Figura
1
Shamatha, (serenidade, concentração),
Estabelecida
A maioria das pessoas espirituais trabalhando
dia a dia em seus esforços para ser “espirituais”, não possui noção de onde
esteja em sua vida espiritual, e pior, não tem noção para onde está caminhando.
Felizmente nessa Era temos fácil acesso ao conhecimento que nos diz,
exatamente, onde nos encontramos espiritualmente, e melhor, o que precisamos
fazer para nos movermos em direção a um caminho mais elevado para o nosso ser.
Em termos de prática de meditação, a
meditação real somente se torna possível uma vez tenhamos estabelecido os
pré-requisitos já explicados nesse curso. Hoje iremos examinar o mapa inteiro
dos estágios da concentração de modo a podermos facilmente reconhecer qual estágio
estamos experienciando e o que necessitamos fazer para irmos mais longe.
O ensinamento de que estamos tratando está
provado ser efetivo e tem sido completamente testado por meditantes
experienciados há pelo menos 1500 anos. Funciona. Não é nenhum artifício. É uma
ciência. Ademais é grátis. Aplicado esse ensinamento em nossa prática
meditativa mudará dramaticamente nossa experiência ao desenvolvimento da
concentração. Além de tudo, nos habilitará a irmos mais além da mera
concentração, nos tornando capazes de alcançar o estado de meditação (dhyana,
samadhi) e nos habilitando a termos a percepção de nossos problemas e a
mudá-los. Este é o ponto.
Concentração / Serenidade
A qualidade da
consciência que desenvolvemos através destes nove estágios é muito específica e
exata. Em sânscrito é chamada shamatha. Em tibetano é shi-ne. Vulgarmente,
traduzimos esse conceito para o Inglês como “serenidade, equanimidade,
concentração, equidade”. Shamatha não é um conceito ou ideia intelectual,
atitude ou crença. É um estado de percepção. Estes termos referem-se a uma
inflexível qualidade: firme, forte, uma qualidade de brilho e sobretudo
cognizante, inteligente, cônscia. Não emerge por acidente, opção ou como dádiva
dos deuses. Ao invés, é uma qualidade da consciência que depende de como usamos
a consciência.
Shamatha é um tipo de
concentração serena que percebe com equanimidade ou indiferença: vê sem
preferência, julgamento, predisposição ou desejo. Em outras palavras: é
objetiva; vê o que é. Isso é o que é necessário se quisermos superar o
sofrimento. Já sabemos que o sofrimento existe devido às causas. Buddha
Shakyamuni explicou bem claramente nas Quatro Nobres Verdades:
1. Há o sofrimento
2. O sofrimento existe
por causa do desejo
3. Há um remédio para o
sofrimento
4. O remédio é o caminho
óctuplo que liberta a consciência do desejo.
O caminho óctuplo
delineia como estabelecer o shamatha e usá-lo a fim de libertar a consciência
do desejo. A meditação tem um escopo que é resolver o problema do sofrimento.
Primeiramente, devemos resolver nossos próprios problemas e parar com o
sofrimento pessoal. Para termos sucesso nisso necessitamos uma mente que esteja
firme, serena e capaz de olhar às causas do sofrimento sem ficar seduzida, em
transe ou hipnotizada. Necessitamos da habilidade em encarar nossos desejos e
vê-los pelo que eles são: as causas do sofrimento. Shamatha, serenidade,
equanimidade, concentração proporcionam essa habilidade. Ao longo desse curso
temos discutido sobre o mapa que descreve os estágios do shamatha ou shi-ne.
Existem nove estágios básicos fundamentais.
Figura
2
A fim de entendermos essas palestras, compreendermos
esses passos, devemos estar engajados na prática diária da concentração. Então
um estudante que esteja seguindo esta série de palestras deve estar agora
praticando diariamente duas coisas essenciais:
1. Atenção Plena
A primeira prática é estar cônscio e atento a
cada momento, desenvolvendo o poder da atenção plena. Essa é a habilidade de
estar presente no momento e atento no que esteja fazendo. Isso é absolutamente
essencial para desenvolver a meditação. Não desenvolvendo a atenção plena nunca
mesmo meditaremos. Meditação é simplesmente uma extensão da atenção plena.
A atenção plena deve estar encadeada de maneira
continuada durante todo o tempo, sem exceção, sem mesmo nos estar
proporcionando um intervalo. No começo requer enorme esforço, uma inacreditável
soma de esforços. Pode nos fazer exaustos, trabalhosos e mesmo frustrados
porque não temos a habilidade desenvolvida. Não temos a força. Não temos a energia.
É duro. Mas é assim que começamos a aprender meditação. Como em qualquer outro
empenho devemos ser pacientes antes que nossa capacidade comece a ser
desenvolvida.
