domingo, 5 de fevereiro de 2023

Dos cultos Religiosos e Suas Pregações - Paul Brunton [R]

                                     

  As principais contribuições benéficas dos supramencionados cultos, que presumem ensinar-nos aquilo que Jesus e Buda se esqueceram de mencionar, é seu encorajamento das atitudes corajosas, em vez de covardes; sua constante reiteração de que os pensamentos otimistas, positivos, construtivos e alegres são mais valiosos do que os pessimistas, negativos, destrutivos e desesperados; e sua frequente recordação de que é bom ouvir o que os silenciosos minutos de quietude mental têm a nos dizer.

  Além disso, alguns dos movimentos atuais que se propõem ostensivamente a espiritualizar o materialismo, têm meramente conseguido materializar a espiritualidade.

  Isto acontece especialmente quando eles se degeneram em sistemas de converter pensamentos em coisas, imagens mentais em realidades físicas, e quimeras aéreas em coisas sólidas – pela crença nelas!

  A transformação mágica da pobreza em prosperidade, da doença em boa saúde quase da noite para o dia, é frequentemente proclamada pelos teóricos destes sistemas, mas raramente demonstrada pelos seus seguidores. A matéria é algo complicada pelo fato de que há alguma verdade misturada com suas fábulas, alguma sabedoria com sua falta de senso, e alguma virtude com suas vãs asserções.

  A raiz da questão, no entanto, é que eles alimentam a satisfação dos desejos pessoais, ao passo que ao mesmo tempo os conduzem ao reino do céu. Assim eles parecem propor-lhes um método de fazer o melhor de ambos os mundos. Com efeito, a coisa pode ser feita, mas não à sua maneira. Há uma diferença vital de aproximação e resultado entre as duas maneiras. A diferença se cinge à atitude adotada para com o ego pessoal.

  Este mal-entendido deve ser esclarecido, a não ser que desejeis enganar-vos. As pessoas querem tanto apegar-se ao eu pessoal, mesmo quando procuram entrar no reino mais alto, o reino da verdade espiritual, o qual, todavia, só pode ser alcançado pela submissão do eu pessoal. Nunca será possível encontra-se o espírito, a não ser que se alheie à personalidade. Se encontrais a vida espiritual, e depois crede que, com isso, tendes demonstrado vantagens materiais, estais simplesmente se iludindo a vós próprios, e mais cedo ou mais tarde a vida vos desiludirá com severidade; isso não é a verdade. É preferível procurardes a verdade, quer ela seja dolorosa ou agradável. Amemos a verdade e aceitemo-la, e não tentemos incutir que a verdade será sempre agradável. Aceitemos a verdade por ser a verdade, quer nos acarrete maus problemas ou boa saúde. Se procurais a verdade só pelos benefícios que ela vos traga, então é que não a encontrareis, pois estareis procurando benefícios e não a verdade em si. A verdade se assemelha a uma dama orgulhosa e exclusivista que jamais se vos entregará, a não ser que a procureis tão só por causa dela mesma.

Às vezes ouvimos falar de resultados obtidos em meio de muitos fracassos. Sempre ouvimos falar mais de sucessos do que de fracassos, que, no entanto, excedem de muito aos primeiros. Os sucessos são reais, porém poucos, e podem ser atribuídos aos poderes da parte superior da mente, o chamado Superconsciente. São conseguidos pelos poderes da Mente Superior.

  A não ser que as pessoas compreendam que estão tratando com os poderes latentes, mas pouco conhecidos da mente humana, e não com os poderes do Eu divino, não passarão de simples cegos condutores de cegos. E o trato com tais poderes mentais demanda cautela, para não cair na magia negra e hipnotismo. Muitos de tais cultos estão praticando inconscientemente magia negra. É fácil empregar o magnetismo, influenciar outras pessoas, mas há sempre um preço, uma penalidade a pagar.

