quarta-feira, 13 de março de 2013

A Reencarnação - Uma Resenha por H.P.Blavatsky

       É a doutrina do renascimento na qual criam Jesus e os apóstolos, e do mesmo modo criam todos daquele tempo, porém agora negada pelos cristãos, que parecem não compreender a doutrina de seus próprios evangelhos, posto que a reencarnação é ensinada claramente na Bíblia, como é em todas as demais escrituras antigas.

       Todos os egípcios convertidos ao Cristianismo, os Padres da Igreja e outros criam em dita doutrina, como comprovam vários de seus escritos. Nos símbolos, todavia existentes, a ave com cabeça humana que voa para uma múmia, a um corpo, ou “a alma que se une com seu sakou [o corpo glorificado do Ego e também a envoltura Kâmalóika]” (1), são provas desta crença.

      (1) “Termo derivado do original sânscrito kâma-loka, conforme explica a própria HPB”:

      [Kâma-loka o plano semi-material, subjetivo e invisível a nós, onde as “personalidades” desencarnadas, as formas astrais, chamadas Kâmarupa, permanecem até desvanecerem de todo, graças ao completo esgotamento dos efeitos dos impulsos mentais que criaram estes eidolons(A) das paixões, desejos humanos e animais. Representa o Hades dos antigos gregos e o Amenti dos egípcios, a região das sombras silenciosas, uma divisão do primeiro grupo dos Trailokas](B).

          “(A) Eidolons – Formas de energia inferior movidas pelos pensamentos e desejos humanos que se condensam em torno de uma alma reencarnada, formando e constituindo um falso veículo da personalidade terrena, que devido a sua forte concentração energética pode perdurar em existência semiconsciente, por séculos, nos subplanos mais baixos do astral.
        De muitos modos os eidolons influenciam ou prejudicam no mundo físico pessoas e parentes de personalidades desencarnadas. Pode um eidolon permanecer numa família por várias gerações, se fortalecendo com as energias ali dimanadas, obsedando pessoas e interferindo em suas vidas, sem nunca ser percebido, pois adquire inteligência para evadir-se temporariamente quando se vê ameaçado de seu ocultamento.
     Quando os eidolons tendo sido fortemente polarizados nas auras de personalidades, segundo suas vontades, e não se tenham dissolvido entre uma e outra encarnação da alma – principalmente eidolons de praticantes de magia negra ou de cruéis criminosos de todas as espécies – são algumas vezes atraídos magneticamente aos campos de manifestações de seus criadores reencarnados, encarcerando-os novamente. Devido a esta nova simbiose ou vampirização, algumas personalidades assim obsedadas chegam a estados de loucuras.
       Nas terminologias dos candomblés os eidolons são conhecidos como eguns. Nessas seitas, o nome egun é de certa maneira genérico e noutra de suas significações corresponde no plural a todas as almas que estão submetidas ao processo reencarnatório desde suas primeiras atávicas manifestações no plano terreno, constituindo os círculos e ramos familiares étnico-raciais.
       Nas magias dos candomblés e noutras práticas dos diversos fetichismos das nações africanas, entidades de baixas categorias, criadas ou trazidas desde os planos etérico-astral, surgem para o mundo terreno como criaturas artificiais “semi-materializadas”, e são igualmente chamadas eguns, que servirão aos seus criadores nas suas ‘demandas’ espirituais” ou mesmo nas guerras físicas contra inimigos comuns”. (Rayom Ra)

       “(B) – Trailokas, do sânscrito, literalmente as três regiões ou três mundos – o tríplice mundo ou o conjunto dos três mundos. Todos são mundos (inferiores) de estados post mortem. Por exemplo: Kâma-loka ou Kâmadhâtu, a região de Mâra, é aquela que os cabalistas medievais e modernos denominam ‘mundo da luz astral’ e ‘mundo dos cascões'”. (HPB)

       O Canto de Ressurreição que Isis entoa para trazer de volta à vida a seu esposo morto poderia traduzir-se em Canto do Renascimento, uma vez que Osiris é a humanidade coletiva: “Ó Osiris (aqui segue o nome da múmia osirificada, ou seja, o morto), levanta-te de novo na santa terra (matéria), augusta múmia que jazes no féretro sob tuas substâncias corpóreas”. Eis aqui a oração funerária que pronunciava o sacerdote egípcio diante do morto.

