientes da percepção; isso que significa sermos cônscios; é esse o ponto fundamental para qualquer espiritualidade ou religião – é estarmos aqui e agora, acordados e cônscios. É o jardim da infância da religião, da espiritualidade.

  Atualmente ouvimos da “atenção plena” falada em qualquer lugar. Todos pensam ser isso uma coisa nova, uma grande inovação, mas na verdade a atenção plena é o “ABC e o 1,2,3” de toda religião no mundo; é o jardim da infância da real espiritualidade. A atenção plena, estando presente, não é nada novo, mas se não soubermos como estar aqui e agora continuamente então não conhecemos religião uma vez que tudo na religião e na espiritualidade – especialmente na meditação – não pode acontecer sem a consciência estar ativa no momento, e a habilidade em sustentar aquela ativa e vigiada presença também estar presente continuamente de momento a momento. É sermos um observador, estarmos em alerta, em estado cognitivo, percebendo nosso estado do ser. Sermos cônscios é isso: a base de todas as palestras que temos dado até agora, e toda a base está visualizada e representada no que chamamos a Árvore da Vida.

  A Árvore da Vida

  A Árvore da Vida é simplesmente um mapa da consciência e está mencionada em cada religião do mundo com diferentes nomes. Nas tradições do norte da Europa chamam a isso de Yggdrasill. Nas tradições asiáticas chamam de Bhavachakra (algumas pessoas a chamam de Roda do Samsara) e Kalachakra. Na Biblia é chamada Etz Chaim (que se conhecermos hebreu saberemos que está no plural). No Livro do Gênesis e no Livro da Revelação (dois dos mais importantes livros da Bíblia), encontramos isso descrito repetidamente como Árvore da Vida. Infelizmente a maioria das pessoas que estuda aquelas escrituras pensa que é literalmente uma árvore em algum lugar do mundo. Não é esse o significado.
Tree of Life 2.0 plain
  Figura 2

  A Árvore da Vida é um símbolo, é um mapa de nosso Ser, de nosso potencial. Mapeia tudo o que existe. É infinito; é um mapa de todas as coisas. No exato topo delineia o que é chamado o Espaço Abstrato Absoluto. No budismo, no Induísmo, aquilo é chamado Brahma, Shunyata – o vazio, o nada, a potencialidade de onde todas as demais coisas emergem. O budismo chama a isso Samntabhadra. Daquele nível abstrato há uma condensação gradual no interior de todas as coisas. Há níveis e níveis de natureza sutil, através de dimensões múltiplas que gradativamente descem e cristalizam-se em materialidade, onde se encontra o mundo físico, representado pela esfera mais baixa dessa árvore. Essa esfera é chamada Malkuth significando o Reino. Esse é o mundo físico e nosso corpo físico. Tudo o que seja mais sutil que nosso corpo, de fato existe, porém fora do alcance de nossos sentidos físicos.
               
  Qual é a prova disso? Podemos ter a prova agora mesmo, pois onde estão nossos pensamentos? Podemos experienciá-los, podemos percebê-los, porém não com nossos sentidos físicos. Eles de fato existem, acontecem, mas não fisicamente. Eles estão registrados no cérebro que os percebe, os traduz, mas não com qualquer dos sentidos físicos. Eles acontecem noutras dimensões. Este o caso também com as emoções. Que tal sobre os sonhos? Percebemos os sonhos, mas não através de nossos sentidos físicos. E se eu lhes pedisse para lembrarem-se do que tiveram no café da manhã? A imagem daquilo vem-lhes, certo? Veem a imagem? Veem seu café da manhã? Aquilo não é físico, mas vocês podem vê-la. Lembram-se de seu carro? Lembram-se com quem vivem? Lembram-se da casa? Lembram-se de seu quarto? Aquelas imagens estão aí, mas não são físicas. A Árvore da Vida mapeia tudo aquilo para nós.

  Malkuth representa a fisicalidade, embora hajam níveis sutis e superiores sobre ele, e abaixo hajam os níveis inferiores que são os mais densos. Classicamente esses níveis são chamados céus e infernos, porém mais especificamente eles estão relacionados com todas as diferentes partes de nossa psique.

  O vazio abstrato, o espaço primordial, se expressa primeiramente como uma trindade descrita em todas as religiões. Uma trindade tem o poder da criação. O poder dos três – representado pela sefirote do primeiro triângulo – dá acesso à quarta sefira, Chesed, que representa o que chamamos Espírito ou Atma. Esse é o que comumente é chamado “O Ser”, o Ser interior e “Nosso Pai” em termos crísticos. Esse, por seu turno, desdobra-se em Geburah, a consciência divina, que se desdobra em Tiphereth, força de vontade, e então em Netzach pensamento, então em Hod, emoção, então em Yesod, energia, então em Malkuth, fisicalidade. Todos esses estão dentro de nós, em densidades, sutilezas e camadas.

  Aqui, fisicamente em nossos corpos não somos realmente cônscios de qualquer daqueles poderes. Estamos por demais identificados com sensações físicas, experiências físicas. Podemos ter sonhos. Podemos ter fantasias. Podemos ocasionalmente ter experiências incomuns que nos façam acreditar que há alguma coisa a mais do que a fisicalidade; porém, visto não podermos produzir experiências espirituais à vontade, e religião e espiritualidade nos sejam nada mais que crenças, teorias, conceitos, ideias – talvez até interessantes – não as vemos como coisas reais porque não as experienciamos. Assim não experienciamos a divindade ou a espiritualidade, pois nossa percepção encontra-se demasiado condicionada, demasiado filtrada e muito pesada.

  A Árvore da Vida nos ajuda a compreendermos como experienciar outros níveis da natureza, a entendê-los, a governá-los..., a mudar. Ao invés de meramente acreditarmos no Divino podemos experienciá-lo. Por que teorizarmos ou adivinharmos sobre ele, quando podemos falar com o Divino, conhecê-lo, vê-lo? Tudo isso é inteiramente possível. É estranho como pessoas religiosas e espiritualistas que acreditam demais em suas religiões; que homenageiam aos santos e aos grandes professores do passado; que veneram as escrituras, e, no entanto, tão logo começamos a falar sobre um anjo ou sobre Deus, pensem estarmos doidos. Acreditam que isso fora possível no passado, mas que não seja mais possível agora, embora seja nosso direito de berço. Na verdade é o nosso objetivo.

  Nossa intenção é sabermos a verdade, entendermos a realidade. E para fazermos isso necessitamos estar cônscios de que a fisicalidade tem seu lugar na natureza, mas ela é somente uma fração do que existe. Do mesmo modo a luz é uma enorme escala de energia, mas somente percebemos uma banda da luz extremamente estreita. Pensamos que o que vemos com nossos olhos seja tudo o que existe, mas não é assim. A luz detém uma inacreditável larga escala e diversas complexidades, que se encontram delineadas na Árvore da Vida – a inteira escala da luz: o ultravioleta, o infravermelho e mais além – mapeados! Temos sentidos que conseguem perceber a inteira escala da luz, mas precisam estar desenvolvidos. Nesse momento, aqueles sentidos repousam em nós e através da meditação aprendemos a restaurá-los e a expandi-los.
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Figura 3

  A primeira coisa que aprendemos em meditação é relaxar o corpo, nossa fisicalidade (Malkuth). Aprendemos a adotar uma postura na qual o corpo se torna fixo, flexível e relaxado. Em outras palavras: queremos remover a fisicalidade como um fator condicionante e de tal modo que o corpo nunca mais fique limitando nossa percepção. Necessitamos não mais estarmos identificados ou distraídos com suas dores, desejos, fome, sede, desconfortos – suas necessidades e anseios; ao invés disso, ordenemos como uma consciência: “corpo, eu não o sirvo, você me serve! Portanto, agora, você irá sentar-se quietinho, permanecer calmo e me esperar até eu voltar”. Com treino o corpo fará isso, aprenderá. Em nossa prática da meditação, o corpo, ao se revelar num parceiro solícito, terá sido porque alcançamos a “brandura”.