  Quando, por alguma modalidade de forte concentração ou auto absorção, tendes acesso à Supermente planetária, e partilhais temporariamente de seus poderes, nesse momento de partilha podeis fazer milagres; milagres que podem ser materiais, ou também mentais, porém jamais serão mais que mentais, nunca serão espirituais.

  Coisa similar se dá com referência às chamadas demonstrações de prosperidade. Isso é feito de maneira semelhante pela concentração da mente no dinheiro. Se puderdes concentrar-vos intensa e demoradamente, se o fizerdes com vossa auto absorção na Supermente, às vezes obtereis dinheiro. Obtê-lo-eis porque estais demonstrando certo poder mental. Mas se tentar fazer estas coisas à revelia de vossa própria sabedoria estais correndo certos riscos, e os riscos nunca são de desejar. Podeis obter pela concentração o que procurais, mas podeis juntamente com isso obter outras coisas que não procuráveis. Podeis obter a demonstração da perfeita saúde e morrer logo no dia seguinte. Não digo que isso vos acontecerá, mas afirmo que se desejais tratar com poderes que não compreendeis, procurai compreendê-los antes de tentar usá-los. E não vos enganeis a vós próprios supondo que estais usando poderes espirituais. São puramente mentais, não espirituais.

  Se podeis imaginar a Supermente como um grande oceano com miríades de braços, cada um representando uma mente humana individual, estais a caminho de compreender a origem dos fenômenos ocultos e o princípio da telepatia. Muito ouvimos falar de poderes ocultos. Há pessoas que supõem que o desenvolvimento desses poderes ou é um complemento necessário da busca ou é em si desejável. Os poderes ocultos nada têm a ver com nossa busca. Na busca do Super-eu não devemos deter-nos na rota. Todos os poderes ocultos são inerentes ao plano da mente.  São fenômenos dentro da região da Supermente planetária. Se obtiverdes acesso às regiões da Supermente, obtereis acesso aos poderes ocultos.

  Mas a Supermente não é o Super-eu. É um plano inferior. Se pretendeis permanecer dentro da região da Supermente, nunca atingireis o Super-eu. Que quereis? Quereis o reino do céu? Então deveis prosseguir. Deveis pôr de lado a Supermente e com ela os poderes ocultos. Aprendei a penetrar naquela porta estreita onde tudo é deixado atrás: posses materiais e posses mentais.

  Se vos apegais a poderes ocultos, nunca podereis atravessar a porta que leva ao reino do céu. Esses poderes não interessam à nossa busca do Super-eu. Algumas pessoas desperdiçam seu tempo e energia na perquirição destes poderes; porém são pouquíssimas que conseguem obtê-los. No entanto, se o conseguem, farão alto em sua busca espiritual. E ficarão marcando passo até desistirem de sua perquirição de fenômenos ocultos. É fácil compreender quantos cultos surgem acompanhando líderes já detidos em vários pontos ao longo do caminho de sua busca da verdade.

  Sim, é perfeitamente possível curar. O poder da Supermente é tal que pode salvar-nos das garras da morte, onde os médicos desistiram desesperados. Mais de uma vez vi este poder salutarmente exercido. Mas o segredo é que ele operou através de um canal humano que deliberada e egoisticamente não se pôs a curar, e consequentemente a cura foi certa e permanente.

  A cura mental só se justifica quando cria uma visão superior no paciente, quando lhe dá a compreensão de que ele não é o corpo, mas algo não material.

  Jesus prometeu que todas as demais coisas vos seriam acrescentadas, se buscásseis o reino do céu. Vede assim que existe um caminho superior para obter demonstrações, um caminho superior que requer que busqueis o reino do céu. E se quereis encontrar esse reino, tendes de renunciar a vosso ego pessoal, e se renunciai a vosso ego pessoal, renunciai ao desejo de coisas materiais. Tereis certas necessidades materiais, mas então as confiareis a vosso Pai no céu e Ele cuidará delas. Mas se concebeis que sois mais sábio que vosso Pai e tentai ditar ao Pai por meio da concentração mental, então ele vos deixa a sós, para que descubrais as coisas por meio de vossas próprias experiências.