2. Prática Diária da Concentração
A segunda prática a ser feita é o uso da
concentração diária. Todos os dias o estudante deve dedicar um período de tempo
a fim de concentrar a atenção num objeto. O ideal é fazer aquilo abandonando a
todos os demais sentidos, desligando-se, não prestando atenção ao corpo, à
audição, ao olfato, ao paladar, ao tato. Os 100% da atenção devem estar no
objeto escolhido. Tudo mais deve estar fechado. Toda atenção precisa estar
sobre aquela coisa que está sendo observada. Na porção inicial do curso
sugerimos praticar o annapanna, que é observar a respiração como o objeto da
concentração. A respiração é um fato constante que está sempre lá e pode ser
observada sem pensamento, análise, especulação, etc. Essa é uma técnica valiosa
para a prática preliminar, mas tem limites. Então recomendamos ao estudante ir
além: que abandone a observância da respiração e ao invés disso observe uma
imagem evocada. Para fazer isso ele deve desconectar-se da consciente
fisicalidade e prestar atenção somente na imagem não física. Fizemos a sugestão
de uma imagem a evocar.
Em cada estágio o estudante deve sentar-se
para a prática da concentração, por 10 ou 20 minutos por dia, ou até mais
quando possível. Quanto maior o esforço dedicado melhores resultados alcançará.
1. Por algumas semanas ou meses ele observa
as sensações da respiração pelas narinas. Uma vez a mente esteja estabilizada,
mudará para:
2. Evocar uma imagem e observá-la.
Concentrar-se na memória da imagem;
Tudo isso é absolutamente necessário para o
nosso entendimento do que virá em seguida. Se não estivermos praticando aquelas
técnicas diariamente: regular, rigorosa e intensamente com bastante devoção e
dedicação, o restante do curso não nos servirá. Primeiro de tudo é
estabelecermos uma prática consistente. Então uma vez tenhamos experienciado e
reconhecido os dois primeiros ou três estágios do shamatha, continuamos a
estudar o restante do curso.
Distinguindo Elementos da Concentração
Em anteriores palestras apresentamos como a
concentração shamatha detém vários elementos essenciais da concentração se
quisermos resolver os problemas do sofrimento.
1. Vívida Intensidade
O primeiro é uma vívida intensidade, uma
intensa clareza mental. Significa não só a mente estar bem firme e estável, mas
também deter a habilidade em perceber claramente imagens não físicas. Isso é da
maior importância. Muitas das modernas e chamadas “escolas de meditação” não
ensinam isso. Evitam o poder da imaginação. Deixam de lado como se fosse algo
desnecessário, porém estão erradas. O poder da consciência é o poder de
perceber não somente o imaginário físico, mas também o imaginário não físico.
Se não detivermos o poder de observar a imagem que nossa mente esteja
projetando o tempo inteiro, então não conseguiremos nunca resolver nossos problemas
psicológicos. Todos nós sofremos e nossos problemas psicológicos estão nessas
imagens que a mente está constantemente projetando. Se evitarmos isso as estaremos
desconectando e nos recusando vê-las; estaremos nos recusando ver as chaves e
dicas que desvelam o porquê de estarmos sofrendo. Essa habilidade em determos
vívida intensidade ou intensa clareza mental é essencial. Desenvolvemos esse
poder através da consciente visualização e do consciente uso da memória.
2. Um Único Ponto
O segundo elemento é estabilidade: um único
ponto. É termos uma psique que seja bastante estável, serena e calma. Isso é
habilidade em prestarmos atenção a uma coisa sem nos distrairmos por sairmos
dela. Essas duas características essenciais são desenvolvidas quando diariamente
praticamos visualização – a concentração numa imagem que a imaginamos. Para a
maioria de nós isso é difícil, o que vem revelar não possuirmos suficiente
concentração. Na medida em que praticarmos, essa habilidade é naturalmente
desenvolvida.
Quando éramos crianças conseguíamos imaginar
com muita facilidade. Podíamos facilmente permanecer bem concentrados em nossa
imaginação. Contudo, ao nos tornarmos adolescentes começávamos a usar
indevidamente a total energia de nosso corpo, coração e mente. Desperdiçávamos
aquele poder, o íamos perdendo. E conforme nos tornávamos adultos o íamos
perdendo cada vez mais. Tornamo-nos tão focados na fisicalidade, nas coisas
materiais, que negligenciamos o aspecto não físico da vida. Tendo nos tornado
espiritualistas queremos agora nos reconectar com a não fisicalidade. Ao
desenvolvermos novamente o poder da imaginação-visualização, o restaurando, é
precisamente como iremos nos reconectar.
Esse desenvolvimento passa por nove estágios
muito científicos e muito precisos. Não são vagos, não estão abertos para
interpretações. Eles descrevem de modo muito preciso as qualidades da
concentração.
Estágios do Exato
Enfoque (1-2)
As práticas básicas
fundamentais são constante atenção plena sendo necessário o período de um dia
dedicado à concentrada atenção. Em outras palavras: necessitamos trabalhar na
focalização da atenção estando cônscios de o estarmos fazendo. Precisamos estar
fazendo isso nas vinte e quatro horas do dia. Alguém procedendo assim com
seriedade, começa imediatamente reconhecer que a mente está fora de controle, a
psique é um caos, e os pensamentos continuam a acontecer. Não somente isso, mas
na sua maior parte os pensamentos são completamente inúteis, totalmente
repetitivos e a maioria se revelando completamente negativa, mesmo nociva e
perigosa. A pessoa sentirá que a indomabilidade da mente passa ser uma
realização desconfortável. Tal desconforto, no entanto, demonstrará a
necessidade de mudar, mas somente com coragem e esforço serão possíveis mudanças.
Ao evitar-se esses fatos os problemas unicamente se prolongarão e se
aprofundarão.