  Assim que relaxamos o corpo físico precisamos também relaxar sua energia (Yesod), a vitalidade, as forças e capacidades que fluem através do corpo. Devemos ser capazes de começar a relaxar fisicamente, porém se estivermos hiperativos, sobremodo energizados, sonolentos ou letárgicos então teremos um duro tempo antes da concentração e meditação. Parte do aprendizado da meditação é sabermos como resguardar o corpo e sua energia.

  Precisamos também aprender a relaxar Hod, o aspecto emocional de nossa psique. Significa deixarmos as emoções permanecerem estabilizadas. Ao invés de surgirem com desejos, medos e aborrecimentos: “Oh, que será disso e o que será daquilo!” e com todos os diferentes aspectos de seus reflexos que nos distraem, devemos deixá-las - às emoções - de lado e removermos a consciência dessa limitação condicionante de modo a não sermos influenciados por aquilo que percebamos. Vemos assim podermos relaxar o corpo e nossa energia, mas ao começarmos a meditar e a percebermos coisas que nos estejam distraindo, lembrando-nos de um trauma, de uma dor, de uma pessoa a quem por ela tenhamos desejos luxuriantes – essas emoções perturbadoras que condicionam nossa percepção e nos mantêm hipnotizados – então precisaremos do mesmo modo relaxar também as emoções.

  Assim como a relaxar o pensamento representado por Netzach, também a essa corrente do constante pensar – essa voz que não para de falar – precisamos torná-la silente. Então essa forma de condicionamento, de fator limitante, também cessará de condicionar e limitar nossa percepção.

  Todas essas coisas são os aprendizados preliminares da meditação. Aprendemo-las através do como concentrar-nos, o que vem a ser as primeiras oito palestras de que versa este curso.
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  Figura 4

  Este mapa no budismo tibetano explica como usar a força de vontade, a concentração, a colocar a atenção numa coisa e a mantê-la ali. Na Árvore da Vida isso é Tiphereth. Se mantivermos a força de vontade então o corpo reclama ou a energia e as emoções tentam nos distrair ou os próprios pensamentos, mas se permanecermos no nosso foco não seremos distraídos. Temos a vontade para ficarmos focados, presentes, a fim de relaxar e não sermos condicionados nem controlados pela fisicalidade, pela energia, pela emoção ou pensamento. Veem como isso é simples? Agora estão compreendendo a cabala. Isso é o que ela é – a Árvore da Vida – a base da cristandade e do judaísmo. Aquelas tradições existem devido a este mapa.

  Quando estamos centrados em Tiphereth, na força de vontade, esse é o poder de nossa alma. É superior à fisicalidade, à energia, à emoção e ao pensamento. Está além deles; é superior a eles. A única razão de sermos escravos dos nossos impulsos e instintos físicos, às fraquezas energéticas, aos traumas emocionais e problemas mentais, está em permitirmos a nossa vontade passar por isso, a ser controlada por eles. Temos maus hábitos, traumas, dores e tremenda ignorância sobre nossa verdadeira natureza. Através da meditação aprendemos a nos centrar na vontade consciente e desse modo não somente dominamos esses quatro aspectos inferiores como também permanecemos em íntimo contato com a Divindade acima de Tiphereth: as sefirotes Geburah e Chesed que representam a Divindade em nós.

  Estão também simbolizadas na lenda do Rei Arthur. A sefira Tiphereth é a alma humana, a força de vontade, Lancelot, o bravo cavaleiro que tem de combater inimigos em favor de Guinevere, que é a sefira Geburah, a Rainha, a Alma Divina, casada com Arthur, o Rei, a sefira Chesed, o Espírito. Essa trindade fundamental é o que chamamos a Mônada (em grego “união”). É uma união em nós, espiritualmente falando. A lenda de Arthur, Lancelot e Guinevere foi mudada a fim de torná-la mais “moderna”, então as pessoas acrescentaram adultério – que não faz parte da lenda original. A lenda original é sobre a ligação entre o Espírito, a Alma Divina e a Alma Humana e isso é a estrutura universal na mitologia.
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Figura 5

  Necessitamos de nosso lado guerreiro, que é a alma humana, a fim de dominar o animal, o dragão, a hidra, o minotauro, a medusa, o golias, etc. Que é o animal? É o corpo que está governado pelo instinto, pela emoção (que é governada pelo desejo), e o intelecto (também governado pelo desejo). O guerreiro que responde somente à divindade tem de conquistar aquelas aspectos animais e fazê-los servir os interesses da divindade. É sobre tudo isso que é a meditação.

  O estágio inicial do aprendizado da meditação é o desenvolvimento da concentração, a serenidade. Explicamos isso em todas as anteriores palestras. Na pintura do nono estágio da serenidade meditativa, o monge, inicialmente, tem de perseguir a mente animal representada pelo macaco e o elefante. Através da disciplina, da força de vontade, entendendo os ensinamentos, praticando-os com regularidade, gradualmente o monge converte o animal num serviçal e amigo leal, de maneira que o corpo (Malkuth), a energia (Yesod), a emoção (Hod) e o pensamento (Netzach) não se tornem em obstáculos, mas sim em equipamentos, ferramentas, armas.

  Se conhecermos mitologia, saberemos que os grandes heróis sempre têm uma tremenda tarefa que é enfrentar o gorgon, à medusa, o minotauro; de guerrear contra os monstros fora dos oceanos ou de lutar onde os encontrem. Para vencê-los necessitam de armas e armaduras e sempre as obtêm de uma deusa: a Mãe Divina. As armas e armaduras são precisamente o corpo que serve, a energia que serve, a emoção que serve e a mente que serve – e não aquelas que nos controlam, mas que nos vêm a servir.

  Alguém que tenha meditado recentemente pode ter experienciado como o corpo luta contra nossa vontade: ele não quer a meditação, ele reclama. Significa não nos estar servindo, não nos estar ajudando. A mente também luta: ela quer pensar, analisar, teorizar, razonar, estar distraída, e conjeturar sobre isso e aquilo. A emoção quer sentir dores, traumas, sentir-se bem, estar alegre, estar nesses modelos e não “naquele” caminho. Não nos ajudando é um obstáculo a nós. Tudo isso em síntese significa que não temos a brandura representada no topo daquela imagem. Brandura é a qualidade que o meditante desenvolve quando corpo e mente se tornam seus aliados; então se transformam num suporte muito forte que o ajudam no caminho, ao invés de obstaculizar.

  O que se destaca sobre o desenvolvimento da concentração é que hoje em dia as pessoas pensam que meditação é somente sentar-se observando o seu respirar ou imediatamente estimular a atenção plena, a analisar algum tipo de frase crítica ou a um mantra; e em assim sendo de algum modo estarão obtendo algo daquilo – porém estão erradas. Isso não é meditação. Meditação é estarmos acessando e utilizando a inteira capacidade da consciência – seu total poder – a fim de nos libertarmos do sofrimento. Não podemos curar uma doença até que saibamos o que ela seja, e nossa doença não é propriamente física, mas psicológica.

  Estamos psicologicamente doentes, infectados com todos os tipos de problemas psicológicos. Necessitamos do pleno poder da consciência diretamente sobre nossos males a fim de curá-los. Não podemos curar nossos males “viajando”. Podemos somente curá-los com conhecimento muito preciso, muito acurado, o conhecimento de nós próprios bem profundo. E esse tipo de conhecimento não pode ser achado pelo corpo, pela energia, pelo intelecto ou pela emoção. Somente pode ser encontrado pela alma humana (Tiphereth), trabalhando com Geburah (a Alma Divina).

