Figura 1
Arcanos 1, 2 e 3 do tarô.
Arcanos 1, 2 e 3 do tarô.
“Com
relação à análise, permitam-me destacar que a análise não é intelectual. É toda
um ato da vontade, da consciência, algo além do intelecto. Assim ao dizermos
“analisemos e discriminemos” não significa que nossa mente jumentina esteja
dizendo “bem, estou tentando lembrar-me quando naquela palestra ele disse tal e
tal coisa – não!”. Isso é intelecto: é memória. Análise é percepção não é
comparação.”
Esta é a décima palestra desse nosso curso
examinador dos fatos mais fundamentais sobre meditação. Temos explicado algumas
das básicas terminologias e filosofias a fim de auxiliá-los a guiarem-se na
prática da meditação, especificamente em como focarem-se em fatos. Através do
curso vimos nos utilizando de uma variedade de ferramentas, especialmente da
Árvore da Vida e dos nove estágios da estabilidade meditativa. Essas
ferramentas são baseadas em fatos, em verdades confirmadas, experiências essas
que qualquer pessoa pode confirmar por si mesma. Esperamos que o curso os tenha
convidado a confirmar aqueles fatos por vocês mesmos. Nesta décima palestra
vamos falar sobre tudo o que a isso nos conduz. Por que meditar? Para que
serve? Qual é o objetivo? Qual é o resultado? O que é isso a que estamos
seguindo? E se não estivermos encontrando ou alcançando isso, por quê?
De alguma forma podemos dizer que o assunto
da palestra de hoje mesmo baseado em fatos que tenham sido provados por incontável
número de meditantes através da história é também o mais elusivo, difícil e
contestado, precisamente porque poucas pessoas inclinam-se a trabalhar
exclusivamente com fatos. Poucos se mostram desejosos em desprezar àquilo que
seja externamente um obstáculo ou um véu, tais como crenças, tradições, teorias
e filosofias que adotamos e a elas nos apegamos, mas na verdade, são baseadas
em nada.
Como exemplo, todos temos uma noção do ser,
um sentido de identidade a que nos agarramos com grande força, na verdade sem
qualquer significado, sendo ilusório, baseado no nada: uma mentira que contamos
a nós próprios. Visto não desejarmos eliminar aquilo não conseguimos enxergar a
verdade. Da exata maneira como fazemos individualmente é também feito por
grupos, escolas, religiões, países e civilizações. Agarramo-nos às ilusões
acreditando serem reais, achando serem características definidoras de quem
somos como uma personalidade, como uma pessoa, mas que verdadeiramente é nada
mais que fumaça.
O assunto da palestra de hoje, felicidade, é
o resultado de uma efetiva prática da meditação, trazendo uma resposta
inevitável, inolvidável que acontecerá se a prática meditativa for verdadeira.
Isso porque a felicidade é simplesmente o estado natural da consciência não condicionada.
Toda criatura viva a tem. Todos temos isso intimamente, mas se encontra velada
em nós.
Consciência é a habilidade em perceber e
compreender aquilo que percebemos. Em seu estado natural é livre do ódio,
imaculada pela luxúria, inveja, ambição, gula, pelo orgulho... em outras
palavras: é felicidade, alegria, contentamento, satisfação, amor, sabedoria,
beleza. Todos vemos e experienciamos isso, porém só superficialmente. Ao
olharmos dentro dos olhos de um bebê, ao experienciarmos sua pura e inocente
atmosfera, estamos sentindo a consciência imaculada, incondicionada daquela
criança a irradiar amor, alegria, felicidade, contentamento, pureza, a estar no
momento, na qualidade de simplesmente estar contente, feliz e envolvida com
outros.
Observemos a pureza e inocência de uma
criança, de um bebê: ele não tem preocupações, não pensa sobre o passado ou
futuro, estando completamente no momento: muito imaginativo, muito expressivo,
muito conectado, naturalmente ao nível de um bebê, como criança. Aquelas
qualidades são as sementes ou essência do anjo, do buda, do mestre, etc. Temos
tudo isso dentro de nós. Porém, na medida em que crescemos tudo isso se torna
velado e fortemente condicionado por nossas personalidades, por nossas
experiências, por nossas mentes, por nossas tendências, por nossas culturas,
por nossas linguagens, por tudo quanto nos vestimos a exemplo de camadas de
roupas, que supostamente nos protegem dos sofrimentos, mas que, na verdade, são
as causas de nossos sofrimentos.
A prática da meditação enraizada em fatos e
baseada nessa antiga e provada estrutura, busca remover todas aquelas camadas
de mentiras e expor aquela pureza primordial que temos interiormente. É
completa felicidade, contentamento, alegria, e espontânea e natural serenidade
por ela mesma.
Eis porque estudamos a Árvore da Vida, pois
ilustra todas aquelas camadas num modo simbólico.
Figura
2
Essa Árvore representa a nós próprios; é um
mapa de todas as infinitas possibilidades do ser humano. É incrivelmente
sofisticada e incrivelmente simples.
Em primeiro instante sabemos isso parecer
confuso e estranho, mas assim foi com nossa linguagem antes que a conhecêssemos.
Nossa primeira linguagem nos é familiar porque tivemos um monte de tempo para
praticá-la e trabalhar com ela. O mesmo se dá com a Árvore da Vida, mas quando
começamos a trabalhar com ela, diariamente a explorando, a entendendo, ela se
torna bem simples, bem fácil e também muito profunda naquilo que pode revelar
de nós próprios.
A Árvore da Vida é um símbolo universal que
mapeia cada experiência potencial de todos os níveis da natureza. Dos níveis
mais elevados e sublimes aos mais densos e obscuros estão todos ali representados
de modo correspondente. Os mais densos, mais inferiores e negros aspectos da existência
estão na sombra submersa da árvore (inferno). Em regiões intermediárias
encontramos todos aqueles níveis da natureza de que temos algum conhecimento
pessoal: de fisicalidade, energia, emoção, pensamento, vontade etc. Na medida
em que avançamos mais e mais no entendimento da Árvore vamos entrando em
maiores e mais expansivas sutilezas, ainda que nos níveis mais simples. São
níveis simples, porém profundos. Simples e tão profundos quanto o espaço.
Simples e tão profundos quanto o próprio infinito. Todos podemos conceber uma
noção do espaço, mas nenhum de nós o compreende. Estamos todos existindo no
espaço, mas não compreendemos isso: não o percebemos e não o compreendemos
conscientemente.
Figura 3
Nossa
fisicalidade está representada pela esfera chamada Malkuth, que
significa o “reino”. Cada um de nós
habita o seu “reino”, seu corpo físico. Óbvio, porém, que o corpo físico não é
aquilo que somos. Esse corpo físico é animado por sua energia, que é Yesod.
Essa energia é ligeiramente mais sutil que a do corpo físico. No interior de
Yesod estão nossas emoções em Hod, bem mais sutis. Os pensamentos estão em
Netzach. Essas quatro esferas são de fácil e imediata comprovação por qualquer
um de nós; podemos comprová-las e experimentá-las com esses quatro aspectos de
nossa existência, ainda que não possamos dar provas a qualquer outra pessoa.
Não podemos dar provas de nossos pensamentos ou emoções a qualquer um. Podemos
descrevê-los, mas não conseguimos dar provas deles uma vez que as pessoas não
percebem o que estamos percebendo.
Esse fato demonstra de imediato que meditação,
auto-realização, libertação, são cem por cento dependentes de nós próprios e de
ninguém mais, de nada mais. Ninguém pode salvar-nos exceto nós próprios porque
ninguém pode conhecer nossa mente, nosso carma, nossas emoções, nossa
consciência, exceto nosso próprio eu através de nossa pessoal percepção. Eis
porque meditação, espiritualização, religião sempre começam com o conhecimento
de nós próprios, do auto conhecimento. É o início e o caminho por inteiro: auto
observância, auto conhecimento, auto realização.
Começamos com o aprendizado dos seguintes
quatro aspectos – Malkuth, Yesod, Hod, Netzach – pelo constante focar neles de
nossa observância, de nossa constante vigilância ao corpo, à sua energia, à emoção
e ao pensamento. Eis porque ao meditarmos conforme fizemos hoje, começamos com
isso. Relaxamos o corpo, relaxamos a emoção, relaxamos o pensamento e os
separamos dentre eles. Por quê? Porque o observador não é o corpo, ele observa ao
corpo; o observador não é a energia, ele observa a energia; o observador não é
a emoção, ele está separado da emoção; o observador não é o pensamento, ele
está separado do pensamento. Então quem ou o quê é esse observador,
experienciador de tudo isso? Pois é isso que necessitamos provar por nós
próprios, de que ninguém nos pode dar provas. Acreditarmos nele ou não, é
irrelevante. Necessitamos de fato conhecermos por nós mesmos. Quem é o
observador? Quem é o experienciador, o percebedor, o conhecedor do ser? Quem
está percebendo?
Ao olharmos essa estrutura já descrita em que
o observante não seja nenhuma dessas partes, então ele deve ser alguma coisa a
mais. Que dizer de Tiphereth, a esfera acima mais próxima? Aquela significa
“beleza” relacionada com força de vontade. Ao observarmos a observância isso é
uma vontade ativa. Ativamente olhamos, ativamente ouvimos, ativamente percebemos.
Então a vontade está operando com a atenção; isso é concentração. É como nos
concentrarmos em meditação usando nossa força de vontade. Se não a estivermos
usando não estaremos direcionando ativamente a atenção, então não estaremos
concentrando. Se nossa atenção estiver sendo constantemente atraída para uma
direção e para outra, temos pensamentos, e os estaremos seguindo; então uma
memória vem e seguimos aquela memória. Daí a emoção é atraída e iremos atrás
daquela emoção, significando estarmos num completo estado de distração.
Significa não termos vontade para controlar nossa atenção, como um macaco. Não
vemos o quanto um animal é distraído; um cachorro, um gato, mesmo uma criança
pequena? Eles vão de uma coisa a outra constantemente distraídos. São incapazes
de colocar a atenção numa só coisa e mantê-la a fim de terminar a tarefa em
mão.
A maioria de nós começa uma coisa e fica
distraída por alguma outra coisa, começando a fazê-la, e novamente se distrai e
começa a fazer uma nova coisa. Por conseguinte, deixamos de lado uma série de
projetos inacabados, pensamentos, emoções e situações. Estamos constantemente
distraídos. Podemos ter aquela vontade mesmo que direcionando à atenção e
aquilo não seja propriamente atenção. Não será propriamente percepção, pois ela
direciona a atenção: e não é atenção. Isso porque a percepção é mais sutil que
a vontade – é algo mais.
Veem quão sutil isso está se tornando? Se
meditarmos começamos a compreender. Possamos não estar habilitados a explicar
intelectualmente, mas podemos experienciar as distinções que estamos aqui caracterizando.