  Tendes o caminho de Jesus e tendes o caminho desses cultos; são dois caminhos diferentes. E ainda que os cultos usem o nome de Jesus e pretendam que O estão seguindo, não são a mesma coisa. Os caminhos são diferentes. Certas demonstrações materiais são possíveis através de ambos os caminhos, mas outras não o são por nenhum. A última palavra pertence a Deus e não a nós. Mas o primeiro é o caminho da submissão da vontade do eu pessoal, e, portanto, sempre traz a paz e fortaleza internas para enfrentarmos as dificuldades, quer isso importe ou não em atrair boa fortuna ou saúde. O segundo é o caminho do uso do eu pessoal para satisfazer desejos pessoais; e sempre traz inquietude e incertezas mentais com as quais enfrentamos as dificuldades. O primeiro caminho é divino e certo; o segundo é egoísta e errado.

  Quanto ao fato de que estes postulados se baseiam no princípio de que o pensamento concentrado tende a tornar-se criador no plano objetivo, é exato. Não obstante, tal ensinamento não é certo para o pensamento de noventa e cinco por cento das pessoas que o estudam, simplesmente porque os seus pensamentos não são suficientemente poderosos para tornarem-se rapidamente criadores. Esta doutrina é certa somente para o adepto, cujos pensamentos estão cheios do poder criador da mente cósmica. Dai, só os seguidores desses cultos que hajam praticado a yoga até um grau bastante adiantado e atraído este poder universal, podem começar a materializar seus pensamento.

  Se um adepto possui poderes mágicos é porque ele tem se concentrado neles e os procurado, não apenas nesta existência, mas também em anteriores. Esta foi sua linha de desenvolvimento, e assim, quando finalmente atingiu a meta, estes poderes lhe foram acessíveis, porque os tinha procurado, e a integração da Verdade lhe veio como um prêmio. Se ele tivesse procurado somente a Verdade, então não teria tido estes poderes, porém não seria menos adepto, porque sua consciência seria real e eterna. Para ele o mundo físico, por onipresente que parecesse, não constituiria a realidade, mas antes, teria o valor de um sonho.

  O adepto dotado de poderes ocultos os encara como poderes do sonho. Para ele, estes poderes não têm grande importância, porque para exercê-los ele tem de descer de sua mais elevada consciência. É para ele uma forma de autosacrifício o emprego da cura ou poderes ocultos, porque não pertencem ao plano do espírito eterno; pertencem ao plano da mente, que é inferior.

  Vaidade é a primeira das armadilhas à espera da pessoa com poderes ocultos semidesenvolvidos. O sobrenatural é meramente o natural mal compreendido. Cada mente finita é apenas um remoinho, um vórtice, na Supermente infinita. Em realidade não tem nenhuma existência separada e distinta, em substância, mas assemelha-se à cava de uma onda no oceano, do qual difere apenas na forma. Em tempo algum esteve separada da Supermente.

  Portanto, não cometais o erro comum de esperar maravilhas ocultas de um adepto, ou ficareis decepcionados. Ele utilizará estes poderes ocultos sempre que achar conveniente, porém não de outra maneira. Há uma coisa que devemos lembrar-nos: o homem que encontrou o espírito divino também encontrou a fonte de todos os poderes, inclusos os ocultos. Os próprios poderes mágicos são expressões menores dos poderes superiores do Super-eu, porque, finalmente, existe apenas um poder e uma força em todo o Universo, como existe apenas uma mente. À medida que esta força desce e se condensa, ela se divide em forças inferiores, e estas ainda em expressões mais tênues e nas várias forças e energias que conhecemos.