  O que é o poder da consciência? É o poder da percepção, de perceber, mas não exatamente em relação ao físico. Aqueles que pensam que somente observando a respiração estarão curando o sofrimento é bem óbvio que estão enganados, uma vez que não podemos resolver nossos problemas psicológicos unicamente pela observância da respiração. Nem podemos resolvê-los simplesmente estando absortos em nosso corpo. Nós os resolvemos vendo a psique no seu real estado: vendo a realidade, enfrentando-nos sem medo, sem aversão ou julgamento, mas vendo a verdade. É preciso inquestionável coragem e isso requer conhecimento e habilidade, mas pode ser feito. Para ser feito, entretanto, é necessário nos vermos o quanto verdadeiros somos, estudando a Árvore da Vida. Pensamos ser unicamente um corpo (Malkuth) e estamos errados. Pessoas modernas têm o conceito de que nosso corpo é nossa identidade, mas isso é completamente errado; o corpo é impermanente. O corpo nasce, cresce, desenvolve, então começa a decair e morrerá. Depois, conseguimos outro corpo. Talvez algumas pessoas não acreditem nisso, porém a realidade é a morte, o mesmo que o sono. Eis porque nos mistérios gregos, morte e sono são gêmeos, visto que ambos são dois lados de uma experiência, dois lados da mesma coisa.

  Nas tradições asiáticas é dito que se quisermos saber o que acontece quando morremos é nos conscientizarmos do que ocorre quando vamos dormir. É a exata e mesma experiência; a única diferença é que quando morremos a conexão com nosso corpo físico é crítica, ao passo que quando vamos dormir nosso corpo físico dorme por um instante, a consciência sai, e o corpo continua em seu estado de sonho como ele estará agora; então quando o corpo está prestes a acordar, a consciência retorna para o corpo e acordamos em nossa cama.

  Ao morrermos a diferença está em que o cordão entre a consciência e o corpo é cortado e ao invés de acordarmos naquele corpo físico acordamos noutro. Então ficamos confusos, começamos a chorar, e pouco a pouco esquecemos tudo o que aconteceu antes daquele agora, desse novo nascimento. Sabemos que isso é verdade, pois nesse exato instante nem mesmo nos lembramos do que aconteceu na semana passada, ou na semana anterior àquela. Como então iríamos nos lembrar do que aconteceu antes de nascermos? As memórias estão lá, mas temos enormes dificuldades em acessá-las.

  Passamos por muitos tipos de experiências, em níveis e níveis que também estão mapeados nessa Árvore da Vida. Quando o corpo físico está morto, a consciência (Tiphereth) simplesmente deixa aquele corpo. A parte física (Malkuth) e a parte energética (Yesod) do corpo vão para a sepultura, morrem. A alma, a consciência (Tiphereth) agora separada da fisicalidade estará ligada por suas ações do passado, não podendo livrar-se de seus débitos tão facilmente; então uma pessoa que seja muito raivosa, muito furiosa, que tenha se acercado de muita energia desse tipo será atraída para um novo nascimento que lhe trará idênticas características. Uma pessoa muito sensual, sempre conduzida pelo desejo, será atraída para um novo nascimento onde terá aquelas mesmas características.

  Assim nascemos sob as consequências e circunstâncias que nos atam a nossa psicologia. Não nos lembramos de nada disso porque do mesmo modo como vamos dormir agora, entramos no mesmo processo de morte. Hoje mesmo, após cairmos no sono noturno, e chegando a manhã, podemos nos lembrar de uns poucos sonhos, mas basicamente não nos lembraremos de nada. O mesmo ocorre quando morremos. Se desenvolvermos as habilidades, começaremos a lembrar de tudo o que nos acontece a noite inteira. Desse modo ao morrermos seremos cônscios podendo inferir no que nos acontece.

  Sobretudo, sonhando ou morrendo, estamos falando da experiência da consciência. A consciência é a habilidade em perceber significando que passamos por tudo isso experienciando coisas, mas sem estarmos cônscios de nada. No entanto, ao desenvolvermos a concentração na meditação estaremos desenvolvendo capacidades que são de intensidades vívidas ou de intensa claridade mental e estabilidade num único ponto. Isso nos dará a condição de experienciarmos com calma e serenidade, mesmo as coisas mais difíceis.

  Observemos quantos grandes mestres foram torturados, abusados, tratados terrivelmente e ainda responderam com compaixão. Muitos grandes praticantes possuíam a habilidade em passar por coisas terríveis e ainda assim mantiveram inteira tranquilidade, serenidade e amor. O que é importante notar sobre isso é que essas qualidades estão bem mapeadas na Árvore da Vida. Todas essas qualidades positivas: amor alocentrico, generosidade, altruísmo, diligência e zelo no trabalho em benefício de outros estão representadas na Bíblia como gemas ou joias adornantes da Árvore da Vida.

  Ao lermos o Livro da Revelação veremos que coisas como aquelas são aspectos superiores do Livro da Vida. Porém, naturalmente, tudo tem seus opostos. O oposto ao amor é obviamente a aversão. Hoje em dia não usamos muito aquela palavra, a palavra preferida é ódio; é a mesma coisa. Raiva é ódio. O oposto do amor não está na parte mais alta da árvore da Vida; está na sua sombra, na parte mais baixa. Que mais está naquela região? Naquela parte mais inferior encontraremos qualidades como inveja, ciúme, sensualidade, impaciência, egoísmo e tirania. Então todos os defeitos, todas as pobres qualidades estão na sombra da Árvore da Vida, e todas as qualidades positivas estão no seu aspecto superior.

  Quando estamos em meditação e nossa mente está em crescente tentando concentrar-se, contra o quê estaremos lutando? Não será contra o amor, contra a paciência, contra a felicidade de outros; estaremos lutando contra a impaciência, a sensualidade, a inveja, o ciúme, o medo, a vergonha – todos os defeitos.

  O que nos traz obstáculos em nossa vida diária, nas práticas da meditação, nos sonhos e em nossas mortes, são os defeitos, os nossos problemas psicológicos. Todos esses correspondem às sombras da Árvore da Vida. Possamos ter ouvido essa outra palavra que descreva aquela região: inferno. E há um lugar que podemos chamar de inferno, que na verdade o carregamos em torno de nós durante todo o tempo. Vem de nossa mente! É quando estamos sempre a viver naquele ambiente, dia após dia, saturado com nossa impaciência, nosso ódio, nossa luxúria, estando a irradiar uma atmosfera de inferno. Em outras palavras: irradiando um ambiente demoníaco. Eis porque não somos felizes. Não possuímos a felicidade porque não irradiamos a qualidade da divindade: o amor, a generosidade e o alocentrismo (tentamos nos enganar, mas são mentiras ditas a nós mesmos e a outros).

  Observemos em todos aqueles grandes professores que admiramos – Jesus, Buddha, Krishna, etc. – quão grandes individualidades eles foram e completamente alocentricos. Não é verdade? Nenhum deles falava sobre “mim, eu mesmo e o que eu quero”. Ao invés viveram e respiraram unicamente para nós, para outros. Assim foram grandes individualidades, sem interesses egocêntricos, enquanto nós somos o oposto disso; pensamos unicamente em nós próprios, em nossas emoções, em nossas necessidades e vontades. Toda a nossa energia está focada nisso: no que queremos energeticamente, e nossa fisicalidade está sobremodo “em mim, no meu e no eu”. Eis porque somos tão míseros. E o que tem isso a ver com a meditação? Tudo! Absolutamente tudo!

  A razão de necessitarmos desenvolver a concentração está em romper com todo esse ruído. Construir um espaço de solicitude e serenidade do qual possamos efetivamente operar mudanças. Necessitamos nos habilitar a reconhecer tudo o que seja atmosfera psicológica negativa que cultivamos, e mudar isso. Mudamos ao nos centrarmos na força de vontade (Tiphereth) a fim de estarmos presentes aqui e agora, no momento, concentrando-nos enquanto praticamos a auto-observância durante o dia e enquanto praticamos nossas técnicas diárias da meditação. Entretanto, somente isso não é o suficiente. A concentração por ela mesma não pode resolver os problemas psicológicos que temos. Isso porque consciência não é unicamente concentração. Consciência é percepção. E percepção é mais do que unicamente concentração. Percepção é a habilidade em perceber através de todos os nossos sentidos.

  Desse modo necessitamos daquela habilidade através da concentração visual, da audição, do paladar, do tato, do olfato: de todos os nossos sentidos. Não somente dos sentidos físicos, mas também daqueles sentidos psicológicos de forma que possamos nos concentrar e observar todas as coisas como elas são: sem preferências, julgamentos, análises, não estando condicionados a essas coisas. É vermos a emoção pelo que ela é, pensamentos pelo que são sem estarmos influenciados por eles ou por eles controlados. Para fazermos isso com sucesso necessitamos que nosso centro de gravidade esteja aqui em Tiphereth (força de vontade) livre do condicionamento desses fatores inferiores.