       A palavra, “ressurreição”, entre os egípcios, nunca significou o renascimento da mutilada múmia, senão da Alma, o Ego que a animava, ressurgindo em novo corpo. O fato de a Alma ou Ego ser revestido periodicamente com carne, era uma crença universal; nada, portanto, a exemplo deste fato, pode estar em mais perfeito acordo com a justiça e a lei cármica.


       A Reencarnação é chamada também palingenesia, metempsicose, transmigração das almas, etc., e, como indicam esses nomes, esta doutrina ensina que a Alma, o princípio vivente, o Ego ou parte imortal do homem, depois da morte do corpo em que residia, passa sucessivamente a outros corpos de tal sorte que, para um mesmo indivíduo, há uma pluralidade de existências, ou melhor dizendo, uma existência única de duração ilimitada, com períodos alternativos de vida objetiva e vida subjetiva, de atividade e repouso, comumente chamados “vida” e “morte”, comparáveis de certo modo aos períodos de vigília e sono da vida terrestre. Cada uma destas existências na Terra é, por assim dizer, um dia da Grande Vida Individual.
 
       Mediante o processo da Reencarnação, a entidade individual e imperecedoura, a Tríade Superior (ver O ANTAKARANA), transmigra de um corpo a outro, se reveste de novas e seguidas formas, (e)/ou personalidades transitórias, percorrendo assim, sucessivamente, no curso de sua evolução, a todas as fases da existência condicionada nos diversos reinos da natureza (desde os períodos sub-humanos de sua fase elemental - r/r) com o objetivo de ir entesourando as experiências relacionadas com as inerentes e respectivas condições de vida, como o estudante entesoura os diversos conhecimentos e experiências em cada uma das fases ao transcurso de sua vida universal.

       Uma vez terminado o ciclo de renascimentos, esgotadas todas as necessárias experiências, e adquirida a plena perfeição do Ser, o Espírito Individual, livre por completo de todas as travas da matéria, alcança a Liberação e volta a seu ponto de origem, mergulhando de novo no seio do Espírito Universal, como a gota d’água no imenso oceano. A filosofia esotérica afirma, pois, a existência de um princípio imperecível e individualizado que habita e anima o corpo do homem e que, à morte deste corpo, passa a encarnar-se noutro corpo depois de um intervalo mais ou menos longo de vida subjetiva noutros planos.

       Deste modo, as sucessivas vidas corpóreas se entrelaçam como tantas pérolas num fio, sendo este fio o princípio sempre vivente, e as pérolas, em numerosas e diversas existências, sendo as vidas humanas na Terra.

         Nos livros esotéricos do Oriente é dito que a Alma transmigra de formas humanas para formas animais e podem passar a outras formas mais ainda inferiores, vegetais ou minerais. Esta crença tem sido geralmente aceita, não só em países orientais como também no Ocidente entre os prosélitos de Pitágoras e Platão, porém a filosofia esotérica rechaça em absoluto semelhante afirmação por ser irracional e opor-se abertamente às leis fundamentais da natureza. O Ego humano não pode encarnar-se senão em formas humanas, pois só estas oferecem-lhe condições mediante as quais são possíveis realizar suas funções. O Ego humano não pode viver jamais em corpos animais, nem pode retroceder ao bruto, por que isto seria ir de encontro às leis da evolução.

      “Este falso ponto de vista é um disfarce do ensinamento esotérico, e só pode ser admitido em sentido alegórico, como ao chamarmos de ‘tigre’ ao homem de cruéis instintos e de ‘raposa’ ao que é dotado de muita sagacidade, astúcia, etc. O certo é que pode um homem degradar-se e chegar até ser pior moralmente do que outro embrutecido, porém não se pode fazê-lo dar voltas na roda do tempo, nem fazê-lo girar em direção contrária. A natureza abre portas diante de nós, porém as que deixamos para trás cerram-se definitivamente, como a terem fechaduras de molas para as quais não possuímos chaves”. (A. Besant – A Reencarnação)

       Para formar-se uma verdadeira idéia da Reencarnação, necessário compreender bem qual é a parte do homem que reencarna, do contrário se expõe a incorrer em graves erros. Desde logo, não se trata aqui do quaternário inferior (corpos físico denso, físico-etérico, astral e mental – r/r), porquanto este é constituído por princípios perecíveis ou transitórios que servem para um só renascimento, ou uma só personalidade terrena. Não se trata, assim, da natureza animal, da parte que o homem tem de comum com o bruto, isto é, o corpo físico, o duplo etérico, o princípio vital e o centro ou princípio dos apetites, desejos e paixões.