  Um adepto pode, por exemplo, não ter desenvolvido o poder de curar. Ele pode ter trabalhado pelo poder do Super-eu, que é o maior do mundo. Com esse poder ele pode obrar os maiores milagres, muito maiores do que os executados por um ocultista. O maior milagre que um adepto pode efetuar é ajudar os outros a uma mudança de consciência, pois isso os auxilia a despertar-se da ilusão para a verdade. Não obstante, é tal o poder do Super-eu, que está na base de todas as coisas, que ele pode a todos os momentos operar, e opera, os mais surpreendentes milagres, através do instrumento do Super-eu, por certo. Aqueles que têm aparecido neste mundo e operado maravilhas e milagres, geralmente não foram adeptos no melhor sentido. Não encontraram a vida eterna. Se desejam tornar-se verdadeiros adeptos, se desejam tornar-se tal qual foi Jesus, então só lhes resta um passo a dar, o qual consiste em renunciarem a seus poderes e colocarem-se no caminho mais elevado.

  Tais poderes se tornam uma pedra de tropeço quando começam a procurar algo superior. Seus poderes são ainda mentais, e para procurar o plano do espírito, os buscadores devem transcender o plano da mente. Ganho o espírito, tais homens, se transcenderem a mente e renunciarem aos poderes, terão mais tarde estes poderes restituídos. O Super-eu então os utiliza para realizar feitos milagrosos, de sorte que não haja mais nenhum motivo egoísta. Os poderes serão utilizados apenas como uma expressão da vontade do Super-eu, não do eu pessoal, que causa todas as diferenças no mundo.

  Há um grande mistério relacionado com a consciência espiritual, um mistério que os ocidentais acham muito difícil de compreender, e esse jaz na submissão do ego, ou, como referiu Jesus, na “perda de sua própria vida”. Quando submeteis vosso ego e atingis a verdade, não mais atuais, mas atuam em vós; não mais falais, mas falam por vós. Isto significa que o Super-eu encontrou neste mundo material um foco e um canal que antes não teve. Este é o milagre. Está na base de todas as coisas; interpenetra todo o espaço.

  O observador de fora via milagres efetuados por Jesus, e ainda assim cuidava que Jesus deliberadamente queria que acontecesse determinada coisa. Jesus nada queria, mas deixava-Se ser intermediário do querer. O Super-eu, que é o único espírito presente tanto nos outros quanto em Jesus, sabendo perfeitamente o que deve ser feito, o que deve ser servido, quis naqueles momentos que estes milagres fossem feitos, e os fez.

  Segui o caminho que Jesus nos ensinou, que é o da submissão do ego. Vosso Pai sabe o de que necessitais. Ele vos pôs neste mundo. Se o sabeis, seguramente Ele também o sabe. Segui esta busca sem receio, pois nada tendes a temer. Confiaste toda a vossa vida a Deus. Fizeste isto, não por ato de fé apenas, mas também por comunhão consciente. O fardo que a maioria dos mortais carrega sobre suas mentes e dentro de seus corações, foi alijado de vós. Daqui em diante viveis como um homem ou mulher inspirado, atento aos ditames do Cristo Interno.

  Quando houverdes encontrado o reino, somente então podereis ter saúde, fortuna, amor, poderes ocultos, se for vosso destino tê-los. Podereis apanhá-los sem o menor esforço. Só então vos é justo possuí-los. Estarão perfeitamente seguros em vossa posse, porque os conservareis em seu lugar. Eles desempenharão um papel secundário e subalterno em vossa vida, quando tiverdes terminado a busca. Mas até então não os procureis por meios supranormais. É mais sábio não fazê-lo.

  Confiai no Super-eu. Submetei-vos a ele e achareis alívio. Tereis perdido vosso eu enfardado, e o que quer que venha, mesmo a morte, vós o aceitarei. Pois conhecer vosso Super-eu é a razão interna de vossa existência. Pelo sofrimento até coisas belas vos serão mostradas. Algo do espírito eterno virá até vós.

Fonte: A Realidade Interna - Ed. Pensamento
 
Rayom Ra 
 

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