  O mais significativo nisso é que a imaginação é o que está fazendo tudo acontecer. Se realmente queremos acessar o estado da meditação, que é o estado da consciência liberta do condicionamento, devemos trabalhar com a imaginação. Não há outro meio de acesso. E é essa a mais profunda diferença encontrada entre as tradições da meditação. Muitas somente ensinam a concentração. Se investigarmos esses grupos, tradições e escolas, descobriremos que suas realizações são superficiais; suas capacidades em penetrar bem dentro dos problemas psicológicos são bastante limitadas, uma vez que deliberadamente rejeitam o total poder da consciência que é a percepção. Muitas dessas escolas pregam que: “somente devemos nos concentrar na respiração ou nesse mantra e se alguma imagem aparecer ou vermos algo, rejeitemo-los, rejeitemo-los!”. Não nos querem visualizando ou imaginando. Aqui não ensinamos desse modo conforme ensinam outras antigas tradições, especialmente o budismo tibetano e o Induísmo. Queremos desenvolver o total poder da consciência que é a própria percepção.
  
  A percepção não é exatamente física. Podemos perceber fisicamente, podemos perceber a energia, a emoção, o pensamento e mesmo a vontade..., e com treinamento a Alma Divina, o Espírito e mais além. Podemos percebê-los, podemos vê-los e experienciá-los. Não duramente. Na verdade fazer isso é num estado natural da consciência: requer unicamente treinamento.

  Concentração + Imaginação = Meditação

  A fórmula é simples: aprendamos a nos concentrar e aprenderemos a imaginar. Acessaremos facilmente o estado da meditação se colocarmos esses poderes em equilíbrio um com outro.

  Eis porque no processo do ensino desse caminho sinuoso conducente à serenidade ensinamos-lhes como concentrar e visualizar coisas de forma que estarão usando a ambas ao mesmo tempo. Bem no início das fases pudemos ensinar-lhes como observar a respiração, como concentrar em algo exterior ou num mantra, para fins de exercícios preliminares. Ainda, o melhor processo para desenvolver a concentração é aprender a visualizar uma imagem e concentrar-se nela. É nisso que estaremos desenvolvendo maior habilidade. Se não estivermos visualizando alguma coisa não podemos desenvolver a perfeita concentração. O que isso significa na prática? Precisamos compreender o que seja realmente.

  Imaginação Positiva x Imaginação Negativa

  Imaginação é polaridade. Como em tudo na natureza há os aspectos positivos e negativos.

  Imaginação positiva tem diferentes nomes nas tradições espirituais, como insight, vipasyanã, clarividência ou sonho consciente. Qualquer um que estude espiritualidade terá ouvido sobre essas coisas. Quando profetas e santos têm visões da divindade esse é um aspecto positivo da imaginação.

  Aspectos negativos incluem: “estar viajando”, devanear, hipnose, sonhos inconscientes e pesadelos. E por que são eles negativos? Porque a consciência não está engajada, não somos o suficiente cônscios daquilo, não estamos no controle; são mecânicos ou estão sendo manipulados por algo ou alguém mais. Acontecem exatamente por nós próprios ou por alguém de fora que esteja fazendo acontecer em nós, algo que está fora do fator condicionante. 

  Quando estamos “viajando” o corpo está fazendo alguma coisa e a mente está noutro lugar. Ao estarmos dirigindo nosso carro e pensando sobre o trabalho, não estamos conscientes, mas em estado de sono. Ao estarmos lendo um livro e nossos olhos estejam correndo as páginas, mas nossa mente esteja pensando naquele show da TV que assistimos ontem – realmente não estaremos lendo o livro; o corpo estará lendo, os olhos se movendo, mas a mente estará noutro lugar. Estaremos “viajando”, não estando acordados, nem cônscios: estaremos dormindo e sonhando.

  Devanear é exatamente isso: sonhar acordado. Vemos pessoas em seus ofícios, podemos vê-los indo a qualquer lugar; pedimos ajuda a uma pessoa e ela está obviamente tão distraída que mal ouve o que estamos dizendo. Todos já tivemos dessa experiência, certo? Porém já estivemos cônscios de termos feito o mesmo com alguém? Quando conversamos com alguém, mas realmente não prestando atenção no que a pessoa diz é porque estamos pensando sobre outra coisa. Devanear é o negativo uso da imaginação. Estando visualizando e imaginando estarmos no Hawai, ouvindo pássaros e o mar e nesse meio tempo nosso patrão nos diz: “Ei, você não está prestando atenção porque está sonhando acordado!”. Isso é negativo; é fantasia, não existe: é um sonho!

  A hipnose é também algo a ter poder sobre a mente: a consciência está passiva, sonolenta, inconsciente. A hipnose fica vasculhando o interior de nossa consciência e isso é muito ruim, muito perigoso. Um hipnotizador pode comandar-nos a qualquer coisa e nos plantar coisas íntimas para ele.

  Sonhando inconscientemente é o que todos fazemos todas as noites. Ao dormirmos o corpo cai no sono, saímos e estamos andando pelas ruas ou temos uma bela conversa com um coelho. Ao acordarmos pela manhã não nos lembramos de nada. Estivemos dormindo no sonho. E estamos dormindo quando levantamos pela manhã. Dormimos o dia inteiro realizando nossas atividades porque estamos por demais distraídos. Basicamente vivemos num estado de sonho durante todas as noites e todos os dias. Em outras palavras: “vivemos nossas vidas” (em grandes destaques) todos os dias e todas as noites num estado de imaginação negativa. “A vida nada mais é que um sonho” porque a vivemos nesse modo. Na verdade “vemos a vida através de uma vidraça obscurecida” uma vez que a qualidade de nossa psique está demasiado turva por essa predisposição à fantasia, a sonharmos acordados evitando a realidade.

  A causa disso tudo está em, realmente, não desejarmos nos orientar pela verdade. Preferimos viver pelas fantasias do mundo, naturalmente não reais, e subitamente entendemos que estamos velhos, à proximidade da morte, nos dando conta: “Espere um minuto! Isso não é o que eu quis! Que aconteceu com minha vida?”. E agora que iremos fazer? A vida é tão preciosa para gastá-la com fantasias. Falemos então com um pouco mais de detalhes sobre essas coisas de modo a podermos mudar de direção.

  Tipos de Imaginação

  Há cinco tipos de imaginação, cinco aspectos da mesma função. Quando perguntados anteriormente se podiam lembrar-se do que tiveram no café da manhã, vocês se lembraram por um momento. Tomou-lhes algum esforço? Toma-lhes qualquer esforço lembrar-se o que comeram? Não, certo? Podem ver a imagem? Seus olhos estão abertos, mas ainda podem ver a imagem. Mesmo por um pequeno “flash” podem relembrar o que tinham no prato ou nas mãos. Tinham café? Uma pequena imagem emerge: isso é imaginação. O objetivo é, portanto, ampliar essa habilidade de modo a relembrar a imagem; dura mais, é mais clara e ainda assim permanece sem esforço. Existe uma palavra elegante para essa habilidade: clarividência. Clarividência em francês significa exatamente “vendo com clareza”; é outra palavra a significar imaginação.

  Há cinco aspectos fundamentais da imaginação que correspondem à Árvore da Vida. O que chamamos céus ou virtudes representam partes de nossa consciência. São qualidades de nossa consciência como o amor, a habilidade em nos sacrificarmos pelos outros, altruísmo e generosidade. A habilidade de amar profundamente é a grande qualidade da alma, da consciência. É a mais importante qualidade. Infelizmente também temos os opostos que podemos chamá-los de infernos ou vícios porque tanto quanto seja amor pode ser também ódio. Em sendo ódio não tem nada a ver com Deus, o Ser ou Divindade. Virtudes e vícios correspondem diretamente aos tipos de clarividência e imaginação.