Ao praticarmos constantemente
a atenção plena com esforços diários nela direcionados, a mente gradualmente
começa a fixar-se. Eis sobre o que são
os dois primeiros estágios que já discutimos nas anteriores palestras. Ao nos
determos no foco começamos a mudar aquela dispersiva natureza da atenção.
Ao nos faltar shamatha (serenidade), nossa
atenção fica bastante dispersiva, pulando em círculos como o macaco que vemos
na pintura. Devido a essa dispersão, condição indômita, nossa concentração fica
muito rasa, vendo somente a superfície das coisas. A mente aqui pensa ser muito
esperta, que pode ver todas as coisas, mas se formos realmente honestos conosco
notaremos que essa tendência da mente em vagar e pular em redor e em ser
bastante distraída, é extremamente superficial. Ela não pode penetrar nas
profundezas de absolutamente nada. Se desejarmos provar isso a nós mesmos,
tentemos ler um livro. Notemos quanto tempo perdemos antes que nossos olhos
estejam fixos ao longo das páginas e quanto a mente se tenha distraído com
outras coisas. Então precisamos voltar e procurar onde está o início da
sequência que perdemos e que estivéramos lendo. O mesmo acontece quando assistimos
um show na televisão e também quando assistimos palestras como esta de agora.
Quantas vezes a mente esteve vagando, saindo daquilo que supostamente achávamos
estivéramos concentrados?
Os fatos daquele comportamento demonstram que
somos incapazes de penetrar nas profundezas de qualquer coisa. Uma vez não
conseguindo sustentar a atenção à vontade por qualquer espaço de tempo,
possuímos um grau de concentração bastante fraco e superficial. Esse estado da
concentração corresponde aos estágios mais baixos deste gráfico do shamatha.
Estaremos muito dispersivos e muito fracos, não conseguindo nos concentrar nem
focar, não conseguindo direcionar a concentração e não podendo penetrar em
coisa alguma.
Pouco a pouco, com as práticas da atenção
plena e atenção dirigida (concentração) começamos a ganhar aquele poder. A
atenção começa a focar. Torna-se cada vez mais penetrante, mais e mais apta a
permanecer na tarefa. Em virtude disso estaremos mais aptos a penetrar no
significado das coisas, a ver através do nível superficial, indo mais fundo.
Isso inclui qualquer coisa que observemos e não unicamente coisas físicas, mas
também coisas psicológicas e espirituais.
Consciência é energia que produz
consequências segundo o uso que damos a ela. Se formos espertos e aprendermos a
usá-la bem, pode produzir compreensão, entendimento, percepção e sabedoria. É
isso realmente o que queremos. Isso é prajna. Os estágios um e dois do shamatha
são chamados os "estágios do exato enfoque”, significando que temos de
exercer esforço constante para exatamente redirecionarmos a atenção ao objeto.
É uma batalha, uma vez que o macaco fica constantemente distraído.
Chamamos a isso “exato enfoque”, visto ser
como a nos agarrarmos fortemente a algo quando estamos numa tempestade. O poder
da tempestade ameaça varrer-nos, então precisamos nos agarrar fortemente numa
âncora, de outro modo seremos lançados longe pelo caos. É exatamente diante
disso que estaremos ao começarmos a prática da concentração enquanto ainda não
estivermos treinados. O estado da mente é essa tormenta. É causada por aquele
macaco que está sempre pulando. Ao fixarmos a atenção sobre o objeto será como
numa âncora em meio ao furacão. Pouco a pouco, quanto maior for o nosso esforço
e mais nos apliquemos, mais aprenderemos como mantermos a atenção.
Eventualmente isso se torna fácil.
Figura 3
Estágios do Foco Intermitente (3-7)
A próxima fase da vasta prática da
concentração é chamada “estágios do foco intermitente”. Esses estão ilustrados
como estágios 3-7. Durante essa fase de práticas nos movemos da inconstante e
caótica mente à uma outra que vai se tornando mais estabilizada e desse modo
vamos ficando mais focados.
Os estágios três ao sete são marcados por um crescimento
no espaço de tempo em que estaremos concentrados e por um decréscimo do tempo
em que ficaremos distraídos. No estágio de número três estaremos mais
distraídos que concentrados. Por exemplo: se praticarmos concentração por vinte
minutos, desses, talvez fiquemos distraídos por quinze, dezesseis ou dezessete
minutos. Durante esses vinte minutos ficaremos concentrados por, talvez, três,
quatro ou cinco minutos – o exato tempo não importa comparado com as proporções
deste tempo: na maior parte estaremos distraídos e em parte menor estaremos
concentrados e cônscios do que fazemos. Pode não nos representar muito termos
permanecido realmente concentrados por três a cinco minutos tirados dos vinte
minutos utilizados, porém isso é uma realização e um definido crescimento sobre
estarmos distraídos naquele tempo corrido da prática.
Pouco a pouco, na medida em que avançamos na
prática realizando esforços, aquele índice muda. O tempo em que estaremos
cônscios do que fazemos – atentos e concentrados – se torna maior. O período de
distração fica menor. Eis porque esses são chamados estágios do foco
intermitente.
3. Postura Relaxada
4. Postura Ajustada
O estágio três é da postura relaxada. O
estágio quatro é da postura ajustada.