Na medida em que estudamos as esferas superiores da Árvore as coisas começam a
ser mais e mais sutis. Ao alcançarmos Geburah, estaremos falando sobre a
consciência divina. Tiphereth é consciência humana. Geburah é consciência
divina. Essas representam a consciência em dois aspectos mais sutis. Então
quando vamos a Chesed, esse é espírito muito sutil; todos esses são partes de
nós, porém totalmente fora de nossas experiências conscienciais.
Todos que falam sobre o espírito falam em ser
espiritualistas, mas se no seu quarto cada um definisse espírito, cada definição
seria diferente e isso prova por si mesmo que ninguém se baseia em fatos. Se
cada definição fosse baseada em fatos seria exatamente a mesma. Eis como é um
fato: um fato é o que ele é – incontestável. A humanidade na sua atual condição
não tem nenhuma dica do que seja o espírito, pois nem mesmo sabemos quem somos.
O que estamos chamando espírito é chamado Atman que significa “self” (o eu).
Mas não é aquele eu terrestre com nosso nome na história. Atman é algo sem
tempo; algo que não possui o condicionamento do “eu”, ou o que dele achemos o
que seja. E notemos que nem estamos ainda no topo da Árvore da Vida. Estamos na
quarta sefira e há mais níveis sutis para além dessa. A amarela a qual é chamada
Daath (conhecimento) é na verdade inteiramente outra árvore que se relaciona
nesta posição com a Árvore da Vida; relaciona-se com a garganta, sendo algo de
que falaremos mais noutros cursos e palestras. Daath faz ponte sobre o abismo
entre as sete sefirotes inferiores e as três mais acima. Representa o conhecimento,
mas não qualquer conhecimento. É um tipo muito específico, um tipo de
conhecimento divino, angélico, muito elevado.
Acima de Daath existe um triângulo bem
elevado, uma trindade de forças que em hebreu são elas chamadas Kether, Chokmah
e Binah. No Induísmo são chamadas Brahma, Vishnu e Shiva. No cristianismo são
Pai, Filho e Espírito Santo. Cada religião tem uma trindade. Essa trindade representa
simbolicamente um poder, uma inteligência, um aspecto sutil do começo de todas
as coisas. Qual o espaço, a trindade pervaga e penetra a tudo o que existe. No
budismo isso é chamado trikaya. No Induísmo é o trimurti, as três faces, os
três aspectos. Não é acidental que o Leste e Oeste descrevem essa trindade
fundamental na base de todas as coisas existentes, visto ser uma lei da
natureza. Chamamos a isso a lei dos três. Esses três são um, são uma luz, uma
inteligência, uma existência fundamental na raiz de todas as coisas em
manifestação e são uma luz que emerge do nada.
O nada é pura potencialidade chamada o
abstrato absoluto, um tipo de luz incriada que é um potencial puro. Ao
tornar-se em sua primeira expressão vem a ser a radiância do poder dos três.
Isso pode soar-lhes muito abstrato embora em certo sentido o seja, porém é importante
compreender, pois aquele poder dos três cria a inteireza da Árvore da Vida em
cada um de seus níveis. O poder dos três multiplica-se e cria todas as leis de
tudo o que existe. Cada átomo de nossa estrutura física está baseado naquela
potencialidade dos três e expressa aquele poder trino, não exatamente na
fisicalidade, mas espiritualmente, psicologicamente, emocionalmente,
mentalmente... E tudo em nós encontra-se baseado na intercorrência dos três. É
a base da cabala. Possamos ter ouvido disso como numerologia ou mesmo astrologia.
Os números constituem a forma básica de todas as escrituras do mundo.
Tudo o que seja perceptível emerge dessa
abstração e ao emergir é como uma luz primordial da Entidade a que chamamos uma
trindade, que não se encontra separada de nós. Ela é a raiz do ser. É a
primeira centelha de vida de qualquer coisa viva. Daí que se possuirmos a
capacidade de retirarmos nossa percepção de toda a densidade; de largarmos o
corpo e abandoná-lo; de largarmos nossa energia e abandoná-la; de largarmos
nossa emoção e abandoná-la; de nos abstrairmos de nossos pensamentos e nos abstrairmos
a nós próprios da vontade, consciência e espírito: então acessamos e
experienciamos àquela entidade.
Isso é possível a qualquer um de nós, mas
requer uma tremenda coragem uma vez que a cada véu que estejamos rasgando
acusamos e sentimos estar perdendo nossa identidade, que não somos mais nós
próprios. E sentimos medo em virtude daquilo. Sentimos ser o corpo físico e não
queremos deixa-lo e aqui é a razão de muitos meditantes abandonarem a
experiência. Eles desejam unicamente sentar-se com seus corpos físicos e
experienciar suas sensações. Pensam que samadhi e meditação é sobre
experienciar sensações físicas, mas estão errados. Querem sentir energia e suas
sensações, então passam a identificar-se com a tão chamada “prática
meditativa”, estimulando a energia a fim de sentir sensações energéticas,
acreditando que tais sensações sejam reais e importantes, mas não são.
Acreditam ter uma vida espiritual baseada em sensações emocionais, estando
firmemente apegados a isso.
Dispomos de vida emocional, devocional ou
religiosa que queiramos a fim de experienciarmos a felicidade através de nossas
emoções, e cremos que tais emoções sejam reais e fundamentalmente importantes a
nos conduzir à iluminação, mas não são. Ou então estejamos seguindo uma religião
por nosso intelecto, memorizando e estudando complicadas escrituras, teorias e
doutrinas, buscando intelectualmente aquele sentimento de realização. “Sim, estudei isso, tenho mestrado em hebraico
ou sânscrito e conheço essas escrituras...” E pensamos que cada um desses tipos
de busca seja religião e o caminho em como descobriremos nosso verdadeiro eu,
mas estamos errados em cada caso. Cada uma dessas abordagens é limitada; cada
uma está unicamente nos provendo de um sentido ilusório do “eu” e não nos
permitindo acesso a nossa real identidade.
A sombra da árvore são os reinos do Inferno
onde residem todos os aspectos degenerados de nossa psique. Nosso ódio, orgulho,
luxúria e inveja, tudo dessas coisas está ali, dentro de nós, submerso,
escondido. Muitas pessoas buscam pela felicidade nos sentidos do eu; realização
material, etc. Cada pessoa no mundo pensa que “sucesso”, “fama” ou “riqueza”
significam algo e trazem libertação do sofrimento ou que aquilo seja o objetivo
da vida, mas sem dúvida que estão errados.
Há dois importantes pontos aqui:
Um: todas as criaturas em manifestação estão em
busca da felicidade, da alegria, da realização. Entretanto, a maioria está indo
de maneira errada.
Dois: quanto mais baixa seja a parte em que
estejamos nessa árvore, mais forte será o sentimento do “eu”, do “mim”, do “meu
eu”, e, inevitavelmente será também o de maior sofrimento. Quanto mais forte
seja o sentimento do ego, do “mim”, do “meu eu”, mais forte será o sofrimento.
Isso não é teoria: isso é demonstrável. Quanto mais estejamos subindo na Árvore
da Vida, menos será o sentimento do ego, do “mim” do “meu eu” e do “eu”. Quanto
mais desapego: mais felicidade, mais paz, mais serenidade, etc.
Todas as virtudes estão nas regiões
superiores. Todos os defeitos, vícios e erros estão nas regiões inferiores. Os
deuses estão acima, os demônios estão abaixo. Alegria, felicidade estão acima;
sofrimento está abaixo. Simples, certo? Para experienciarmos a felicidade temos
de experienciar o trikaya (a trindade superior) e além, que são totalmente
inegoístas. Lá não existe o “eu”, não há o sentimento do “mim”. Há um tipo de
individualidade, porém nada a ver com o que imaginamos um ser de lá sendo um
indivíduo. Seres que possuem consciência neste nível são como Jesus, Budha,
Moisés, Krishna; seres humanos extremamente elevados no desenvolvimento, com
poderes e habilidades bem além de nossa compreensão e não tendo o “eu”. Cada
respiração, cada pensamento, cada ação deles é por nós, por todos. Nunca por
eles próprios. Eles jamais buscam seus pessoais prazeres, felicidade, suas
pessoais realizações; ao invés disso cada movimento por eles realizado é por
sacrifício e amor aos demais. Lá não existe “ego”, há somente amor, compaixão,
felicidade, serenidade. Essa é a natureza do trikaya: compaixão e sabedoria. É
também região de indescritível e profunda alegria; verdadeira e incondicionada
felicidade.
“O Auto Existente” [a mais elevada trindade]
é a essência de toda a felicidade... Quem poderia viver, respirar se aquela
plena felicidade não habitasse dentro do lótus do coração? Ele, é aquele que dá
alegria.
De que natureza é a alegria?
“Considere uma quantidade de jovens rapazes,
nobres, instruídos, inteligentes, fortes, saudáveis, com todas as riquezas do
mundo ao seu dispor”. Presuma que sejam felizes e mensure sua felicidade como
uma unidade.
“Cem vezes aquela felicidade é uma unidade
dos gandharvas [espíritos elementais]; porém não menos que a felicidade dos
gandharvas tem-na o vidente a quem o Eu lhe foi revelado, e que está sem
anseios.
“Cem vezes a alegria dos gandharvas é uma
unidade da felicidade dos gandharvas celestiais [anjos]; porém não menos que a
felicidade dos gandharvas celestiais tem-na o sábio a quem o Eu lhe foi
revelado, e que está sem anseios.
“Cem vezes a alegria dos gandharvas
celestiais é uma unidade da felicidade dos pitris [pais celestiais] em seus
paraísos...felicidade dos devas...[deuses]...felicidade dos devas nascidos fora
do sacrifício...felicidade dos devas regentes...felicidade de
Indra...felicidade de Brihaspati...felicidade de Prajapati...felicidade de
Brahma [Kether]; porém não menos que a felicidade de Brahma tem-na o vidente a
quem o Ego lhe foi revelado, e que está sem anseios.
“Está escrito: Aquele que conhece a
felicidade de Brahman (o Absoluto), cujas palavras não conseguem expressá-la e
a mente não consegue alcançá-la, está liberto do medo. Aquele não está
distraído pelo pensamento: “Por que eu não faço o que é certo? Por que eu faço
o que é errado?” Aquele que conhece a felicidade de Brahman sendo sabedor tanto
do bem quanto do mal, transcende a ambos”. – Taittiriya Upanishad 2.7-9.
Assim na medida em que progredimos subindo
na Árvore da Vida, tudo se torna cada vez menos denso e cada vez mais sutil,
mais livre, mais liberto, menos restrito. Por que isso é importante? Porque
nossa prática da meditação, hoje baseada em fatos, deve estar focada nisso. A
Árvore da Vida é um mapa de nós mesmos. Aqueles níveis sutis estão dentro de
nós. Podemos experiência-los exatamente agora se detivermos a consciência fora
do denso condicionador da mente e corpo.
