Que me trarão meus sonhos depois dela chegar,
A pousar à soleira da porta, sempre a primeira,
Esta aurora última, mansa e bela, a se infiltrar,
Em meu terreno lar, que a ela se abriu, costumeira.
Atenciosa, suave, sagrada, senhora e silente,
Que nem sempre em alegria estou a vê-la.
Anfitriã de todas as manhãs e confidente,
E eu a contar-lhe em pensamentos ao recebê-la,
Minhas visões astralinas em mim a se plasmar!
Receba esta casa um alento neste novo dia,
E aqui estejamos com o que na manhã restar,
Em despedida, sem qualquer festa ou folia,
A derradeira, deste mundo, que a ele vou deixar...
Deliciosa, seja também o termo e a passageira,
Brindaremos com sorriso, auspício e devoção,
Porém, me fique só, e mais um pouco, lisonjeira,
Já que me vem com esta inteira disposição,
E me conceda de sua luz que me há de levar!
Não chorarei por ora; prometo solenemente,
Nem pelos umbrais e nem depois de aportar,
Mais sóbrio, não lascivo, não beligerante,
Alma pronta e serena, mais disposta a se doar.
Soam-lhe ingênuas; entendo companheira,
Cândidas palavras; tão fáceis de assim dizer,
Creio sejam ramos em corpo de uma videira
Que por mim me digam eles ao meu inteiro prazer,
Das reais tangentes obras a que venha trabalhar!
Levarei no imo amigos e se não hoje amigos mais,
Mas neste instante eu ferido, tamanha a comoção,
Dardeja e em mim coteja como antes me foi jamais,
Cadente em espaço tempo, a figura de um dragão,
A evocar todos os meus egos por uma grandiosa vida,
Sem heroísmos, sem mais histórias, sem entregas,
E o percorrer na Terra de uma trilha construída.
Por suas imensas honras e suas intensas refregas,
E meus sonhos perdidos se foram - hora de acordar!
Por Rayom Ra
http://arcadeouro.blogspot.com
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