Estes termos “relaxado”
e “ajustado” indicam simplesmente o índice de mudança entre estar concentrado e
estar distraído. “Postura Ajustada” significa que o tempo de distração está
decrescendo ao passo que o tempo de maior concentração está aumentando. O que
os diferencia como estágios três e quatro é que o tempo de distração implicado
é maior que o tempo de permanência na concentração e atenção plena, naquilo que
se esteja fazendo.
Avançamos do estágio três para o quatro em
direção ao desenvolvimento do poder da atenção plena, estando constantemente
cônscios de nós próprios e do que estejamos fazendo. Entretanto, a atenção
plena não é unicamente algo a desenvolvermos na prática da concentração; devemos
estar fortalecidos e expandidos em tudo o que fizermos o dia inteiro.
Em nossa prática espiritual, no esforço
diário para nos concentrarmos, ao constatarmos que o período de tempo em que
estejamos distraídos esteja maior do que o período de tempo em que estejamos
atentos, será porque nossa atenção plena não está o suficiente forte. Significa
precisarmos convergir nossos esforços no sentido único de desenvolvermos a
atenção plena pelo dia inteiro em nossas atividades diárias, no trabalho, no
lar, em qualquer coisa que façamos. É nos tornarmos mais atentos naquilo que
fazemos. Esse esforço para estarmos presentes aqui e agora mudará então nossa
prática da concentração, visto que, espontaneamente, estaremos também mais
presentes naquele tempo. Uma vez não desenvolvamos a atenção plena durante
nossas atividades diárias e nos mantenhamos somente nos concentrando ou
observando nossa respiração por uns poucos minutos, a experiência não avançará.
Eventualmente desistiremos da meditação saindo fora. É o que acontece com
muitas pessoas. Elas podem sentar-se e tentar meditar por uma ou duas horas,
porém pelo dia inteiro estarão distraídas, não prestando atenção nelas
próprias. É a razão da sua prática da meditação falhar. O trânsito entre o
estágio três ao quatro é alcançado pelo desenvolvimento da atenção plena.
5. Domando
6. Pacificação
A pessoa que esteja desenvolvendo a atenção
plena a cada instante e na prática diária da concentração, facilmente chegará
aos estágios cinco e seis da concentração estabilizada, também chamada domada e
pacificada. Simplesmente definido: nesses estágios em geral não esquecemos de
nós próprios e a atenção não desgarra facilmente.
Desse modo, nesses estágios, a atenção plena
não nos trará mais tantos problemas: a teremos domada naquilo que estejamos
fazendo, significando no geral que não nos esqueceremos quando estivermos
meditando ou realizando qualquer outra atividade. Isso é bom, embora também
ainda seja momento em que possamos falhar.
É fácil ficarmos preguiçosos nesse estágio e
nos sentirmos como se tivéssemos alcançado a concentração ou a meditação. Essa
é a razão de a pintura mostrar um coelho nas costas do elefante. Aquele coelho
representa a preguiça que deseja parar a realização dos esforços e saborear a
experiência. Esse é um estágio perigoso visto ser aqui fácil parar e pensar:
“agora que alcancei esse degrau da concentração sei como meditar”. Entretanto
isso não é verdade. Esses são justamente estágios preliminares desenvolvidos
com técnicas igualmente preliminares. Isso não é ainda meditação.
A fim de avançarmos pelos estágios cinco e
seis, necessitamos implementar o poder da vigilância, que é aquela parte da
nossa atenção que observa os obstáculos já previamente descritos em anteriores
palestras. Especificamente necessitamos procurar pela agitação e pelo
entorpecimento.
7. Pacificação Completa
Possuindo aquela pequena soma de atenção ou
vigilância aos obstáculos, e aplicando neles os antídotos quando necessários,
podemos avançar passando pelos estágios cinco e seis, chegando ao estágio sete.
O estágio sete é chamado “pacificação completa”.
Nesse estágio estaremos aptos a permanecer
atentos em nossa prática e enquanto mantivermos a concentração sobre nosso
objeto estaremos também vigilantes sobre a presença de pensamentos sutis,
emoções e outros elementos, e ao reconhece-los, “os pacificamos”. Significa
tirar-lhes os poderes de nos distrair. Eis porque na pintura vemos aquele
elefante não mais conduzido pelo macaco. O macaco tornou-se passivo. Por isso o
estágio é chamado “Pacificação Completa”.
Esse é ainda um estágio do Foco Intermitente.
Existe ainda aquela porção da prática onde a distração ocorre e nos esquecemos
do que estávamos fazendo. Tornamo-nos distraídos. A fim de nos movermos com
sucesso pelo estágio nove necessitamos simplesmente de entusiasmo: o esforço
para continuarmos praticando. Já detemos atenção plena para a maior parte do
tempo e já possuímos a vigilância para o reconhecimento dos obstáculos. Assim
nesse estágio temos simplesmente de nos manter praticando.
Figura 4
8. Estágio do Foco
Ininterrupto
No estágio oito vemos o
elefante seguindo o monge, porém não ao macaco. O macaco foi embora. Significa
que aquele aspecto da distração da psique foi pacificada. A psique se tornou
domada. Assim esse estágio de prática é chamado Um Único Ponto [unidirecionado]. É chamado foco
ininterrupto porque nos sentamos para a prática da concentração e nunca nos
esquecemos daquilo que estejamos fazendo e nunca ficamos distraídos não importando
quanto tempo a prática virá durar, mesmo por horas. É uma bela experiência.