Na
meditação podemos experienciar tudo isso. Não é difícil ainda que requeira
clara compreensão e metodologia precisa. Quando nos sentamos a fim de meditar
necessitamos acalmar o corpo e deixá-lo a sós de modo que possamos sair dele.
Daí, fazermos o mesmo com a energia, a emoção, o pensamento, etc.
Consideremos a ciência. Óleo e água não podem
misturar-se. Similarmente nosso espírito interior (Chesed, Atman, Buddhi) não
pode misturar-se com nosso ego. É a mesma física como óleo e água: não podem
misturar-se. Eles podem ter a aparência de estar misturados, tal como um
tempero de salada. Nossa psique é uma mistura caótica, como um tempero de
salada: é mistura de muitos elementos e estamos acostumados ao sabor disso, mas
em realidade isso está nos ferindo. Se desejarmos experienciar a realidade do
Ser Interior, sua verdadeira natureza, temos de parar de misturar todos esses
elementos em nossa mente, e largá-los. Temos de nos situar e deixá-los
estabilizar. Ao fazermos assim as partes irão separar-se; então poderemos ver
claramente o que eles são. E não serão mais o sabor do tempero uma vez que
todos os sabores estarão separados, isolados psicologicamente uns dos outros.
Isso nos traz uma grande clareza interior.
Do mesmo modo como óleo e água se separam naturalmente
quando deixados per se, o mesmo acontece quando aprendemos a descansar nossa
mente e corpo. É assim que aprendemos propriamente a meditar. Colocamos o corpo
em sua posição, o deixamos descansando e o esquecemos de todo. E fazemos o
mesmo com todos os outros aspectos de nossa psique. Ao fazermos isso
diariamente todas as coisas pouco a pouco começam a se separar e passamos a nos
ver claramente, podendo observar com clareza as diferenças entre os níveis das
camadas de nosso corpo e mente. Desenvolvemos a habilidade de sentir e perceber
por nós mesmos, dentro de nós próprios, na Árvore da Vida. Então esses ensinamentos
não mais serão teóricos, pois os estaremos percebendo, os experienciando. Por
que isso é importante? Porque nosso estado de
consciência determina nossa experiência de vida.
“Quando alguém descobre a causa real de tanta
miséria e amargor, se torna óbvio que alguma coisa precisa ser feita.
“Se trabalharmos a fim de eliminar nosso
“mim”, nosso “eu” das bebedeiras, nosso “eu” dos vícios e nosso “eu” dos apegos
que nos causam tantos verdadeiros e íntimos sofrimentos; se trabalharmos a fim
de eliminar essas tristezas e tormentos da mente que nos causam males, etc...
então nos chegará claramente aquilo que é eterno, que está além do corpo, além
dos apegos e além da mente; aquilo que verdadeiramente está além de nossa
compreensão, chamada felicidade!
“Inquestionavelmente, enquanto nossa
consciência permanecer armadilhada dentro do ego, o “mim”, o “meu”, o “eu” de
modo algum estarão habilitados a conhecer a genuína felicidade.
“A felicidade tem uma qualidade que nem o “mim”,
o “meu”, o “eu”, ou o ego jamais conheceram”. – Samael Aun Weor, A Grande
Rebelião.
Para se compreender a felicidade real devemos
estudar os fatos de nossas pessoais experiências. Precisamos deter muitas
experiências. Necessitamos compreender as diferenças entre elas. A grosso modo
podemos dizer que somos detentores de experiências positivas e negativas.
Experiências Positivas
Caracterizadas pelo inegoísmo, altruísmo,
compaixão, sabedoria, desapego, diligência, zelo, sacrifício, amor.
Supraconsciência: experiências inegoístas
relacionadas com o trikaya e espaço abstrato absoluto.
Consciência: inegoísmo, clara apreensão dos
fatos.
Experiências superconscientes são aquelas
relacionadas a essas regiões da Árvore da Vida. A maioria de nós jamais terá
tido experiências como aquelas. Podemos ter teorias e ideias acerca daquelas
experiências, mas não as temos na consciência uma vez que estando nossa
consciência condicionada ela não pode experiência-las. Unicamente aquelas
experiências são possíveis se a consciência estiver fora de sua gaiola. E,
honestamente, sem preparação e entendimento se tivéssemos aquelas experiências
agora nos seriam terríveis, porquanto experienciaríamos a natureza egocêntrica
do ser. Entretanto, estando nós preparados elas nos iluminariam.
Uma experiência positiva seria aquela em que
tivéssemos a clara apreensão dos fatos sem o ego interferir, sem um “eu”
interferindo. Para a maioria das pessoas esse tipo de experiência é
excedentemente rara uma vez que na maior parte do tempo nossas experiências são
caracterizadas por um ou outro desejo, por um ego ou outro. Mesmo quando
fazemos algo generoso ou altruístico, geralmente o ego está lá querendo obter o
crédito, significando que aquele não foi um ato verdadeiramente inegoísta. Algumas
vezes podemos deter conscientes experiências positivas quando verdadeiramente
fazemos algo espontâneo de amor por outra pessoa sem esperar nada em retorno,
podendo experienciarmos algo mais elevado do que apreendemos em nossa vida
normal. Isso realmente acontece, mas não é nada frequente. Na maior parte do
tempo nossas experiências são caracterizadas por um “eu” de um tipo ou de
outro, algo com sabor de ódio ou de orgulho, sensualidade, ganância, gula,
inveja ou preguiça, etc. Isso define tristemente a vasta quantidade de nossas
experiências, sendo a maioria delas negativas, visto o ego estar envolvido.
Experiências Negativas
Subconsciente: modelos repetidos
Inconsciente: raízes nos desejos
Infraconsciente: brutais impulsos animais
Experiências subconscientes são modelos
repetidos, comumente baseados nas memórias. Sempre vamos comer num certo lugar
porque temos memórias de sensações agradáveis lá experienciadas e queremos repeti-las.
Comumente desejamos repetir nossas experiências sensuais. Temos também modelos
de raiva que buscamos repetir, modelos de gula, inveja, orgulho... Somos
portadores de muitas tendências repetidas de que não temos consciência. São
subconscientes estando abaixo de nossa consciência. Devido ao ego, nossa vida
inteira é feita de modelos subconscientes, de repetições.
Comportamentos inconscientes estão na raiz
dos desejos. Queremos estar em destaque, sermos notados; queremos algumas
realizações então perseguimos o dinheiro ou posição; há desejos por conforto,
segurança, status que nos motivam sem que realmente estejamos cônscios disso.
Por que escolhemos nossas roupas? Não é pelo fato de termos um certo “gosto”,
mas é por algo inconsciente aquelas roupas estarem ligadas à compensação de
algum desejo: elas refletem uma imagem que desejamos projetar. Talvez queiramos
parecer com alguém a quem invejamos ou queiramos atrair outra pessoa a quem
buscamos sensualmente, ou queiramos deixar alguém invejoso de nós. Em cada caso
há um desejo inconsciente motivando nossas escolhas, ações, pensamentos...
Experiências infraconscientes estão
relacionadas com o impulso animal brutal. Luxúria, ódio, violência, ganância.
Há muitos profundos e obscuros impulsos que nos motivam a direções que não
percebemos. Nenhum de nós está livre deles. Colocados exatamente em certas
circunstâncias somos capazes de terríveis ações.
Sejamos claros em que por “negativo”
significamos que a consciência está condicionada negativamente, para baixo, em
direção aos mundos inferiores na Árvore da Vida. Para o ego, para nossos
desejos, aquelas experiências são sentidas como “positivas”, mas as
consequências são negativas para a consciência. Por exemplo: quando realizamos
um desejo ele nos faz sentir bem, mas os efeitos daquela experiência condiciona
a consciência, a hipnotiza com sensações, desejos, e começam sonhos para de
novo repetirmos as sensações. Isso não é libertação, mas escravização.
Portanto, a experiência é “negativa”.
Ao estudarmos os fatos do que esteja
acontecendo exatamente agora em nosso mundo é fácil vermos que a maior parte
das coisas relacionadas com a inconsciência, subconsciência e infraconsciência rolando
neste planeta é negativa.
“É suficiente lermos a história universal
para descobrirmos que ainda somos os mesmos bárbaros do passado e ao invés de
melhorarmos temos nos tornado piores”.
“O atual século com suas magnificências,
guerras, prostituições, sodomias pelo mundo inteiro, degenerações sexuais,
drogas, álcool, crueldades exorbitantes, perversões extremas, monstruosidades,
etc., é o espelho através do qual podemos ver a nós próprios; não há uma boa e
suficiente razão para alardearmos o alcance de um estágio superior de
desenvolvimento”. – Samael Aun Weor
É muito difícil encontrarmos conscientes
expressões do Ser em qualquer parte do planeta. É muito difícil encontrarmos
verdadeiros atos inegoístas enraizados na virtude, nas expressões da virtude. É
bastante raro, o que torna tudo muito, muito triste. Porém se formos falar
sobre fatos precisamos enfatizar que: de todas as formas há uma variedade de
experiências potenciais. Estudando esta polaridade ela nos mostra de modo
bastante simples que se quisermos experienciar a real libertação, a real
felicidade, não iremos encontra-las através dos desejos ou sensações, mas
através da libertação da consciência de todas as condições inferiores. Eis
porque aprendemos a meditar.
Então passemos a estudar nossa meditação à
luz desses tipos de experiências. Se olharmos em como nossa meditação passou-se
hoje e aos fatos dela, o que verdadeiramente experienciamos? O que de fato
percebemos durante nossa seção de meditação? Detivemos experiências positivas
ou negativas? Detivemos uma consciência inegoísta na apreensão dos fatos?
Pudemos experienciar nossa trikaya, a trindade? Conseguimos experienciar algo
além do tão falado “ego” ou estivemos unicamente sentados e sofrendo em nossos
corpos físicos? Lutando? Provavelmente é esse o caso para a maioria das
pessoas.
É-nos, a todos, necessário sermos explícitos
ao examinarmos nossa vida espiritual. Necessário sermos muito honestos, muito
claros objetivamente, muito diretos conosco mesmo. Cobrarmos bastante de nós
próprios. Cortarmos coisas sem sentido, cortarmos as mentiras que contamos a
nós próprios, cortarmos as ilusões que construímos por nós e em torno de nós.
“Eu meditei hoje, sinto-me tão bem comigo próprio”. O que tivemos de fazer para
nos sentirmos bem nisso? Sentamos lá e sofremos. Sentamos e lutamos contra os
pensamentos, as emoções e sensações do corpo. Ok, é aproveitável que lutemos, é
bom que estivéssemos nos esforçando. E o que realizamos? Experienciamos a
divindade? O que mantivemos? Cortamos ilusões? Ou devaneamos o tempo todo?
Precisamos ser completamente honestos conosco, nos inclinando à realidade,
desejando encarar a verdade mesmo que ela não nos seja agradável, porque se não
o fizermos jamais mudaremos. Se quisermos mudar temos de ver os fatos e isso
começa em nosso íntimo.