  As qualidades positivas estão relacionadas com a supraconsciência ou imaginação consciente. Essas formas de imaginação não são filtradas através dos vícios, defeitos ou mesmo egocentrismo. Por exemplo: ao pensarmos em alguém como Jesus, Buddha, e outros grandes mestres – aqueles seres não tiveram ódio, luxúria, cobiça, gula, egoísmo. Eles já se limparam de todos aqueles lixos; irradiam a pureza de seu Ser; são puros, limpos. Estando assim libertos de desejos e do ego são capazes de perceber e agir sem filtros e condições que nos afligem. Seres assim têm o que é chamada “imaginação superconsciente”. Eles têm a habilidade em perceber a realidade como verdadeiramente ela é, e não só fisicamente, mas em muitos e simultâneos níveis. Se um daqueles seres viesse a esta sala veria nossos pensamentos (Netzach), sentimentos (Hod) e todas as nossas qualidade, como também nosso passado e futuro.

  Aquele acontecimento seria para ele tão fácil como é para nós olharmos a cada um fisicamente. Todas as informações lhe seriam visíveis e não há nada de místico nisso. Esse é verdadeiramente o modo natural da percepção. Qualquer um que esteja nesse caminho do desenvolvimento, que possua a imaginação consciente, poderá ver algo disso, principalmente porque estará vendo a realidade não filtrada, não envolta pelo orgulho, luxúria, inveja, etc. Verá objetivamente sem filtros. Poderá ou não ver multidimensionalmente do que estiver acontecendo naquele momento, dependendo isso de seu desenvolvimento e nível. 
 
  Daquele, existem dois tipos superiores e como sabemos são meio raros, uma vez que nesse caminho lhes é requerido não serem influenciados pelo orgulho, luxúria, inveja, ciúme, ódio ou raiva – por qualquer dessas qualidades. Simplesmente não podem de modo algum deixar suas percepções serem influenciadas.

  Se aquelas qualidades nos estejam influenciando então nossa imaginação está qualificada por um dos seguintes três tipos: subconsciente, inconsciente ou infraconsciente. É lamentável, mas é esse o estado de todos nós. O que imaginamos, o que visualizamos está infectado por nossos defeitos, por nossa condição psicológica. Significa que aquilo que visualizamos e mais aquilo que imaginamos não podem ser exatamente confiáveis. Necessitamos de uma dose bastante sincera da dúvida sobre o que visualizamos, imaginamos, pensamos ou sonhamos. Aqueles que desejam mudanças precisam juntar sempre essa qualidade da dúvida. “Quem está me fazendo sonhar isso? Será meu orgulho? Meu ressentimento? Minha luxúria? Meu ódio?”. Vejamos um pouco em detalhes sobre essas coisas.

  Imaginação Subconsciente

  A imaginação subconsciente está relacionada com a memória das experiências passadas que conformam padrões em nossa personalidade. Possamos ter 60 anos de idade e odiarmos brócolis. E as pessoas oferecem-no: “coma algum brócolis”. E respondemos vigorosamente: “Não, não, não, eu odeio brócolis!”. Não entendemos ou não nos lembramos da razão em odiarmos brócolis, pois quando tínhamos somente 3 ou 4 anos de idade alguém não sabia cozinhar brócolis e tentava nos fazer comê-lo e isso foi uma experiência ruim que afetou o desenvolvimento de nossa personalidade, e pelo resto de nossa vida terminantemente nos recusamos comer brócolis.

  Não temos a memória consciente daquele longínquo episódio. Então em nossos dezesseis anos vem uma pessoa e nos oferece um prato com brócolis e há um flash em nossa imaginação de “yuk, essa coisa ruim eu não quero!”. Aqui fisicamente não somos cônscios daquele acontecimento, mas em nós isso acontece psicologicamente. É imaginação subconsciente. Esse simples exemplo ilustra uma enorme diversidade de padrões que detemos hoje em nossas personalidades. E ainda pensamos ser simplesmente aquilo que somos e não nos questionamos sobre isso.

  “Personalidade” é um vocábulo técnico que é usado aqui num sentido bastante específico. O vocábulo personalidade é derivado da raiz “persona” (pessoa), significando “máscara”. Uma personalidade é algo a fazermos em cada tempo de vida. Do mesmo modo como a consciência se move dentro e fora do corpo todas as noites, ela também se move dentro e fora de novos corpos após a morte e a cada novo nascimento. Todas as vezes que temos um novo corpo físico ele cresce em seu tempo, em seu ambiente, em suas condições e é desenvolvido segundo as suas possibilidades. Do mesmo modo que uma planta cresce em seu ambiente e é influenciada por aquele ambiente, o corpo que temos agora tem uma personalidade – uma máscara com sua linguagem, cultura, seu modo de ver, de pensar que herdamos de nosso crescimento e como crianças a desenvolvemos. Tem também a educação que obtivemos relacionada com esse particular tempo e lugar e certos valores obtidos de nossos pais, professores, amigos e familiares. Tudo temporário relacionado com nossa personalidade.

  Achamos que nossa personalidade é real e permanente, mas não é. Nosso nome, gostos, moral, todas essas qualidades que as imaginamos em nosso “ego”, verdadeiramente somente as possuímos dessa vida: são temporárias. Não são nossa real identidade. Estivemos antes noutros corpos, fomos outro gênero, fomos de outra raça noutro país, tivemos um nome diferente, moral diferente, interesses diferentes, políticas diferentes, e porque fomos nascidos naquela época, tivemos a personalidade daquele tempo relacionada com a educação que lá obtivemos. Isso é subconsciente. Sub significa “embaixo”. Não somos cônscios de nada disso, mas precisamos nos tornar cônscios e reconhecermos que não somos o corpo, não somos a personalidade nem a energia que dá vida ao corpo; não somos as emoções que flutuam através de nosso coração nem os pensamentos que se externam pelo cérebro.

  Somos a consciência que passa repetidas, repetidas e repetidas vezes através de todas essas experiências e que teimosamente se recusa a ver a realidade. E por quê? É uma grande questão. É por causa do sofrimento que não desejamos estar diante dele. Ao invés disso ficamos evitando-o tornando as coisas piores. Quem não conheceu alguém que seja demasiado teimoso para ir visitar um médico? Provavelmente alguns de nós estaremos nesse mesmo modelo. Fazemos também o mesmo psicológica ou espiritualmente não desejando encarar a realidade.

  A verdade daquilo que pensamos de nossa identidade em modelos de experiências é o que estamos construindo em nós. Entretanto não somos cônscios de tudo. As experiências não são nossa identidade. O fato de não gostarmos de brócolis é tolo e superficial, mas é um padrão que modifica nosso comportamento e percepção, que nos faz reagir mecanicamente como um robô – que não tem consciência. Entretanto não reagimos do mesmo modo com todas as coisas. Alguma pessoa que tenha tido uma experiência má de interesses amorosos no passado estará afetada pelo resto de sua vida – imaginação subconsciente. Outra quando criança que tenha tido uma experiência má com um representante policial desconfiará da autoridade – da polícia – também pelo resto de sua vida. Ela pode não saber, não lembrar, mas terá sempre aquela qualificação sobre a autoridade policial. E sempre ao ver a policia ou alguma figura com autoridade sentirá ódio. Não saberá porque, porém decorre desses padrões que adquirem formatos em nosso passado desenvolvimento, e cujas imagens emergem, e de que não somos cônscios em nossa imaginação. Obviamente isso tem grande e significativa influência em nós. E há outras coisas mais profundas ainda.

  Imaginação Inconsciente

  A imaginação inconsciente decorre da frustração de nossos desejos. Temos um problema muito sério que é chamado orgulho. O orgulho é “autoestima”, que é apego a uma falsa identidade: “Eu sou isso e aquilo”. Desejamos emponderar aquele sentido do “eu”, não entendendo que isso é realmente um pecado, um defeito, uma causa de sofrimento. Todas as escrituras concordam com isso. O orgulho deseja louvação, reconhecimento, amor e atenção. Estimula a imaginação inconsciente. Em todos os nossos pensamentos, sentimentos, fantasias, devaneios, buscamos proteger e fortalecer o orgulho. O orgulho nos faz crer sermos algo que não somos. O orgulho é uma falsa imagem do ego. Sonhamos com a fama, sucesso, riqueza, etc., por causa do orgulho. Sonhamos nos tornar um mestre espiritual, sendo seguido por outros, unicamente porque temos orgulho. Quando não obtemos atenção, amor, ou sucesso naquilo que sonhamos, ficamos com ódio. Exsudamos uma atmosfera de ódio e orgulho, nos sentindo merecedores de atenção, de respeito, de dinheiro; merecedores de qualquer coisa que achemos merecer e isso é tudo em nossas cabeças: vivemos num mundo de fantasias.