Contudo não ser ainda meditação. É unicamente um estágio da concentração. Esse
estágio requer somente um leve esforço para mantermos a concentração e a
atenção plena. Em sendo leve esforço não é nem próximo da intensidade que foi
no começo.
9. Estágio do Foco Espontâneo
No estágio nove a habilidade em alcançarmos o
foco ininterrupto, de termos a mente colocada perfeitamente no seu objeto,
tornar-se-á então completamente sem esforço. O estágio anterior, o oitavo,
ainda requer pequeno esforço para mantermos a concentração. No estágio nove,
entretanto, não há esforço. O estágio nove é onde experienciamos a real
shamatha, shi-ne ou morada da calma. Essa é uma realização maravilhosa.
Para realizar firmemente o nono estágio,
saindo do oitavo para o nono, necessitamos somente desenvolver uma
familiaridade com ele. De pouco em pouco nosso treino da concentração torna-se
tão completo que não mais irá requerer esforço para que a psique esteja naquele
seguro e calmo estado de foco. Isso é o que chamamos um único ponto. No Zen ou
Chan ou noutras tradições eles falam sobre ter uma concentração pontual. É o
que no Yoga Sutras de Patanjali chama-se dharana. Se tivermos estudado o Yoga Sutras
de Patanjali saberemos que dharana não é o final do Raja Yoga (ashtanga): após
vem dhyana e samadhi. O mesmo acontece aqui. O estágio nove não é o final da
prática meditativa. Há outros estágios para além do estágio nove. Shamatha, um
único ponto, é onde a meditação real pode começar.
Quem Pode Realizar Shamatha e o que Significa
Qualquer pessoa pode experienciar esses
estágios da concentração; não há nada de supernatural neles nem místico nem
alguém tenha que ser especialmente abençoada ou empoderada. Desenvolver
shamatha não é difícil. Somente requer um pouco de conhecimento e um pouco de
prática. Contudo mesmo que alcancemos o nono estágio e tenhamos desenvolvido
shamatha ainda assim seremos somente um iniciante. O estágio nove significa
unicamente que podemos posicionar a atenção sem ficarmos distraídos. Não
significa termos entendido qualquer coisa completa sobre carma, sofrido com
nossa psique ou sobre a realidade. Significa exatamente que a partir de agora
temos um tipo de mente pronta para ser treinada a meditar e a estar efetiva
nisso. Eis porque é um pré requisito. Shamatha não é a meditação em si. É um
pré requisito para a meditação.
Estágios de Esforços
Descrevemos justamente
quatro estágios fundamentais de atenção diretiva ou foco. É importante
compreende-los em nossa experiência prática. Necessitamos observar-nos – aos
fatos e vida espiritual – e comparar-nos e aos fatos, com esses quatros
estágios.
A maioria das pessoas
que ouve acerca da meditação e mesmo tenta praticá-la, nunca passa do estágio
um. Aquelas que realmente implementam esforços diários podem experienciar o
segundo ou terceiro estágios, ao passo que poucas daquelas pessoas, praticantes
sérias, conseguem direcionar-se aos níveis medianos. Porém, de modo geral, a
maioria dos meditantes – especialmente de países ocidentais – permanece sem
qualquer sentido orientador da sua real situação na prática uma vez que não
conhece os estágios da concentração. Aqui, vocês agora ouviram sobre eles. O
próximo passo é reconhece-los por sua própria e pessoal experiência. Então
aprendam a trabalhar com eles e vão além deles.
Ao aprendermos essa ciência, nos tornando
aptos a reconhecermos os obstáculos e nos mantermos na prática, conseguiremos
nos mover por todos esses estágios de foco até que desenvolvamos a habilidade
em manter um foco espontâneo e direcionada atenção, sem qualquer esforço. No
início toma-nos muito do esforço. Entretanto, a medida que ficamos acostumados
com esse treinamento, eventualmente alcançaremos um estágio onde não faremos o
menor esforço. Isso não soa maravilhoso?
Observem por vocês mesmos: sentem que a
meditação é dureza? A partir dessa observação podem imediatamente reconhecer
que estarão nos estágios iniciais de desenvolvimento da concentração? Significa
isto sim não saberem ainda meditar e nem ainda se concentrar. Não estamos
tentando ser cruéis, mas é um fato provado por essa ciência.
Consideremos o estágio oito, foco ininterrupto;
nesse estágio não sofremos interferência de agitação ou entorpecimento. Somos
aptos a manter longas sessões de concentração sem um real esforço. A prática de
cada estágio não é duro e nem difícil. É fácil. Significa que alguém estando a acessar aquele estágio não sofre
enquanto medita. Não é dureza.
Com a familiaridade alcançamos o estágio
nove, significando não haver interferência do corpo ou mente. Não há esforço
para meditar, simplesmente sentamos. Além disso, a atenção diretiva é
absolutamente suave. Não há lutas. Não há confrontos com o corpo ou mente é só
sentarmos. A mente está calma, a atenção está focada. É fácil e simples.
1-2. Exato Enfoque. Requer esforço extenuante
3-7.Foco Intermitente. Interferência de
agitação e entorpecimento. Incapacidade em manter longas sessões.