Ao curso de uma sessão de meditação podemos
ter muitas experiências. Podemos experienciar visões, coisas espirituais,
sairmos de nosso corpo, percebermos outros mundos, experienciarmos poderes
espirituais e tudo parecer fantástico. Mas as sensações não tornam aquelas
experiências positivas. Termos experiências ou visões não indicam
automaticamente que sejam positivas. Podemos até estar despertos noutra
dimensão, fora de nosso corpo físico, ou mesmo no corpo, e mesmo despertos
estarmos a ter visões; porém aquelas visões podem ser comumente precisos
reflexos de nossa psique, de ilusões em regiões do inferno: pois estaremos
vendo nossos desejos. Estando despertos não significa automaticamente que as
experiências sejam positivas. Podemos estar despertos e ainda estarmos cem por
cento negativos. Um demônio estará desperto; um bruxo, um feiticeiro tem
visões, experiências e sensações agradáveis. Eles mantêm a consciência desperta,
estando, porém, completamente condicionados pelo desejo.
Assim estando despertos não significa
estarmos no caminho certo. Outro exemplo é de alguém esquizofrênico. O
esquizofrênico, ou uma pessoa sofrendo de demência, paranoia e de outros tipos
de situações, percebe imagens e sons extra físico. Diz ela: “estou ouvindo vozes
e vendo coisas” e pensamos que sejam tolices, mas não são. Estará vendo, mas
negativamente. E sua consciência estará desperta. Desse modo precisamos fazer
muito bem tal distinção. Vendo coisas não significa automaticamente que as
coisas sejam boas. Se não nos questionarmos e às nossas percepções, então
acabaremos definitivamente degenerando.
Todos estamos buscamos pela felicidade, por
contentamentos, realizações. Isso é um impulso natural do ser: encontrar um
objetivo, a razão de ser. Entretanto, nos encontramos nublados pelos desejos,
por padrões, impulsos, tentando buscar o contentamento, a felicidade, através
dos desejos. Cada pessoa no planeta está fazendo isso. Se observarmos os
animais veremos que estão buscando a felicidade através de seus próprios
comportamentos. Os chamados seres humanos não estão fazendo diferente. Cada ser
humano está buscando pela felicidade e contentamento através das sensações, dos
desejos, do “eu”: “o que eu quero, o que
meu ego quer, o que meu orgulho quer, o que minha luxúria quer, o que minha
inveja quer...”, significam estarmos buscando pela felicidade através de
experiências negativas, experiências nocivas: emocionalmente, intelectualmente,
fisicamente.
A alegria, a felicidade real, não pode ser
encontrada nos aspectos inferiores da Árvore da Vida. Tudo na Árvore da Vida é
impermanente e interdependente. Pode soar como blá,blá,blá filosófico, mas não
é – é muito importante. Ao analisarmos nossas experiências, particularmente o
lado negativo, podemos constatar sua importância. O que o ódio procura? Procura
seu próprio tipo de contentamento: quer outros sofrendo como ele tem sofrido.
Quando estamos com ódio culpamos alguém por nossa dor e queremos que outros
sofram mais ainda por uma dor. Isso é tudo que o ódio quer: outros em dores
porque é sofrimento. Não há outro objetivo para o ódio. Sabemos que atualmente as pessoas acham o
ódio “normal” e todos se inclinam a aceitá-lo e abraçá-lo. Porém em todas as
religiões o ódio é um pecado.
O ódio é uma forma de sofrimento e pode
somente causar sofrimento; não pode jamais trazer felicidade. O ódio produz e
cria a dor; é tudo o que sabe fazer. Daí quando o ódio nos está controlando ele
quer que façamos os outros sofrer e isso lhe traz, estranhamente, o
contentamento. E nenhum de nós se inclina a reconhecer isso. Amamos nosso ódio,
o protegemos. Ficamos com ódio, então somente enxergamos as coisas através de
nosso ódio e quando outros estão sofrendo regozijamos, certo? Por quê?
O ódio, a luxúria, o orgulho, a inveja, a
ganância; todos são a mesma coisa na mesma direção: procuram a felicidade, mas
através de suas próprias percepções. A luxúria deseja experienciar sensações,
busca pela felicidade, pelas sensações, acreditando que ao experienciar aquelas
sensações sentirá felicidade. E através da luxúria as pessoas experienciam
rápidas sensações. Entretanto o que aquela entidade não reconhece é que isso
vem com um custo: sempre com um custo. Quando a raiva se expressa produz o
sofrimento e isso não acontece sem exatamente ela conduzir uma consequência. Ao
fazermos alguém sofrer adquirimos carma. Quando a nossa luxúria remunera seus
próprios desejos adquirimos carma. A nossa inveja quando toma de outros o que
ela quer causa-lhes sofrimento e adquirimos carma.
Ademais nenhum desses elementos reconhece
que a felicidade procurada seja impermanente, de fato insaciável. A luxúria tem
sensações breves e quando se esgotam o desejo simplesmente quer mais. E quanto
mais a alimentarmos mais forte ela ficará e nunca estará satisfeita. Que dizer
sobre o orgulho? É a mesma coisa: sempre insatisfeito. Ao alimentarmos o
orgulho somente por um pouco ele se torna cada vez mais forte e adiposo, mais
poderoso, com controle cada vez maior e nunca mesmo estará o suficiente
satisfeito.
“Mesmo se a riqueza do mundo inteiro fosse
generosamente concedida a um homem ele não seria feliz: o contentamento é de
difícil posse.” – Uttaradhyana Sutra 8.16
“Ó minha estúpida alma cobiçante por
fortunas, quando alcançará sua própria emancipação do desejo por riquezas?
Vergonha em minhas tolices! Tenho sido seu brinquedo! Consequência de me ter
tornado um escravo de outros. Ninguém nasce na Terra determinado a por um fim
nos seus desejos.... Sem dúvida, ó Desejo, seu coração é tão duro quanto
diamante que uma vez envolto por uma centena de angústias não se quebra em
pedaços. Eu o conheço, ó Desejo, e a todas as coisas que lhe são diletas. O
desejo por riquezas não pode nunca trazer felicidade”. – Mahabharata, Santi
Parva 177
O desejo está todo no “mim”. Desejo, ânsia, é
uma condição dos mundos inferiores, dos infernos. É uma qualidade dos demônios.
Tudo nas regiões inferiores é ilusão; nada lá é fundamentalmente real. O “eu”,
o ego, acha que desejos e suas compensações sejam reais, mas não são. Tudo nos
mundos inferiores existe temporariamente pelas causas e condições. Nada lá é
confiável ou permanente ou mesmo importante: nada lá pode prover-nos da genuína
felicidade. Onde encontramos coisas verdadeiras, duradouras e reais, é unicamente
nas regiões superiores através das quais precisamos subir cada vez mais alto
pela Árvore da Vida, e lá obtermos aquilo que seja uma substância fundamental –
uma existência fundamental!
Verdadeiramente tudo na Árvore da Vida é
interdependente; significando que nada na árvore existe nela e por ela, sem
qualquer ligação. Cada parte é dependente de algo a mais. E se algo é
dependente de algo a mais não pode existir por si próprio, não podendo ser auto
dependente.
O corpo físico é nele mesmo dependente de
muitas outras coisas. Não pode ser de sua própria base ou morrerá. Ou será
morto de muitas outras formas. Um minúsculo micróbio pode mata-lo. Como podemos
depender de um corpo assim? Como esperar que vá durar tanto tempo que com ele
nos libertaremos do sofrimento? Não irá. E o mesmo é verdadeiro para todas as
nossas outras partes. Nossa energia é extremamente vulnerável, nossas emoções são vulneráveis como
vulnerável é nossa mente. Uma única e má experiência pode ser suficiente para
conduzir uma pessoa a se tornar mentalmente instável, podendo perder tudo em
sua vida.
Assim não podemos depender do corpo
(Malkuth), de sua energia (Yesod), das emoções (Hod), e dos pensamentos
(Netzach). Mesmo nossa vontade (Tiphereth) é muito fraca e facilmente levada a
se distrair por atrativos. Todos pensamos ser muito espiritualizados, mas se
alguém chegasse aqui com uma grande tentação abandonaríamos essa classe imediatamente.
Mesmo ao criarmos o corpo astral, o corpo mental e o corpo causal, começando a
alcançar níveis mais elevados, constataremos que aqueles níveis também sofrem das
mesmas vulnerabilidades, da mesma impermanência básica e, portanto, tê-los
alcançado não nos garantirá a libertação, a verdade, a segurança ou a real
felicidade. O único lugar onde começamos a encontrar algo permanente, real e
duradouro é no trikaya, o topo da Árvore da Vida.
Eis porque ressaltamos tão intensamente a
meditação nessa tradição. É boa para criar o corpo astral, o corpo mental e o
corpo causal, porém não é o suficiente. É bom aprendermos meditação, é bom
aprendermos transmutação, é bom aprendermos sobre o ego, sobre a psique e
aprendermos a mudar a partir daquelas coisas. Contudo a menos que sejamos
capazes de direcionar o acesso ao trikaya – essa região superior de nosso
próprio Ser – então não teremos ainda o conceito do que seja o Ser “real”: qual
é sua real natureza e o que seja a realidade.
Quando nosso corpo físico morre e nossa
consciência o deixa, há uma oportunidade nessa transição de percebermos
imediatamente a verdade fundamental. Com
treino antes da morte, podemos estar prontos a reconhecer esses três aspectos
dessa Entidade, em percebê-los, em conhecê-los, em estarmos cognizantes através
do processo da morte. Esse treino está hoje na meditação. É algo para irmos
treinando todas as noites antes de dormirmos. Há uma maneira de extrairmos
nosso próprio estado de ser de todos aqueles aspectos inferiores e conectá-los
diretamente, nessa noite, com aquela trindade. É suficiente termos a coragem de
abandonarmos as partes inferiores do nosso sentido de ego.
“A felicidade é fundamental para a natureza
do homem. O fator central em ser homem é encontrado na sua inerente divindade.
“A natureza fundamental do homem é divina, a
consciência disso ele a perdeu por suas animalescas inclinações e véu da
ignorância. O homem na sua ignorância identifica-se com o corpo, a mente, o prâna
e os sentidos. Ao transcender àquilo ele se torna um com Brahman ou o Absoluto,
que é pura felicidade.
“Brahman ou o Absoluto é a mais completa
realidade, a mais completa consciência. Atman ou Brahman é aquele “além” que
nada mais é senão o mais profundo íntimo do
Ser em todas as coisas... É a pura, absoluta consciência nutridora de todos os
seres conscientes.
“A fonte de toda a vida, o manancial de todo
o conhecimento é Atman, o seu mais profundo íntimo. Esse Atman ou Suprema Alma
é transcendente, inexprimível, inimaginável, não conjeturável, indescritível,
eterna-paz, todo-felicidade.