  Nossa vida é em sua maior parte fantasias e isso não pode mesmo ser a realidade. Muitos criminosos são definidos por essa característica. Pessoas que roubam, que furtam, que assaltam dizem sempre tomar aquilo que estão tomando por merecerem. Por quê? Por causa do orgulho, do ódio. Acham que a sociedade deve-lhes, que não recebem o reconhecimento merecido, que a sociedade enganou a sua raça, a sua cultura ou as enganou em qualquer outra coisa; daí estão tomando coisas dos outros de que são “merecedores”. É tudo devido a imaginação inconsciente. Esses elaboraram profundas fantasias em suas mentes que influenciam a todos os seus comportamentos enraizados no orgulho e ódio.

  Que dizer de alguém que tenha tremenda luxúria, a sonhar com uma esposa perfeita? Esse nunca encontra aquela esposa. Cada vez que se envolve com uma pessoa a está sempre comparando com a sua fantasia. A realidade da esposa ou o interesse romântico não pode nunca corresponder com a fantasia dele; tipos assim estarão sempre frustrados e sempre terminarão com o relacionamento, indo procurar mais alguém. Nunca estão satisfeitos e com a maior frequência são enganados pelas suas fantasias – isso é imaginação inconsciente. Hoje em dia são tipos muito comuns. Pulam de um relacionamento a outro tendo muitas namoradas, muitos namorados ou muitos casamentos. Porque não estando mentalmente cônscios disso são inconscientemente enganados pelas suas fantasias, enraizadas em luxúria. Essa coisa é uma inegável realidade na cultura de nossos dias, mas ninguém se liga, ninguém deseja ligar-se. Amamos por demais a luxúria e não queremos reconhece-la como sendo uma doença, tal como ela é. A luxúria é uma doença psicológica.
   
  Imaginação inconsciente são todas essas fantasias e devaneios bem como os sonhos que experienciamos às noites – aquelas imagens em nossa psique que influenciam o nosso comportamento, conduzidas através das frustrações de nossos desejos. Quando os desejos não estão sendo satisfeitos agimos em tentativas de os satisfazermos sem que nos conscientizemos disso.

  Imaginação Infraconsciente

  Ultimamente temos a mais profunda e pior das imaginações, que é a imaginação infraconsciente. Está relacionada com os mais profundos níveis da psique.

  Sabemos que todos nos sentimos inocentes e que estaríamos fora desse aspecto. Podemos mesmo nos sentir pessoas santificadas, porém ao termos tido pesadelos experienciamos àquilo. Ao acordamos durante a noite em terror teremos a isso experienciado. Estamos sempre experienciando qualidades mais profundas de nossa própria psique e essas é que são os pesadelos. Sabemos que as pessoas hoje em dia dizem: “oh, é somente sua imaginação. É nada mais que um sonho”. Sim, isso é nossa imaginação ainda que a imaginação seja simplesmente uma janela dentro da psique. As imagens que vemos em nossa cabeça e em nossos sonhos refletem o que está dentro de nós. Pesadelos são percepções do profundo de nossa psique; aqueles monstros e aquelas terríveis situações; a sensação de estarmos sendo caçados, perseguidos ou mortos ou outra coisa qualquer nesse contexto é uma experienciação de nossa alma em nossos níveis da infraconsciência.

  Eis porque necessitamos mudar. Evitar isso não resolve. Evitar a doença não a cura. Para resolver temos de nos direcionar. Temos de encarar. Eis que todos os mitos da antiguidade nos chegam contando sobre os grandes heróis descendo aos abismos, todos eles – Orfeu, Jesus, Dante – penetrando-os, olhando-os com seus olhos abertos a fim de resgatar sua amada – Eurídice, Beatriz – a Alma Divina que se encontra armadilhada naqueles níveis que temos dentro de todos nós.

  O infraconsciente está em cada pessoa deste planeta. Todos o temos. E aqui está a parte mais assustadora disso: que conforme explicado temos a sombra da Árvore onde todos os nossos defeitos se encontram simbolizados, mas temos simbolizado o aspecto superior da Árvore onde estão todas as nossas virtudes. Ao observarmos nossa sociedade, nosso planeta, e ao olharmos o que está acontecendo com esse nosso mundo a cada simples dia – perguntaríamos se nossa sociedade ou nossa civilização vibra mais amor, mais compaixão, mais generosidade, dando a outros altruisticamente? Ou mais se caracteriza por ser egoísta, ambiciosa, violenta e destrutiva? Exatamente agora nesse planeta há mais pessoas refugiadas do que jamais acontecido na história. Há mais escravidão como nunca. Essas são estatísticas das Nações Unidas. Há bem menos acesso à água limpa e à alimentos nutritivos como nunca no mundo. Há muito mais pessoas em perigo e sob ameaças. Não somente isso, mas a vasta maioria das riquezas do mundo está concentrada numa fração da população como jamais houve.

  Essas coisas nos demonstram claramente que o mundo inteiro está afundando ao inferno – provado com fatos científicos. Não caracterizamos o inferno do modo como descrito pelos fundamentalistas. Falamos do inferno como qualidades do ser em termos de ambição, gula, luxúria, ódio e orgulho.

  Quem são as pessoas que se buscam hoje no planeta para exemplos de grandes seres humanos? Essas são as pessoas egoístas, gananciosas; pessoas com intenso amor a si próprias. Olhemos todas as celebridades adoradas. Nenhuma está preocupada conosco; somente querem nossa adoração, nosso dinheiro; querem poder e maior fama. Em qualquer lugar não encontramos mais altruísmo, generosidade, amor, pessoas humildes. O que encontramos é sarcasmo, odienta ambição, pessoas gulosas. Significa que a humanidade não está somente influenciada interiormente por essas qualidades. Como agora vivemos de momento a momento, a humanidade está puxando essas coisas para a superfície da Terra. Hoje em dia transformaram a indulgência em violência. Assassinato é uma forma de arte. Sons chocantes! Assistimos TV. O que a maioria dos programas na TV mostram? Tratam de ensinar as várias maneiras de um assassinar outro. Há muitas diferentes maneiras de assassinar ou matar escapando das consequências; e a “criatividade” está em elaborar cada vez mais ações depravadas para assistirmos. Estamos fascinados pelo crime, pelo assassínio, pelo roubo e pelas mentiras. Não encontramos qualquer programa de TV, filmes ou livros sobre qualidades ou virtudes do Espírito. É tudo sobre egoísmo e sensualidade; é violência contra as pessoas ou contra a natureza. Em todo o mundo vemos hoje mais e mais pessoas trazendo para a superfície a infraconsciência nos mais profundos e terríveis aspectos do comportamento humano – matando, estuprando, assassinando, roubando abertamente.

 Numa olhada pelo mundo vemos o que acontece na Eurásia, onde estão jogando química nas populações, explodindo pessoas, e as demais pessoas unicamente continuam suas vidas diárias como se nada de errado estivesse acontecendo. Em todas as partes acontecem inacreditáveis atrocidades e ainda assim andamos em transe ao mercado para comprar nossos produtos, indo para o trabalho, indo para casa, a assistir programas, a dizermos a nós mesmos que no final dará tudo certo... Por quê? Não queremos ver a realidade. Não queremos ver o que está acontecendo ao mundo. Ninguém deseja reconhecer que todas essas coisas estão em cada um de nós.