8. Foco Ininterrupto. Sem interferência de
agitação ou entorpecimento.
9. Foco Espontâneo. Nenhuma interferência,
sem esforço. Foco suave.
Ao sentirmos a mente dizendo: “meditação é
demasiadamente dura. Não posso concentrar-me. É demasiado difícil. Não posso
fazer. Não entendo. Não sou capaz. Tenho más circunstâncias. Minha vida não
permite isso”, será tudo sem sentido e saberemos imediatamente onde nos
encontramos nos estágios da concentração. Não estaremos praticando em níveis
elevados e sim em níveis mais baixos. Sabendo agora em que nível nos situamos
saberemos o que fazer para mudarmos isso. Teremos de trabalhar duramente, mas
consideremos os benefícios a receber. O trabalho vale a pena.
Ao desenvolvermos com seriedade a atenção
plena e a concentração experienciaremos rapidamente aqueles níveis mais altos.
Aquilo não é difícil. Pode ser feito por qualquer um que se esforce. Mesmo que
uma pessoa seja paraplégica e tenha todos os tipos de doenças, consegue ainda
assim fazer isso. É verdade. Especialmente no Oeste onde não há desculpas.
Vivendo numa zona de guerra então podemos compreender porque será difícil
realizar. Se há bombas caindo pela vizinhança, sim, será muito difícil.
Entretanto, para outros mais não. Sem desculpas. Se não estiverem fazendo será
por conta da preguiça, do derrotismo, da vergonha, da excessiva luxúria, da demasiada
inveja, etc...
Além do mais, em sendo sérios sobre
conservação e transformação da energia sexual, avançaremos sobre elas bem mais
rápido. Verdadeiramente se gastarmos nossa energia sexual pelo orgasmo, então
quaisquer dessas informações de forma alguma virá definitivamente nos servir. A
estabilidade da consciência é impossível se ainda estivermos manobrando com
nossa energia sexual como um animal. Entretanto para aqueles que controlam o
gasto daquela energia e a estabilizam, a mente também ao mesmo tempo
estabilizará rapidamente.
Consideremos que o esforço para desenvolvermos
a concentração é exatamente o mesmo para estabilizarmos a energia sexual. No
começo parecerá impossível. Porém com força de vontade e consistente prática,
ambas eventualmente se tornarão suaves. Dever-se-ão ambas – as estabilizações
naturais da mente e da energia sexual – a essas mesmas condições normais que
uma vez detínhamos, e que as perdemos por causa do desejo. Eis porque
necessitamos compreender que os estágios mais altos do desenvolvimento da
serenidade meditativa são fáceis.
Brandura (obediência, flexibilidade)
Brandura é uma qualidade que definitivamente
marca a estabilidade da concentração. Em sânscrito é prasrabdhi प्रश्रब्धि; em tibetano é shin-sbyangs ཤིན་ཏུ་སྦྱང་བ་. Brandura
significa “obediência de corpo e mente”. Quando temos brandura plenamente
estabelecida, corpo e mente obedecem sem hesitação. O que isso significa?
Observemos nossa resistência em relação à
meditação. Podemos dizer-nos: “irei meditar todos os dias por meia hora”. Soa
completamente razoável. Entretanto quando a hora se aproxima para realmente
necessitarmos meditar nossa mente e corpo não aceitam isso. Possamos estar
interessados em meditação, ainda assim quando chegar a hora da real prática
mente e corpo lutam contra.
Que acontece quando é chegada a hora da prática
da concentração? Nosso corpo reclama constantemente. Sente desconforto,
coceira, dor aqui e ali, distrai-se com sons, temperatura, com a cadeira, o
colchão. Está com fome, com sede, cansado, agitado. Em outras palavras: tem uma
fila de ferramentas que usa para lutar contra a nossa vontade. E a mente faz
isso também. Levanta um milhão de razões para não devermos praticar. Busca
qualquer tipo de evasiva para obstruir-nos da prática. Naturalmente que isso se
aplica a cada porção de práticas espirituais. Que dizer da castidade? A mente
detém montes de desculpas para que não devamos ser castos. Que dizer de
estudarmos as escrituras? A mente também detém montes de desculpas para que
evitemos estuda-las. Ela não quer fazer isso.
Corpo e alma lutam nesse mesmo instante
porque estão no controle de cada um de nós. A mente animal e o corpo animal
controlam a consciência. A libertação é nos tornarmos livres do animal. Não
podemos nos tornar humanos enquanto
estivermos presos ao comportamento animal.
Não dá para vermos na pintura lá no topo que o
meditante é servido pelo elefante? Ali a consciência, a alma, está no controle
do animal. O animal serve à consciência. Aquilo é somente alcançado através do
treinamento da meditação. Não há outro caminho para se alcançar isso, senão
através dessa ciência.