“Não existe diferença entre Atman e
felicidade. Atman é felicidade Nele próprio. Deus, perfeição, paz,
imortalidade, felicidade são uma só coisa. O objetivo da vida é alcançarmos à
perfeição, à imortalidade ou Deus. Quanto mais perto da perfeição alguém chega
mais feliz se torna. Porque a natureza fundamental da Verdade é positiva: é
absoluta felicidade.
“Não há felicidade no finito. A felicidade é
encontrada unicamente no Infinito. A felicidade eterna somente pode advir do
Ser eterno.
“Conhecer o Ser é viver a felicidade eterna e
a paz duradoura. Auto realização concebe a existência eterna, o absoluto
conhecimento e a perene felicidade.
“Ninguém pode ser salvo sem a auto realização.
A busca do Absoluto deve ser suportada mesmo sacrificando o mais querido
objeto, mesmo a vida, mesmo carregando toda dor.
“Estude livros filosóficos tanto quanto os
aprecie, faça palestras e palestras em seus tours pelo mundo, permaneça na
caverna do Himalaia por cem anos, pratique pranayama por cinquenta anos e não
chegará à emancipação sem a [consciente] realização [a experiência] da unidade
do Ego” – Swami Sivananda
Sabedores desses aspectos superiores através
da pessoal experiência, nossa experiência do que seja o não eu, ainda estará
por vir. Para chegarmos a um perceptor, a um conhecedor, a uma inteligência, a uma
sabedoria será sem o “eu”. O intelecto não consegue conceber isso, porém [nós]
tendo-o experienciado [ao não eu] o entenderemos. Na Bíblia esta trindade
superior é chamada “a Coroa da Vida”. No livro da Revelação é dito: "a quem vencer darei uma coroa de vida”.
O que temos de suplantar? Tudo abaixo. É
estarmos sintonizados com tudo mais acima, para não mais estarmos sintonizados
com a fisicalidade, com o orgulho, com a luxúria, com a vergonha. É não mais
estarmos sintonizados com a energia, com a emoção, com o pensamento, com a
vontade, com qualquer coisa. É estarmos livres de todas as ligações para
simplesmente sermos nós. Então uma pessoa passa a vibrar muito alto em todos os
níveis. Isso é experiência Superconsciente de que falávamos anteriormente. Não
conseguiremos alcançar aquilo conquanto estejamos ainda identificados com
nossos três cérebros e sensações, como agora.
“Quando totalmente liberto dos contatos
exteriores um homem encontra a alegria nele mesmo; ele está perfeitamente
treinado na disciplina de Deus e alcança interminável felicidade. Experiências
devidas ao nosso sentido do tato são unicamente fontes do dissabor. Tiveram um
início e um final. Um homem sábio não se agrada delas. Esse homem é
disciplinado e feliz porque consegue prevalecer das tormentas. Ele se liberta
do desejo e ódio aqui na terra antes de deixar seu corpo” – Bhagavad Gita
5.21-23
Todos nós estamos buscando pela felicidade,
pela realização, por algo confiável, algo que nos traga um inteiro significado
para nossas vidas. Buscamos esse algo pelo intelecto, emoção ou corpo. E de
diversos modos procuramos espiritualmente por aquelas coisas. Necessitamos em
nós mesmos desses complementos e precisamos usá-los da maneira certa. Mais
ainda significativo é precisarmos entender que da maneira em como viremos usá-los
de momento a momento é aquilo que cria em nossas vidas. O modo como usamos
nossa energia, nossa consciência, nossa mente, nosso pensamento, nosso corpo é
o que cria as consequências do que experienciamos. Podemos experienciar, se assim
desejarmos, a verdade, aquele espaço sutil da base de todas as coisas vivas, da
base de toda a existência. Basta produzirmos as exatas ações que resultam
naquilo. Se eliminarmos o ego e todos os seus desejos encontraremos a
verdadeira alegria, o verdadeiro contentamento, a verdadeira felicidade.
“Na alegria há alguma felicidade, da perfeita
alegria há ainda mais, da alegria da cessação [nirvana] vem o estado de
impassibilidade [serenidade], e a alegria do íntimo é a finalidade. A primeira
vem pelo desejo do contato [através dos sentidos], a segunda vem pelo
desejo [consciente] da felicidade, a
terceira vem da morte da paixão [a morte do ego] e por essa consequência a
quarta [o absoluto] é realizada”. – Hevajra Tantra 8.32-33
Os que buscam da luxúria e vivendo através de
seus ódios e orgulhos pensam que irão encontrar a felicidade e a alegria
enquanto nutrem seus pensamentos. Ignoram sejam aquelas coisas impermanentes.
Mesmo que consigam momentânea alegria cometeram ações que produzirão
consequências. Assim é a lei da causa e
efeito. Tudo o que fizermos trará consequências. Se estivermos acionados pela
luxúria, pelo ódio, pelo orgulho e inveja estaremos adquirindo consequências
pelas ações realizadas. A humanidade moderna não se importa com isso, e em
todas as coisas nossa mídia nos encoraja a buscarmos nutrir os nossos desejos, a
fortalecê-los. Tudo em nossa cultura nos estimula a ‘conseguirmos o que
queiramos’. É uma enorme mentira. Ignoramos a lei da causa e efeito. Todas as
coisas que fazemos nos trazem consequências. Experienciamos aquelas coisas, mas
as ignoramos não desejando vê-las.
Aqueles que tendo experienciado relações
luxuriosas sofrem muito – especialmente em seu aspecto emocional – porque nunca
encontram o amor. O amor e a luxúria não podem se misturar, pois as pessoas
luxuriosas – a prostituta, viciada em sexo, o masturbador – nunca encontram o
amor, visto estarem saturados com a luxúria, que é egocêntrica e não pode amar
ninguém. A luxúria busca unicamente por seu próprio desejo e não consegue amar.
Então as pessoas sofrem não reconhecendo serem elas próprias as construtoras de
seus pessoais sofrimentos e ainda culpam os outros. Culpam seus pais, suas
culturas, o sexo oposto ou o outro gênero, o que seja, nunca reconhecendo a lei
da causa e efeito.
Nunca reconhecemos que os efeitos de nossas
ações são maiores que as causas. Quando produzimos uma ação as consequências
daquela ação se propagam produzindo mais efeitos do que a energia inicial tomou
para criar aquela ação.
Também ignoramos que não podemos receber uma
consequência sem que esteja completada a sua correspondente ação. Muitos pensam
que Deus lhes dará as melhores boas vindas e imediatamente irão para o paraíso
tão logo tenham morrido, porque no exato último minuto em que estejam para
morrer terão dito: “Deus, perdoe-me por todas as coisas más que fiz....” Não
funciona assim e recebemos o que merecemos...
“Não se deixem enganar: de Deus não se zomba.
Pois o que o homem semear, isso também colherá. Quem semeia para a sua carne,
da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito
colherá a vida eterna”. – Gálate 6
Se desejarmos libertação, se desejarmos nos
elevar acima do nível dos demônios e pessoas que estão nos reinos dos infernos,
temos de cessar o cometimento de ações que correspondam àqueles níveis.
Significa precisarmos renunciar à luxúria, ao orgulho, ao ódio, à inveja. Não
simplesmente a eles renunciar, mas eliminá-los de nossa mente de modo a nos
tornarmos impossibilitados a eles. Eis como nos tornarmos uma alma purificada:
através de ações.
Por conseguinte, recebemos as consequências
do que desejamos. Então temos de produzir as ações que correspondam àquilo. Se
quisermos a felicidade de níveis superiores temos de produzir as ações
correspondentes.
Ademais uma vez tenhamos realizado uma ação
as consequências não podem ser anuladas. Podemos nos desculpar quando fizermos
algo errado, porém os resultados daquela ação permanecerão. Ao ferirmos alguém,
não importará quão penitentes estejamos mais tarde. O sofrimento não pode ser
lançado fora unicamente por dizermos “desculpe-me”. O mesmo se aplica a cada
outro nível da Árvore da Vida. Tendo feito algo nocivo o resultado ali
permanecerá. Felizmente para nossa sorte, uma lei superior sempre se sobrepõe a
uma lei inferior, pois todos fazemos coisas erradas. Sem quaisquer exceções,
cada um no planeta é um leão, um ladrão, um assassino, um fornicador, um
adúltero. Todos somos culpados de decorrentes ações.
Reconfirmemos o seguinte:
Uma vez
tenhamos realizado uma ação as consequências não podem ser apagadas. “Felizmente uma lei superior sempre se
sobrepõe a uma lei inferior, pois todos fazemos coisas erradas”.
Isso pode parecer contraditório entre ambas,
porém não é. Temos errado em tudo; eis porque agora estamos sofrendo. Se
desejarmos mudar a situação para encontrar a genuína felicidade, a alegria,
precisamos nos desempenhar de ações superiores; isso aplica-se à meditação, em
como meditar. Necessitamos chegar a um método superior, a uma ação superior em
nossa meditação a fim de superarmos às consequências inferiores que em futuro,
sem dúvida, delas sofreremos.
Necessitamos entender que o caminho da
meditação detém três fatores básicos explicados ao início deste curso:
1. Sila: ética
2. Samadhi: Êxtase (Felicidade)
3. Prajna: Sabedoria Profunda
Todo o começo na religião, não importando
qual delas queiramos seguir, qual vida espiritual desejemos adotar – todas elas
se fundamentam na ética sem qualquer
exceção. Hoje em dia as pessoas pensam que podem inventar sua própria religião,
mas estão enganando a si próprias porque cada um quer ter “espiritualidade”, mas ao mesmo tempo desejam a realização de seus
desejos. Em outras palavras: elas pulam o primeiro – o mais importante degrau
da religião – a ética. Se quisermos encontrar a felicidade real, a alegria, não
podemos pular a ética.
Ética significa que paramos com ações nocivas
e adotamos ações benéficas. Assim, em momentos que sentirmos ódio, o
controlemos e procuremos transformar aquele ódio em amor não permitindo que
aquele ódio escape de nossa boca, ou que escape de nossas mãos ou através dos
olhos. Ao invés, observemos a pessoa de quem estamos com ódio e a observando
com amor compreendamos que ela está sofrendo, e por qualquer coisa que ela
possa nos ter feito que nos tenha despertado ódio, ela não pretendeu nos fazer
sofrer; por isso nós também não pretendemos fazê-la sofrer.
Vemos assim como a consciente força de
vontade pode tirar o controle dos três cérebros (intelecto, emoção e corpo) e
transformar aquela experiência negativa em positiva. Desse modo a lei superior
(vontade consciente) conquista a lei inferior (ódio). Então nos tornamos uma
expressão não dos reinos infernais, porém dos reinos superiores. Estaremos
expressando não um defeito do orgulho e ódio, porém virtudes do inegoísmo e
compaixão, da paciência e tolerância. Isso não nos soa em como deveríamos estar
vivendo? Isso é ética. E somente o estágio número um correspondendo ao
triângulo Netzach, Hod, Yesod, que é pensamento, emoção, energia, na Árvore da
Vida.