  A visão pontual dos antigos ensinamentos é realmente simples: a sociedade é um espelho do indivíduo. A sociedade está como está, devido ao modo como somos individualmente. Se quisermos que a sociedade mude precisamos mudar a nós próprios. Não podemos mudar outras pessoas – isso é impossível; possamos gastar nossa vida inteira tentando mudar aos outros, mas falharemos. Entretanto, se por fim fizermos o esforço de mudarmos a nós próprios podemos ter algum progresso, especialmente tendo sinceridade. Aquelas qualidades infraconscientes estão em nós e elas precisam ser mudadas.

  Imaginação Consciente

  Aprenderemos mudá-las pelo desenvolvimento dos poderes positivos da consciência e isso começa com a imaginação consciente. Significa termos de começar a ver as coisas como elas verdadeiramente são, não mais vivendo no planeta de fantasias, mas vivendo realidades.

  Sabemos que as coisas hoje aqui descritas são perturbadoras, mas são fatos. Todos nós queremos evitar os fatos porque são dolorosos, sendo por isso que as coisas estão se tornando dia após dia cada vez piores. A única maneira de as coisas melhorarem é encararmos a verdade, não somente como um mundo, mas como indivíduo. Temos de encarar a verdade e trabalhar para mudarmos tudo isso. A imaginação consciente é a percepção em como algo seja realidade e isso começa aqui e agora em nosso corpo físico.

  Logo a primeira palestra deste curso enfatiza fatos. Se quisermos aprender a meditar temos de aprender como manobrar unicamente com fatos; precisamos deixar de lado crenças e teorias e trabalhar com fatos – prováveis, científicos, repetidos. É desse modo que a prática da meditação efetivamente avançará. Isso se aplica especialmente à imaginação. 

  Quando começamos a meditar temos visões; passamos a ver coisas, não fisicamente, mas pelo poder da imaginação. Podemos chamá-las de visões, de sonhos, de experiências fora do corpo, de sonhos lúcidos, de clarividências ou usar qualquer outro nome que queiramos. Enfim, veremos coisas. A coisa principal se vocês irão absorver algo da palestra de hoje é essa: a persistirem na meditação duvidem do que verão; apoiem-se unicamente em fatos!

  Isso é da maior importância uma vez que alguns estudantes começando a meditar passarão a ter visões acreditando ser ele algum tipo de mestre, de uma grande alma que desce ao mundo para ajudar outros, e isso não faz sentido! Isso é 100% orgulho e uma mentira! Temos de ver algo pelo que seja de fato. Possamos começar a ver coisas, termos visões e imaginações sobre cada pessoa ou sobre nós próprios, mas temos de entender que, enquanto todos esses nossos aspectos inferiores não estejam completamente claros nossa visão estará filtrada e influenciada por nosso ego: pelo orgulho, luxúria, inveja, ambição, gula, avareza, por todas essas coisas. O que seja tenhamos como visão ou o que haja surgido em sonhos temos de duvidar. Temos de compará-los com fatos e comprová-los antes de dar-lhes crédito.

  Uma visão tão poderosa como uma possa vir a ser, ainda assim não é confiável em si mesma. Uma visão, uma experiência espiritual, um sonho lúcido, precisa ser comprovado, analisado, duvidado.

  A Imaginação Consciente Vê a Realidade

  A realidade é provada, factual, infalível, indubitável. Se quisermos desenvolver a imaginação consciente, então nos depuremos do orgulho, da sensualidade, da inveja, do ódio, etc.

 Imaginação Supraconsciente

  Se desejarmos fazer aquilo, podemos eventualmente desenvolver o que é chamada imaginação supraconsciente, que é percebermos como algo realmente se apresenta com todas as suas causas e completa dimensionalidade. Esse tipo de visão é de um mestre genuíno – e deixem-me explicitar aqui esse estado de modo a não existir nisso falsa percepção – que é o tipo de percepção de alguém como Jesus, um ser humano muito bem realizado. Infelizmente é um tipo muito raro neste planeta, ainda que exista a possibilidade para qualquer um de nós vir a desenvolvê-la se formos sérios.

  E como desenvolvê-la? Primeiro temos de meditar. Relaxamos nosso corpo físico, relaxamos sua energia, relaxamos sua emoção, relaxamos sua mente e as deixamos todas ficarem tranquilas e serenas. E quando a força de vontade estiver centrada e consistente na sua observância do fenômeno – como ele verdadeiramente é – então visualizamos e concentramos naquela forma. A estabilidade dessa concentração durante nossa visualização é que extrairá a consciência daqueles véus e acessaremos o que é chamado samadhi em que vemos a realidade – quer fisicamente ou na quarta, quinta, sexta ou sétima dimensões.

  É provável vermos nossa própria esfera infernal que realmente seja a visão mais valiosa de todas – vermos a realidade de nossa psique. É esse o objetivo – que é o real estado da meditação – em que a consciência incondicionada de todas as qualidades inferiores esteja livre para ver a realidade como verdadeiramente ela é, e compreende-la. São essas as duas importantes qualidades da consciência: perceber e compreender. É a realidade que queremos. Queremos compreender a nós próprios, ao mundo e a nossa natureza. Meditação é como podemos fazer isso – aproveitando os poderes da consciência para realizarmos.

  Exercícios

  1. Todas as manhãs como parte da auto-observância tornar-se cônscio do uso da imaginação a cada momento.

  2. Diariamente desenvolver a visualização meditativa. Adotar a postura meditativa, relaxar completamente e então focar 100% da atenção no objeto visualizado.

  3. Escrever os fatos de seu dia no seu diário espiritual.

  Para aqueles que estão dando continuidade a este curso, seus exercícios até a próxima palestra são prosseguir na auto observância a todo o momento do dia, porém incluindo o como estar usando a imaginação de momento a momento. Caso não realize isso estará usando a imaginação sem a conscientização. Ficar então ciente do fato. Quando estiver se aprontando para ir ao trabalho e acusar: “onde deixei minhas chaves, onde está minha carteira de motorista, onde estacionei meu carro?”, estar visualizando tudo, ficando então consciente de todas essas coisas – fazer tudo conscientemente.
 
  Ao estar dirigindo o carro não pensar sobre o trabalho ou no programa da TV; prestar atenção no que esteja fazendo naquele momento, que é estar dirigindo. Dirigir o carro com total conscientização daquilo que está fazendo. Em lavando pratos não pensar no que terá de fazer amanhã ou nisso e naquilo que lhe foi dito ontem – lavar pratos é tudo. Necessitando pensar em algo ou planejar coisas, então somente ir fazer aquilo; concentrar e visualizar o que necessite com total conscientização.

  Desse modo exercer cada ação com total poder quer fisicamente, energeticamente, emocionalmente, intelectualmente ou conscientemente. Ao pensar somente naquilo no exato momento em que esteja a realizar é exercer seu total poder em cada coisa que faça. Com isso na tarefa que estiver exercendo será melhor operador, mais feliz e mais capacitado a auxiliar outros. Nos seus relacionamentos será melhor ouvinte e com melhor diálogo, pois estará plenamente cônscio do que estará sendo dito e completamente cônscio do que esteja falando. Assim haverá menores chances de falhar na comunicação, certo? Portanto, estar cônscio do seu uso da pessoal imaginação.

  O segundo ponto é continuar com a prática da meditação sobre o objeto visualizado. Deixamos uma recomendação numa palestra anterior em como fazê-lo.
Maitreya
Figura 6

  Assim sendo, continuar com aquela prática até torna-la sustentável. Finalmente, continuar com o diário espiritual.

  Dessas práticas a auto-observância é a principal. Falamos sobre isso nas primeiras e poucas palestras do curso. Falamos realmente em cada uma daquelas palestras. O mais importante aspecto da prática meditativa é verdadeiramente estarmos concentrados ao longo do dia, fazendo o esforço continuado de momento a momento para estarmos presentes e concentrados no que realizamos. Não fazendo isso ao longo do dia, aquele pouco tempo que dispusermos à noite ou pela manhã tentando meditar redundará em muita dificuldade a nós. Entretanto, quando passamos o dia inteiro em preparação, a meditação se torna então mais fácil. Esse é o aspecto principal.