Se realizarmos esforços diários para
desenvolvermos a prática da atenção plena e da concentração, imediatamente
começamos desenvolver a brandura uma vez estejamos treinando corpo e mente a
nos obedecer – à alma, à consciência. Nosso corpo não é o que somos. Nossa
mente não é o que somos. Somos a alma, a consciência, chamada Tathagatagarba,
Buddhadhātu. São termos que descrevem nossa natureza fundamental. Ela não é a
mente nem o corpo. Mente e corpo são afligidos com disfunções que são o porquê
de sofrermos. Sofremos porque nos permitimos ser controlados pela mente e corpo
animais. Ao invés disso precisamos controla-los. A alma, a consciência,
necessita estar ao comando de nossa casa psicológica. Ao estarmos na prática
diária do desenvolvimento da atenção plena e do desenvolvimento da
concentração, comecemos dizendo à mente e corpo: “sentem-se e calem-se!”. Eles
lutam, mas realmente não têm escolha. A alma é a força de vontade (Tiphereth).
Observemos isso na Árvore da Vida:
O corpo físico está representado pela sefira
Malkuth.
A energia que ativa esse corpo está
representada por Yesod.
As emoções que sentimos estão representadas
por Hod.
Os pensamentos estão representados por
Netzach.
Essas sefirotes constituem o corpo e a alma.
Figura 5
A sefira Tiphereth é força de vontade; é a alma humana. É isso que
somos como uma alma, como consciência. Exatamente agora a consciência/alma está
armadilhada em desejo por sensações, armadilhada em luxúria, raiva, orgulho,
vergonha, ganância, medo, ansiedade, etc. Necessitamos libertar do desejo
aquela força de vontade. Fazemos pelo reforço da força de vontade. Vontade-alma
necessita estar no controle do corpo e mente ou a libertação será impossível.
A partir do momento em que comecemos a fazer
esforços no sentido de desenvolver a vontade plena e a prática da concentração,
estaremos usando a força de vontade para tomar a cargo corpo e mente.
Significa, naquele exato momento, estarmos também começando a desenvolver a brandura
(obediência do corpo e mente) – se realmente estivermos colocado em prática o
uso da força de vontade. A prática no seu começo é difícil. É briga da vontade
versus corpo e mente. Colocamos o corpo numa postura e dizemos à mente: “Fique
quieta. Estou prestando atenção ao meu objeto”. A mente virá lutar, virá trazer
toda distração possível para tentar recuperar o controle.
Através de todos os estágios iniciatórios
estaremos lutando e lutando a fim de firmar a concentração. É pelo controle de
nossa vida em futuro contra o que verdadeiramente estaremos lutando. Se deixarmos
corpo e mente animais nos controlar viveremos a vida de um animal e morreremos
como um animal. Ao desejarmos ser pessoa humana, aquele animal deve servir à
pessoa humana e não o oposto. O animal precisa ser domado. Então envidemos
esforços diários, treinemos a cada dia sem exceção. Não com violência e
crueldade contra o corpo e mente, mas com a corda e o gancho: vigilância e
atenção plena.
Gradualmente, pouco a pouco, na conformidade
de nossa prática diária, treinamos mente e corpo a obedecerem nossa vontade. Ao
longo desse processo teremos incrementado a brandura que finalmente estará totalmente
firmada ao alcançarmos os estágios oito e nove, shamatha.
Brandura é algo a que experienciamos. É
definida; é absoluta e definitivamente experiência real. Brandura não é um
termo vago ou aberto a interpretações. É algo que pode ser inquestionavelmente
identificado por quem a experiencie. Não existem dúvidas quando possuímos
brandura.
Brandura significa que corpo e mente
transigem com naturalidade sem qualquer resistência. Eles estão felizes por
servir à consciência (Tiphereth), e venturosos por isso. Nessa situação quando
alguém deseja meditar não há esforço. Não há luta. Não há briga. Lembremos dos
estágios oito e nove que já temos descrito e que são meditação sem esforço. Não
há combate nem luta. Corpo e mente estão prontos; estão treinados, serviçais,
calmos, relaxados, serenos e alegres! Que experiência maravilhosa é essa! Todos
desejamos àquilo e podemos tê-lo.
Na pintura, a brandura está representada por
duas imagens: o monge voando (a) e o monge montando o elefante no arco-íris
(b).
Figura 6
O monge voando representa a brandura no
corpo. Essa brandura é real e fisicamente experienciada (não que estaremos
literalmente voando). Podemos ver e sentir fisicamente a brandura no corpo. É
onde o corpo tem grandes momentos de relaxamento – segundo nosso grau de
desenvolvimento. Está completamente pronto para a meditação e não causa
qualquer problema na total duração da meditação. Swami Sivananda disse que
alguém que verdadeiramente haja desenvolvido a sua prática da meditação
consegue sentar-se perfeitamente imóvel por três horas sem dor, sem desconforto,
ou sem urgência para se levantar ou para fazer qualquer outra coisa que não
seja permanecer exatamente ali sentado, tal o seu contentamento e felicidade.
Isso é brandura no corpo.
Iniciantes na meditação que observam aqueles
praticantes avançados se maravilham: “Uau, como aqueles caras sentam-se em
meditação diária por oito ou dez horas numa caverna ou caixa? Parecem tão
desconfortáveis”. Não podemos imaginar, pois parece-nos uma tortura. Quando
tentamos nos sentar daquela forma por dez minutos nos sentimos com muita dor.
Meditante que detenha concentração, shamatha, tem brandura. O corpo não reclama
de nada, é feliz por fazer aquilo porque está treinado Foi treinado pela
consciência. É um servidor disposto. O mesmo se dá com a brandura da mente que
o elefante representa; ele é feliz por desempenhar aquela tarefa. É a tarefa
que nos é dada, eis porque temos uma mente. A mente existe para realizar aquela
tarefa.