A ética nos conduz a agirmos como uma psique,
psicologicamente: em como nos comportarmos, utilizando-nos dessas funções que
temos disponíveis em nós próprios. Se estivermos fazendo isso seriamente e meditando
sobre nossos defeitos e virtudes a fim de compreendê-los, o segundo estágio do
dharma acontece normalmente, de maneira espontânea. Em sânscrito é chamado samadhi.
Podemos a isso traduzir com uma quantidade de diferentes nomes, e de acordo com
nossa palestra de hoje a tradução seria “felicidade”. Quando alguém está agindo
fora de sua própria vontade, mas de consciência cognizante, isso é inegoísmo e
ele(a) então é um reflexo da divindade. Já falamos sobre como seres altamente
desenvolvidos são expressões do amor cognizante, da terrificante sabedoria e
compaixão.
Quando agimos adequadamente com nossa ética e
refletimos esse tipo de comportamento, produz-se uma felicidade, um êxtase de
um ou outro grau. Pode se dar tão imediato quanto no instante em que oferecemos
alimento a uma pessoa que esteja passando fome, e sentimos amor por ela, sendo
essa uma forma de real felicidade, real alegria. Não que seja orgulho: é sinceridade; é amor. Isso não pertence aos
reinos infernais; vem da mais alta generosidade; daquele tipo de amor que serve
aos outros; que oferece sem expectativa de nenhum retorno; que dá pela bondade
do amor a fim de ajudar a reduzir o sofrimento. Essa ação provê-nos de um
êxtase, de uma felicidade e corresponde ao triângulo do meio da Árvore da Vida.
Do nível de Tiphereth para baixo, aqueles
níveis de nossa psique – emoção, intelecto, energia, fisicalidade e a mente submersa
– estão misturados com nosso carma, com nossos desejos e defeitos. Qualquer
coisa que seja experienciado nesses níveis é altamente questionável. Porém,
nessa região mediana – Chesed, Geburah, Tiphereth – não há ego, Eis porque a
região é correspondente ao êxtase, a felicidade. Nesse nível a consciência não
está afligida pelo ego. Então, outra vez, eis porque meditamos: para libertar a
consciência (Tiphereth) das condições inferiores, permitindo-a assim
experienciar sua verdadeira natureza: felicidade, liberdade, contentamento,
etc.
Entretanto se aquela experiência do samadhi
se aprofunda e persiste, e desenvolvemos a mestria, isso pode dar ensejo a
imenso crescimento chamado prajna, que corresponde ao nível mais elevado da
Árvore. Esses três estágios do dharma correspondem à Árvore da Vida. Tais
termos vêm do budismo e se ligam diretamente com a Árvore da Vida da cabala. O
principal é como compreender o modo como se aplicam à nossa prática meditativa.
Na meditação assentamos o corpo físico
(Malkuth), relaxamos (Yesod) e utilizamos sua energia; relaxamos a emoção
(Hod); e relaxamos o intelecto (Netzach). Esses três aspectos são aqueles que
experienciamos muito facilmente e podemos trabalhar diretamente com eles em
meditação. Mas vejamos: esses aspectos são por demais nublados uma vez que
através do nosso pensamento, da emoção, da energia e corpo nossos desejos
buscam expressar-se. O orgulho enche nossa mente com pensamentos e ao nosso
coração com desejos a fim de se sentir admirado e afagado. Isso enche o corpo
com energia desejosa de externar-se e realizar ações que farão atrair a vaidade
que nos satisfaça.
Nisso queremos que alguma pessoa em
particular nos olhe e se sinta humilhada porque somos tão imensos... Mesmo
meditando regularmente, estando nesse tipo particular de atmosfera, ficamos
condicionados. Pois até podemos ser um meditante que queira ser admirado por
sermos tão bons no que fazemos. Teremos orgulho da meditação. Desejaremos que
todos os demais nos admirem: “Oh, sua postura é tão boa. Ele consegue sentar-se
por uma hora sem se mover!”. Iremos querer que notem a pessoa admirável que
somos para terem inveja.
Porém em sendo hábeis para retirar a
consciência deixamos o corpo descansar, bem como a energia, a emoção e o
intelecto e estaremos adentrando na vontade (Tiphereth) que é a atenção
direcionada. E estaremos projetando nossa vontade para algo, observando-o. O
corpo tentará nos distrair bem como a energia, a emoção e o pensamento,
empurrando-nos de volta para o interior de seus mundos. Então teremos de ter
paciência e consistência a fim de desenvolver suficiente concentração e vontade
para permanecermos concentrados.
Eis o que esses nove estágios são do que
explanamos em todas as palestras anteriores: vontade para desenvolver a serenidade.
A serenidade é a qualidade que emerge quando o corpo e a mente se tornam
treinados e subservientes à vontade. Significa que chegada a hora de meditar, o
corpo e a mente concordam alegremente não mais lutando um contra o outro. Isso
é serenidade.
Unicamente quando tudo isso esteja relaxado,
firme, separado como o óleo e a água é que a consciência consegue saltar sobre
todas as condições, sem esforço ou dificuldade. Eis aqui como experienciamos o que é chamado samadhi, êxtase,
felicidade. É a felicidade incondicionada. Ela pode tomar muitas formas. Pode
ser tão simples quanto nos conscientizarmos do corpo, da energia, do
pensamento, da emoção, do espaço, de muitas coisas, porém nos fazendo sentir
por demais contentes. Tão feliz, tão simples, incondicionada. Isso pode ser
simples. Não soa como sendo muito, porém quando sentimos o samadhi ele
radicalmente nos muda. A felicidade pode também surgir de muitas outras
maneiras. Podemos repentinamente despertar a consciência numa dessas outras
dimensões e ficarmos muito mais despertos do que estamos agora em nosso corpo
físico, e experienciarmos o mundo de modo muito mais real do que o estejamos
experienciando agora fisicamente. E pode acontecer no mundo astral, no mundo
mental, no mundo causal ou além. Isso também é chamado samadhi.
Samadhi corresponde a qualquer tipo de
experiência onde a consciência não esteja condicionada pelos veículos
inferiores ou o ego. Então há muitos tipos de experiências que são “do
samadhi”. Elas podem estar em qualquer desses níveis. Podemos sair de nossos
corpos como uma consciência e entrarmos em nossos próprios reinos de infernos e
vê-los. E isso será um samadhi porque estaremos cônscios deles, inteirados, não
estando temerosos uma vez que não estaremos perturbados. Estaremos “não ego”,
mas despertos. É samadhi e muito valioso. Pois quando vemos o que existe em
nossa mente, em nossa psique, nos estratos, aquela percepção nos traz o
conhecimento, a introspecção e a sabedoria. Mostra-nos as coisas em que devemos
trabalhar para mudarmos.
Experiências nos céus são belas, mas não nos
ajudam muito. Elas precisam trazer-nos inspiração, dar-nos algum entendimento,
porém do que necessitamos verdadeiramente é eliminarmos todos os diabos e
demônios que estão em nossa própria mente, submersos na escuridão que não
podemos vê-la nesse exato instante. Eis porque aprendermos a ciência. Não
estamos interessados em buscar experiências agradáveis: isso seria unicamente a
continuação de nossos velhos hábitos, unicamente em suposto caminho “espiritual”.
Não: na prática da meditação real não buscamos por prazeres (sejam físicos ou
espirituais), mas sim por conhecimento, especialmente sobre como houvéramos
criado o nosso próprio sofrimento.
Essa trindade que vimos explicando está aqui
nesse princípio fundamental hoje aqui explanado:
Concentração + Imaginação = Meditação.
Aprendemos a concentrar e a visualizar, e
nessa combinação acessamos o estado de meditação: samadhi. Esses três
princípios são as três primeiras lâminas do Tarô e são as três primeiras
sefirotes da Árvore da Vida.
O Mago é uma força projetiva masculina.
Quando nos sentamos para nos concentrar temos a força de vontade focada,
projetiva. Nessa tradição aprendemos a visualizar. Nas práticas atuais
visualizamos um sol. Estaremos por livre escolha projetando uma imagem interna
do sol. Corresponde à concentração, o primeiro princípio, o Mago. Se na
experiência dessa prática formos capazes de projetá-la, por livre escolha,
formamos a imagem e então ao acharmos que a imagem está fortemente sustentada
teremos estabelecido a imaginação, o segundo aspecto, onde a imagem não é mais
projetada, porém recebida. O Mago (concentração) é projetivo, ao passo que a
Sacerdotisa (imaginação) é receptiva. Então a concentração é colocada sobre a
imagem que estamos recebendo. Quando as duas estiverem harmonizadas,
equilibradas, então a terceira força emerge naturalmente – a Imperatriz – que
aqui representa a percepção da realidade.
“O número três é a Imperatriz, a luz divina.
A Luz nela mesma é a Mãe Divina. Corresponde àquela parte da Gênesis que diz: “E Deus disse faça-se a luz e a luz se fez”.
(O primeiro dia da criação) – Samael Aun Weor).
Aquela luz divina é a luz da felicidade, a
luz do samadhi que revela a verdade, a realidade. E ainda há aqui também
significados mais profundos.
“Orem e meditem intensamente. A Mãe Divina
ensina suas crianças. A oração precisa ser feita combinando-a com a meditação
num estado sonolento. Então como numa visão de um sonho a iluminação emerge. A
Mãe Divina [a Imperatriz, o Arcano 3] vem aos devotos a fim de os instruir nos
grandes mistérios”. – Samael Aun Weor
Aditando... o terceiro arcano representa a
trindade, o trikaya, aquela parte de nós fechada à realidade. Daí, combinando a
concentração e a imaginação o real estado da meditação acontece. Essa é a porta
ao samadhi. Eis como o acessamos.
A meditação é simples; não é complicada; não
nos requer a leitura de um monte de livros; a memorização de muitas coisas; de
irmos a diferentes lugares. Meditemos todos os dias. Trabalhemos constantemente
com a concentração e a meditação até adquirirmos aquela habilidade em que
quando projetarmos uma imagem possamos deixa-la de lado sustentada e consigamos
vê-la facilmente sem qualquer esforço. Ela se tornará receptiva. Então
começaremos a receber novas informações ou sairemos do corpo. Isso é meditação.
Esses três fatores são uma expressão da lei
dos três. Os três criam. Eles criam entendimento e compreensão. Esses três
fatores têm muitos nomes, mas normalmente expressam os mesmos princípios:
Concentração + Imaginação = Meditação
Serenidade + Discernimento = Êxtase
Shamatha + Vipashyana =Samadhi
É importante saber esses fatores em detalhes
com nossa própria experiência. Assim os estudemos e os pratiquemos desse modo:
Distinguindo as características da serenidade
(Shamatha, Concentração):
Vívida intensidade, intensa clareza mental
Estabilidade, Unidirecionalidade
Distinguindo as características da serenidade
(Vipashyana):
Visualização, Imaginação
Análise, Discriminação
Nossa prática da meditação necessita dessas
características.