      O que verdadeiramente se reencarna é a entidade individual e imperecível do homem, a Tríade Superior, constituída por Atma-Buddhi e Manas Superior, porém como a Mônada - Atma-Buddhi – é universal e não difere nas distintas pessoas ou indivíduos, o que aí em realidade pode-se estritamente dizer-se é que: Aquele que se reencarna é Manas, o Pensador, o Ego, o verdadeiro Homem, que, enobrecido e purificando o seu eu inferior, pugna por unir-se à Mônada Divina.

      A Reencarnação, doutrina que parece nova entre nós, mas por força de ser antiquíssima, é a crença de pelo menos dois terços da população total do globo e tem sido aceita sem reservas por todos os passados séculos. Em uma palavra: é uma verdade inolvidável. Nas escrituras sagradas da maior parte do Oriente se fala da Reencarnação como de uma doutrina que não tem necessidade de provas nem de demonstrações, como uma dessas verdades correntes sem contradições que todos aceitam sem exame ou discussão.

          No Novo Testamento encontramos várias alusões a esta doutrina (Mateus, XVII, 12, 13; Marcos, VI, 14-16; João IX, 1, etc.) e assim a vemos plenamente admitida por numerosos padres da antiga Igreja. (Veja-se: A. Besant; Compêndio Universal de Religião e Moral, tomo I, págs. 97 e seguintes). Mesmo no Ocidente a crença na Reencarnação esteve muito arraigada na antiguidade, como demonstram certos ensinamentos da Mitologia e numerosas obras de sábios eminentes.

         Muitos grandes pensadores e filósofos antigos e modernos a têm admitido sem reservas, e para provar este fato não é demais citar os nomes de Pitágoras, Platão, Empédocles, Sócrates, Kant, Schopenhauer, Shakespeare, Fichte, Herder, Lessing, Shelley, Emerson, Goethe, Hegel, Ricardo Wagner, etc., etc., coisa que não se deve estranhar uma vez que a doutrina da Reencarnação é a única que nos oferece uma explicação clara, lógica e satisfatória do grande número de problemas e enigmas que torturam a inteligência humana, tais como as diferenças de caráter, os diversos instintos, as tendências inatas de diversas pessoas, o talento e as disposições naturais que algumas delas apresentam para as ciências e artes; as enormes e irritantes desigualdades de nascimento e fortuna, as aparentes injustiças que vemos a cada passo na Terra, etc.

        De outro modo, a felicidade ou a desgraça dos homens não responderia a nenhuma idéia de justiça, senão que dependeria, sensivelmente, do mero capricho de uma divindade irresponsável ou das forças cegas de uma Natureza sem alma. De todo o exposto, se deduz que deve existir necessariamente uma causa, uma lei que regule de maneira justa e precisa as condições de cada encarnação ou existência, e esta lei é Karma, doutrina gêmea da Reencarnação; lei inflexível que ajusta sábia e equitativamente cada causa e seu devido efeito: é o destino de cada indivíduo, porém não um destino cego, senão um destino iniludível, absolutamente justo e estritamente acomodado ao mérito ou demérito de cada um.
  
           Em virtude da lei cármica, as boas ou más consequências de todos os atos, palavras e pensamentos do homem reagem sobre ele mesmo com a mesma força com que obraram. Assim é que cedo ou tarde, na presente ou em futuras existências, cada qual colhe exatamente o que haja semeado. Nossos desejos, nossas aspirações, nossos pensamentos, nossos atos, são os que, por virtude de dita lei, nos fazem voltar repetidas vezes à vida terrestre, determinando a natureza de nossos renascimentos.

        Todas as desigualdades, todas as diferenças que vemos condicionadas a diversas pessoas, são filhas de seus merecimentos ou de suas individuais culpas, e, portanto, o que se considera geralmente como favores ou crueldades da sorte não é em realidade outra coisa senão o correspondente e justo premio ou castigo de passada conduta. Somos nós mesmos que forjamos nosso porvir e lavramos nossa futura felicidade ou desdita, sem que por eles não devamos bendizer nem culpar a nada senão a nós mesmos. Não somos de maneira alguma escravos de nosso destino, senão seus donos e criadores: o destino é inevitavelmente nossa própria e exclusiva obra.

                             [Traduzido do Glosario Teosófico de H.P.Blavatsky]
Rayom Ra
[Leia 
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