Brandura é um sinal absolutamente definitivo
de alguém que tenha alcançado o shamatha. Por que isso é importante? Há muita gente
que estuda meditação, que realmente aprecia o assunto, que é muito bem
educada naquela terminologia e pode parecer capaz de sentar-se bem.
Convence-se de que alcançou um determinado grau de concentração e pode
acessar estágios do dhyana ou jhana ou a vários tipos de estágios da
concentração sem forma, ou de reinos, mas não detém brandura. Pessoas assim lutam por
alcançar aqueles estados, lutam com o corpo e lutam com a mente. Essa luta
revela que essas pessoas não têm shamatha. Podem até ter alguma habilidade em
se concentrar, em controlar a mente e corpo até um certo grau, mas não têm
brandura que é a espontânea servitude da mente e corpo.
Destacamos isso porque é fácil nos
decepcionarmos com esse tipo de trabalho, O orgulho está sempre pronto a se
introduzir dizendo: “Eu fiz isso. Eu realizei algo. Agora sou um meditante
completo”. Que mentira é essa... Inúmeras pessoas caem nessa armadilha. Eis
porque sempre observamos esses sinais científicos. Temos tirado o Eu disso.
Nenhum desses estágios tem algo a ver com o Ego ou Eu.
Os resultados nesses nove estágios são
bastante simples. Quando os estudamos e detemos familiaridade na forma como
trabalham, não são complicados. São os ABCs da concentração. Porém esses ABCs,
esses passos básicos são unicamente um estágio preliminar da prática
meditativa. Eles nos levam somente ao ponto onde podemos nos sentar em paz e
estarmos concentrados, A partir daí podemos então aplicar novas habilidades a
fim de adquirirmos compreensão. A concentração por ela mesma não nos conduz à
libertação. Não consegue. A concentração é simplesmente a habilidade em
focarmos a atenção numa coisa e a mantermos ali. Eis tudo o que ela é. Por ela
mesma não liberta.
Para a libertação necessitamos de algo muito
mais poderoso do que a mera concentração.
Observemos na Árvore da Vida:
- A sefira Malkuth, o corpo físico
- Yesod, energia no corpo
- Hod,
emoção
- Netzach, pensamentos
- Tipheret, força de vontade e consciência
Estando sentados para meditar ou para nos
concentrar e de fato tenhamos brandura, então o corpo, a energia, a emoção, os
pensamentos estarão todos perfeitamente relaxados, perfeitamente sob controle
com brandura. Eles servem à vontade da alma. Significa que todos esses
sefirotes inferiores não serão obstáculos para a meditação. Eles estão servindo
a consciência. São aquele elefante na pintura que a consciência está usando
para caminhar ao longo do arco-íris. Estão naquele estado, somente naquele
estado em que a consciência pode então ser libertada, mesmo por um instante,
para experienciar sua verdade natural e subsequentemente compreender a
realidade.
Exercícios
Desenvolver sua atenção plena durante o dia.
Esse esforço é a verdadeira base de tudo o que se alcança espiritualmente. Não
sabendo como auto-observar-se, não estando atento durante todo o tempo em tudo
o que faça, permanece a ignorância. Para avançar na vida espiritual é
necessário conhecer-se, não como achando o que se é, mas sendo verdadeiramente
o que se é. Isso é desenvolvido e adquirido pela auto-observância. É possível
ver-se através da constante atenção plena no que esteja fazendo a fim de
começar a adquirir informações sobre o sofrimento, sobre as ações e
comportamentos. Sem informações não é possível nunca resolver o enigma da sua
vida. Isso é por demais fundamental.
O segundo exercício é para desenvolver a
concentração meditativa. Nesse estágio do curso é necessário estar trabalhando
com visualização. Então é prover-se de uma imagem de um Buda sentado.
Figura 7
Tudo o que é preciso fazer é observar aquela
imagem por um momento, então fechar os olhos e visualizá-la. Isso é tudo: não é
duro. Não lutar. Não brigar com aquela visualização. Deixar acontecer por ela
mesma. Exatamente do mesmo modo quando recordamos qualquer outra memória; exatamente
lembrando da figura. Não forçar os olhos. Não balançar o corpo com contorções,
ficando tenso, fazendo grando esforço para fixar a imagem. Isso é contraditório
ao que se está tentando alcançar. Relaxar simplesmente, fechar os olhos e
relembrar. Se a imagem não estiver estabilizada ou clara será devido à concentração
ainda não estar o suficiente forte. Manter-se tentando. Ao distrair-se,
meramente recomeçar. Manter-se tentando. Pouco a pouco realizará isso.
Pensamento do dia:
“A mais elevada forma do pensamento é o
não-pensamento. Quando se alcançam a quietude e o silêncio da mente, o “Eu”,
com todas as paixões, antros, apetites, medos, afeições, etc., permanece
ausente. É somente na ausência do “Eu”, na ausência da mente que o Buddhata
consegue despertar para se unir com o Eu Interior e trazer-nos ao êxtase”.
Samael Aun Weor, The Elimination of Satan's
Tail
Tradução Inglês / Português: Rayom Ra
Rayom Ra
http://arcadeouro.blogspot.com.br