  A visualização meditativa foi tratada na maioria das recentes palestras deste curso a significar o processo de fixar a atenção ou de visualizar sobre um objeto. Pode ser basicamente qualquer coisa. Na maior parte dos casos escolhemos algo relacionado com a divindade: um aspecto do divino que consigamos fazer ressoar emocionalmente em nós. Recomendamos àqueles que tiverem particular memória religiosa que selecionem uma imagem daquela tradição. Para um cristão pode ser Jesus ou Maria ou qualquer outra representação visual da divindade. Para um budista pode ser Buda. Para um indu pode ser Shiva. Visualizem-na, projetem a imagem até que ela se torne firme e clara. Lembrarmos de nosso desjejum não nos exige qualquer esforço, nem nos exige esforço lembrar-nos com o que se parece nosso quarto onde vivemos. Lembramos exatamente dele, certo? A imagem logo aparece.

  Perguntas e Respostas

  1. P. – Podemos trocar aquela imagem de meditação a meditação?

  R. – O melhor é trabalhar consistentemente só com uma imagem, principalmente na fase inicial, e a razão para isso é evitarmos que a mente se torne demasiado distraída e mantenha a tendência de sempre querer pular de uma coisa para outra. Exerçamos querer fixar a mente numa só coisa e mantenhamos isso. Essa é a resposta tradicional para a pergunta, havendo qualidade nela.

  O ponto é que esse exercício existe não para o objetivo do que esteja sendo visualizado. A intenção é estabilizarmos a psique e o corpo mantendo firme a atenção, desenvolvendo com isso a habilidade em vermos claramente aquelas imagens. Uma vez alcançada a experiência largamos aquilo. Queremos galgar em direção ao verdadeiro trabalho. Tudo aquilo é preliminar. O trabalho real é, por exemplo, como já fizemos as coisas hoje cedo. É termos a habilidade em nos analisarmos – às nossas vidas e aos nossos problemas – e penetrarmos através dos véus a fim de vermos a verdade.

  Esse poder da visualização é o que nos traz aquela habilidade. Assim como esse exemplo: um estudante dessa tradição ao final do dia encaminha-se para casa e terminando tudo vai para o seu quarto, escolhe um pequeno espaço para meditar e relaxa. Então começa a visualizar sua memória sobre o dia inteiro, relembrando tudo o que lhe aconteceu. No processo de construir aquele fluxo de memória ele intuitivamente nota: “oh, nesse instante algo me aconteceu. Há uma emoção – eu fiquei zangado ou identifiquei-me ou senti sensualidade ou senti ambição – qualquer coisa. Algo aconteceu que não devia ter acontecido. Algo que me aborreceu ou de algum modo eu ali agi inapropriadamente”. Assim deixamos de lado quaisquer daqueles idênticos poucos momentos que possamos encontrar e em seguida saímos daquele foco. Exemplificando melhor: ele mantinha uma conversa e ficou zangado. Então aquele estudante relaxará meditando, concentrando e visualizando os fatos daquele acontecimento. Observará os fatos e tocará a cena, não a analisando com a mente, mas observando como a mente reage.

  A mente terá pensamentos e então as emoções reagirão e ele sentirá as emoções sobre aquilo. Aquele dissabor ressurgirá ou o orgulho ou o medo. O corpo reagirá e se sentirá desconfortável. Irá querer parar a meditação. Irá querer se levantar e sair do quarto, ir assistir TV ou fazer qualquer outra coisa. Todas aquelas reações são bem significativas, mas  com paciência eventualmente alguma nova informação visual acontecerá, podendo ser alguma cena inesperada, uma voz, uma palavra ou uma escritura. Poderá ser qualquer coisa.

  Esse é o objetivo. É isso o que queremos desse exercício para nos levar adiante. É quando a imaginação começa a acessar novas coisas. Deixem-me ressaltar que lá está acontecendo uma dinâmica muita poderosa. O meditante estaciona tudo sobre fatos de menor importância – estaciona o corpo e as energias, relaxa o coração e a mente, tendo atraído a consciência para coletar aquelas memórias, para observá-las. Entretanto naquele evento mantém todo o anterior parado. Contudo, com paciência, eventualmente uma nova cena venha se assomar.

  Vemos agora o estudante aqui a projetar sua memória, mas ele recebe algo novo. Essa nova receptividade acontece quando a discriminação necessita estar ali e a intuição daquela pessoa deva estar conectada, uma vez que essa nova coisa pode ser o ego ainda tentando trabalhar através das condições inferiores da emoção, do intelecto, da energia, do corpo – dos níveis da sub e infraconsciência, buscando influenciá-lo. E essa nova coisa que vemos pode parecer-nos bastante real.

  Podemos adentrar numa visão fantástica em que sejamos um anjo dentre as estrelas e todos os deuses nos estejam louvando e ao voltarmos dizemos-nos: “Fiz isso, sou um auto realizado!” Essa nova e emergente cena que estamos tentando defini-la, produziu-se daqueles níveis inferiores? Ou seria algo inexplicável vindo do alto? A divindade fala numa linguagem de mundos interiores, em simbolismos. A divindade nos mostra uma serpente enrolada numa árvore dentro de imensa taça cristalina cheia de mel; então chega uma águia. E pensamos: “Que? O que isso significa?”. Na linguagem do Espírito isso é bastante óbvio e muito comum. Ao estudarmos cabala e os arcanos aprenderemos isso se persistirmos nesse tipo de prática.

  2. P. – Minha pergunta é: como diferenciar ou delinear entre algo que seja imaginário ou divino?

  R. – Ao irmos ao shopping ou ao mercado como sabermos qual vendedor estará tentando trapacear e qual é honesto?

  Audiência: Não sei.

  Instrutor: Sabemos através da experiência. Temos de prestar atenção. Através da experiência podemos acreditar e não acreditar. Não há resposta rápida nem fácil para isso. É muito comum sermos enganados. O melhor caminho para sabermos diferenciar é aprendermos a confiar na nossa intuição.

 A intuição não é uma coisa intelectual; não é um manual a que possamos recorrer ou que estabeleça parâmetros que tenhamos de memorizar. É um toque sutil no coração que diz: “Não, não, não, isso não está certo”. É realmente um pequeno e silencioso toque no coração. A consciência pode tirar o certo daquilo que está errado. Ela sabe discernir o bem do mal. Ela é uma centelha de Tiphereth, a Alma Humana conectada com a divindade. Não é intelecto, não é emoção, não é energia nem é físico. É uma centelha da intuição que diz: “Não, não, não” ou “sim, sim, sim” e é quieta. Precisamos estar habilitados a ouvir aquilo e se não conseguirmos ouvir temos de estabilizar a mente, acalmá-la para podermos ouvir até que sintamos o toque intuitivo. Com o desenvolvimento isso torna-se mais forte. A habilidade em sentir e em nos ligarmos vai se tornando mais, mais e mais forte.
 
  3. P. – Se é provável como então pode ser fato?

  R. – Deixando-o de lado até que venha a ser definido. Como em ciência, por exemplo, quando estamos a investigar qualquer coisa ou sejamos um detetive tentando seguir um caso criminal, nada podemos provar até que reunamos todos os fatos. Dá-se o mesmo com a meditação. Acumulamos informações, temos visões, experiências, percepções, perspicácias – ok, não as analisamos ainda, então as deixemos sobre a mesa, em nosso arquivo. Estamos enchendo o arquivo com todos os dados, com os fatos do caso e deixamos os fatos acumularem-se. Pouco a pouco haverão óbvias respostas e as revelações começarão por elas mesmas.

POR UM INSTRUTOR GNÓSTICO

  Leia mais em Sexologia: livro por Samael Aun Weor

  Pensamento do Dia:
  “Necessitamos libertar nossa inteligência de todos os tipos de seitas, religiões, escolas, partidos políticos, conceitos de países e bandeiras, teorias, etc”.
Samael Aun Weor - A Eliminação do Rabo de Satan

 Tradução Inglês / Português: Rayom Ra 

Fonte:https://gnosticteachings.org/courses/meditation-essentials/3802-meditation-essentials-09-imagination.html:

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                                                           Rayom Ra                                                                                                           http://arcadeouro.blogspot.com.br 

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