Ao estarmos desenvolvendo a concentração
busquemos pela vívida intensidade e intensa clareza, pela estabilidade e Unidirecionalidade.
Significa a habilidade em colocarmos a atenção num único objeto, em percebê-lo,
em mantê-lo sem ficarmos distraídos. Ao estarmos trabalhando com a visualização
necessitamos estar habilitados em discriminá-lo entre o que seja uma projeção
do ego e o que seja a genuinidade recebida do nível superior. Isso aprenderemos
através da experiência, do auto estudo e da cabala, a Árvore da Vida.
Aprendamos a concentrar, a visualizar e a
discriminar o que vemos. Não tomemos visões como sendo reais nem como elas
aparentem ser, porém discriminemos, analisemos.
“Com relação a análise, permitam-me destacar
que a análise não é intelectual. É toda um ato da vontade, da consciência, algo
além do intelecto. Assim ao dizermos “analisemos e discriminemos” não significa
que nossa mente jumentina esteja dizendo “bem, estou tentando lembrar-me quando
naquela palestra ele disse tal e tal coisa – não!”. Isso é intelecto: é
memória. Análise é percepção não é comparação.” Discriminação é percepção não
comparação. Não estamos falando sobre compararmos ao fazermos nossa análise.
Discriminação é vermos através das aparências, reconhecendo a verdade. Vermos o
que realmente seja e não o que aparenta ser.
Exercícios
1. Diariamente como parte da auto observância
de momento a momento tornar-se cônscio do uso da imaginação.
2. Diariamente praticar a meditação
retrospectiva. Recordar o que foi percebido externa e internamente o dia
inteiro.
3. Escrever os fatos de seu dia em seu diário
espiritual.
No curso do dia observar-se e a sua psique.
Estar cônscio de como o corpo, a energia, o pensamento e a emoção estão
funcionando com você. Estará sua vontade no controle sobre eles ou serão os
seus desejos que os estarão controlando? Através de tudo o que faça a auto
observância é realmente importante, especificamente em como você está usando a
sua imaginação, uma vez que ao usá-la durante o dia inteiro é necessário saber
como a está usando.
Como segundo passo a meditação retrospectiva,
ao final de seu dia, toma-lhe um tempo para relaxar e recordar com a imaginação
tudo o que experienciou naquele dia – os fatos que envolveram os acontecimentos
das coisas. Isso é uma prática meditativa e não uma análise intelectual. Não é
sentar-se e escrever uma lista ou procurar sobre como se sentiu das coisas que
o ligaram emocionalmente. Não é algo que aconteça com os três cérebros.
Trata-se de algo cognizante, consciente: uma revisão dos fatos de suas experiências,
não só exteriormente, mas interiormente. Então como se comportou falando
objetivamente? Não que você desejasse do seu comportamento, mas o que realmente
fez? Quais foram as consequências do que tenha feito em fatos experienciados?
A chave e a mais importante coisa para tudo
isso é aprender a separar os fatos dos desejos a fim de muda-los. Não
especular, não adivinhar, não reimaginar tal como: “ eu devia ter feito isso de
outra forma ou devia ter feito dessa maneira”. Nessa linha é exatamente reunir
os fatos daquilo que você fez, do que você realmente experienciou e colocar os
fatos juntos. É essa massa acumulada ao longo dos dias e semanas que começará a
mostrar-lhe o padrão que você antes não via. Se a cada dia você ainda estiver
remaquiando suas memórias, massageando-as, clareando-as e as tornando mais atrativas,
essas coisas não farão sentido. Não minta a você mesmo. Seja honesto, sincero,
claro e direto.
Terceiro é anotar esses fatos. Bem sei que
todos gostamos de camuflar os fatos para nos sentirmos um pouco melhor. Não
faça isso. Mude seu comportamento, comece com esse tipo de coisa. Não é difícil,
basta a honestidade.
“A bem-aventurança das concupiscências e o
mundo celestial não são iguais a um décimo sexto da bem-aventurança do fim do
desejo”. – Udana 11
“A felicidade que resulta da gratificação do
desejo ou aquela outra felicidade mais pura que alguém goze nos céus não se
iguala a décima sexta parte daquilo que se eleva diante do abandono de todos os
tipos de sede!”. – Mahabharata, Shantiparva 177
PERGUNTAS
E RESPOSTAS
1. Pergunta
[inaudível]
R. – O que você teve no seu café da manhã?
(pausa). Não me diga e observe. Isso é imaginação. Como você chegou hoje aqui?
[pausa]. Você viu aquelas imagens tremulando em sua mente? Eis como imaginar,
visualizar. Você simplesmente inquire o íntimo e permite às imagens aparecerem.
Não lhe toma mais que isso; com uso e treinamento, essa habilidade, eventualmente,
se torna mais forte, mais clara, mais profunda.
A habilidade em evocar coisas que foram
percebidas é a habilidade real que necessitamos fortalecer e que não nos exige
esforços. É simplesmente tomá-la e usá-la. É como um músculo que fica cada vez
mais forte na medida de seu uso. Quando éramos crianças essa habilidade esteve
mais presente em nós. Num instante conseguíamos imaginar universos de atividades
ao nosso redor e nos víamos super heróis ou vilões, correndo em torno fazendo
brincadeiras, mas imaginando muito sem esforços. Ainda temos essa habilidade,
mas ela está nublada por nossos maus hábitos. Então vamos recuperá-la.
Imaginar não requer extenuar-se. Pessoas há
que pensam ser isso algo supernatural pressionando junto aos olhos, tentando
forçar-se a “ver”, mas é errado. Não é assim que se trabalha. Para vermos
imagens mentais é um ato sem esforços. É tão fácil quanto nos lembrarmos de
onde estivemos há uma hora ou há duas horas, e essas imagens imediatamente
saltam para a nossa imaginação, aquela tela, o olho da mente. É nisso que
devemos querer trabalhar, fortalecer. É tudo. Então pouco a pouco na medida em
que conservamos nossa energia estabilizamos nossa psique, e trabalhando essa
habilidade com maior consistência ela se torna algo suave e fácil de acessarmos.
E eventualmente vem se tornar uma ferramenta muito poderosa.
2. P. – Tenho
uma pergunta também sobre imaginação. Noutro sentido podemos dizer que a
imaginação é exatamente a recepção de qualquer impressão? Pois se estamos aqui
em nosso corpo físico recebendo numerosas impressões físicas e sensoriais isso
tudo não se eleva ao campo da imaginação?
R. – Sim, é isso. A imaginação num sentido
mais amplo significa simplesmente a percepção de alguma coisa: de uma impressão
ou de algum tipo de informação. E na verdade se aplica a qualquer nível da
natureza. Por que dizemos isso? Porque pelas nossas atuais condições não vemos
nada como verdadeiramente seja: somente vemos as interpretações feitas por meio
de nossos sentidos e mente e essas interpretações aparecem em nossa imaginação
em imagens com etiquetas grampeadas e com significados – melhor dizendo,
aparecem em nossa imaginação subconsciente, inconsciente e infra consciente.
3. P. – Então
noutro sentido podemos dizer que a meditação serve justamente para que com
nossa vontade permaneçamos naquele momento a fim de recebermos as impressões
deste corpo físico?...
R. – Nessa tendência estamos buscando a
serenidade e a introspecção. Definido pelas tradições tântricas a introspecção
é a habilidade em discriminar o que seja percebido. Se estudarmos o budismo
tântrico, tendo estudado Shamata-Vipashyana, chegando ao ponto onde estejamos
trabalhando com as técnicas da discriminação, estaremos trabalhando,
especificamente, em como discriminar entre o irreal e o real. Isso se aplica a
qualquer coisa que possamos perceber. O que conta é nossa resposta – como
interpretamos – como isso nos afeta. Então esse é o ponto do discernimento. É
vermos e sabermos o que seja algo que estejamos vendo a fim de discriminá-lo.
4. P. –
Então o problema reside em quando as pessoas estejam no plano físico, no plano
astral ou em qualquer plano; ao invés de estar recebendo todas as impressões
com imaginação consciente estarão ora conjeturando ora projetando algum outro
tipo de imagem que na verdade não tenha base numa realidade, certo?
R. – Isso é certo. Buscamos captar nas
reações, respostas e imaginações o que não tenha nada a ver com a realidade.
5. P. – Então
quando em meditação se as pessoas estivessem perfeitamente espertas a cada
momento e realmente recebessem impressões ocorrendo diante delas, estariam já
capacitadas a cultivar aquele estado?
R. – Naturalmente, e se de fato vindas
daquela tradição que se utiliza especificamente desse tipo de terminologia elas
realmente separam o desenvolvimento discernente em pre e pós-práticas da
meditação daquelas que são feitas na real meditação. Também o desenvolvimento
da discriminação ou discernimento é um processo contínuo, sendo precisamente
isso: aprendendo a ver e a discriminar o que é visto e não exatamente reagir e
ter a mente se lançando para fora em processos conforme você mencionou.
O que é bem importante é constantemente
desenvolver a habilidade em reconhecer a natureza ilusória de qualquer coisa
percebida, e não exatamente achar que as aparências sejam ilusões, mas aprender
a realmente vê-las.
A prática hoje explicada sobre retrospecção é
somente a primeira parte de uma série que cada um aprende como fazer. Na
primeira fase observamos o rescaldo de nosso dia e observamos os fatos de
nossas experiências. Adiante tomamos os fatos, as experiências e as analisamos
mais profundamente pela tomada daquela cena ou daquele evento como objeto de
nossa concentração a fim de obter de seu interior um discernimento. Então visualizamos
aquele evento ou coisa que nos aconteceu, observando concentradamente. Com a
imaginação trazemos aquela cena de volta, mas penetramos nela com nossa
discriminação a fim de descortinar os aspectos que poderiam não ter sido vistos
quando acontecidos.
O intelecto não pode estar aqui engajado, tão
pouco a emoção uma vez que permitidos agir mecanicamente interferirão. Isso
precisa ser cônscio. E quando tivermos essa capacidade, particularmente em
sermos capazes de acessar o estado de samadhi ou felicidade então estaremos
acessando a verdadeira natureza e estaremos observando aquela cena sem a
influência do orgulho, da luxúria, da inveja ou ambição: significando estarmos
capacitados a ver com perfeita clareza. Poderemos entender o carma, compreender
a posição da outra pessoa envolvida com aquele acontecimento. Ademais
intuitivamente compreenderemos como dar respostas numa via superior,
transformando aquele carma em algo benéfico. Veem como todas essas peças chegam
juntas?
6. P. – Então
as experiências que são ilusórias são assim por que estão relacionadas com o
ego e haverá experiências mais elevadas que não sejam mais ilusórias ou ....
R. – Onde estará o limite entre o ilusório e
o real? A verdade básica é que a única coisa fundamentalmente real é o
Absoluto. Aqui está porque sempre mencionamos isso. Quando olhamos a Árvore da
Vida conceituamos o vazio primordial de onde todas as coisas provêm. Essa é a
única realidade. Tudo mais é relativo, interdependente, impermanente... e é
isso o que esquecemos.
“O espaço abstrato é a causa causarum [causa
das causas] de tudo o que é, foi e será. O profundo e alegre espaço é
certamente a incompreensível “Seidade”, que é a inefável raiz mística dos sete
cosmos. É a origem misteriosa de tudo quanto sabemos do Espírito, matéria,
universos, sóis, mundos, etc.
“Aquele”, o Divino, o espaço da felicidade, é
uma tremenda realidade para além do universo e deuses.
“Aquele” que não tem qualquer dimensão e
verdadeiramente é o que sempre será e tem sido. É a vida que palpita
intensamente dentro de cada átomo e dentro de cada sol.
Falemos agora sobre o “Oceano do Espírito”.
Como pode ser definido? Certamente o Oceano do Espírito é Brahma, que é o
primeiro diferencial ou modificação “Daquele” ante o qual deuses e humanos
tremem.
“Aquele” é Espírito? Verdadeiramente
digo-lhes que não. É “Aquele” matéria? Certamente digo-lhes que não.
“Aquele” é a raiz do Espírito e da matéria,
mas não é nem Espírito nem matéria.
“Aquele” está além das leis do número, medida,
peso, ambos os lados, quantidade, qualidade, frente, atrás, acima, abaixo, etc.
“Aquele” é o imutável em profunda abstração
divinal. Luz que jamais foi criada por qualquer Deus, nem por qualquer ser
humano.
“Aquele” não tem nome.
Brahma é Espírito, mas “Aquele” não é
Espírito. Ain o Não Manifestado é a Luz Incriada. O Absoluto é vida livre em
seu movimento; é a suprema realidade; o espaço abstrato que unicamente se
expressa como móvel abstrato absoluto; alegria sem limites; onisciência
completa. O Absoluto é Luz Incriada e plenitude perfeita, felicidade absoluta,
vida livre em seu movimento, vida sem condições, sem limites.
No íntimo do Absoluto vamos além do Carma e
dos deuses, muito além da Lei, além da mente e da consciência individual que
serve unicamente para atormentar nossa vida. No íntimo do Absoluto não temos
nem mente individual nem consciência individual. “Lá” somos Seres livres e
absolutos, incondicionadamente felizes.
O Absoluto é vida livre em seu movimento, sem
condições, sem limitações, sem medo atormentador da Lei. É vida além do
Espírito e da matéria, além do Carma e dor.
“O Absoluto
é espaço abstrato absoluto; movimento abstrato absoluto; liberdade absoluta sem
condições ou reservas; absoluta onisciência e absoluta felicidade”. – Samael
Aun Weor. Tarô e Cabala.
Então no curso de nossas vidas diárias o que
isso significa falando em termos práticos? Do que precisamos como uma
habilidade em nossa percepção é aquele conhecimento do que eu estou vendo, do
que eu estou experienciando que não é a verdade integral. Não é olharmos para
os outros e dizermos: “Oh você é uma ilusão então posso tratá-lo mal”. Sabemos
que algumas pessoas interpretam realmente desse modo, mas não é assim. Significa
que não estamos vendo tudo. Estamos vendo algo que tem alguma realidade ao seu
próprio e relativo nível, havendo mais. Não posso tomar essa coisa como
aparenta ser – ilusória – pois que significado isso contém, o que existe em
maior profundidade? O que realmente está acontecendo? Nesse aspecto há essa
perspectiva inquiridora que é importante.
7. P. – Podemos
também dizer que há um nível de ilusão que seja exatamente qualquer coisa que
tenhamos auto criado e realmente não tenha base em qualquer coisa que se sustente?
Seja tudo o ego subjetivo? Como minhas pessoais ideias: tudo em minhas próprias
fantasias, tudo em meus próprios pensamentos, ou seja, exato tudo completamente
construído?
R. – Sim.
8. P. – Os
níveis mais elevados não são realmente assim; haverá na verdade algo por lá que
não seja alguma coisa que eu tenha criado em minha mente, certo? Muito embora
não seja objetivamente real não é tão subjetivo que sejam todas essas fantasias
que..... O que desejo significar é como, por exemplo, quando eu olho para uma
árvore há alguma coisa lá. Porém se eu crio alguma imagem e tenha uma ideia
sobre uma falsa árvore que na verdade não existe, isso é exatamente fantasia.
Porém há algum tipo de árvore lá mas....
R. – É relativo ao observador; significa,
sim, estamos percebendo a imagem da árvore, mas ela não é tudo por lá, está lá.
Nada é o que pensamos que seja; nada é do modo em como percebemos as coisas.
Mesmo quando estejamos despertos nos mundos internos, estaremos ainda
trabalhando com ilusões em exatos e diferentes níveis.
9. P. – Não
existe um perigo real ao considerarmos que algumas pessoas pensem que todas as
coisas de suas fantasias sejam exatamente verdadeiras como tudo mais?
R. – Naturalmente. Relativo a uma escala. Eis
porque a Árvore da Vida é tão importante. O mais próximo do Absoluto que
consigamos chegar maior realidade ali será. O mais longe estejamos do Absoluto
menos realidade ali será. Daí que nossas percepções são relativas de onde
estejamos, de quais sentidos estejamos utilizando e quais sejam as condições de
nossa psique e consciência.
Nosso grau de consciência (nível do Ser) é
que determina a realidade que percebemos. Estamos cá em nossos corpos físicos,
mas cada um de nós tem seu próprio nível do ser. Aqui provavelmente estamos
todos mais ou menos nas mesmas situações uma vez que temos um monte de defeitos
e um monte do ego e psicologicamente estamos adormecidos. Se um buda viesse até
aqui ele veria exatamente como nós vemos: ou seja, segundo as aparências ele
veria como uma pessoa mediana vê. Em nossa situação não teríamos nenhuma pista
de que ele seria um buda, uma vez que o perceberíamos do nível do ser de nosso
atual estado de consciência. Entretanto ele nos perceberia de seu próprio nível
Estaria em seu corpo físico, mas [noutra dimensão] não estaria vendo as coisas
do mesmo modo que as vemos. Suas percepções seriam completamente diferentes, de
outro nível: mais reais que as nossas. Nesse modo, as percepções são relativas.
Isso também se aplica a estarmos despertos
nos mundos internos. Se estivermos despertos no plano astral e acompanhados por
um buda, aquele buda verá mais, e mais acuradamente do que poderíamos. A
percepção de um bodhisattva também seria de outro nível, mais elevado, relativo
ao seu trabalho psicológico que estaria bem mais desperto que aquele de um
buda.
A qualidade diferenciada de um bodhisattva é
aquela de estar trabalhando no aprendizado de ver duas verdades
simultaneamente:
1. A verdade absoluta (realidade, o vazio)
2. A verdade convencional (aparências, verdade
relativa)
No modo como um Bodhisattva trabalha através
do bhumis (níveis) ele adquire graus de prajna (sabedoria) que correspondem com
a trindade superior. Esses graus são de objetiva percepção (raciocínio
objetivo), um tipo de entendimento da realidade que é por demais profundo e
caracterizado por assombrosa compaixão. Prajna é sabedoria discriminativa capaz
de ver duas verdades ao mesmo tempo. Então alguém com esse grau de
desenvolvimento veria a realidade convencional que nós vemos, mas veria também
o inerente vazio daquilo.
Um bodhisattva nos vendo pode ver-nos como nós nos vemos e pode ver os véus que nos afligem e a realidade que nós não conseguimos ver. Ainda e muito importante: os bodhisattvas podem ter tanta compaixão que conseguem ver o melhor para nos ajudar. Eis porque bodhisattvas têm habilidades em adentrar e conter indo diretamente ao coração de algo, conquanto eles possuem aquele tipo de percepção.
Um bodhisattva nos vendo pode ver-nos como nós nos vemos e pode ver os véus que nos afligem e a realidade que nós não conseguimos ver. Ainda e muito importante: os bodhisattvas podem ter tanta compaixão que conseguem ver o melhor para nos ajudar. Eis porque bodhisattvas têm habilidades em adentrar e conter indo diretamente ao coração de algo, conquanto eles possuem aquele tipo de percepção.
Tudo isso nos parece em demasia. Sabemos que
a terminologia, as teorias, as estruturas e todo esse tipo de coisa podem
parecer assoberbantes. O principal é estar praticando consistentemente. É a
coisa mais importante. Praticar muito, praticar, praticar, praticar. Quanto
mais trabalhamos na meditação mais claro tudo isso se torna.
E sabemos que meditação é dureza, pois nossa
mente está um caos, e eis porque particularmente é tão importante praticá-la
rigorosamente. Lembremos que na parte inicial desse curso falamos sobre nove
estágios; e vimos como o monge está perseguindo a mente animal, o quanto o fogo
intenso toma dos esforços, quanta energia ele leva e quanto do zelo e
entusiasmo necessitamos. Sentimos-nos cansados de início, mas pouco a pouco
despendemos cada vez menos esforços e tudo se torna mais e mais natural. Eventualmente
quando a prática realmente estiver se tornando mais bem firmada teremos maior
flexibilidade; quando corpo e mente em nada mais litiguem será o resultado
natural da efetiva prática. Acontecerá tanto quanto persistamos, quanto continuemos
e quanto nos mantenhamos revisando a prática – sempre a revisa-la, sempre a
estuda-la – sempre verificando onde estamos falhando um pouco, onde estamos nos
fazendo de tolos ou trapaceando para então mudarmos essas coisas.
A prática da meditação não é uma adoção de
algo estranho do que somos. Mas é como causar um resultado àquilo que somos.
Então não é alguma coisa com o propósito de adicionarmos, de nos confinarmos,
mas na verdade é bem o oposto. A prática da meditação é um caminho onde
removemos nossas restrições. Então se estivermos sentindo que nossa meditação é
por demais dolorosa ou restringente, ou um fardo, então o que precisamos fazer
é revisar: esse é o conceito.
“O infinito é o manancial da alegria. Não há
alegria no finito. Somente no infinito está a alegria. Peça para conhecer o
infinito” – Chandogya Upanishad 7.23
POR UM
INSTRUTOR GNÓSTICO
PROIBIDA A REPRODUÇÃO PARA: Barriestership10.rssing.com/chan.
Pensamento do Dia
“O que realmente conta nesses estudos é a
maneira como seres humanos se comportam intima e invisivelmente com um ou com
outro”.
Samael
Aun Weor, Tratado de Psicologia Revolucionária.
Tradução Inglês / Português: Rayom a
Tradução Inglês / Português: Rayom a
Fonte:https://gnosticteachings.org/courses/meditation-essentials/3855-meditation-essentials-10-bliss.html
Rayom Ra http://arcadeouro.blogspot.com.br
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